QUALIDADE no ENSINO Colaboração: Maria Helena Braga / [email protected] Maria Sidalina Gouveia / [email protected] Cristina Luiza Garbuio / [email protected] José Gayoso / [email protected] James Zomighani / [email protected] Horácio Almendra [email protected] . www.iqe.org.br Por que e como incluir a análise do internetês em sala de aula? Maria Sidalina Gouveia é Supervisora Pedagógica de Língua Portuguesa do IQE – Instituto Qualidade no Ensino Diante de algo como “Tdo certin? Po kra eh q t aum falandu q vc ainda naum conhece o internetês [#_____#], você diria que o autor do trecho revela sua incapacidade de se expressar de forma coerente? Ou, como o professor do Departamento de Linguística da UNICAMP, Sírio Possenti, você diria que o trecho é uma alternativa de escrita que, antes de ser rejeitada, deve ser examinada em termos de adequação ou inadequação à situação em que é empregada? Aos que não compreenderam o trecho em internetês — linguagem que mescla língua oral e escrita, adaptada à rapidez de escrita dos textos digitais em que circula —, segue sua tradução: “Tudo certo? Pô, cara! É que estão falando que você ainda não conhece o internetês. Vergonha!”. As novas tecnologias manifestam-se e, com elas, as novas formas de comunicação, linguagens e gêneros de texto — como o e-mail, o chat, o blog, o scrap, o tweet, o whatsapp e tantos outros. Esse panorama, além de contribuir para salientar a leitura e a escrita, concorre, ainda, para o desenvolvimento de uma nova forma de interação social e histórica, o internetês. Dado que a escola deve preparar os alunos para as diferentes formas de utilização da leitura e da escrita, por que não incluir a análise do internetês em sala de aula ao invés de rechaçálo? Não podemos deixar de mencionar que há tempos são utilizadas abreviações variadas em bilhetes e anúncios classificados sem que isso tenha contribuído para a destruição da língua portuguesa. Mas como despertar no aluno a consciência de que cada situação de interlocução, seja ela falada, escrita e virtual ou digital requer escolhas específicas, a fim de que os propósitos comunicativos e discursivos sejam alcançados? Como conscientizar os escolares de que a linguagem utilizada na Internet deve permanecer exclusivamente na rede? A solicitação ao aluno para que escreva, por exemplo, um scrap e a orientação, por parte do professor, das diferenças entre fala e escrita — frisando que a escrita virtual ou digital deve permanecer na Internet, pois a língua portuguesa, em sua modalidade escrita, possui normas e regras próprias e que é esse conhecimento que permitirá a interação eficiente, o exercício pleno da cidadania, o ingresso em um curso universitário, a conquista de espaço no mercado de trabalho —, seguido do pedido de reescrita — retextualização do trecho inicialmente produzido em internetês —, em linguagem apropriada, por exemplo, a uma carta, suscitará ações como a eliminação dos traços da linguagem da Internet e a produção de um texto coerente com a língua padrão. Ou seja, um termo como “blz”, facilmente entendido por ‘beleza’, certamente será substituído pela expressão “Tudo bem?”, pois o aluno sabe ou aprenderá que a palavra “beleza” não é adequada ao contexto da língua escrita, por se tratar de gíria. Trabalhos semelhantes despertam o interesse dos alunos pela escrita, pois, além de poderem trabalhar a partir de textos produzidos por eles mesmos, que discorrem de assuntos considerados por eles relevantes, julgam de suma importância comunicaremse por meio do internetês. Trabalhar a escrita a partir da fala e do internetês é estabelecer o mundo real em sala de aula, no qual tanto o professor quanto os alunos estão inseridos; afinal é inadmissível que a escola seja vista como uma instituição dissociada do mundo.