A Economia Política de Karl
Marx
José Luis Oreiro
Departamento de Economia – UnB
Pesquisador Nível I do CNPq
Introdução
 Questão não resolvida pela teoria clássica
do valor: a origem do lucro.
 Em Smith, há uma pequena indicação de
que o lucro seria uma apropriação
(indébita) do produto do trabalho.
 “Nesse caso, o valor que os trabalhadores
acrescentam aos materiais desdobra-se, pois,
em duas partes ou componentes, sendo que a
primeira paga os salários dos trabalhadores, e a
outra o lucro do empresário, por todo o capital e
os salários que ele adianta no negócio” (Smith,
1776, p.78).
Introdução
 Ponto de partida de Marx: reflexão crítica a
respeito
dos
conceitos
de
trabalho
necessário e trabalho comandado.
 Marx aceita a tese Ricardiana de que as
mercadorias se trocam à proporção da
quantidade de trabalho necessário para
produzi-las
 Por outro lado, é inquestionável que as
mercadorias
podem
adquirir
uma
quantidade de trabalho maior do que a
necessária para produzi-las.
 Por que isso ocorre?
Introdução
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
No capitalismo, o trabalho, ou melhor, a capacidade de
trabalho é uma mercadoria a qual possui um valor que é
dado pela quantidade de trabalho necessária para produzir
os meios de subsistência dos trabalhadores.
Essa quantidade não tem nenhuma relação direta com a
quantidade de trabalho que o operário está em condições
de oferecer no processo produtivo.
A origem do lucro reside precisamente no fato de que a
quantidade de trabalho fornecida pelo operário no interior
do processo produtivo ser maior do que a quantidade de
trabalho contida nos meios de subsistência.
A troca entre força de trabalho e capital implica
simultaneamente uma troca entre equivalentes e nãoequivalentes.
O valor do trabalho é a quantidade de trabalho que é
socialmente necessária para a produção dos meios de
subsistência do trabalho.
Introdução
 Nesse aspecto os trabalhadores estão
recebendo como salário precisamente o
valor do trabalho.
 Mas uma vez feita a troca, a FT oferece
uma quantidade de trabalho que é superior
àquilo que recebeu como remuneração.
 No processo de circulação é uma troca de
equivalentes, mas no interior do processo
de produção é uma troca de nãoequivalentes.
A Troca
 Concepção de Smith:
 Dada a relação entre os trabalhadores
produtivos
e
os
trabalhadores
improdutivos, a Riqueza depende do
nível da produtividade do trabalho, esta
por sua vez depende da extensão da
divisão do trabalho, a qual é limitada
pela extensão do mercado.
 A troca é resultado, porém, da
propensão para trocar a qual seria um
elemento da natureza humana.
A Troca
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Para Marx a troca não é um processo natural, mas é a consequência da perda do
caráter do trabalho humano.

A divisão do trabalho operada num contexto em que os meios de produção
são de propriedade privada faz com que os indivíduos no exercício de seu
próprio trabalho se encontrem isolados uns dos outros.

Alienação do trabalho: o trabalho produtor de mercadorias é um trabalho
que perdeu a natureza do trabalho social como sua característica imediata,
tornando-se social somente através da troca.
O trabalho não é imediatamente social, mas privado, pois é exercido por
indivíduos que são “reciprocamente indiferentes”.
Devido a divisão do trabalho esse mesmo trabalho tem que ser utilizado para a
aquisição de outros valores de uso.
O trabalho se torna social enquanto é capaz de adquirir outros valores de uso.
A Alienação conduz a abstração. O trabalho é alienado na medida em que lhe é
retirada a característica originária de trabalho imediatamente social, em virtude
dessa alienação o trabalho se torna social à medida em que á abstraído das
particulariedades subjetivas do trabalho individual, tornando-se produtor de
valor.
Trabalho abstrato é simples dispêndio de atividade laboriosa em geral.
Para Marx a quantidade de trabalho a partir da qual uma mercadoria é trocada é
igual a quantidade de trabalho que é socialmente necessária para produzir essa
mercadoria.
A Troca
 Dois significados do conceito de quantidade
de trabalho socialmente necessário:
 Trata-se da quantidade de trabalho que é
exigida pelo desenvolvimento das forças
produtivas num determinado momento.
 O valor não pode ser determinado pela
quantidade de trabalho que possa ser
necessário em unidades produtivas menos
eficientes.
 A quantidade de trabalho social deve se
distribuir
pela
produção
das
diversas
mercadorias em proporções tais que a
disponibilidade de cada uma delas corresponda
a sua procura.
O Capital
 A produção de mercadorias só é geral, ou
seja, só domina a produção social quando o
próprio trabalho é uma mercadoria.
 Produção capitalista.
 Troca simples: M-D-M
 O valor de uso é a finalidade do processo de
troca.
 Troca capitalista: D-M-D´
 O objetivo da troca é obter uma quantidade de
dinheiro maior do que aquela que se tinha
inicialmente (o dinheiro se transforma em
capital).
O Capital
 Como é possível o aumento quantitativo no
dinheiro
através
da
mediação
da
mercadoria?
 Primeiro passo: separação dos indivíduos.
O trabalho se torna social justamente
através da negação do seu caráter
individual (específico) e da sua afirmação
enquanto trabalho abstrato.
 Segundo
passo:
os
indivíduos
são
separados das condições objetivas de
trabalho, com a transformação do trabalho
em mercadoria.
O capital
 Processo de formação de mais-valia:
o trabalho fornecido pelo operário
durante a jornada de trabalho se
divide em duas partes
 Trabalho necessário, o qual serve para
reconstruir o valor dos meios de
consumo que o operário recebe como
salário.
 Sobre-trabalho: o qual constitui a maisvalia.
O Capital
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A origem do lucro está na existência de um trabalho cujo produto
específico não reverte para o operário que o forneceu.
A existência de sobre-trabalho não é, contudo, específica às
sociedades capitalistas, ela existe em outros modos de produção
como a escravidão e o feudalismo.
Quais as diferenças?
Nas formas pré-capitalistas a extração de sobre-trabalho não é
mediada pela troca.
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O explorador tem para com o explorado uma relação do tipo servil: o
trabalhador está sempre a disposição do explorador.
A apropriação do sobre-trabalho se dá de forma direta através da
apropriação dos valores de uso.
No capitalismo a relação entre explorador e explorado é mediada
pela troca de forma que na esfera da produção ambos são iguais
pois se apresentam como “trocadores”.
Além disso, a apropriação do excedente pelo capitalista só se dá
com a realização da produção no mercado.
O Capital
 Mais-valia absoluta: Determinada a partir
da extensão da jornada de trabalho,
mantido constante o nível de subsistência
do trabalhador e o consumo necessário.
 Mais-valia relativa: Aumento da força
produtiva do trabalho de forma que se
reduz a quantidade de trabalho necessária
para produzir as mercadorias salário.
O processo de reprodução
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Capital
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Capital constante
Capital variável
O capital constante é a parte do capital que transmite às
mercadorias produzidas exclusivamente o seu valor.
Do ponto de vista dos valores de uso, o capital constante é aquela
parte do capital que é constituído apenas de meios de produção.
Capital variável: é a parte do capital que transmite às mercadorias
produzidas um valor acrescentado de mais-valia.
Do ponto de vista dos valores de uso, o capital variável é
constituído pela força de trabalho.
A produção de mais-valia é obra, não do capital, mas apenas do
trabalho, ou melhor da parte do capital que se transforma em
força de trabalho.
O capital constante atua no processo de formação de mais valia
apenas na condição de que aumenta a força produtiva do trabalho.
Valor = c + v + s
O processo de reprodução
 A realização do valor exige que o valor produzido
esteja incorporado a um conjunto de valores de uso
que permitam:
 Reconstruir os elementos materiais do capital
constante.
 Reconstruir
os
meios
de
subsistência
dos
trabalhadores.
 Permitir o alargamento da produção através da
transformação de mais-valia em capital constante e
capital variável.
 Problema da realização: Dado o caráter anárquico das
economias de mercado será possível que ocorra uma
coerência entre a composição da produção e a
estrutura da necessidade social (ou seja, a
composição da demanda)?
O processo de reprodução


Malthus/Sismondi: a própria existência de mais-valia
implica uma sobre-produção sistemática, um excesso de
produção sobre o consumo de forma a tornar impossível a
realização da produção por intermédio do mercado.
A acumulação de capital não resolveria esse problema, pois
se num primeiro momento permite o escoamento da
produção excedente, num segundo momento produz um
aumento da quantidade produzida, recolocando o problema.


O processo de acumulação de capital seria, então, impossível.
Os esquemas de reprodução de Marx demonstram, por um
lado, a possibilidade da realização da mais-valia através da
demanda dos meios de produção necessários a acumulação
de capital, mas de outro lado mostram que essa
possibilidade pode não se realizar dando origem a crise.
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