Brasil, um país
de idosos
Quase 10% dos brasileiros têm
mais de 70 anos. Segundo o
IBGE, em 40 anos o número
de idosos deverá superar o de
jovens
A expectativa de vida do brasileiro
aumentou mais de 20 anos em 5
décadas. Um brasileiro que chegasse
aos 40 anos até o início do século XX
teria menos de uma década de vida
pela frente. Um brasileiro com a
mesma idade poderá viver pelo
menos 30 anos mais.
Homens e mulheres com mais de 65
anos representavam menos de 3%
dos habitantes na década de 60;
atualmente esse grupo já representa
quase 9%.
Num futuro próximo, os idosos
formarão um grupo mais populoso
que o das crianças.
Isso é bom ou ruim? Quais as
vantagens e as conseqüências que
esse novo cenário pode acarretar
para a sociedade e para a
administração de um país?
O Brasil vem acompanhando a
desaceleração do crescimento
populacional, aumento na proporção de
idosos e na população urbana e,
principalmente, queda da taxa de
fecundidade. (número médio de filhos
gerados pelas mulheres em idade
reprodutiva). Entre 1950 e 1960, a taxa
chegava à média de 6,3, despencando
para 3 em 1980 e atingindo o patamar de
2,3 no ano 2000. Uma taxa de
fecundidade igual a 2,1, no ano de 2006,
apenas repunha o tamanho da
população.
Essas novas tendências têm
mudado radicalmente o perfil da
sociedade brasileira, que, em
alguns aspectos, está se
assemelhando com a dos países
desenvolvidos: população estável
com número de jovens cada vez
menor.
Transição demográfica
Estima-se que os homens vivam em
média 65 anos, e as mulheres, 72. A
expectativa de vida masculina é inferior
à feminina, mas no Brasil ela sofre o
impacto da violência - os homens entre
15 e 30 anos são os mais atingidos pela
mortalidade (por causas violentas,
como assassinatos e acidentes de
trânsito).
A queda na taxa de fecundidade, maior
expectativa de vida, provoca dois efeitos
imediatos: a redução proporcional do
número de crianças e adolescentes no
conjunto da população e o aumento de
idosos.
Esse processo é chamado de transição
demográfica. A participação de menores de
17 anos no total da população, que em
1940 era de 55,4%, atualmente é de 46,3%.
Pessoas com 60 anos ou mais, que em
1991 somavam 10,7 milhões, atualmente já
representam 14,5 milhões, quase 9% da
população total. Até 2020 prevê-se que
somarão mais de 12%.
Esse envelhecimento populacional está
mudando o perfil da pirâmide etária
brasileira. Até os anos 80, a pirâmide era
larga na base na qual estão crianças e
jovens, e seguia afunilada até o pico, no
qual estão os idosos. Atualmente, a
pirâmide tem base bem mais estreita,
indicando a tendência de crescimento da
população de adultos e idosos.
Os motivos desse envelhecimento estão
ligados à melhoria nas condições de
vida, de alimentação e de saneamento
básico, somados aos avanços nas áreas
da medicina e da tecnologia de
medicamentos.
A chegada do jovem ao mercado de trabalho
está cada vez mais represada. Além de muitos
postos terem sido fechados nas últimas
décadas, os adultos que estão próximos da
aposentadoria permanecem nas vagas
existentes. O crescimento do número de idosos
mostra a necessidade de maiores
investimentos no sistema de saúde para
atender essa população.
Além disso, com o "esticamento" da terceira
idade, há uma "falsa boa notícia" que, mais
cedo ou mais tarde, irá revelar seu lado mais
perverso. Ela diz respeito ao equilíbrio das
contas da Previdência. Até a década de 60,
para cada brasileiro aposentado havia outros
oito brasileiros trabalhando. Hoje, a relação
está em torno de dois para um, e esse novo
equilíbrio interfere diretamente no cotidiano das
pessoas.
O aumento da população idosa, de fato,
pressiona o sistema previdenciário, que
precisa sustentar cada vez mais
aposentados e pensionistas - e por mais
tempo. O problema deve se agravar, pois a
tendência é crescer o número de
aposentados e cair, em termos relativos, o de
trabalhadores que contribuem para manter a
Previdência. Atualmente, dos cerca de 76
milhões de brasileiros que trabalham, 41
milhões estão no mercado informal e,
portanto, não contribuem com a Previdência.
Restam 34,9 milhões de trabalhadores para
manter os benefícios de 23,6 milhões de
aposentados e pensionistas.
Para compensar esse desequilíbrio, em
vários países do mundo as pessoas estão
sendo obrigadas a adiar a aposentadoria.
Nos EUA, o projeto é elevar a idade mínima
para 67 anos. Na Alemanha, a idéia é a
mesma - nesse país, quando a Previdência
Social foi criada, o trabalhador sobrevivia,
em média, quatro meses depois de
aposentado; agora vive cerca de 20 anos!
No Japão, para equilibrar as contas da
Previdência, a idade mínima exigida para a
aposentadoria saltou de 60 para 65 anos.
No Brasil, as reformas do sistema
previdenciário vêm seguindo as mesmas
tendências, aumentando para 65 anos a
idade mínima exigida.
Várias são as famílias sustentadas pelos
aposentados, e cresce o número de
crianças criadas pelos avós enquanto os
pais trabalham fora durante todo o dia.
Uma das explicações: aumento da
fecundidade das mulheres entre 15 e 19
anos de idade. Em 1980, para cada grupo
de mil adolescentes nessa faixa etária, 80 já
haviam tido pelo menos um filho. Em 2000,
esse índice já ultrapassou 90 por mil.
A participação das adolescentes na
fecundidade total do País é, aliás, bastante
significativo - em 1980, elas foram
responsáveis por 9,1% das crianças que
nasceram. Em 2000, esse percentual subiu
para 19,4%.
Numa sociedade acostumada a um
número elevado de jovens, o convívio
com os idosos leva a um choque
cultural.
Em relação ao governo, cabe amparáIos e criar toda uma infra-estrutura na
cidade voltada aos interesses da
terceira idade, desde melhorias no
sistema de saúde público (medicina
preventiva e geriatria) até mesmo
cursos, espaços e atividades voltados
diretamente para essa faixa etária. A
própria aprovação do Estatuto do Idoso
foi uma conquista que não pode ser
esquecida.
MORTALIDADE INFANTIL EM QUEDA
Censo de 2000, queda da mortalidade infantil: de 48 óbitos por mil
nascimentos em 1990 para 29,6 por mil em 2000, recuo de 38%. Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), esse índice é considerado médio e
ainda está acima do patamar tido como aceitável. Mesmo ressaltando os
avanços na redução da mortalidade infantil do País, por causa, sobretudo,
das intensas campanhas de vacinação, a taxa brasileira ainda é mais alta do
que a de alguns países da América Latina, como o Chile e a Argentina.
Outro índice que ainda preocupa é o do número de mortes de mulheres
relacionado a problemas durante a gestação e o parto. Juntamente com a
mortalidade infantil, esses óbitos aparecem associados às precárias
condições de vida de grande parte da população brasileira (falta de
saneamento básico e de água potável e difícil acesso à medicina preventiva).
POBREZA E CONTROLE DE NATALIDADE
Na África Subsaariana, a fecundidade vem caindo nos últimos anos,
enquanto a pobreza vem aumentando. Se existisse uma associação direta
entre redução da população e diminuição da pobreza, isso não deveria ter
acontecido.
A população tem feito sua parte, diminuindo a fecundidade, mas a
economia não fez a parte dela, diminuindo a pobreza. Politicamente, é
mais fácil fazer que as mulheres diminuam o número de filhos do que
distribuir a renda de forma mais justa e equilibrada. É uma idéia
malthusiana e equivocada achar que a população é sempre a vilã da
história...
FAMÍLIAS MENORES E
CHEFIADAS POR
MULHERES
Vários fatores explicam a queda
acentuada do número de filhos por casal
no Brasil. Os mais relevantes dizem
respeito ao avanço da industrialização e
da urbanização e à difusão do uso dos
métodos contraceptivos, associados
também à esterilização definitiva,
método que tem o apoio governamental.
No grupo de mulheres entre 30 e 44
anos, o índice de uso de contraceptivos
já passa de 70%, sendo a esterilização
cirúrgica justamente o método mais
utilizado, especialmente nas regiões
mais pobres do País, seguido da pílula.
Nas áreas rurais, uma família
numerosa sempre esteve
associada à quantidade maior de
braços para ajudar no trabalho, ao
passo que nas cidades as
crianças tornam-se despesas
cada vez maiores, sendo
necessário reduzir o tamanho da
família para garantir o sustento.
Fenômeno mais recorrente nas áreas
urbanas, a chefia feminina do lar aparece
muitas vezes associada ao aumento do
número de separação dos casais.
Quando isto acontece, as mulheres
acabam ficando responsáveis pela
condução da casa, embora ganhem em
média menos da metade do salário dos
homens e estejam em menor número no
mercado de trabalho.
A longevidade das mulheres é maior que
a masculina, sendo natural a existência
de numerosas famílias chefiadas por
viúvas. A proporção de lares chefiados
por idosos, aliás, chega perto dos 20%.
Acompanhando a tendência de crescimento da
urbanização (81,23% da população brasileira
mora em áreas urbanas), o número médio de
integrantes por domicílio no País vem
diminuindo seguidamente, chegando a 3,3
pessoas em média. Cerca de 70% das famílias
possui entre um e quatro integrantes, chegando
já a 10% aquelas com apenas uma pessoa.
Outra mudança reside no papel social da
mulher, que já constitui a maioria (51,2%) da
população brasileira. Ela passou a ocupar o
mercado de trabalho, e esse processo de
inserção social se reflete na quantidade de
mulheres que são chefes de família; elas
comandam, de fato, 24,1% dos domicílios
brasileiros.
Download

Slide 1