FATORES DE RISCO AO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA : DA VISÃO BIOMÉDICA À
VISÃO PSICOSSOCIAL .
Heloisa V. Santos (UNITAU)[email protected]
Marcia Maria D. R. Pacheco ([email protected]
Curso de Pós Graduação –Mestrado em Desenvolvimento Humano da Universidade de Taubaté
(UNITAU)-Rua Visconde do Rio Branco ,210-Taubaté –SP ,Brasil
Resumo. O presente artigo se constitui num ensaio teórico construído a partir de uma revisão de
literatura e tem como objetivo analisar os avanços teóricos sobre fatores de riscos ao
desenvolvimento da criança, através de uma revisão da literatura nas bases de dados Google
Acadêmico, Scielo, Banco de Teses da Capes, livros da especialidade, recorrendo-se às palavraschave “fatores de riscos” e “desenvolvimento”. O conceito de fatores de riscos recorrentes na
literatura revisada é de “eventos negativos”,” variáveis ambientais”, “eventos estressores” que
aumentam a probabilidade da criança apresentar problemas físicos e emocionais que acentuam
sua condição de vulnerabilidade e problemas de comportamento que trazem consequências
psicossociais de longo prazo a interferirem no seu desenvolvimento.. Concluiu-se que nas últimas
décadas foi ampliado o entendimento acerca do desenvolvimento infantil, permitindo o
reconhecimento das situações potencialmente danosas ao processo de desenvolvimento da
criança que extrapolam a dimensão biomédica e guardam estreita relação com a epidemiologia
social.
Palavras Chave: fatores de riscos; desenvolvimento; criança.
Summary. This article is a theoretical essay constructed from a literature review and aims to
analyze the theoretical advances on risk factors for the development of the child through a
literature review on Google Scholar databases, Scielo Bank the CAPES, specialty books, resorting
to the keywords "risk factors" and "development." The concept of risk factors in recurrent reviewed
literature is "negative events", "environmental variables", "stressors" that increase the likelihood of
the child has physical and emotional problems that accentuate their vulnerability condition and
demonstrate behavior problems that bring psychosocial consequences .Concluded that in recent
decades has expanded the understanding of child development, situations potentially harmful to
the process of child development that go beyond the biomedical dimension and are closely related
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ISBN 978-85-62326-96-7
to
social
epidemiology.
Keywords: risk factors; development; children.
1-INTRODUÇÃO
Ao estudar a infância , Aries (1981) apresenta a evolução da concepção de infância na história da
família ao afirmar que o sentimento de infância veio se modificando desde o final do século
passado e o reconhecimento da infância em seus primeiros anos de vida tem proporcionado
discussões na sociedade civil e no meio político.
Os direitos de viver, pensar e agir como criança numa sociedade que tem anulado a
sua
identidade e fomentado novos comportamentos através da mídia ,comprova-se pela ausência de
sólida estrutura familiar e estabelecimentos de vínculos afetivos sólidos , portanto, os estudos
empreendidos nessa área, envolvem de forma interdisciplinar ,as áreas da saúde ,da psicologia a
fim de compreender os fatores que interferem no desenvolvimento das crianças nos primeiros
anos de vida.
Presencia-se mudanças de paradigmas na sociedade contemporânea, que tornam cada vez mais
complexas
as
interações, requerendo ,por sua vez, a
identificação dos riscos de ordem
biológica, ambiental, e psicossocial que interferem no processo de desenvolvimento da criança.
Observa-se a influência direta da dinâmica das alteração dos padrões de organização da família e
na forma de cuidar e de educar as crianças.
Os avanços na ciência e na legislação educacional mostram que a infância é uma etapa da vida e
a criança é sujeito ativo que constrói conhecimentos em interação com os seus pares, sejam
adultos ou crianças em contextos ou ambientes diversos e proporcionou consideráveis avanços
na legislação da área da saúde e da educação que impulsionou a realização de pesquisas
voltadas para identificação da concepção de desenvolvimento humano e bem-estar .
Segundo o UNICEF (2001) as exigências e situações presentes na sociedade contemporânea ,
levam as crianças a
lidarem constantemente com os problemas dos adultos, devido a
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proximidade com os conflitos geradores de
desagregação familiar, de violência física e
de
ausência da figura materna e paterna na condução das crianças , merecendo destaque, aquelas
oriundas das classes populares com baixo poder aquisitivo.
As pesquisas realizadas entre
1995 a 2005 destacam indicadores de natureza econômica,
biomédica e incorporam uma visão holística que toma como indicador maior o ser humano
integral, como a razão de ser do desenvolvimento (UNICEF 2001), portanto, as condições
psicossociais ganharam relevo nos estudos realizados a partir da década de 80,quando as
exigências ficaram mais visíveis para as famílias.
Sarmento e Pinto (1997) destacam que as crianças sempre estiveram presentes no mundo,
porém, as condições de vida dos tempos atuais, produziram relações para essa categoria, o que,
consequentemente, tem gerado novas discussões e preocupações com o seu desenvolvimento.
A pesquisa realizada no âmbito do desenvolvimento humano tem pontuado o papel do ambiente
em que a criança se desenvolve e as interações que estabelece, como incentivadores ou
limitadores do processo de aquisição das habilidades básicas,
necessárias ao seu
desenvolvimento.,.
Atualmente a criança é vista como “um agente ativo” na construção das relações e do ambiente,
onde os significados simbólicos são modificados e simultaneamente ,compartilhados, portanto,
vê-se na teoria bioecológica do desenvolvimento um aspecto marcante que é o meio ambiente,
na maneira como é percebido pelo indivíduo, e não como ele existe na realidade objetiva. Para
Bronfenbrenner (1979/1996), "os aspectos do meio ambiente mais importantes no curso do
crescimento psicológico são, de forma esmagadora, aqueles que têm significado para a pessoa
numa dada situação.
O microssistema funciona como um cenário de atividades coletivas e individuais, ora
compartilhadas, ora individualizadas, em que os papéis
exercido pela família,
escola,
vizinhança, no cotidiano das interações criança-criança, adulto-criança e das atividades
desenvolvidas, interferem no desenvolvimento da pessoa em formação..
Com o objetivo de ampliar a análise dos problemas sociais extrapolando a referência feita à
renda
ou posse de bens materiais , Abramovay (2002) passou a discutir a concepção de
vulnerabilidade social relacionada à concepção de bem-estar social e a concepção de risco social
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tem se modificado
ao longo dos anos ,passando a ser interpretada, como um problema de
relacionamento e disfunções familiares .
Nessa visão, a situação começou a ser analisada sob o prisma da interação social de modo que
a intervenção ocorre através da limitação de poder do adulto sobre a criança .
Em revisão de documentos do Ministério da Saúde -Departamento de Gestão de Políticas
Estratégicas da Área Técnica de Saúde da Mulher( MS, 2002), percebe-se aspectos que
concorrem para acentuar os fatores de risco no desenvolvimento infantil, citando aqueles
referentes a família e a ,por conta da distribuição desigual de autoridade e poder na família, e do
apagamento dos limites entre os membros da família ,ou mesmo, o nível de tensão permanente
na família ,que gera a falta de diálogo e descontrole da agressividade, devido a ausência ou
pouca manifestação positiva de afeto entre pai-mãe-filhos, além das perdas, separação e
desemprego.
Isso posto ,denota a preocupação do Ministério da Saúde ,sem esquecer as pesquisas na área da
Psicologia que têm sinalizado de maneira veemente para os fatores de risco que sozinhos não
constituem uma causa específica, mas indicam um processo complexo que pode justificar a
consequência de uma psicopatologia na criança
Barnett (1997) afirma que nenhum outro fator de risco tem uma associação mais forte com a
psicopatologia do desenvolvimento do que uma criança maltratada, ou seja, os efeitos perversos
decorrentes do abuso e da negligência, influenciam no curso de vida da criança, visto que as
sequelas deixadas atingem os domínios do desenvolvimento, sobretudo nas áreas da cognição,
linguagem, desempenho escolar e desenvolvimento sócio emocional.
Para analisar a evolução do conceito de fatores de riscos ao desenvolvimento urge que se
verifiquem os avanços teóricos sobre fatores de riscos , identificando o conceito e suas variações .
A revisão da literatura nas bases de dados Google Acadêmico, Scielo, Banco de Teses da Capes,
livros da especialidade, recorrendo-se às palavras-chave “fatores de riscos” e “desenvolvimento”
apresentados na análise dos resultados ,com vistas a servir de base teórica para a pesquisa sobre
as representações sociais dos professores de Creches públicas de São Luís –MA acerca dos
fatores de risco ao desenvolvimento, uma vez que os fatores endógenos ou genéticos e os
psicossociais que interferem no desenvolvimento da criança e no processo de aprendizagem
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devem ser compreendidos ,tendo em vistas a busca de alternativas de intervenções nos diversos
contextos e condicionamentos de natureza biológica, psicossocial, afetiva e ambiental que
potencializam o desenvolvimento infantil .
2-Método
Na revisão da literatura, recorreu-se às bases de dados do Google Acadêmico, Scielo, Banco de
Teses da Capes, livros da especialidade, publicados entre 1995 a 2005 utilizando as palavras
chave “fatores de riscos “ e “ desenvolvimento”. Foram selecionados artigos ,teses de Mestrado e
capítulo de livros sobre o tema , dada especial atenção aos contributos de investigadores de
referência nacional como Reppold (2002), Garmezy e Rutter (2000), Hutz (2002), Koller e Xavier
(2006), Yunes e Szymanski (2000) .Esse contato com diferentes autores e enfoques envolveu
diversas áreas do conhecimento a fim de ampliar a compreensão acerca dos fatores de riscos ,
como “eventos negativos” ,” variáveis ambientais”, “eventos estressores” que aumentam a
probabilidade da criança apresentar problemas de comportamento .
3-Resultados e discussão
3.1- O conceito de fatores de riscos :da área biomédica a psicossocial
Em meio à complexidade do mundo contemporâneo, cada vez mais a criança em
desenvolvimento é exposta a fatores biológicos, cognitivos e psicossociais que as tornam
vulneráveis . O
ambiente escolar também é palco onde os diversos comportamentos se
manifestam, e são percebidos pelos profissionais que ali atuam.
No intuito de contribuir com os estudos na área do desenvolvimento infantil, o Fundo das Nações
Unidas para a Infância (UNICEF) vem construindo o Índice de Desenvolvimento Infantil-(IDI) para
o Brasil, procurando incorporar algumas dimensões do conceito do desenvolvimento infantil e
elementos do enfoque de direitos humanos contidos na doutrina da proteção integral da
Convenção sobre os Direitos da Criança, e do Estatuto da Criança e do Adolescente. A
concepção de desenvolvimento humano e bem-estar nos últimos anos, deixou de destacar
apenas os indicadores de natureza econômica, como a renda pessoal e incorporou uma visão
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holística que toma como indicador maior “o-ser humano integral “como a razão de ser do
desenvolvimento (UNICEF 2001).
Apresenta-se de forma resumida os conceitos que estão presentes no olhar de pesquisadores
brasileiros acerca dos fatores de riscos a fim de verificar os aspectos recorrentes como a ideia de
“eventos negativos de vida “ , “eventos estressores “ de natureza física e emocional , que
interferem no comportamento ,portanto, a exposição a esses fatores de risco pode exacerbar a
condição de vulnerabilidade e impossibilitar que as crianças respondam satisfatoriamente ao
estresse.
Ao proceder a revisão de literatura, observou-se que o conceito de fatores de risco ao longo dos
anos, aborda aspectos marcantes em relação à causa e efeito das doenças cardiovasculares, da
obesidade, da diabetes, da hipertensão e quando se reporta a infância aborda aspectos ligados
aos riscos da prematuridade , da gravidez na adolescência , do uso de drogas durante a gravidez
e dos distúrbios nutricionais , carências vitamínicas ou mesmo o atraso mental , as psicoses
infantis que apontam as variáveis pré e peri-natais
no desenvolvimento dos transtornos
psiquiátricos com vistas à identificação de fatores etiológicos para as psicoses infantis.
O termo “fatores de risco” está presente nas pesquisas da
área da Saúde
na área da
Neonatologia , Pediatria ,Fisiologia , Patologia ,Psicologia e também na área da Educação ,
sendo compreendidos ,como aspectos que causam distúrbios à saúde e ao desenvolvimento.
A psicologia do desenvolvimento evidencia alguns fatores de natureza biológica que tornam um
indivíduo vulnerável, tais como: a prematuridade, desnutrição, baixo peso, lesões cerebrais, atraso
no desenvolvimento. Mostra também, fatores de natureza psicossocial, como a família
desestruturada, o desemprego, a pobreza, a dificuldade de acesso à saúde e educação e ressalta
ainda os fatores de risco de natureza genética: pais com desordens afetivas, esquizofrenia,
desordens antissociais, hiperatividade, déficit de atenção e isolamento, que tornam as crianças
potencialmente vulneráveis aos eventos estressores, consideradas, portanto, crianças em
situação de risco que acarretam problemas ao desenvolvimento.
Mostra também, que alguns indivíduos são mais suscetíveis ou vulneráveis a esses eventos,
quando comparados a outros na mesma situação de risco, por diferenças fisiológicas ou
psicológicas.
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Na década de 80 Garmezy (1985) já mostrou em estudos realizados com crianças ,onde afirmava
que os fatores de risco aumentavam a probabilidade de a criança desenvolver uma desordem
emocional ou comportamental , gerada por atributos
biológicos
e genéticos .Essa ideia foi
confirmado nos estudos realizados por outros pesquisadores que consideraram os fatores de risco
como “processos complexos que podem justificar a consequência de uma psicopatologia” .
Na mesma direção Eisenstein & Sousa(1993) conceituam riscos como “ variáveis ambientais ou
contextuais “ que aumentam a probabilidade
da ocorrência
de algum efeito indesejável ao
desenvolvimento mental.
Os estudos realizados por Yunes e Szymanski (2000) Reppold (2002), Garmezy e Rutter (2000),
Hutz (2002), Koller e Xavier (2006), abordam os fatores de riscos ao desenvolvimento da criança
,trazendo aspectos convergentes e complementares acerca do conceito de fatores de risco , pois
concebem fatores de riscos como “variáveis ambientais”, “eventos estressantes da vida”,“
condições ou situações “associadas à alta probabilidade de ocorrência, negativa ou indesejável,
que podem comprometer a saúde, o bem-estar ou o desempenho social do indivíduo, inibindo de
certa forma as possibilidades de desenvolvimento integral.
O conceito de fator de risco esteve inicialmente relacionado ao termo mortalidade segundo
(Grünspun (2003) foi
somente a partir da década de 1980, com a publicação de diversas
pesquisas, que o termo veio sendo
associado aos estudos sobre desenvolvimento humano.
(Hagerty &Cols,2000).
O termo “fator de risco” foi associado aos estudos sobre desenvolvimento
humano e sua identificação passou a ser investigada a fim de avaliar sua
influência no desenvolvimento de crianças, com vistas a organizar
intervenções nos espaços de interações.
Uma pesquisa realizada por Pedromônico ( 2003) aponta indícios de que as crianças nascidas
prematuras ou com autismo são mais propensas ao retardo mental , o que é ampliado nos casos
citados por Horowitz (1992) ao apontar a dimensão motora
do desenvolvimento como
determinação genética que recebe pouca influência do ambiente externo ,no entanto, a linguagem
enquanto dimensão cognitiva, tem os componentes genéticos esculpidos e
moldados pelo
ambiente, daí perceber-se que as famílias com baixo nível de escolarização tem também ,baixa
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qualidade de estimulação doméstica e por extensão, a criança apresenta baixo vocabulário e
desenvolvimento cognitivo.
O Ministério da Saúde aponta os riscos à saúde elencando a ausência de um
trabalho de prevenção e acesso ao atendimento médico e hospitalar , além da falta de vínculo
parental, distúrbios evolutivos, crianças separadas da mãe ao nascer. Todas essas situações vão
se apresentando como “variáveis ambientais que tem a probabilidade de interferir no atraso do
desenvolvimento”, quando comparadas com crianças que não sofreram efeitos de tais variáveis .
O termo risco tem sido utilizado no campo da saúde mental,também, com o significado de
estressor ou fator que predispõe a um resultado negativo ou indesejado segundo Cowan, &
Schulz(1996).
A legislação pertinente à proteção à infância - Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) que
resguarda os direitos conquistados democraticamente
e concebe a criança como cidadã de
direitos ,veio ampliar o interesse pelas pesquisas na área dos riscos sociais e os fatores de risco
passaram a serem vistos numa dimensão psicossocial e interdisciplinar , visto que as várias
ciências se preocupam com os fatores de riscos o que demonstra os pesquisadores Graziela
Sapienza & M. Pedromônio (2003) desde a década de 80 quando associaram fatores de risco à
diversidade em qualquer etapa do ciclo vital ,mudando a direção do desenvolvimento
Nesse sentido Ramey(1998) complementa com a ideia de fatores de risco como “variáveis
ambientais” que repercutem nas crianças portadoras de determinados atributos biológicos, com
maior probabilidade de apresentar distúrbios ou atraso no desenvolvimento.
Conger e Cols (1994) consideram os fatores de risco como “estímulos aversivos” que afetam o
comportamento e a qualidade das relações familiares, ao mesmo tempo em que criam condições
inadequadas ao desenvolvimento.
Melo, M H S da S.(1999) afirma que os fatores de risco psicossociais tendem a modelar o
repertório infantil ,tanto no desenvolvimento de problemas comportamentais e emocionais quanto
na aquisição de comportamentos inadequados.
Desse modo os autores formularam conceitos pertinentes aos fatores de risco como “eventos
negativos de vida” que aumentam a probabilidade do individuo apresentar problemas físicos e
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emocionais que interferem no comportamento e acentuam a condição de vulnerabilidade ,além de
e impossibilitar respostas satisfatórias aos eventos estressores .
A evolução do conceito de fatores de riscos desde a década de 80 deixa patente a dimensão
psicossocial e no período de 1995 a 2005 percebe-se nos estudos realizados por Hutz
(1996;2007) Haggerty & cool (2000) que a denominação recorrente de fatores de risco é de
“eventos estressantes da vida”, considerados como quaisquer mudanças no ambiente que
induzem a um alto grau de tensão e interferem nos padrões normais de resposta do indivíduo,
associados a uma grande variedade de distúrbios físicos e mentais .
As pesquisas na área da Saúde, da Psicologia e da Terapia Ocupacional mostram que a
prontidão da criança durante os primeiros anos de vida, num período denominado sensível ou
crítico do desenvolvimento é crucial para a aquisição de informações sociais, afetivas e cognitivas
e levam a uma estabilização e maior proliferação de determinadas sinapses em detrimento de
outras. Se a mãe falha em prover ao bebê a proteção e estímulo adequados, as chances de
prejuízo
dos
processos
do
desenvolvimento
neurobiológico
e
psicológico
aumentam
significativamente, tendo repercussão no processo desenvolvi mental a médio e longo prazo.
Fica claro a consideração feita acerca da qualidade da interação mãe-criança ou a qualidade da
maternagem como contribuintes importantes para o padrão de desenvolvimento neurológico,
neuroendócrino e psicológico do indivíduo.
Haggerty & cols. (2000) conceitua fatores de risco como “predisposição para a vulnerabilidade!
expressa no comportamento. Um conceito atribuído por Hughes(2001) destaca os fatores de risco
como “variáveis de relacionamento” que podem aumentar a probabilidade de abuso na própria
convivência familiar onde se faz presente eventos de violência presenciados ou vividos pelas
crianças” .
O Ministério da saúde menciona as crianças com falta de vínculo parental nos primeiros anos de
vida, como alguém propenso aos distúrbios evolutivos, pois as crianças separadas da mãe ao
nascer por doença ou prematuridade, as crianças nascidas com malformações congênitas ou
doenças crônicas (retardo mental, anormalidades físicas, hiperatividade),demonstrarão
baixo
desempenho escolar e evasão escolar (Ministério da Saúde, 2002).
Segundo Ferreira (2000, p.156 ) o :
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“[...] risco significa perigo ou possibilidade de perigo, ou de
prenúncio de um mal ou aquilo que provoca tal circunstância ou
mesmo aquilo que inspira cuidados”.
Para esse autor, o risco decorre de eventos estressantes e causa doenças, problemas de
comportamento, variando seus efeitos de acordo com as condições de vida e o apoio social
recebido no âmbito da família e da escola, uma vez que “aquilo” que se apresenta como risco,
pode servir de superação e fortaleza, já que é recorrente a ideia de que há indivíduos mais
suscetíveis ou vulneráveis a esses eventos estressantes, quando comparados a outros na mesma
situação de risco, por diferenças fisiológicas ou psicológicas .denotam comportamentos diversos .
Ferreira & Marturano, 2002; Horowitz, 1992; Melo 1999) afirmam que a exposição aos fatores de
risco afeta negativamente o desenvolvimento da criança trazendo problemas, principalmente de
comportamento .Explicam ainda ,que os riscos psicossociais, principalmente quando combinados,
tendem a modelar “o repertório” infantil tanto no desenvolvimento de problemas comportamentais
e emocionais quanto na aquisição de comportamentos adequados..
O significado atribuído a “eventos” é sinônimo de acontecimento ou de ação,, tem característica
de algo passageiro, inconstante, que pode voltar a ocorrer ou não e pode ocorrer em diferentes
momentos da vida, sendo confirmado pelos estudos de Eisentem &Sousa (1993 p.18) uma vez
que se apresentam como “variáveis ”’ambientais e contextuais que concorrem para acumular a
probabilidade da ocorrência de efeitos indesejados no desenvolvimento mental .
Reppold (2002) define fatores de risco como :
[...] eventos estressantes da vida, considerados como quaisquer
mudanças no ambiente que induzem a um alto grau de tensão e
Interferem nos padrões normais de resposta do indivíduo, têm ido
asociados a uma grande variedade de distúrbios físicos e
mentais. (REPPOLD, 2002,p.56).
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Tal afirmativa permite entender que os fatores de risco presentes aumentam a probabilidade de a
criança desenvolver uma desordem emocional ou comportamental e esses fatores, por incluir
atributos biológicos e genéticos da criança e/ou da família, ou mesmo , atributos da comunidade a
exercerem influência no ambiente em que vive.
Na concepção de Koller & Xavier (2006), o risco está associado às características ou aos eventos
que podem levar a resultados ineficazes, enfraquecendo a pessoa diante da situação de estresse
,sendo confirmada por Hutz (2007p.35), que assim se expressa “[...] os fatores de risco são
eventos negativos de vida que, quando presentes, aumentam a probabilidade do indivíduo
apresentar problemas físicos e emocionais”.
Segundo Haggerty (2000) os fatores de risco tornam a pessoa potencialmente vulnerável e sujeita
aos estressores de natureza biológica e psicossocial, que são assim classificados: riscos
psicossociais (desvantagens socioeconômicas, famílias desorganizadas); riscos genéticos
(esquizofrenia, hiperatividade, déficit de atenção, desordem afetiva).
Horowitz (1992) apud Sapienza,( 2005) aponta a dimensão motora do desenvolvimento como
determinação genética a receber pouca influência do ambiente externo , no entanto, a linguagem
enquanto dimensão cognitiva ,tem os componentes genéticos esculpidos e moldados pelo
ambiente, daí perceber-se que as famílias com baixo nível de escolarização tem, também, baixa
qualidade de estimulação doméstica e por extensão, a criança apresenta baixo vocabulário e
desenvolvimento cognitivo. As crianças expostas aos fatores de risco tem modelado o seu
comportamento e podem ser negativamente afetadas principalmente, no seu comportamento, pois
os riscos psicossociais, estão presentes no dia –a –dia das crianças e podem modelar o repertório
infantil.).
Dessa forma, o conceito de risco assumiu um caráter flexível e dinâmico, na medida em que
situações que se configuram para alguns sujeitos como risco, no sentido de promover
consequências negativas sobre o seu desenvolvimento, para outros, tais situações não impactam
negativamente sobre seu desenvolvimento, podendo, ao contrário, configurar-se como indicador
de proteção.
As condições de pobreza da família se configuram em pesquisas realizadas por Sapienza (2005)
como aversivos que afetam o comportamento e a qualidade das relações familiares, criando,
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assim, condições inadequadas ao desenvolvimento, concorrendo para o aumento dos problemas
de comportamento, especialmente na adolescência.
Os conflitos Inter parentais frequentes provocam uma mistura complexa de adversidades crônicas,
eventos estressantes e acúmulo de riscos, além de outros aspectos que dão origem aos
estressores advindos de mudanças de escola, de professor, convivência com situações novas e
novas figuras que exercem autoridade na escola.
3.3-Fatores de riscos associados ao estresse da criança e suas consequências
As pesquisas na área do risco realizadas por (Garmezy; Rutter, 1983) apontam os tipos de
estressores que têm na infância e na vida das pessoas em geral, classificando-os em fatores de
natureza biológica que tornam um indivíduo vulnerável, como: a prematuridade, desnutrição, baixo
peso, lesões cerebrais, atraso no desenvolvimento. Mostram, também, fatores /de natureza
psicossocial como a família desestruturada, o desemprego, a pobreza, a dificuldade de acesso à
saúde e educação .Ressalta ,portanto, os fatores de risco de natureza genética: pais com
desordens afetivas, esquizofrenia, desordens antissociais, hiperatividade, déficit de atenção e
isolamento, que tornam as crianças potencialmente vulneráveis aos eventos estressores e
consideradas, em situação de risco para no seu desenvolvimento.
Para identificar esses eventos estressantes recorreu-se a Lipp(2001) que traz o conceito de
“estresse” como :
Uma resposta complexa do organismo, que envolve reações.
físicas, psicológicas, mentais e hormonais frente a qualquer.
evento que seja interpretado pela pessoa como desafiante
. Lipp(2001).
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A palavra estresse pode ser substituída por medo, raiva ou ansiedade e a definição permanecerá
igualmente válida, ou seja, não se discriminou estados emocionais complexos de uma reação
primária do organismo. Segundo Lipp (2003) as principais fontes do estresse infantil são as
mudanças significativas e constantes, o excesso de responsabilidade , o excesso de atividades ,
as brigas familiares, a morte e as exigências excessivas ou a rejeição por seus pares .
Há um crescente volume de estudos científicos que segundo Myers(2003) e Morais Souza e
Baptista (2004) tratam da influência do sistema nervoso e endócrino no sistema imunológico
,sendo assim os estressores ,em conjunto com uma série de variáveis biológicas e genéticas
estariam diretamente relacionadas com o aumento da probabilidade do desenvolvimento de
algumas doenças ,tais como herpes, lúpus, doenças do coração ,entre outras.
No âmbito social e psíquico vê-se que há experiências estressoras no desenvolvimento infantil,
tais como: divórcio dos pais;
Habigzang, Koller (2006) Abuso sexual/físico contra a criança;
Lisboa et al. (2002), Pobreza e empobrecimento .
Além dos estressores citados, as pesquisas realizadas por Kuczynski (2011) afirmam que as
constantes mudanças de residência, insatisfação com a quantidade de tempo que os pais passam
com os filhos, mudança de cuidadores, medo da separação dos pais e mudança nos padrões
econômicos e a angústia e solidão ficam acentuadas como eventos estressores também.
O enfoque está na resposta do organismo a um estímulo mediado pela interpretação que lhe é
dado. Esse estímulo, interpretado como desafiador, provoca um quebra na homeostase do
funcionamento interno que, por sua vez, cria uma necessidade de adaptação para preservar o
bem-estar e a vida. A necessidade de adaptação exige a emissão de várias estratégias
adequadas ou não de enfrentamento e (Lipp (2001) atribui ao mau comportamento adaptativo que
se constituem na forma como a pessoa lida com o estresse.
Diversos autores têm trabalhado os fatores desencadeadores
intrafamiliar através de pesquisas bibliográficas realizadas
e mantenedores
da violência
na década de 90
em revistas
brasileiras Gomes (2002) e apontou que os principais fatores de risco observados foram a
reprodução de experiências de violência familiar vividas na infância se perpetuando nos maus
tratos em diferentes gerações e a presença de desajustes familiares ,psíquicos e do alcoolismo
levam aos aspectos sociais ,econômicos e culturais acentuados pela desigualdade , dominação
de gênero e a relação intergeracional .
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Ainda ser refere a outro aspecto destacado que são as práticas parentais e valores na vida adulta,
pertinentes às relações entre experiências de criação no ambiente familiar e o estilo parental que
focalizam a relação fraterna , pois são mediadas pela calorosidade ou pela restritividade .
A exposição a múltiplos e contínuos eventos adversos podem colocar em risco a trajetória do
desenvolvimento típico da criança. Considera-se como fator de risco toda a sorte de eventos
negativos da vida, e que, quando presentes, aumentam a probabilidade dos indivíduos a
apresentar problemas físicos, sociais e emocionais (Yunes&szymanski, 2001).
Dentre os riscos assinalados por Szymanski (2001) há aqueles que não são susceptíveis às
intervenções, pois estão relacionados aos aspectos culturais já cristalizados e aos eventos
estressantes como ansiedade materna e qualidade da interação mãe e filho, e podem melhorar ou
reverter com as intervenções psicológicas.
Sabendo dos impactos dos estressores na vida de uma criança e das dificuldades de
aprendizagem decorrentes da falta de atenção, pouca concentração, isolamento, agressividade,
transtornos psiquiátricos e psicológicos, que podem acarretar consequências psicossociais de
longo prazo, há que se buscar mecanismos ou estratégias de intervenção no espaço escolar para
auxiliar os profissionais a desenvolverem repertório, estratégias de enfrentamento na tentativa de
minimizar as consequências desastrosas para o desenvolvimento físico, mental e social.
4-Considerações Finais
Os estudos realizados na área médica apontam riscos genéticos e biológicos mas a partir da
década de 1980 o termo “risco” foi sendo associado a riscos psicossociais de forma relacionada
ao contexto social, político ,socioeconômico, ambiental e cultural, o que levou aos pesquisadores
da área do desenvolvimento humano perceber os riscos como fatores que podem estar presentes
em qualquer etapa do ciclo vital e portanto, atuar mudando a direção do desenvolvimento .O
termo fator de risco foi associado aos estudos sobre desenvolvimento humano e sua identificação
passou a ser investigada a fim de avaliar sua influência no desenvolvimento de crianças, com
vistas a organizar intervenções e ação.
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Se, inicialmente, a visão sobre os fatores de riscos estava associada ao modelo biomédico, nos
últimos dez anos , já não se associa apenas às doenças e à mortalidade biológica, mas, sim, à
morbidade mental e emocional, estando configurada nas pesquisas como variáveis, eventos,
condições ou situações, associadas à alta probabilidade de ocorrência negativa ou indesejável,
daí encontrar-se entre tais fatores, os comportamentos que podem comprometer a saúde e o
bem-estar .
Ao analisar os diversos conceitos percebe-se os fatores de risco citado pelos pesquisadores até a
década de 80 trazem como prevalecente os aspectos biológicos, pautados numa
visão
biomédica, deixando evidenciado as causas de sofrimento, a doença, todas relacionadas as
patologia do comportamento, pois devido à tendência desenvolvimentista os fatores biológicos se
sobressaem quando se busca explicar os problemas pertinentes a vulnerabilidade das crianças.
Os avanços percebidos decorrem dos estudos realizados na área da Psicologia e Pediatria na
década de 80 quando evidencia os fatores de ordem psicossocial e psicopatológicas.
Sabendo da vulnerabilidade das crianças frente a situações de risco a escola como um dos
espaços de cuidado e educação deve ficar atenta aos transtornos alimentares, de personalidade
e as psicopatologias relacionadas às diversas formas de abusos físicos e psicológicos que
interferem no desenvolvimento da criança a fim de buscar alternativa de apoio e proteção à
criança.
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