O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO REGIONAL:
Uma Revisão Teórica
Edson Pereira da Silva
[email protected]
Programa de Pós-graduação em Administração, Universidade de Taubaté (UNITAU)
Rua Daniel Danelli, s/n - 12060-440, Taubaté-SP - Brazil
Edson Aparecida de Araujo Querido Oliveira
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Programa de Pós-graduação em Administração, Universidade de Taubaté (UNITAU)
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Elvira Aparecida Simões de Araujo
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Programa de Pós-graduação em Administração, Universidade de Taubaté (UNITAU)
Rua Expedicionário Ernesto Pereira – 12.060-440-Taubaté-SP-Brazil
RESUMO - O presente trabalho analisa em um primeiro momento os dez princípios de economia;
em seguida verifica a teoria econômica e o desenvolvimento e por fim o desenvolvimento
econômico e a questão regional. O texto enfatiza que o desenvolvimento é um processo social
global. E que em um mundo com intensas relações econômicas globais, é difícil quantificar o
desenvolvimento, principalmente no aspecto regional. Este texto, que possui caráter exploratório,
foi realizado por meio de levantamento bibliográfico. Por fim, busca demonstrar que a
administração dos recursos da sociedade é importante porque os recursos são escassos. A
quantidade de recursos financeiros ou bens materiais que possibilite o aumento da produção e da
produtividade é importante para o desenvolvimento econômico.
Palavras-chave: Gestão. Economia. Desenvolvimento econômico. Crescimento Econômico.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é apresentar e analisar a diferença entre o desenvolvimento
econômico regional e o crescimento econômico. O conceito de desenvolvimento econômico
regional decorre da ênfase dada às dinâmicas locais, cuja avaliação sob a perspectiva histórica é
estratégica para a compreensão dos fatores a ele relacionados. Na economia, os recursos
econômicos são limitados, enquanto as necessidades são ilimitadas; com isso, a felicidade resulta
do modo de encarar a vida e suas limitações.
O presente trabalho está dividido em três tópicos: o primeiro apresenta os dez princípios
de economia onde os quatro primeiros princípios salientam como as pessoas tomam decisões:
Pessoas enfrentam tradeoffs;
O custo de alguma coisa é do que você desiste para obtê-la;
Pessoas racionais pensam na margem; e
Pessoas respondem a incentivos.
Os próximos três princípios tratam como as pessoas interagem:
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O comércio pode melhorar a situação de todos;
Os mercados são, em geral, uma boa forma de organizar a atividade econômica; e
Os governos podem às vezes melhorar os resultados do mercado.
Os três últimos princípios verificam como funciona a economia como um todo:
O padrão de vida de um país depende de sua capacidade de produzir bens e
serviços;
Os preços sobem quando o governo emite moeda demais; e
A sociedade enfrenta um tradeoff de curto prazo entre inflação e desemprego.
O segundo tópico aborda sobre a teoria econômica e o desenvolvimento e por fim o
desenvolvimento econômico e a questão regional que no momento de crise e instabilidade
econômica volta a ganhar uma imensa relevância.
2. DEZ PRINCÍPIOS DE ECONOMIA
A palavra economia deriva do grego “aquele que administra o lar”. A princípio esta origem
pode parecer estranha, mas, na verdade, lares e economias têm muito em comum. Por isso, que
partimos dessa premissa para compreendermos o desenvolvimento econômico regional.
Uma família se depara com muitas decisões. Deve decidir quais tarefas cabem a cada
membro e o que cada um desses membros recebe em troca. Quem prepara o jantar? Quem lava
a roupa? Quem come mais uma porção de sobremesa? Quem escolhe o programa de TV que
será assistido? Em resumo, a família deve alocar seus recursos escassos entre os vários
membros, levando em conta a capacidade, os esforços e os desejos de cada um (MANKIW,
1999).
Conforme o autor supracitado como uma família, a sociedade se depara com muitas
decisões. Uma sociedade deve decidir quais tarefas serão executadas e quem as fará. Precisa de
gente para produzir alimentos, para fabricar vestuário e para criar softwares. Uma vez que a
sociedade tenha alocado as pessoas (bem como terra, prédios e máquinas) entre as várias
tarefas, deve também alocar os bens e serviços que elas produziram. Deve decidir quem comerá
o caviar e quem comerá as batatas. Deve decidir quem andará de Porsche e quem andará de
ônibus.
Conforme Mankiw (1999, p. 4), “Economia é o estudo da forma pela qual a sociedade
administra seus recursos escassos. Na maior parte das sociedades os recursos não são alocados
por um único planejador central, mas pelas ações combinadas de milhões de famílias e
empresas”. Embora o estudo da economia tenha muitas facetas, o campo é unificado por várias
ideias centrais.
Como o comportamento de uma economia reflete o comportamento das pessoas que
formam a economia, começaremos o estudo com quatro princípios da tomada de decisões
individual:
Princípio # 1: Pessoas enfrentam tradeoffs – “A primeira das lições
acerca da tomada de decisões se resume no dito popular de que ´Nada é
de graça`. Para obter alguma coisa de que desejamos, em geral temos de
abrir mão de outra coisa da qual gostamos. Tomar decisões exige
comparar um objetivo com outro” (MANKIW, 1999). Quando as pessoas
estão agrupadas em sociedades, elas se deparam com diferentes tipos de
tradeoff. O tradeoff clássico é aquele entre ´armas e manteiga`. Quanto
mais for gasto em defesa nacional para proteger o país de agressores
externos (armas), menos se pode gastar com bens pessoais para
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aumentar o padrão de (manteiga). Também é importante na sociedade
moderna a opção entre meio ambiente despoluído e um alto nível de
renda;
Princípio # 2: O custo de alguma coisa é do que você desiste para
obtê-la – “Como as pessoas enfrentam tradeoffs, a tomada de decisões
exige a comparação dos custos e benefícios dos vários cursos de ação.
Em muitos casos, contudo, o custo de alguma ação não é tão óbvio como
poderia parecer à primeira vista” (MANKIW, 1999). Quando fazemos a
opção de fazer uma faculdade por exemplo. O benefício é o
enriquecimento intelectual e melhores oportunidades de emprego ao longo
de toda a vida. Mas tudo isso tem um custo como anuidades, livros,
moradia e alimentação. Contudo, esse total não representa de fato o que
você sacrifica para passar um ano na faculdade;
Princípio # 3: Pessoas racionais pensam na margem – “Muitas
decisões na vida envolvem a efetivação de pequenos ajustes incrementais
a um plano de ação existente. Os economistas os denominam alterações
marginais. Em muitas situações, as pessoas tomarão decisões melhores
se pensarem na margem” (MANKIW, 1999). Portanto, Alterações
marginais são pequenos ajustes incrementais a um plano de ação.
Pessoas, empresas, o Estado poderão tomar decisões melhores pensando
na margem. Um tomador de decisões racional empreende uma ação se e
somente se o benefício marginal de tal ação exceder seu custo marginal; e
Princípio # 4: Pessoas respondem a incentivos – “Como as pessoas
tomam decisões comparando custos e benefícios, seu comportamento
pode mudar quando os custos ou os benefícios se alteram. Isto é, as
pessoas respondem a incentivos (MANKIW, 1999). Quando o preço das
maças aumenta, por exemplo, as pessoas decidem comer mais pêras e
menos maçãs, porque o custo de comprar maçãs está maior. Ao mesmo
tempo, os produtores de maças decidem contratar mais gente e colher
mais maçãs, porque o benefício de vender maçã é também maior. O autor
ainda salienta que o papel central dos incentivos na determinação do
comportamento é importante para quem formula políticas públicas.
Frequentemente estas podem alterar os custos ou benefícios de ações
privadas. Quando os formuladores de políticas públicas deixam de
considerar a mudança de comportamento, suas políticas podem ter efeitos
não pretendidos.
Esses quatro primeiros princípios trataram da tomada de decisões individual. Mas muitas
das decisões que tomamos não apenas nos afetam, mas atingem também outras pessoas. Os
três princípios seguintes se ocupam da forma pela qual as pessoas interagem entre si:
Princípio # 5: O comércio pode melhorar a situação de todos – “Você
provavelmente tem conhecimento pelos noticiários de que os japoneses
competem com os Estados Unidos na economia mundial. De certa maneira
isso é verdade, pois muitas empresas americanas e japonesas produzem
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os mesmos bens” (MANKIW, 1999). A Ford e a Toyota concorrem pelos
mesmos compradores no mercado de automóveis. A Compaq e a Toshiba
concorrem pelos mesmos clientes no mercado de computadores pessoais.
Os países podem se beneficiar da capacidade de negociar uns com os
outros. O comércio permite aos países especializar-se no que fazem de
melhor e desfrutar de uma maior variedade de bens e serviços. Os
japoneses, como os franceses, os egípcios e os brasileiros, são tanto
parceiros quanto concorrentes dos Estados Unidos na economia mundial;
Princípio # 6: Os mercados são, em geral, uma boa forma de
organizar a atividade econômica – “O colapso do comunismo na União
Soviética e na Europa Oriental pode ter sido a mudança mais importante
do mundo nos últimos cinquenta anos. Os países comunistas trabalhavam
com a premissa de que os planejadores centrais do governo estavam em
melhor posição para orientar a atividade econômica” (MANKIW, 1999).
Esses planejadores decidiam que bens e serviços produzir, quanto
produzir e quem produziria e consumiria esses bens e serviços. A teoria
subjacente ao planejamento central era a de que só o governo poderia
organizar a atividade econômica de forma a promover o bem-estar
econômico para o país como um todo
Atualmente, a maioria dos países que tiveram no passado economias centralmente
planejadas abandonaram esse sistema e procuram desenvolver economias de mercado. Em uma
economia de mercado as decisões do planejador central são substituídas pelas decisões de
milhões de famílias e empresas. As empresas decidem quem contratar e o que produzir.
As famílias decidem em que empresas trabalhar e o que comprar com seus rendimentos.
Essas empresas e famílias interagem no mercado, no qual o preço e o interesse próprio orientam
as decisões (MANKIW, 1999, p. 9).
À primeira vista, o sucesso das economias de mercado é intrigante. Poderia parecer que
decisões descentralizadas tomadas por milhões de famílias e empresas guiadas pelo interesse
próprio resultaram em caos. Contudo não é o caso. As economias de mercado têm-se mostrado
muito bem-sucedidas em organizar a atividade econômica de modo a promover o bem-estar
econômico geral.
Em seu livro de 1776, A riqueza das nações, o economista Adam Smith fez a mais famosa
observação de toda a teoria econômica: as famílias e as empresas, ao interagirem nos mercados,
agem como que guiadas por uma “mão invisível” que as conduz a resultados de mercado
desejáveis (MANKIW, 1999). Os preços então são os instrumentos com os quais a mão invisível
dirige a atividade econômica. Os preços refletem tanto o valor que a sociedade atribui a um bem
quanto os custos em que ela incorre para produzi-lo. O bem-estar social do hedonismo ou
utilitarismo, defendido por Smith, afirma que os indivíduos buscam o máximo de satisfação com o
mínimo de esforço; quando cada indivíduo assim procede, o resultado em função das leis de
mercado é o máximo bem-estar coletivo (VIEIRA; SANTOS, 2012):
Princípio # 7: Os governos podem às vezes melhorar os resultados do
mercado – Embora, de modo geral, o mercado seja uma boa maneira de
organizar a atividade econômica, esta regra tem algumas exceções
importantes. Há duas razões de ordem geral para que o governo
intervenha na economia: promover a eficiência e promover a equidade. Isto
é, muitas políticas econômicas visam ou aumentar o bolo econômico ou
alterar a sua divisão (MANKIW, 1999). A mão invisível às vezes não
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funciona. Os economistas usam a expressão falha de mercado para
expressar a situação na qual o mercado por si mesmo, fracassa em alocar
recursos de forma eficiente. Outra possível causa de falhas de mercado
são as externalidades – impacto das ações de alguém sobre o bemestar
dos que estão em torno. A terceira possível causa de falhas de mercado é
o poder de mercado – capacidade que um único ator (ou pequeno grupo
de atores) tem para influenciar significativamente os preços de mercado.
Os quatro primeiros princípios discutiram como são tomadas as decisões
individuais e depois analisamos como funciona a interação entre as
pessoas. Todas essas decisões e interações constituem a economia.
Esses três últimos princípios tratam do funcionamento da economia como
um todo;
Princípio # 8: O padrão de vida de um país depende de sua
capacidade de produzir bens e serviços – Toda a variação nos padrões
de vida pode ser atribuída a diferenças na produtividade – isto é, a
quantidade de bens e serviços produzida em uma hora de trabalho
(MANKIW, 1999). Nos países onde os trabalhadores podem produzir
grande quantidade de bens e serviços por unidade de tempo, a maior parte
das pessoas tem um alto padrão de vida; nos países onde os
trabalhadores são menos produtivos, a maior parte das pessoas vive com
menor conforto;
Princípio # 9: Os preços sobem quando o governo emite moeda
demais – Em muitos casos de inflação longa ou persistente, o culpado é
sempre o mesmo – aumento na quantidade de moeda. Quando um
governo emite grandes quantidades de moeda, seu valor cai. Na Alemanha
do início da década de 1920, quando os preços, em média triplicavam a
cada três meses, a quantidade de moeda também triplicava nesse período;
e
Princípio # 10: A sociedade enfrenta um tradeoff de curto prazo entre
inflação e desemprego – O tradeoff entre inflação e desemprego é
denominado curva de Phillips, pois é o nome do economista que pela
primeira vez examinou essa associação (MANKIW, 1999). A curva de
Phillips continua sendo um tópico controverso entre os economistas, mas a
maioria admite hoje em dia a ideia que há um tradeoff entre inflação e
desemprego, no curto prazo. De acordo com uma explicação comum, este
tradeoff surge porque alguns preços demoram a se ajustar.
3. A TEORIA ECONÔMICA E O DESENVOLVIMENTO
Ao longo da história do capitalismo contemporâneo, intelectuais de várias áreas têm
discutido o conceito de desenvolvimento econômico. Entre estes não há uma definição
universalmente aceita do conceito de desenvolvimento, mas, para a maioria deles trata-se da
relação direta entre desenvolvimento e produção.
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Adam Smith em seu livro “A Riqueza das Nações”, publicado em 1776, comenta que a
riqueza de uma nação constitui-se a partir do trabalho produtivo, com aumento dos investimentos
em capitais produtivos, a especialização da mão-de-obra e a divisão do trabalho. O interesse
coletivo é resultado das ações individuais privadas, e os indivíduos buscam atender ao seu
interesse próprio, e, ao fazerem isso de forma indireta, acabam por atender aos interesses da
coletividade (mão invisível do mercado) (VIEIRA; SANTOS, 2012).
Foi o precursor da moderna Teoria Econômica e postulava que o papel do
Estado na economia deveria corresponder apenas à proteção da
sociedade contra eventuais ataques e à criação e manutenção de obras e
instituições necessárias, mas não à intervenção nas leis de mercado. No
estudo da economia, os maiores economistas na época que compreende o
século XVIII até o século XX seguiam o método dedutivo em seus estudos,
admitindo a intervenção do Estado no terreno econômico (ANDRADE,
2005, p. 24).
A principal obra de David Ricardo “Princípios de Economia Política e Tributação”, publicada
em 1817, tem como preocupação central o crescimento econômico, e não o desenvolvimento.
Ricardo defende a concentração de renda em favor dos capitalistas urbanos industriais, por serem
responsáveis pela acumulação que determina o crescimento econômico, gerando mais emprego e
desenvolvimento.
Na teoria da renda da terra, o autor faz uma crítica às elites agrárias que se apropriam da
renda e do aluguel das terras, reduzindo os investimentos produtivos e o crescimento da
economia. Para David Ricardo, a elite agrária deve pagar uma carga tributária maior por ser
improdutiva e, mesmo assim, utilizar a renda e o aluguel produzidos pela terra. Portanto, observase uma preocupação central com o crescimento da economia, e não necessariamente no
processo de desenvolvimento da economia (SOUZA, 1993).
O termo desenvolvimento econômico é encontrado também na teoria marxista. Marx não
se limitou a estudar e entender a realidade histórica, mas criou seu próprio método de trabalho: o
materialismo histórico (teoria científica) e o materialismo dialético (filosofia).
Para os materialistas, a história da filosofia tem longa tradição idealista, pressuposta até
nas teorias em que o idealismo não transparece num primeiro momento, culminando com o
pensamento de Hegel, no século XIX. Para esse filósofo, é a própria razão que faz o tecido do
real, e a ideia não é uma criação subjetiva do sujeito, mas a própria realidade objetiva, donde tudo
procede.
Para o materialismo, a matéria é o dado primário, a fonte da consciência, e esta é um dado
secundário, derivado, pois é reflexo da matéria. O materialismo histórico, portanto, não é mais do
que a aplicação dos princípios do materialismo dialético ao campo da história. E, como o próprio
nome indica, é a explicação da história por fatores materiais, ou seja, econômicos e técnicos.
O que Marx explicitou foi que, embora possamos tentar compreender e definir o homem
pela consciência, pela linguagem, pela religião, o que fundamentalmente o caracteriza é a forma
pela qual reproduz suas condições de existência.
O materialismo, resultado de múltiplas determinações, não se limita ao determinismo
econômico. O determinante é a própria história, fruto das ações humanas reais. O processo
histórico é entendido como o conflito no tempo e no espaço entre unidades contraditórias em
contínua transformação, expresso por Marx nos conceitos modo de produção e luta de classes:
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Uma crítica leal do marxismo não pode silenciar a parte de verdade que
nele se encerra. O marxismo fixou a atenção no aspecto econômico da
história, que havia sido muitas vezes olvidado pela historiologia clássica.
Acontece, porém, que Marx levado por seu doutrinarismo, exagerou sua
importância. Os fatores econômicos influem na história, mas não são os
únicos, nem sempre os mais decisivos. Há fatos históricos fundamentais
que não podem ser reduzidos à economia (FONTANA, 1969, p. 199).
Para Karl Marx, o capital propicia a produção da mais-valia por meio da exploração do
trabalho. O sistema capitalista consiste na produção de mercadorias. Mercadoria é tudo o que é
produzido não tendo em vista o valor de uso (por exemplo, uma malha que fazemos para nosso
próprio uso), mas tem por objetivo o valor de troca, isto é, a venda do produto.
Sendo a mercadoria um produto do trabalho, o seu valor é determinado pelo total de
trabalho socialmente necessário para produzi-la. Chama-se mais-valia, portanto, ao valor que o
operário cria além do valor de sua força de trabalho, e que é apropriado pelo capitalista (ARANHA;
MARTINS, 1993).
Observa-se que para Marx, o capitalismo, com a revolução industrial, promoveu o
crescimento da produção que, por sua vez, foi acompanhada por forte concentração funcional da
renda, não contribuindo para a melhoria na qualidade de vida para a maior parte das pessoas, os
trabalhadores quando o critério é a quantidade de riqueza produzida no estágio de produção
econômica capitalista.
A práxis revolucionária do proletariado não pode ser esclarecida
teoricamente, nem dirigida praticamente, à margem de um conhecimento
verdadeiro, objetivo, científico, das condições que a tornam possível e
necessária, particularmente no que concerne às relações capitalistas de
produção. E é essa tarefa teórica indispensável que Marx leva a cabo em
O Capital, em prol da transformação prática efetiva, da sociedade
capitalista. Ao descobrir as leis fundamentais da produção capitalista, seus
conceitos básicos, e por a nu suas contradições antagônicas, Marx nada
mais faz do que fundamentar cientificamente a necessidade da passagem
do capitalismo ao socialismo (VÁZQUEZ, 1977, p. 227).
No campo da economia, destaca-se a contribuição de Lewis (1960), que considera
importante o crescimento econômico para se alcançar o desenvolvimento, pois permite maior
liberdade de escolha de como melhor aproveitar o tempo. Para o autor, graças ao crescimento, é
possível escolher entre ter mais tempo para o lazer ou mais bens e serviços.
Por exemplo, nas comunidades mais pobres, 60% ou 70% dos indivíduos
precisam trabalhar na agricultura para que não falte alimento, ao passo
que, nos países ricos, 12% a 15% são suficientes para atender a um
padrão muito melhor. Ainda as nações mais ricas dispõem de profissionais
de saúde, educação, cultura, o que é um luxo nos países mais pobres. O
crescimento econômico é um aliado do desenvolvimento. Entretanto, para
o autor, o excessivo materialismo e o individualismo podem resultar no
aumento da desigualdade das possibilidades de escolha entre os
indivíduos; no entanto, essa desigualdade pode ser coibida com ações
institucionais de interesse da coletividade (VIEIRA; SANTOS, 2012, p.
353).
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Para Simonsen (1973), o desenvolvimento econômico somente seria alcançado com uma
participação mais efetiva do Estado na atividade econômica. Simonsen defendia o protecionismo
econômico, a existência de crédito barato e a substituição de importações.
De acordo com (VIEIRA; SANTOS, 2012), o autor era um economista da linha do
desenvolvimentismo do setor privado que representava a política dita de “desenvolvimento
econômico” defendida pelo setor empresarial nacional e associado a um planejamento global feito
pelo Estado.
Para essa corrente de pensamento, a intervenção deveria ocorrer em áreas com atuação
ineficiente do setor privado como eletrificação, siderurgia, petróleo e material bélico. Simonsen
defendia ainda a substituição de importações por meio de elevadas tarifas de importação dos
bens que poderiam ser produzidos no mercado interno.
Defensor da corrente nacionalista, mais ligado ao setor público, destaca-se a figura de
Celso Furtado. Para ele o desenvolvimento não é uma simples etapa histórica pela qual todos os
países deverão passar, mas o resultado das relações de trocas iniciadas na revolução industrial,
que resultou numa periferia subdesenvolvida e dependente.
A participação do Estado para Furtado (1961) na economia tinha como objetivo melhorar a
distribuição regional e setorial dos investimentos, promover melhor distribuição da renda, no
sentido de ampliar o mercado consumidor interno, controlar a entrada de capital estrangeiro no
país, reduzindo a dependência financeira externa, e oferecer mais autonomia na execução das
políticas públicas.
Para Furtado (1967), o aumento do fluxo de renda por unidade d trabalho utilizada é o
melhor indicador de desenvolvimento, tal como os clássicos. O desenvolvimento para o autor está
ligado ao aumento da produtividade (renda per capita) determinado pelo crescimento econômico
com modificações estruturais. O aumento da produtividade do trabalho só é possível com melhor
utilização dos recursos, o que implica acumulação de capital, inovação tecnológica e realocação
dos recursos que acompanham o aumento do fluxo de renda condicionado pela composição da
procura, que é a expressão de valores da sociedade (VIEIRA; SANTOS, 2012).
De maneira geral, Furtado condiciona o processo de desenvolvimento econômico ao
aumento da produção e da produtividade acompanhado pela melhora da distribuição da renda,
que é importante para aumentar a demanda.
4. O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E A QUESTÃO REGIONAL
A atividade econômica refere-se ao abastecimento de bens e serviços necessários para
satisfazer às necessidades humanas, tanto individuais quanto coletivas. E a Economia Política, no
sentido mais amplo da palavra, é a ciência das leis que regem a produção e o intercâmbio dos
meios materiais da vida na sociedade humana. Produção e troca são duas funções distintas.
A produção pode desenvolver-se sem a troca, mas esta pressupõe,
sempre, necessariamente a produção, pelo próprio fato de que o que se
trocam são os produtos. Cada uma destas funções sociais sofre a
influência de um grande número de fenômenos exteriores, sendo que essa
influência é subordinada, em grande parte, a leis próprias e específicas
(ENGELS, 1979, p. 127).
Há grande dificuldade na conceituação da região, pois, além dos espaços físicos,
ambientais, culturais, econômicos e políticos, para se identificar uma região é preciso conhecer
sua história. O estudo do espaço está presente nos mais diversos ramos do conhecimento
científico e apresenta características próprias em cada um deles.
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Há por exemplo, dois extremos do estudo do espaço: os matemáticos, que constituem
conjuntos de relações definidas por coordenadas abstratas, e os geógrafos, com uma concepção
concreta de espaço definido por clima e relevo (VIEIRA; SANTOS, 2012).
Pensar o espaço regionalizado em uma perspectiva histórica significa discutir os seus usos
e a partir de contribuições, não somente da História, mas também das várias ciências sociais, com
destaque para a Geografia e a Economia:
As condições sob as quais os homens produzem e trocam o que foi
produzido variam muito para cada país e, dentro de cada país, de geração
para geração. Por isso, a Economia Política não pode ser a mesma para
todos os países nem para todas as épocas históricas. Desde o arco e a
flecha, passando pelo machado de pedra do selvagem, com os seus atos
de troca, raríssima e excepcional, até a máquina a vapor de mil cavalos de
força, os teares mecânicos, as estradas de ferro e o Banco de Inglaterra,
existe um verdadeiro abismo. Os habitantes da Terra do Fogo não
conhecem a produção em grande escala, assim como não conhecem o
comércio mundial, nem tampouco as letras de câmbio que circulam a
descoberto e os inesperados craques de bolsa (ENGELS, 1979, p. 127).
As pessoas vivem, residem e trabalham em lugares específicos, porém suas atribuições e
vivências são experimentadas em lugares múltiplos, mediante as possibilidades constituídas com
as redes de informações.
A região é uma produção cultural, é uma criação histórica e, neste sentido,
é o espaço irredutível da liberdade e da criatividade com base num
estoque de recursos dados pela natureza: aqui a pedra e a montanha, lá o
mar e a floresta, mais além os desertos, as imensidões (CUNHA, SIMÕES
& PAULA, 2005, p. 6).
Para os autores, a região é uma construção territorial, não sociológica. O que ocorre são
relações sociais em um determinado espaço. Uma das alternativas encontradas foi o de usar o
termo regionalismo como uma forma de subordinar o espacial ao social, entretanto isso não
significa região.
O desenvolvimento econômico, seguindo os modelos de desenvolvimento propostos nas
obras dos economistas clássicos, seria alcançado com a elevação da produção interna, como
resultado das substituições de importação e provocaria efeitos positivos na cadeia produtiva
(VIEIRA; SANTOS, 2012). Observa-se que esse efeito de encadeamento de consumo, produção e
renda explica o crescimento das atividades e a formação de polos de crescimento industrial no
Brasil durante o século XX.
A criação dos modelos de desenvolvimento regional buscou separar o espaço geográfico
natural do espaço econômico, criando um espaço discriminatório para poucos. Em escala global,
foram criados dois circuitos: o dos países desenvolvidos e o dos subdesenvolvidos.
As teorias dos polos de crescimento levam em consideração apenas os circuitos dos
países desenvolvidos, capazes de estimular o crescimento provocando desigualdades regionais –
as regiões mais ricas tendem a atrair mais investimentos, enquanto as regiões mais pobres
perdem investimentos (MYRDAL, 1965).
A teoria econômica contemporânea, que ampara as políticas públicas relacionadas ao
desenvolvimento econômico, está centrada no utilitarismo que impele os indivíduos a buscar a
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maximização de suas necessidades com o mínimo de esforço. Esse modelo de estrutura
econômica promove o crescimento, mas dificulta as ações de desenvolvimento.
O bem-estar dos indivíduos não depende exclusivamente da posse de bens materiais, mas
da acessibilidade aos meios que permitem o pleno desenvolvimento das potencialidades pessoais
e também da coletividade.
Na esfera regional as teorias de desenvolvimento econômico enfocavam
os investimentos e a tecnologia como fatores de crescimento e o
desenvolvimento. As políticas de desenvolvimento objetivavam promover a
atração de investimentos acompanhados de inserção tecnológica, para
aumentar a produtividade do trabalho e, consequentemente, a
competitividade regional, negligenciando fatores internos, culturais e
sociais que contribuem para a riqueza empresarial, mas, sobretudo, para a
riqueza humana em um determinado território (VIEIRA; SANTOS, 2012, p.
364).
Conforme os autores na concepção da economia clássica, os agentes econômicos,
empresas, estados e indivíduos baseiam suas decisões econômicas apenas nos benefícios
materiais. Diante do exposto, constata-se a necessidade de políticas de desenvolvimento, que
superem as questões econômicas, tendo como ponto de sustentação o social e o político dos
atores locais.
5. CONCLUSÃO
O conceito de desenvolvimento é muito mais abrangente que o conceito de crescimento
econômico. Enquanto este demonstra uma variação na taxa de crescimento do PIB, o primeiro
representa a melhoria das condições socioeconômicas dos indivíduos.
O desenvolvimento econômico regional inclui fatores relacionados ao campo da cultura e
esta é definida em âmbito institucional e social e caracteriza-se por contribuir para o
desenvolvimento regional de forma única em cada região.
Verifica-se ainda que a economia é uma ciência humana e não é através da aplicação de
modelos econométricos que o desenvolvimento econômico regional será alcançado, mas, com
ações que favoreçam as políticas endógenas (de dentro para fora – autossuficiente).
Repensar as questões conceituais do desenvolvimento econômico permite reflexões sobre
a busca de um novo modelo de desenvolvimento que associe o crescimento da produção com a
melhora na distribuição e utilização dos bens e serviços em um ritmo que contribua para a melhor
qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Paulo Roberto Siqueira. Economia Política na Universidade: Aspectos Jurídicos.
Rio de Janeiro: América Jurídica, 2005.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à
Filosofia. 2 ed. rev . atual. São Paulo: Moderna, 1993.
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CUNHA, A., SIMÕES R. & PAULA, J. A. Regionalização e História: Uma contribuição
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ISBN 978-85-62326-96-7
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O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO