EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO HUMANA: SEGUNDO UMA PERSPECTIVA SOCIOINTERACIONISTA Flaviane de Fátima LimaBueno, Mauro Lúcio Batista Cazarotti, Natal dos Santos Soares, Renata Flávia Nobre Canela Dias, Simária de Jesus Soares, Modalidade: Comunicação oral. Sessão Temática: Escola e seus sujeitos. Resumo: Este artigo aborda o conceito de autonomia de acordo com os postulados de Vygotsky que apontam para a necessidade de uma escola diferente, aberta ao diálogo e as dúvidas, aos erros e diferenças.Segundo Vygotsky, o desenvolvimento do indivíduo é resultado de um processo sócio-histórico e o professor é um dos mediadores que o aluno terá ao longo da vida. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica com uma abordagem qualitativae utilizando a análise de conteúdos dos textos, com aporte em Franco (2008) e Bardin (2009). O fundamento teórico o qual será embasado este trabalho é a teoria sociointeracionista de Vygotsky e seguidores. O desenvolvimento dessas funções psicológicas superiores acontece através da mediação, que é denominada Zona de Desenvolvimento Proximal. Este artigo visa levantar a questão sobre a complexidade do problema no processo de ensino-aprendizagem atualmente, no qual preocupados demasiadamente na transmissão de conhecimentos, estão deixando de lado um fator de relevada importância que é o desenvolvimento cognitivo do aluno. Palavras chaves:Concepção de aprendizagem, professor, mediador. 1. 2. 3. 4. Graduação em Pedagogia pela UEG, Especialista em Psicopedagogia pela UEG, Especialista em Educação Especial e atendimento educacional especializado pela UFU e Mestranda em Educação pela Uniube. Graduação em Administração pela Uniube, Especialista em Gerenciamento de Projetos pela Faculdades Integradas de Jacarepaguá no Rio de Janeiro, Especialista em Planejamento Educacional e Docência em Curso Superior pela Escola Aberta do Brasil e Mestrando em Educação pela Uniube. Graduação em Ciências Contábeis pela Faculdade Triângulo Mineiro (1988), Especialista em Contabilidade Análise e Gerenciamento, pela Escola Superior de Ciências Contábeis e Administrativas de Ituituaba, atual Faculdade Triângulo Mineiro - FTM, com Licenciatura Plena para Graduação de Professores da parte de formação especial do currículo do ensino de 2ª Grau, pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais Cefet/MG, Mestrando em Educação pela Uniube. Graduação em Pedagogia pela Unimontes, Graduação em Direito pelas Fip-Moc, Especialista em Docência no Ensino Superior pela Funorte, Especialista em Gestão Pedagógica pela UFMG, Especialista em EAD pela Unimontes, Especialista em Direito Penal e Processo Penal pelo Damásio de Jesus, Mestranda em Educação pela Uniube. 5. Graduação em Biologia - Licenciatura Plena pela Unimontes, graduação em Ciências - Licenciatura de 1º Grau pela Universidade Estadual de Montes Claros; Especialista em Gestão Pedagógica nas ETSUS - CEGEPE/UFMG, Especialista em Gestão e Docência em EaD - UFSC, Especialista (Lato Sensu) em Saneamento e Meio Ambiente – Unimontes. Mestranda em Educação pela Uniube. 1- INTRODUÇÃO Atualmente as escolas vêm trabalhando com vários temas novos e de destaque, e mesmo com esse interesse na qualidade de ensino, o desenvolvimento cognitivo não vem sendo devidamente explorado de forma mais abrangente, que seria o ideal para que fosse transformado o conhecimento cotidiano em conhecimento científico. Os professores ainda continuam seguindo um modelo tradicional adotado por professores em cima de suas experiências como alunos. Ao se confrontar com essa realidade, o educando preocupa-se exclusivamente com a nota, não considerando a aquisição real do conhecimento, tornando-se um instrumento de exclusão social, pois devido à excessiva importância dada ao produto final da aprendizagem, o professor não consegue exercitar a sua principal tarefa que é identificar o real conhecimento do aluno e identificar as possíveis falhas a fim de serem corrigidas.Este modelo de ensino, amplamente difundido tem se tornado um instrumento de exclusão, pois ao se preocupar mais com o produto final da aprendizagem, o professor não exercita o seu papel da forma mais adequada, reforçando as deficiências por enfatizar mais a dimensão quantitativa, relegando a qualidade da aprendizagem ao segundo plano.A criança quando chega à escola é um indivíduo que já traz uma bagagem, que sabe coisas, faz partede um grupo sócio-cultural determinado, que lhe oferece material cultural o qual vai utilizar na sua vida cotidiana – desde os objetos concretos até os conceitos – bem como os modos de operação sobre esse material.O aluno é um individuo absolutamente único, neste sentido é preciso compreender e melhorar a idéia de adotar um ensino que trabalhe com o aluno, não somente a aquisição de conhecimentos, mas também que tenha uma interação contínua entre professor aluno, onde o professor seja instrumento facilitador da aprendizagem, ajudando a desenvolver novos conceitos e internalizar novos conhecimentos transferindo-os do plano social para o individual e assim habilitá-lo a prosseguir no seu processo cognitivo.O propósito deste artigo é fazer um estudo teórico sobre a concepção de aprendizagem numa perspectiva sociointeracionista na tentativa de buscar alternativas aos professores que paralisaram a dinâmica de seu ensino e aos professores que continuam atrelados a uma proposta de ensino antiquada e sem muitos resultados positivos.Refletir e valorar as contribuições de Vygotsky que possam fundamentar o processo de ensino aprendizagem com uma perspectiva sociointeracionista capaz de fornecer medidas diretas do potencial da aprendizagem e desenvolvimento da criança. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica com uma abordagem qualitativae utilizando a análise de conteúdos dos textos, com aporte em Franco (2008) e Bardin (2009). O fundamento teórico o qual será embasado este trabalho é a teoria sociointeracionista de Vygotsky e seguidores. Trata-se de uma compreensão do desenvolvimento cognitivo como construção histórico-social. Além disso, a referida teoria possibilita o estudo da gênese das formações psicológicas do individuo durante a sua atividade vital, social, as relações entre atividade externa e interna e como uma se transforma em outra, a unidade do afetivo e do cognitivo, as relações que se estabelecem entre desenvolvimento e ensino e em especial o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal. 2- AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE APRENDIZAGEM Ateoria de Vygotsky se contrapôs aos conceitos de aprendizagem vigentes na sua época, ele acreditava que a aprendizagem não acontecia somente com a aquisição de conteúdos, ou o simples armazenamento de ideias na memória, mas sim um processo interno, ativo e interpessoal. Para compreender melhor o conceito de aprendizagem de Vygotsky, é necessário fazer um breve estudo sobre as concepções de aprendizagem em suas diferentes teorias, também conhecidas como correntes epistemológicas, para entender como o individuo aprende e se desenvolve. Apesar do professor não se perceber dentro destas correntes epistemológicas, toda prática educativa e inserida numa teoria do conhecimento. Tomando isto como ponto de partida, é necessário também discutir as diferentes concepções de aprendizagem que norteiam as práticas pedagógicas e seus resultados, considerando seus aspectos positivos e também contradições. A primeira corrente a ser analisada é a que diferentes teóricos chamam de “Ambientalismo ou Empirismo” segundo AgnelaGiusta(1985, p. 26): O conceito de aprendizagem emergiu das investigações empiristas em Psicologia, ou seja, deinvestigações levadas a termo com base no pressuposto de que todo conhecimento provém daexperiência. Isso significa afirmar o primado absoluto do objeto e considerar o sujeito como uma tábula rasa, uma cera mole, cujas impressões do mundo, formadas pelos órgãos dos sentidos, são associadas umas às outras, dando lugar ao conhecimento. O conhecimento é, portanto, uma cadeia de idéiasatomisticamente formada a partir do registro dos fatos e se reduz a uma simples cópia do real. Nesta concepção de aprendizagem, as características individuais são delimitadas por fatores externos ao indivíduo, surgindo então a definição de aprendizagem através da mudança de comportamento resultante de treino ou experiência. Nesse conceito a dissociação entre sujeito e conhecimento fica clara. O primeiro é a tábula rasa e aprendizagem é vista como condicionamento (GIUSTA,1985). Assim sendo, o processo de ensino aprendizagem é focado no professor, que organiza o que será ensinado aos alunos, sendo estes apenas receptores e armazenadores de informações na memória. O ensino é visto como fechado e acabado, tendo uma preocupação excessiva em organizar o ensino, com a ideia de que ensinando bem o aluno aprende melhor, portanto, todo conhecimento esta fora do aluno, tudo que ele precisa fazer é ficar em silêncio, quieto, prestar atenção, escrever, repetir, ler, etc. até aprender. Este conceito de aprendizagem é refutado por uma outra corrente psicológica que é a Gestalt, que surge na Alemanha no início do século com Kohler, Koffka e Wertheier. Conceito este que ressalta que todo conhecimento é precedente à experiência, sendo portanto resultado de estruturas racionais que já se encontravam pré-formadas no indivíduo. Esta corrente de aprendizagem trabalha com estruturas mentais organizadas, numa postura extremamente oposta ao behaviorismo (GIUSTA, 1985). O professor passa a ser auxiliar do estudante, um facilitador, visto que o aluno já vem com o conhecimento necessário, precisando somente trazer isto à consciência, organizar e se preciso acrescentar, sendo a intervenção mínima do professor, onde este acredita que o aluno aprende por si só, sendo seu papel auxiliar na aprendizagem. Esta concepção também é chamada de apriorista, termo derivado da expressão a priori que significa “daquilo que é posto antes”, neste caso, a bagagem genética. Assim, o individuo já nasce com o conhecimento já programado, fazendo com que o professor embasado nesta epistemologia, mesmo que inconscientemente, deixe de intervir no processo de ensino aprendizagem. De forma mais clara, é no nascimento que ficaria definido quem será inteligente ou não. Assim o professor espera que uns nasçam para aprender facilmente e outros para fracassar, e o fracasso seria só deles (DARSIE, 1999). Mostrando de certa forma uma perversidade maior que na epistemologia anterior, pois ela concebe o indivíduo como dotado de um saber de nascença e também o indivíduo desprovido dessa capacidade, já determinando quem será inteligente ou não. Como o fracasso escolar é mais comum entre as classes sociais mais pobres, isto seria visto como falta de bagagem genética adequada. Na primeira parte deste capítulo foram apresentadas as concepções de aprendizagem de teor mecanicista e idealista, é necessário também averiguar concepções que superem estas, nesta perspectiva é importante averiguar um grupo de pesquisas que são denominadas “psicologia genética” que tem muito a contribuir. Uma terceira concepção epistemológica que é o “interacionismo, construtivismo ou dialética”, trazendo autores como Piaget, Vygotsky e Wallon, Paulo Freire, etc. Eles têm em comum a ação do sujeito como cerne do processo de aprendizagem. A perspectiva epistemológica interacionista representada por Piaget é uma síntese do empirismo e racionalismo, colocando em dúvida a concepção de que o conhecimento já nasce com o indivíduo ou é conseguido através do meio social, construindo então a afirmação de que o conhecimento é uma interação entre o meio físico e social e essa construção depende tanto do indivíduo quanto do meio (DARSIE, 1999). A ideia central é de que o conhecimento não oriunda nem da experiência com os objetos nem é inato do indivíduo, apesar de em sua teoria encontrarmos referências a elementos inatos, porém de construção sucessiva com consonância com elaboração de estruturas novas, resultados da interação entre sujeito e objeto, em que um não se opõe ao outro, nem se sobrepõe, mas sim se solidarizam-se como um todo. Piaget discorda das concepções anteriores, embora ele negue que seus estudos seriam uma teoria de aprendizagem, classificando-a como teoria do desenvolvimento, admitindo seu uso para o entendimento do processo de ensino aprendizagem (GIUSTA, 1985). Nesta concepção de aprendizagem, o professor acredita que o aluno só construirá um conhecimento novo, problematizando sua ação e esse processo será conduzido através de reflexionamento e reflexão. A aprendizagem acontece através da construção por excelência ente ação e consciência das ações, não sendo exagerado o fator de relevância da bagagem hereditária como também o meio social. A teoria de Wallom apesar de ser pouco divulgada nos últimos anos, gerou uma importante contribuição à Psicologia, direcionada para a evolução psicológica da criança, o resultado desses estudos forneceu dados para que fosse compreendido o processo de conhecimento. Wallon busca na gênese do processo, de forma teorizar sobre a passagem do orgânico ao psíquico e mostrando caminhos que chegassem na análise dialética de teorias reducionistas que ora privilegiam o social, ora o orgânico no decorrer do desenvolvimento humano. Essa passagem é referente à síntese entre o individual e o social, para ele, um dos problemas cruciais da Psicologia, Wallon tenta explicar essa passagem através de quatro elementos que para ele estão profundamente interligados: emoção, motricidade, imitação e socius. A emoção tem um sentido inicial de comunhão com os outros indivíduos, permitindo a criança nascer para a vida psíquica, a princípio indistinta, porém depois vai desdobrando gradualmente dando inicio às estruturas da consciência. Sua primeira expressão é o movimento, a motricidade que para Wallon é o tecido comum que irá proceder às realizações da vida psíquica. Nessa primeira fase da criança há uma troca desta com os outros indivíduos, uma inteligência discursiva, o qual a manifestação inicial é a representação, sendo a imitação um elemento importante para superação de uma forma de inteligência pela outra. Ao analisar a origem do pensamento, entendida como inteligência discursiva, Wallon aborda a descrição psicológica de crianças com idade entre cinco e sete anos, já que as etapas anteriores já tinha sido estudadas de forma exaustivas por outros estudiosos. Nesta etapa ele descreve de forma privilegiada as dificuldades que estas crianças têm em explicitar seu pensamento, as contradições encontradas entre o instituído e a experiência, entre o formalismo e a fluidez dos dados buscados empiricamente, em si contraditórios e também a análise do real e a representação. Nas obras de Wallon, encontramos uma preocupação em analisar os processos, por acreditar que é através do confronto do indivíduo com a sociedade que é construída a inteligência. Jamais pude dissociar o biológico do social, não porque os creia redutíveis um ao outro, mas porque me parecem, no homem, tão estreitamente complementares desde o nascimento que é impossível encarar a vida psíquica de outro modo que não seja sob a forma de suas relações recíprocas. (WALLON, 1951 apud ZAZZO, 1978, p. 51). 3- A CONCEPÇÃO DE APRENDIZAGEM NA TEORIA VYGOTSKYANA Na concepção de Vygotsky, o homem é visto como sujeito que modifica e ao mesmo tempo é modificado nas relações inerentes em determinada cultura. O que acontece não é uma somatória de fatos adquiridos e inatos, mas sim uma interação que acontece desde o nascimento do indivíduo com o meio social e cultural no qual está inserido. Assim, podemos perceber que para Vygotsky o desenvolvimento humano não compreende fatores isolados que vão amadurecendo, muito menos de fatores ambientais, mas sim um resultado de trocas recíprocas que são estabelecidas durante toda vida envolvendo indivíduo e meio. Vygotsky (1982) não se opõe a existência de diferenças de aprendizagem entre os indivíduos, fazendo com que uns tenham mais predisposição e se destaquem em atividades em detrimento a outros, em razão de fatores físicos ou genéticos, porém ele não concebe essa diferença como determinante para o processo de aprendizagem. Ele refuga estes modelos baseados em ideias inatistas que tomam características comportamentais universais como aquelas que o desenvolvimento por faixa etária do indivíduo esta atrelado a sua estrutura biológica e conjuntura biológica. Ele não concorda também da concepção ambientalista, segundo ele, o indivíduo não é produto do determinismo cultural, não sendo portanto um receptáculo vazio e passivo que só responde frente às pressões externas do meio, mas sim aquele indivíduo que organiza suas atividades em sua interação com o meio, capaz até de renovar a própria cultura. Se Vygotsky entende que o homem é produto do meio, qual seria a discordância entre sua concepção e o empirismo? Segundo Vygotsky (1982), o sujeito é ativo, agindo sobre o meio, não havendo “natureza humana” ou “essência humana”, primeiramente somos sociais, posteriormente indivíduos. De acordo com Teresa Cristina Rego (2002, p. 98), ao descrever a teoria de Vygotsky: Em síntese, nessa abordagem, o sujeito produtor de conhecimento não é um mero receptáculo que absorve e contempla o real nem o portador de verdades oriundas de um plano ideal; pelo contrário, é um sujeito ativo que em sua relação com o mundo, com seu objeto de estudo, reconstrói (no seu pensamento) este mundo. O conhecimento envolve sempre um fazer, um atuar do homem. Segundo a teoria histórico-cultural os processos de desenvolvimento são impelidos pelo aprendizado visto que Vygotsky concebeu a instrução antecede ao desenvolvimento. Afirmando que o ensino adequado é aquele que se antecede ao desenvolvimento, assim sendo, se dirige as funções psicológicas que estão em vias de se completarem (REGO, 2002). Daí pode-se concluir que há na teoria de Vygotsky uma dimensão prospectiva do desenvolvimento psicológico. Embora se admita que os processos de desenvolvimento se façam presentes no indivíduo é necessário recorrer à intervenção e a contribuição de sujeitos mais experientes para que os mesmos sejam consolidados. Vygotsky entende como funções psicológicas superiores, memória voluntária, a capacidade de planejamento, imaginação, etc. Esta classificação acontece devido ao fato destes processos mentais se aludirem aos mecanismos intencionais, ações conscientemente controladas, processos voluntários que dão ao sujeito possibilidade de independência em relação às características do momento e espaços presentes. (REGO, 2002, p.37). Ressalta também que estes processos não são inatos, eles se iniciam nas relações (interações) entre indivíduos humanos e se desenvolvem ao longo do processo de internalização de formas culturais de comportamento. (REGO, 2002, p.39). As contribuições da teoria histórico-cultural para a educação somente podem ser entendidas à luz da concepção que se tem do homem e de como ocorre seu desenvolvimento e aprendizagem, tornando-se referencial para que todos os envolvidos com o processo ensinoaprendizagem disponham de um modelo psicológico do homem capaz de orientar as atividades de ensino. Ao contrário das escolas psicológicas de sua época, Vygotsky propõe o rompimento que há entre cognitivo e o afetivo, assim reconhece o caráter integral do psiquismo humano. Em outras palavras pode se dizer que em qualquer situação de aprendizagem estarão envolvidos os aspectos cognitivos do aprendiz bem como os aspectos afetivos. A originalidade da psicologia vygotskyana reside no fato de que os processos cognitivos são resultados das interações sociais e culturais e de que todas as funções psicológicas superiores do homem têm sua origem no social. Vygotsky põe em destaque o papel do professor mediador na direção do desenvolvimento da criança por meio das contínuas interações que acontecerá entre ambos. Além disso, na teoria vygotskyana não há espaço para o ensino puramente verbalista e muito menos para ensinar conceitos que já foram internalizados pela criança. Diferente de Piaget (Vygotsky: 1998:11 a 29) que acentua a maturação biológica, mediante a interação do organismo do sujeito com o ambiente que o cerca, Vygotsky destaca a importância do sujeito e a sua interação com o seu contexto histórico-cultural e social, ampliando assim o papel do professor. O conceito de zona de desenvolvimento proximal, que é a distância real de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver sozinho seus problemas e o nível de desenvolvimento potencial, que é a resolução de um problema com a orientação de um adulto ou alguém mais capaz, acentua a importância do trabalho do mesmo nas situações de ensino aprendizagem. Resumindo, a partir disso, vemos a importância de uma boa mediação no processo de ensino-aprendizagem. 4- CONSIDERAÇÕES FINAIS Falar sobre educação requer muita cautela, inclusive alguns assuntos que são motivos de críticas, principalmente por parte de quem está do lado de fora. Na teoria, enquanto os professores estão na faculdade, tudo é muito fácil e muito bonito, porém quando estes se deparam com a realidade das escolas, começam a surgir os primeiros problemas. Cada escola possui uma realidade diferente e características únicas. Então começam os problemas, o que fazer se a escola não fornece ajuda necessária, se as salas numerosas não oferecem oportunidades suficientes de trabalhar as dificuldades individuais e o mais complicado, a indisciplina. Seria muita pretensão afirmar que em Vygotsky se encontraria a solução tão esperada por todos os professores, mas sim refletir e valorar as contribuições de Vygotsky que possam fundamentar o processo de ensino aprendizagem com uma perspectiva sociointeracionista capaz de fornecer medidas diretas do potencial da aprendizagem e desenvolvimento da criança. “O conceito de zona de desenvolvimento proximal é de extrema importância para as pesquisas do desenvolvimento infantil e para o plano educacional, justamente porque permite a compreensão da dinâmica interna do desenvolvimento individual”. (REGO, 2002, p.74). Diversas formas de aprendizagem são experimentadas pelo aluno em sua vida escolar. A escola é uma grande fonte de experiências de socialização, de convívio com as diferenças, em todos os níveis. …o ensino direto de conceitos é impossível e infrutífero. Um professor que tenta fazer isso geralmente não obtém qualquer resultado, exceto o verbalismo vazio, uma repetição de palavras pela criança, semelhante a de um papagaio, que simula um conhecimento dos conceitos correspondentes, mas que na realidade oculta um vácuo. (VYGOTSKY, 1998, p.72). É preciso que toda a escola e professores atentem que não têm como único objetivo ensinar aquilo que o aluno tem capacidade de aprender por si mesmo e sim potencializar o processo de aprendizagem do estudante. Uma das principais funções da escola é fazer com que os conceitos que as crianças adquirem na convivência social: conceitos espontâneos e individuais evoluam para conceitos: científicos, sistemáticos e formais que se adquirem através do ensino formal. Aí sim, estará completo o papel mediador do docente. Podemos considerar como “professor vygotskyano”, segundo FREITAS (2000), seria aquele que possuindo mais experiência que seu aluno, faria a intervenção através da mediação do conhecimento. Ele deve estar sempre atento em seu trabalho pedagógico em criar Zonas de Desenvolvimento Proximal (ZDP’s), possibilidades de aprendizagem, ou seja, atuando através da intervenção, ajudando seu aluno de forma que ele utilize o conhecimento que ele já possui paralelamente ao novo que esta sendo apresentado. Na Zona de Desenvolvimento Proximal o professor atua de maneira explícita, interferindo, interagindo e mediando o processo de aprendizagem e desenvolvimento de seus alunos, de forma a alcançar os objetivos programados como também superá-los, alcançando avanços que não aconteceriam de forma espontânea. Assim, a concepção de aprendizagem de Vygotsky contribuiria no resgate da importância da escola como também do papel do professor, como sendo agente indispensável no processo de ensino aprendizagem. O professor interfere e contribui no processo de ensino aprendizagem, transmitindo o conhecimento adquirido historicamente pelo homem. É com esse sentido que a teoria de Vygotsky sobre Educação tem muito a contribuir na atuação do professor neste processo tão importante. REFERÊNCIAS BARDIN, L. Análise de conteúdo. Tradução de L. de A. Rego; A. Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 2006. DARSIE, M. M. P. 1999. Perspectivas Epistemológicas e suas Implicações no Processo de Ensino e de Aprendizagem. Cuiabá, Uniciências, v3: 9-21. FRANCO, Maria Laura P. B. Análise de Conteúdo. 3 ed. Brasília: Liber livro editora, 2008. FREITAS, M. T. de A. 2000. As apropriações do pensamento de Vygotsky no Brasil: um tema em debate. In: Psicologia da Educação. Revista do Programa de Estudos PósGraduados em Psicologia da Educação. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, n.10/11: 9-28. GIUSTA, A. da S. 1985. Concepções de Aprendizagem e Práticas Pedagógicas. In: Educ.Rev. Belo Horizonte, v.1: 24-31. REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 14 ed. Petrópolis: Vozes, 2002. VYGOTSKY, L.S. 1982. Obras Escogidas: problemas de psicologia geral. Gráficas Rogar. Fuenlabrada. Madrid, 387 p. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. ZAZZO, R. Psicologia e Marxismo. Lisboa: Vega, 1978.