PPGEDU+PGIE/UFRGS
EDP-53 – Seminário Avançado
LIMITES E POSSIBILIDADES LÓGICOS DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Prof. Fernando Becker
Subjetividade
S
O
C
C’
P
Ação
Objetividade
Piaget. Prise de conscience. 1974.
Conclusões gerais [Diagrama
modificado e recriado]
O mito da origem sensorial dos
conhecimentos científicos*
Hipótese: “Nossos conhecimentos não provêm nem
da sensação, nem da percepção somente, mas da
ação inteira, cuja percepção constitui apenas
função de sinalização” (p.73).
“Não se conhece, realmente, um objeto senão
agindo sobre ele ou transformando-o [...]. E são
duas maneiras de transformar assim o objeto a
conhecer” (p.73): EXPERIÊNCIA:
(a) FÍSICA: agir sobre os objetos e retirar deles
qualidade que lhes são próprias; modificar as
posições, os movimentos ou as propriedades dos
objetos para explorar-lhes a natureza...
*[PIAGET, Jean. Psicologia e epistemologia genética. Rio de Janeiro, São
Paulo: Forense, 1973. Cap. 4]
O mito da origem sensorial dos
conhecimentos científicos (2)
 (b) LÓGICO-MATEMÁTICA: agir sobre os objetos e retirar,
não mais deles mas da ação e da coordenação das ações
qualidades que lhes são próprias. Ou, “enriquecer o objeto
de propriedades ou relações novas, que conservam as
propriedades ou relações anteriores, mas completando-as
por sistemas de classificações, de ordenações, de
colocações em correspondência, de enumerações ou
medidas, etc.[...]” (p.73).
 “São então essas duas espécies de ações e não apenas as
percepções que lhes servem de sinalização, que constituem
as fontes de nossos conhecimentos científicos” (p.73).
 “O importante para o conhecimento é o esquema das
ações; isso é, o que nelas é geral e se pode transpor de
uma situação a outra. Portanto, o esquema não é tirado da
percepção [...]. É o resultado direto da generalização das
próprias ações e não de sua percepção e não é, como tal,
perceptível” (p.74).
O mito da origem sensorial dos
conhecimentos científicos (3)
 - Nossos conhecimentos experimentais têm origem sensorial?
- “O vício fundamental dessa interpretação empirista é de
esquecer a atividade do sujeito” (p.93).
 A história inteira da Física nos mostra que “o progresso dos
conhecimentos é obra de uma união indissociável entre a
experiência e a dedução: o que equivale a dizer, de uma
colaboração necessária entre os dados oferecidos pelo objeto
e as ações ou operações que constituem, elas próprias, o
quadro lógico-matemático, fora do qual o sujeito jamais chega
a assimilar intelectualmente os objetos” (p.93).
 “Em cada uma de suas manifestações, o conhecimento
científico reflete assim a inteligência humana que, por sua
natureza operatória, procede da ação inteira e é mutilar o
caráter da construção indefinidamente fecundo que este
conhecimento, inteligência e ação apresentam, querer reduzir
a primeira ao papel passivo de simples registro, com o qual
deverá contentar-se, na hipótese de sua origem sensorial”
(p.93).
Coordenação dos primeiros esquemas
Agarrar
Sugar
Olhar
Grupo de deslocamentos
B
C
A
D
Grupo de Deslocamentos
“Quem diz ‘grupos’ de deslocamentos diz... ordenação de
movimentos no tempo e quem diz ‘permanência’ de objetos
subentende necessariamente conexão causal entre os eventos...”
(J.R., 192).
“É determinado pelas condutas de: (1) retorno (ou operação
inversa), (2) conservação do ponto inicial (ou operação idêntica) e
(3) desvio (ou operação associativa) (E.E.G. I, p.45-46).
“... O grupo sensório-motor de deslocamentos... É um
agrupamento apenas do ponto de vista prático: coordenação
motora dos meios e dos objetivos em função do ponto de chegada,
e não coordenação dos deslocamentos representativos” (M.V,
p.265-266).
Período Intuitivo
Forma de raciocínio: transdução
Stern designou como transdução os raciocínios primitivos que não
procedem por dedução nem por indução.
A transdução pura é uma ‘experiência mental’ primitiva, isto é, uma
simples imaginação ou imitação da realidade tal como é percebida,
isto é, irreversível.” (J.R., 155)
“... a transdução pode ser definida como uma combinação de
relações tecidas entre as coisas e o organismo pela própria ação
(pelos movimentos do organismo) mas sem que esta ação seja
consciente de seus próprios processos, sem, conseqüentemente, que
o pensamento tenha chegado à tomada de consciência de sua
existência.” (J.R., 159)
Agrupamento
(“uma seqüência de elementos encaixados como uma classificação”)
Consiste em:
C’
D
B’
C
A’
B
a) Uma operação direta:
A+A’ = B
b) Uma operação
inversa: B-A’ = A
c) Uma operação da
identidade:
d) A+0 = A
A
A+A = A
d) Identidades especiais:
A-A = 0
-A-A = -A
Ação
A+B = B
Agrupamento
“Realmente, as únicas operações lógicas de que a criança é capaz,
ao nível do pensamento concreto, consistem de ‘agrupamentos
elementares‘ de classes e de relações, fundados, alguns sobre uma
forma inicial de reversibilidade, que poderíamos denominar
inversão (negação), e os outros sobre uma segunda forma de
reversibilidade que é a reciprocidade.
“Mas não existe, ao nível das operações concretas de classes e
relações, uma estrutura de conjunto geral que integre, num único
sistema, as transformações por inversão e as transformações por
reciprocidade. O grupo das quatro transformações, característica da
lógica de proposições do adolescente (inversão, reciprocidade,
inversão da reciprocidade ou reciprocação do inverso, transformação
Agrupamento
idêntica) mostra, ao contrário, como as duas formas da
reversibilidade operatória acabam por coordenar-se num sistema
único, enquanto que a combinação própria dos reticulados
proposicionais se constitui graças a uma generalização da
classificação”.
“Em outros termos, a estrutura dupla que caracteriza o pensamento
formal aparece claramente como o produto de coordenações que
atingem um nível de equilíbrio final (a que não exclui, de forma
alguma, as novas integrações e superações contínuas, características
do pensamento adulto); é por isso que a análise dos mecanismos
formais é indispensável para a obtenção de uma teoria operatória da
inteligência que se propôs interpretar passo a passo as construções
sucessivas e hierárquicas do pensmento em seu desenvolvimento”
(Prefácio, LCLA).
Encaixes em compreensão e extensão (formal)
C’
Consiste em:
B’
a) Uma operação direta:
A+A’ = B;
A’
D
B+B’ = C
Etc.
C B
A
a) Uma operação
inversa:
B-A’ = A ou
B-A = A’
C-B’ = B ou
Ação interiorizada
Operação
C-B = B’
Etc.
Grupo INRC
p.q
N
C
R
~p.~q
~pv~q
R
pvq
N
a) RC = N, RN = C, CN = R e todos os pares são comutativos: RC = CR, etc.R
b) C = N = R = I
c) RNC = I
Inferência
“... Há sempre inferência nas ações de um sujeito, quando, em
presença de elementos dados fisicamente, o sujeito apela a elementos
não fisicamente presentes para tirar desta junção, entre os elementos
fisicamente dados e os elementos não presentes fisicamente, um
conhecimento que não poderia ser obtido só por meio dos
primeiros?” (E.E.G. VI, p.82).
“Falaremos... de inferências ‘propriamente ditas’ quando, em
presença de elementos a, o sujeito possui um conhecimento claro dos
elementos a, b, c, etc., quando é capaz de dissociá-los por abstração
no seio de um contexto mais amplo e quando o modo de
composição, que comporta regras que se impõem de modo
necessário ao conhecimento do sujeito” (E.E.G. VI, p.87).
Lógica
“... a lógica é uma teoria formal das operações do pensamento (T.L. 11).
“A lógica é a axiomática das estruturas operatórias cujo funcionamento
real estudam a psicologia e a sociologia do pensamento.” (T. L. 16).
“A lógica é uma axiomática da razão da qual a psicologia da
inteligência é a ciência experimental correspondente.” (P.I. 37).
“A lógica é o espelho do pensamento e não o inverso.” (P.I. 37).
“A lógica não é co-extensiva à inteligência mas consiste no conjunto
das regras de controle que usa a inteligência para se dirigir ela
mesma.” (J.M. 323).
“A lógica formal ou logística constitui simplesmente a axiomática dos
estados de equilíbrio do pensamento.” (P.I. 7).
Lógica
“... a lógica é uma moral do pensamento, como a moral uma lógica da
ação”. (J.M. 322).
“As estruturas lógico-matemáticas [são] nascidas da coordenação das
ações...” (E.G. II 16).
“O universo lógico constitui o domínio do possível...” (E.G. I 35).
“... existe uma lógica da ação, que caracteriza as coordenações
inteligentes desta a partir do nível pré-verbal e que se prolonga ao nível
verbal efetuando então uma união progressiva com a lógica desenvolvida
secundariamente pela conduta da linguagem como comunicação.”
(E.E.G. I 35).
“A esquematização logística [do agrupamento] fornece as regras da
lógica das totalidades.” (P.I. 53).
Lógica
A lógica das operações concretas incide sobre os objetos e não ainda
sobre as proposições e não apresenta ainda uma dissociação completa
entre a forma e o conteúdo. (E.E.G. 127).
A lógica das operações formais ou proposicionais com um tipo de
raciocínio hipotético-dedutivo baseado nas operações interproposicionais
(p implica q, etc.) (E.E.G. I 28).
“O próprio da lógica das proposições... [é] ser uma lógica verbal: é antes
de tudo uma lógica de todas as combinações possíveis do pensamento,
surjam estas combinações a propósito de problemas experimentais ou a
propósito de questões puramente verbais.” (L.E.A.[LCLA] 222).
“... as operações interproposicionais incidem sobre os enunciados cujo
conteúdo intraproposicional consiste em operações de classes e de
relações.” .” (L.E.A. 223).
A lógica é a organização das ações, sejam elas
práticas ou de pensamento - operações.
Objetivo do livro LCLA
Descrição de diferentes passagens da lógica
da criança à do adolescente e
Descrição das estruturas formais que
assinalam a realização do desenvolvimento
operatório da inteligência
Bibliografia
Ensaio de lógica operatória. 1949.
Da lógica da criança à lógica do adolescente. 1955 (com Inhelder).
Gênese das estruturas lógicas elementares. 1959 (com Inhelder).
Lógica e conhecimento científico. 1967.
O Cérebro em Transformação
Suzana Herculano-Houzel
Editora Objetiva, Rio de Janeiro
POR QUE OS ADOLESCENTES SENTEM TÉDIO
SE TRANCAM NO QUARTO
SE APAIXONAM LOUCAMENTE
QUEREM DISTÂNCIA DOS PAIS ANDAM EM BANDOS
FICAM HORAS EM FRENTE AO ESPELHO
MUDAM FURIOSAMENTE DE OPINIÃO
SÃO INCONSEQÜENTES GOSTAM DE CORRER RISCOS
SEMPRE SE ESQUECEM DE LIGAR PARA CASA
E POR QUE É BOM SER ASSIM.
Propostas do livro,
nas palavras da autora
 Apresentar diretamente aos interessados a época
em que o cérebro infantil vira adulto;
 Propor que, muito mais que hormônios, são as
alterações no cérebro em amadurecimento que
estão na origem dessas grandes mudanças;
 Fornecer elementos aos jovens para que eles se
entendam melhor, sem julgamento de valor;
 Ajudar os pais a lidar com seus filhos nessa fase;
 Encorajar os jovens a tirar partido do
conhecimento sobre o próprio cérebro para levar
a adolescência com mais tranqüilidade.
(p.11)
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