Glomerulonefrite difusa aguda Pediatria – ESCS Apresentação: Lorrainy Rabelo e Luan Diego Coordenação: Dra. Luciana Sugai Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)/SES/DF www.paulomargotto.com.br Admissão: 23/03/2013 Identificação: WJC, 10 anos, sexo masculino, 22kg, procedente de Unaí (zona rural). Queixa Principal: “Urina escura + edema há 1 semana” HDA Mãe relata inicio de urina escura “cor de coca-cola” há 1 semana acompanhado de edema peri-orbitário bilateral + distensão abdominal. Relata 1 episódio febril no início do quadro porém não aferiu a temperatura. Afirma que há 30 dias percebeu várias lesões em pele nos MMSS e MMII com regressão espontânea. Procurou atendimento em Unaí, ocasião em que foram solicitados exames laboratoriais e de onde foi encaminhada para o HMIB com relato de hipertensão e em uso de Furosemida 20 mg de 12/12h.. Antecedentes Pessoais e Patológicos: Nascido de parto normal AIG, sem intercorrências Nega internações anteriores. Relata Cirurgia de hérnia inguinal aos 5 anos Nega alergias Cartão vacinal atualizado Exame físico na admissão no PS do HMIB: BEG, hipocorado 2+/4, hidratado, eupneico, acianótico, afebril, orientado. PA= 105x63 mmHg ( Sistólica entre percentil 50 e 75 . Diastólica percentil 50) Leve edema Periorbitário bilateral ACV: RCR 2T BNF sem sopros FC 100bpm AR: MV presente sem RA. FR 26 irpm ABD: Normotenso. Nega dor à palpação. Ausência de VMG.RHA +. Não há edema em MMII Ausência de sinais meníngeos. Conduta: Hemograma Eletrólitos Função Renal EAS Proteínas Totais e Frações RX de tórax ASLO, C3 E C4 Exames de 19/03 (Unaí): Hb: 10, leucograma normal Uréia: 21, creatinina: 0.63 Albumina: 3,64 Colesterol: 162 EPF: larvas de Strongyloides stercoralis EAS: hematúria e piúria. Hipóteses Diagnósticas Síndrome Nefrítica Síndrome Nefrótica Conduta: Dieta hipossódica Furosemida 2mg/Kg/dia Albendazol Penicilina Benzatina 1 dose Controle PA e peso Evolução CONTROLES/EVOLUÇÃO DATA 23/03 24/03 25/03 26/03 27/03 28/03 29/03 PA 107x70 99X65 64X41 62X45 71X45 98X49 95X56 2,1 ML/KG/ H 20 >2 ML/KG/ H 20 >3 ML/KG/ H 20 DIURESE --------- --------- PESO 22,5 22,5 ---------- 1,8 ML/KG/ H 20 20 Condições de alta: Paciente evoluiu bem, com boa resposta ao tratamento instituído, sem sinais ou sintomas de IRA, retenção hídrica ou febre. Recebeu alta dia 29/03/2013 em boas condições clínicas, sem uso de medicação, apenas com dieta hipossódica e retorno ambulatorial marcado. Síndrome Nefrítica e Nefrótica Glomerulonefrite Difusa Aguda (GNDA) e Doença de Lesão Mínima Causas de Síndrome Nefrítica Glomerulonefrite Difusa Aguda pós estreptocócica Conceito Processo inflamatório de origem imunológica que acomete todos os glomérulos Sequela tardia, não supurativa, de uma estreptococcia Epidemiologia Pico de incidência aos 7 anos ◦ 5% em <2 anos; ◦ 5 a 10% em adultos. 2:1 meninos:meninas 20% portadores assintomáticos do estreptococo. Etiologia Causada pelas cepas nefritogênicas do Streptococcus Pyogenes: Piodermite: M tipos 2, 42, 49, 56, 60 Faringoamigdalite: M tipos 1, 4, 12, 25 Risco de aproximadamente 15% Intervalo entre a infecção e a nefrite: 7 a 21 dias se faringoamigdalite 15 a 28 dias se piodermite Patogenia Mediada por imunocomplexos Mecanismos propostos ◦ Deposição glomerular de imunocomplexos (antígeno estreptocócico – anticorpo) ◦ Mecanismo auto-imune Reação cruzada com antígeno glomerular renal ◦ Complexos terminais do complemento → produção de interleucina → injúria glomerular e proliferação mesangial Patogenia Antígenos estreptocócicos (complexos imunológicos): ◦ Exotoxina cisteína - proteinase catiônica B (SPE-B) ◦ Receptor de plasmina Localizados nos glomérulos Ac sérico associado às infecções nefritogênicas estreptocócicas Patogenia Imunocomplexos formados in situ ↓ Deposição no lado subendotelial da parede capilar ↓ Ativação do sistema complemento ↓ Ativação de neutrófilos ↓ Proteases / Substâncias oxidantes ↓ Alteração da MBG (proteinúria) ↓ Imunocomplexos para o lado epitelial ↓ HUMPS Fisiopatologia Processo inflamatório ↓ ↓lúmen dos capilares glomerulares ↓ ↓área filtrante ↓ ↓TFG ↓ ↓pressão hidrostática nos capilares glomerulares ↓ Retenção de Na e água ↓ ↑volemia ↓ HAS e edema Fisiopatologia Lesões nos capilares glomerulares ↓ Hemácias para o espaço de Bowman ↓ Hematúria Reação inflamatória ↓ Alteração na permeabilidade da membrana ↓ Proteinúria (<3g/24hs) Manifestações Clínicas Edema ◦ Leve, frio, mole, gravitacional ◦ Região periorbital e no período matutino ◦ Membros inferiores, região lombar e genitália HAS ◦ 90% dos casos Hematúria ◦ Macroscópica 50% dos casos Tonalidade acastanhada ◦ Microscópica 100% dos casos, aproximadamente Manifestações clínicas Proteinúria ◦ Entre 0,15 a 3,5g/dia (faixa nefrítica) ◦ 73% apresentam proteinúria nefrítica ◦ 3% proteinúria nefrótica ◦ 24% não apresentam proteinúria (Berrios et al, 2004) Oligúria ou anúria transitórias ◦ 25% dos casos Complicações Congestão cardiocirculatória (12%) Encefalopatia hipertensiva (4%) Cefaléia, vômitos, pertubações visuais, diplopia, amaurose transitória, convulsão IRA (1%) Diagnóstico Verificar histórico de faringoamigdalite ou piodermite; Verificar se o período de incubação é compatível Documentar a infecção estreptocócica através do laboratório; Demonstrar uma queda transitória típica de complemento. Diagnóstico História e exame físico EAS ◦ Hemácias dismórficas ◦ Cilindros hemáticos, granulosos, hialinos, leucocitários ◦ Osmolaridade elevada ◦ Proteinúria positiva Função renal ◦ Uréia e creatinina podem estar elevadas Hemograma ◦ Anemia por expansão do volume ◦ Plaquetopenia transitória (↓meia vida) Diagnóstico ASLO¹, anti-hialuronidase, anti DNAse (Streptozyme test) ◦ Infecções cutâneas – anti DNAse (sens 60 a 70%) ◦ Infecções de orofaringe – ASLO (sens 80 a 90%) e anti DNAse (sens 75%) Complemento ↓ em 90% ◦ C3, C5, properdina Hipergamaglobulinemia (90%) Fator reumatóide (50%) ¹ Na piodermite é positiva apenas em 50% dos casos. Tratamento Erradicação da estreptocócia ◦ Penicilina benzatina ou Eritromicina para evitar disseminação das cepas em infecções agudas. (Bhimma, 2010). Restrição de sódio ◦ Na fase oligúrica, durante edema e hipertensão HAS/Complicações: Furosemida Restrição de K ◦ Oligúria importante Restrição hídrica ◦ 20ml/Kg/dia + perdas Bhimma R, Malvinder S. Acute Poststreptococcal Glomerulonephritis :Treatment & Medication. NGC:005660, 2010. (Estudo Ottawa) Prognóstico 1 semana ◦ Normaliza PA ◦ ↑diurese ◦ ↓uréia e cratinina 2 a 3 semanas ◦ Resolve hematúria macroscópica 6 a 8 semanas ◦ Resolve hipocomplementenemia 3 a 6 meses ◦ Resolve proteinúria 1 ano ◦ Resolve hematúria microscópica Indicações de Biópsia Oligúria por mais de 1 semana; Hipocomplementemia que não melhora em 8 semanas; Proteinúria nefrótica ( >3,5g/dia) Evidencia Clínica de GNRP Síndrome Nefrótica Síndrome Nefrótica Síndrome clínica associada a achados laboratoriais caracterizada por: Edema Proteinúria Hipoalbuminemia Hiperlipidemia Essencialmente uma doença pediátrica; 15 vezes mais comum em criança que em adulto; Predomina no sexo masculino. Etiologia 85% dos casos são por Lesões Mínimas 5% nefrose por proliferação mesangial GESF em 5 % dos casos 8% por glomérulopatias membranosas, membranoproliferativas e outra mais raras Doença de Lesão Mínima Conhecida como: nefrose lipídica Etiologia: Desconhecida Perda seletiva de albumina É comum sua instalação após: Infecções do trato respiratório Manifestações atópicas Imunizações Uso de AINES Fisiopatologia Fator precipitante Linfócito T Citoquina Podócitos Inibiçao da Síntese de poliânios Alteração da Barreira da Carga Fusão dos podócitos Fisiopatologia Barreira de Carga Barreira de Tamanho (Lesões Mínimas) Proteinúria Hipoproteinemia Fisiopatologia Fisiopatologia Teoria do Underfilling (1) e Overfilling (2): PROTEINÚRIA 1 Sindrome Nefrótica 2 RETENÇÃO Primária de Na+ HIPOALBUMINEMIA Redução pressão oncótica no plasma e perda de líquido p 3° espaço Tendência Hipovolêmica ativando SRAA EDEMA OSMÓTICO PRESSÓRICO HIPOALBUMINEMIA TENDÊNCIA A HIPERVOLEMIA E DA PA Fisiopatologia Hipoproteinemia Diminui pressão oncótica Aumento da Síntese de Lipoproteína >>>LDL Hipertrigliceridemia ( redução do catabolismo do VLDL) Manifestações Clínicas Podem ocorrer em qualquer idade. É marcado por períodos de Atividade e Remissão Idade predominante: Tratado de Nefrologia: 1,5 a 2,5 anos Nelson : 2 a 6 anos Harrison: 6 a 8 anos. Quadro Clínico Gerais: Indisposição, desconforto abdominal, irritaçao e diarréia. Edema Oligúria Derrame Pleural Ascite Urina espumosa *Raros: Hipertensão e hematúria macroscópica Exames Laboratoriais Hemograma Completo ; Eletroforese de proteínas Uréia; sangue e urina; Imunoglobulinas séricas; Complemento total e frações; US renal. Creatinina; Eletrólitos; Perfil Lipídico; Proteinúria de 24h; Proteína sérica; Albumina sérica ; EAS; PPD; Tratamento Corticosteróide, ocorrendo remissão em até 80% dos casos e parcial em 10%. A reicidiva ocorre frequentemente entre 40 e 50%. Quando não existe resposta adequada ou reicidivas frequentes, pode-se utilizar imunomoduladores. Recidivas Crianças com infecção têm maiores riscos recaída Terapia corticóide prolongada quando comparada a terapia de menor duração tem mais chance de proporcionar benefícios: redução do risco e do tempo de recaída precoce.¹ ¹. Hodson, Craig. Evidence-based management of steroid-sensitive nephrotic Syndrom. Ped. Nephrol,2005. Bibliografia Riella M. C. ; Princípios de Nefrologia e Distúrbios Hidroeletrolíticos. 3a ed. Rio de Janeiro: guanabara Koogan, 1996. Behrman et al. – Nelson – Tratado de Pediatria. 17a ed. Rio de Janeiro: Elservier, 2005. Marcondes E. et. al. Pediatria Básica. 9a ed. São Paulo: Sarvier, 2002. Disponível em: <http://emedicine.medscape.com/article/244631> Acesso em 08/04/2013