PROPOSTA CURRICULAR - CBC CICLO DA ALFABETIZAÇÃO – ENSINO FUNDAMENTAL – CICLOS Decreto 43506/2003: ato do Governador do Estado que instituiu o ensino fundamental de nove anos de duração nas escolas da rede estadual de ensino de Minas Gerais, com matrícula a partir dos seis anos de idade. Res. N. 430/2003: ato da Secretária de Estado de Educação, onde define normas para a organização do ensino fundamental de nove anos de duração nas escolas da rede estadual de ensino de Minas Gerais. Res. SEE N. 469, de 22.12.2003 – dispõe sobre a organização e o funcionamento dos anos iniciais do ensino fundamental, com nove anos de duração, nas escolas estaduais de Minas Gerais e dá outras providências; Res. SEE n. 1086/2008, de 16-04-2008 (revoga a Res. SEE N. 469/2003): - Ensino Fundamental estruturado em 05 anos iniciais e 04 anos finais; - Anos iniciais – em 02 ciclos (Ciclo da Alfabetização e Ciclo Complementar); - Capacidades para cada ano de escolaridade (1º ao 5º anos); O Estado de Minas Gerais implantou o EF de nove anos; Dividiu esse ensino em 02 grandes ciclos de aprendizado: Ciclo da Alfabetização – duração de 03 anos – (crianças de 06, 07 e 08 anos) ; - Ciclo Complementar – duração de 02 anos (crianças de 09 e 10 anos); - Muitos educadores – professores, supervisores e diretores – se perguntando: - Como trabalhar com esse novo sistema? - Que atividades propor para os diferentes Ciclos? - Que habilidades ou capacidades deve-se buscar desenvolver em cada um desses momentos do EF? - Como trabalhar com as crianças de seis anos que passarão a ingressar no primeiro ano do Ciclo da Alfabetização? - No período de 02 a 05 de dezembro de 2003, foi realizado o Ensino Fundamental de Nove anos: Congresso Estadual de Alfabetização, organizado pela SEE, em parceria com o Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação – UFMG; - Neste Congresso, foram apresentados e discutidos, em sua versão preliminar, a Coleção denominada Orientações para o Ciclo Inicial de Alfabetização, constituída de 04 Cadernos: Caderno 1 – Ciclo de Alfabetização; Caderno 2 – Alfabetizando; Caderno 3 – Preparando a escola e a sala de aula; Caderno 4 – Acompanhando e Avaliando. Em 2005, foram escritos e apresentados outros 02 Cadernos: - Caderno 5 – Avaliação Diagnóstica: Alfabetização no Ciclo Inicial; Caderno 6 – Planejamento da Alfabetização. No Caderno 1 – apresentação e problematização dos fatores que justificam a reorganização do EF no Estado e a ênfase que nesse processo se dá à alfabetização; - Sobre o porquê e o para que da proposta de ciclos de alfabetização; No Caderno 2 – nos diferentes momentos do CA, o que ensinar? - Que habilidades ou capacidades devem ser desenvolvidas? No Caderno 3 – apresentação de critérios e instrumentos relativos à seleção de professores alfabetizadores, ao planejamento da sala de aula, de sua rotina e das atividades a serem realizadas e à seleção dos métodos e livros de alfabetização; No Caderno 4 – Como diagnosticar o conhecimento dos alunos? - Como avaliá-los? - Como avaliar a escola? - Que respostas dar aos problemas de ensino e de aprendizagem detectados pelo diagnóstico e pela avaliação? Analfabetismo na escola? Em 2003, os jornais e as revistas noticiaram o fracasso da escola brasileira em fazer com que seus alunos se alfabetizassem; - Após a divulgação dos resultados de 02 avaliações das habilidades de leitura de crianças e jovens brasileiros: - - 1ª - Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB – desenvolvida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP; - 2ª - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – PISA – desenvolvida pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e envolve diversos países (Coréia do Sul, Espanha, EUA, Federação Russa, França, México, Portugal e Brasil – no total de 32 países); Conclusão assustadora: um número expressivo de estudantes que não aprende ler na escola brasileira; Essa escola produz um grande contingente de analfabetos ou de analfabetos funcionais (pessoas que, embora dominem as habilidades básicas do ler e do escrever, não são capazes de utilizar a escrita na leitura e na produção de textos na vida cotidiana ou na escola, para satisfazer às exigências do aprendizado); Pode-se compreender, assim, por que o Estado de Minas Gerais ampliou a duração do EF; Pode-se compreender também por que dá tanta importância à alfabetização, denominando os 02 Ciclos do 1º segmento desse ensino como Ciclos da Alfabetização; Mas, por que muitas crianças não têm se alfabetizado? - Para uns, é o sistema de ciclos e a adoção do sistema de progressão continuada o principal fator; - Para outros, a responsabilidade do fracasso recai na escolha e adoção de métodos inadequados de alfabetização; Alfabetização no Brasil: Censo 1872 Alfabetizados ......................17,7% Analfabetos ........................82,3% Censo 1920 Alfabetizados .......................28,8% Analfabetos .........................71,2% Censo 1940 Alfabetizados .........................38,9% Analfabetos ...........................61,1% Censo 1950 Alfabetizados ...........................42,9% Analfabetos .............................57,1% Analfabetos Alfabetizados 46,7................1960.........53,3 38,7................1970.........61,3 31,9................1980.........68,1 24,2................1990.........75,8 16,7................2000.........83,3 A ampliação do conceito de alfabetização - Alfabetização – “é o ato ou efeito de alfabetizar, de ensinar as primeiras letras”. (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa - 2001); - Entende-se dessa forma que uma pessoa alfabetizada é aquela que domina as habilidades básicas ou iniciais do ler e do escrever; A ressignificação do conceito de alfabetização nos Censos: - Nos anos 1940 – os questionários indagavam, simplesmente, se a pessoa sabia ler e escrever (servia como comprovação da resposta afirmativa ou negativa, a capacidade de assinatura do próprio nome); - Nos anos 1950 e até o último Censo (2000) – os questionários passaram a indagar se a pessoa era capaz de “ler e escrever um bilhete simples” (considerando aqui alfabetizado aquele que saber usar a leitura e a escrita para exercer uma prática social em que a escrita é necessária); - A ampliação do conceito de alfabetização se manifesta também na escola; - Portanto, alfabetizar não se reduz ao domínio das “primeiras letras”; - Envolveria também saber utilizar a língua escrita nas situações em que esta é necessária, lendo e produzindo textos; - E para essa nova dimensão da entrada na cultura escrita que se cunhou uma nova palavra: letramento; Letramento – serve para designar o conjunto de conhecimentos, atitudes e capacidades necessários para usar a língua em práticas sociais; Por meio desse conceito, a escola ampliou, assim, o seu conceito de alfabetização; Um problema dos ciclos? Os ciclos de aprendizagem – implantado na última década – seria o grande responsável pelos resultados desastrosos; - Têm-se alegado que a não-reprovação dos alunos, bem como os diferentes programas de correção de fluxo da matrícula tem contribuído, diretamente, para o analfabetismo escolar; - - Não havia analfabetos na escola ou sua presença não era percebida – em função da repetência, eles se concentravam na 1ª série ou, em razão da evasão , eles abandonavam a escola; - A progressão continuada e os diferentes programas de correção de fluxo tampouco podem ser responsabilizados: A evasão e a repetência – problemas que continuam a ocorrer na escola fundamental; - Além desses problemas, a organização em ciclos, por ampliar o tempo dos aprendizados, pode conduzir a uma diluição ou uma procrastinação de metas e objetivos a serem atingidos gradativamente ao longo do processo de escolarização; - - Do mesmo modo, a progressão continuada pode também, se mal concebida e mal aplicada, resultar numa ausência de compromisso com o desenvolvimento sistemático de habilidades e conhecimentos; Muda-se o modo de organização escolar, mas não se criam mecanismos para: a) Coletivamente - diagnosticar os problemas de ensino-aprendizagem; b) Fazer face a eles, por mio de processos dinâmicos de reagrupamento; c) Alterar procedimentos de ensino que se mostrarem inadequados para os alunos em dificuldade; Implicações positivas da organização por ciclos: 1 – cria a necessidade de se repensar o sentido da escola, das práticas avaliativas, dos conteúdos curriculares, do trabalho pedagógico e da própria organização escolar; 2 – agiliza o fluxo de um maior número de alunos, contribuindo para a diminuição do desperdício de recursos financeiros; 3 – descongestiona o sistema, possibilitando o acesso à população escolarizável que se encontra fora da escola; 4 – garante aos alunos maior permanência na escola, elevando assim as médias de escolaridade, em termos de anos de estudo; 5 – exige a destinação de maiores recursos para a educação, a fim de garantir condições adequadas; 6 – implica mudanças nas concepções e práticas pedagógicas; 7 – implica igualmente mudança de atitude dos pais – interesse pelo conhecimento que seus filhos estariam adquirindo na escola, bem como necessidade de assumir a responsabilidade da frequência à escola no período regular e nos períodos destinados ao reforço ou recuperação. A organização por ciclos possui diferentes implicações positivas; É em razão dessas implicações e das reivindicações dos professores alfabetizadores que Minas Gerais voltará a adotar o sistema de ciclos para o 1º segmento do EF; Um problema de método? - Na escolha dos livros didáticos de alfabetização no Programa Nacional do Livro Didático (PNDL) – professores e as escolas escolhem os livros que utilizarão; Desde o PNLD 1998, os livros mais solicitados ao MEC pelas escolas são justamente aqueles que se organizam em torno de princípios do método silábico; - Método silábico: baseado na exploração das ditas famílias silábicas, compostas inicialmente por vogais, depois por sílabas consideradas complexas, passando antes, pelas consideradas simples. O que fazer? - As redes de ensino e as escolas devem definir quais são as capacidades mínimas a serem atingidas em diferentes momentos desse primeiro ciclo; - É extremamente contraprodutivo esperar que só ao final do 3º ano do Ciclo, que o aluno esteja alfabetizado e ponto final; É necessário discriminar que conhecimentos e habilidades devem ser dominados pelas crianças em diferentes etapas do Ciclo; Para isso é fundamental que as escolas: - possuam instrumentos compartilhados para diagnosticar e avaliar os alunos e o trabalho que realiza - desenvolvam mecanismos para reagrupar, provisoriamente, os alunos que não alcançam os conhecimentos e habilidades em cada etapa do processo, utilizando novos procedimentos metodológicos e diferentes materiais didáticos; É preciso que as redes de ensino enfrentem três problemas que têm evitado enfrentar: 1 – o professor alfabetizador precisa ser um dos mais capacitados da escola (ter adequada formação); 2 – precisa também ser um dos mais capacitados da escola (ter um estatuto diferenciado); 3 – reorganizar a escola e os tempos destinados ao trabalho coletivo, em equipes de professores e coordenadores. “É preciso que os professores alfabetizadores se conscientizem de que as crianças das escolas públicas, em sua maior parte expostas a processos de exclusão social, são capazes de aprender: não possuem deficiências cognitivas, não possuem deficiências linguísticas, culturais, comportamentais”. - É nossa responsabilidade assegurar a essas crianças o domínio da língua escrita.