Concepções de Estatística de um grupo
de professores de Matemática da
Escola Básica brasileira:
um estudo diagnóstico
Cileda de Queiroz e Silva Coutinho
Maria José Ferreira da Silva
Saddo Ag Almouloud
O questionamento:
• Que
concepções
sobre
a
Estatística e quais níveis de
alfabetização estatística podem
ser identificados a partir da
comparação de dois mapas
conceituais, construídos por
professores
em
formação
continuada?
O contexto
• Essa formação é parte de um projeto de pesquisa
sobre Processos de Ensino e Aprendizagem da
Estatística, em desenvolvimento na PUC-SP pelo
grupo de pesquisa PEA-MAT do Programa de
Estudos
Pós-Graduados
em
Educação
Matemática.
• Este grupo existe já há dez anos e trabalha com
pesquisas voltadas ao ensino e aprendizagem da
Matemática na Escola Básica.
Pesquisas anteriores
• Bases para a elaboração da formação continuada
a ser implementada durante o projeto atual:
levantamento das pesquisas recentemente
concluídas nesse grupo, com foco no diagnóstico
de concepções e discursos docentes a respeito do
ensino e aprendizagem da Estatística. (Coutinho,
2008).
• Foram relacionadas seis pesquisas, e seus
resultados convergiam para a identificação da
dificuldade em ensinar tópicos relacionados a
esse tema, particularmente, quando alguma
análise de dados era solicitada.
• NO ENTANTO, OS PROFESSORES APRESENTAM
ATITUDES POSITIVAS FRENTE À POSSIBILIDADE
DE TRABALHAR ESSES CONTEÚDOS
Objetivo das oficinas
• As oficinas de formação tiveram início em
fevereiro de 2008
• Conteúdos: relativos à Estatística Descritiva, mas
segundo a filosofia da Análise Exploratória de
Dados.
• Nosso objetivo: trabalhar com os professores no
sentido de promover uma evolução no nível de
alfabetização estatística dos mesmos (SHAMOS,
1995), para que com isso pudessem construir os
conhecimentos específicos de conteúdo e
pedagógico (SHULMAN, 2000) e, em
consequência, auxiliá-los na construção e gestão
de situações didáticas relativas a esse tema para
uso com seus alunos.
Os níveis de alfabetização
• As pesquisas em nosso grupo consideram os níveis
de letramento (ou alfabetização) enunciados por
Shamos (1995):
– Cultural: a mobilização dos conhecimentos
estatísticos limita-se ao uso de termos básicos
naturalmente
utilizados
na
mídia
para
comunicação de temas científicos.
– Funcional: exige alguma substância a mais nessa
mobilização de conhecimentos, pois além do uso
de termos usuais, o sujeito deve também ser
capaz de conversar, ler e escrever de forma
coerente, podendo mesmo usar termos não
técnicos, mas sempre dentro de um contexto
significativo.
– Científico: exige do sujeito uma compreensão
global do procedimento científico, de forma
integrada com a compreensão dos processos
científicos e investigativos.
Metodologia
• A pesquisa: pode ser classificada como pesquisaação, pois foi concebida e realizada em estreita
associação com uma ação ou com a resolução de
problemas coletivos, em que pesquisadores e
participantes da situação são envolvidos de modo
cooperativo ou participativo (Thiollent, 1998).
• No que tange a construção a análise e a
experimentação das situações de formação dos
professores: princípios da Engenharia Didática que,
caracteriza-se por um esquema experimental
baseado em “realizações didáticas” em sala de aula,
(Artigue, 1988).
• A construção do mapa conceitual: necessidade dos
pesquisadores conhecerem as concepções dos
docentes e evidenciar inter-relações entre seus
conhecimentos, suas emoções e seus sentimentos
em relação ao ensino e a aprendizagem da
Estatística
O grupo de participantes
• As oficinas contam com a presença de
professores de Matemática, organizados
em grupos, que são observados por cinco
auxiliares de pesquisa (colaboradores do
projeto, alunos dos mestrados acadêmico
e profissional, e de doutorado).
• Os dados foram coletados por essas
observações e áudio-gravação de cada
grupo.
Os resultados
• O primeiro mapa foi realizado em março de 2008,
no início da formação continuada com o objetivo
de mostrar indícios sobre as concepções dos
professores a respeito de Estatística (antes do
início da formação).
• Nele participaram quinze professores que
mobilizaram 51 palavras e, em grupos, as
classificaram em categorias
• A partir destas construíram frases que pudessem
dizer o que representa a Estatística, como
podemos observar no quadro 1.
O Quadro 1
Síntese do quadro 1
• Foco da frase do grupo 1 é a análise de
idéias sobre variação, por exemplo,
média.
• Para o grupo 2 a idéia é de previsão, ou
seja, de inferências.
• O grupo 3, por sua vez, apresenta a idéia
da incerteza.
• O grupo 4 tenta mostrar que é um
assunto relativamente novo tratado nas
escolas.
O segundo Mapa Conceitual
• Vários professores faltaram nesse
dia, resultando em apenas dois
grupos durante a oficina.
• As formadoras comentam que o
trabalho do primeiro semestre
conseguiu abrir a visão de Estatística
que o grupo possuía e que parece
que para eles, agora, a Estatística é
a ciência do número em contexto.
Alguns depoimentos no
segundo Mapa Conceitual
• o Professor G, do grupo 1, pergunta quais são os
tipos de pesquisas que existem (as oficinas
começaram pela elaboração de uma pesquisa a
ser desenvolvida pelos próprios professores).
• a professora M responde que “sente falta de
exercícios e problemas no curso”.
• a professora P, do mesmo grupo, afirma que foi
um “ganho ter suspeitado que não sabia nada de
Estatística, mas agora tem certeza” referindo à
elaboração e análise do questionário
(desenvolvidos no primeiro semestre) como uma
aprendizagem fina.
Alguns depoimentos no
segundo Mapa Conceitual
• Percebemos que enquanto M acredita que é
necessário alguém ensinando para que aprenda e
a incomoda questões abertas porque põe à prova
seus pensamentos, a professora P tem mais
autonomia e consciência das limitações de seus
conhecimentos.
• Em outro momento, essa mesma professora se
admira lembrando-se de quantas vezes pediu
para um aluno calcular a média, sem saber por
quê. Agora percebe que não tinha análise porque
não tinha pergunta a ser respondida.
• O professor A, do grupo 2, complementa dizendo
que trabalhava com seus alunos com o objetivo
de fazer cálculo também sem se preocupar em
responder qualquer questão.
Considerações
• Os mapas e as discussões nos mostraram
que os professores ainda permanecem no
nível cultural, o que nos leva a inferir que
apenas o trabalho com tabelas e gráficos,
mesmo que partindo da formulação da
questão, coleta e organização dos dados,
não é suficiente para provocar a evolução
nos níveis de alfabetização estatística.
• Além disso, a atitude do professor,
enquanto aprendiz, evidencia as
dificuldades para a construção de
significados para conhecimentos antigos.