MATERIAL PREPARADO PARA DISCIPLINA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM ENSINO DE FÍSICA I
TEORIA DA MEDIAÇÃO DE LEV VYGOTSKY
Sérgio Choiti Yamazaki – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Lev
Semenovich
Vygotsky
(1896-1934)
estudou
literatura
na
Universidade de Moscou, interessando-se primeiramente pelas criações
artísticas. Contudo, após 1924, interessou-se por psicologia evolutiva, educação
e psicopatologia, produzindo obras que ainda hoje são consideradas principais
referências ao Construtivismo Social. Foi uma pessoa culta, leu e refletiu sobre
assuntos os mais diversos.
Devido à tuberculose, este gênio da psicologia, como o chama Nélson
Jahr Garcia, faleceu muito cedo, aos 38 anos de idade. “Quanto não poderia
legar-nos se não tivesse partido tão jovem?” (GARCIA, 2002).
Em seu tempo de vida, o pensamento de Vygotsky, contudo, não era
divulgado, e o mundo ocidental não o conhecia, como relata Garcia (2002):
Devido a vários fatores, inclusive a tensão política entre os Estados
Unidos e a União Soviética após a última guerra, o trabalho de
Vygotsky permaneceu desconhecido a grande parte do mundo
ocidental durante décadas. Quando a Guerra Fria acabou, este incrível
patrimônio de conhecimento deixado por Vygotsky começou a ser
revelado. O nome de Vygotsky hoje dificilmente deixa de aparecer em
qualquer discussão séria sobre processos de aprendizado.
Para Vygotsky, é através do contexto histórico, social e cultural que o
desenvolvimento cognitivo deve ser explicado.
De acordo com Vygotsky, todas as atividades cognitivas básicas do
indivíduo ocorrem de acordo com sua história social e acabam se
constituindo no produto do desenvolvimento histórico-social de sua
comunidade (Luria, 1976). Portanto, as habilidades cognitivas e as
formas de estruturar o pensamento do indivíduo não são determinadas
por fatores congênitos. São, isto sim, resultados das atividades
praticadas de acordo com os hábitos sociais da cultura em que o
indivíduo se desenvolve. Conseqüentemente, a história da sociedade na
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qual a criança se desenvolve e a história pessoal desta criança são
fatores cruciais que vão determinar sua forma de pensar. Neste
processo de desenvolvimento cognitivo, a linguagem tem papel crucial
na determinação de como a criança vai aprender a pensar, uma vez que
formas avançadas de pensamento são transmitidas à criança através
de palavras (Murray Thomas, 1993).
(Ibid)
Vygotsky define “desenvolvimento cognitivo” como “conversão de
relações sociais em funções mentais” (MOREIRA, 1999, p. 110). É preciso que o
ensino, então, passe por um processo que vise planejar uma interação social.
Garton (1992), conforme nos relata Moreira (1999), define interação social
como “um mínimo de duas pessoas intercambiando informações”, onde diversas
experiências e conhecimentos são compartilhados; ela se constitui, portanto,
em uma troca de significados.
Esta conversão, citada acima, se dá através da mediação; portanto, ela
não se dá diretamente, mas é mediada pelo uso de instrumentos e signos.
Instrumentos e signos são palavras-chave na teoria de Vygotsky e podem ser
definidos da seguinte forma:
Instrumento é qualquer objeto ou elemento que tem alguma utilidade
prática. Por exemplo, garfo, colher, enxada etc. Esses tipos de instrumentos
são chamados de instrumentos físicos.
Signos são elementos que lembram ou simbolizam algo e, portanto,
podem ser usados para significar alguma coisa que foi criada culturalmente, ou
que a experiência lhe impõe, uma intuição. São também conhecidos como
instrumentos simbólicos. Eles trazem algum significado implícito (SOARES,
2002). Por exemplo, “fumaça indica fogo”, é um dos tipos de signos, conhecido
como indicador. Outro tipo de signo é o icônico; é a imagem ou desenho daquilo
que significa. Por último, há os signos simbólicos, que são abstrações daquilo
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que significam; por exemplo, palavras, números, equações, gestos.
Assim, se signos são construções sociais, indivíduos de diferentes culturas,
podem ter signos diferentes entre si, ou ainda, determinados signos para uns,
não os são para outros, porque viveram em contextos diferentes ou porque não
foram capazes de internalizá-los.
Instrumentos e signos são criações sociais, portanto, são elementos
historicamente e culturalmente construídos.
Para Vygotsky, a fala é o principal sistema de signos para o
desenvolvimento cognitivo, porque ela relaciona o concreto com o abstrato, o
real com o simbólico, permitindo no decorrer do desenvolvimento, generalizar a
variadas situações que não ocorreram durante a aprendizagem.
Podemos pensar em um dos principais conceitos desenvolvidos por
Vygotsky,
entendendo
que
um
indivíduo
pode
resolver
determinadas
problematizações através de uma das seguintes hipóteses: sozinho, ou seja,
sem a ajuda de uma outra pessoa; ou consegue resolver somente se houver
auxílio de uma outra pessoa. Na teoria de Vygotsky, a diferença entre a
capacidade de revolver sozinho esse problema (nível real) e a capacidade em
resolver somente com o auxílio de outro indivíduo mais experiente (nível
potencial), é conhecida como Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Daí a
importância dada às interações sociais. A ZDP mostra o potencial de
aprendizagem de um sujeito e é nela que ocorre o desenvolvimento cognitivo.
Entretanto, ela se encontra sempre em mudança, pois as pessoas estão sempre
em desenvolvimento.
Em decorrência desse estado dinâmico em que se encontra a ZDP, a
interação entre pessoas diferentes passa a exercer papel central para que
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tanto alunos menos experientes como aqueles mais experientes possam se
desenvolver.
Tal análise implica questões atuais: a primeira é a idéia de que a escola
deve valorizar, sobretudo, as interações entre os diferentes. Sendo
assim, a concepção de que salas de aula heterogêneas são
preocupantes também se desfaz, pois interações heterogêneas
implicam indivíduos com diferentes zonas de desenvolvimento
proximal, interatuando uns na ZDP dos outros. O aluno menos
experiente beneficia-se dessa interação, pois o outro pode ajudá-lo
em elaborações que ele não consegue realizar individualmente; como
também o mais experiente beneficia-se, pois, no momento em que ele
procura ajudar o outro a desenvolver novos conceitos, isso implica uma
organização e estruturação de suas próprias idéias, a fim de
sistematizá-las e compartilhá-las com o outro, reestruturando e
consolidando, assim, suas antigas concepções.
(LIMA, 2000, p. 225)
Assim, as interações sociais necessárias para que haja aprendizagem,
devem acontecer dentro da ZDP. Há, portanto, em tese, dois limites
identificados como o inferior e o superior. O inferior, que determina o nível
real de desenvolvimento do estudante, e o superior, dentro do qual os métodos
de ensino devem ser pensados e desenvolvidos. Por exemplo, metodologias
baseadas em jogos podem ser importantes formas de desenvolver o potencial
intrínseco ao limite superior.
{Vygotsky] entende que, no jogo, a criança cria uma "zona de
desenvolvimento proximal", e isto faz com que a criança esteja sempre
acima de sua idade média, isto é, acima de sua conduta diária, uma vez
que o jogo contém todas as tendências evolutivas de forma
condensada, sendo, em si mesmo, uma considerável fonte de
desenvolvimento.
(NEGRINE, 1995, p. 16)
Vygotsky sugere que, através das interações que ocorrem no meio
social, na ZDP, haja desenvolvimento de funções mentais superiores –
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pensamento, linguagem, pensamento volitivo1 – e que para que isso ocorra, é
preciso que o indivíduo se aproprie de instrumentos e de signos.
Para Vygotsky, o ensino deve objetivar sempre um nível de
desenvolvimento cognitivo superior àquele que o indivíduo já alcançou.
Bibliografia
GARCIA, Nelson Jahr. Apresentação da obra Pensamento e Linguagem de Levy
Semenovich Vygotsky. In: http://66.102.1.104/scholar?hl=ptBR&lr=&q=cache:UavlGclsnuAJ:www.md.utfpr.edu.br/curso/carlos/MATERIAL
_DIMENS_CIENCIA_EJA%25202008/LIVROS%2520E
%2520TEXTOS/pensamento_linguagem%2520livro.pdf+vygotsky,
22/01/2002.
LIMA, Anna Paula Brito. A teoria socioistórica de Vygotsky e a educação:
reflexões psicológicas. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília, v.
81, n. 198, p. 219-228, maio/ago. 2000.
MOREIRA, Marco Antonio. A teoria da mediação de Vygotsky. In: Teorias da
Aprendizagem. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, EPU, 1999.
SOARES, Júlio Ribeiro. A concepção histórico-cultural do papel da educação no
desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Expressão, Mossoró, 32,
p. 17-27, jan.-dez., 2002.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. Pensamento e Linguagem. Edição eletrônica: Ed
Ridendo Castigat Mores (www.jahr.org).
1
“... o desenvolvimento cognitivo é a conversão de relações sociais em funções mentais. Não é por meio do
desenvolvimento cognitivo que o indivíduo se torna capaz de socializar, é na socialização que se dá o
desenvolvimento dos processos mentais superiores (Driscoll, 1955, p. 229)”. (MOREIRA, 1999, p. 110).
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