CASO CLÍNICO: ASMA BRÔNQUICA Paula Fernandes Oliveira (6º Ano) Coordenação: Luciana Sugai Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)/SES/DF www.paulomargtto.com.br Brasília, 4 de maio de 2012 HISTÓRIA CLÍNICA  Identificação:   feminino, 3 anos e 9 meses, branca, natural de Brasília-DF e procedente de São Sebastião Queixa Principal:  “Tosse há 5 dias” HDA  Mãe refere que paciente iniciou quadro de tosse seca associada a hiporexia há 4 dias. Evoluiu há 3 dias com febre de 39°C com padrão intermitente ao uso de paracetamol. Há 2 dias apresentou dispneia leve e piora da febre chegando a 42°C (sic). Apresentou há 1 dia episódio único de fezes líquidas sem muco, sangue ou pus. Hoje apresentou tosse emetizante (episódio único), piora da dispneia com persistência da febre. ANTECEDENTES FISIOLÓGICOS Gestação sem intercorrências  Nasceu de parto normal, a termo (41 semanas) no HRAS  Peso ao nascer: 2895g, PC:33cm, Est.:48cm APGAR: 9/10  Aleitamento materno exclusivo até os 6 meses  DNPM adequado  Calendário vacinal atualizado  ANTECEDENTES PATOLÓGICOS Internação prévia há aproximadamente 1 ano e meio devido a pneumonia.  Relata história de “chiado no peito” com primeiro episódio aos 3 meses. Mãe não sabe informar quantos episódios (refere mais do que 5) , todos sem necessidade de internação. Não faz uso de medicação contínua.  Nega outras comorbidades, alergias, cirurgias, trauma e transfusões.  ANTECEDENTES FAMILIARES Mãe, 34 anos, hígida  Pai, 26 anos, hígido  Irmã, 10 anos, hígida  Irmã, 6 anos, cardiopatia congênita corrigida  Irmão, 2 anos, hígido  Nega doenças familiares  HÁBITOS DE VIDA Reside em casa de alvenaria com mãe e irmãs. Residência com água encanada, energia elétrica, asfalto e esgoto.  Refere mofo em casa. Nega cortinas, tapetes e carpetes.  Nega contato com animais domésticos.  Frequenta casa do pai sem problemas. Madrasta é tabagista.  Alimentação saudável  Frequenta creche onde mãe trabalha.  EXAME FÍSICO BEG, corada, cianótica, anictérica, afebril ao toque, hidratada, ativa e reativa, taquidispneica, dormindo.  Pele sem alterações.  Oroscopia sem alterações.  ACV: RCR 2T, BNF, sem sopros, FC: 128 bpm.  EXAME FÍSICO AR: MV reduzido em base E, com sibilos difusos. TSC moderada. FR: 60 irpm. SATO2 96%.  ABD: Plano, RHA +, flácido, indolor, sem visceromegalias, timpanismo predominante, Traube livre.  EXT: bem perfundidas, sem edema.  EXAMES COMPLEMENTARES  HEMOGRAMA COMPLETO    Material: Sangue ***** Eritrograma *****    Hemácias:  Hemoglobina: 12,4 g/dL 4,61 x106/uL (4,50 - 5,50)  Hematócrito: 36,4 % VCM: 79,0 fl (12,3 - 14,0) (28,0 - 42,0) HCM: 26,9 pg (12,0 - 17,0)   ***** Leucograma *****    Leucócitos: 5,9 x103/uL (6,0 - 17,0)  %    103/uL _________________________________________ Neutrófilos Totais: 76,0 %  Promielocitos:  Mielocitos:  Metamielocitos:  Bastonetes:  Segmentados: (30,0 - 54,0) 4,5 0,0 % 0,0 % (0,0 - 0,0) 0,0 %  Basofilos:  Monocitos: 7,0 %  Linfocitos: 17,0 % 0,0 % (0,0 - 0,0) 0,0 (0,0 - 4,0) 71,0 % Eosinofilos: 0,0 (0,0 - 0,0) 5,0 %  (1,6 - 8,4) 0,0 0,0 % 0,3 (0,0 - 0,0) (0,0 - 0,7) (30,0 - 50,0) 4,2 (1,0 - 5,0) (0,0 - 3,0) 0,0 0,0 (2,0 - 10,0) 0,4 (40,0 - 70,0) 1,0 (1,6 - 7,7) (0,0 - 0,8) (0,0 - 0,4) (0,1 - 1,4) (3,0 - 10,0)    Plaquetas: 220 x103/uL  MPV: 7,0 fl (150 - 450) (7,2 - 11,0)    Morfologia Hemácias.: Anisocitose (+)   (28,0 - 30,0) CHCM: 34,1 g/dL (33,0 - 37,0) RDW: 14,8 %  (75,0 - 85,0) Método: Automatizado e Análise Microscópica EXAMES COMPLEMENTARES  PROTEÍNA C REATIVA (Quantitativa de alta sensibilidade)  Material: Soro    Resultado: 4,40mg/dL ??? CONCLUSÃO  HD   Asma Evolução Fez uso de salbutamol, prednisolona e O2 suplementar  Recebeu alta melhorada, após 4 dias de internação  ASMA DEFINIÇÃO  “Doença inflamatória crônica das vias aéreas, na qual muitas células e elementos celulares têm participação. A inflamação crônica está associada à hiper-responsividade das vias aéreas, que leva a episódios recorrentes de sibilos, dispneia, opressão torácica e tosse, particularmente à noite ou no início da manhã. Esses episódios são uma consequência da obstrução ao fluxo aéreo intrapulmonar generalizada e variável, reversível espontaneamente ou com tratamento.” EPIDEMIOLOGIA Acomete 300 milhões de pessoas no mundo  Brasil – aproximadamente 20 milhões  2011 – 160 mil hospitalizações (4ª causa)  Mortalidade (1998-2007) - 1,52/100.000  Gastos aumentam conforme gravidade  25% da renda familiar (paciente da classe menos favorecida)  FISIOPATOGENIA Doença inflamatória crônica das vias aéreas  Ação de células inflamatórias, brônquicas e mediadores inflamatórios  Remodelamento das vias aéreas  HISTÓRIA NATURAL Determinantes pouco compreendidos  Risco de persistência até idade adulta aumenta com:  Gravidade da doença  Presença de atopia  Tabagismo  Gênero feminino  HISTÓRIA NATURAL  Critérios utilizados para prever persistência da sibilância na vida adulta:      Eczema nos 3 primeiros anos de vida Pai ou mãe com asma Diagnóstico de rinite nos 3 primeiros anos de vida Sibilância sem resfriado (virose) Eosinofilia sanguínea > 3% (na ausência de parasitose) DIAGNÓSTICO  Clínico      Dispneia, tosse crônica, sibilância, opressão ou desconforto torácico Predomínio à noite ou nas primeiras horas da manhã Exame físico – inespecífico Sibilos (indica obstrução ao fluxo aéreo) – pode não ocorrer em todos pacientes Confirmação por método objetivo (exceto crianças) DIAGNÓSTICO  Métodos objetivos  Espirometria Estabelece diagnóstico, gravidade da obstrução e monitora curso da doença  Diagnóstico – redução da relação VEF1/CVF e demonstração de reversibilidade após broncodilatador  Intensidade – redução percentual do VEF1  Espirometria normal não descarta asma (repetir no período sintomático ou fazer teste provocativo)  DIAGNÓSTICO  Verificação da hiper-responsividade das vias aéreas      Confirmação diagnóstica nos casos de espirometria normal ou sem resposta broncodilatadora significativa Inalação de substâncias broncoconstritoras (metacolina, carbacol e histamina) teste de broncoprovocação por exercício Alto valor preditivo negativo e alta sensibilidade Positiva em outras doenças obstrutivas e rinite DIAGNÓSTICO  Medidas seriadas do PFE (Pico de Fluxo Expiratório) Forma mais simples e menos acurada de diagnóstico  Medida da variação diurna (diferença entre valores matinais e vespertinos dividida pelo maior valor) de duas semanas  Positivas se variação diurna >20%  DIAGNÓSTICO  Medidas do estado alérgico       Planejamento terapêutico Anamnese cuidadosa + confirmação Testes cutâneos Concentrações séricas de IgE Teste radioalergoabsorvente Aeroalérgenos mais comuns: Ácaros, fungos e polens  Cães, gatos e baratas  DIAGNÓSTICO  Diagnóstico em crianças menores de cinco anos    Aspectos clínicos – dificuldades de se obter medidas objetivas 50% - pelo menos um episódio de sibilância (maioria não desenvolve asma) Manifestações mais sugestivas: Episódios frequentes de sibilância (mais de uma vez por mês)  Tosse ou sibilos que ocorrem à noite ou cedo pela manhã, provocados por riso ou choro intensos ou exercício físico  Tosse sem relação evidente com viroses respiratórias  Presença de atopia, especialmente rinite e dermatite atópica  História familiar de asma e atopia  Boa resposta clínica a β2-agonistas inalatórios, associados ou não a corticoides orais ou inalatórios  DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Crianças menores de cinco anos Rinossinusite Doença pulmonar crônica da prematuridade e malformações congênitas Fibrose cística, bronquiectasias, bronquiolite obliterante pós-infecciosa e discinesia ciliar Síndromes aspirativas (refluxo gastroesofágico, dist. de deglutição, fístula traqueoesofágica e aspiração de corpo estranho) Laringotraqueobroncomalácia, doenças congênitas da laringe e anel vascular Tuberculose Cardiopatias Imunodeficiências Crianças acima de cinco anos e adultos Rinossinusite Síndrome de hiperventilação alveolar e síndrome do pânico Obstrução da vias aéreas superiores (neoplasia e aspiração de corpo estranho) Disfunção das cordas vocais DPOC e outras doenças obstrutivas das vias aéreas inferiores Doenças difusas do parênquima pulmonar Insuficiência cardíaca diastólica e sistólica Doenças da circulação pulmonar (hipertensão e embolia) CLASSIFICAÇÃO  De acordo com os níveis de controle da asma  Extensão com a qual manifestações estão suprimidas (espontaneamente ou pelo tratamento) CLASSIFICAÇÃO  De acordo com a gravidade Quantidade de medicamento necessária para controle  Característica intrínseca da doença (altera lentamente)  Diferente do controle que depende da adesão ao tratamento e exposição a fatores desencadeantes  Excluir outras causas de descontrole (comorbidades e não adesão) Leve – baixa intensidade de tratamento (etapa 2) Moderada – intensidade intermediária (etapa 3) Grave – alta intensidade (etapas 4 e 5)  COMPONENTES DO CUIDADO DA ASMA 1. 2. 3. 4. 5. Parceria médico-paciente Identificação e controle dos fatores de risco Avaliação, monitoramento e manutenção do controle da asma Prevenção e controle de riscos futuros Consideração de situações especiais no manejo da asma PARCERIA MÉDICO-PACIENTE Objetivo: paciente adquirir conhecimento, confiança e habilidade para assumir o manejo da doença.  Reduz morbidade em adultos e crianças 1. Educação     2. Fatores desencadeantes e agravantes Medicamentos e técnicas adequadas Execução do plano de ação Plano de ação escrito e individualizado PARCERIA MÉDICO-PACIENTE 3. Adesão ao tratamento  50% dos asmáticos em tratamento de longo prazo não usam suas medicações regularmente. Ligadas ao médico Má identificação dos sintomas e dos agentes desencadeantes Indicação inadequada de broncodilatadores Falta de treinamento das técnica inalatórias e de prescrição de medicamentos preventivos Diversidade nas formas de tratamento Falta de conhecimento dos consensos Ligadas ao paciente Interrupção da medicação na ausência de sintomas Uso incorreto da medicação inalatória Dificuldade de compreender esquemas terapêuticos complexos Suspensão da medicação devido a efeitos indesejáveis Falha no reconhecimento da exacerbação dos sintomas IDENTIFICAÇÃO E CONTROLE DOS FATORES DE RISCO           Tabagismo ativo e passivo Medicações, alimentos e aditivos Exposição ocupacional Ácaros Pelos de animal doméstico Baratas Mofo Polens e fungos ambientais Poluição ambiental Exercício físico Diferenciar broncoconstrição induzida pelo exercício e descontrole da doença • Usar dose de β2-agonista de curta ação antes do início da atividade se broncoconstrição induzida • Não devem evitar exercícios (aumenta limiar anaeróbio) • Nenhuma evidência de superioridade da natação • AVALIAR, TRATAR E MANTER O CONTROLE DA ASMA Sintomas ocasionais (duas vezes por semana ou menos) de curta duração. Assintomático entre esses episódios. AVALIAR, TRATAR E MANTER O CONTROLE DA ASMA  Observações Todos irão iniciar na etapa 2 ou, se estiver muito assintomático, na etapa 3.  Medicação de resgate deve ser sempre prescrita.  β2-agonistas de ação prolongada não são recomendados para menores de 5 anos.  PREVENÇÃO E CONTROLE DOS RISCOS FUTUROS 1. 2. 3. 4. Prevenir instabilidade clínico-funcional: manter a asma controlada por longos períodos Prevenir exacerbações da asma Evitar a perda acelerada da função pulmonar ao longo dos anos Minimizar os efeitos colaterais dos tratamentos utilizados SITUAÇÕES ESPECIAIS NO MANEJO DA ASMA Rinite, rinossinusite e pólipos nasais  Refluxo gastroesofágico  Exposição ocupacional  Gestação e lactação  Idoso  Cirurgia  Obesidade  Síndrome da apneia obstrutiva do sono  Estresse, ansiedade, depressão e fatores psicossociais  Aspergilose broncopulmonar alérgica  Medicamentos  MANEJO DAS EXACERBAÇÕES Deterioração clínica em um período de 5-7 dias  Causas mais comuns:    Infecções virais, exposição a alérgenos ambientais, poluição ambiental e exposição ocupacional ou a drogas Atendimento inicial: Avaliação clínica associada a medidas objetivas  Adulto: espirometria ou PFE  Crianças e adolescentes: oximetria de pulso  MANEJO DAS EXACERBAÇÕES Classificação da intensidade das exacerbações MANEJO DAS EXACERBAÇÕES • • Exames complementares não são necessários na maior parte dos casos Indicações: diagnóstico diferencial, comorbidades e complicações MANEJO DAS EXACERBAÇÕES Oxigenoterapia  Meta: SpO2 ≥ 92% (para gestantes, pacientes com doenças cardiovasculares e crianças SpO2 ≥ 94-95%  Brondilatadores de curta ação  Inalador pressurizado ou nebulização  Corticoides  Via oral ou intravenosa – efeito clínico equivalente  MANEJO DAS EXACERBAÇÕES  Drogas Alternativas  Brometo de ipatrópio   Sulfato de magnésio   Benefícios mais marcantes na abordagem inicial (reduz necessidade de admissão hospitalar) Indicado nas exacerbações muito graves, sem resposta ao tratamento usual Aminofilina Não tem indicação no tratamento inicial  Adjuvante em pacientes muito graves ou em crises refratárias  MANEJO DAS EXACERBAÇÕES  Conduta na alta Promover educação do paciente  Orientar a:  Iniciar ou manter medicação preventiva por via inalatória  Usar corretamente os dispositivos inalatórios  Usar prednisona ou prednisolona, salvo exacerbações muito leves, por 5-10 dias.  Encaminhar para consulta médica em 7 dias ou programa de educação  Se exacerbação grave, encaminhar a um especialista  Considerar introdução do corticóide inalatório ou ajustar dose  OBRIGADA!