Educação bilíngue para
surdos:
o novo desafio das escolas inclusivas
Profª. Mrs. Ana Carla Ziner Nogueira
[email protected]
Quem é seu aluno?
SURDO ou D.A.?
Para compreender as identidades
de seus alunos, devem considerar:

Estudos Culturais e Linguísticos


Identidades e Práticas Sociais
História da Educação de Surdos
ESTUDOS CULTURAIS (EC)
(Segundo Costa, Silveira & Sommer, 2003:37)
Os Estudos Culturais (EC) vão surgir em meio
às movimentações de certos grupos sociais que
buscam se apropriar de instrumentais, de
ferramentas conceituais, de saberes que
emergem de suas leituras do mundo, repudiando
aqueles que se interpõem, ao longo dos séculos,
aos anseios por uma cultura pautada por
oportunidades democráticas, assentada na
educação de livre acesso. Uma educação em que
as pessoas comuns, o povo, pudessem ter seus
saberes valorizados e seus interesses
contemplados.
ESTUDOS CULTURAIS (EC)
(Segundo Costa, Silveira & Sommer, 2003:36)
Cultura transmuta-se de um conceito impregnado de distinção,
hierarquia e elitismos segregacionistas para um outro eixo de
significados em que se abre um amplo leque de sentidos
cambiantes e versáteis. Cultura deixa, gradativamente, de ser
domínio exclusivo da erudição, da tradição literária e artística,
de padrões estéticos elitizados e passa a contemplar, também, o
gosto das multidões. Em sua flexão plural - culturas - e
adjetivado, o conceito incorpora novas e diferentes
possibilidades de sentido. É assim que podemos nos referir, por
exemplo, à cultura de massa, típico produto da indústria cultural
ou da sociedade techno contemporânea, bem como às culturas
juvenis, à cultura surda, à cultura empresarial, ou às culturas
indígenas, expressando a diversificação e a singularização que o
conceito comporta.


Os EC não constituem um conjunto articulado
de ideias e pensamentos (descentrados) >
romper com lógicas cristalizadas e
concepções consagradas.
Os EC, para Stuart Hall (1996), se constituíram
como um projeto político de oposição, e suas
movimentações sempre foram acompanhadas de
transtorno, discussão, ansiedades instáveis...

(Costa, Silveira & Sommer, 2003)
Os EC contribuíram para compreender que:
1-
os processos culturais estão intimamente
vinculados com as relações culturais (classe,
gênero, raça etc.)
2- cultura envolve poder (assimetrias nas
capacidades dos indivíduos ou grupos sociais)
3- cultura não é um campo autônomo nem
externamente determinado (o lócus da diferenças
e lutas sociais).
(Costa, Silveira & Sommer, 2003)
De acordo com o conceito do
antropólogo Goodenough (In. Nogueira
2007:47):
Cultura consiste em tudo aquilo que uma
pessoa precisa saber ou acreditar de modo a
operar de uma maneira aceitável em relação aos
outros membros. (...) É a forma que as coisas
tomam na mente das pessoas, seus modelos
para apreender, relacionar e interpretá-las
(p.167).
Identidades Culturais
Surdas
(Nogueira 2007: 42-48)



As Identidades Culturais são compreendidas nas
práticas sociais.
Identidades são formadas por meio das
diferenças e não da homogeneidade (EU x O
OUTRO).
Hall
(2000:109): identidades
devem
ser
reconhecidas “em locais históricos e
institucionais específicos, no interior de
formações e práticas discursivas específicas, por
estratégicas específicas e iniciativas específicas.”
A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS

Antiguidade
educável.
Clássica:
língua
(oral)
natureza
“língua (oral) e intelecto estão tão unidos em
nossa representação de pessoas” que, desse
modo, a “surdez parece um defeito do intelecto.”
Lane (1992)
A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE
SURDOS
> No séc. XVIII, o abade L’Epée inicia a educação surda.
Período “dourado” para os surdos.
Leitura e escrita, conteúdo escolar e cultural.
> No séc. XIX, Congresso Internacional de Educadores de
Surdos em Milão → veta-se o uso da língua de sinais
na educação dos surdos.

Objetivo: “tratar” da fala para tornar sujeito
completo, ou seja, curado: filosofia educacional
oralista.


Crença: A falta da audição e da fala afeta a
aquisição natural da língua e, por essa razão,
a competência cognitiva.
Lane (1992): Estigmas da deficiência
(doente, o surdo tem vida social pobre;
sujeito
isolado;
empobrecidos
lingüisticamente; não socializados; inválidos;
anormais
etc.)
→
auto-estima
comprometida.
O ESTIGMA
(Goffman, 1988)
Estigma é um traço que afasta o sujeito
estigmatizado
das
relações
sociais,
apagando todas as outros traços atributos
que o levariam a desempenhar papéis
sociais.
Goffman
(in. Nogueira 2007):
encontram-se
as
mesmas
características sociológicas: um indivíduo que
poderia ter sido facilmente recebido na
relação social quotidiana possui um traço
que pode-se impor à atenção e afastar
aqueles que ele encontra, destruindo a
possibilidade de atenção para outros
atributos seus. Ele possui um estigma,
uma característica diferente da que
havíamos previsto.
(...)

Se a filosofia educacional oralista promovesse de
fato a integração do surdo na sociedade:
Ele [o surdo] não seria obrigado a perceber
a
sua
identidade
como uma
identidade
deteriorada, nem se haver com a dificuldade
de entender porque aquilo que lhe havia sido
prometido não foi cumprido, isto é, ele não ser
aceito pela sociedade e ser considerado normal.
A construção fantasiosa desta “normalidade”
não o equipa com os instrumentos necessários
para poder entender as dificuldades de
aceitação (...) (Moura, 2000:87)
Segunda metade do século XX.
* Déc. de 60: status de língua para as
línguas de sinais. Inicia-se mudança na
literatura surda e auto-estima dos sujeitos
surdos.
* Déc. 80 (1988): Rev. em Gallaudet >
“libertação dos estigmas pelos surdos” >
“povo surdo” (Cultura, língua e identidades
surdas > orgulho de ser Surdo).
CULTURA SURDA
- O que é??? -
Wilcox & Wilcox (1991?):
-
-
-
Quem os Surdos pensam que são?
Pela visão êmica da CS, quem se qualifica
como pessoa Surda e quem não o faz?
Quais são as “categorias distintas de
pessoas” que a cultura Surda impõe ao
mundo?
Quem são os alguéns positivamente
caracterizados
e
apropriadamente
identificados?
Dentro de um grupo social, podem
existir
conflitos
devido
a
posicionamentos
diferentes
na
cultura, construindo, desse modo,
identidades sociais (Blom & Gumperz 2002).
SURDEZ
( Dois grupos culturais)
Pode ser vivida
como:
Surdo
Deficiente
auditivo (D.A.)
Língua de sinais
(modelo
linguístico e
cultural)
Língua oral (o
português falado) >
modelo linguístico e
cultural; rejeita a
língua de sinais.
A Educação de Surdos
- No Brasil -
Filosofias da Educação de Surdos
1) Oralismo (objetivo: a língua da comunidade ouvinte,
com foco na fala)
2 ) Comunicação Total (Objetivo: aquisição da língua da
comunidade ouvinte. A língua de sinais é um recurso
metodológico para o aprendizado da língua oral, i.e.,
sem status de língua e sua função cognitiva e social).
3) Bilinguismo (Objetivo: aquisição da língua de sinais
como a primeira língua e a língua da comunidade
ouvinte (foco na modalidade escrita) como a segunda
língua da pessoa surda, com metodologia específica de
aprendizado de uma L2.
No Brasil, a consequência do Oralismo:
FRACASSO EDUCACIONAL
- comprometimento dos conteúdos básicos
(principalmente a modalidade escrita da língua).
falta de uma língua que promova o
desenvolvimento cognitivo e emocional da
maioria dos surdos filhos de famílias ouvintes.
O NOVO DESAFIO

Década de 90:
BILINGUISMO
(L1- LIBRAS e L2 – Português)
> Proposta de educação valorizando
aprendizado de conteúdo e
desenvolvimento do aluno.
Decreto 5.626/05:
Que profissionais são essenciais
para construir uma educação
bilíngue para os alunos surdos?
Capítulo IV / Art. 14

- § 1o
III - prover as escolas com:
a) professor de Libras ou instrutor de
Libras;
b) tradutor e intérprete de Libras Língua Portuguesa;
c) professor para o ensino de Língua
Portuguesa como segunda língua para
pessoas surdas; e
d) professor regente de classe com
conhecimento acerca da singularidade
lingüística manifestada pelos alunos
surdos;




IV - garantir o atendimento às necessidades
educacionais especiais de alunos surdos, desde a
educação infantil, nas salas de aula e, também, em
salas de recursos, em turno contrário ao da
escolarização;
V - apoiar, na comunidade escolar, o uso e a
difusão de Libras entre professores, alunos,
funcionários, direção da escola e familiares, inclusive
por meio da oferta de cursos;
VI - adotar mecanismos de avaliação coerentes
com aprendizado de segunda língua, na correção
das provas escritas, valorizando o aspecto semântico
e
reconhecendo
a
singularidade
lingüística
manifestada
no
aspecto
formal
da
Língua
Portuguesa;
VIIdesenvolver
e
adotar
mecanismos
alternativos para a avaliação de conhecimentos
expressos em Libras, desde que devidamente
registrados em vídeo ou em outros meios eletrônicos
e tecnológicos;



Art. 15. Para complementar o currículo da
base nacional comum, o ensino de Libras e o
ensino da modalidade escrita da Língua
Portuguesa, como segunda língua para alunos
surdos, devem ser ministrados em uma
perspectiva
dialógica,
funcional
e
instrumental, como:
I - atividades ou complementação curricular
específica na educação infantil e anos iniciais do
ensino fundamental; e
II - áreas de conhecimento, como disciplinas
curriculares, nos anos finais do ensino
fundamental, no ensino médio e na educação
superior.
CAPÍTULO VI
DA GARANTIA DO DIREITO À
EDUCAÇÃO DAS PESSOAS SURDAS
OU COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA


Art. 22. As instituições federais de ensino
responsáveis pela educação básica devem
garantir a inclusão de alunos surdos ou
com deficiência auditiva, por meio da
organização de:
II - escolas bilíngües ou escolas comuns da
rede regular de ensino, abertas a alunos
surdos e ouvintes, para os anos finais do
ensino fundamental, ensino médio ou
educação profissional, com docentes das
diferentes áreas do conhecimento, cientes
da singularidade lingüística dos alunos
surdos, bem como com a presença de
tradutores e intérpretes de Libras Língua Portuguesa.
§
1o São denominadas escolas
ou classes de educação
bilíngue aquelas em que a Libras
e a modalidade escrita da Língua
Portuguesa sejam línguas de
instrução
utilizadas
no
desenvolvimento de todo o
processo educativo.
ESCOLA INCLUSIVA:
A problemática
AS QUESTÕES





A ESCOLA É INCLUSIVA PARA OS
SURDOS?
COMO
CONSTRUIR
UMA
ESCOLA
BILINGUE?
A SALA DE RECURSOS?
A CLASSE COMUM?
O CURRÍCULO?
O que a escola deve
trabalhar com seu aluno
surdo?
Níveis de Adaptações Curriculares
(PCN- Educ. Especial)



• no âmbito do
(currículo escolar);
projeto
pedagógico
• no currículo desenvolvido na sala de
aula;
• no nível individual.
O LINGUÍSTICO
-Aquisição
da linguagem (L1 e L2)
Aquisição da Libras
Quadros (1997) publica resultados de trabalhos
sobre aquisição da língua de sinais (ALS) por
crianças surdas filhas de surdos com o objetivo
de:
1- Conhecer o processo de ALS em crianças surdas
filhas de pais surdos;
2- Analisar sobre a ALS (L1) e suas repercussões no
ensino de crianças surdas.
Aquisição da Libras
Os estudos sobre a aquisição de língua
de sinais demonstraram que a criança
surda passa pelas mesmas fases de
aquisição da linguagem, e em períodos
idênticos, que a criança surda.
Aquisição da Libras

-
-
Sabe-se que a língua é a responsável pelo
desenvolvimento cognitivo e social da pessoa, de acordo
com isso, Quadros (1997) chega à conclusão:
A não-exposição da criança surda à sua língua de sinais,
no período natural da aquisição da linguagem (o período
crítico), causa danos à organização psicossocial da
criança;
considerando o período crítico, a criança surda de pais
ouvintes estão em situação de desvantagem em relação
às crianças de pais surdos, comprometendo seu
desenvolvimento da linguagem de modo natural e, por
consequência, seu desenvolvimento educacional.
Aprendizagem de Português
(L2):
- Reflexão na educação de surdos -
Pressuposto básico para a
aprendizagem de uma L2
PRIMEIRA LÍNGUA: LIBRAS
Ponto principal antes de
preparar sua proposta
de ensino a língua
portuguesa para surdos
Ensino de uma L2:
(1) Qual o objetivo do ensino da língua
portuguesa para o aprendiz surdo?
(2) Como levar esse aprendiz a esse
objetivo?
O problema:

Normalmente, o material didático de
ensino de língua se destina à “forma”,
prevalecendo unicamente a seleção de
itens da língua-alvo com intenção de
ensinar a estrutura do sistema em
questão. Com isso, é dispensado o
desempenho
quanto
ao
uso
(comunicação).
O problema:

“A maneira pela qual a língua estrangeira é apresentada
em sala de aula não corresponde à experiência
do aprendiz com sua própria língua fora de
sala de aula, ou nas salas de aula onde ele
usa a língua para o estudo das outras
matérias.” (Widdowson, 1991) > Conflito com a
realidade do aluno.
Desse modo,
Portuguesa:



devemos
considerar
a
Língua
Primeiramente, pensar que esta é uma segunda língua
que, conforme o Decreto 5.626/05, tem por objetivo a sua
modalidade escrita.
Levar o aprendiz ao domínio de leitura e escrita >
métodos de ensino de uma língua estrangeira / segunda
língua.
Proporcionar ao aprendiz a capacidade de relacionar e
construir saberes em relação aos sistemas
linguísticos da língua oral e da língua de sinais. Para
isso, devemos lembrar que língua implica cultura, desse
modo valorizar a cultura do aluno e compreender a sua
importância no processo ensino-aprendizagem.
Estratégias de ensino de L2
- Exemplos -
A escolha de um texto deve explorar o
conteúdo real

> apelo ao interesse do aprendiz;

>buscar a linguagem não-verbal: charges, quadros,
fotografias etc.;

montar diagramas ou quadros informacionais (linguagem
não-verbal);

> a relativa familiaridade do conteúdo já ter sido
previamente apresentado ou comentado pelo professor
na libras.
A leitura de uma L2:
(Quadros, 1997:97)

1) Aspectos formadores do texto (títulos,
parágrafos, marcadores enunciativos,
conectivos etc.);

2) Palavras-chaves;

3) O conhecimento de mundo do leitor.
A ESCRITA EM L2:

O aluno deve ser capaz de reconhecer
os
diferentes
propósitos
comunicativos, com diferentes tipos de
textos; ser capaz de narrar, descrever,
debater, persuadir, fazer inferências,
hipóteses etc.
Conclusão sobre a educação
de surdos
Primeiramente:

Para construção de uma educação
bilíngue,
há
necessidade
do
reconhecimento do aluno surdo como
sujeito que faz parte de um grupo cultural
diverso do ouvinte. Isto significa
reconhecer a cultura surda e as
identidades surdas no espaço da escola.
-
A questão linguística é a problemática na educação de
surdos.
- O surdo aprende a escrita da Língua Portuguesa como um
estrangeiro.
- Há a necessidade de métodos específicos (linguísticos e
culturais) para letramento de sujeitos surdos. Considerando
o letramento em libras e em língua portuguesa.
- Com relação ao português, experiência pouco proveitosa
com gêneros textuais, isto é, não é suficiente para incluir o
surdo no mundo da leitura, havendo a necessidade de
trabalhá-los, mostrando suas funções e o modo em que a
língua está disposta para a construção do gênero em
questão.
Referências bibliográficas
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from:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141324782003000200004&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1413-2478. doi: 10.1590/S1413-24782003000200004.