216 Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 22, no. 2, Junho, 2000 Uma Analise Semi-Classica para Teoria de Perturbac~ao na Forma Rosana B. Santiago Departamento de Eletr^onica Qu^antica, Instituto de Fsica, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rua S~ao Francisco Xavier 524 Maracan~a, 20550-013, Rio de Janeiro,Brazil e L. G. Guimar~aes Departamento de Fsica Nuclear, Instituto de Fsica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Cx. Postal 68528, 21945-970, Rio de Janeiro,Brazil. Recebido em 13 de janeiro, 2000 Neste trabalho, baseados na regra de quantizac~ao de Bohr-Sommerfeld e nos efeitos de tunelamento, mostramos que e possvel estimar o espectro de energia de pocos de potencial nitos por meio do comportamento do espectro de um poco innito equivalente. In this work based on Bohr-Sommerfeld quantization rule and wave function tunneling eects, we show that it is possible to estimate the energy levels of a nite conning potential well comparing the energy spectrum of this one with the behavior of the spectrum of an innite well. I Introduc~ao Em geral, nos cursos introdutorios de fsica moderna n~ao e uma tarefa facil introduzir o conceito de tunelamento. Acreditamos que isto1 se deva em parte a aus^encia de uma analogia clara deste fen^omeno com outros da mec^anica classica. Aqui vamos tentar mostrar que a ideia de comprimento de tunelamento pode ser vista como uma escala natural de medida de dist^ancia espacial. Por outro lado, certos problemas em fsica podem ter seu estudo facilitado por meio de teorias perturbativas. Em geral, na teoria de Rayleigh-Schrodinger modelamos o potencial relacionado ao problema real como sendo um potencial exatamente soluvel superposto a uma pequena perturbac~ao. Aqui veremos que estes conceitos podem tambem ser estendidos as teorias semi-classicas. Para tanto, faremos um estudo do espectro de energia de pocos nitos utilizando as ideias do modelo de mec^anica qu^antica de Bohr para a quantizac~ao de movimentos periodicos. Com isto, mostraremos que o problema de determinac~ao do espectro de energias mais baixas de pocos nitos e analogo ao calculo dos mesmo nveis de energia de um poco mais largo porem delimitado por barreiras mais altas. Para tanto, e necessario que o conceito e os efeitos de tunelamento sejam introduzidos como novas escalas de comprimento associadas ao problema. 1 Este trabalho esta organizado da seguinte forma. Na segunda Sec~aII exporemos as ideias basicas relacionadas a teoria semi-classica de perturbac~ao na forma. Nas sec~oes posteriores estudaremos dentro deste contexto tr^es classes distintas de potenciais a saber: Harm^onico, retangular e triangular. Por m, nalizaremos o trabalho fazendo um resumo de nossos principais resultados. II O modelo semi-classico Neste trabalho vamos admitir que uma partcula de massa m seja connada por um potencial da forma: 2 ~ V (x) = 2mL 2 V0 (x ; x0) (1) Sendo uma func~ao da posic~ao da partcula e as grandezas positivas V0 e L representando respectivamente escalas apropriadas de energia e comprimento. Alem disto, sem perda de generalidade vamos admitir que x0 seja um ponto onde o potencial e a forca sejam nulos. Desta forma, estamos interessados em obter estimativas para as auto-energias associadas a seguinte equac~ao de Schrodinger unidimensional e independente do tempo: Achamos que o conceito de ondas evanescentes comumente abordado em livros-texto n~ao e muito apropriado para esta tarefa. Rosana B. Santiago e L.G. Guimar~aes ~2 d2 217 ~2 ~2 ; 2m dx2n + 2mL2 V0 (x ; x0 ) n = 2mL2 "n n ;1 < x < 1 (2) onde temos associadas as auto-func~oes n (x), as respectivas escalas "n de auto-energias (em unidades reduzidas). Alem disso, como V0 e nito, existe um numero nito nmax +1 de estados ligados, de tal forma que n = 0; 1; :::; nmax . Para fazermos uma analise semi-classica e conveniente reescrever a equac~ao diferencial(2) da seguinte forma: d2 n + k2 (x) = 0 ; ;1 < x < 1; n n dx2 onde denimos kn o momento efetivo como (3) p kn(x) "n ; V0L(x ; x0) ; x1 ("n ) x x2 ("n ); (4) sendo x2;1("n ) os pontos de retorno classicos, ou seja, s~ao os zeros do momento efetivo (kn (x2;1) = 0 ). A regra de quantizac~ao de Bohr-Sommerfeld [1] nos diz que Zx2 x1 dx kn(x) = (n + 12 ) : (5) Em geral, a regra de quantizac~ao(5) da origem a equac~oes transcendentais cujos zeros s~ao os valores possveis para as auto-energias "n . Alem disso, e interessante notar da Fig. 1, que a area hachurada sob a curva kn vale (n + 1=2). Portanto para um dado valor de "n , pode haver diferentes curvas passando por pontos de retorno proximos a x2;1, tais que sua area tambem seja (n+1=2). Para entendermos isto melhor vamos olhar para a serie de Taylor de kn (x) em torno de x0, a saber: c kn (x) L;1 p"n 2 1 ; 4"1 V0 ddx2 n x0 (x ; x0 + O(x ; x0 )2 )3 ! : (6) d Figura 1. Comportamento do momento efetivo k . Observe que k , possui um maximo em x0 e zeros em x2 1 . A regra de quantizac~ao de Bohr-Sommerfeld(5) arma que a area hachurada acima vale (n + 1=2). n n ; Desta forma uma vez que o valor de "n e adotado como xo, curvas com a propriedade de preservac~ao de area acima citada devem ter o termo entre colchetes da expans~ao em Taylor(6) bastante semelhantes. Em outras palavras, para que isto ocorra e necessario que o produto da barreira de potencial pela curvatura do mesmo na vizinhanca de x0 varie pouco. Por exemplo, sabemos que os valores das auto-energias associadas a pocos qu^anticos crescem a medida que os valores caractersticos das larguras efetivas destes pocos decrescem. Porem, isto tambem ocorre quando a altura das barrei- ras que delimitam o poco crescem. Ou seja, do ponto de vista do espectro, existe um mecanismo competitivo entre a largura de pocos versus a altura de barreiras. Este fato nos permite introduzir um procedimento sistematico de calculo de espectro de energia baseado em perturbac~ao na forma do potencial. Por exemplo, para um dado valor especco de auto-energia associada a um poco nito podemos tambem associa-la a um poco innito porem mais largo. Sendo que esta nova escala de largura do poco sera delimitada pelo comprimento de tunelamento (veja a Fig. 2)). Obviamente, este procedimento n~ao e unico. Entretanto, muitas vezes o fato da barreira de potencial ser ilimitada introduz condico~es de contorno que facilitam a resoluc~ao do problema. A Fig. 2 compara o potencial V0 (x) com o potencial modelador U0 (x). Suponha, por outro lado, que seja inviavel uma resoluc~ao exata ou mesmo semi-classica do problema real V0 (x), entretanto isto n~ao ocorra para o potencial modelador U0 (x). Desta forma, admitamos por exemplo que no limite de U0 ! 1, possamos aplicar a regra de quantizac~ao(5) ao potencial U0 (x) para estimar uma dada auto-energia sua. Sendo assim, podemos tambem estimar o espectro associado ao problema real V0 (x) de poco de profundidade nita contanto que sejam adicionadas as escalas de comprimento do problema modelado o comprimento de tunelamento (veja Fig.2). Uma vez que obteve-se explicitamente "n () aplicando-se a Eq.(5) ao potencial modelador U0 (x), a Fig. 2 sugere que uma estimativa 218 Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 22, no. 2, Junho, 2000 para o comprimento de tunelamento e a soluc~ao da seguinte equac~ao transcedental ! n x02("n ) ; x2("n ): (7) + n + 34 : (8) Nos abordamos com essas ideias problemas de pocos de potenciais nitos com formas simples tais como parabolica, retangular e triangular. A seguir exibiremos estes resultados em mais detalhes. III Comparando o oscilador harm^onico com o potencial tanh2(x) Figura 2. O espectro de um poco de profundidade V0 pode ser interpretado como sendo o espectro de um poco U0 mais profundo porem com uma `largura efetiva' maior devido ao tunelamento da func~ao de onda. No caso de pocos nitos porem discontnuos nos pontos x = xd , essas ideias podem tambem serem aplicadas. Para tanto, e necessario se utilizar uma regra de quantizac~ao similar a Eq.(5) aplicavel ao caso de potenciais discontnuos. Tal equac~ao e expressa como [2] Zx2 x1 dx kn(x) = ; lim !0 X d (xd ; ) arctan kkn (x n d + ) Neste trabalho, denimos como potenciais contnuos aqueles que com excec~ao da origem x = 0 (que por ventura pode se tornar um eixo de simetria de invers~ao) s~ao em todo restante do eixo real func~oes innitamente diferenciaveis (C 1 ). Em caso contrario, dizemos que o potencial e discontnuo, e se torna necessario se impor como condic~ao de contorno a continuidade da funca~o de onda e sua derivada nestes pontos de discontinuidade. Vamos inicialmente analisar o problema de uma partcula sujeita ao potencial dado por (x) = 1 tanh2(x=s) x<0 0 < x < 1; (9) onde s e o alcance do potencial. Para resolvermos o problema acima[3] e conveniente fazermos a mudanca de variavel = tanh(x=s) na equac~ao diferencial(3), obtendo c d ;1 ; 2 d n + s 2 V ; (V0 ; "n ) (10) 0 n = 0 ; ;1 < x < 1: d d L 1 ; 2 Observando que a Eq. (10) e a equac~ao diferencial das func~oes associadas de Legendre e que alem disso, tambem temos que impor a condic~ao de contorno que n se anule na origem, segue-se ent~ao que as auto-energias s~ao dadas por 2 (2n + 3=2)pV (s=L)2 + 1=4 ; 1 [2(n + 1)(2n + 1) + 1=2] : (11) "n = (s=L) 0 2 (s=L)2 d Por outro lado, segue da regra de quantizac~ao (5) que "n satisfaz p 2 V0 (2n + 1) 1 ; (2n +p1) : "n = (s=L) (12) 2(s=L) V0 Uma vez que V0 e nito, a dist^ancia entre nveis consecutivos diminui a medida que n cresce. Este tipo de comportamento nos permite estimar nmax , ou seja, admitindo que nmax e um ponto crtico da Eq.(12) obtemos que p nmax s V20 ; 1 : (13) Para V0 = 200 e s = L, a Fig. 3 mostra todos os possveis nveis de energia(11). E interessante notar que para estes valores de V0 e s, a Eq.(13) fornece que nmax 6:57. Comparando os resultados numericos nos Rosana B. Santiago e L.G. Guimar~aes casos exato (11) e semi-classico (12), vemos, da tabela 1, que a medida que n cresce os dois resultados se aproximam. Isto e um comportamento tpico dos resultados semi-classicos, uma vez que a aproximac~ao((5) e t~ao melhor quanto mais afastados estejam os pontos de retorno x1 e x2 . Por outro lado, do ponto de vista de suas formulas explcitas, comparando o resultado exato (11) com o resultado semi-classico (12), vemos que no caso de pocos muito profundos ou largos, que este ultimo resultado pode ser interpretado como o limite assintotico do primeiro (veja a tabela 1) para mais detalhes). Alem disso para pocos muito profundos (V0 ! 1), podemos notar de (12) que a separac~ao entre nveis consecutivos e quase constante. Este fato sugere que neste limite podemos modelar o comportamento do potencial (9) como o de um oscilador harm^onico do tipo: x<0 (x) = 1 (14) (x=r)2 0 < x < 1 219 p 2 V0 (2n + 1): "n = (r=L) (15) Portanto, para uma dada auto-energia "n , a soluc~ao de (15), se adotarmos r ! rn = s + n . Segue de (7) que neste caso particular, uma estimativa para o comprimento de tunelamento e dada por n s "n =(2V0 ): (16) Figura 4. Potenciais (9) com o modelador (14). Para os estados a) Fundamental e b) Primeiro Excitado com V0 = 200 e s = L: Figura 3. Perl do potencial (9) e seus respectivos nveis de energia (11) para V0 = 200 e s = L: n 0 1 2 3 4 5 6 "Exato n 39.95291510 86.55680190 125.1606887 155.7645755 178.3684623 192.9723491 199.5762359 "BS n 27.28427124 75.85281371 116.4213562 148.9898987 173.5584411 190.1269836 198.6955261 Erro(%) 31.70893495 12.36643216 6.982489942 4.349305212 2.696676945 1.474493892 0.441289914 Tabela 1: Comparaca~o das auto-energias para V0 = 200 e s = L, com o resultado exato " (veja Eq.(11)) com o resultado semi-classico " dado pela Eq.(12). Observe na ultima coluna que o erro relativo entre os dois resultados decresce a medida que n cresce. Exato n BS n Desta forma, uma vez que no caso do oscilador harm^onico os resultados exato e semi-classico coincidem, segue que as auto-energias devem satisfazer a equac~ao Vemos que (12) e (15) possuem o mesmo comportamento assintotico quando V0 ! 1. Isto signica que para obtermos o espectro, podemos resolver simultaneamente Eqs.(15 e 16) ao inves de resolvermos Eq.(12). Certamente isto se tornaria extremamente util caso n~ao fosse possvel se obter explicitamente (12) ou (11). Para V0 = 200 e s = L, as Figs. 4a e b mostram para o estado fundamental e primeiro estado excitado respectivamente os possveis potenciais modeladores do tipo oscilador harm^onico (14). Note-se, como era de se esperar, que em ambos os casos os potenciais modeladores s~ao mais 'largos' que o potencial nito(9). Passemos agora a aplicar estas ideias a potenciais discontnuos. IV Os potenciais nitos retangular e triangular Inicialmente para analisar estes dois tipos de potenciais e conveniente se introduzir um fator 2 nas escalas de energia, de forma que as equac~oes de Schrodinger (2) e momento efetivo kn (veja a Eq.(4)) passam a ser respectivamente reescritas como 2 2 2 2 2 2 ~ d n ~ ~ ; 2m dx2 + 2mL2 V0 (x ; x0) n = 2mL2 "n n ;1 < x < 1; (17) 220 com Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 22, no. 2, Junho, 2000 p kn(x) "n ; V0L(x ; x0 ) x1 ("n ) x x2 ("n ): (18) Sendo assim, denimos o potencial retangular nito como s=2 (x) = 0V ;; jjxxjj < (19) > s=2 : 0 Como este potencial e par, suas auto-func~oes possuem paridade denida. Isto introduz a util condic~ao de cont^orno que as auto-func~oes mpares e a primeira derivada das pares devam se anular na origem. Desta forma exigindo tambem a continiudade da derivada logartmica de n em x = s=2 ou em x = ;s=2, pode-se mostrar [1] que o espectro e soluc~ao da seguinte equac~ao transcedental e dada por + 1)2 2 : "n (V0 ) (s(n + 2 L=s)2 A Eq.(24) acima pode ser interpretada como o espectro de energia de um poco innito porem com uma largura n(L=s)+s+n (L=s), onde cada fator proporcional a n deve-se ao tunelamento da func~ao de onda nas duas regi~oes classicamente proibidas ;1 < x ;s=2 e s=2 < x 1. Observe que com isto para os nveis de mais baixa energia podemos fazer uma estimativa rudimentar para o espectro, como sendo (n + 1)22 "n (V0 ) 2 q 2 s + 2 L= V0 ; [(n + 1)=s] com n nsmax : (25) De forma analoga podemos estudar o problema de um poco triangular nito. Neste caso, denimos o potencial da seguinte forma 2 s (21) s + 2`n ; onde denimos uma escala de comprimento `n dada por ! r `n (V0 ) pL" arctan 1= V" 0 ; 1 : n n (22) Observe que no limite de V0 ! 1, `n e da mesma ordem do comprimento de tunelamento (7) (veja Fig.2) ou seja (24) n ! r s p" + 2 arctan 1= V0 ; 1 = (n + 1) L n "n s n = 0; 1; :::; nmax (20) No caso de aplicarmos a regra de quantizac~ao(8) obtemos um resultado analogo a (20) onde troca-se (n + 1) ! (n + 3=4). Nos dois casos, uma maneira mais conveniente de se escrever (20) e a seguinte 2 2 "n (V0 ) = (n +s1) 2 =L : `n p L (23) V0 ; "n s n Um vez que `n ! 0 quando V0 ! 1, ent~ao podemos neste limite reescrever (21) como (x) = 2V0 jxj =t para jxj < t=2 V0 para jxj > t=2: (26) Novamente o potencial e par e t e seu alcance. Porem neste caso as func~oes de onda com paridade denida s~ao combinac~oes lineares de func~oes regulares Ai e irregulares (no innito) Bi de Airy [4]. Desta forma, usando a simetria das auto-func~oes do problema e exigindo a continuidade da sua derivada logartmica em x = t=2, o espectro de energia tem que satisfazer a seguinte equac~ao transcendental c r 0 (n (x)) ; ;nBi0 (n (x)) p 22 V0 Lt Ai = ; V0 ; "n ; Ai(n (x)) ; ;nBi(n (x)) x=t=2 p onde denimos n (x) 3 22 V0 L=t (x ; t "n =V0) e, 0 (n (0)) 1 Ai Ai( n (0)) n n ;n 2 (1 + (;1) ) Bi0 ( (0)) + (1 ; (;1) ) Bi( (0)) ; n n 3 (27) (28) d Em geral, a soluc~ao numerica de (27) n~ao e uma tarefa trivial. Porem aplicando-se a regra de quantizac~ao (8) ao potencial (26) obtem-se um resultado relativamente simples para o espectro, a saber "n 23 (t +V02` ) n 2=3 n + 43 2=3 Rosana B. Santiago e L.G. Guimar~aes 221 com n = 0; 1; :::; ntmax ; (29) onde `n e descrito pela Eq.(23). De forma analoga ao problema do poco retangular, podemos interpretar (29) como sendo as auto-energias associadas a um poco triangular innito porem com sua largura efetiva t + 2`n mais larga que o caso nito. Essa diferenca entre larguras deve-se a penetrac~ao da func~ao de onda nas regi~oes classicamente proibidas. Alem disso para ambos os tipos de pocos tanto retangular como triangular, usandose as formulas semi-classicas acima podemos estimar os seus respectivos numeros maximos de estados ligados, nsmax e ntmax , tais que p nsmax 2 s V0 ; 1; (30) p ntmax 43 t V0 ; 32 : (31) Comparando (30) com (31), vemos que para pocos de mesmas larguras e alturas, o poco retangular permite a exist^encia de mais estados ligados que o triangular. Isto deve-se a variac~ao com a energia dos pontos de retorno associados ao poco triangular, fato este que n~ao ocorre no caso retangular. A Fig. 5 compara os nveis de energia de pocos retangular com triangular que possuem barreiras de mesma altura (V0 ) e largura (t = s = L). Os smbolos com formas quadradas e triangulares representam os resultados semi-classicos que s~ao dados respectivamente pelas Eqs.(24 e 29) enquanto que as barras verticais s~ao os resultados numericos exatos obtidos resolvendo-se (20) e (27) respectivamente. Observe que neste casos, nsmax = 27 > ntmax = 17 conrmando os resultados semi-classicos dados em (30) e (31). V Conclus~ao Neste trabalho, atraves de argumentos semi-classicos, mostramos que e possvel se estimar o espectro de pocos nitos modelando-os por potenciais tambem connantes com larguras efetivas maiores, porem cujas barreiras possam ser innitas. Este acrescimo na largura do poco modelador deve-se basicamente a penetrac~ao da funca~o de onda nas regi~oes classicamente proibidas. Com essas ideias, abordamos problemas de pocos de potenciais nitos com formas simples tais como parabolica, retangular e triangular. Estes resultados se mostraram bastante simples e satisfatorios quando comparados com os resultados exatos descritos em geral em termos de func~oes especiais. Desta forma, acreditamos que a metodologia semi-classica aqui proposta seja uma pequena contribuic~ao para uma compreens~ao pedagogica dos mecanismos inerentes da mec^anica qu^antica como por exemplo, o tunelamento. Este trabalho tem apoio parcial das ag^encias de fomento CNPq e FAPERJ. Figura 5. Nveis de energia de pocos retangular com triangular com barreiras de mesma altura (V0 ) e largura (t = s = L). Os quadrados, os tri^angulos e as barras verticais representam os resultados semi-classicos e exatos dados respectivamente pelas Eqs.(24, 29) e Eqs.(20, 27). V0 = 200 e s = L. 222 Revista Brasileira de Ensino de Fsica, vol. 22, no. 2, Junho, 2000 References [1] E. Merzbacher, Quantum Mechanics, (John Wiley & Sons, N. Y., 1970). [2] M. V. Berry, K. E. Mount, Rep. Prog. Phys. 35, 315 (1972). [3] L. G. Guimar~aes, J. Phys. 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