Capítulo 1
Introdução
Nos países considerados desenvolvidos, o ambiente térmico tem um papel fundamental na saúde e bem-estar do trabalhador, tendo em conta o tempo prolongado
que se está encerrado dentro de edificações. Os ocupantes dos edifícios procuraram
sempre criar condições de conforto para o seu ambiente de trabalho, sendo que, em
média, na Europa permanece-se 90% do tempo encerrado em edifícios. Como
resultado desta constatação, desenvolveram-se nos últimos cinquenta anos vários
estudos na área do ambiente térmico, quer laboratoriais, quer de campo, estes
sendo obviamente mais reduzidos.
As pesquisas desenvolvidas em laboratório partem da teoria do balanço térmico
entre o corpo e o meio ambiente. Esta é influenciada por fatores particulares dos
ocupantes, fatores físicos e caraterísticas do ambiente. A diversidade de variáveis
em causa, essencialmente a suscetibilidade individual, leva a abordagens diferenciadas na análise desta temática.
Do ponto de vista físico e fisiológico, o ser humano é representado como um
sistema térmico, portanto, a sua interação com o ambiente baseia-se no balanço
térmico representado por vários parâmetros, contudo, como é sabido estes, não
podem prever as respostas psicológicas. A sensação térmica está relacionada com o
«como a pessoa sente». Os métodos subjetivos apresentam-se assim como uma
ferramenta para avaliação de respostas psicológicas, ou seja, sensação térmica e
conforto. Várias escalas têm sido aplicadas na avaliação subjetiva sendo que, são
aceites internacionalmente várias escalas onde se destaca a norma ISO 10551
(2001). Este método não requer a utilização de equipamentos de medição, o que
leva à seguinte questão: se estamos na presença de um método com uma aplicação
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AMBIENTE TÉRMICO E VENTILAÇÃO
menos onerosa e porventura tão fiável, como os chamados métodos diretos, porque
não é utilizado, de forma abrangente, pela comunidade técnica e científica?
A análise oriunda de pesquisas de campo é muito importante, pois só através
delas é possível conhecer a influência de condições climáticas e culturais, face à
abordagem mais estanque dos modelos baseados em análise laboratorial.
Outras vertentes emergem desta pesquisa, ou pelo menos cruzam-se, com
algumas das variáveis em estudo. São exemplo disso a qualidade do projeto e a
execução do mesmo, nas edificações novas ou reconstruídas, com implicações
necessariamente no conforto e na racionalização da energia. A importância de
manter o clima interior adequado é evidente, quando se considera que em qualquer
economia moderna uma parte significativa do Produto Interno Bruto é obtido por
meio de pessoas que trabalham em edifícios do tipo administrativo ou afins. O
desafio do projeto é assim, cada vez maior e mais importante. A falta de atenção ao
projeto, não pode ser analisada isoladamente, pois, como se poderia conceber um
ambiente termicamente aceitável quando não se conhecem os parâmetros de
aceitabilidade térmica de seus ocupantes?
Dentro das vertentes emergentes, as instalações técnicas especiais, nomeadamente as instalações de Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado (AVAC), assim
como o vestuário dos ocupantes, principalmente aqueles que usam fardamento,
merecem uma análise mais profunda dado se considerar que estas variáveis são
medidas relevantes de minimização e controlo, em conforto térmico.
Estes e outros assuntos serão abordados nos próximos capítulos, tendo como
ponto de partida como criar um adequado ambiente térmico em locais de trabalho.
 Justificação para o desenvolvimento
Historicamente falando, os primeiros modelos de ambiente térmico em espaços
habitados foram modelos de natureza empírica, baseados nas sensações térmicas
subjetivas experimentadas por indivíduos sujeitos a diferentes ambientes térmicos.
No início do século XX, Houghton F. C. & Yaglou, desenvolveram a escala de
temperatura efetiva, assente unicamente em estímulos ambientais. Esta escala permitia estimar a sensação térmica subjetiva devido aos efeitos combinados da temperatura do ar, da humidade e da velocidade do ar, para a atividade sedentária típica
em edifícios de serviços e residenciais. A avaliação crítica da escala de temperatura
efetiva permitiu concluir a necessidade de repensar a contribuição de cada um dos
fatores ambientais na definição da sensação térmica e de contabilizar o efeito de
outros fatores como a radiação (solar e de grande comprimento de onda), o metabolismo e o vestuário. Percebeu-se também a possibilidade de modelar o corpo
humano como um sistema termodinâmico cujo controlo da transferência de calor
INTRODUÇÃO
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com o exterior depende de mecanismos fisiológicos de termorregulação. Desenvolveram-se desde então diversos ensaios controlados (em câmaras especialmente
concebidas) em que os indivíduos exprimiam a sua opinião sobre a sensação de
conforto térmico quando se variavam gradualmente as condições ambientais.
Se internacionalmente existe vasta literatura nesta área, em Portugal não. Até
hoje, nenhum livro se dedica, em exclusivo, ao ambiente térmico, apenas há referências a este tema ou alguns capítulos estão integrados noutros mais genéricos.
Tendo em conta esta avaliação e com base na tese de doutoramento efetuada na
área, optou-se pela elaboração de um documento de fácil leitura e aplicação prática
para técnicos de Higiene e Segurança no Trabalho, entidades inspetivas e para
apoiar o ensino técnico, politécnico e universitário.
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