Como Otimizar as Propriedades dos Produtos Têxteis
para Melhorar o Conforto Térmico?
How to optimize textile properties in order to improve thermal comfort?
Kulpa, Cínthia C.; Ms; Universidade Federal do Rio Grande do Sul
[email protected]
Ballarini, Dorothy; Ms; Universidade Federal do Rio Grande do Sul
[email protected]
Moraes, Helton S. de; Ms; Universidade Federal do Rio Grande do Sul
[email protected]
Resumo
O objetivo deste artigo é criar um referencial bibliográfico buscando revisar o estado-da-arte
sobre o conforto térmico e a engenharia de tecidos para o conforto térmico. Pretende-se com
isto levantar questões que permitam chegar a um entendimento mais amplo sobre a termoregulação e sua interação com a roupa e a percepção individual de cada ser humano em
relação ao conforto térmico.
Palavras Chave: Conforto térmico, engenharia de tecidos, termo-regulação.
Abstract
The objective of this article is to create a bibliographic referential looking for to revise the
state-give-art on the thermal comfort and the engineering of woven for the thermal comfort. It
is intended with this subjects that allow to arrive to a wider understanding about the termregulation and this interaction with the clothes and the individual perception of each being
human in relation to the thermal comfort to get up.
Keywords: Thermal comfort, engineer textiles, term-regulation.
A relação entre as tipografias nas interfaces computacionais para usuários de baixa visão.
Introdução
A busca por tecidos melhores tem acompanhado o homem há séculos. Do uso de peles
de animais, evoluiu-se para a fabricação de tecidos com fibras naturais, depois fibras
sintéticas, tecidos técnicos, e recentemente alguns tecidos inteligentes, que utilizam avanços
da engenharia de materiais, nanotecnologia, informática e cibernética (TETRINNO
SMARTEX PROJECT, 2007).
Pode-se citar ao menos quatro propriedades elementares associadas com o conforto
que a roupa proporciona (GOLDMAN, 2005):
1. Estilo (fashion), que consiste na adequação da peça de roupa às tendências da
moda.
2. Toque (feel), que consiste na sensação tátil que a roupa proporciona.
3. Caimento (fit), que consiste na adequada distribuição de pressão da roupa sobre a
pele, evitando a sensação de pressão excessiva ou restrição de movimentos.
4. Função (function), que consiste no adequado equilíbrio entre proteção térmica e
mecânica da roupa, e sua inevitável influência sobre os mecanismos termorreguladores de seu
usuário.
O crescente interesse pelo melhor desempenho da roupa em condições ambientais
variáveis e em diferentes níveis de atividade física, tanto no esporte quanto em atividades
profissionais ou de risco, proporcionou uma grande evolução do conhecimento sobre a termoregulação e sua interação com a roupa, seus materiais e suas propriedades micro-estruturais
(HUANG, 2006; KWON et al, 1998).
A crescente oferta de vestimentas esportivas de alto desempenho e a aplicação dos
materiais nelas utilizados em artigos de uso diário e mesmo de moda, vem tornando os
consumidores mais conscientes e exigentes. Entretanto, devido à ampla variabilidade
individual quanto às condições de conforto térmico e até mesmo quanto ao que pode ser
definido como conforto térmico, além do comportamento altamente dinâmico das condições
ambientais, fisiológicas e psicológicas que influem nesse conforto, a elaboração de
conclusões definitivas sobre esse tema ainda requer diversos estudos (GOLDMAN, 2005).
Assim sendo, alguns dos maiores problemas do design e da engenharia de tecidos para
o conforto térmico são: conhecer os elementos que determinam os comportamentos físico,
fisiológico e psicológico do conforto térmico; conhecer o modo como esses elementos se
relacionam entre si, de forma estática e dinâmica; e aprender como otimizar as propriedades
de conforto térmico das roupas, a partir desses conhecimentos.
Este artigo busca revisar o estado-da-arte a respeito desses problemas e das soluções
que para eles vêm sendo propostas nos últimos anos. Na primeira parte, serão mencionados os
aspectos físicos e termodinâmicos das trocas de calor entre dois meios. Em seguida, será
descrita a fisiologia da termo-regulação humana, incluindo recentes avanços científicos na
área. Na terceira parte, serão abordados os fatores subjetivos e psicológicos da percepção do
conforto térmico, e as variáveis não-térmicas que contribuem para essa percepção. Será feita
ainda uma sucinta descrição dos tecidos técnicos para conforto térmico atualmente existentes
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
A relação entre as tipografias nas interfaces computacionais para usuários de baixa visão.
no mercado, seus materiais, processos de fabricação e os respectivos princípios de
funcionamento.
Termo-regulação Humana
O homem, enquanto animal homeotérmico tem sua temperatura corporal rigidamente
controlada em uma faixa muito estreita, ao redor de 37°C. À temperatura de 40°C,
aproximadamente, há desnaturação de proteínas e ruptura de membranas celulares, tornando
inviável a manutenção da vida. O objetivo da manutenção de uma temperatura interna
relativamente alta e tão próxima da temperatura limite é evolutivo: permite um metabolismo
mais rápido, maior velocidade e agilidade independentes da temperatura ambiente, maior
complexidade das atividades do sistema nervoso central, e a possibilidade de ocupar
ambientes com variabilidade térmica mais ampla (IVANOV, 2006).
A manutenção de uma temperatura constante, entretanto, requer um conjunto sofisticado
de sistemas reguladores, que agem em diversos níveis. Na zona termo neutra, o fluxo de calor
para o meio ocorre de forma passiva. O fluxo sangüíneo da pele sofre oscilações contínuas,
especialmente em determinadas regiões que servem como radiadores de calor (as mãos nos
seres humanos, ou as orelhas nos coelhos, por exemplo), propiciando um controle fino e
muito preciso do balanço térmico corporal (id, 1999).
Para Ivanov (2006) no calor há um incremento do fluxo sangüíneo da pele aumentando
em até oito vezes a condução de calor interno para a superfície – onde ele é eliminado por
irradiação e convecção – e uma produção abundante de suor que aumenta em até dez vezes a
perda evaporativa de calor para o meio. No frio, o fluxo sanguíneo da pele é praticamente
nulo. O maior tônus muscular pode aumentar a produção interna de calor em 50%. No caso de
frio intenso ou prolongado, o tônus se transforma em tremores, que aumentam a produção
basal de calor em até 250%).
Segundo Guyton (2006) o mecanismo termo-regulador mais eficaz, entretanto, é o
controle comportamental desencadeado pela sensação de desconforto térmico, que faz com
que o homem procure passar a maior parte de sua vida em zonas termo neutras, abrigando-se
do frio ou do calor; construindo casas e sistemas de aquecimento; confeccionando e utilizando
roupas.
Pode-se questionar qual dos níveis de ação da termo-regulação é o primário ou mais
importante e para isso convém questionar o objetivo e o objeto da termo-regulação em si.
Como já foi dito, o objetivo da homeostase térmica é a manutenção de uma estreita faixa de
temperatura onde o metabolismo se desenvolve de forma ótima. Entretanto, sabe-se que o
controle térmico do organismo é influenciado não só pela temperatura do núcleo térmico do
corpo, mas também pelo fluxo de calor através da pele (Ivanov, 1999) e pelo set-point
determinado pelo hipotálamo, que depende, entre outros fatores, da temperatura da pele.
É interessante notar que existem receptores especializados para a percepção do calor e
do frio, sendo esses últimos, dez vezes mais abundantes na pele, o que denota uma
necessidade evolutiva mais acentuada em combater a diminuição da temperatura corporal
(GUYTON, 2006).
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A relação entre as tipografias nas interfaces computacionais para usuários de baixa visão.
Segundo Ivanov (1999) recentemente mostrou-se que a localização de termo-receptores
na pele obedece uma distribuição em camadas e que os sinais emitidos pelas respectivas
camadas chegam a regiões distintas do hipotálamo, onde são comparados. Desse modo o
fluxo de calor é medido através do gradiente de temperatura entre as camadas da pele e não
apenas a temperatura cutânea por si só.
Percebe-se que o sistema termorregulador é influenciado de forma dinâmica, não só pela
temperatura e pelo fluxo de calor como também pelas respectivas taxas de variação. Além
disso, os sistemas reguladores fisiológicos apresentam um elevado ganho e uma tendência
antecipatória, que faz com que mecanismos homeostáticos entrem em ação antes mesmo que
haja qualquer mudança significativa da temperatura do corpo. Na zona de conforto, isso é
possível graças à medição do fluxo de calor trans-cutâneo ao invés da temperatura em si. Vale
ressaltar ainda, que a tendência antecipatória dos mecanismos fisiológicos encontra-se
integrada com a grande sensibilidade dos controles comportamentais em resposta ao
desconforto térmico (BULCAO et al, 2000).
Conforto Térmico em Condições Uniformes
Ashrae (1992) define conforto térmico como “o estado mental que denota satisfação com
o ambiente térmico”. Embora bastante natural, essa definição é difícil de traduzir em
parâmetros físicos. A preocupação com o conforto térmico é de grande importância no
planejamento da temperatura de ambientes de trabalho, e existe uma bem estabelecida
normatização para o conforto térmico de ambientes (ISO, 1995). Essa normatização considera
o nível médio de atividade metabólica, o isolamento térmico proporcionado pela roupa, e as
variáveis ambientais, como temperatura radiante média, e temperatura, umidade relativa e
velocidade do ar.
A percepção do conforto térmico varia individualmente além de provocar diferentes
sensações subjetivas em diferentes indivíduos, num dado ambiente. Segundo Fanger (1970)
os métodos PMV (Predicted Mean Vote) e PPD (Predicted Percentage of Dissatisfied) são
usados para avaliação do conforto térmico de ambientes.
O isolamento de um traje completo é calculado pelo somatório dos isolamentos
individuais de cada peça e visa estabelecer a relação entre condições ambientais idealmente
constantes (temperatura, velocidade do ar e umidade relativa) ao nível de atividade
metabólica e combinação de roupas. Permitindo estimar a temperatura ideal para cada
vestimenta em diferentes níveis constantes de atividade (FANGER, 1970).
Ivanov (1999) afirma que, mesmo em condições de conforto térmico, o sistema
termorregulador atua continuamente para manter um equilíbrio fino entre a produção interna
de calor e sua perda para o meio. Para Hamada (et al, 2006) este é o principal motivo para a
ampla variabilidade individual na avaliação da sensação térmica de um determinado
ambiente.
Assim sendo, para uma correta abordagem dos efeitos da roupa sobre a termo-regulação
e o conforto, são importantes não apenas o isolamento térmico, mas também a permeabilidade
ao vapor, higroscopicidade, capilaridade, tempo de secagem, condutividade, refletividade,
enclausuramento de ar, pressão exercida sobre a pele, entre outras grandezas.
O índice de permeabilidade representa a relação entre a perda de calor evaporativa da
roupa e a perda evaporativa do corpo nu. A transmissibilidade evaporativa torna possível
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comparar dois trajes de diferentes isolamentos térmicos. O “coeficiente de bombeamento” é
um fator que influi consideravelmente no conforto que a roupa proporciona e representa a
contribuição do movimento do usuário para o aumento das trocas de calor por aumentar a
circulação e renovação de ar entre a roupa e a pele.
O conhecimento dessas propriedades tem permitido o aprimoramento dos materiais e das
técnicas de fabricação de tecidos técnicos, que consideram mais completamente os fatores
físicos, fisiológicos e psicológicos envolvidos no conforto térmico (MONDAL et al, 2007).
Conforto Térmico em Condições Não-Uniformes
A análise ergonômica de conforto térmico discutida até agora considera níveis leves ou
moderados de atividade em condições ambientais razoavelmente controladas, onde espera-se
que os indivíduos permaneçam na zona de conforto durante todo o tempo. A sudorese não é
acionada e as propriedades térmicas da roupa se mantêm constantes. Em situações de
heterogeneidade das variáveis ambientais, atividade metabólica intensa ou em ambientes fora
da zona de conforto, como durante a atividade esportiva ou industrial, as condições de
conforto térmico se comportam de forma bastante distinta daquela prevista pelo modelo de
condições uniformes e constantes.
Segundo Hamada (et al, 2006) a geração de calor induzida por exercício aciona a
sudorese mesmo antes do aumento de temperatura corporal. Goldman (2005) afirma que caso
a roupa utilizada não apresente boa permeabilidade, haverá acúmulo de suor com conseqüente
aumento da temperatura da pele, sensação de calor e abafamento, diminuição do rendimento
físico e estímulo comportamental para remover a roupa.
Os tecidos, que quando secos servem como isolantes térmicos, passam a funcionar como
condutores de calor (Guyton, 2006; Kwon et al, 1998), e fibras naturais hidrofílicas, que
dificultam a evaporação do suor, acabam produzindo sensação de frio após a interrupção do
exercício. Esse fenômeno é chamado de comportamento dinâmico ou transiente da roupa, e
influi na temperatura do tecido, bem como no fluxo de calor e no gradiente de pressão de
vapor através da roupa (HUANG, 2006).
Estudos feitos em ambientes controlados mostram que a sensação térmica e as reações
fisiológicas podem ser influenciadas pelo resfriamento ou aquecimento apenas de
determinadas partes do corpo, e que dependem de diversas variáveis térmicas e não-térmicas
(HUIZENGA et al, 2004).
No calor, a cabeça e o rosto são percebidos como as regiões mais desconfortáveis, e no
frio essas regiões são percebidas como estando a uma temperatura maior que o resto do corpo.
Já as mãos e os pés são percebidos como mais frios quando a temperatura ambiente é baixa.
Quando as mãos e pés estão frios, a sensação térmica tende a ser menor do que se estes
estivessem à mesma temperatura do restante do corpo, considerando as outras condições
ambientais invariantes. Isso permite supor que a distribuição não-uniforme da temperatura
ambiente, que é desencorajada como possível fonte de desconforto térmico, possa ser
aproveitada positivamente, se usada de forma controlada (ARENS et al, 2006).
Percebe-se que o conforto está mais relacionado com o equilíbrio térmico, ou seja, com a
relação entre o sentido do fluxo de calor na pele e a variação da temperatura interna, do que
propriamente com o valor da temperatura da pele. Outro parâmetro que pode ter grande
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influência no conforto térmico é a quantidade de correntes de ar (draught rate) incidindo
sobre o indivíduo (ISO, 1995). Uma vez que a pele é mais responsiva às variações da
temperatura do que a seu valor absoluto, a incidência de vento na pele gera continuamente
estímulos sensitivos (ARENS et al, 2006).
Assim sendo, a necessidade de combater ou estimular a incidência de correntes de ar
sobre a pele depende diretamente da zona térmica em que o indivíduo se encontra.
Fatores Não-Térmicos
O conceito de conforto térmico também está ligado a aspectos subjetivos que dizem
respeito à análise das percepções de cada indivíduo, dependendo de uma série de fatores:
ânimo, local, adaptação, cores, cultura do indivíduo e hábitos alimentares que afetam seu
metabolismo (CLARK, 1994). Além destes fatores, Howell (et al, 1981) aponta fatores
fisiológicos como: a influência da temperatura percebida pela pessoa, onde tendem a produzir
hábitos e alterações metabólicas (por exemplo: capacidade de suar, alteração no fluxo
sangüíneo, etc), desejo de se sentir mais aquecido ou mais refrescado, atividade
desempenhada, vestimenta utilizada, sobre-peso (que irá funcionar como isolante térmico),
altura, sexo e idade, onde o indivíduo com idade mais avançada tem maior preferência por
ambientes com a temperatura mais elevada.
Luna (et al, 2002) relata pesquisas desenvolvidas com indivíduos em ambientes frios
onde a produtividade foi maior e a fadiga desenvolveu-se mais lentamente, em comparação à
ambientes quentes. Esta afirmação é baseada, possivelmente, nas características
homeotérmicas que o ser humano possui, pois segundo Lins (2002) ao tentar se adaptar às
temperaturas variadas no seu habitat altera não só o seu metabolismo, mas também o seu
rendimento físico, psicológico e mental.
A Cor Como Fator Não-Térmico
A sensação provocada pela cor pode ser utilizada para melhorar as condições de
conforto térmico de um indivíduo, devido à sua capacidade em transformar percepções
visuais em sensações.
A cor é um fenômeno óptico provocado pela ação de um feixe de fótons sobre células
especializadas da retina, que transmitem através de informação pré-processada no nervo
óptico, impressões para o sistema nervoso. A cor de um material é determinada pelas médias
de freqüência dos pacotes de onda que as suas moléculas constituintes refletem.
Um objeto terá determinada cor se não absorver justamente os raios correspondentes à
freqüência daquela cor. A cor é relacionada com os diferentes comprimentos de onda do
espectro eletromagnético. São percebidas pelas pessoas, em faixa específica (zona do visível),
e por alguns animais através dos órgãos de visão, como uma sensação que nos permite
diferenciar os objetos do espaço com maior precisão.
Para Pedrosa (et al, 2005) a cor é uma sensação causada pela reflexão dos raios
luminosos incidentes em um determinado objeto, percebida pelo órgão da visão e interpretada
pelo cérebro, e se apresenta em diversas situações do nosso cotidiano, como uma informação,
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em conjunto com outros elementos que compõem a linguagem visual. A distinção que se faz
entre as cores quentes e frias chama-se sensação térmica da cor.
Segundo Jackson (et al, 1994), a temperatura das cores designa a capacidade que as
cores têm de parecerem quentes ou frias e de transmitirem estas sensações ao ser humano. São
consideradas cores quentes: o vermelho, o laranja e o amarelo. As cores quentes são mais
dinâmicas, mais ativas e, portanto, mais atraentes que as cores frias. Elas são estimulantes
enquanto as frias relaxantes. As cores quentes aceleram a corrente sangüínea, elevam a
pressão arterial e alteram os batimentos cardíacos, conseqüentemente modificam a
temperatura corporal.
São cores frias: azul, turquesa e violeta. O verde e o magenta são cores marginais, onde
seu caráter depende da cor que esteja ao redor. Quando a cor que estiver ao redor do verde for
fria, o verde irá aparentar cor “quente”, se for uma cor quente, irá aparentar cor “fria”.
As cores acromáticas, branco, cinza e preto, podem adquirir o caráter quente ou frio;
basta uma pequena alusão a uma cor. O cinza estabelece um nível intermediário na percepção
visual, amortecendo a sensação térmica devido sua imparcialidade (JACKSON et al, 1994).
O artifício das cores na utilização em tecidos para conforto térmico é um fator nãotérmico que induz o indivíduo às sensações desejadas de calor ou frio, apesar de não serem
necessariamente quentes ou frias. Um tecido na cor preta absorverá mais calor devido à sua
propriedade de ausência absoluta de resistência à luz, portanto não é a cor mais indicada para
tecidos que serão expostos a temperaturas elevadas. Já as cores claras e o branco, por terem
como principal característica a reflexão dos raios luminosos, permitem ao indivíduo uma
sensação maior de conforto térmico, quando expostos a altas temperaturas.
As cores não possuem peso real, mas perceber-se objetos com cores mais claras (por
conterem mais branco) como sendo mais leves que objetos com cores mais escuras, esta
percepção também interfere nas sensações de conforto térmico do indivíduo, pois a aparente
leveza de um tecido pode caracterizar maior flexibilidade, agilidade e trocas sensíveis de
calor.
Tecidos Técnicos
Tecidos técnicos (technical fabrics) são tecidos para uso industrial ou confecção
produzidos com métodos de engenharia onde os materiais e os processos de fabricação são
selecionados de forma a conferir ao tecido determinadas propriedades funcionais otimizadas,
como resistência, elasticidade, permeabilidade/impermeabilidade, capilaridade, refletividade,
etc.
Todos os tecidos comercialmente disponíveis que objetivam proporcionar conforto
térmico em condições climáticas variadas e em diversos níveis de atividade buscam,
basicamente, manter a temperatura e a umidade da pele em níveis adequados (BICYCLE
APPAREL, 2007). No caso de roupas para o calor, isso é feito pela rápida eliminação do suor,
que deve evaporar na superfície externa da roupa, mantendo-a seca e evitando o resfriamento
excessivo e a sensação de umidade após a interrupção de exercícios. No caso de roupas para
frio, busca-se ainda a impermeabilidade à chuva e a relativa impermeabilidade ao vento.
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Diversas estratégias são utilizadas em roupas para a prática de atividade aeróbica,
com o objetivo de aumentar a permeabilidade e a evaporação do suor. O uso de micro-fibras
hidrofóbicas de poliéster em malhas finas faz com que o suor escoe através da malha e
evapore na superfície externa da roupa, além de impedir a obstrução dos poros da roupa por
líquido, o que dificultaria a evaporação. Essas roupas têm um rápido tempo de secagem,
evitando a perda térmica excessiva. Há tecidos que, para obter esse efeito, usam tratamento
químico das fibras. Enquanto outros apresentam uma modificação química da própria fibra,
que ao entrar em contato com a água faz com que ela migre para a superfície externa da
roupa, podendo refrigerar algumas partes do corpo e aquecer outras simultaneamente.
Outro meio de fazer com que o suor líquido seja absorvido na camada interna da
roupa e exposto à evaporação na camada externa é a construção de tecidos com gradiente de
capilaridade. A camada externa com maior capilaridade atrai o líquido que entra em contato
com a camada interna. Esta, por sua vez, permanece seca e confortável. Tecidos com esse
princípio são: Drylete, Hydrator e Procore (Hind); Dryline (Millikin Co), Fieldsensor (Toray
Ind) e Polartec Powerdry (Malden Mills).
O aproveitamento da tensão superficial e da capilaridade é também aproveitado
com a produção de fibras contendo sulcos longitudinais que funcionam como canais de
escoamento para o suor líquido. Tais tecidos incluem o Coolmax (Invista), Technofine
(Tomen) e o Innova (American Fibers and Yarns Co). Esta última apresenta malha com baixa
condutividade térmica, para evitar a perda térmica excessiva quando estiver seca, a
temperaturas ambientais mais baixas.
O tecido Hydroweave (AquaTex Industries) apresenta uma exclusiva construção
em três camadas, onde a camada intermediária deve ser previamente encharcada com água,
que vai evaporando ao longo de várias horas, absorvendo o calor da pele pela camada interna
condutiva e enviando-o para o meio através da camada externa porosa.
O desenvolvimento de roupas para uso no frio, inclusive em atividades esportivas,
deu origem a diversos sistemas e tecidos que protegem do frio, do vento e da chuva, e ainda
proporcionam boa permeabilidade ao vapor, permitindo conforto e desempenho em diversos
níveis de atividade física. Esses tecidos consistem de revestimentos para fibras ou membranas
poliméricas, cujos poros têm diâmetro consideravelmente menor do que as gotas de chuva,
mas ainda bem maior do que as partículas de vapor. Esse princípio é usado em diversas
marcas.
As pesquisas de ponta na tecnologia têxtil envolvem os chamados tecidos
inteligentes (smart textiles), que se caracterizam por modificar suas propriedades de acordo
com estímulos externos, como deformação, calor, eletricidade, magnetismo, luz, etc.
(TETRINNO SMARTEX PROJECT, 2007).
O comportamento térmico de um tecido pode ser modificado pela adição de microcápsulas de materiais que trocam de fase, os chamados PCMs (phase-change materials). Ao
ser aquecido durante um aumento da atividade física, o tecido contendo PCM troca de fase,
absorvendo calor e mantendo uma temperatura constante, evitando que haja aumento
excessivo da temperatura da pele. Ao esfriar, o tecido libera calor, contribuindo para
manutenção de uma temperatura de conforto após cessado o exercício. A empresa Outlast,
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que produz o tecido com mesmo nome, vem produzindo tecidos com PCM para diversas
aplicações em vestimentas, roupas de cama, material para camping, entre outros. Entretanto, o
efeito regulador só ocorre durante a mudança de fase, sendo que acima ou abaixo da
temperatura de troca a roupa apresenta as propriedades térmicas do tecido sem PCM.
Uma possibilidade ainda mais avançada consiste no uso dos tecidos inteligentes, ou
smart textiles – que não devem ser confundidos com materiais inteligentes. Nesses tecidos, a
incorporação de funções computadorizadas, com uso de miniaturização e nanotecnologia,
permite que a roupa responda ativamente a estímulos, e altere seu comportamento de forma
autônoma, com a energia proveniente de células eletro-químicas ou solares.
Considerações finais
Os conhecimentos científicos sobre a participação da roupa na termo-regulação humana
e no conforto térmico vêm apresentando consideráveis avanços provenientes da Física, da
Biologia e da Engenharia.
A busca de uma roupa "ideal", que possibilite ao seu usuário uma sensação plena de
conforto e liberdade em qualquer situação, tem sido o objetivo de consumidores cada vez
mais exigentes, e o alvo das pesquisas mais avançadas da indústria têxtil. Diversos produtos já
se encontram disponíveis no mercado, incorporando o estado-da-arte da tecnologia de tecidos,
mas muito ainda falta compreender, desenvolver e integrar a respeito dos fatores envolvidos
no desempenho desses tecidos.
À medida que aumenta a compreensão sobre as sutilezas das reações e percepções
humanas na sua interação com o ambiente que o cerca, mais fica claro o caráter multifatorial,
não-linear e dinâmico dessa interação. Isso se aplica especialmente bem para a termoregulação e o conforto térmico.
Com a incorporação dos novos conhecimentos e tecnologias, a modelagem e o projeto
da contribuição da roupa deverá ser feito de forma menos simplificada, e além de seu
isolamento térmico passarão a ser analisados efeitos transientes de suas propriedades, como
permeabilidade ao ar e ao vapor, porosidade, e gradientes de temperatura e umidade. A
compreensão desses fenômenos deverá permitir não só prever e evitar efeitos indesejados da
roupa, mas também planejar propriedades térmicas que cooperem com a fisiologia humana.
Os mecanismos de termo-regulação, mesmo em zonas de conforto, estão constantemente
monitorando e corrigindo as trocas térmicas do corpo humano com o ambiente. A roupa,
nesse sentido, funciona como um “ambiente artificial portátil”, com um micro-clima próprio,
o que fatalmente interfere com os delicados mecanismos de termo-regulação. Essa
interferência é freqüentemente combinada com aquela existente nos ambientes com arcondicionado, uma outra forma de clima artificial, com outras formas próprias de
interferência nos mecanismos de termo-regulação. Não é incomum que o ar-condicionado seja
utilizado para compensar o desconforto térmico causado pela roupa, e o contrário também é
válido, e esse parece ser o motivo pelo qual o modelo PMV/PPD jamais consegue a satisfação
total de todos os ocupantes de um ambiente. A transformação de interferência em
contribuição para a termo-regulação é um dos campos que mais merece atenção, tanto na
tecnologia de roupas quanto na de climatização e ar-condicionado.
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A utilização de materiais e de tecidos inteligentes parece ser um campo fértil de pesquisa
e desenvolvimento, pois estes também apresentam comportamento dinâmico e não-linear,
respondendo de forma qualitativamente distinta a pequenas variações de estímulos físicos ou
químicos. A integração entre as ciências físicas, biológicas e psicológicas, de forma
interdisciplinar, será de fundamental importância para a correta incorporação e integração dos
avanços provenientes dessas áreas, de forma a obter roupas cada vez mais eficientes e
confortáveis.
Deve-se lembrar, mais uma vez, que apesar da utilidade fundamental da roupa na
complementação dos mecanismos fisiológicos de termo-regulação, e mesmo apesar dos
diversos avanços tecnológicos, o sistema de controle desenvolvido pela natureza ao longo de
milhões de anos de evolução continuará sendo o mais perfeito e completo de que dispomos, e
ele estará sempre presente e ativo, exercendo suas funções – com o auxílio das roupas ou
apesar delas.
A mesma cultura que nos diferencia dos outros animais, e que nos permitiu utilizar os
mecanismos comportamentais para a fabricação de roupas, criou para ela funções adicionais
cuja satisfação simultânea muitas vezes é incompatível. Cabe então, além de buscar o
conhecimento completo da intrincada relação entre a roupa e seu usuário, questionar o bomsenso com que as funções que se espera da roupa são planejadas e especificadas, tanto pelos
fabricantes quanto pelos seus usuários.
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