ESCOLHA DE “ANOS- PADRÃO” PARA O ESTUDO DO CONFORTO TÉRMICO EM FORTALEZA, CE: VERIFICAÇÃO
DE CRITÉRIOS.
ESCOLHA DE “ANOS- PADRÃO” PARA O ESTUDO DO CONFORTO TÉRMICO
EM FORTALEZA, CE: VERIFICAÇÃO DE CRITÉRIOS.
Marcelo de Oliveira Moura
Departamento de Geociências/UFPB
[email protected]
Maria Elisa Zanella
Departamento de Geografia/UFC
[email protected]
CLIMATOLOGIA: APORTES TEÓRICOS, METODOLÓGICOS E TÉCNICOS.
RESUMO
O trabalho propõe verificar critérios de escolha de anos- padrão que melhor represente a habitualidade
e excepcionalidade dos eventos de conforto e desconforto térmico em Fortaleza. A eleição de anospadrão é um procedimento necessário no emprego da técnica da análise rítmica, ferramenta
metodológica de investigação dos tipos de tempo em sua sucessão habitual e extrema, condição que
estabelece o ritmo climático, paradigma da climatologia geográfica proposto por Monteiro (1969,
1971). Três critérios de escolha de anos-padrão foram avaliados: 1) critério convencional, isto é, via
avaliação da pluviosidade; 2) critério proposto por Funari (2006) que considera o comportamento da
temperatura do ar e 3) critério proposto com base em valores gerados por um índice de conforto
térmico (índice Te). A avaliação dos critérios revelou que a eleição de anos-padrão pode acontecer
tanto pelo comportamento das chuvas como por meio das variações do índice Te. Já o critério de
Funari (2006) só é válido para escolha do ano padrão habitual.
Palavras - chave: Anos-Padrão, Conforto Térmico, Fortaleza.
ABSTRACT
The present study aims to verify criteria for selection of standard-years that better represent the
habituality and exceptionality of thermal comfort and discomfort events in Fortaleza. Election of
standard-years is a procedure required when rhythmic analysis technique is employed. This is a
methodological tool used for the investigation of weather types in their habitual and extreme
succession, condition that establishes the climatic rhythm, which is a geographical climatology
paradigm proposed by Monteiro (1969, 1971).Three criteria for selecting standard-years were
assessed: 1) conventional criterion, i.e. via for assessing pluviosity; 2) criterion proposed by Funari
(2006) which considers the air temperature behavior; and 3) criterion proposed based on values
created by a thermal comfort index (Te index).The evaluation of the criteria revealed that the election
of standard-years may occur both by rain behavior and by Te-index variations.The Funari’s criterion
(2006) has been only valid to select the habitual standard year.
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ESCOLHA DE “ANOS- PADRÃO” PARA O ESTUDO DO CONFORTO TÉRMICO EM FORTALEZA, CE: VERIFICAÇÃO
DE CRITÉRIOS.
Key-words: Standard-years, Thermal Comfort, Fortaleza.
1.INTRODUÇÃO
A escolha de períodos padrão é um procedimento adotado no emprego da análise rítmica,
técnica proposta por Monteiro (1969, 1971, 2000). A análise rítmica é o subsídio metodológico e
técnico na investigação geográfica dos tipos de tempo em sua sucessão habitual e extrema, condição
que configura o ritmo climático. A insatisfação no tratamento climatológico através dos métodos
separativos da climatologia clássica fez Monteiro (1969, 1971, 1976) buscar no conceito de clima
proposto por Sorre (1951) a noção de ritmo climático. Tal paradigma se define como “o
encadeamento, sucessivo e contínuo, dos estados atmosféricos e suas articulações no sentido de
retorno dos mesmos estados” (MONTEIRO, 1976: 30).
Um roteiro de procedimentos a serem adotados na análise rítmica é ofertado por Monteiro
(1969, 1971, 2000) e um deles inclui a escolha de períodos “padrão” (anual, estacional, mensal ou
episódico), que expressem um quadro dinâmico das situações concretas, demonstrando a amplitude de
ocorrência dos tipos de tempo habituais, ao lado daqueles afetados por irregularidades na circulação
com capacidade de produzir situações adversas (excepcional).
Considera-se que com o emprego da análise rítmica a gênese dos atributos climáticos
formadores dos eventos de conforto/desconforto térmico em Fortaleza possa ser revelada, condição
que permitirá estabelecer os padrões climáticos e sinóticos limitantes na produção dos mesmos. Além
disso, o uso da técnica em associação com outros elementos de natureza socioambiental e
epidemiológica (sobretudo aqueles ligados as enfermidades cardíacas e respiratórias) possibilitará as
futuras pesquisas uma melhor compreensão dos eventos de desconforto térmico como fator de agravo
ao estado de saúde- doença da população.
Com o propósito de estudar o ritmo climático na perspectiva do conforto térmico em
Fortaleza, sob o recorte anual, a presente pesquisa propõe verificar critérios de escolha de anos-padrão
que melhor represente a habitualidade e excepcionalidade dos eventos de conforto e desconforto
térmico. Após estabelecer essa meta, logo emergem os seguintes questionamentos: é possível escolher
anos- padrão para o estudo rítmico do conforto térmico? Que variável climática empregar nessa
eleição? A pluviosidade é a variável mais adequada para a escolha dos anos-padrão do conforto?
Os questionamentos supracitados afloram por conta da grande parcela dos trabalhos
empregarem a pluviosidade como único critério de avaliação para escolha dos anos-padrão. Tal
escolha não poderia ser diferente, visto que, a pluviosidade foi uma das variáveis climáticas mais
estudadas pela climatologia geográfica brasileira sob o enfoque do ritmo climático em diferentes
abordagens investigativas, conforme demonstrou Zavattini (2004) em um inventário sobre o
paradigma no Brasil. Assim, grande parte das pesquisas se utiliza de análises qualitativas e/ou
quantitativas de precipitação como critério de escolha de períodos padrão anual.
Apesar da escolha dos anos-padrão sempre ocorrer via precipitação trabalhos como de Gallego
(1972) e Malagutti (1993) citados por Zavattini (2004) e a pesquisa de Funari (2006) utilizaram outras
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variáveis climáticas para escolha de períodos padrão. Este último trabalho revelou a possibilidade de
eleger anos-padrão por meio do comportamento da temperatura do ar. Nas seções seguintes ocorrerá a
verificação de três critérios de escolha de “anos-padrão” para o estudo do conforto térmico. São eles:
1) critério convencional; 2) critério proposto por Funari (2006) e 3) critério proposto com base em
valores gerados por um índice de conforto térmico.
2. ELEIÇÃO DOS ANOS-PADRÃO.
2.1 - Critério Convencional
Neste trabalho denomina-se de critério convencional os procedimentos de escolha de períodos
padrão (habituais e excepcionais) em escala anual, estacional, mensal ou episódica por meio do
tratamento quantitativo e/ou qualitativo da pluviosidade. São muitos os trabalhos que se utilizaram
desse critério no Brasil para o estudo do ritmo do clima em diferentes abordagens, entre eles cabe
mencionar as obras de Monteiro (1969 e 2000), Sant’Anna Neto (1990), Souza (1998), Barros (2003),
Sousa (2003), Baldo (2006), Zavattini (2009).
A pouca expressão do gradiente térmico na cidade de Fortaleza em termos de amplitude anual
quando comparado com a pluviosidade, fato explicado por sua posição latitudinal, justifica aplicar o
critério de eleição de anos-padrão via precipitação. A consideração de Xavier (2001) reforça a
justificativa: “[...] na nossa região o elemento climático mais importante é a pluviometria, porquanto
as variações de temperatura, umidade, etc., ou são de menor monta ou, simplesmente, são moduladas
pela chuva” (XAVIER, 2001:114).
Para a eleição dos anos-padrão em Fortaleza foi considerado os totais anuais e sazonais da
série pluviométrica 1966-2009 da Estação Meteorológica do Campus do PICI /UFC (03º 44’ LAT S e
38º 33’ LONG W; altitude: 19,5 m). Para o tratamento das variáveis seguiu-se as orientações técnicas
de Sant’Anna Neto (1990), Souza (1998) e Silva et al (2005). Das etapas do tratamento: 1) coleta e
tabulação dos dados pluviais em base anual e mensal, 2) cálculo dos totais anuais e sazonais e
obtenção dos seus valores normais e 3) análise da variabilidade anual e sazonal da precipitação pela
verificação da dispersão (desvio padrão e coeficiente de variação).
Após o tratamento e a caracterização das variáveis pluviais iniciou-se a etapa de classificação
e análise dos períodos estacionais padrão e dos anos-padrão. Foi tomado como referência para a
classificação o parâmetro sugerido por Sant’Anna Neto (1990), o qual estabelece o uso do coeficiente
de variação como critério de escolha dos anos-padrão. Do parâmetro proposto:
•
Ano Chuvoso: ano com pluviosidade elevada, com índices superiores a 25% da média normal;
•
Ano Tendente a Chuvoso: ano com pluviosidade ligeiramente elevada, próxima à média
normal, com desvio entre +12,5% a 25%;
•
Ano Habitual: ano com pluviosidade normal, cujo total pluvial situa-se dentro dos desvios
médios padrão, com variação de -12,5% a +12,5%;
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•
Ano Tendente a Seco: ano com pluviosidade ligeiramente reduzida, próxima à média normal,
com desvio entre -25% a -12,5%;
•
Ano Seco: ano com pluviosidade reduzida, com índices inferiores a -25% da média normal.
A figura 1 mostra a síntese da distribuição temporal dos desvios percentuais e identifica os
períodos padrão da precipitação. Dessa maneira, os padrões da pluviosidade anual apresentam as
seguintes características:
•
Ano Chuvoso: nessa categoria foram identificados nove anos (1971, 1973, 1974, 1985, 1986,
1994, 1995, 2003 e 2009) quantitativo que corresponde a 20,4% da série;
•
Ano Tendente a Chuvoso: é a categoria com menor participação de anos, com número de
quatro (1967, 1977, 1984 e 2004) cuja representação equivale a 9,0% do total;
•
Ano Habitual: foram identificados doze anos com pluviosidade regular (1969, 1975, 1978,
1988, 1989, 1991, 1996, 2000, 2001, 2002, 2006 e 2008), esse valor representa 27,3% de
participação da série;
•
Ano Tendente a Seco: sete anos apresentaram pluviosidade ligeiramente reduzida (1966,
1968, 1972, 1976, 1987, 1999 e 2007) esse quantitativo representa 16,0% do recorte temporal;
•
Ano Seco: se enquadra nessa categoria doze anos (1970, 1979, 1980, 1981, 1982, 1983, 1990,
1992, 1993, 1997, 1998 e 2005) montante esse equivalente a 27,3% da série.
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Quanto à distribuição sazonal das categorias padrão da pluviosidade a figura 1 indica que o
padrão Seco é o mais freqüente seguido do Chuvoso e Habitual. A seguir uma síntese das
características da variabilidade dos padrões sazonais:
•
Verão: nesse período foi constatado que a categoria Habitual apresenta o maior número de
eventos com quinze ocorrências representando 34% dos registros. Com onze eventos a
categoria Seco representa 25% dos padrões seguido das categorias Chuvoso (dez eventos;
22,7%), Tendente a Chuvoso (cinco eventos; 11,4%) e Tendente a Seco ( três eventos; 6,8%);
•
Outono: da mesma forma que no verão os eventos indicam que a categoria Habitual é a maior
em freqüência com treze episódios, o que corresponde a 29,5% dos registros. Esse mesmo
quantitativo também é presente para o padrão Seco. O padrão Chuvoso aparece em seguida
com doze eventos (27,3%), já as categorias Tendente a Chuvoso e Tendente a Seco exibem a
mesma distribuição, ou seja, com três eventos equivalente a 6,8% dos registros.
•
Inverno: para essa realidade estacional o padrão Seco exibe a maior quantidade de eventos
com um montante de vinte e dois episódios, o que representa 50% dos registros. Cabe destacar
que esse número é o maior quantitativo entre os períodos sazonais. Assim como no outono o
padrão Chuvoso aparece em seguida com quinze eventos (34%) sucedido do padrão Habitual
(quatro eventos; 9,1%), Tendente a Seco (dois eventos; 4,5%) e Tendente a Chuvoso (um
evento; 2,3%)
•
Primavera: A ordem dos padrões nessa estação é mesma encontrada para o período do
inverno. Desse modo, o padrão Seco apresenta o maior número de eventos com dezenove
registros, valor este equivalente a 43,2% dos episódios seguido do padrão Chuvoso (onze
eventos; 25%), Habitual (seis eventos; 13,6%), Tendente a Seco (cinco eventos; 11,4%) e
Tendente a Chuvoso (três eventos; 6,8%).
Com base na distribuição e comportamento dos padrões da pluviosidade anual e estacional
apontam-se três anos-padrão representativos da excepcionalidade e da regularidade pluvial em
Fortaleza:
• Ano padrão excepcionalmente chuvoso: 1985, ano com pluviosidade muito elevada
(2900,1mm). Destaca-se que o padrão Chuvoso é presente para todas as sazonalidades do ano
1985. Os anos de 1973, 1974, 1986 e 2009 também poderiam ser representativos dessa
tipologia, todavia, indicam um período sazonal sem a presença da categoria Chuvoso.
•
Ano padrão habitual: 2002, ano com pluviosidade próximo da média histórica (1734,9mm). A
escolha do ano se justifica em função de ser o único da série a exibir somente uma categoria
fora do Habitual para os recortes estacionais.
•
Ano padrão excepcionalmente seco: 1979, ano com pluviosidade muito reduzida (987,5mm) e
que exibiu todos os padrões sazonais na categoria Seco. Outros anos, como 1980, 1983, 1992,
1993, 1998 e 2005 apresentam pluviosidade muito irregular e poderiam se enquadrar nessa
classificação, porém, apresentam pelo menos um período estacional sem a categoria Seco.
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2.2 - Critério Funari.
Busca-se neste item verificar um critério de escolha de anos-padrão via avaliação do
comportamento da temperatura do ar. O critério a ser avaliado foi proposto por Funari (2006) e
aplicado para a análise rítmica episódica (mensal e horária) do conforto térmico na cidade de São
Paulo.
A proposta emprega a escolha do ano padrão habitual por meio do valor estatístico
bidimensional (coeficiente de correlação de Pearson e regressão simples) mais elevado de um ano de
uma série temporal, quando comparado com a média normal de um determinado período. A partir
dessas orientações foi eleita a série média mensal da temperatura do ar de 1966-2009 da Estação
Meteorológica do Pici-UFC (03º 44’ LAT S e 38º 33’ LONG W; altitude: 19,5 m). Dos
procedimentos: 1) coleta e tabulação da temperatura do ar em base mensal, 2) cálculo dos valores
normais mensais e 3) cálculo do coeficiente de correlação de Pearson e de regressão simples para cada
ano da série.
A tabela 1 exibe as médias mensais e os coeficientes de correlação de Pearson e regressão
simples para o período 1966-2009 e revela que o ano 1971 apresentou os maiores valores de tendência
da série com R= 0,968 e R2
=
0,937. Tais atributos elegem 1971 como ano padrão habitual para o
estudo rítmico do conforto térmico em Fortaleza.
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Embora o critério aponte o ano de 1971 como habitual, acredita-se que outros anos da série
poderiam se enquadrar na categoria de ano padrão habitual, visto que, apresentam valores de
correlação e regressão bem próximos das médias mensais históricas. São eles com seus respectivos
registros de tendência: 1977 (R= 0,952 e R2 = 0,907), 1982 (R= 0,940 e R2 = 0,884) 1994 (R= 0,937 e
R2 = 0,878) e 2006 (R= 0,937 e R2 = 0,878).
Apesar da legitimidade e do pioneirismo o critério de Funari (2006) deixa lacunas no que diz
respeito à eleição dos anos- padrões excepcionais, uma vez que, só trata da escolha do ano-padrão
habitual. Todavia, Funari (2006: 89) sugere, de modo implícito, a possibilidade de estabelecer anos
extremos com seu critério.
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Sobre a escolha dos anos-padrão extremos, supõe-se que a análise de correlação seja
insuficiente para classificar um ano como extremamente quente ou frio, visto que, se trata de uma
técnica de associação e relação entre duas variáveis (FONSECA, MARTINS & TOLEDO, 1982;
TRIOLA, 1999; VIEIRA, 2012). Assim, não se pode indicar utilizando somente esse recurso que um
ano que apresentou correlação muito baixa ou nula seja considerado excepcionalmente quente ou frio.
O uso de medidas de dispersão (desvio padrão e coeficiente de variação) aplicadas à série dos
valores médios mensais da temperatura do ar, talvez seja o meio mais adequado para o
estabelecimento dos anos extremos, isso considerando a persistência e a magnitude dos desvios.
Considera-se que o uso desses critérios possa servir de complemento à proposta de Funari (2006) na
identificação de anos-padrão térmicos extremos.
2.3 - Critério proposto.
A melhor forma de identificar anos representativos para o estudo rítmico de um elemento ou
fenômeno/evento climático é por meio da análise de variação do próprio elemento, mesmo que esse
seja derivado de outros atributos meteorológicos como é caso do conforto térmico. Nesse sentido, o
presente item do trabalho sugere uma proposta de identificação de anos-padrão utilizando medidas de
variabilidade e frequência de um índice.
A escala de conforto térmico adotada na proposta se refere ao índice da Temperatura Efetiva
(Te), também denominado de índice de desconforto ou índice de temperatura-umidade, é classificada
como fisiológica e determina o alcance de zonas de conforto e desconforto térmico. Foi desenvolvida
por Thom no final da década de 1950 (AYOADE, 2010: 65) sendo obtida pela equação: Te = 0,4 x
(Td + Tw) +4,8 onde, Td e Tw são as temperaturas do bulbo seco e do bulbo úmido medidos em ºC,
respectivamente. A faixa de conforto dessa escala está no intervalo de 18,9ºC e 25,6ºC, sendo que os
valores abaixo de 18,9ºC e acima de 25,6ºC são considerados, de modo respectivo, faixas de estresse
ao frio e ao calor. Apesar de estabelecida essa faixa de conforto, a pesquisa considerou a zona de
Malhotra (AYOADE, 2010: 66), onde a Te varia de 21ºC a 26ºC, modificação essa aplicada na Índia.
Muito embora o índice Te não considere variáveis importantes para a compreensão do
conforto térmico da população como, variáveis de natureza pessoal (vestimenta e metabolismo) e
psicológica (percepção e sensação térmica) acredita-se que o estudo temporal do índice numa
associação contínua e simultânea com os atributos fundamentais do clima, da circulação atmosférica
regional e com outras variáveis importantes para a compreensão do estado de saúde-doença da
população como, condições de vulnerabilidade socioambiental e perfil epidemiológico de morbimortalidade das doenças do aparelho circulatório e respiratório possa indicar informações que
auxiliem os serviços de saúde local e de modo geral ao planejamento urbano de Fortaleza.
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Para aplicação do critério houve a necessidade da criação da série histórica do conforto
térmico (índice Te) para Fortaleza1. Para esse fim foram utilizados os valores horários da temperatura
do bulbo seco e úmido da série 1974-20092 da Estação Meteorológica do Campus do Pici-UFC (03º
44’ LAT S e 38º 33’ LONG W; altitude: 19,5 m) aplicados a equação do índice Te. Dos
procedimentos e recursos utilizados na proposta:
•
Geração e tratamento dos valores mensais e anuais por meio de recursos da estatística
descritiva: medidas de tendência central e de dispersão;
•
Uso dos valores anuais de dispersão percentual da série do índice Te;
•
Agrupamento dos desvios percentuais em intervalos de classes. O número de intervalo de
classes foi obtido por meio da aplicação da equação sugerida por Vieira (2012):
k = 1+3,3 [log ( )]
onde, k é o número de classes e
o número total de observações da série. Para a série em
questão o valor de é igual a 36;
• Determinação da freqüência do número de meses em que a média mensal do índice Te se
apresentou acima do limite da zona de conforto, ou seja, inserida numa situação de desconforto
com valor superior a 26,0ºC.
A equação do número de classes revelou seis intervalos de agrupamento para a série de 19742009 onde foram ordenados em duas categorias: Zona de Conforto e Zona de Desconforto Térmico.
Na Zona de Conforto Térmico estão inseridas as classes correspondentes aos anos que apresentaram
desvios percentuais entre -2,5% a +1,5%, índices esses que marcam, respectivamente, o limite extremo
negativo da série e o limite superior da zona de conforto.
Na Zona de Desconforto Térmico se inserem as classes cujos desvios encontram-se entre
+1,5% a > +2,5%, taxas essas que correspondem de modo respectivo, o limite inferior da zona de
desconforto e o limite extremo positivo da série do índice Te. Abaixo a descrição dos intervalos de
classes:
Zona de Conforto Térmico:
• Classe 1: ano com dispersão percentual negativa elevada, com índices entre -2,25% a -1,5%
abaixo da média normal;
1
A série histórica 1974-2009 foi gerada no ambiente do Microsoft Excel 2010 (Microsoft Corporation) no
formato de planilhas eletrônicas. A entrada dos valores horários padrões (9, 15 e 21 horas) da temperatura do
bulbo seco e úmido no software e, por conseguinte a aplicação da equação do índice Te possibilitou a geração
dos valores horários, diários, mensais, sazonais e anuais do índice.
2
O ano de implantação da Estação é 1966, no entanto os dados diários só foram disponibilizados a partir do ano
de 1974, isso por conta da série diária 1966-1973 ter sido extraviada. Logo, a Estação só dispõe dos valores
mensais para esse período. Apesar disso, a série 1974-2009 é completa e de boa qualidade, no sentido de não
possuir falhas em seus registros.
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• Classe 2: ano com dispersão percentual negativa moderada, com variação de -1,5% a -0,75%;
• Classe 3: ano com desvios percentuais situados próximo da média normal do conforto, com
índices entre -0,75% a +0,75%;
• Classe 4: ano de limite superior da zona de conforto com dispersão percentual positiva entre
+0,75% a +1,5%;
Zona de Desconforto Térmico:
• Classe 5: ano de limite inferior da zona de desconforto com desvio percentual positivo entre
+1,5 % a +2,5%;
• Classe 6: ano com desvio percentual positivo elevado, com índices superiores a +2,5% da média
normal.
A frequência de meses com médias mensais inseridas na zona de desconforto é também
utilizada como critério na proposta de eleição de anos- padrão. Acredita-se que a inserção desse
artifício complementa de forma qualitativa o critério quantitativo de variação percentual dos valores
anuais do índice T.e.
Com base nos parâmetros apresentados e considerando o agrupamento em intervalos de
categorias e classes os anos da série do índice Te foram classificados. A classificação presente no
quadro 1 mostra a distribuição dos anos em intervalos extremos e limiares da zona de conforto e
permite visualizar quais são os anos representativos da habitualidade e excepcionalidade do índice Te
em Fortaleza.
No quadro 1 a classe 3, representativa do ano habitual do conforto térmico, agrupou o maior
montante de anos da série (63,9%), seguido da classe 4 (19,4%) e 3 (11,1%). Todas essas classes estão
inseridas na categoria da Zona de Conforto Térmico. Não houve registro de agrupamento para a classe
de ano 5, classe que define o limite inferior da zona de desconforto, isso por que somente um ano da
série apresentou média acima de 26,0ºC.
Os anos de 1974 e 1998, são os únicos que se enquadraram nos parâmetros que definem as
condições extremas para a série 1974-2009, dessa forma se elege 1974 como sendo o Ano Extremo do
Conforto e 1998 como Ano Extremo de Desconforto Térmico. Como representativo do Ano Habitual
se elege o ano de 2006, tal eleição se justifica pelo fato do ano de 2006 também se enquadrar nos
limites padrões habituais dos critérios Convencional e de Funari (2006).
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Quadro 1- Identificação dos anos-padrão da temperatura do conforto para Fortaleza.
INTERVALOS
Categoria
Classe
PARÂMETROS
Dispersão Percentual
(Ano)
Nº meses com
Quantitativos e identificação
médias > 26ºC
1
Ano com dispersão
Ano
negativa elevada
Ano sem
1 ano : 2,8% da série
Extremo
-2,25% a -1,5%
registros de
(1974)
médias mensais
Negativo
Ano com dispersão
2
Zona Conforto Térmico
CLASSIFICAÇÃO
> 26ºC.
negativa moderada
4 anos: 11,1% da série
(1985, 1986, 1989, 1992)
-1,5% a -0,75%
Ano com dispersão
Ano com 1 a 4
23 anos: 63,9% da série
3
próximo da média
meses de médias
(1975,1976,1977,1980,1981*,1982*19
Ano
normal
mensais
84,1988,1990,1991,1993,1994,
Habitual
-0,75% a +0,75%
> 26ºC
1995,1997,1999,2000,2001,2002,
2003,2006,2007,2008,2009)
Ano com dispersão
7 anos: 19,4% da série
positiva
4
+0,75% a +1,5%
(1978,1979,1983,1987,1996,2004
(limite superior da zona
2005).
de conforto).
Ano com 4 a 6
Zona Desconforto Térmico
meses de médias
Ano com dispersão
mensais > 26ºC.
positiva
5
+1,5 % a +2,5%
Nenhum registro
(limite inferior da zona
de desconforto).
6
Ano com dispersão
Ano
positiva elevada
1 ano: 2,8% da série
Extremo
> +2,5%.
(1998).
Positivo
*Os anos de 1981 e 1982 não apresentam nenhum mês com média mensal >26ºC, entretanto, seus desvios anuais se
enquadram na classe 3.
3. CONCLUSÕES
O quadro 2 apresenta os anos-padrão eleitos pelos parâmetros empregados nos critérios
investigados e com base nesses indicativos conclusões são apresentadas para o estudo do conforto
térmico sob o enfoque da análise rítmica:
•
A identificação de anos-padrão pelo comportamento da pluviosidade, critério Convencional, é
uma proposta eficaz que provavelmente poderá ser utilizada em outras cidades de baixa
latitude de clima tropical equatorial, em virtude da temperatura do ar apresentar variabilidade
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DE CRITÉRIOS.
anual reduzida nessas cidades e a chuva se configurar como elemento climático de maior
variação inter-anual, além de ser um atributo determinante no comportamento temporal das
demais variáveis climáticas;
•
A eleição de anos-padrão pelo comportamento médio mensal da temperatura do ar, critério
proposto por Funari (2006), é válida, mas limitante, haja vista, que somente pela análise
estatística bidimensional dos valores médios mensais da temperatura do ar só é possível eleger
anos que apresentam comportamento próximo da normal histórica, ou seja, anos habituais;
•
A escolha de anos-padrão pela análise do comportamento do índice Te é eficiente, contudo,
exige a criação da série histórica do índice, além do estabelecimento de limiares específicos
para a série. Apesar dessas limitações, acredita-se que esse critério é adequado para indicar
anos representativos para o estudo rítmico do conforto térmico;
•
Para Fortaleza a eleição de anos-padrão para a análise rítmica do conforto térmico pode
acontecer tanto pelo comportamento das chuvas como por meio das variações anuais e
mensais do índice Te.
Quadro 2- Síntese dos critérios investigados na eleição dos anos-padrão.
Características
Extremo
CRITÉRIOS
Funari
Proposto
Uso da variação anual e
sazonal da precipitação
(desvio padrão e coeficiente
de variação).
Uso do coeficiente de
correlação e regressão
simples mais elevado
de um ano da série da
temperatura do ar.
Uso da variação anual do índice Te
(desvio percentual) e frequência de
médias mensais.
Série: 1966-2009.
Série: 1966-2009.
Série: 1974-2009.
Chuvoso: 1971, 1973, 1974,
1985, 1986, 1994, 1995,
2003 e 2009.
Seco: 1970, 1979, 1980,
1981, 1982, 1983, 1990,
1992, 1993, 1997, 1998 e
2005.
Conforto: 1974.
Não determinado.
Desconforto: 1998.
1975,1976,1977,1980,1981,1982
Habitual
ANOS-PADRÃO
Parâmetros
Convencional
1969, 1975, 1978, 1988,
1989, 1991, 1996, 2000,
2001, 2002, 2006 e 2008.
1971, 1977, 1982,
1994 e 2006.
1984,1988,1990,1991,1993,1994,
1995,1997,1999,2000,2001,2002,
2003,2006,2007, 2008 e 2009.
Por limitações não foi possível englobar nos critérios investigados outros parâmetros
fundamentais para a compreensão do conforto térmico como, elementos que representassem o agravo
dos eventos térmicos no estado de saúde-doença da população a exemplo das variáveis
epidemiológicas como, o número absoluto mensal e diário de internações hospitalares e óbitos por
doenças cardiovasculares e respiratórias de pacientes residentes em Fortaleza. A inserção dessas
variáveis poderia complementar a escolha dos anos-padrão.
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