Universidade Cândido Mendes Instituto A Vez do Mestre – AVM Muito mais que um NÃO! A afetividade e os limites na educação. Por: Karin Machado Griesinger de Corrêa Leite Rio de Janeiro 2010 1 Karin Machado Griesinger de Corrêa Leite Muito mais que um NÃO! A afetividade e os limites na educação. Trabalho apresentado à Universidade Candido Mendes, Instituto a Vez do Mestre, como condição prévia para a conclusão do curso de Psicopedagogia “Latu Sensu”. Orientador: Prof. Vilson Sérgio Rio de Janeiro 2010 2 Agradecimentos Agradeço à minha família por sempre me apoiar nas minhas decisões. Agradeço aos meus filhos, que se tornaram a minha escola diária, na arte de educar. Às minha amigas de curso, pois, sem elas, esse curso não teria sido tão prazeroso e significativo. Por fim, a todos que um dia disseram que eu não iria conseguir, estes, sem saber, me deram mais combustível para ir além... Aqui o meu muito obrigada. Kaká 3 Dedicatória Dedico essa monografia aos meus filhos, Nicole e Antonio, que desde que nasceram ensinaram-me muito. Ensinaram-me um amor que nunca pude imaginar existir. 4 Resumo Não é exagero quando ouvimos os mais velhos dizerem que educação vem do berço. Inclusive podemos acrescentar algo a mais: os limites vêm do ventre. Muito antes de nascerem, as crianças já se deparam com limites, por exemplo, físico: o útero materno. Quando nascem se deparam com uma sociedade cheia de limites e regras, quer se encontrem escritas ou não, quer tenham cunho político e ou social. Cabe aos pais, cuidadores professores determinarem a essas crianças os limites a serem seguidos na sociedade onde estão inseridos. Em particular, encontra-se a escola, um ambiente único, que incorpora limites próprios que são trabalhados diariamente por toda a equipe escolar, professores, coordenadores, psicólogos e psicopedagogos, junto aos alunos. Quando há alguma dificuldade das crianças frente ao cumprimento de limites, cabe ao psicopedagogo trabalhar com elas, de forma lúdica, situações aonde os limites são exigidos como a única forma de êxito da tarefa. 5 Metodologia Foi utilizada a metodologia de pesquisa bibliográfica, bem como a leitura de artigos que abordassem o tema limite e afetividade. Durante a leitura foram feitos pequenos resumos, incluindo nestes, exemplos e praticas a serem adotadas. Foram feitas ligações com matérias dadas durante o curso de psicopedagogia, bem como alguns trechos de slides mostrados em sala de aula. Através desse estudo pude constatar que o NÃO, quando dito com afeto e respeito, se torna um grande aliado na educação e formação da criança, preparando-a para a vida em sociedade. 6 Sumário Introdução..............................................................................8 Capitulo I Limite na dose certa ... faz bem!.........................................................10 Capitulo II O ambiente escolar ..................................................................20 Capitulo III Não só “NÃOS”, a importância da afetividade na aprendizagem......24 Capitulo IV Uma visão psicopedagogica da educação....................................29 Conclusão.............................................................................33 Bibliografia............................................................................35 7 Introdução Este trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica aonde pude constatar que educar é promover o crescimento e o amadurecimento da pessoa humana em todas as suas dimensões: psíquica, cognitiva e afetiva (corpo). Por isso, educação não se aprende só na escola, mas principalmente em casa. Às vezes se ouve dizer: “ele é analfabeto, mas é muito educado”. Não adianta ser doutor e não saber tratar os outros; não cumprir com a palavra dada; não se comportar bem; não ser gentil; não ser afetuoso, etc. Sem dúvida, a educação é a melhor herança que os pais devem deixar aos filhos; esta ninguém pode lhes roubar nem destruir. A educação não é só para as crianças e jovens; é para todos; é uma tarefa que nunca termina na vida. Aliás, alguém disse que a vida é uma escola que nunca tem férias. Cada encontro novo, cada conversa boa, cada aula, cada fato novo, cada livro, acrescenta algo em nossa educação. Na vida, aprendemos com a experiência, nossa e dos outros. É muito mais sábio quem aprende com a experiência intrapessoal, sem ter que sofrer com os próprios erros. A educação é responsabilidade, em primeiro lugar, da família. É evidente que a escola, ao transmitir os conhecimentos sistematizados, o faz segundo o conjunto de valores que elegeu para si. Isso faz com que sua filosofia e ética sejam transmitidas também. Não é verdade que se aprende mais pelo exemplo do que pelas palavras? Portanto, não é qualquer escola que serve para qualquer criança, adolescente ou jovem. Hoje, devido ao imenso corre-corre em busca da 8 sobrevivência, muitos pais escolhem a escola onde matricular seus filhos de acordo com o quesito tempo: aquela que é mais próxima de casa ou da empresa... Mas essa escolha deve ser levada muito a sério e há mais aspectos a observar que o tempo que se gasta para lá chegar. Atualmente, os pais estão, com freqüência, delegando a terceiros, escolas, creches e babas, o ato de educar. Com a justificativa de irem à busca do sustento da família, muitos se omitem na hora de dizer NÃO aos filhos, acreditando, assim, suprir as carências afetivas das crianças. As justificativas quase sempre são as mesmas: - Cansaço, porisso evitam conflitos - Culpa, acham que com bens materiais “compram” o amor da criança, muitas vezes deixada em segundo plano em prol de uma carreira - Inexperiência, por não saber como lidar com esses filhos, que muitas vezes não são o estereótipo do filho dito perfeito - Por quererem proporcionar aos filhos algo que nunca tiveram, liberdade Enfim, são inúmeros os motivo para que esses pais não saibam dizer NÃO aos seus filhos. No entanto, dentro das escolas, e na vida, há limites e regras a serem cumpridos por esse individuo, que na maioria dos casos, não aceitam tais imposicoes de conduta, gerando, em alguns, um comprometimento pedagógico. Cabem a nós, psicopedagogos, desenvolvermos projetos e trabalhos atuando neste campo. Promovendo um ambiente propicio para a resignificação do conceito de limites e regras, garantindo assim, um desenvolvimento global desse cidadão. 9 Capitulo I Limite na dose certa ... faz bem! Diante destas situações, que exigem limites, muitos pais encontram-se perdidos: O que fazer? Brigar, gritar, conversar, proibir, exigir, relevar? Em meio a toda esta confusão, acabam depositando na escola e em outros nos profissionais a esperança de uma solução. O que está acontecendo então? Parece que somente conseguimos passar de um pólo para o outro. E como tudo na vida - e em educação não é diferente - nem tanto ao mar, nem tanto a terra. Nem oito, nem oitenta. O ideal é justamente buscar o meio termo. É importante que todos os pais saibam que dar limites é bom, as crianças gostam e precisam. Nesse ponto, faz-se necessário especificarmos o que estamos denominando de limites. Entendemos limite como aquilo que dá contorno, que dá forma a algo, que protege o corpo, o cognitivo e o psíquico, permitindo que este se discrimine do meio. Ao encararmos o limite dessa forma, percebemos que ele é fundamental no desenvolvimento de todo ser humano, pois é o que permite que o mesmo desenvolva uma noção clara de si mesmo na relação com o mundo, o que envolve perceber até onde se pode ir e quando começa o espaço e o direito do outro. Essa percepção é de muito valor para as crianças, pois precisam de noções claras, seguras e, na medida do possível, constantes a respeito do mundo, das coisas, das pessoas e das possibilidades de inserção e interação. Na medida em que as crianças nada sabem a respeito do mundo, cabe aos adultos essa "apresentação" que, se realizada de forma clara, objetiva e justa oferecendo às crianças a sensação de cuidado, de proteção e de segurança. 10 O limite situa, dá consciência da posição ocupada dentro de algum espaço social - a família, a escola e a sociedade como um todo. A criança precisa de regras: o convívio social exige isso e as regras dão a sensação de conforto e segurança. É uma tirania deixar à criança a responsabilidade de, sempre, escolher, segundo suas motivações e desejos pessoais, o que é bom para ela. A sociedade é muito complexa, e criança precisa e quer um guia para entrar neste emaranhado de valores que é a cultura. O valor do limite é levar a criança ao que o mundo é para que, depois, ela possa transformá-lo se assim desejar. Dessa forma, é preciso que nos desvencilhemos da idéia de que limites são imposições arbitrárias realizadas pelos adultos junto às crianças de forma vertical e autoritária. É verdade que tal concepção é a que se encontra presente no senso comum, mas torna-se necessário diferenciá-la da concepção que aqui tentamos apresentar o que implica em uma importante distinção entre autoridade e autoritarismo. A importância dos limites serem dados desde a primeira infância: Se entendermos limites como o contorno necessário ao desenvolvimento saudável das crianças, concluímos que estes devem ser apresentados desde o momento do nascimento. Tal afirmação vai de encontro à máxima de que "a criança é que deve ditar seu próprio ritmo" que, apoiada pelas idéias de respeito, aceitação e permissividade como facilitadores do desenvolvimento psicológico, acaba por transformar os lares e as famílias em um verdadeiro caos, ditados pelo "ritmo” de um recém-nascido que só possui a referência da vida intra-uterina e que nada sabe a respeito desse outro mundo, de suas regras e de suas possibilidades de vida e convivência familiar e social. 11 Tais regras e possibilidades devem ser apresentadas por esses adultos e não podem ser "adivinhadas" ou construídas pela criança que acabou de nascer. Um importante limite na primeira infância é a questão dos horários. É fundamental que as crianças tenham hora para comer, dormir e brincar. São estes primeiros limites que lhe darão condições de aceitar os próximos que certamente terão de vir. Por outro lado, isso não significa ignorar e/ou desrespeitar as necessidades básicas das crianças em cada momento de sua vida. Equilíbrio entre o que apresentar pronto e o que permitir ser construído é a peça chave de um desenvolvimento saudável. À medida que o desenvolvimento é um processo e em cada momento contamos com os elementos anteriores, não podemos aguardar uma determinada idade para que limites sejam apresentados; eles precisam ser apresentados de forma progressiva, sempre respeitando as possibilidades de cada faixa etária. Uma vez que tais crianças nunca experimentaram limitações, ou experimentaram poucas limitações em suas ações, elas costumam apresentar violentas reações aos limites que "de repente" começam a ser apresentados, sentindo-se confusas acerca das regras do viver e do conviver e, particularmente, desconfiando do amor desses adultos que de uma hora para outra resolveram ser "malvados" e intolerantes. Infelizmente, essa é a armadilha na quais inúmeros pais encontram-se presos atualmente. Ao conceberem a idéia de limites como algo ruim, agressivo e impeditivo para seus filhos, principalmente quando eles ainda são "tão pequenos', deixam de oferecer experiências fundamentais de frustração, que servem como "treino' para inevitáveis limitações e frustrações mais amplas em momentos posteriores da vida, inclusive na idade adulta. Assim, ao tentar estabelecer limites para uma criança de seis anos, que nunca teve limites claros e que sempre foi protegida de toda e qualquer frustração, os pais deparam-se com uma 12 enorme dificuldade de aceitação e compreensão por parte da criança e acabam ficando cansados, confusos e raivosos, tornando toda a situação ainda mais difícil para todos os envolvidos. Assim, a partir da primeira infância a criança precisa perceber que existem coisas que ela pode fazer e coisas que ela não pode fazer. Se cada vez que a criança apresentar determinada atitude, o adulto agir da mesma forma, aos poucos a tendência é que ela vá deixando de lado tal atitude, assumindo outra que lhe dê um retorno positivo. Uma vez que a necessidade de aprovação costuma ser uma das necessidades predominantes da criança, ela progressivamente irá aceitando as limitações apresentadas em sua inserção no mundo. O pediatra e psicanalista britânico Donald Winnicott dizia: “É saudável que um bebê conheça toda a extensão da sua raiva. Na vida, existe o princípio do desejo e o princípio da realidade. Uma criança imediatamente, nada’, como frustração. a quem ‘a quem dizem os Muitos se cede nunca pais, desses em se suporta pais que tudo recusou mal a cedem sempre vêem o filho no presente, ao passo que aqueles que sabem dar sem mimar vêem o filho no tempo e no futuro. Eles lhe oferecem perspectivas, lhe mostram o valor do desejo e da espera, para melhor saborear o que é obtido.” Características gerais dos limites. Os limites que fornecem o "contorno" do qual falamos são: 13 - horários organizadores da rotina da criança; - oportunidades de escolha responsável de acordo com a faixa etária; - direitos iguais para todos os filhos, guardadas as proporções de cada faixa etária; - respeito ás diferenças individuais de cada criança; - respeito ás necessidades do outro, seja adulto ou criança; - valores éticos que permeiam a vida em relação à honestidade, justiça e responsabilidade. É preciso que o limite seja claro, compreensivel e, de preferência, argumentado, levando-se em conta a faixa etária da criança, para que se evite interpretações equivocadas. Firmeza na colocação: sem hesitações e expressões não-verbais congruentes com a linguagem verbal, também são de suma importância. Crianças pequenas não entendem que hoje podem fazer algo e amanhã não. Tampouco compreendem que a mamãe diz que aquilo não pode ser feito, mas apresenta uma expressão de satisfação, rindo ou brincando. "Às vezes", "só um pouquinho", "depende", "só se você fizer isso ou aquilo", são expressões que confundem e não oferecem "contorno". Crianças entendem o sim e o não. O que pode, pode; o que não pode, não pode; uma vez dado o limite é fundamental que ele seja mantido. É de crucial importância que não se prometa coisas que não serão possíveis de executar, nem se façam ameaças que não serão cumpridas. Da mesma forma, uma vez dado o limite, é fundamental que ele seja mantido. 14 Quando os pais impõem limite e depois não sustentam, a criança fica com a sensação de que a palavra do adulto não vale nada, gerando insegurança e desconfiança e abrindo possibilidades para manipulações. "O que servia para a infância deles já não serve mais para os filhos. Acho que os pais precisam se educar para serem pais. Ser pai biológico já não é suficiente. Os pais não estudam, não se preparam e acham que serão capazes de educar os filhos em um mundo que é completamente diferente do mundo em que eles nasceram" (Tiba,2006) Se não existir coerência entre os adultos, a criança fica com a percepção de que aquilo não é tão importante, já que cada um pensa de uma forma distinta. Se a criança percebe que está ocorrendo desentendimento entre os adultos, ela pode começar a manipular a situação de forma a conseguir sempre tudo que deseja "alternando" entre os adultos de acordo com suas necessidades. Os limites incidem sempre sobre o comportamento e nunca sobre os sentimentos envolvidos na situação. Os sentimentos precisam ser experimentados, aceitos e canalizados para formas adequadas e construtivas de expressão. Assim, podemos falar em três tempos do limite: - apresentar o limite; - reconhecer e validar o sentimento envolvido na situação; 15 - oferecer alternativas para a expressão do sentimento envolvido. Para dar limites aos filhos, os pais também precisam ter limites. Ninguém pode dar o que não tem e o exemplo dos pais é fundamental. Não se pode exigir algo que não se faz, pois a criança tende a percebêlo como um castigo ou discriminação. Isso é condição necessária para se tornar uma autoridade legitimada. Comportar-se coerentemente com as regras impostas, pois a criança precisa de exemplos encarnados dos valores. Não se aplicam limites a crianças visando seu próprio interesse e/ou prazer pessoal e nem se deve usá-los como desculpa para pouca paciência ou tolerância quanto às necessidades da criança. Para Mônica Donetto Guedes, psicoanalista e psicopedagoga, existem diversos tipos de pais, abaixo o quadro comparativo. PAIS MUITO TOLERANTES: - Não conseguem junto às crianças estabelecerem regras e limites. - Pensam que um comportamento inadequado é passageiro (não se pode entender como uma fase que irá passar). - Justificam-se na sua própria infância (“eu também era assim”). O Adulto que não lida bem com frustrações é provável encontrar dificuldade em dizer “alguns nãos” que seus filhos precisam ouvir. PAIS PERMISSIVOS: - Deixam por conta da criança a responsabilidade de tomar decisões. Ex: comer fora de hora, levar um brinquedo para a escola fora do dia estabelecido. - Consideram os limites prejudiciais à criatividade 16 Riscos Viver experiências ou receber informações sem que tenham adquirido capacidade para filtrar e assimilar e, sendo assim, se proteger físico e emocionalmente. Responsabilidade se constrói! PAIS SUPERPROTETORES: - defendem os filhos mesmo nas situações onde eles não têm razão Ex: “é meu filho e sempre terá razão.” - Cedem, mesmo sabendo que não deveriam... Desautorizam-se: criança que acaba conseguindo o que quer. Filhos de pais superprotetores: EMOCIONALMENTE: Tornam-se mimados. Não aceitam o “não” como resposta e não atendem às solicitações. SOCIALMENTE: Tornam-se inconvenientes, apresentam dificuldades em relacionar-se, pois se acham o “umbigo do mundo”. INTELECTUALMENTE: Apresentam bons resultados nas áreas de interesse, no entanto, diante das primeiras dificuldades, são capazes de transferir a responsabilidade. Ex: para os pais e professores Risco > Lembre-se: proteção demais desprotege! 17 PAIS AUTORITARIOS: - São aqueles popularmente conhecidos como “donos da razão”; controladores, rígidos e inflexíveis. Com idéias pré-estabelecidas. - Não abrem espaço para que a criança questione. - Usam com freqüência o castigo e as agressões verbais ou físicas como instrumento para “coagir” ou “corrigir” o que chamam de desvio de conduta. Filhos de pais autoritários: - Tornam-se crianças passivas e passam a incorporar as idéias, sem que algumas dessas idéias façam sentido. Ex: repetem este movimento nas relações externas à família ou, inversamente, podem se colocar a repetir o que os pais fazem, coagindo os colegas. - Tornam-se pessoas pouco flexíveis e com dificuldade em aceitar qualquer tipo de mudança. - Sentem-se culpadas por não atenderem às expectativas dos pais, que, mesmo antes de nascerem, já haviam planejado a vida do filho. (escolha vocacional). Risco> Por medo de perder o controle da situação, perde o controle. Os pais, adultos responsáveis, devem oferecer “OS CAMINHOS”..e não “O CAMINHO”. Levando em conta o quadro acima, podemos deduzir que não é fácil o ato de educar um ser totalmente desprotegido, que reage tão somente a instintos primários como forma de se relacionar com o mundo externo. 18 Da mesma forma, uma vez dado o limite é fundamental que ele seja mantido. Assim, repita-se, é de crucial importância que não se prometa coisas que não serão possíveis de executar, nem se faça ameaças que não serão cumpridas, pois tais situações levam a criança ao descrédito em relação à palavra do adulto e abrem possibilidades para manipulações por parte da criança. 19 Capitulo II O ambiente escolar A vida escolar da criança acontece em ciclos. O primeiro deles, o Ciclo da Educação Infantil, é o mais importante, pois acontece na fase de seu maior desenvolvimento: do nascimento até os seis anos, período em que se forma o maior número de sinapses, dizem os especialistas. É também o primeiro contato com outro ambiente fora da família, a primeira experiência escolar. É o início da socialização, da convivência com o grupo de iguais, da aquisição da linguagem, de grande desenvolvimento motor, físico, emocional, afetivo, biológico, cognitivo. Com isso cabe à escola estabelecer regras, limites próprios e comuns a todos que ali freqüentam. O limite é essencial nessa fase, saber o que pode, ou não, é fundamental, o referencial é importante. Ela precisa disso para se sentir cuidada, amada, protegida e segura para construir seu caminho sob a supervisão da equipe (na escola) e da família (em casa). Segundo a educadora Alicia Fernandez, "O limite é a circulação do afeto". A iniciação escolar acontece como o segundo desmame, aonde os pais e a criança precisam se desvincular um do outro, gerando muitas vezes um desconforto para os pais, que muitas vezes não estão prontos para tirarem os seus filhos “do colo” e os “entregarem” para a vida. Em casa as crianças, atualmente, regem o funcionamento da estrutura familiar, tudo gira em torno deste pequeno / pequena príncipe / princesa, pois as famílias contemporâneas esperam e desejam muito essas crianças. É papel da escola, colocar essas crianças como mais 20 um individuo dentro de um grupo, logicamente respeitando que cada um tem suas características e personalidade, mas que ali, há uma regra comum a todos. Surgem estão os ditos “combinados” nas turmas de Educação Infantil. Dentro desses “combinados” podemos abordar inúmeras formas de limite. Ex: - Limites físicos, quando se estabelece que ali o “bater” no colega não é aceito, - Limite institucional, quando falamos que devemos tomar conta dos brinquedos, evitando que se percam peças ou os quebrem. Com isso a criança vai sendo “preparada” para as exigências e rigores das leis (limites escritos) que regem a vida adulta. Dentro da sala de aula os limites são alem de regras e valores, eles passam pelo corpo. A criança deve saber o entorno do seu corpo, aonde termina o EU e começa o outro. Isso é um aprimoramento do contato físico inicial do bebe, quando ele, através do toque, se identifica como um sujeito desassociado da mãe (seio bom). Dentro das escolas as crianças se deparam com muitas regras e limites em vigor, tanto para garantir a integridade física dos alunos ali presentes, como para que haja uma pratica educativa realmente efetiva. Na Educação Infantil, é onde se desenvolvem conceitos e limites tais como: - Em cima / Em baixo - Na frente / Atrás - Grande/ Pequeno 21 - Quente /Frio - Perto / Longe Que futuramente serão exigidas como conceitos básicos da matemática, física, química, português, enfim, nas diversas áreas do conhecimento. Acolhimento, aconchego, vínculo afetivo, receptividade, conhecimento de cada criança e sua família, estimulação, respeito à individualidade, autonomia, segurança, confiança. A Neurociência nos mostra que o sujeito só aprende quando de fato o conhecimento passar por algumas áreas do cérebro. Segundo a professora Marta Pires Relvas, “O conceito de plasticidade cerebral pode ser aplicado à educação, considerando a tendência do sistema nervoso em ajustar-se frente às influências ambientais durante o desenvolvimento infantil, ou na fase adulta, restabelecendo e restaurando funções desorganizadas por condições Em síntese, é preciso ressaltar os vínculos dos fenômenos plásticos cerebrais com o desenvolvimento do sistema nervoso na sua compreensão sócio-histórico-educativo, observando- se a capacidade de resposta compensatória frente não apenas a lesões patológicas, mas também, frente às influências externas, concluindo-se que a plasticidade cerebral pode ser encarada sob vários ângulos, seja 22 mediante abordagem experimental (que é a mais comum), seja na perspectiva mais concreta da existência e expressão funcional do sistema nervoso, como, por exemplo, motricidade, percepção e linguagem.” Entender razão e emoção na criança dentro de um contexto significativo de aprendizagem/educação; partindo do princípio que temos duas memórias, uma que se emociona,se comove,sente entusiasmo, alegria / tristeza, satisfação / insatisfação, agrado /desagrado, ou seja, reações intensas no organismo ,e outra que compreende, analisa, pondera, reflete. Trata-se de emoção e razão. Ambas se complementam e cada pessoa apresentará diferentes reações conforme o contexto, lugar e pessoas envolvidas. Segundo Wallon pode não ocorrer um equilíbrio harmônico entre estas funções e, às vezes, um conflito constante e um domínio de uma sobre a outra pode ocorrer. Numa sala de aula, dependendo do estado emocional e/ou racional da criança, a aprendizagem ocorrerá de maneira subjetiva e singular, ou seja, de acordo com cada sujeito aprendente, e repleta de situações positivas e negativas, que influenciarão enormemente o crescimento desta criança. 23 Capitulo III – Não só NÃOS, a importância da afetividade na aprendizagem. O aspecto afetivo tem uma profunda influência sobre o desenvolvimento intelectual, podendo acelerar ou diminuir o ritmo de desenvolvimento, determinando, inclusive, sobre que conteúdos a atividade intelectual se concentrará. Na teoria de Piaget (1987), o desenvolvimento intelectual é considerado como tendo dois componentes: um cognitivo e outro afetivo. Onde, paralelo ao desenvolvimento cognitivo se encontra o desenvolvimento afetivo. Afeto inclui sentimentos, interesses, desejos, tendências, valores e emoções no geral. O afeto apresenta várias dimensões, incluindo os sentimentos subjetivos (amor, raiva, depressão) e aspectos expressivos (sorrisos, gritos, lágrimas). Na visão de Piaget, o afeto se desenvolve no mesmo sentido que a cognição ou inteligência. E é a responsável pela ativação do intelecto. Em vários livros Piaget descreveu cuidadosamente o desenvolvimento afetivo e cognitivo do nascimento até a vida adulta, centrando-se na infância. Com suas capacidades afetivas e cognitivas expandidas através da contínua construção, as crianças tornam-se capazes de investir no afeto e ter sentimentos validados nelas mesmos. Neste aspecto, a auto-estima mantém uma estreita relação com a motivação ou interesse da criança para aprender. O afeto é o princípio norteador da auto-estima. A criança após ter desenvolvido o vínculo afetivo, a aprendizagem, a motivação e a 24 disciplina passam a ser um 'meio' para conseguir o autocontrole pessoal e seu bem estar. Segundo Bossa (2002), busca-se melhorar a escola introduzindo no ideário pedagógico a noção de afetividade, onde segundo a autora a afetividade sempre esteve e estará presente na relação pedagógica, pois não há relacionamento humano em que não esteja presente essa dimensão do ser. As novas Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental apontam para a importância do professor considerar o aluno em sua dimensão afetiva: “As escolas deverão reconhecer que as aprendizagens são constituídas pela interação dos processos de conhecimento com os de linguagem e os afetivos, em conseqüência das relações entre as distintas identidades dos vários participantes do contexto escolarizado: as diversas experiências de vida de alunos, professores e demais participantes do ambiente escolar, expressas através de múltiplas formas de diálogo, devem contribuir para a constituição de identidades afirmativas, persistentes e capazes de protagonizar ações autônomas e solidárias em relação a conhecimento e valores indispensáveis à vida cidadã”. Para Wallon (1992), a afetividade não é apenas uma das dimensões da pessoa, mas também uma fase do desenvolvimento. Ele 25 considera que, no início da vida, a afetividade e a inteligência estão misturadas. Ao longo do processo elas alteram preponderância, isto é, a afetividade reflui para dar espaço à atividade cognitiva. A construção do sujeito e a do objeto alimentam-se mutuamente, ou seja, a elaboração do conhecimento depende da construção do sujeito. As emoções têm papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. É por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades. Em geral, são manifestações que expressam um universo importante e perceptível, mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais de ensino. As transformações fisiológicas de uma criança (ou, nas palavras de Wallon, no seu sistema neurovegetativo) revelam traços importantes de caráter e personalidade. Os primeiros vínculos afetivos entre mãe e bebê permitem que este se sinta acolhido, cuidado, merecedor desse amor, e, portanto, possuidor de valor. No momento em que há uma ruptura drástica desse vínculo, a criança vivencia rejeição e culpa. Ela cresce com sentimentos de autopiedade e tendência a vincular-se de maneira dependente, podendo desenvolver uma identidade vitimizada. O ser humano é um ser social, sua identidade resulta das relações com os outros, ou seja, essa identidade começa a ser construída durante nossa infância, a partir dos primeiros vínculos formados em nossa família. “É sempre um vinculo social, mesmo sendo com uma só pessoa: através da relação com essa pessoa repete-se uma história de vínculos em um tempo e em espaços determinados. Por essa razão, o vínculo se 26 relaciona com a noção de papel, status e comunicação”. (Pichon) O conhecimento social, a forma de conhecimento criada na interação entre as pessoas, é construída pelas crianças a partir de suas relações sociais e familiares. Diante disso, percebe-se a necessidade de o aluno estabelecer vínculos com o seu grupo de iguais. Vygotsky formulou a Lei de Dupla formação, em que considera que no desenvolvimento da criança, todas as funções aparecem duas vezes: primeiro, no nível social e depois no nível individual; segundo, entre as pessoas (interpsicológico) e depois no interior da criança (intrapsicológico), quando esta apropria-se do conhecimento. Afirma ainda que a internalização é a reconstrução interna de uma operação externa, não uma cópia desta. Para Vygotsky essa lei é a mais importante no desenvolvimento do psiquismo, pois considera que o desenvolvimento do indivíduo tem lugar quando a regulação interpsicológica se transforma em regulação intrapsicológica, onde essa interação é a origem e o motor da aprendizagem e do desenvolvimento intelectual. Bossa (2002) lança um olhar psicopedagógico sobre o fracasso escolar, considerando-o um sintoma escolar que ainda se impõe de forma alarmante e persistente no sistema escolar brasileiro, apesar do muito que já foi discutido e estudado. Considera que o sistema escolar ampliou o número de vagas, mas não desenvolveu uma ação que o tornasse eficiente e garantisse o cumprimento daquilo a que se propõe, ou seja, que desse acesso à cidadania. Weiss (2003) considera fracasso escolar quando ocorre uma resposta insuficiente do aluno a uma exigência ou demanda da escola e que a não-aprendizagem na escola é uma das causas do fracasso escolar. Segundo a autora o fracasso escolar pode ser analisado pelas diferentes perspectivas: a da sociedade, a da escola e a do aluno. 27 Winnicott, pediatra inglês que se dedicou a estudar o desenvolvimento infantil sob a óptica da Psicanálise, fala da mãe suficientemente boa que, entre outras qualidades, é aquela que oferece um holding para permitir o desenvolvimento saudável de seu bebê. Oferecer holding é dar um limite seguro para a criança se desenvolver, limite este que precisa continuar existindo, em diferentes níveis, na infância, no despertar da adolescência e mesmo ao longo de todo Ciclo Vital. “desde a idade mais tenra, nas trocas que faz com a mãe, a criança já está realizando aprendizagens, ao mesmo tempo que vai construindo um estilo próprio de aprender, modificandoo e ampliando-o à medida que outras interações vão acontecendo”. (Visca) O limite visto num prisma mais amplo é psicológico e socialmente estruturante. Ele dá a dimensão da realidade, diz o que se pode ou não fazer/ser, onde começa o desejo e onde termina a possibilidade de exercê-lo. E, assim, o sujeito constrói uma auto-imagem interna, aprendendo a perceber a si mesmo em contexto, pois sua existência não se dá senão em relação a algo. 28 Capitulo IV – Uma visão psicopedagogica da educação A aprendizagem e a construção do conhecimento são processos naturais e espontâneos do ser humano que desde muito cedo aprende a mamar, falar, andar, pensar, garantindo, assim, a sua sobrevivência. Com aproximadamente três anos, as crianças são capazes de construir as primeiras hipóteses e já começam a questionar sobre a existência. A aprendizagem escolar também é considerada um processo natural, que resulta de uma complexa atividade mental, na qual o pensamento, a percepção, as emoções, a memória, a motricidade e os conhecimentos prévios estão envolvidos e onde a criança deva sentir o prazer em aprender. O estudo do processo de aprendizagem humana e suas dificuldades são desenvolvidos pela Psicopedagogia, levando-se em consideração as realidades interna e externa, utilizando-se de vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os. Procurando compreender de forma global e integrada os processos cognitivos, emocionais, orgânicos, familiares, sociais e pedagógicos que determinam a condição do sujeito e interferem no processo de aprendizagem, possibilitando situações que resgatem a aprendizagem em sua totalidade de maneira prazerosa. Segundo Maria Lúcia Weiss, “a aprendizagem normal dá-se de forma integrada no aluno (aprendente), no seu pensar, sentir, falar e agir. Quando começam a aparecer “dissociações de campo” e sabe-se que o sujeito não tem danos orgânicos, pode-se pensar que estão se instalando dificuldades na aprendizagem: algo vai mal no pensar, na sua expressão, no agir sobre o mundo”. Raramente as dificuldades de aprendizagem têm origens apenas cognitivas. Atribuir ao próprio aluno o seu fracasso, considerando que haja algum comprometimento no seu desenvolvimento psicomotor, cognitivo, 29 lingüístico ou emocional (conversa muito, é lento, não faz a lição de casa, não tem assimilação, entre outros.), desestruturação familiar, sem considerar, as condições de aprendizagem que a escola oferece a este aluno e os outros fatores intra-escolares que favorecem a não aprendizagem. As dificuldades de aprendizagem na escola, podem ser consideradas uma das causas que podem conduzir o aluno ao fracasso escolar. Não podemos desconsiderar que o fracasso do aluno também pode ser entendido como um fracasso da escola por não saber lidar com a diversidade dos seus alunos. É preciso que o professor atente para as diferentes formas de ensinar, pois, há muitas maneiras de aprender. O professor deve ter consciência da importância de criar vínculos com os seus alunos através das atividades cotidianas, construindo e reconstruindo sempre novos vínculos, mais fortes e positivos. O aluno, ao perceber que apresenta dificuldades em sua aprendizagem, muitas vezes começa a apresentar desinteresse, desatenção, irresponsabilidade, agressividade, etc. A dificuldade acarreta sofrimentos e nenhum aluno apresenta baixo rendimento por vontade própria. Durante muitos anos os alunos foram penalizados, responsabilizados pelo fracasso, sofriam punições e críticas, mas, com o avanço da ciência, hoje não podemos nos limitar a acreditar, que as dificuldades de aprendizagem, seja uma questão de vontade do aluno ou do professor, é uma questão muito mais complexa, onde vários fatores podem interferir na vida escolar, tais como os problemas de relacionamento professor-aluno, as questões de metodologia de ensino e os conteúdos escolares. Se a dificuldade fosse apenas originada pelo aluno, por danos orgânicos ou somente da sua inteligência, para solucioná-lo não teríamos a necessidade de acionarmos a família, e se o problema estivesse apenas relacionado ao ambiente familiar, não haveria necessidade de recorremos ao aluno isoladamente. A relação professor/aluno torna o aluno capaz ou incapaz. Se o professor tratá-lo como incapaz, não será bem sucedido, não permitirá a sua 30 aprendizagem e o seu desenvolvimento. Se o professor, mostrar-se despreparado para lidar com o problema apresentado, mais chances terá de transferir suas dificuldades para o aluno. Os primeiros ensinantes são os pais, com eles aprendem-se as primeiras interações e ao longo do desenvolvimento, aperfeiçoa. Estas relações, já estão constituídas na criança, ao chegar à escola, que influenciará consideravelmente no poder de produção deste sujeito. É preciso uma dinâmica familiar saudável, uma relação positiva de cooperação, de alegria e motivação. Torna-se necessário orientar aluno, família e professor, para que juntos, possam buscar orientações para lidar com alunos/filhos, que apresentam dificuldades e/ou que fogem ao padrão, buscando a intervenção de um profissional especializado. Dicas para os pais: 1. Estabelecer uma relação de confiança e colaboração com a escola; 2. Escute mais e fale menos; 3. Informe aos professores sobre os progressos feitos em casa em áreas de interesse mútuo; 4. Estabelecer horários para estudar e realizar as tarefas de casa; 5. Sirva de exemplo, mostre seu interesse e entusiasmo pelos estudos; 6. Desenvolver estratégias de modelação, por exemplo, existe um problema para ser solucionado, pense em voz alta; 7. Aprenda com eles ao invés de só querer ensinar; 8. Valorize sempre o que o seu a criança faça, mesmo que não tenha feito o que você pediu; 9. Disponibilizar materiais para auxiliar na aprendizagem; 10. É preciso conversar, informar e discutir com o seu filho sobre quaisquer observações e comentários emitidos sobre ele. 31 “A aprendizagem é um processo cuja matriz é vincular e lúdica e sua raiz corporal seu desdobramento põe- se em jogo Inteligência / através desejo assimilação- da e do articulação equilíbrio acomodação.” (Fernandez) Cada pessoa é uma. Uma vida é uma história de vida. É preciso saber o aluno que se tem como ele aprende. Se ele construiu uma coisa, não se pode destruí-la. O psicopedagogo ajuda a promover mudanças, intervindo diante das dificuldades que a escola nos coloca, trabalhando com os equilíbrios/desequilíbrios e resgatando o desejo de aprender. 32 Conclusão Ao pensar em educação de qualidade hoje, é preciso se ter em mente que a família esteja presente na vida escolar de todos os alunos, em todos os sentidos. Ou seja, é preciso uma interação entre escola e familia. Nesse sentido, escola e familia possuem uma grande tarefa, pois nelas é que se formam os primeiros grupos sociais de uma criança. Nunca na escola se discutiu tanto quanto hoje assuntos como falta de limites, desrespeito na sala de aula e desmotivação dos alunos. Nunca se observou tantos professores cansados e muitas vezes, doentes física e mentalmente. Nunca os sentimentos de impotência e frustração estiveram tão marcantemente presentes na vida escolar. No entanto, apesar das diferentes metodologias hoje utilizadas, os aspectos comportamentais não têm melhorado, ao contrário, em sala de aula, a indisciplina e a falta de respeito só têm aumentado, os problemas continuam, ou melhor, se agravam cada vez mais, pois além do conhecimento em si estar sendo comprometido para ensinar o mínimo, está sendo necessário, antes de tudo, disciplinar, impor limites e, principalmente, dizer não. A importância da primeira educação é tão grande na formação da pessoa que podemos compará-la ao alicerce da construção de uma casa. Depois, ao longo da sua vida, virão novas experiências que continuarão a construir a casa/indivíduo, relativizando o poder da família. Entretanto, é preciso analisar a sociedade moderna, observandose que uma das mudanças mais significativas é a forma como a família atualmente se encontra estruturada. Aquela família tradicional, constituída de pai, mãe e filhos tornou-se uma raridade. Atualmente, existem famílias dentro de famílias. Com as separações e os novos casamentos, aquele núcleo familiar mais tradicional tem dado lugar a 33 diferentes famílias vivendo sob o mesmo teto. Esses novos contextos familiares geram, muitas vezes, uma sensação de insegurança e até mesmo de abandono. Isto é, as crianças e os adolescentes estão cada vez mais, sofrendo as conseqüências desta enorme crise familiar. No Parágrafo único do Capítulo IV do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), encontramos que "é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais", O problema de aprendizado escolar é uma das questões que o educador e os pais deparam-se constantemente nos dias atuais: O que é um problema de aprendizado escolar, um distúrbio, uma patologia? Para que se possa responder essas indagações, penso primeiramente descortinar alguns termos com a intenção de ampliar a leitura desse momento do processo educacional, o problema de aprendizado escolar. Para Beauclair, os profissionais da Psicopedagogia podem também contribuir para o desenvolvimento do afeto e do amor em nossa sociedade como um todo, e nas relações de aprendizagem e particular. E isso é possível quando todos nós, e o psicopedagogo em particular, pudermos vencer algumas barreiras como o medo e o desânimo, substituindo-os por esperança, cuidando da vida e construindo a paz nos espaços em que os educadores têm efetiva inserção. E ter efetiva inserção pode significar que realmente tenham que vencer o medo e quebrar paradigmas; é preciso ser ousado, contestador revendo conceitos e verdades prontas e acabadas, criando projetos, etc. É na ressignificação de atitudes e práticas subjetivas que é possível se lançar no desafio de conseguir uma escuta, um olhar psicopedagógico vinculado às questões do conhecimento e da aprendizagem humana 34 Nesse sentido, a Psicopedagogia pode e deve contribuir com todo o processo, onde educar é, em síntese, humanizar o ser humano, dentro de limites, ampliando assim, o nosso olhar. Bibliografia BOSSA, N. Fracasso Escolar - Um Olhar Psicopedagogico, ArtMed, 2000. FERNÁNDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada. Porto Alegre, ArtMed, 1991. 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