UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS GRADUAÇÃO “LATU SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE CRIANÇAS Por: Márcia Aparecida de Paula Melo Orientadora Prof. Maria Poppe Brasília 2009 2 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS GRADUAÇÃO “LATU SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE CRIANÇAS Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como condição prévia para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Latu Sensu” em Psicopedagogia. Por: Márcia Aparecida de Paula Melo 3 “Só quem se sente pertencendo a um time, o defende com unhas e dentes. Assim são os pais e os filhos que se sentem pertencendo a uma escola. Todos formam um time afetivo e eficiente.” Içami Tiba 4 AGRADECIMENTOS A Deus que me concedeu o dom da sabedoria para chegar até aqui, aos meus pais que enquanto estavam presentes foram meus grandes incentivadores na busca de minhas conquistas e a todos que durantes este percurso que de alguma forma me auxiliaram. 5 DEDICATÓRIA Dedico aos meus pais (in memoriam), que através do amor e da amizade fizeram-me acreditar que se deve ir ao encontro daquilo que se tem fé, às minhas filhas, Luciana e Mariana, pelo apoio e dedicação durante a realização deste trabalho, que me fazendo sentir a importância do afeto como fonte de energia para a cognição, e, por fim, à minha irmã Elaine, companheira inseparável na luta cotidiana. 6 RESUMO O aspecto emocional está presente na busca de conhecimentos, quando se busca estabelecer contato com o mundo físico e humano. A afetividade e cognição são aspectos inseparáveis, presentes em todas as atividades do sujeito, porém variáveis. O afeto e a inteligência se estruturam nas ações do indivíduo, implicando na expressão e comunicação, e é sobre esta visão que será abordado o tema afeto que envolve a interação professor-aluno, influenciando de forma decisiva no processo de aprendizagem. Partindo da premissa de que a aprendizagem é um processo complexo, e o professor é um mediador, e está sempre em busca do conhecimento que às vezes não domina, surge a profissão do psicopedagogo que vai contribuir para que haja transformações, pois este poderá diagnosticar dificuldades e problemas de aprendizagens, orientando professores em sala de aula, criando vínculos e levando a família a ser mais presente nas escolas. 7 METODOLOGIA Trabalho desenvolvido através de pesquisa bibliográfica onde foram estudados vários autores como Wallon, Piaget, Vygotsky, Fernández e outros, selecionando algumas de suas conclusões, as quais embasaram este trabalho com intuito de esclarecimento da psicopedagogia sobre afetividade e cognição. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO I COGNIÇÃO 11 11 1.1 Cognição e afetividade na aprendizagem segundo Saltini 1.2 Relação entre cognição e afetividade segundo Piaget 15 18 CAPÍTULO II AFETIVIDADE 20 20 2.1 O que é afetividade para Wallon 22 CAPÍTULO III A RELAÇÃO AFETIVA PROFESSOR/ALUNO 27 27 CAPÍTULO IV O PSICOPEDAGOGO NO CONTEXTO EDUCACIONAL 31 31 4.1 Diagnóstico psicopedagógico 33 4.1.1 Exemplo 1 – (Weiss 2001, p.9), afeto e cognição 36 4.1.2 Exemplo 2 – (Experiência vivenciada como educadora em sala de aula)38 4.3 O papel da família em parceria com a escola 39 CONCLUSÃO 42 BIBLIOGRAFIA 44 ÍNDICE 54 FOLHA DE AVALIAÇÃO 55 9 INTRODUÇÃO Os ideais de construção de uma sociedade mais igualitária, mais justa e mais solidária passam necessariamente pela educação, desta forma emerge a necessidade de uma constante reflexão sobre a questão primeira do aluno imbuído no processo cognitivo e afetivo. Este trabalho tem por objetivo expor a dimensão cognitiva e afetiva numa perspectiva psicogenética, sendo abordado o desenvolvimento da aprendizagem baseado no pensamento de alguns autores. Algumas crianças aprendem com facilidade e decorrente do meio em que vivem, outras já precisam de incentivo, precisa ser adotado algum meio que lhe chame atenção. Deste modo é lançado o desafio ao professor, que deve dar uma pausa e analisar seus planos e objetivos perante tal situação, que se torna realmente um desafio trabalhar com crianças com carência afetiva. O papel das emoções no processo aprendizagem dentro de uma trajetória educacional tem um fator imprescindível, pois cognição e afeto andam juntos no processo qualitativo de ensino. A qualidade social do aluno pode ou não influenciar no seu desenvolvimento cognitivo/afetivo dependendo da forma em que este foi conduzido, pois a motivação, o respeito e os valores, são experiências positivas na escola e na família que são fundamentais para a criança, refletindo em diversos aspectos de sua personalidade. Para a psicopedagogia, a aprendizagem humana é vista como um aspecto próprio do sujeito de se relacionar com conhecimentos gerados e armazenados pela cultura e os problemas de aprendizagem provenientes de 10 rompimentos ocorridos, vínculos mal estabelecidos entre aprendentes e ensinantes, seja por fatores genéticos, cognitivos ou emocionais. Portanto a psicopedagogia reúne informações para transformá-las em conhecimento, que transcedem aos anteriores, formando nova teoria e nova prática, articulando abordagens, para que professores possam trabalhar com os problemas de aprendizagem no contexto educacional e familiar. Surge, dessa forma, o interesse de pesquisar e desenvolver um trabalho, a fim de analisar a influência da aprendizagem enfocando a psicopedagogia como uma das melhores oportunidades para o atendimento ao aluno com problemas provenientes de situações afetivas. 11 CAPÍTULO I COGNIÇÃO Aurélio: Cognição - 1. Ato de conhecer. 2. conhecimento, percepção. Na psicologia como ciência mental o homem era considerado como mente e consciência. Era apenas uma descrição complexa não sendo aceita como ciência. Vygotsky (1998), analisava que desta forma o homem não era considerado como um todo, e sim como um ser dividido, às vezes levando em conta o desenvolvimento, outras vezes a afetividade, o que para Vygotsky ambas deveriam permanecer juntas, valorizando o ser humano como um todo, tudo o que ele traz do mundo em que vive, não permitindo que o nosso cérebro tivesse idéias que não pudessem ser rotuladas. O nosso cérebro é considerado como uma base biológica, sendo aberto e flexível de acordo com o desenvolvimento individual/histórico, predominando as funções psicológicas. Tais processos são desenvolvidos conforme o ambiente em que o indivíduo está inserido e tais atividades que se realiza estão estruturadas de forma que leva a seriar, classificar, conservar, organizar o tempo/espaço e causa procurando transformar o que foi assimilado de forma significativa para o aluno. Para Vygotsky a relação homem/mundo se dá através de símbolos, podendo aí organizar a linguagem que se dá a relação com o sujeito possibilitando a intervenção para que haja a comunicação com o mundo. Sendo dois tipos de intervenção: Instrumento - através de um ser social fazem a intervenção da ação do sujeito. Sendo o objeto o possibilitador desta ação. 12 Signos – considera-se os signos um meio para o estudo da linguagem, um grande possibilitador do desenvolvimento do indivíduo, onde este vem sofrer as transformações, “e fornecem um suporte concreto para a ação do homem no mundo”. Percebe-se que a aprendizagem primeira vem do mundo externo para o interno e a criança chega a um certo momento em que ela não precisa do concreto para internalizar o que é um tal objeto, ela já é capaz de identificá-lo, pois vai convivendo com a sociedade e o despertar torna-se bastante significativo e concreto, pois tudo que vem da sua cultura vai se estruturando e desta forma já é capaz de formular perguntas e ele próprio responder, fazendo surgir o pensamento e a linguagem que são grandes aliados. Quando os dois tornam-se já estruturados vem à fase em que o indivíduo deixa os signos e parte para a verbalização. A esse respeito Vygotsky: “O significado de uma palavra representa uma amálgama tão estreito do pensamento e linguagem, que fica difícil dizer se se trata de um fenômeno da fala ou de um fenômeno do pensamento. Uma palavra sem significado é um som vazio; o significado, portanto, é um critério da palavra, seu componente indispensável. Parecia, então, que o significado poderia ser visto como um fenômeno da fala [...]. E como as generalizações e os conceitos, são, inegavelmente, considerar o atos do significado pensamento, como um podemos fenômeno do pensamento” (VIGOTSKY, 1998, p. 150-151). Contudo, é muito importante observar que o aluno capta toda a essência, armazena, produz o significado em seguida libera a fala, pois uma palavra/pensamento deve ter um objetivo, um significado e um sentido para ser usada em algum contexto da sua vida social e afetiva. 13 Entre todas estas manifestações no ser humano fica bem evidente que o pensamento antecede a linguagem falada, e cada indivíduo tem a capacidade de interpretação desta mistura de palavras. É possível analisar Vigotsky (1984), a aprendizagem passa por um processo de maturação e sempre foi vista através de conceitos e por meio destes observa-se que a criança passa por fases de desenvolvimento que às vezes são capazes de fazer as coisas, realizar tarefas sozinhas, são totalmente independentes, ela está passando pela fase do real. Outras vezes elas pode até realizar tarefas, mas com alguém que o auxilie. Nestas duas fases o aluno está passando por uma fase de transformação psicológica, ela precisa muito do contato com o próximo, do lúdico, procurar propiciar sempre algo que faça com que utilize o imaginário para que possa dar continuidade no processo de aprendizagem. Neste processo de maturação há o despertar da aprendizagem, a criança procura levar adiante e enriquecer o que foi aprendido conforme o seu ambiente. As crianças são resultados de experiências. Para considerar o desenvolvimento é preciso levar em conta o espaço em que elas vivem, a maneira como constroem seus significados, as práticas culturais e outros. Aprender é um processo de idas e vindas, que envolve muitas tentativas, vários diagnósticos, levantamentos, realização de ações de pensamentos e usos da linguagem. Por isso é comum que as pessoas errem em suas tentativas de aprender. Erros surgirão, mas não com aspectos negativos, erros também fazem parte da aprendizagem, e através do processo de maturação serão superados de acordo com a capacidade de desenvolvimento de cada aluno, sendo assim, cabe ao professor o papel de motivar o aluno para que supere as barreiras de seu aprendizado. Piaget (2001), considera que a pessoa aprende no decorrer do período, a cada dia que se vive a criança vai construindo seu conhecimento. Isto se dá conforme o meio em que ela interage. Na genética Piaget considera a origem 14 do conhecimento como um raciocínio lógico e matemático, pois só assim alcança seus objetivos reais que são construídos desde a sua infância, sendo que este está sempre em transformação. A criança quando inicia o seu desenvolvimento ela procura analisar, apalpar, usa de todos os artifícios, e em seguida sente-se já organizada para realizar, depois de muitas tentativas as suas ações. Tais ações às vezes são grandes desafios levando a um desequilíbrio momentâneo exigindo uma nova adaptação, pois a aprendizagem flexiona e está sempre em transformação. Para haver uma adaptação a esse desequilíbrio é acionadas a assimilação e acomodação, onde a criança faz um balanço do que aprendeu anteriormente ampliando e adaptando à realidade. Segundo Vygotsky (1998) Piaget não considera a criança como um adulto em miniatura, pois o pensamento se diferencia em qualidade/quantidade. Portanto a criança valoriza a quantidade, enquanto o adulto a qualidade. Nas últimas análises de Piaget a criança passa pelo pensamento egocêntrico, considerado por ele como carga genética, onde ela fica em meio termo - abandona seu meio e passa a criar o seu próprio mundo ou às vezes é cada vez mais influenciado pela prática da vida e da lógica/razão, enfatiza que o brinquedo é a lei suprema do pensamento egocêntrico. Contudo, a partir dos 7/8 anos este egocentrismo não desaparece, apenas fica um pouco adormecido, pois uma criança não o adquire, faz parte da sua natureza genética, da influência do meio. Sobre o pensamento Fernández relata: “O pensamento é um só, não pensamos por um lado inteligentemente e depois, como girássemos o dial, pensamos simbolicamente, o pensamento é como uma 15 trama na qual a inteligência seria o fio horizontal e desejo vertical. Ao mesmo tempo, acontecem a significação simbólica e a capacidade de organização lógica” (FERNÁNDEZ 1991, p. 67). Assim percebe-se a partir dessa afirmação que inteligência e desejo estão interligados, e que ao pensarmos, automaticamente vem o significado referente e organização de idéias. Conforme Fernández (1991) existe uma certa preocupação ao analisar crianças com dificuldade de aprendizagem, pois o psicoterapeuta nem sempre conhece como funciona a mente, então cabe ao psicopedagogo, e este deve sempre levar para análise a inteligência e o desejo, pois ambos são herança genética que no decorrer da vida vão se definindo, se contrário, vai-se desvendando de onde e como surgiram. Sempre quando for analisar uma criança, “é necessário saber como se faz para somar, por exemplo, para saber que a cenário simbólico pode corresponder a soma”. Caso a criança não consiga realizar uma soma ou escrever algo, não é que ela não saiba, e sim porque ela não consegue realizar algo que não se vê ou que não se diz. . 1.1- Cognição e afetividade na aprendizagem segundo Saltini Saltini (1999) afirma que o homem habita dois mundos: um externo, que é vasto, pois é formado de fatores tais como a natureza, a cultura e inúmeras regras estabelecidas por habitantes anteriores a ele; e um mundo interno, tais vasto como a primeira, porém formado por partes cognitivas e afetivas. O autor constata que esse homem, habitante destes dois mundos, vem sofrendo já a algum tempo a dolorosa evolução no campo do conhecimento cientifico e tecnológico. Acreditam que decorre daí as neuroses do homem moderno: insegura, estresse, fobias. 16 Saltini (1999) chama atenção para uma enorme carência de compreensão entre as pessoas no mundo moderno. Treta-se de um sentimento que não escolhe faixa estaria, tanto adultos como crianças desejam ser melhores compreendidos. E a escola tem encontrado dificuldades para lidar com as crianças que diariamente adentram os seus portões e buscam respostas para atender como a cognição e a afetividade estão implicadas no processo ensino-aprendizagem. Saltini (1999) considera então que as escolas deveriam entender mais de seres humanos e de amor do que conteúdo e técnicas educativas; pois agindo desta maneira tem contribuído para “construir indivíduos neuróticos que nada sabem de amor, sonhos, fantasias, símbolos e dores”. Afirma que a escola deve, com urgência compreender que todo conhecimento inicia-se a partir de um sonho que não se ensina, pois, surge no mundo interior do individuo, brotando das suas profundezas, dos seus desejos, dores, faltas e ausências. Tudo junto desperta no homem a vontade de buscar respostas, de comunicar-se. Neste sentido defende como um instrumento necessário às relações humanas e as comunicações. Partindo da idéia de que o homem é resultado da ação de transformação da realidade e da sua capacidade para transformá-la, SALTINI (1999) afirma que educar deve ser sujeito das suas ações, em harmonia consigo mesmo, ou seja, um meio de construção do indivíduo como pessoa no termo de ser e não de ter; uma iniciação à visão crítica interpretando e transformando o mundo visando seu próprio bem estar e do outro. De forma que a educação é um processo composto de três elementos: o pensamento, a percepção e a comunicação. Saltini destaca que: “Educar é uma tarefa de transformação de ignorância em descoberta e invenção; um caminho para doação do homem a si mesmo, uma tarefa amorosa, que devolve ao homem aquilo que sempre lhe pertenceu, a sua 17 capacidade de criar, aperfeiçoar, e criticar o que já existe, confiar na sua espontaneidade e tende coragem de ser” (SALTINI 1999, p. 26). Para Saltini (1999) a missão do educador é iniciar a formação de pensamentos intuitivos/simbólicos que transformar-se-ão em pensamentos lógicos. Para isto, o professor deve considerar que o aluno não quer e nem precisa de respostas prontas, e o educador também não pode e nem deve sentir-se o detentor do maravilhoso mundo da informação e conhecimento. Sua preocupação deve ser incentivar o aluno a questionar, a testar a falhar, a superar, a criar, porque conhecer é pensar, inventar é descobrir; é estabelecer relações entre o mundo externo e o interno, transformando a realidade do outro e a sua própria realidade. Este processo significa que ocorre uma aprendizagem e então o aluno aprende em função daquilo que se oferece para ser trabalhado, experimentado, dissecado. Assim, a escola deve possibilitar ao aluno construir e inventar o conhecimento de acordo com suas necessidades e do seu ambiente porque assim o educando crescerá ativa e cognitivamente. Saltini defende ainda: “O pensamento é a máquina transformadora por excelência que, sobre os possíveis, via em busca de um necessário, da harmonia e de uma nova ordem que fosse satisfazer e solucionar os problemas de sua cultura nunca podendo ser alheio a sua natureza interna e externa”(SALTINI 1997, p. 37). A boa comunicação aluno-professor, por sua vez depende de como são trabalhados na escola ou mesmo em sala de aula as relações afetivas e as emoções do educando, o aluno respeitado, ouvido estimulado, e que tem suas curiosidades e interesses priorizados, certamente terá mais facilidade de comunicar-se e posicionar-se dentro e fora do ambiente escolar (SALTINI, 1999, P. 50) 18 1.2- Relação entre cognição e afetividade segundo Piaget Para Piaget desenvolvimento intelectual abrange dois dos componentes: cognitivo e afetivo. O cognitivo faz com que desenvolva o conhecimento, o afeto, sentimentos, interesses, desejos, tendências, valores, emoções e outros. No desenvolvimento intelectual o afeto está relacionado a dois aspectos; o primeiro refere-se a motivação e energização. A esse respeito Brown e Weiss (apud Wadsworth, 1997, p.36) “Para uma estrutura de conhecimento funcionar, algo deve acioná-la, originar o esforço a ser desenvolvido a cada momento e desligá-la”. O segundo tem haver com a seleção. A afetividade está relacionada em tudo, trabalho, estudo, ao gostar e não gostar, afetando a seleção das atividades intelectuais, pois se perguntarem por determinada coisa a reposta tem tudo haver com o nosso interesse – o afeto – e o cognitivo não é diferente, ambos são os dois lados da mesma moeda, todo comportamento tem os dois elementos. Piaget (apud Wadsworth) : “É impossível um comportamento oriundo apenas da afetividade, sem nenhum elemento cognitivo. É igualmente impossível encontrar um comportamento composto só de elementos cognitivos... Embora os fatores afetivos e cognitivos sejam indissociáveis num dado comportamento, eles parecem ser diferentes quanto a natureza... É obvio que os fatores afetivos estão envolvidos mesmo nas formas mais abstratas de inteligência”(WADSWORTH,1997, p.37). O lado afetivo no geral é de suma importância no desenvolvimento intelectual, pois ele é determinante do ritmo de desenvolvimento, que pode acelerar ou diminuir determinando em que conteúdos a atividade intelectual se 19 concentrará. Ele em si não pode modificar as estruturas cognitivas, mas ele pode influenciar nas estruturas e modificar. Piaget (apud Wadsworth) : “... embora a questão afetiva cause comportamento embora ela acompanhe constantemente o funcionamento da inteligência e embora ela acelere os freie o ritmo do desenvolvimento, ela, em si mesmo, no entanto, não pode gerar estruturas de comportamento e não pode modificar as estruturas em cujo funcionamento ela intervém” (WADSWORTH,1997, p.37). Muitos acreditam que a afetividade na vida das pessoas surge de uma fonte interna, mas ou menos pré-determinada. Para Piaget o afeto não é mais pré-determinado do que a inteligência, e sim uma notável paralelo entre afeto e cognição, pois quando examinamos o raciocínio das crianças sobre conceitos morais, um aspecto da vida afetiva, percebe que esses são construídos da mesma forma que os conceitos cognitivos. Um exemplo disso é quando duas crianças acidentalmente, sobre uma batida de outra criança ela muitas vezes, não vê como acidente porque ela ainda não construiu o conceito de intencionalidade. À medida que essas crianças crescem desenvolvem o lado cognitivo paralelo a este, a afetividade. 20 CAPÍTULO II AFETIVIDADE Aurélio: Afeto-1. Afeição, amizade, amor. A palavra afeto vem do latim affectu= afetar, tocar. Em um clássico infantil: “O patinho feio”, observamos que o personagem principal foi discriminado por ser diferente. Nas salas de aula existem muitas crianças rotuladas como patinho feio, não adianta, ela não aprende, pois não tem a atenção necessária para isso. Essas crianças não conseguem acompanhar o currículo estabelecido pelas escolas, por serem diferentes. Muitas vezes o professor desatento não percebe que esta criança para aprender precisa de uma maior proximidade, e por isto às vezes é inserida no grupo de crianças que tem alguma necessidade especial. Enquanto se fosse acompanhada de uma maneira mais carinhosa, tiver mais atenção, ela desenvolveria com a mesma rapidez que as que são consideradas normais. Muitas vezes dependendo do meio sócio/cultural a criança traz consigo uma sobrecarga de problemas e uma carência afetiva que acaba implicando de forma gravíssima na sua aprendizagem, pois tudo está ligado às emoções e às inter-relações afetivas. Piaget afirma em um dos seus trabalhos que apesar de serem diferentes, afetividade e cognição são inseparáveis, ação e pensamento estão ligados à cognição e a afetividade a uma força energética. O papel da afetividade na aprendizagem é tão importante que Piaget faz uma comparação através de uma metáfora “Afetividade seria como a gasolina, que ativa o motor de um carro, mas não modifica sua estrutura”.Portanto a 21 relação gasolina/motor (afeto e cognição) desvincularia se não houvesse o combustível que o sustenta. Na escola o professor deve estar atento às etapas de desenvolvimento do aluno, fazendo com que haja respeito mútuo, confiança e muito afeto, entendendo que cada um aprende e age de um jeito. Existem crianças altas, baixas, gordas, magras. Algumas nasceram em lares com pai, mãe e irmãos, estas são alfabetizadas e aprendem sem dificuldade, pois tem um vínculo afetivo. Outros nem conhecem pais, moram com avós ou com pessoas de algum grau parentesco. Muitos viajam nas férias, conhecem o mato, o mar e gente de vários lugares. Há aqueles que nunca saíram do lugar onde nasceu. Ninguém é igual a ninguém, cada um é único e cada tem a sua história, formada por sua estrutura biológica, psicológica, social e cultural. É assim na vida, é assim na escola. A questão é elaborar projetos que atendam a todos os alunos, sem exceção, dos mais sensíveis aos mais pragmáticos, dos mais competitivos aos mais colaborativos, dos mais lentos aos mais rápidos, dos vindos de lares desestruturados aos que tem laços sólidos, dos portadores de necessidades especiais. Piaget (2001), diz que ao relacionar com coisas, pessoas e até consigo leva a criança a um rumo de objetivos mentais mais definidos. Baseado nesta lógica diz Piaget “é o interesse e, assim, a afetividade que fazem com que uma criança decida seriar objetos e quais objetos seriar”.Deve-se observar que ao oferecer certo conhecimento à criança, este deve estar ligado ao mesmo tempo cognição/afetividade. No processo que mobiliza afeto e cognição Piaget insere à afetividade os valores, que segundo ele, o ser humano adquire relacionando-se com o mundo exterior, objetos e pessoas. Partindo daí com as trocas desde o nascimento e seus conhecimentos sentimentais, esses vão armazenados e organizados formando seu eixo norteador de valores. sendo 22 Segundo Arantes (2006, p.04), Vygotsky faz a relação entre afeto e cognição e afirma que a emoção atua de forma geral na mente humana e busca a figura da língua, base do ser humano para compreender melhor as origens do psiquismo. Arantes esclarece sobre o pensamento psicológico que: “A forma de pensar, que junto com o sistema de conceito nos foi imposto pelo meio que nos rodeia, inclui também nossos sentimentos. Não sentimos simplesmente: o sentimento é percebido por nós sob a forma de ciúme, cólera, ultraje, ofensa. Se dizemos que desprezamos alguém, o fato de nomear os sentimentos faz com que estes variem, já que mantêm certa relação com nossos pensamentos.” (ARANTES 2006, p 05) Observamos em salas de aula a criança em certas circunstâncias tornase esquecida e que na maioria das vezes para ser percebida usa de algum dos seus sentimentos positivos e/ou negativos para que possa ser notada, pois, ela se diferencia de cada um e precisa de atenção para que possa adquirir conhecimentos. 2.1- O Que é afetividade para Wallon Dantas (1992) estudando as teorias psicogenéticas destacou Wallon como um teórico que enfatiza os aspectos afetivos. Segundo essa autora, Wallon afirma que a afetividade tem um papel importante para o desenvolvimento da personalidade e que esse processo constitui sobre alternância de domínios funcionais. Refere-se a quatro domínios funcionais: o ato motor, o conhecimento, a afetividade e a pessoa, os quais terminam por indicar uma direção para o 23 desenvolvimento no decorrer da vida humana. Embora cada um desses domínios tenha sua própria atuação e se organizam de forma independente, no entanto, se relacionam formando uma espécie de mecanismo interfuncional para a formação de personalidade. No que diz respeito ao desenvolvimento da afetividade o Wallon faz importantes considerações: afirma que essa depende da ação de dois fatores, o orgânico e o social. A uma relação estreita e recíproca entre esses dois fatores fazendo com que a afetividade, inicialmente determinada pelo fato orgânico, passe a ser influenciada muito mais intensamente pela ação do meio social. Diante disso pode-se afirmar que não há determinismo no processo de desenvolvimento do ser humano, ou seja, além da constituição biológica, as circunstâncias sociais exercem papel fundamental no processo de formação do ser humano. Dessa maneira Wallon defende a evolução progressiva da afetividade, cujas manifestações vão se distanciando da base orgânica, tornando-se cada vez mais relacionadas ao social. Wallon, conforme Dantas (1992), diz que a afetividade se identifica como um domínio funcional abrangente, pois englobam diferentes manifestações como as emoções, o sentimento e as paixões. Estas três últimas são diferentes manifestações relacionadas aos estágios de desenvolvimento, confirmando a evolução progressiva da afetividade. É importante, então, caracterizar as diferentes manifestações afetivas para se poder compreender melhor a questão do desenvolvimento da afetividade, O autor esclarece que as manifestações afetivas mais primitivas do individuo são reações generalizadas, mal diferenciadas. Trata-se das primeiras expressões de sofrimento e de prazer que a criança experimenta com a fome ou a saciedade. Considera que essas manifestações mantêm uma relação estreita com a afetividade, durante o processo humano, visto tratar-se da base de onde sucedem as demais relações afetivas. 24 Quanto às emoções afirma que são reações momentâneas e passageiras que diferenciam em alegria, tristeza, cólera e medo. Aqueles gestos inicialmente realizados por pura impulsividade, baseados em necessidades orgânicas, com a influência do meio, transformam-se em meios de expressão cada vez mais diferenciados, dando início ao período emocional. Os movimentos são agora reações orientadas resultantes do ambiente social. É o movimento em que as reações emocionais se diferenciam. De imediato a vida afetiva da criança iniciada por uma simbiose alimentar, é constituída por uma simbiose emocional com o meio social. Já o sentimento e a paixão são manifestações afetivas, em que a representação torna-se reguladora ou estimuladora da afetividade psíquica. Ambos são estados subjetivos mais duradouros e tem sua origem nas relações com o outro, mas ambos não se confundem entre si. Assim, Wallon (1992) identifica tipos de manifestações afetivas que são predominantes, em virtude das necessidades e necessidades maturacionais nos estágios de desenvolvimento. O estágio impulsivo é marcado pelas expressões, reações generalizadas e indiferentes de bem-estar e mal-estar. O estágio emocional pela diferenciação das emoções – as reações ou atitudes de medo, cólera, alegria e tristeza. E no estágio personalista e no da adolescência e puberdade, por outro lado, evidenciam-se reações sentimentais e passionais, sendo o sentimento mais marcante neste último estágio. Entre todas estas manifestações afetivas, Wallon dá atenção especial para a emoção. Para ele a emoção é uma forma de exteriorização de afetividade que evolui como as demais manifestações sob impacto das condições sociais. As emoções seriam o elo entre o indivíduo e o ambiente físico, tanto quanto entre o indivíduo e outros indivíduos. No decorrer do seu desenvolvimento a criança estabelece diferentes níveis de relações que interferem na construção do campo afetivo, por 25 exemplo, no estágio personalista, as relações sociais da criança são intensas e sua autonomia é conquistada nos conflitos que mantém com o outro. No bojo dessas relações, vão sendo despertados sentimentos e paixões, manifestações afetivas que parecem estar diretamente relacionadas a um outro indivíduo. De acordo com Wallon (1992), quando, em alguma situação da nossa vida, há predomínio da função cognitiva, estamos voltados para a construção do real, como quando classificamos objetos fazemos operações matemáticas, definimos conceitos e outros. Já quando há o predomínio da função afetiva, estamos voltados para nós mesmos, fazendo uma elaboração do EU. E só lembramos das nossas experiências carregadas de emoções, como por exemplo, do nascimento de um filho, a perda de um ente querido, ou algo assim. No impacto da emoção, nossa preocupação é a construção que fazemos de um novo eu, a mulher que se transforma em mãe, o esposo se torna viúvo... Ou seja, tanto conhecimento quanto afetividade são construídos através da vivência. Braga (2001), em consonância com Wallon, afirma que é de responsabilidade também da escola e do educador a tarefa de despertar no educando as potencialidades do coração e não apenas o desenvolvimento de suas atividades intelectuais. Ainda afirma que na sala de aula, entende-se por afetividade: “Como a preocupação do professor com os alunos, é reconhecê-los como indivíduos autônomos, com uma experiência de vida diferente da sua, e com direito a ter preferências e desejos, nem sempre iguais ao seu ou de outros. É aceitá-los em suas nuances e respeitá-los. E procurar entender seus sentimentos, tendo sensibilidade para entender que através de um aluno agressivo se esconde, muitas vezes, uma criança carente que se 26 sente inferior às outras, desvalorizadas, mal amadas” (BRAGA 2001, p 22). Sendo assim, é importante que o professor conheça os seus alunos não somente em seus aspectos cognitivos, como também com se desenvolvem emocionalmente, favorecendo um processo de interação entre os mesmos, possibilitando assim uma efetiva construção de conhecimentos. As relações afetivas na sala de aulas entre professores/alunos e seus pais não devem ser entendidas apenas como o beijo, o abraço, enfim, a demonstração de carinho pela proximidade corporal. É preciso que o professor perceba o aluno privilegiado de desenvolvimento humano, no sentido de planejar o ambiente escolar, como um sujeito emotivo e em processo de desenvolvimento de sua autonomia, proporcionando ao educando experiências prazerosas. Mas será que o modelo de organização curricular de nossa escola permite ao aluno reagir dando vazão às suas emoções, ou seja, deixa que eles por eles experimentem, inventem, descubram-se? 27 CAPÍTULO III A RELAÇÃO AFETIVA PROFESSOR/ALUNO Saltini (1999) enfatiza que a relação entre educador e educando deve ser uma relação harmônica e prazerosa pautada em respeito e percepção. Porém é necessário, que o professor assuma que nessa relação ele não educa ninguém, mas sim tem por papel auxiliar as pessoas a se educarem e, dessa forma educa-se também. O ser humano saudável mentalmente busca equilíbrio em tudo que faz e ela procura o ponto de apoio a esse equilíbrio e é dever dos educandos auxiliarem-na nessa busca. Necessitamos de alunos questionadores, inventivos, ousados, que busquem respostas por conta própria, utilizando para isso suas atividades espontâneas e os materiais colocados na escola a sua disposição. É algo difícil de conseguir, pois criticar e resistir individualmente requer conhecimentos específicos e coragem. O educador precisa ser alguém que estabeleça uma relação de confiança e dialogo com seus alunos trabalhando uma afetividade mobilizadora da energia inerente a cada individuo. Por isso, é primordial que o educador acredite na capacidade geradora e inventiva de seus alunos, canalizando essa energia a serviço das suas vidas e de outrem, pois esse pequeno indivíduo apesar de saber buscar os elementos básicos ou seu movimento necessita de alguém para protegê-lo e guia-lo durante sua busca. Isso é relação de afeto, alguém por perto, junto educador e educando completam-se e partilham suas energias e partindo dessa relação o aluno pode conduzir seus próprios caminhos escolares. Ao educador cabe oferecer oportunidades da criança exercitar potencialidades, criando situações-problemas em que ele desequilibre e construa e seu próprio equilíbrio, testando, tentando, inventando, sem medo de criticas negativas ou desdém. Paralela a essa atitude, o educador deve introduzir e trabalhar de forma prática questões referentes à boa convivência 28 social, a fim de que as crianças sejam conscientizadas da importância do bom uso de normas e regras de conduta social. É importante que juntos, professores e alunos estabeleçam e cumpram rotinas em sala de aula, tais como: observância aos horários da entrada e saída de sala, comunicações orais ou por escrito de eventuais atrasos e faltas (isso vale para o professor também). Ordem de atividades diárias etc. Um ambiente sereno, acolhedor aliado a um diálogo franco entre as partes, propiciam à criança boas oportunidades de expressarem-se com segurança, externando seus sentimentos, dúvidas e descobertas. Para ser possível e bem sucedida a tentativa de ensinar, ou seja, transmitir conhecimento e informação ao indivíduo, no caso em foco uma criança, deve-se inicialmente tentar conhecer essa criança, sua estrutura social e fisiológica, mas também seu aspecto interior, suas emoções, inquietudes, buscas, sonhos e necessidades individuais, ou seja, o educador precisa construir com essa criança uma relação de afetividade verdadeira a fim de se estabelecer uma relação educacional bem sucedida. É uma relação humana bem fundamentada que pressupõe a aquisição do conhecimento e a evolução para o saber e, somente o homem pode conduzir o seu semelhante a esse crescimento. Nesse contexto, o professor precisa, a priori, conhecer o seu educando, em todas as suas facetas: estrutura física, meio social, psicossocial, as suas características como pessoa única e singular, que sofre, emociona-se, interessa-se e desinteressa-se e busca com maior ou menor intensidade compreender o mundo e seu papel como aluno/indivíduo. Segundo Saltini: “O educador deve ter em mente que quando uma criança vai à escola não é apenas para aprender conhecimentos repassados a várias gerações, mas para também aprender, ou seja, vivenciar e transformar o seu processo de aprendizagem como um todo. As perguntas das crianças devem ter maior importância que suas respostas, pois toda indagação deve ser considerada como um 29 indício de conhecimento ou curiosidade acerca de algum fato, em outras palavras, a escola deve interessar-se pelo desenvolvimento do pensamento individual, pelas expressões dos alunos partilhados no papel ou oralmente, ainda que nem sempre em concordância com o material didático utilizado” (SALTINI, 1999, p. 70). Uma outra questão fundamental para uma boa relação afetiva entre o professor e seus alunos é que o primeiro tenha disponibilidade e serenidade para ouvi-los estimulando-os com essa postura e adquirem o hábito o saudável habito de falar, questionar, opinar. Isto é, ser afável, disponível, companheiro. É a antítese do educador autoritário, dono absoluto e guardiã da verdade. O que se busca trazer para a sala de aula e para o cotidiano da criança e o que o professor vai ser antes de tudo um parceiro na grande aventura do conhecimento. Alguém que ali está para garantir a criança direito de ser questionadora, curiosa, inventiva, autêntica, sem lhe ensinar ou oferecer de bandeja conceitos prontos e acabados. Saltini recorre a Piaget para afirmar que: “O papel do mestre deve ser o de incitar à pesquisa e de fazer tomar consciência dos problemas, e não esquecer que uma verdade imposta deixa de ser uma verdade: compreender é inventar ou reinventar e dar uma lição, prematuramente é impedir a criança de encontrar ou redescobrir as soluções por si mesma”(SALTINI, 1999, p. 88). Partindo desse princípio e com base no que foi apreendido pelo grupo, o educador pode utilizar essa riqueza de informações trabalhadas para promover a interação entre o aluno (sujeito) e o meio (objeto), atuando como um gerenciador, criando situações propícias às descobertas, soluções que vão ser tentadas e certamente alcançadas pela criança individualmente ou pelo grupo. 30 Todo esse processo deve ser finalizado com uma avaliação do que foi pensado em sala de aula. Que caminhos foram trilhados, as tentativas bem sucedidas, o tempo e o esforço dependidos em função de soluções, os erros, os acertos, tudo enfim é possível de ser avaliado. Dessa forma o aluno sente-se parte ativa, se auto avalia, avalia seus colegas e o próprio professor. É o que se procura, formar cidadãos conscientes do seu papel na comunidade, e tudo pode e deve começar em sala de aula. 31 CAPÍTULO IV O PSICOPEDAGOGO NO CONTEXTO EDUCACIONAL Segundo Bossa (2000) o trabalho do psicopedagógico deve começar na escola pois tanto socializa como desenvolve a parte cognitiva, levando em conta uma função importantíssima que é a construção das regras de conduta. Através da aprendizagem o sujeito pode ser inserido na sociedade de forma mais organizada e com uma cultura mais elevada, sendo a escola em parte a responsável por esta aprendizagem, cumprindo assim o papel de mediadora. Vivemos em uma época em que os pais já não têm muito tempo para auxiliar os filhos na aprendizagem nem tampouco para educá-los e deixam para a escola toda a essa função. Muitas vezes por ficar sem esse apoio, pois a escola não consegue só, sujeitos com dificuldades de aprendizagem e também com a dificuldade de se relacionarem com o meio. Vejamos nas palavras de Visca (apud Bossa ): “Eu não acho que a aprendizagem seja restrita à escola. Eu acho que esta é a melhor forma de transmitir algumas aprendizagens, mas não é só na escola que se aprende. A aprendizagem acontece no sujeito” (BOSSA, 2000, p.90). Ao trabalhar com uma criança já no início, percebe-se as diferenças e capacidades intelectuais de cada uma, pois cada uma tem uma história e isto nos leva a uma preocupação, pois a psicopedagogia tem o compromisso de prevenir e também articular juntamente com a família meios para fazer com que este sujeito tenha acesso a cultura. O trabalho psicopedagógico é de ação preventiva muito ampla, porém pouco explorado. Sobre o trabalho psicopedagógico na escola muito se tem a fazer, pois grande parte a aprendizagem adquirida ocorre dentro de uma 32 instituição escolar, com professores, com o conteúdo enfim com todo grupo social escolar. A psicopedagogia destina-se a áreas ligadas ao planejamento educacional, assessoramento pedagógico, colabora com os planos educacionais e sanitários no recinto das organizações, adentrando a modalidades clínicas, efetivando diagnósticos institucional. Os profissionais que realizam este trabalho tem atentado pela necessidade do trabalho a ser realizado na instituição escolar analisando questões metodológicas, relacionais e socioculturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo sempre a participação da família e da sociedade. Vejamos o que pensa Weiss a respeito disso: “Existem diferentes enfoques em relação ao que se entende por psicopedagogia na escola. Adotarei a posição de considerá-la como um trabalho em que se busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem e dos alunos e educadores. É dar-se ao professor e ao aluno um nível de autonomia da busca do conhecimento e, ao mesmo tempo, possibilitar-se uma postura crítica em relação à estrutura da escola e da sociedade que ela representa. Para isto, é necessário um posicionamento sobre o que a escola produz” (WEISS, p.47,1991). A autora destas palavras reflete a preocupação e a tendência atual da Psicopedagogia no seu compromisso com a escola, juntamente com esse trabalho preventivo deve-se levar em consideração os protagonistas desta história que o professor e o aluno, contudo não estão sozinhos, participando também a família e outros membros da comunidade que interferem no processo ensino-aprendizagem, aqueles que decidem sobre as necessidades e prioridades escolares. 33 A criança quando entra na escola com um desenvolvimento que traz a partir do convívio familiar e do meio social em que vive, pode facilitar ou às vezes atrapalhar no desenvolvimento afetivo intelectual. Pensar a escola à luz da Psicopedagogia implica dedicar em especial sobre a formação do professor. Pode-se dizer que uma das tarefas mais importantes na prevenção psicopedagógica é encontrar novas modalidades para tornar essa formação mais eficiente. Assim as propostas de formação docente devem dar suporte ao professor para estabelecer uma relação madura e saudável com os alunos, pais e autoridades escolares. Portanto, investigar, analisar e realizar novas propostas para formação docente buscando dar sua contribuição prevenindo problemas de escolaridade e uma tarefa do psicopedagogo. 4.1 Diagnóstico Psicopedagógico Todo diagnóstico é em si uma investigação, é uma pesquisa do que não vai bem em relação a uma conduta esperada. Será, portanto, o esclarecimento de uma queixa, do próprio sujeito, da família e na grande maioria das escolas, quando no caso do não-aprender, do aprender com dificuldade ou lentamente, do não revelar o que aprendeu e do fugir de situações de possível aprendizagem. Nessa investigação não se pode classificar o indivíduo em determinadas categorias, mas entender como ele aprende e dos possíveis desvios, organizando os dados obtidos à sua vida biológica, intrapsíquica e social de forma única e pessoal. Na ação diagnóstica podemos dizer que o que é percebido pelo próprio indivíduo ou pelos outros é chamado de sintoma, e esta está sempre mostrando algo, é um epifenômeno, e é, portanto o que emerge da 34 personalidade em interação com o sistema social em que está inserido. Partindo daí, o problema que é manifestado por um aluno em uma escola ou turma ou com determinado professor, pode não se manifestar com clareza em outro ambiente escolar, deixando bem evidente que há um certo tipo de desvio em relação a determinados parâmetros existentes no meio, que são representados por suas exigências. Partindo da aceitação do desvio vem aí o momento crucial do diagnóstico, o terapeuta precisa de clareza na busca desses parâmetros, que posteriormente vão definir a qualidade e a quantidade do desvio e sua importância no desenvolvimento da escolaridade. Alguns fatores como cultura, classe socioeconômica, idade cronológica, existência da família e da escola, relação entre conteúdos escolares e o desenvolvimento de estruturas de pensamento, exigências feitas pela escola durante a alfabetização, a leitura e a escrita. Para se dar início a um diagnóstico psicopedagógico o terapeuta precisa ter bem claros dois eixos de análise: Horizontal – Histórico – Visão do presente Vertical – histórico – Visão do passado, Visão da Construção do sujeito No eixo horizontal a busca está centrada nas causas que coexistem temporalmente como sintoma, realizando a contextualização deixando bem claro a intensidade do desvio. Para a obtenção deste é utilizado além de entrevista com o paciente, instrumentos tais como: Entrevista Familiar exploratória Situacional – EFES, Entrevistas com toda a família incluindo paciente e irmãos. Entrevista Centrada na Aprendizagem – EOCA, Sessões Jurídicas, Testagens diversas, Provas Operatórias de Piaget, Entrevistas com a equipe da escola e outros profissionais, Análise de produções fora do consultório (desenhos, escritos, etc.). 35 No eixo vertical é o momento da construção geral do indivíduo, isso da anamnese com a família, escola, laudos, relatórios, registros e fotografias e também a história nuclear e dos ancestrais. Para obter os dados desses eixos não deve ter regras prefixadas, pois cada um tem seu jeito próprio de ser e deve ser descoberto e respeitado pelo terapeuta, mas utilizando sempre elementos na área cognitiva, afetivo-social e pedagógica. O sucesso de um diagnóstico não reside no grande número de instrumentos utilizados, mas na competência e sensibilidade do terapeuta em explorar a multiplicidade de aspectos revelados em cada situação. O objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar desvios e obstáculos básico no modelo de Aprendizagem que impede o sujeito de crescer de alguma forma no meio em que vivo. Crescimento que vem das observações da escola, família que não obtidos pelo terapeuta e outros profissionais. É entendido como Modelo de Aprendizagem é toda a estrutura de conhecimentos que o sujeito já carrega, os estilos usados nessa aprendizagem, o ritmo e áreas de expressão de conduta, a conhecimento dos objetos escolares e a sua importância destes para ele, família e a escola. Ao perceber que alcançou algo significativo o terapeuta já pode levantar hipóteses sobre a causa do problema de aprendizagem e/ou fracasso escolar, traçando rumos para a mudança do problema orientando família e escola e ficando bem claro que a procura do diagnóstico deixa uma agitação no paciente e na família. O diagnóstico só terá validade, qualidade se tiver uma boa relação terapeuta-paciente, pois esta cria confiança para futuros atendimentos. 36 4.1.1- Exemplo 1, (Weiss 2001, p.90), afeto e cognição Carlos (8a.6m.), ainda analfabeto, tinha sido convidado a se retirar de uma segunda escola particular, de boa direção pedagógica, por não ter qualquer evolução e ainda por perturbar a turma com sua dispersão. Ele era o filho mais velho, sendo a irmã de 7 anos “a brilhante” da família. Na primeira sessão, recusou-se a usar papel e lápis, mesmo que fosse apenas para desenhar. Ao ver as letras de plástico e material escolar, encheu dois copos de água e timidamente esboçou o gesto de jogar as letras na água. Auxiliei-o atirando com ele, de forma ritmada, tudo aquilo que desejava. Ao acabar, falou: “Tudo já bem afogadinho, o apontador agora vai enferrujar”. Fácil é se perceber a vinculação inadequada com a aprendizagem escolar, revelada pela ansiedade e esse emergente afetivo, de forma “fusional”, criei a possibilidade de ele agir mais livremente. Em outras sessões, ao pedir pintura, dei-lhe potes com tintas e pincéis de tamanhos bem variados e quantidades diversas de modo que me permitissem avaliar as suas possibilidades de seriar e classificar por tamanho, tonalidade, espessura; de estruturar o espaço gráfico e de buscar soluções para obter cores e formas, ou simplesmente jogar as tintas no papel, aleatoriamente, fazendo borrões, em conduta bem regredida. No jogo de Pega-varetas pude observar, além da motricidade fina, vários aspectos lógico-matemáticos ligados às cores, valores e quantidades de palitos, sua dificuldade em quantificar e a ausência de raciocínio 37 multiplicativo. Vi como lidava com o sucesso e o fracasso, com o cumprimento de regras e mais uma vez a rejeição a escrever o placar do jogo. Em atividades de carpintaria e de construção com sucata, percebi a sua desorganização de conduta sempre que se via diante de uma situação problemática para decidir sobre forma ou tamanho das peças de material, acabando por colocar pedaços aleatoriamente sem nenhuma antecipação de projeto. Nos momentos em que apenas lixava ou pintava suas produções, conversa tranqüilamente, relevando-se profundo conhecedor de programas de televisão, como filmes, noticiários, reportagens científicas, etc. Sua linguagem oral era perfeita, excelente vocabulário, narrativas lógicas e precisas. Numa dessas conversas propôs: “Vamos fazer uma festa igualzinha às do Conde Drácula que eu vi na TV?” Acertei imediatamente a proposta e ele ditou-me extensa carta aos monstros convidados, com a descrição de presentes do tipo “copo de sangue”. Ao terminá-la, rapidamente entreguei-lhe o lápis, e ele, apanhado de surpresa, escreveu o próprio nome com letra script. A partir daí, consegui que escrevesse outras palavras e tentasse ler está certa e outros textos. Verifiquei que se encontrava totalmente no período pré-silábico, segundo as hipóteses levantadas por pesquisas de Emília Ferreiro, o que tornava difícil sua alfabetização segundo a exigência das cartilhas escolares. Carlos possui a estrutura de pensamento totalmente no nível pré-operatório, com dificuldades temporais e espaciais, tendo processo exageradamente assimilativo. 38 Carlos apresentava graves problemas emocionais oriundos de sua história familiar. No entanto, como as diferentes escolas não souberam lidar com suas dificuldades, agravou-se o seu caso, ficando evidente um bloqueio no funcionamento intelectual em relação à aprendizagem escolar, sintoma bastante significativo no contexto familiar que endeusava o sucesso escolar da irmã menos. Recomendou-se, inicialmente, um atendimento psicopedagógico para Carlos resgatar sua relação com a aprendizagem formal, escolar, possibilitar a organização e o desenvolvimento cognitivo-afetivo, acompanhado de terapia familiar. Indicou-se também, para um momento posterior, um atendimento psicoterápico. Sintetizando Queixa – Hipótese - EFES – Hipóteses – Anamnese – Hipóteses – Novos Instrumentos: Sessão Lúdica Centrada na Aprendizagem – Hipóteses. 4.1.2 – Exemplo 2-(Experiência vivenciada como educadora em sala de aula) Carlos Henrique, 8 anos, uma criança que repetia a 1° série, era um aluno indisciplinado e vivia em seu mundo, conservava somente os conhecimentos trazidos de casa. O trabalho era realizado normalmente com ele as outras crianças, e no final do 1° bimestre nota-se que seu rendimento foi inferior aos dos demais, deixando grande preocupação diante da situação. A escola convocou a família e a deixou a par da situação. Diante de tal situação algo mais comprometedor deveria ser feito. Foi feito o teste da Psicogênese e foi analisado que o aluno estava no intermediário I, usava 39 somente letras do seu nome para escrever qualquer palavra. Houve uma aproximação maior, e saber um pouco do seu percurso biológico e intelectual, onde foi detectado que este trazia uma bagagem de conhecimentos, só que ninguém nunca havia parado e dado a atenção necessária. Foram usadas várias estratégias para que conseguisse acompanhar a turma. Foi um desafio. O trabalho com a turma seguiu normal como de rotina e o citado aluno foi colocado numa carteira na frente, ao lado da professora e feito um trabalho diferenciado com ele, usando jogos, alfabeto-móvel, fichas e outros objetos que era observado que lhe chamava a atenção, pois foi notado que tinha seu lado emocional bastante afetado. Fora encaminhado para a Equipe Multidisciplinar, teve somente 2 ou 3 encontros e família usando de vários argumentos, suspendeu por conta própria o acompanhamento. Foi realizado um trabalho bem comprometido e no final do 3° bimestre foi feito novamente um diagnóstico, percebia-se que ele já lia palavras simples e com um pouco de dificuldade palavras com sílabas complexas. A atenção com o aluno continuou sendo um sinal marcante sempre com atividades desafiadoras que ele as realizava com satisfação. Ao encerrar o ano letivo, foi surpreendente, pois tinha vencido as barreiras: lia conforme criança de sua idade, produzia pequenos textos, somava, subtraia, tinha noções de multiplicação e já era uma criança que já se relacionava bem com o grupo. A partir desta vivência fica nítido que a influência determinante do conhecimento e a organização de conceitos evidência todas as atividades cognitivas que este realiza conforme a sua significância. 4.3 O papel da família em parceria com a escola Para a escola e para o professor essa política também traz contradições. Por um lado o escopo de atuação da escola ao pressupor a reeducação dos pais/mães (para a participação na escola controlando o currículo, o orçamento escolar e o desempenho docente, e para a participação no lar monitorando o dever de casa) como precondição para educação das crianças. 40 Nas sociedades capitalistas, exige-se mais a participação da mulher no campo de trabalho o que faz com que haja a divisão, criação dos filhos e provimento familiar, deixando a educação dos filhos cada dia mais cedo a cargo de creches e escolas, esperando assim que a escola cumpra o dever de socializar e preparar os filhos para a vida moderna. Com efeito, é importante diferenciar o envolvimento dos pais na educação dos filhos como atitude individual informal, no contexto de uma cultura de classe e de sua estratégia de ascensão social, da política formal que visa promover a contribuição acadêmica dos pais para a eficácia escolar mediante incentivos positivos e negativos. Assim, essa política totalitária em seus efeitos sobe a família de dois modos: ao penetrar espaços e tempos extra-escolares pela imposição do currículo escolar (a cultura dita científica, a visão do mundo dominante, determinadas ideologias) sobre as culturas familiar e popular no cotidiano doméstico e comunitário; ao tratar da família como objeto de política educacional visando elevar indiretamente a produtividade escolar mediante a utilização do ambiente e tempo familiares, tornando-os mais educacionalmente produtivos de acordo com a perspectiva da escola. É importante chamar a atenção para o alcance da política escolar sobre a família e especialmente sobre as mães, explicitamente sobre a família como instâncias educativas. Como observa, a organização do trabalho (destinada aos homens) e da escola (destinada às crianças) são incompatíveis tanto em termos da jornada diária (8 horas de trabalho e 9 meses de escola) porque pressupõem uma mãe disponível diariamente e gênero do dever de casa é um ponto cego da atual política de participação democrática dos pais no processo educacional. Para que haja um entendimento entre ambas é necessário que a escola faça uma exposição clara sobre a sua filosofia e trace seus objetivos estabelecendo-se uma relação dialógica com base em uma aceitação de princípios de parte a parte, evitando-se assim possíveis mal entendidos, falsas 41 expectativas e exigências descabíveis. Por outro lado o contato com a família possibilita aos educadores o conhecimento do conceito de que os pais têm de seus filhos e trabalham a partir dessa constatação. Segundo o Estatuto da Criança e Adolescente, a instituição familiar deve apresentar respeito mútuo. A família tem deveres com a criança: “Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substancias entorpecentes” (ECA, 2002, p.16). É na família que a criança deveria adquirir os ensinamentos fundamentais de uma boa educação, pois é ela o seu principal grupo social. É na família que ela é amparada, sua auto-estima é valorizada, recebe afeto, carinho podendo assim desenvolver, seu papel afetivo-social. Deste modo, a presença da família é muito importante para a criança. Espera-se que a criança possa contar com esse apoio todos os momentos de sua vida. 42 CONCLUSÃO A reflexão sobre a ação psicopedagógica possibilita a análise do processo de aprendizagem, já que esta tem como foco questões específicas no que diz respeito a relação aluno x escola x família e suas contribuições para o processo, tendo em vista que o indivíduo se apropria de conhecimentos ao longo de sua trajetória. Lidar com o universo de construção significa estar aliado a dimensão cognitiva e afetiva, estando estes interligados em todas as fases da aprendizagem, levando sempre em conta a emoção, valores e o poder sociocultural, grandes influentes no papel ato de aprender. A idéia de que o professor não educa ninguém pois este está na sala de aula para auxiliar, mediar situações, ele deve ter uma relação harmoniosa com a turma para que consiga um diálogo de confiança e afeto buscando elementos básicos para que possa ser bem conduzido no papel de criar cidadãos conscientes. A família e a escola, cada uma com suas funções psicológicas e limitações, atuam na orientação de crianças. Assim, essas escolas devem assumir suas responsabilidades para que os sujeitos interajam uns com os outros, tão adequadamente quanto possível, fazendo com que suas tarefas educativas e sociais sejam desempenhadas com êxito. A psicopedagogia previlegia ao mesmo tempo quem ensina e quem aprende e, convidando a todos os envolvidos no processo e ensinoaprendizagem, com ela se envolverem e a se comprometerem não só com aspectos didáticos – metodológicos, como também com as questões socioculturais, que visa a construção de um espaço de trocas mais prazeroso, no qual o conhecimento, a aprendizagem e a afetividade estejam centralizadas. 43 Por fim, a psicopedagogia está buscando investir em melhorias das relações de aprendizagem. O sucesso, no entanto dependerá de quanto as instituições estiverem abertas às mudanças e da realização que cabe às entidades competentes. 44 BIBLIOGRAFIA ARANTES, Valéria Amorim. Afetividade e Cognição: Rompendo a Dicotomia na educação. Disponível em: www.hottopos.com/videtur23/valeria.htm. Acesso em 20 de junho de 2006. BOSSA, Nádia A. A psicopedagogia no Brasil – 2a edição Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. BRAGA (2004) – Educação e Afetividade – Disponível em www.ursula.com.br. Acesso em 16 de junho de 2006. BRASIL.LEI.DECRETO. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei. 8069, de 13/07/90 – Niterói: Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, 2002. DANTAS, Heloysa. A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon. In: DE LA TAILLE, Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992. CHALITA, Gabriel (2004) –Educar é um ato de coragem – Disponível em www.fernandoallende.com.br.artigo/defaltartigo.asp. Acesso em 20 de junho de 2006. FERNÁNDEZ, Alicia - A Inteligência Aprisionada; tradução Iara Rodrigues.Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, [et al]. Miniaurélio século XXI Escolar: O mini dicionário da língua portuguesa. 4. ed.ver. ampliada – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 45 MADRUGA, Juan A. Garcia e Lacasa, Pilar – Processos Cognitivos Básicos nos anos escolares. Desenvolvimento psicológico e educação: psicológica, evolutiva/organizado por César Cool, Jésus Palácios e Álvaro Marchesi; trad. Francisco Franke Selteneri e Marcos A. G. Domingos - Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.v.1. PIAGET, Jean. Inteligência y afectividad. Buenos Aires: Aique, 2001. SALTINI, Cláudio J. P. – A Afetividade e Inteligência – 3° ed., DP&A Editora – Rio de Janeiro, 1999. VYGOTSKY, Leo Semenovitch – Pensamento e Linguagem; tradução Jeferson Luiz Camargo; revisão técnica José Cipolla Neto. 2º ed. São Paulo: Martins Pontes, 1998. - (Psicologia e Pedagogia). WADSWORTH, Barry J. – Inteligência e afetividade da Criança na teoria de Piaget/ Barry J. Wadsworth; tradução de Esméria Rovai; supervisão editorial Maria Regina Maluf – 5A ed. – São Paulo: Pioneira, 1997. – (Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais. Educação). WEISS, Maria Lúcia L. – Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem. Rio de Janeiro: DP&, 2001. 8A edição. 46 ANEXOS Índice dos anexos Anexo 1 >> Internet; Anexo 2 >> Internet; Anexo 3 >> Internet. 47 ANEXO 1 www.saudevidaonline.com.br Afetividade A questão afetiva se bem atendida ajudará seu filho para que tenha êxito na escola Maria do Rosário Silva Souza O aspecto afetivo tem uma profunda influência sobre o desenvolvimento intelectual. Ele pode acelerar ou diminuir o ritmo de desenvolvimento. Ele pode determinar sobre que conteúdos a atividade intelectual se concentrará. Na teoria de Piaget, o desenvolvimento intelectual é considerado como tendo dois componentes: um cognitivo e outro afetivo. Paralelo ao desenvolvimento cognitivo está o desenvolvimento afetivo. Afeto inclui sentimentos, interesses , desejos, tendências, valores e emoções em geral. Piaget aponta que há aspectos do afeto que se desenvolve. O afeto apresenta várias dimensões, incluindo os sentimentos subjetivos (amor, raiva, depressão) e aspectos expressivos (sorrisos, gritos, lágrimas). Na sua visão, o afeto se desenvolve no mesmo sentido que a cognição ou inteligência. E é responsável pela ativação da atividade intelectual. Em vários livros Piaget descreveu cuidadosamente o desenvolvimento afetivo e cognitivo do nascimento até a vida adulta, centrando-se na infância. Com suas capacidades afetivas e cognitivas expandidas através da contínua construção, as crianças tornam-se capazes de investir afeto e ter sentimentos validados nelas mesmas. Neste aspecto, a auto-estima mantém uma estreita relação com a motivação ou interesse da criança para aprender. O afeto é o princípio norteador da auto-estima. Após desenvolvido o vínculo afetivo, a aprendizagem, a motivação e a disciplina como 'meio' para conseguir o auto-controle da criança e seu bem estar são conquistas significativas. O desenvolvimento do afeto e da inteligência são temas nucleares nos estudos sobre psicologia da educação e serão abordados nos próximos artigos, para auxiliar os pais interessados em criar um ambiente mais estimulante e feliz para seus filhos. Portanto, pais, amem seus filhos! Atendendo as necessidades afetivas de seus filhos, desde cedo, eles se tornarão mais satisfeitos consigo mesmo e com os outros, e terão mais facilidades e disposição para aprender. Fora um receituário, diria que a criança sente-se amada quando: • • • • • Precisa de consolo e encontra braços abertos: Mãos que lhe acariciam o joelho ferido ou enxugam suas lágrimas, quando está triste ou de mau humor; Ouve uma história aconchegada no colo , recebendo carícias; O tom de voz lhe é agradável e suave, produzindo-lhe um ambiente sereno e sem tensão. E as palavras ditas ("-Gosto de você!" "-Amo você!") talvez lhe sejam a melhor coisa . Não é comparada a outra, mas aceita como é (Quando preciso diga-lhe que não aprova ou não gosta de certas coisas que ela faz, mas deixe claro que gosta sempre dela). A criança observa o seu modelo, por isso procure sorrir sempre e cuidar do seu modo de agir diante dela. 48 • • • • • • • • • Considerando-se tais observações não podemos nunca esquecer que a criança tem, mais que o "senso", a sensibilidade da justiça, do que lhe é justo. Portanto não deixe que faça tudo o que quer. Procure ser justo. Saiba dizer não, os limites devem ser colocados desde cedo. Ofereçalhe segurança e não lhe negue a mão. Que ela assim não tenha medo, face as novas experiências que lhe são propostas. Quanto mais coisas ela realiza , mais segura se sente. Se necessário, não tema incentivá-la a brincar com outras crianças, fazendo com que se relacione com pessoas diferentes. E a frente destas, que nunca se sinta envergonhada, nem ridicularizada. A verdade sempre prevalece. Por exemplo, não saia às escondidas, mesmo que ela chore e não ameace com mentiras ou coisas que não cumprirá. Um outro aspecto a lembrar é que a superproteção cria dependências em excesso. Seja firme sem ser duro. É importante obedecer ao que é justo e acrescente "sei como você se sente" explicando-lhe o porquê. Sempre é bom orientá-la sobre o que é seguro e o que é perigoso ensinando-lhe a fazer coisas que sejam capazes ( para que conquistem auto-confiança e autonomia). É fundamental para o desenvolvimento da criança o brincar... o inventar coisas (com sucata ou os próprios brinquedos), a curiosidade. Poderíamos lembrar ainda que a criança precisa aprender a controlar-se, tão logo possa compreender o sentido da palavra "controlar" e que tenha tarefas para realizar, terminando o que começou (Parabenize e elogie o que ela fez). O diálogo e o "bate-papo franco" que a leve a refletir sobre os outros irá ajudá-la a respeitar as pessoas. Lembre-a que não deve rir das pessoas, colocar-lhes apelidos ou zombar de seus erros. Enfim, cabe-nos ajudá-las a acreditar em si mesmas. O que a criança pensa de si mesma é mais importante do que ela sabe. OS BONS SENTIMENTOS SÃO IMPORTANTES. OS EDUCADORES SABEM QUE AS CRIANÇAS APRENDEM MELHOR QUANDO ESTÃO SATISFEITAS COM ELAS MESMAS. A criança que sente-se amada, aceita , valorizada e respeitada, adquire autonomia, confiança e aprende a amar, desenvolvendo um sentimento de auto-valorização e importância. A autoestima é uma coisa que se aprende. Se uma criança tem uma opinião positiva sobre si mesma e sobre os outros, terá maiores condições de aprender. O sentimento de 'não sou ninguém' levará a criança a não se esforçar muito, a não ter desejo de aprender, a ficar indiferente diante do êxito ou do fracasso. E esse sentimento pode criar problemas de aprendizagem e de comportamento. Como a criança pode aprender a ter sentimentos positivos a respeito dela mesma? O que é que os pais podem fazer para desenvolver a auto estima em seus filhos? Maria do Rosário Silva Souza Psicopedagoga - Campinas/SP 49 ANEXO 2 www.conteudoescola.com.br O Funcionamento do Cérebro no Processo de Aprendizagem Por Mara Musa Soares Silveira Em decorrência dos avanços das pesquisas neurológicas e estudos realizados por neurocientistas, é curioso conhecer o funcionamento do cérebro e sua plasticidade, que, mesmo sofrendo traumatismos, tem condições de reconstituir-se na busca da construção do conhecimento humano. Afirmam os pesquisadores que o cérebro é uma entidade material localizada dentro do crânio, que pode ser visualizado, tocado e manipulado. E ainda que é composto de substâncias químicas, enzimas e hormônios, podendo serem medidos e analisados. Seu funcionamento depende de neurônios, os quais consomem oxigênio, trocando substâncias químicas através de suas membranas. Pesquisas recentes mostram que o crescimento de novos neurônios, ou seja, "neurogênese", também acontece no hipocampo, uma região do cérebro fortemente ligada à memória e a aprendizagem humana. Segundo a Dra. Henriette Van Praag, do Instituto Salk (San Diego, Califórnia, Estados Unidos), os ambientes enriquecidos e estimulados com recursos materiais, prática de exercícios físicos e uma boa nutrição influenciaram no desenvolvimento da memória e na aprendizagem. Pesquisas médicas atestam que o desenvolvimento do cérebro ocorre mais rápido nos primeiros anos de vida da criança. O desenvolvimento sadio do cérebro atua diretamente sobre a capacidade cognitiva. Quando ativado para funções como a linguagem, a matemática, a arte, música ou atividade física que facilitam para que as crianças desenvolvam seu potencial e sejam futuros adultos inteligentes, confiantes e articulados. Experiências realizadas com ratos pela Dra. Marian Diamond, neuroanotomista americana, demonstram que os animais criados em gaiolas cheias de brinquedos tais como bolas, rodas, escadas, rampas, entre outros, desenvolveram um córtex cerebral com um maior número de células nervosas. Embora ainda não existam evidencias diretas, como os experimentos realizados com ratos, presume-se que o mesmo acontece com os seres humanos. De acordo com as pesquisas realizadas, afirma-se que o cérebro divide-se em dois hemisférios e que o temperamento de cada pessoa tem relação direta com a utilização desses hemisférios. As pessoas que apresentam o lado esquerdo mais desenvolvido são tendentes a usarem de 50 forma adequada a lógica, a matemática possuindo habilidades para planejar e organizar suas ações. Já que é o lado mais intuitivo do homem. Por isso são introspectivas, amorosas, delicadas e mais racionais. O lado direito do cérebro é responsável pela imaginação criativa, a serenidade, a capacidade de síntese, a facilidade de memorizar. As pessoas que utilizam mais esse lado do cérebro possuem habilidades para analisar esquemas e técnicas em oratórias. Para que a memória funcione adequadamente no processo de informação, se faz necessária a busca da integração entre os dois hemisférios, equilibrando o uso de nossas potencialidades. Como se processam muitas informações diárias, o cérebro acaba seletivo, guardando apenas informações que o impressionem, desenvolvendo a capacidade para fixação dos fatos. Manter ativada a atenção é de suma importância, visto que, normalmente, o ser humano distrai-se com facilidade. Alguns pesquisadores sugerem que se recorra à música, pois o uso de uma música apropriada diminui o ritmo cerebral, contribuindo para haver uma equilibração no uso dos hemisférios cerebrais. Enfatizam ainda que a música barroca, especialmente o movimento "largo" propiciam um bom aprendizado. Diante dos estudos realizados pelos pesquisadores conclui-se que se torna necessário estimular as áreas do cérebro objetivando auxiliar os neurônios a desenvolverem novas conexões; educar as crianças desde a mais tenra idade em um ambiente enriquecedor, estimulando a linguagem falada, cantada, escrita criando um clima estruturado com afetividade diversificando positivamente as sensações, com a presença de cor, de música, de interações sociais, e de jogos visando o desenvolvimento de suas capacidades cognitivas e memórias futuras, favorecendo assim o seu processo de aprendizagem. Nesse sentido observa-se que devido às inúmeras pesquisas desenvolvidas sobre o cérebro no processo de aprendizagem, se verifica que cada indivíduo possui diferentes potenciais de inteligência. E que ela não é fixa, já que todo ser humano possui habilidade para expandir e aumentar sua própria aprendizagem. Segundo Rogers, o aluno deve ter desejo de aprender e o professor, como o facilitador do aprendiz, deverá ser o motivador da aprendizagem. Apreciando, escutando e respeitando o estudante, criando um estabelecimento de vínculo positivo confiando na capacidade de crescer e aprender do aluno. Por fim, a escola tem um importante desafio, que é o de aproveitar o potencial de inteligência de seus alunos para conquista do sucesso no processo de aprendizagem. Os professores são 51 os principais agentes, por meio do desenvolvimento de projetos de interesse para a realidade do ensino e aprendizagem. Quando compreendem que aprendizagem envolve cérebro, corpo e sentimentos, adotam uma ação mais competente, levando em conta a influência das emoções para o desenvolvimento na construção do conhecimento. Já que, segundo Eric Jensen, somos mais seres emocionais do que seres cognitivos. 52 ANEXO 3 www.psicopedagogia.com.br A PEDAGOGIA DO AFETO E A PSICOPEDAGOGIA PREVENTIVA Carlos França Pedagogia do afeto, termo criado para designar relações interpessoais de afetividade em sala de aula. Trata-se de introduzir no processo de ensino-aprendizagem algumas fundamentações teóricas, técnicas e vivências que possibilitam a troca energética e o toque afetivo, de tal modo que as pessoas possam intercambiar a amizade, a ternura, a cooperação, o respeito mútuo, e tantos outros sentimentos positivos, fazendo do ambiente escolar um espaço de bem-estar e realização pessoal. Fundamentado na Psicologia Transpessoal é possível aplicar uma determinada didática em sala de aula para permear de afetividade as relações docentes e discentes, melhorando a qualidade dos relacionamentos e a produtividade em sala de aula. (França, 2002). A expressão popular “melhor prevenir do que remediar”, também se faz útil na Psicopedagogia Preventiva. Esta, procurando melhorar os processos didático-metodológicos e as relações interpessoais no ambiente escolar, tenta favorecer uma aprendizagem que evite causar dificuldades que encaminhem o aluno para a Psicopedagogia Clínica. Neste novo milênio, concomitantemente à formação intelectual do educando, irá se fazendo necessária uma formação emocional. Caso contrário, corre-se o risco de enfatizar demais o cognitivo, formando estudantes altamente intelectualizados e “baixamente” equilibrados. Competência profissional e equilíbrio emocional deverão compor objetivos curriculares que lancem no mercado de trabalho seres humanos desejosos de melhor qualidade de vida, de tal modo que trabalhar não seja apenas para sobreviver ou consumir. Sala de aula, este espaço físico no qual convivem seres humanos desempenhando os papéis de professores e alunos, tem sido a realização pessoal para alguns e o inferno em vida para outros. Dependendo do tipo das relações interpessoais que são mantidas em sala de aula, decorrerá a qualidade de todo o processo de ensinar e aprender, pois não há como separar o pedagógico do humano. Tanto para professores quanto para alunos, o processo educativo envolve a demonstração de competências e habilidades, envolve relacionamentos humanos nem sempre fáceis, envolve um certo grau de ansiedade, enfim, envolve até uma série de exigências e de fatores externos ao ambiente de sala de aula. Podemos considerar que o ambiente de realizador e gratificante, quanto pode ser aversão. Também podemos considerar que parte, é decorrente das relações pessoais entre os alunos e seus professores. sala de aula tanto pode ser alegre, agradável, gerador de ansiedade, estresse, insegurança ou esse conjunto de fatores bons ou ruins, em grande que se estabelecem entre os próprios alunos, ou 53 Assim sendo, de grande importância são os tipos de relações interpessoais mantidas em sala de aula para melhorar a qualidade de vida neste ambiente. Nesse reduto social composto pelas classes de uma escola, importa estabelecer relações de amizade, de segurança, de cooperação, de prazer em estar naquele lugar e com aquelas pessoas. Neste sentido, o contato físico afetivo é um ótimo condutor de relações harmoniosas entre os membros que compartilham o ambiente escolar. 54 ÍNDICE INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO I COGNIÇÃO 11 11 1.1 Cognição e afetividade na aprendizagem segundo Saltini 1.2 Relação entre cognição e afetividade segundo Piaget 15 18 CAPÍTULO II AFETIVIDADE 20 20 2.1 O que é afetividade para Wallon 22 CAPÍTULO III A RELAÇÃO AFETIVA PROFESSOR/ALUNO 27 27 CAPÍTULO IV O PSICOPEDAGOGO NO CONTEXTO EDUCACIONAL 31 31 4.1 Diagnóstico psicopedagógico 33 4.1.1 Exemplo 1 – (Weiss 2001, p.9), afeto e cognição 36 4.1.2 Exemplo 2 – (Experiência vivenciada como educadora em sala de aula)38 4.3 O papel da família em parceria com a escola 39 CONCLUSÃO 42 BIBLIOGRAFIA 44 ÍNDICE 54 FOLHA DE AVALIAÇÃO 55