1 PROJETO MEDIAÇÃO DE LEITURA: humanizando os pacientes do Hospital das Clínicas de Pernambuco O referido relato apresenta as nossas vivências como alunos do curso de Biblioteconomia da UFPE, adquiridas no Hospital das Clínicas de Pernambuco (HC), quando desenvolvemos a atividade de humanização através da mediação de leitura e contação de história para pacientes, acompanhantes e profissionais da saúde. Estivemos inseridos dentro do Programa Manifestações de Arte integradas à saúde (MAIS) que foi criado no ano de 2007 e permanece ativo até os dias atuais e que conta também com outros profissionais (músicos, palhaço-terapeutas, atores e etc.) para realizar as suas ações. Aceitamos e nos comprometemos com a proposta, por acreditarmos que as ações de contação de histórias e mediação de leitura são ferramentas capazes de sensibilizar as pessoas e transformar o estado emocional e espírito do indivíduo. Assim como, Chiattone (2003, p. 56) afirma: Brincando e conversando as crianças conseguem exprimir seus medos, falar sobre doenças, sobre o tratamento, o hospital, a saudade da família, sobre a morte. Os acontecimentos e as condutas são elaborados e explicados exaustivamente, conseguindo-se quase sempre aliviar e esclarecer, além de trazer enorme alívio, dando condições a criança de agir por si na situação. A biblioteconomia contribuiu incentivando a leitura através de ações culturais; esta mediação é um tratamento terapêutico conhecido como Biblioterapia, utilizando os livros e leitura como objetos terapêuticos. Bente Pinto (2005) diz: Na Idade Média, os textos sagrados eram recitados durante as cirurgias. No contexto da Psiquiatria, a leitura foi vista como tendo grande valor após 1800, sendo bastante intensificada por médicos, nos Estados Unidos, no período de 1802 a 1853. Na Biblioteconomia, o uso da leitura como profilaxia, se deu a partir de 1906, e na psicologia, desde 1946. Podemos assegurar que ter oportunizado momentos como estes, nos fez pensar na responsabilidade que tínhamos em manter viva o pouco de esperança que restava nos enfermos e seus familiares, pois por meio da mediação de leitura nós concedíamos não só o direito do outro ler, mas de participar da história e consequentemente enxergar os problemas com outra 2 perspectiva. Visão esta comprovada por meio da frase de Patch Adams (1999, p.20) “[...] os principais fatores para a saúde não estão nas últimas maravilhas tecnológicas, mas em coisas comuns como o amor, a compaixão, a amizade e a esperança”. O trabalho de humanização nos permitiu conhecer diversas realidades familiares e nos envolver em alguns contextos. Vislumbrando uma mudança positiva não apenas no quadro clínico do paciente, mas o alívio de adrenalina dos acompanhantes e redução gradativa de estresse da equipe médica. Essas consequências também eram sentidas no espaço denominado como “ponto de leitura”, situado no térreo, na entrada principal do hospital, que foi implantado por nós e dava subsídio de leitura e busca de informação e conhecimento a toda comunidade. Sendo visitantes ou funcionários. Um ambiente de troca de experiências e relatos daqueles que vivenciam o dia a dia do hospital. Julgamos importante a inserção dessa prática no HC visto que a prática da biblioterapia nos hospitais tornou-se um meio de acalmar os pacientes e minimizar o nível de estresse no ambiente hospitalar. Terapeutas, médicos e bibliotecários acreditam que a leitura tem o dom de limpar a mente e afastar a tensão causada pelo clima do hospital. A biblioterapia pode ser utilizada para atingir crianças, adultos e idosos. Seu uso em hospitais, clínicas de reabilitação e presídios tem o intuito de reeducar, incentivar a leitura e a criatividade. OBJETIVOS O Objetivo geral é promover humanização no ambiente hospitalar melhorando a qualidade de vida dos pacientes, acompanhantes, alunos e profissionais de saúde. Para isso são delimitados os seguintes objetivos específicos: 1. Reduzir o nível de estresse no ambiente hospitalar; 2. Utilizar as várias manifestações de arte como ferramenta complementar no tratamento das doenças e promoção da saúde; 3 3. Sensibilizar e estimular a comunidade do HC para novas experiências artísticas e culturais. METODOLOGIA Os trabalhos do referente programa iniciou-se em meados de 2011, através de um convite feito pelo Doutor em Ciência da Informação e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Lourival Pereira Pinto, fundamental colaborador do programa. Antes do inicio das atividades do projeto realizamos diversos encontros para discutir os reflexos que a intervenção cultural, por intermédio da leitura, poderia proporcionar aquele público específico. Com isso, começamos a mobilização para implantação de um ponto de leitura dentro do hospital, que visaria dá suporte às atividades referente à leitura no ambiente, incentivando diretamente o hábito de ler dos seus frequentadores. A partir disto, começamos a buscar e receber doações de materiais de terceiros que pudessem alimentar e fomentar o ambiente do ponto de leitura, dentre estes recebemos: livros, periódicos, estantes, puffs e um computador, esse último foi doado para registrar os livros e periódicos em uma base de dados e posteriormente se disponibilizado para empréstimos na comunidade local. O intuito da criação do ponto de leitura foi e é auxiliar na execução de algumas atividades internas do HC, como a mediação de leitura. Com isso, é válido registrar que a execução desta ação é feita desde a inauguração do ponto, atendendo aos mais variados tipos de pacientes e acompanhantes, nas suas mais variadas dificuldades. Utilizamos desde 2011 até os dias atuais a mediação de leitura como uma ferramenta da arte, envolvendo novos leitores e resgatando antigos, auxiliando os mediados a se desconectar daquele universo hospitalar por alguns minutos, e esquecerem-se dos problemas, envolvendo todos com o elemento da leitura e suas manifestações. As ações do Projeto não se restringem a apenas contar ou ler histórias, mas a preocupação é levar e mostrar livros aos pacientes. Após as mediações, os livros são deixados com os pacientes, porque, pelas razões expostas em relação às interpretações, percepções e referências, ao estabelecer o ato de 4 leitura, as possibilidades de terapia por meio dos livros são maiores. Ao ler, a interação é mais próxima com o texto, e seus efeitos imaginativos, criadores e transformadores são mais poderosos. A ação dos mediadores é apenas uma ponte pra levar os pacientes-leitores à fruição da leitura dos livros. As apresentações consistem em contações de histórias, leituras em voz alta para pacientes impossibilitados de ler, e encenações de situações que envolvem a leitura. Todas as apresentações promovem o livro, utilizando o acervo do Ponto de Leitura. Daí a idéia e criação de uma peça infantil “Não Quero Ler”, sobre a importância da leitura para crianças apresentada em eventuais encontros e em uma edição da Bienal Internacional do Livro.. O Projeto parte da ideia de que os livros, na medida em que são lidos, incentivam e criam no leitor a subversão, a imaginação e o conhecimento de um mundo novo. Por ter esse caráter, a leitura é transformadora, tanto no mundo objetivo quanto no mundo subjetivo, porque agrega valores de cidadania, e de consciência social e política do mundo em que vive esse leitor. E é possível que essa transformação tenha o potencial de aliviar as dores e as angústias de pacientes internados em hospitais. Além do prazer do texto, a leitura oferece ao leitor, por identificação e cooperação textual, por apropriação e projeção, a possibilidade de descobrir uma segurança material e econômica, uma segurança emocional, uma alternativa à realidade, uma catarse dos conflitos e da agressividade, uma segurança espiritual, um sentimento de pertencimento, a abertura a outras culturas, sentimentos de amor, o engajamento na ação, valores individuais, a superação das dificuldades, entre outros. A leitura pode servir como alimento à alma, como consolo, pode diminuir o estresse, e ajudar a sorrir. AVALIAÇÃO A leitura, como condição para a interpretação, tem o potencial de resgatar o paciente ao seu estado saudável, porque essa interpretação transforma as condições psíquicas do enfermo. Isso acontece porque a linguagem é poderosa para gerar significados, através das interpretações. Na verdade, a leitura e a interpretação, não se restringem à psique ou 5 pensamento, mas vão além, interferem no ânimo, na alma, porque, as palavras, por meio da significação, têm poder de alterar e transformar a alma. Assim, cremos que a subversão da viagem por outros mundos e épocas, construída pelo leitor, é fundamental para pacientes impossibilitados de locomoção. Naquele momento, ele pode „esquecer‟ as angústias presentes e se libertar para um mundo diferente e que, além do entretenimento, possa trazer a ele, novos conhecimentos. Analisando essas possibilidades, permitimo-nos levantar a hipótese de que a leitura transforma e salva o leitor, alterando seu estado de conhecimento e melhorando sua postura crítica perante a sociedade. As validações das hipóteses, os resultados esperados e obtidos são bastante subjetivos, pois é difícil quantificar ou qualificar as sensações, emoções e pensamentos dos pacientes antes, durante e depois das atividades realizadas. Com as ações desenvolvidas esperávamos que houvesse a diminuição dos índices de estresse em pacientes internados nas enfermarias gerais, UTIs e no preparo pré-cirúrgico; a diminuição da ansiedade nas salas de espera; também a diminuição dos índices de estresse em profissionais da área de saúde; bem como a melhoria das condições de trabalho e de atendimento pela redução dos níveis de estresse e também a melhoria do quadro de saúde dos pacientes pela redução do estresse. E, claro, levar por toda comunidade hospitalar a leitura. O acompanhamento da aplicação das atividades é permanente entre o coordenador e alunos envolvidos no projeto através de reuniões que ajudam a construir, melhorar e discutir sobre esse processo terapêutico. Os eventos são registrados por meio de descrição no Livro de Bordo e fotografias. E é notória a satisfação e empenho dos alunos antes, durante e depois da participação de cada grupo nas ações. O projeto de mediação de leitura tinha como principal intenção divulgar o ponto de leitura localizado no Hospital das Clínicas de Pernambuco. No entanto, o objetivo do projeto expandiu-se tornando possível aplicar uma das áreas da Biblioteconomia, a biblioterapia. Profissionais que atuam no hospital relatam que o nível de estresse entre os pacientes minimizou. A enfermeira 6 Kilma Lígia conta que com o decorrer do projeto notou-se, principalmente entre as crianças, a redução da tensão dentro do hospital. “Antes percebíamos que as crianças ficavam tensas quando chegávamos perto dos quartos. Agora com a interação ocasionada pela mediação de leitura as crianças estão mais leves e interagem melhor conosco.” O paciente Gabriel dos Santos de 8 anos fala que as visitas realizadas pelo grupo fez sua estadia no hospital ficar menos “chata e cansativa”. Ele conta que com os livros que são deixados pelos integrantes do grupo de mediação de leitura “a hora voa.”. O projeto também divulgou e continua divulgando o ponto de leitura do HC. Local atrativo para o decorrer das horas dentro do hospital. REFERÊNCIAS ADAMS, P. Patch Adams: o amor é contagioso. Rio de Janeiro: Sextante, 1999. BENTE PINTO, Virgínia. Biblioterapia como campo de atuação para o bibliotecário. CHIATTONE, H. B. C. A criança e a hospitalização. In: ANGERAMI-CAMON, V. A. (Org.).Apsicologia no hospital. São Paulo: Thomson, 2003. Disponível em<h ttp://susanaalamy.sites.uol.com.br/psicopio_n6_38.pdf >. Acesso em: 23 nov. 2 014. BENTES PINTO, Virgínia. A biblioterapia como campo de atuação do bibliotecário. Transinformação, Campinas, v.17, n.1, p.31-43, jan./abr. 2005. Disponível em:<http://www.brapci.ufpr.br/documento.php?dd0=0000000400&dd 1=4eac4>. Acesso em 06 out. 2003.