Complexidade, Sistêmica e Holismo: hipóteses possíveis acerca da realidade MASP 11/08/2009 Nelson Fiedler-Ferrara Premissas: Cognição como ato ou processo dinâmico de conhecer. No exercício do viver elegemos/construímos modelos sobre a realidade. ABORDAGEM BIO-COGNITIVA ____________________________________________ (P. Galvani) S3 Autoformação (pilotado pelo sujeito) S1 S2 Héteroformação (outras pessoas) Família, meio social, cultura Ecoformação (coisas) . Meio ambiente Clima, influências físicas e físicocorporais, dimensão simbólica do meio ambiente físico No processo de cognição procedemos a recortes da realidade como representada pelo modelo que escolhemos. Também conceitualizamos, categorizamos, hierarquizamos. Esses atos cognitivos realizam-se segundo critérios. Metaconceito (dinâmico) para os critérios AXIOLOGIA (fins, valores) ONTOLOGIA EPISTEMOLOGIA (natureza do Ser ou dos Objetos) (métodos, tipo de conhecimento) GNOSIOLOGIA (validade do conhecimento em função do Ser cognoscente) ( Fiedler-Ferrara e Mattos ) Os critérios podem se atualizar ao longo da cognição Princípio do Balanço Complementar Quanto maior o número de comportamentos controlados que impomos para uma específica solução de problema, mais a cognição se torna uma tarefa específica efetivamente realizada. Mais permitimos o desvelamento histórico, mais a cognição se parece ao senso comum criativo. Trata-se de aceitar o desafio de como permanecer na riqueza da criatividade cognitiva mantendo a possibilidade de uma efetiva implementação. (F. Varela) Holismo Pensamento Sistêmico Sistêmica Complexidade Antes porém, alguns comentários... Crítica à demonização do Cartesianismo, do Reducionismo e do Mecanicismo. A questão da prioridade epistemológica: a complexidade do mundo não era desconhecida pelos cientistas, apenas não se sabia como trabalhar com ela – daí a adoção, antes, de uma prioridade epistemológica reducionista. O advento dos grandes computadores muda esse cenário. Nossa preferência por uma visão de mudança em Ciência contínua e “adaptativa” e não pela concepção de revolução científica. Modelo Reticulado de Racionalidade Científica (Laudan) Objetivos Teorias Metodologias Mudança contínua e “adaptativa” Revolução Científica (Khun) Paradigma 1 Objetivos Metodologias Teorias Paradigma 2 Objetivos Metodologias Teorias Mudança ao mesmo tempo Hipóteses (critérios) adotados pela ortodoxia dos cientistas hoje Realismo : a realidade de um mundo externo ( objetivismo realista crítico ) Pluralismo: a realidade tem uma estrutura de vários níveis Determinismo Ontológico: Leis ( a não ser confundido com Determinismo Epistemológico, isto é, admitem-se leis estocásticas, a objetividade do acaso, etc.) Determinismo Epistemológico Flexível (cognocibilidade limitada) Formalismo: a autonomia da Lógica e da Matemática (incorporando, também, teoremas de incompletude, por exemplo, Teorema de Gödel ) Hipóteses ontológicas sobre a realidade, adotadas pela maioria dos cientistas hoje (a) A realidade é sistêmica (b) A realidade é complexa (c) A realidade pode ser expressa por leis Holismo Pensamento Sistêmico Sistêmica Complexidade Metaconceito (dinâmico) para os critérios AXIOLOGIA (fins, valores) ONTOLOGIA EPISTEMOLOGIA (natureza do Ser ou dos Objetos) (métodos, tipo de conhecimento) GNOSIOLOGIA (validade do conhecimento em função do ser cognoscente) ( Fiedler-Ferrara e Mattos ) Os critérios podem se atualizar ao longo da cognição Holismo É um critério epistemológico através do qual se consideram certas realidades – e às vezes todas as realidades – primariamente como totalidades ou “todos” e secundariamente como compostas por certos elementos ou membros. Alguns Holismos ... Modelo para o organismo Kurt Goldstein ( 1878 – 1965 ), neurologista e psiquiatra, caracteriza (1934) os organismos individuais como entidades “holísticas”. “ Os organismos são sistemas que funcionam como um todo , de tal modo que um estímulo dado deve produzir mudanças no organismo inteiro ”. Sociologia Aplicado à sociedade humana, Holismo foi utilizado seja como concepção da natureza da realidade social (holismo ontológico social), seja como modo de explicação dessa realidade (holismo metodológico social). Nesse contexto, holismo se contrapõe a individualismo. Durkheim ( 1858-1917) As instituições sociais, uma vez criadas pelo homem passam a funcionar de maneira independente, condicionando suas ações, integrando o quadro de indivíduos em uma moral ou sistema de valores coletivos ( religião, moral, direito, economia/mercado, estética ). Os sistemas de valores tem como finalidade a regulamentação e o monitoramento do indivíduo, enquanto ser pertencente a um coletivo, assegurando que este trabalhe com o intuito das necessidades do grupo, e não de suas necessidades individuais. Filosofia da Linguagem Proliferam problemáticas holísticas com relação ao significado. Uma palavra isolada ( ou uma oração, ou uma hipótese, ou uma crença, etc ) parece não ter sentido por si mesma, mas na medida em que faz parte de uma unidade mais ampla ( uma linguagem, uma teoria, uma ideologia ). A aceitação do Holismo Semântico ( ou do significado ) é a aceitação de que aquelas unidades menores têm um sentido derivado do conjunto. Wittgenstein ( 1889-1951) [ das Investigações Filosóficas (1953), em relação àquele do Tractatus (1921) ] Quine ( 1908-2000 ) Duhem ( 1861-1916) etc. Nesses três “holismos”, a questão da totalidade é tratada na sua relação com as partes. Nesse tipo de holismo, é logicamente obrigatório explicitar as condições necessárias para garantir, a partir do conjunto, o significado das partes. Caso contrário, não se terá sucesso em compreender as partes e seu papel no todo,bem como o todo a partir das partes. Assim, como se compreenderá mais à frente, essas abordagens, apesar de não serem assim denominadas, já são protocomplexistas. O Holismo de J.C.Smuts (1870- 1950) ( Holism and Evolution, 1926 ) Não classifica seu livro como de Filosofia ou de Ciência. Busca promover a aproximação entre elas. Afirma que a Ciência não poderá confirmar suas afirmações, porque o âmbito de suas preocupações é diverso. Usa Holismo em sentido mais geral que os precedentes. Holismo, para Smuts, é um método de explicação e não o nome de qualquer entidade especial. Para Smuts, Holismo é a tendência sintética do universo em evoluir por meio da formação de todos. Como proposto por Smuts, Holismo é uma forma de evolucionismo emergentista: o universo é descrito como um conjunto evolutivo formado por totalidades que dão origem, por sua vez, em séries emergentes, a novas totalidades. Opõe-se à idéia de vida como reagrupamento de fatos fisicoquímicos. A realidade final do universo não é nem material, nem espiritual, mas composta por todos. Esse todo não pode ser visto como um princípio geral, ou como uma tendência, pois ele se apresenta como uma forma ou estrutura. O todo é uma unidade formada por partes que são intimamente relacionadas e as unidades individuais afetam o todo, assim como são afetadas por esse. Na prática, é impossível delimitar onde se inicia o todo e onde termina cada parte: há uma interação profunda, na qual as partes e o todo se influenciam continuamente. O todo é “dinâmico, evolucionário e criador”; ele não é a mera agregação mecânica das partes. O processo evolutivo é criativo e traz, em cada estágio do seu desenvolvimento, o aparecimento de novas qualidades nos todos que vão se configurando. Para Smuts, Holismo não é incompatível com Mecanicismo. Eles regem esferas diferentes dos processos da natureza. No ser humano, alguns processos do corpo físico são regidos por princípios mecanicistas, mas a personalidade é holística. No universo holístico, tudo tende à formação do “ todo holístico”, que para Smuts é a personalidade: a mais elevada estrutura na evolução holística. A personalidade humana surge a partir da interação entre a mente e o corpo. A mente se estrutura a partir da matéria e da vida. Sendo o todo mais holístico do universo, a personalidade tem atributos como a capacidade de auto-realização, de auto-cura, de auto-expressão e de purificação. Purificação, para Smuts, é a capacidade que a personalidade possui de eliminar os elementos desarmônicos da natureza humana. Metaconceito (dinâmico) para os critérios AXIOLOGIA (fins, valores) ONTOLOGIA EPISTEMOLOGIA (natureza do Ser ou dos Objetos) (métodos, tipo de conhecimento) GNOSIOLOGIA (validade do conhecimento em função do ser cognoscente) ( Fiedler-Ferrara e Mattos ) Os critérios podem se atualizar ao longo da cognição Pensamento Sistêmico Abordagem que, em geral, inclui: Elementos de Sistêmica ( sistema, retroação, homeostase etc.) tratados de forma hipersimplificado. Um “fundo epistemológico” do tipo holista, com diferentes níveis de privilégio ao todo. Elementos de Complexidade ( níveis hierárquicos, múltiplos focos, circularidade complexa, autoorganização, emergência, flutuações, instabilidades, teoria do caos etc ) tratados de maneira extremamente simplificada. Estas simplificações, em geral, comprometem a validade e o alcance das afirmações. Elas não são apresentadas como esforço de vulgarização (divulgação), mas como a epistemologia, ela mesma. Sua proposta, bastante genérica, é “um meio termo” entre o reducionismo e o holismo pleno. Numa significativa parte das abordagens, Capra aparece como referência de base importante. Insistência em justificar com a Ciência ( em particular a Mecânica Quântica ) algumas dessas abordagens. O uso normalmente feito da Mecânica Quântica é incorreto. do contemporâneo como “crise que se abate sobre a ciência, sobre a tecnologia, sobre a cultura e a sociedade”, sendo a causa da crise o “ excesso de racionalismo, a fragmentação do conhecimento, da educação, da ciência e da pessoa humana”. Apresenta-se, o Pensamento Sistêmico numa perspectiva salvacionista. Faz uma crítica feroz à especialização, ao modelo cartesiano e ao reducionismo, como fontes de todos os males: “Toda especialização nega a ação integrada. Os especialistas que estão interessados na parte e não no todo são entes inumanos” s Recorre, com insistência, a uma visão catastrofista Metaconceito (dinâmico) para os critérios AXIOLOGIA (fins, valores) ONTOLOGIA EPISTEMOLOGIA (natureza do Ser ou dos Objetos) (métodos, tipo de conhecimento) GNOSIOLOGIA (validade do conhecimento em função do ser cognoscente) ( Fiedler-Ferrara e Mattos ) Os critérios podem se atualizar ao longo da cognição Sistêmica (Teoria do Sistema Geral) Construções clássicas (1940-1950) Bertalanffy (1901-1972), biólogo. General System Theory (1937) Wiener e Rosemblueth (cibernética, eletrônica) Trata-se de uma poderosa teoria científica que se articula, seja tendo em vista seus desenvolvimentos (disciplina acadêmica) ou aplicando-se a problemas específicos. Pode ser aplicada, em princípio, a qualquer problema ou área de conhecimento, segundo qualquer recorte epistemológico (causalidade linear ou circular, dinâmicas não lineares, totalidades, dinâmicas complexas etc. ) Na Teoria de Sistemas, algumas de suas noções básicas correspondem aos conceitos lógicomatemáticos gerais correspondentes. No que se segue baseio-me na exposição que faz E. Bresciani Filho em “Conceitos básicos de sistêmica”. In Auto-organização. D’Ottaviano eM.E.Q.Gonzales (orgs.). Coleção CLE 30, Campinas, 2000, p. 283-306. Sistema Entidade unitária,organizada, construída por um conjunto não vazio de elementos ativos que mantêm relações com características de invariança no tempo, o que garante sua própria identidade. Um sistema consiste num conjunto de elementos que formam uma estrutura, a qual possui uma funcionalidade. Estrutura: é o conjunto articulado de relações entre os elementos do sistema. Funcionalidade: é o exercício das funções do sistema. Funções do sistema são caracterizadas pelas atividades desenvolvidas pelos elementos do sistema. O sistema é concebido por um sujeito, que também pode lhe atribuir finalidade. Trata-se, porém, de um sujeito disposicional (que pode não ter existência atual, mas pode vir a tê-la ). O sistema pode ser considerado como um objeto a ser observado, estudado, abstraído, conceituado, concebido, analisado, simulado, modelado ou representado por um sujeito que pode não ser interno a esse sistema. O sujeito, não sendo interno ao sistema, estabelece uma relação com o objeto de estudo através de atividades de reflexão, especulação, observação e experimentação. Essas atividades buscam encontrar qualidades de organização no objeto que caracterizem a sua existência, funcionalidade e possível evolução. Quando o sujeito é interno ao sistema, ele é um participante e exerce influência sobre os demais elementos e é influenciado por eles: o comportamento do observador afeta aquele do observado e este afeta o primeiro em um processo recorrente. A presença de um sujeito implica a presença de um ponto de vista subjetivo , decorrente de todos os seus limites de entendimento e de incerteza de avaliação. O universo de fenômenos observados (representados, etc. ) se define na relação entre sujeito e objeto no domínio da forma, do espaço e do tempo. Sem entrar em detalhes, forma, sumariamente, pode ser definida como o “ equilíbrio da organização dinâmica do sistema” ( G. Lerbet ) Universo do sistema É o conjunto não vazio de elementos subjacentes a um sistema (não se deve confundir um sistema com o seu universo) Elementos do sistema São: as partes, os componentes, os atores ou agentes que realizam atividades ( ações, reações, retroações, proações, transações etc.), conduzem processos e operações, produzem fenômenos e são responsáveis por transformações, conversões e eventos que caracterizam os seus comportamentos. Os elementos de um sistema possuem características, atributos, predicados e qualidades que podem ser expressos por parâmetros variáveis ou constantes Cada parâmetro pode assumir valores para descrever o estado do elemento. Esses valores são estabelecidos pelas características do elemento, pelas relações dele com outros elementos e pelas restrições externas ao elemento. Os elementos podem ser : ● de entrada ( ou importação ) do sistema; ● dos processos de transformação interna do sistema; ● de saída ( ou exportação ) do sistema. O sistema também desenvolve atividades (funções, processos, ações etc. ), assume estados e possui características próprias (propriedades etc.) Subconjuntos do universo do sistema podem constituir subsistemas do sistema geral (subestruturas da estrutura subjacente ao sistema). Tais subestruturas possuem funcionalidade, que é parte integrante da funcionalidade do sistema geral. Devido às relações estabelecidas entre os elementos, as características do sistema não são obrigatoriamente iguais à soma das características de seus elementos ou subsistemas: “ o todo é mais, ou menos, do que a soma das partes”. Assim, as propriedades e o comportamento de cada elemento do conjunto têm efeito nas propriedades e comportamento do todo e dependem das propriedades e do comportamento de pelo menos um dos outros elementos; ou seja, não existem elementos isolados no sistema. As características ( propriedades etc.) do sistema podem ser consideradas como emergências ( produtos, resultantes, etc.) desse sistema. Outras propriedades fundamentais são a globalidade ( constituição da unidade global com sua invariança ) e a possibilidade de novidade. As relações entre os elementos podem ser: interações, interrelações, interdependências, integrações, ligações, articulações, comunhões, associações, conjunções, inclusões, identificações, combinações, conexões, comunicações etc. Essas relações exercem restrições, fazem imposições, estabelecem sujeições e repressões às atividades dos elementos na forma de leis e regras de relações, hierarquia de decisões, controle de regularidade, ajuste de equilíbrio e comando de mudanças. Os elementos dentro do sistema constituem um rede de relações que, em geral, se arranjam em relações arborescentes ( por exemplo relações de hierarquia) e em relações circulares ( de anel, de laço) As relações circulares se apóiam no princípio do círculo recorrente: os efeitos de uma relação entre elementos são causas dessa mesma relação ou os produtos de um sistema afeta o processo de produção desses produtos, ou ainda, o estado final de um sistema geral modifica o estado inicial, ou, mais ainda, os efeitos retroagem sobre as causas. Organização de um sistema A organização é identificada pelo conjunto das características estruturais e funcionais de um sistema. Ela representa as relações e as atividades ou funções desse sistema e tem a capacidade de transformar, produzir, reunir, manter e gerar os comportamentos desse sistema. Em face de seu comportamento dinâmico, a organização pode ser também uma fonte de criação de diversidade. Para exercer seu papel de criação de diversidade, o sistema precisa se constituir e se desenvolver de forma a fazer com que as forças de atração ou cooperação (inclusão, composição, associação etc. ) predominem sobre as forças de repulsão ou de competição representadas pelos antagonismos (exclusão, decomposição, desassociação etc.),essas responsáveis pela desintegração. As forças de cooperação e de competição não são somente internas ao sistema, podendo provir de elementos externos ao sistema ou elementos de fronteira. Os sistemas podem ter objetivos (finalidades, propósitos, intenções, expectativas e significados). Esses objetivos são atribuídos pelo sujeito. Todo sistema tem uma fronteira, que será definida pelo sujeito quando da sua observação ( concepção, análise etc.) A fronteira define o que faz parte e o que não fazem parte do sistema. O meio ambiente é tudo o que se convenciona ficar fora do sistema. O universo do meio ambiente é o complemento do universo do sistema. A fronteira de um sistema é o onde se dá a passagem daquilo que sai ou entra no sistema. Os elementos de fronteira são aqueles que têm a incumbência de estabelecer as relações do sistema com o meio ambiente e vice-versa. Um elemento é de fronteira quando todas as suas relações se efetuam com elementos internos e externos ao sistema. Em geral, um sistema não é completamente isolado do seu meio-ambiente, pois tudo (matéria, energia ou informação) o que entra ou sai do sistema vem do, passa ou sai para o meio ambiente. Ainda assim, como aproximação ou hipótese, pode-se admitir a existência de sistemas que não interagem com o meio ambiente (sistemas fechados ou isolados) e sistemas completamente sensíveis às contingências do meio ambiente (sistemas abertos). Um sistema pode se encontrar em um estado de equilíbrio ( característico de estabilidade) ou de desiquilíbrio (característico de instabilidade). No primeiro, o sistema não se transforma e mantém suas características organizacionais, o que não ocorre no segundo caso. Esses estados podem ser matematicamente definidos. As mudanças de estado podem ser identificadas pela mudança dos comportamentos dos elementos de entrada e de saída do sistema: cada novo estado pode ser considerado uma novidade no sistema. Duas características de sistemas associadas às mudanças de estado: ● Regulação: que se manifesta pela manutenção do estado de equilíbrio e da existência do sistema frente às contingências externas e internas; ● Adaptação: que se expressa pela mudança em um novo estado de equilíbrio, e garante a manutenção da existência do sistema frente às contingências externas e internas. Os mecanismos de regulação e de adaptação surgem das relações dinâmicas no sistema e do sistema com o seu meio-ambiente: através desses mecanismos o sistema mantém a sua existência em equilíbrio com o meio ambiente. A regulação é um processo circular que permite a correção de desvios e a compensação de desiquilíbrios que possam mudar o estado a ser mantido ( ou o objetivo a ser atingido no caso de sistemas com finalidades específicas). A regulação e a adaptação se dão através de atividades exercidas por elementos externos, internos ou de fronteira do sistema. Podem ocorrer em um sistema mudanças organizacionais espontâneas, com o comparecimento de comportamentos inesperados, imprevistos, imprevisíveis e incertos. Isso pode decorrer de altos graus de liberdade dos elementos do sistema ou de altas sensibilidades dos elementos a contingências e circunstâncias ambientais. Por outro lado, é possível também promover mudanças organizacionais (estruturais ou funcionais) predeterminadas, preconcebidas ou planejadas, através de elementos de fora, de dentro ou da fronteira. A auto-organização em um sistema se caracteriza como um fenômeno de transformação ou de criação de uma organização, que decorre fundamentalmente da interação das atividades predeterminadas, se as houver, com essa atividade autônoma e espontânea de elementos internos, e, eventualmente, de elementos de fronteira do sistema. Isso se dá, tipicamente, através de processos recorrentes. “Uma organização é auto-organizada quando se produz a si própria. Há auto-organização cada vez que o advento ou a reestruturação de uma forma, ao longo de um processo, se deve principalmente ao próprio processo – e características nele intrínsecas – e só em menor grau às suas condições de partida, ao intercâmbio com o meio ambiente ou à presença de uma instância supervisora” (M. Debrun) Sem entrar em detalhes, forma, sumariamente, pode ser definida como o “ equilíbrio da organização dinâmica do sistema” ( G. Lerbet ) ABORDAGEM BIO-COGNITIVA ____________________________________________ (P. Galvani) SISTEMA S3 Autoformação (pilotado pelo sujeito) S1 S2 Héteroformação (outras pessoas) Família, meio social, cultura Ecoformação (coisas) . Meio ambiente Clima, influências físicas e físicocorporais, dimensão simbólica do meio ambiente físico Metaconceito (dinâmico) para os critérios AXIOLOGIA (fins, valores) ONTOLOGIA EPISTEMOLOGIA (natureza do Ser ou dos Objetos) (métodos, tipo de conhecimento) GNOSIOLOGIA (validade do conhecimento em função do ser cognoscente) ( Fiedler-Ferrara e Mattos ) Os critérios podem se atualizar ao longo da cognição Complexidade Designa um conjunto de conceitos, modelos e procedimentos que vêm sendo desenvolvidos e aplicados em várias áreas do conhecimento, seja em caráter disciplinar, multidisciplinar ou interdisciplinar. Abordagens complexistas têm possibilitado às disciplinas (exatas, da vida, economia e humanas) alargarem seus domínios tradicionais de abordagem. As disciplinas têm incorporado novas idéias, conceitos e procedimentos para tratar sistemas complexos, sem contudo abandonarem seu patrimônio tradicional, num positivo processo de mudança contínua e “adaptativa”. Não é pertinente referir-se a uma Teoria da Complexidade, mas sim a “abordagens complexistas”, isto é, abordagem de sistemas onde comparece comportamento complexo. A complexidade não adota uma visão holística com privilégio ao todo: ela busca articular o todo com a parte e vice-versa. A complexidade não demoniza o reducionismo: ele funciona excepcionalmente bem numa grande variedade de situações; além disso, em um sistema complexo, os conceitos e abordagens de base reducionista podem permitir compreender dinâmicas locais de subsistemas (que se articularão com outras dinâmicas locais). As abordagens complexistas também se beneficiam de desenvolvimentos da ● A partir dos anos 1940 Cibernética Teoria da Informação Teoria Geral de Sistemas ● A partir dos anos 1970 Desenvolvimentos ligados à autoorganização ● A partir dos anos 1950 Teoria de Sistemas Dinâmicos ● A partir dos anos 1970 Teoria do Caos A partir dos anos 1960, e mais intensamente a partir dos anos 1970, começa a haver uma mudança gradativa de prioridade epistemológica das categorias estritas simplicidade ordem regularidade para categorias dialógicas simplicidade/complexidade ordem/desordem regularidade/caoticidade Já nos anos 1960, são pioneiros em abordagens complexistas programas de pesquisa científica em ● Teoria da matéria condensada ( Física ), onde além do estudo de gases e sólidos com estruturas regulares e composição fixa, passam a ser estudados líquidos, sistemas amorfos e vidros. Fenômenos cooperativos em ótica quântica ( laser) também podem ser incluídos nessa categoria. ● Utilização de um ponto de vista “global” em Ecologia Imunologia Sistemas Complexos São sistemas em que: Identificam-se níveis hierárquicos de organização (por exemplo, níveis microscópico, mesoscópico e macroscópico: no ser vivo – células, orgãos, corpo; na sociedade – indivíduo, cidade, planeta ) Há retroações entre esses níveis, o que se dá segundo dinâmicas não-lineares (efeito não é linearmente proporcional à causa). [Hierarquias com anéis de realimentação interna] Os elementos dentro do sistema também interagem não linearmente em relações circulares ( os efeitos retroagem sobre as causas ) [ Sistemas com rede de relações arborescentes ( hierárquicas não circulares ) podem ser considerados apenas complicados ] Combinam-se princípios de regulação e desiquilíbrio. A dinâmica é marcada por contingências e determinismos A dinâmica se realiza entre as partes e todo e viceversa, num processo dinâmico. [ A parte repercute no todo e o todo na parte]. Pode ocorrer auto-organização. Pode ocorrer emergência de primeira ordem: aparecimento de propriedade emergente no sistema, não inerente a seus componentes. Pode ocorrer emergência de segunda ordem: aparecimento de propriedade emergente que confere funcionalidade adicional ao sistema. Um caso específico, e relevante, é aquele em que a funcionalidade aumenta a habilidade do sistema para processar informação Propriedade emergente = macro-comportamento observável Trabalhar com sistemas complexos inclui Buscar leis que possam ser aplicadas a uma variedade de sistemas complexos Encontrar princípios unificadores ► Notar bem ● Buscar princípios unificadores não significa necessariamente proceder a abordagens reducionistas ● É também conveniente distinguir redutibilidade e o seu caso extremo que é o reducionismo ● Mesmo o reducionismo pode ser o melhor caminho. Só não o é quando mutila o objeto a ser estudado Ao buscar identificar leis, devemos decidir em qual nível pretendemos formula-las: macroscópico, mesoscópico ou microscópico. Em cada caso podemos chegar a descrições bastante diferentes do sistema. Em cada nível encontraremos tipos específicos de organização e estrutura. Ao se tratar sistemas complexos, há situações em que não é possível encontrar um princípio unificado ou uma lei geral. Isso não significa insucesso. Nesses casos, há de se tratar cada caso com ferramentas específicas e adequadas. Sistemas Complexos Adaptativos que mostram Comportamento Emergente São sistemas complexos que aprendem (comportamento emergente), reagindo às necessidades específicas e eventualmente mutantes de seus meios (adaptativo) Um caso particular, seria um sistema (composto por agentes, por exemplo cidadãos) que aprende a partir de um nível hierárquico mais baixo (no bairro, por exemplo) com regras locais, adaptando-se ao meio, gerando um estado global do sistema. Cinco princípios fundamentais para a construção de um sistema que aprende a partir de um nível mais baixo com regras locais ( S. Johnson ) 1. É necessário uma massa crítica de agentes para produzir registros confiáveis do estado global do sistema. Micromotivos (locais) e macrocomportamentos são diversos; “somente pela observação de todo o sistema em ação é que o comportamento global se manifesta”. 2. As partes dos sistemas emergentes não devem ser excessivamente complicadas; “ é melhor construir um sistema com elementos simples densamente interconectados” 3. Interações aleatórias de agentes são desejáveis 4. Os agentes do sistema devem estar dotados de habilidade para detectar padrões, “ o que permite a circulação de metainformação (sinais acerca de sinais )” 5. Os agentes do sistema devem estar dotados da capacidade de interagir com os vizinhos; “informação local pode levar à sabedoria global”. Junto com uma massa crítica de agentes, isso favorece a adaptabilidade do sistema. É possível que algumas desses princípios podem parecer óbvios. Algumas delas, provavelmente já são postas em prática, por exemplo, na organização de movimentos sociais. Entretanto, o que é surpreendente nesses princípios é que eles foram estabelecidos a partir de cenários bastante gerais, sem que se considerasse um sistema específico. Além disso, utilizando formalismos lógicomatemáticos é possível, para problemas específicos, proceder-se a modelagem matemática de problemas desse tipo, com resultados que podem vir a ser de utilidade prática e eventual generalização. Imagine-se, por exemplo, a capacitação de agentes de saúde pública. Metaconceito (dinâmico) para os critérios AXIOLOGIA Sistema Complexo (fins, valores) ONTOLOGIA EPISTEMOLOGIA (natureza do Ser ou dos Objetos) (métodos, tipo de conhecimento) GNOSIOLOGIA (validade do conhecimento em função do ser cognoscente) ( Fiedler-Ferrara e Mattos ) Os critérios podem se atualizar ao longo da cognição Que todos possamos fazer o melhor uso do que se tenha compreendido hoje em benefício de todos os seres. Muito obrigado