EXPANSÃO MARÍTIMA-MERCANTIL
PORTUGUESA
E A IDÉIA DE NAÇÃO
Profa. Valéria da Vinha
Instituto de Economia / UFRJ
março de 2010
A Era dos Descobrimentos (1415-1543)
Segundo Boxer, a Era dos Descobrimentos resulta da conjunção de fatores
religiosos, econômicos, estratégicos e políticos => geopolítica da
ocidentalização – primeira forma de globalização
Para os portugueses, os principais motivos foram: 1) cruzada contra os
muçulmanos; 2) o desejo de se apoderar do ouro da Guiné; 3) a
procura do Preste João; 4) a busca das especiarias orientais
Unificação do reino (Rev.Nac. 1383-85) faz ascender a burguesia
mercantil; apoio do Papado (bulas papais legitimam as conquistas
portuguesas e proíbem a interferência de outros países)
1415 - Tomada de Ceuta (atual Marrocos,base naval muçulmana,
comércio do ouro) inaugura o modelo expansionista português,
impulsionado pela busca do ouro que passava pelas terras dos negros
do alto Niger e do rio Senegal
Influência dos mouros
Em 711 D.C. a Península Ibérica é invadida pelos mouros,
estabelecendo relações com o Norte da África
Pouco afetos à agricultura, fortaleceram a rede de cidades
ibéricas e o sistema mercantil tributário do Mar do Norte e
do Mediterrâneo=> a presença moura valorizou o homem
do mar, a tolerância religiosa islâmica e o sincretismo (a
mesquita,a Igreja e a Sinagoga), ensinou o luso a
conquistar (conflito) e a comerciar (conciliar interesses)
Segundo Gilberto Freyre, a convivência com o mouro culto e
próspero eliminou o preconceito do luso com os negros
africanos e fez surgir a fantasia com a princesa moura
Ouro e escravos
Depois de 1442, o comércio de escravos ajuda a financiar os
custos das viagens portuguesas pela costa da África
1457 – Casa da Moeda de Lisboa retoma a emissão de moedas de
ouro (cruzado), que não sofrerá nenhuma desvalorização até
1536
Cadeia de Feitorias – trocas de cavalos, tecidos, objeto de latão
por ouro em pó, escravos e marfim => as expedições começam
a ser lucrativas para seus participantes, e não apenas para o
Rei. Ex: Feitoria de Arguim (ao sul do Cabo Branco, 1445) controla o
comércio transaariano do Sudão ocidental é o protótipo da cadeia de
feitorias
Descobrimentos e explorações portugueses
A Matriz Portuguesa
Entre o séc. XVI e o séc. XVIII o Brasil recebeu
cerca de 1 milhão e 500 mil portugueses
impulsionados por terras e alimentos, mas,
também, pela busca do “Eldorado”
Historicamente, a formação do Estado Nacional é
um processo paralelo à expansão mercantil, da
qual Portugal foi pioneiro
A idéia de Nação no Brasil é, portanto, resultado do
sonho e do projeto português
Definição de Nação
Um grupo humano consciente de formar uma comunidade e
de partilhar uma cultura comum, ligada a um território
claramente demarcado, tendo um passado codificado e
impresso na memória e, por vezes, um projeto
compartilhado => Projeto Nacional
Território: espaço delimitado por fronteiras, submetido a um
marco legal homogêneo, que responde a um poder
soberano autócne.
Nação e Nacionalismos
Nação como necessidade e como ideologia
“As nações são fenômenos duais construídos
essencialmente pelo alto, mas que não
podem ser compreendidos sem ser
analisadas por baixo, ou seja, em termos das
suposições, esperanças, necessidades,
aspirações e interesses das pessoas
comuns”. (Eric Hobsbawn)
Razões do pioneirismo português
Posição geográfica estratégica: entreposto comercial entre o
Norte da Europa e o Mediterrâneo; cultura naval militar
avançada; unificação geográfica precoce com a formação do
primeiro Estado Nacional moderno da Europa (1383); as
Cruzadas combinam a idéia de salvação com pragmatismo
do comércio; escassa produção de alimentos (21 crises de
carestia entre final do XIV e meados XV).
“Projeto” Sagres – primeiro sistema europeu de geração de
conhecimento científico e progresso técnico (cartografia;
aperfeiçoamento da bússola, projetou a caravela – 150 ton - e
a nau – 400 ton)
Características do Estado português:
o patrimonialismo
O Estado patrimonialista era marcado pela confusão entre os
interesses públicos e privados, uma vez que o aparelho estatal
nada mais era que uma extensão do poder do soberano, não
havendo distinção entre a coisa pública e os bens da realeza.
Como conseqüência, a corrupção, o clientelismo e nepotismo
avultavam. A grande burocracia alimenta o parasitismo
e o clientelismo da nobreza
Os homens públicos do Estado patrimonialista tratam a
administração pública como se fossem seus negócios
particulares, como se os bens do Estado fizessem parte de
seu patrimônio particular (Raimundo Faoro, Os donos do
Poder)
Cont…características do Estado
português
• Tolerância à miscigenação ( o que não anula o preconceito e o
ódio racial)
• Reis empresários (Estado é o maior empregador, investidor e
distribuidor); políticas de incentivo à construção naval
(isenção fiscal e dízimos), mas pouco profissionalismo; a Casa
da India não tinha “livro de caixa”(contabilidade)
• Condenação da Igreja à usura distancia comerciantes do Estado
=> Inquisição rigorosa compromete transferência de capital
mercantil para industrialização
Papel da Monarquia
"A monarquia é a mais importante instituição do Estado
português; pelas suas relações com os outros órgãos
administrativos e classes sociais é que poderemos ter
uma idéia do panorama institucional predominante às
vésperas da descoberta do Brasil" (Sérgio Buarque de
Holanda et alii, op. cit., p. 16).
Dimensões estruturais do Brasil
Dimensões estruturais centrais: o caráter predatório combina
com a falta de identidade nacional.
1) modo pelo qual o Brasil se articulou com a economia mundial,
o padrão de apropriação e utilização das condições da natureza,
a integração e sucessão de complexos produtivos; a articulação
com diferentes sistemas mercantis (português, holandês,
francês, britânico, americano)
1) a construção da identidade nacional: formação do Estado
brasileiro, formas de poder e de dominação
A visão de Gilberto Freyre
Freyre atribui ao caráter do português características diferenciadas
dos demais europeus, entre elas a mobilidade e a miscibilidade. O
Brasil aparece como um “paraíso racial”, no qual o português
criou um sistema patriarcal, dispensando ao escravo negro um
tratamento “suave”, pois a poligamia era um meio de estimular a
procriação para povoar a terra, tendo em vista a escassez de
mulheres brancas. E a hibridização significava não só uma
mistura de raças, mas também um intercâmbio de culturas.
O mito do Eldorado associado ao Brasil contrasta com a escassez de
alimentos, as ameaças da peste, trazendo doença e fome, traços
estruturais da sociedade português. Ademais, para os europeus,
que sofrem com o rigor do inverno, o paraíso deveria estar em
lugar “quente”.
Cont…a visão de G. Freyre
O sistema patriarcal criado pelo colonizador português era
diferenciado, pois o escravo encontrava-se em profunda harmonia
com a casa grande. Harmonia essa que se dava através dos
intercursos sexuais do “sinhozinho” com as belas mucamas, ou
com o carinho que o mesmo possuía para com sua ama de leite.
“A casa grande fazia subir da senzala para o serviço mais íntimo e
delicado dos senhores uma série de indivíduos (...). Indivíduos
cujo lugar na família ficava sendo não de escravos, mas o de
pessoas da casa. Quanto às mães pretas, referem às tradições o
lugar verdadeiramente de honra que ficavam ocupando no seio
das famílias patriarcais” (FREYRE, 1963)
Relação senhor-escravo
Ao tratar da relação senhor-escravo, Freyre diz ter havido “alguns”
casos isolados de maus tratos, mas, de maneira geral, eles eram bem
tratados, e até se alimentavam melhor que o próprio senhor, a fim
de que pudessem suportar o duro trabalho das bagaceiras. Atribuí
ao sistema monocultor latifundiário de produção a
responsabilidade pela carência nutricional da alimentação.
•
Mito da democracia racial, que tinha como objetivo último a
socialização, ou seja, a miscigenação seria uma forma de suprir a
falta de pessoas para a colonização e uma tentativa de
democratizar a sociedade. E o sistema patriarcal representava
todas essas estruturas e tinha também um efeito catalisador nessas
relações
“No primeiro século Portugal faz o Brasil, no
segundo, o defende, e no terceiro, vive
dele” (Pedro Calmon, em o Espírito da
Sociedade Colonial. CEN, 1935).
D. João VI dizia que o Brasil era “a vaca
leiteira de Portugal”.
Modelos de expansão – XVI/XVII
1) Conquista de terras, homens e riqueza , mas
importância crescente do território marítimo (Ceuta e
outras praças marroquinas)
2) Feitorias – protegidas por fortalezas, erguidas em ilhas
ou locais facilmente defensáveis; forma rede de
entreposto comercial e alfândega
3) Colonização – pequena exploração camponesa inicial
dá lugar a plantation (Madeira e Açores)
1531- maior armada – 400 velas (navios), envolvimento
direto e indireto de “30 mil almas”
Castelo de S.
Jorge da Mina
(ou Fortaleza
de Elmina)
construído
pelos
portugueses
em 1482
FONTE: http://fas-history.rutgers.edu/~block/pics5
São Jorge da Mina – Vista aérea em 1948
http://hitchcock.itc.virginia.edu/SlaveTrade/collection/large/D013.JPG
Questão para reflexão
Por que apesar do pioneirismo, Portugal se
atrasou na realização da revolução
industrial?
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