ANTROPOLOGIA
CULTURA E REPRESENTAÇÃO: A IMAGEM DE ÍNDIO NA OBRA DE GILBERTO FREYRE
Ana Caroline Amorim Oliveira¹ [email protected] , Elizabeth Maria Bezerra Coelho² ( Orientadora)
1,2 - Departamento de Sociologia e Antropologia, UFMA, São Luís/ MA.
(INTRODUÇÃO) Gilberto Freyre é um dos mais reconhecidos sociólogos brasileiros. Darcy Ribeiro afirmou que Freyre
escreveu a obra mais importante da cultura brasileira. Seus posicionamentos sobre a construção do Brasil marcaram
época e repercutem até hoje na academia e no imaginário popular. Freyre foi consagrado no Brasil como discípulo de
Franz Boas por ter transposto para a análise do Brasil os princípios boasianos de separação entre as categorias raça
e cultura. Freyre tem sido responsabilizado por uma construção da miscigenação brasileira como algo positivo. O
objetivo deste trabalho foi analisar a representação que Freyre faz do índio na obra Casa-grande e Senzala, e como
essa representação se insere na sua construção da cultura brasileira.
(METODOLOGIA) Entendendo que as representações são construções sociais e dessa forma expressam o contexto
sócio-político no qual são elaboradas, assim como o habitus (Bourdieu, 1989) daqueles que as produzam, tomei o
discurso de Gilberto Freyre, procurando perceber a representação que o autor faz dos povos indígenas. Utilizei como
fonte de pesquisa, o discurso de Freyre presente na obra Casa-grande e Senzala. A análise procurou perceber,
também, em que medida a construção feita por Freyre expressa os ensinamentos básicos de Franz Boas.
(RESULTADOS)Percebe-se nessa análise como o tratamento dado por Freyre em sua obra Casa-grande e Senzala
aos povos indígenas, é preconceituoso e marcado por generalizações. Constrói generalizações sobre os costumes
indígenas, a forma de habitação, a alimentação, descrevendo-os como os mesmos para todos os povos. O autor
descreve os povos aqui encontrados como “uma das populações mais rasteiras do continente”, não tendo se
configurado o “ encontro de uma cultura exuberante com outra já adolescente” por se tratar de um “ bando de crianças
grandes; uma cultura verde e incipiente”. Freyre refere-se aos povos indígenas como sendo um único povo, uma
única cultura e principalmente como “povos atrasados”. Em Casa-grande e Senzala a miscigenação é representada
se tivesse ocorrido muito“ harmoniosamente” quase sem conflitos, pois a resistência dos povos indígenas foi uma
resistência, “vegetal” , em que aquele retraía-se ou amarfanhava-se ao contato civilizador, já que não possuía
“capacidade técnica ou política de reação” ao branco. Freyre ainda faz referência ao conflito entre o “comunismo do
ameríndio e a noção de propriedade privada do europeu”, reafirmando uma idéia corrente na época e até nos dias de
hoje do índio solidário “quase sem noção de propriedade privada” passando a desenvolver essa noção após o contato
do branco. Outra generalização acerca dos povos indígenas em sua obra, é o fato dele colocar estes como sendo
todos nômades e, em razão disso, inadequado ao trabalho na lavoura “ a enxada é que não se firmou nunca na mão
do índio nem na do mameluco; nem seu pé de nômade se fixou nunca em pé-de-boi paciente e sólido”.
(CONCLUSÕES) Freyre internacionalizou a “democracia racial” brasileira e contribui para a construção da imagem
genérica de índio, que descaracteriza a diversidade dos povos indígenas. Construiu sua representação dos povos
indígenas tomando por base dados de terceiros, não indo a campo. O autor expressa uma visão preconceituosa e
evolucionista, hierarquizando raças e culturas, apesar de afirmar que se baseava nos ensinamentos de Boas. Definiu
os índios como “primitivos”, “ cultura atrasada”, tomando como referência o que denominou de cultura branca, na qual
se inseria. Seu discurso expressa a visão senhorial e exerceu grande influência na construção da cultura brasileira,
especialmente por parte do discurso oficial, que a expressa como o produto da “conjunção das três raças.”
Agência Financiadora: BIC/CNPq
TRABALHO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
54a Reunião Anual da SBPC – Goiânia, GO – julho/2002
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cultura e representação: a imagem de índio na obra de gilberto freyre