Educação Os dados da última edição do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), de 2009, mostram a autonomia dada a diretores e professores em escolas brasileiras IQE avalia autonomia das escolas públicas A gestão e o papel dos gestores, em especial o diretor, fazem diferença nos resultados das escolas? Especialistas apontam que quanto mais liberdade, maiores são as chances de diretores e professores adaptarem suas escolas aos desafios da realidade em que estão inseridos e, consequentemente, aprimorar o aprendizado dos alunos. Apesar de ser um dos itens assegurados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) nos âmbitos administrativo, financeiro e pedagógico, esse é um aspecto que precisa ser revisto e repensado na educação brasileira. Os dados da última edição do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), de 2009, mostram que a autonomia dada a diretores e professores em escolas brasileiras fica aquém do cenário existente em outras nações participantes da pesquisa. “Autonomia é processo de construção democrática. Os pontos de partida são diferentes, mas os de chegada devem ser muito próximos. Não há como se confundir autonomia, condição necessária à organização das instituições escolares e ao sucesso das pessoas que por ela passam, com liberdade irrestrita, com o desejo individual de cada educador”, explicou Maria Helena Braga, supervisora pedagógica do Instituto de Qualidade no Ensino (IQE). Segundo ela, a participação de toda a equipe escolar, abordada nos cursos de gestão do IQE a partir de diretrizes federais, deve ser incentivada, buscada, valorizada. “É preciso que haja MARIA HELENA | Escolas públicas precisam de mais autonomia para funcionar parâmetros muito claros de onde se quer chegar, para que a autonomia possa ser construída. A LDB garante essa abertura: não traz limitações desnecessárias que possam impedir decisões competentes às diferentes comunidades escolares; mas traz o que se pretende garantir a todos os cidadãos brasileiros”, completou. Contudo, a supervisora aponta que o nível de autonomia é relativo. As diretrizes básicas da educação nacional estão determinadas, primeiramente, no âmbito federal, determinando as áreas de conhecimento a serem trabalhadas por todos os sistemas, a duração da escolaridade, a carga horária mínima, os sistemas de avaliação, entre outros aspectos importantes. “As diretrizes e leis federais delimitam o básico e oferecem abertura para que os sistemas estaduais complementem-nas com aspectos que não firam os parâmetros nacionais, mas que atendam às necessidades regionais. Assim também os sistemas estaduais agem com os municipais e estes com as escolas”, acrescenta Maria Helena Braga. Proposta pedagógica funciona como instrumento O instrumento mais representativo da autonomia de cada escola é a proposta pedagógica. Nesse documento, aponta a especialista do IQE, devem estar registrados os princípios e determinações das esferas legais superiores e os resultados das discussões internas à escola, entre as pessoas participantes da comunidade escolar, que tenham como objetivo definir ações voltadas ao alcance dos objetivos nacionais de formação dos cidadãos. “A autonomia da escola não é aleatória e deve ter como base as diretrizes educacionais federais, estaduais e municipais adaptando suas necessidades e potencialidades a ele. No nível docente, a autonomia refere-se à escolha de meto- dologias adequadas a cada turma, desde que se garanta o aprendizado do que está definido nos âmbitos superiores”, enfatizou. Entretanto, Maria Helena Braga que atua no IQE com formação de professores, lembra as ações não devem tirar a responsabilidade do poder público. De acordo com a supervisora pedagógica, o Estado deve garantir a equidade para a educação pública. E justifica: “Há que se empreender esforços legais e de acompanhamento para que os mais pobres tenham a mesma educação escolar que as classes economicamente privilegiadas. A escola pública é a instituição que de fato pode exercer a democracia na educação”, pontuou.