Teoria Organizacional Módulo 6 – Cultura Organizacional Prof Doutor Rodrigo Magalhães 1 Indice 1. Características e definição de cultura organizacional 2. Níveis de cultura organizacional Nível transcultural Nível organizacional 3. O relativismo cultural: estilos de cultura 4. A teia cultural das organizações 5. Caso prático 2 1. Características e Definição de Cultura Organizacional 3 Características da abordagem cultural à organização 1.1 As teorias clássicas de organização faziam crer que toda a actividade organizacional era racional e previsível. Esta posição ignorava totalmente a importância da actividade simbólica na vida em sociedade, grandemente influenciadora dos comportamentos individuais. Exemplos de “actividade simbólica”? 4 Características da abordagem cultural à organização 2.2 A metáfora da cultura remete-nos para a capacidade de, colectivamente, os membros da organização criarem o seu próprio sistema de significados. A linguagem, os valores ou as normas de actuação são sistemas de significados construídos e reconstruídos, no dia-a-dia da organização. Exemplo de um “sistema de significados” na organização? 5 Características da abordagem cultural à organização 3.3 As organizações constroem, colectivamente, um sistema de significados, para interpretar as suas envolventes. Assim, a envolvente externa é construída à imagem da envolvente interna e como se fosse uma extensão da cultura da organização. Exemplo da construção da envolvente externa da organização “à imagem da envolvente interna ”? 6 Características da abordagem cultural à organização 4.4 Tradicionalmente pensava-se que o problema da mudança tinha a ver com mudança da tecnologia ou da estrutura ou das competências ou do nível de motivação dos colaboradores. Actualmente, sabe-se que se não houver mudança nos símbolos, nos valores ou nas crenças embebidas na cultura, a mudança organizacional não será possível. Exemplos de “valores ou crenças embebidas na cultura”? 7 Características e Definição As duas formas de ver o organização segundo a analogia do iceberg VISÃO FUNCIONALISTA VISÃO CONSTRUTIVISTA HIERARQUIA, NORMAS e REGRAS decorrentes da ESTRUTURA FORMAL CULTURA, PODER e MUDANÇAS EMERGENTES que constituem a ESTRUTURA INFORMAL 8 Características e Definição FORMAL INFORMAL CULTURA ORGANIZACIONAL É, PORTANTO, UM CONCEITO “SOFT” COM CONSEQUÊNCIAS “HARD” 9 2. Níveis De Cultura Organizacional 10 Níveis de Cultura Organizacional Os níveis principais para análise da cultura são: NIVEIS DE ANÁLISE OBJECTO DE ESTUDO Transcultural Valores nacionais Organizacional Valores e normas organizacionais Grupal ou Sub-Cultural Normas de grupo Individual Percepção individual da cultura organizacional 11 Níveis de Cultura Organizacional Nível Transcultural De grande importância dado que as diferenças inter-culturais devem ser tomadas em linha de conta quando se visa transpor uma técnica de gestão para um contexto cultural diferente daquele onde emergiu e/ou se revelou eficaz . Esta tónica transcultural não desmente as especificidades das culturas organizacionais, mas procura enquadrá-las na cultura da sociedade em que as organização se inserem Dos estudos transculturais, o mais popularizado foi desenvolvido por Geert Hofstede (1980). Este ex-director da IBM sugeriu que as diversas culturas nacionais podem ser caracterizadas de acordo com quatro dimensões: 12 Níveis de Cultura Organizacional Nível Transcultural: as dimensões de Hofstede 1) Distância hierárquica Reflecte o grau de deferência que os indivíduos projectam sobre os seus superiores hierárquicos, assim como a necessidade de manter e respeitar um afastamento (social) entre um líder e os seus subordinados. Nos países e regiões de elevada distância (e.g., Portugal, Espanha, América Latina, Ásia e África), superiores e subordinados consideram-se desiguais por natureza. A distância emocional entre chefias e subordinados é elevada. Detecta-se uma grande reverência pelas figuras de autoridadee atribui-se grande importância aos títulos e status. Ao contrário, em países com baixa distância hierárquica (e.g-, EUA, Grâ-Bretanha e países não lati- nos da Europa), a dependência dos subordina- dos relativamente aos chefes é limitada. Os primeiros não sentem desconforto considerável por contradizer os segundos. Uns e outros consideram-se iguais por natureza 13 Níveis de Cultura Organizacional Nível Transcultural: as dimensões de Hofstede 2) Individualism o versus Colectivismo Caracteriza o grau em que a identidade individual é definida com base nos objectivos dos interesses e realizações pessoais ou em função colectivos dos grupos aos quais o indivíduo se encontra ligado. Nos países fortemente individualistas (e.g. América do Norte, Austrália, Grâ-Bretanha, Países Baixos), espera-se que as pessoas actuem sobretudo em prol do seu próprio interesse e dos interesses da sua família mais próxima. Em culturas tipicamente colectivistas (e.g. Colômbia, Paquistão, Africa), as pessoas tendem a colocar os interesses do grupo e da comunidade em lugar primordial, esperando em troca receber lealdade. Existe uma certa tendência para que os países mais individualistas sejam, também, os caracterizados por menor distância hierárquica 14 Níveis de Cultura Organizacional Nível Transcultural: as dimensões de Hofstede 3) Controlo da Reflecte o grau de desconforto que as pessoas sentem incerteza perante o risco e as incertezas, o nível de aceitação/rejeição da novidade e da diferença, assim como o grau de importância conferida à estabilidade e ao planeamento. Nos países onde esta característica existe em elevado grau (e.g. Grécia, Portugal, Japão, Uruguai) este sentimento exprime-se em stress, em necessidade de previsibilidade, em busca de regras e de segurança. Nos paises com baixo Índice de evitamento (e.g., Singapura, Hong-Kong, Dinamarca, Suécia) parece existir uma aversão emocional às regras formais, só se estabelecem normas em caso de absoluta necessidade e toleram-se mais facilmente os comportamentos desviantes 15 Níveis de Cultura Organizacional Nível Transcultural: as dimensões de Hofstede Representam os extremos de uma dimensão que tem, num pólo, o 4) alcance de objectivos e a ambição e, no outro, a ênfase na Masculinidade harmonia interpessoal. Nas sociedades mais masculinas versus (e.g., Japão, Áustria, Venezuela, Suíça) os homens e mulheres Feminilidade têm papéis bem distintos: o homem ser forte, impor-se e interessar-se pelo sucesso material, enquanto se espera que a mulher seja modesta, terna e preocupada com a qualidade de vida. Nas sociedades mais femininas (e.g., Suécia, Dinamarca, Noruega, Países Baixos) espera-se que tanto homens como mulheres sejam modestos, ternos, preocupados com a qualidade de vida, a preservação do ambiente e a ajuda aos outros 16 Níveis de Cultura Organizacional Nível Transcultural: as dimensões de Hofstede Pais•. Distância hierárquica Individualismo Masculinidade Controlo da incerteza Alemanha B A A B Brasil A M M M China A B M M Espanha M M B A Estados Unidos B A A B França A A M A Grâ-Bretanha B A M B Japão M M A A Portugal M M B A Rússia A M B A A = Alto (situado no terço superior da amostra) M = Médio (no terço intermédio) B = Baixo (no terço inferior) 17 Níveis de Cultura Organizacional Nível Organizacional: Definição (Segundo SCHEIN, 1985) É um conjunto de pressupostos básicos que um dado grupo inventou, descobriu aprender ou desenvolveu no processo de a lidar com os desafios da adaptação à envolvente externa e da integração na envolvente interna e que funcionaram suflcientemente bem para serem considerados válidos e, portanto, para serem ensinados aos novos membros do grupo, como a forma correcta de pensar, sentir e actuar 18 Níveis de Cultura Organizacional Nível Organizacional: Definição (Segundo HOFSTEDE, 1991) É o “software da mente” ou a programação mental colectiva que distingue os membros de uma organização de outra (...) Esta programação começa na família e continua na escola, no bairro, no local de trabalho e na comunidade (...) A cultura é aprendida e não herdada; ela deriva da nossa envolvente social e não dos nosso genes 19 Níveis de Cultura Organizacional O nível organizacional • Ao nível da organização, a cultura é entendida como uma estrutura de referência comum e partilhada por uma quantidade significativa dos membros dessa mesma organização • É conceptualizada como sendo composta de várias camadas, umas mais periféricas e visíveis e outras mais profundas e invisíveis • O modelo mais significativo é o modelo da cebola. A analogia com a cebola significa que a parte interior é a menos acessível, sendo as camadas exteriores as mais fáceis de mudar 20 Níveis de Cultura Organizacional O modelo da cebola Atributos Organizacionais Atributos Individuais Práticas Organizacion ais Clima Organizacio nal Simbolos/ Artefactos Padrões/ Normas Valores VALORES Pressupostos Básicos 21 Níveis de Cultura Organizacional O modelo da cebola ATRIBUTOS ORGANIZACIONAIS Representados pelas seguintes categorias descritivas da organização: contexto, estrutura e processo ATRIBUTOS INDIVIDUAIS A forma como cada indivíduo percebe e descreve a sua organização. Esta camada e a anterior constituem aquilo que é conhecido por “clima organizacional” SIMBOLOS/ ARTEFACTOS Palavras, gestos, gravuras ou objectos que contêm um certo significado, só reconhecível por aquelas pessoas que partilham da mesma cultura. As palavras das línguas nacionais pertencem a este grupo PADRÕES/ NORMAS Regras de comportamento social, profissional, religioso ou político. Práticas de gestão que modelam o comportamento (“a forma como as coisas se fazem por aqui”). Inclui rituais (actividades tecnicamente supérfluas mas socialmente importantes) 22 Níveis de Cultura Organizacional O modelo da cebola VALORES Indicam a forma como as pessoas devem actuar – com honestidade, de modo criativo e cooperante, com autonomia, com espírito de igualdade e de forma a dar segurança ao outro PRESSUPOSTOS BÁSICOS Têndencias ou crenças relativamente a alternativas dicotómicas (p. e. Certo-Errado; Bom-Mau; Sujo-Limpo; Feio-Bonito; NormalAnormal). Os primeiros valores são adquiridos muito cedo na vida, pelo que se tornam inconscientes e não podem ser observados directamente. Os valores tornam-se o cerne de uma cultura 23 3. O Relativismo Cultural: estilos de cultura organizacional 24 O Relativismo Cultural Claude Lévi-Strauss, um dos pais da antropologia cultural criou a expressão “relativismo cultural”, dizendo que nenhuma cultura detem critérios absolutos, que lhe permitam julgar as actividades de uma outra cultura como “baixas e pobres” ou “nobres e ricas”. O mesmo se passa em relação às organizações. 25 O Relativismo Cultural As quatro culturas de Charles Handy (1978) Formalização alta APOLLO ATHENA Cultura de Tarefas Metáfora: rede Metáfora: templo ZEUS DIONYSUS Cultura de Pessoas Cultura de “Club” Metáfora: teia Centralização baixa Centralização alta Cultura de Funções Metáfora: grupos Formalização baixa 26 O Relativismo Cultural Uma tipologia clássica de culturas organizacionais APOLLO = CULTURA BUROCRÁTICA Orientação: interna Atributos: Ordem, regras e regulamentos, uniformidade Estilo de liderança: Coordenador, administrador Ligações: Regras, políticas, procedimentos Ênfase estratégica: Estabilidade, previsibilidade, funcionamento regular ZEUS = CULTURA TIPO CLÂ Orientação: interna Atributos: Coesão, participação, trabalho em equipa, sentimento de familia Estilo de liderança: Mentor, facilitador, figura parental Ligações: Lealdade, tradição, coesão Ênfase estratégica: Desenvolvimento humano, moral, implicação/empenhamento ATHENA = CULTURA DE REALIZAÇÃO Orientação: externa Atributos: Competitividade, alcance de objectivos Estilo de liderança: Decidido, orientado para a realização Ligações: Foco nos objectivos, produção, competição Ênfase estratégica: Superioridade no mercado, vantagem competitiva DIONYSUS = CULTURA DO TIPO ADAPTATIVO Orientação: externa Atributos: Empreendorismo, criatividade, renovação Estilo de liderança: Empresário, inovador Ligações: Flexibilidade, espirito empresarial Ênfase estratégica: Inovação, crescimento, novos recursos 27 4. A TEIA CULTURAL DA ORGANIZAÇÃO 28 A teia cultural da organização Porque é difícil mudar a cultura? Porque a cultura organizacional tem um guardião ... 29 A teia cultural da organização Guardião da cultura: a teia ... não um gorila mas uma teia complicadíssim a que cria um paradigma à prova de mudança MECANISMOS E SISTEMAS DE CONTROLE ESTRUTURAS TIPOS DE LIDERANÇA O paradigma cultural da nossa organização HISTÓRIAS E MITOS ROTINAS E RITUAIS SIMBOLOS 30 A teia cultural da organização A teia cultural ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS Hierarquica Autocrática Formalismo na comunicacao Escalas salariais rigidas "Top heavy" ROTINAS E RITUAIS Receio de criticar Multiplicidade de assinaturas Forma de recutamento e promoções Controle de horarios Forma de comunicacao "top down" SIMBOLOS HlSTORIAS E MITOS Instalações da Administração Diferenciação no mobiliario Titulos hierarquicos/academicos Viaturas Tipo de linguagem RivaLilidades/conflitos no topo Resolução de questões disciplinares Conflitos laborais Despedimentos 31 A teia cultural da organização A teia cultural TIPOS DE LIDERANCA MECANISMOS E SISTEMAS DE CONTROLE •Gestao de topo •Gestao de primeira linha •Performance dos conformistas •Performance dos criticos •Inspectores •Rigidez de procedimentos •Excepções às regras •Manuais •Controle pesado PARADIGMA CULTURAL = VALORES FUNDAMENTAIS (exemplos) Empregador para toda a vida Organização indestrutivel Estatuto da empresa Não correr riscos 32 Conclusão Resumindo, a cultura organizacional: É um fenómeno holístico É determinada historicamente É ligada a rituais e simbolos É criada por interação social É constituída por valores partilhados Prescreve o relacionamento entre individuos e a organização Descreve o que é comportamento legítimo e ilegítimo Dita a forma como os membros da organização se devem tratar uns aos outros É dificil de mudar 33 CASO PRÁTICO PARA DISCUSSÃO: A Máfia 34