A questão do método na filosofia O objetivo da razão é compreender a realidade O tema do método faz parte do nascimento e do desenvolvimento da filosofia. Desde sua origem, muitos métodos foram elaborados na e para a filosofia O que é método? Conceitos... É imprescindível um instrumento Todo método, seja na filosofia ou em qualquer outro campo, tem por finalidade descobrir meios de chegar a uma reflexão mais precisa e eficaz sobre o “eu”, “o outro” e o “mundo” O método na história... No decorrer dos séculos surgiram vários métodos, no entanto há duas constantes comum a todos: 1. Confiança... Na capacidade de a razão conhecer a realidade: Segundo Descartes, “O bom senso é a coisa mais compartilhada do mundo (...) o poder de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso, que é o que se denomina razão, é igual em todos os homens” 2. A intuição... A capacidade natural de perceber espontânea e imediatamente o conhecimento de certos princípios fundamentais. Alguns métodos: 1. 2. 3. 4. 5. A dúvida hiperbólica; A dialética; A fenomenologia como método; A análise lingüística; O estruturalismo 1. O método como resultado da dúvida Descartes Paradoxalmente, é o caminho da dúvida que leva Descartes ao método que nos conduz ao conhecimento das coisas. Ponto de partida: Aquilo que nos enganou, mesmo uma só vez, nunca mais merece nossa confiança, tornando–se duvidoso; Aquilo que é duvidoso deve ser considerado como falso, pois a realidade só comporta dois valores: o verdadeiro ou o falso. A dúvida... Os sentidos enganam; O que aprendeu na escola; Senso comum; Trata-se da “dúvida metódica” “Não posso duvidar do fato de que estou duvidando”. O “penso, logo existo” Se percebe intuitivamente, expressa a verdade fundamental, que dá acesso a todas as demais verdades. Duvidar, afirmar, negar, amar, odiar, querer, sentir, revelam a evidência do eu pensante. O cogito A utilização dessa descoberta fundamental, que me levará ao conhecimento de Deus e do mundo material, depende de quatro regras (Discurso do método) 1. Regra Jamais aceitar como certa coisa alguma que não conheço com evidência (evitar a precipitação e só aceitar os juízos claros e distintos) 2. Regra Dividir cada dificuldade a ser examinada em tantas partes for possível e necessário para resolvê-la. 3. Regra Ordenar os pensamentos, começando pelos mais simples e fáceis, para atingir o complexo. 4. Regra Consiste em fazer, para cada caso, enumerações tão exatas e revisão tão geral, que se tenha certeza de não haver esquecido nada. Segundo Descartes, Seguido essas regras certas e fáceis, nunca tomaremos o falso por verdadeiro, e chegaremos, sem despender esforço inutilmente, ao conhecimento de tudo aquilo que está ao alcance da mente. 2. A dialética como método. Primeira formulação moderna com Hegel; Abrange três momentos 1. O positivo, da unidade 2. O negativo, da divisão 3. O da nova unidade Este processo renova-se constantemente O memento mais importante nesse processo é o da negação, que não consiste em neutralizar os opostos, mas em provar o ressurgimento do primeiro momento, a unidade ou o positivo, só que agora muito mais rico. Diz Hegel na Lógica “O único meio de alcançar o processo científico é o conhecimento desta proposição lógica: o negativo está junto com o positivo, ou seja: aquilo que se contradiz não se resolve no zero, no nada absoluto, mas se resolve essencialmente só na negação do seu conteúdo particular (...) Surge então um novo conceito, superior e mais rico que o precedente, pois contém em si aquele ainda mais: é a unidade deste e de seu contrário”. O método dialético é uma visão da realidade – do mundo, do homem e da história – que ressalta o desenvolvimento através da luta. Nova formulação com Marx Tanto para Marx como para Hegel, o método dialético é o único meio de compreender o mundo real. MÉTODO DIALÉTICO Karl Marx (1818-1883) e Friederich Engels (1820-1895) reformam o conceito hegeliano de dialética: utilizam a mesma forma, mas introduzem um novo conteúdo. Chamam essa nova dialética de materialista, porque o movimento histórico, para eles, pode ser explicado sem o auxílio da Providência Divina. MÉTODO DIALÉTICO A dialética materialista analisa a História do ponto de vista dos processos econômicos e sociais e a divide em quatro momentos: Antiguidade, feudalismo, capitalismo e socialismo. Cada um dos três primeiros é superado por uma contradição interna, que eles chamam de "germe da destruição". A contradição da Antiguidade é a escravidão. Do feudalismo, os servos. Do capitalismo, o proletariado. E o socialismo seria a síntese final, em que a História cumpre seu desenvolvimento dialético. MÉTODO DIALÉTICO O conceito de dialética usado hoje pelos intelectuais é um misto da forma idealista de Hegel e da materialista de Marx. Didaticamente essa teoria é apresentada como consistindo de tese [posição] que produz sua antítese [oposição]. A união dessas duas produz a síntese [composição] que é uma nova tese que produzirá sua antítese. Tese X Antítese = Síntese 3. MÉTODO FENOMENOLÓGICO Husserl foi criador do método fenomenológico, que não foi concebido para ser dedutivo, nem empírico, consistindo na descrição do fenômeno, tal como ele se apresenta, sem reduzilo a algo que não aparece. Epistemologicamente, opõe-se à visão de sujeito e objeto isolados, passando a considerá-los como correlacionados, já que a consciência é sempre intencional. Como corrente filosófica fundada por Husserl, a Fenomenologia surge intimamente ligada à Matemática: "O que motivou o início da fenomenologia - afirma Husserl - foi 'o problema radical de uma clarificação dos conceitos fundamentais lógicos e matemáticos, e com isso o de uma fundamentação efetivamente radical da lógica e da matemática' "(Moura, 1989; p.47). MÉTODO FENOMENOLÓGICO O método fenomenológico consiste em mostrar o que é dado e em esclarecer este dado. Não explica mediante leis nem deduz a partir de princípios, mas considera imediatamente o que está perante a consciência, o objeto. Conseqüentemente, tem uma tendência orientada totalmente para o objetivo. Interessa-lhe imediatamente não o conceito subjetivo, nem uma atividade do sujeito (se bem que esta atividade possa igualmente tornar-se em objeto da investigação), mas aquilo que é sabido, posto em dúvida, amado, odiado, etc. MÉTODO FENOMENOLÓGICO Deve-se avançar para as próprias coisas. Esta é a regra primeira e fundamental do método fenomenológico. Por "coisas" entenda-se simplesmente o dado, aquilo que vemos ante nossa consciência. Este dado chama-se fenômeno, no sentido de que phainetai, de que aparece diante da consciência. A palavra não significa que algo desconhecido se encontre detrás do fenômeno. A fenomenologia não se ocupa disso, só visa o dado, sem querer decidir se este dado é uma realidade ou uma aparência: haja o que houver, a coisa está aí, é dada. Alguns conceitos "Realidade já não é tida como algo objetivo e passível de ser explicado em termos de um conhecimento que privilegia explicações em termos de causa e efeito. Porém, a realidade, “o que é”, emerge da intencionalidade da consciência voltada para o fenômeno“ (Bicudo, 1994, p.18) Mundo-vida (lebenswelt) e intencionalidade da consciência são termos cunhados, inicialmente, por Husserl, em sua fenomenologia estrutural. A fenomenologia, portanto, responderá ao filósofo que não se contenta com o conhecimento natural, o diretamente dado e apoucadamente questionado, pedindo por uma clarificação dos conceitos fundamentais, da realidade última das coisas do mundo, buscando transcender a ingenuidade, que é, exatamente, "a convivência pacífica com o nãojustificado" (Moura, 1989; p.48). Heidegger Usando o método fenomenológico Martin Heidegger aplicou-o a um estudo do homem e concluiu que o homem é um ser que está presente; o homem tem um senso de angústia; é um ser lançado do mundo e seguindo a direção da morte (do nada) sem qualquer explicação do "por que há algo ao invés de nada". O homem como um ser-indo-para-onada, portanto, é a estrutura fundamental da realidade descoberta por este método. Heidegger, discípulo de Husserl, afasta-se da fenomenologia como inicialmente posta, debruçando-se sobre a existência humana e seu sentido mais profundo,vinculando suas preocupações à questão do ser, em sua ontologia fundamental. Propondo a destruição da ontologia tradicional, Heidegger volta-se à procura do sentido original do ser, construindo uma nova terminologia filosófica que possa dar conta dessa proposta, iniciando sua busca no estudo de fragmentos présocráticos. É na linguagem que a apreensão do ser se dá, e toda a filosofia heideggeriana acaba sendo caracterizada como uma hermenêutica do ser. Sarte Segue estritamente o pensamento de Husserl na análise da consciência em seus primeiros trabalhos. Suas obras sofrem forte influência da fenomenologia, especialmente de Heidegger. L’Être et le néant (1943) A náusea A idéia de que a consciência é um nada e a distinção fundamental entre o pour soi e o en soi são idéias tiradas de Heidegger. O “ser-para-si” (pour soi), que é aquilo em que consiste a consciência, é na verdade o Dasein de Heidegger. A consciência... envolve a consciência de si mesma. É um nada no sentido de não ter essência. Os seres humanos, como seres conscientes, podem fazer a si mesmos por sua própria livre escolha, e a existência, bem como a inevitabilidade do livre-arbítrio, constituem elementos fundamentais da filosofia de Sartre. Qualquer tentativa de evitá-las implica o que ele denomina de “má fé”. Merleau-Ponty 1. A re-leitura da fenomenologia de Husserl por Merleau-Ponty; 2. A Fenomenologia da percepção (1945); 3. Criticando o idealismo transcendental e transpondo a essência idealista para a existência factual em fenomenologia M-P afirma: Phénomenologie, Avant-propos “A fenomenologia é o estudo das essências; e todos os problemas, segundo ela, voltam a definir as essências: a essência da percepção, a essência da consciência, por exemplo. Mas a fenomenologia é também uma filosofia que recoloca a essência na existência, e não pensa que se possa compreender o homem e o mundo de outra forma, que não seja a partir de sua facticidade... É uma filosofia transcendental, que põe em suspenso, para compreendê-las, as afirmações da atitude natural, mas é também uma filosofia para a qual o mundo já está sempre lá, antes da reflexão, como uma presença inalienável, e cujo esforço de reencontrar o contato ingênuo com o mundo pode lhe dar, enfim, um status filosófico” (p.1) Merleau-Ponty afirma que não há homem interior, e, além de transcender uma perspectiva dualista que divide o homem em interior e exterior, nega o idealismo transcendental, que despoja o mundo de sua opacidade. A percepção Coloca a percepção como o fundo sobre o qual todos os atos se liberam, ao mesmo tempo em que ela é pressuposta por estes. A percepção é o campo de revelação do mundo. Campo de experiência, não é um ato psíquico. A percepção é o campo onde se fundem sujeito e objeto. Descartes e Kant Retoma a crítica husserliana a Descartes e Kant, que diferenciam sujeito e objeto e para quem as relações não são bilaterais, mas o mundo é reconstruído pelo sujeito. Ao contrário desta forma de pensar, defenderá a idéia de que homem é mundo e o mundo é homem, o homem é parte do mundo e vice-e-versa. Trata-se, então, do enraizamento do homem no mundo Aplicação O método fenomenológico é amplamente aplicado às ciências humanas, especialmente na psicologia. A questão da hermenêutica a) Enquanto arte, técnica, doutrina ou ciência da interpretação, a hermenêutica metodológica pode ser caracterizada como instrumental ou epistemológica ao ser restringida à atividade de conhecer para dominar determinados objetos. Nessa ótica, ela segue os passos do procedimento metodológico das ciências naturais. b) É metodológica ao pretender analisar e dissecar um objeto como se faz com um fóssil ou um corpo qualquer. É o caso, p. ex., também do psicanalista que, ao interpretar os relatos ou os silêncios de um paciente, deduz respostas e soluções, como se faz com o levantamento de dados de uma determinada pesquisa. A hermenêutica fenomenológica A redução da hermenêutica filosófica a uma teoria da interpretação do texto tendeu a limitar a compreensão da experiência ao âmbito estritamente semântico, mantendo em segundo plano aspectos igualmente decisivos, como a forma e o valor, desse modo, e num terreno inesperado, a desqualificação das sensações e dos sentimentos, frente a uma idéia cognitivista de sentido. 4. O método de análise lingüística Parte do princípio de que o instrumento utilizado atualmente para filosofar, isto é, as línguas correntes, é totalmente deficiente e inadequado. Principais nomes: Wittgenstein; Russell; Carnap; Ryle; Ayer... Idéias centrais A. O objeto da filosofia é a linguagem; B. O método da filosofia é a análise lógica Filosofia analítica As duas correntes principais da metodologia analítica estão relacionadas primariamente com à verificação ou confirmação e a outra com a elucidação. A verificação A eliminação da metafísica no método da verificação é baseada no princípio de que para uma declaração fazer sentido, deve ser ou puramente definicional (analítica) ou, senão, verificável (sintética) por um ou mais dos cinco sentidos. Todas as demais declarações (éticas, teológicas e metafísicas) são contrasenso, ou sem sentido. As objeções a este método são em decorrência do fracasso do princípio da verificação que em algumas formas é exclusivo demais e em outras, é inclusivo demais. Outro lado negativo da verificação é o que se chamou de "princípio da falsificação", que consiste em afirmar que — "qualquer declaração ou proposição não faz sentido a não ser que seja sujeita a ser comprovada falsa". A elucidação baseia-se na crença de que enigmas filosóficos pudessem ser solucionados pela análise (elucidação) da linguagem. Logo, onde uma pergunta pode ser feita, também pode ser respondida, contudo nem todas as perguntas podem ser feitas de modo significativo. Em resumo a experiência é o tribunal de apelo que julga o significado. O sentido é determinado pelo modo como uma palavra é usada naquele contexto. Por uma análise da linguagem, pode-se elucidar o significado da linguagem conforme a intenção de seus usuários. A elucidação portanto, é um elementochave na busca da verdade, porque a ambigüidade leva a confusão. Por outro lado, as alegações quanto à verdade devem ser testadas ou confirmadas, pois há muitas alegações conflitantes quanto à verdade. 5. O método estruturalista O estruturalismo pretende ser um método, ao mesmo tempo científico [no caso das ciências humanas] e filosófico [um modo de fazer filosofia] (Goldschmidt, Tempo histórico e tempo lógico na interpretação dos textos filosóficos). O que é [O estruturalismo?] Nasceu na Genebra do lingüista Ferdinand de Saussure, chegou a França através do antropólogo Lévi-Strauss e proliferou impregnando a crítica literária de Barthes, a psiquiatria de Lacan e o marxismo de Althusser. Saussure sustentou que a linguagem não consiste numa acumulação de convenções independentes mas num sistema de interligações no qual cada elemento é o que é em virtude do conjunto de relações que mantém com todos os outros no sistema. Nas mãos de Lévi-Strauss isto conduziu à conclusão de que nada existe de realmente primitivo nas linguagens até então supostamente primitivas e nos povos supostamente primitivos que as falam. Foucault viu na mente humana o predomínio de diferentes formas de representar o mundo em épocas sucessivas, cada uma das quais consistiria num estratagema nietzscheano impessoal para dominar as restantes. Defensores do estruturalismo em filosofia [Bréhier, E. La Philosophie et son Passe, Goldschmidt, Tempo histórico e Tempo lógico na interpretação dos sistemas filosóficos, Gueroult, Filosofia da história da filosofia]. o que é ser “estruturalista”? “É exigir que a história da filosofia seja relevante para a filosofia, é considerar o passado como presente e manter o interesse pela verdade. é situar-se em um horizonte filosófico póshegeliano e anticartesiano. Mas é também, ao mesmo tempo, exigir que a história da filosofia seja científica, é considerar o passado apenas como passado e neutralizar o verdadeiro e o falso. É situar-se em um horizonte filosófico antihegeliano e pró-cartesiano. Ser estruturalista é, antes de tudo, conviver com essa situação esquizofrênica” (MOURA, p. 32). O que é uma estrutura? “’Sistema de relações, totalidade na qual os elementos não podem ser analisados sem referência a essa totalidade’. Donde a referência da noção de estrutura à ideia de um todo orgânico e sua oposição a uma mera seqüência demonstrativa” (MOURA, p. 38).