Diferenças percebidas
entre Fenomenologia e
Pesquisa em ciências
humanas
Thiago Mendonça
Prof. Dr. Washington Luiz Pacheco de Carvalho
Ilha Solteira
2014
Fenomenologia
• Edmund Husserl é considerado o precursor dessa
ciência, cuja incumbência é tornar a Filosofia uma
ciência rigorosa, deixando de lado especulações
metafísicas abstratas, entrando em contato com as
“próprias coisas” (Moreira, 2002).
• É um movimento filosófico cuja suprema fonte de
todos os dados é a “consciência doadora
originária” (GIL, 2008).
• O objetivo aqui é apresentar algumas diferenças
entre o “fazer pesquisa” na fenomenologia e nas
ciências humanas/educação.
Fenomenologia
• Trata-se de uma ciência descritiva que cuida dos
processos
intelectuais
dos
quais
somos
introspectivamente conscientes.
• Preocupa-se com a descrição de fenômenos
particulares, ou a aparência das coisas, como
experiência vivida no mundo da vida* de todo dia.
*Mundo da vida é o mundo cotidiano em que vivemos,
agimos, fazemos projetos, entre outros, o da ciência,
em que somos felizes ou infelizes.
A definição de Fenômeno
• Do grego phaenomenon, fenômeno é tudo o que
aparece, que se manifesta ou que se revela por si
mesmo.
• Para Husserl (1917), “inclui todo o domínio da
consciência com todas as formas de estar
consciente de algo e todos os constituintes que
podem ser imanentemente mostrados como
pertencentes a eles”.
• Incluiu ainda todas as formas de estar consciente
de algo, o que inclui “qualquer espécie de
sentimento, desejo e vontade, com seu
comportamento imanente”.
• O objeto de estudo da Fenomenologia não é o sujeito
nem o mundo, mas o mundo enquanto é vivido pelo
sujeito, liberta, entretanto, de preposições e previsões.
• Entende o ser, existencial e primordialmente, por sua
afetividade, comunicação e compreensão. Lançado
no mundo, o homem percebe-se e torna-se humano
no contato com os outros humanos, afetado pelo que
desse convívio percebe.
• Trata de comunicar as experienciações e compreende
o mundo não como uma forma de apreendê-lo
objetivamente, mas como um ato de descortiná-lo
(GARNICA, 1997).
Contribuições da
Fenomenologia
• Bicudo (1999) cita como contribuições da
fenomenologia para a educação a sua
possibilidade enquanto:
– método de investigação;
– procedimento didático-pedagógico;
– concepção de realidade e de conhecimento;
• Busca de sentido
significados.
e
atribuição
de
• A essência do que se procura nas manifestações do
fenômeno nunca é totalmente apreendida, mas a
trajetória da procura possibilita compreensões.
• Mediada pela linguagem, a análise fenomenológica
abrange o histórico e o social, pois encontros e
mediações
ocorrem
temporal
e
contextualizadamente  interesse nas descrições,
não em análises. Ritmo é ditado pelo entrevistado.
• Situado o fenômeno, recolhidas as descrições,
iniciam-se as análises Ideográfica e Nomotética.
Análise Ideográfica
• Busca tornar visível a ideologia presente na
descrição ingênua dos sujeitos;
• Busca por unidades de significado (recortes
considerados significativos pelo pesquisador) –
atitude, disposição e perspectiva de quem pesquisa;
• Transcreve-se as unidades de significado para um
discurso mais próprio da área de pesquisa;
• Agrupamento em categorias abertas mediante
reduções.
Análise Ideográfica
• As categorias são chamadas abertas e, são,
segundo
Husserl,
grandes
regiões,
não
apriorísticas, de generalizações (definidas a
posteriori).
• A redução é entendida como movimento do espírito
humano de destacar aquilo que julga essencial ao
fenômeno, o que é feito por meio de ações como o
intuir, o imaginar, o lembrar e o raciocinar.
• Agrupamentos
formam
uma
síntese
dos
julgamentos consistentes dados nas descrições
ingênuas dos sujeitos.
Análise Nomótética
• Análise das divergências e convergências
expressas pelas unidades de significado, às quais
se vinculam as interpretações que o pesquisador
faz para obter cada um desses.
• Novos grupos se formam e generalidades vão
resultando na iluminação de uma perspectiva do
fenômeno (que não pode ser percebido num todo
absoluto e único).
Pesquisa Fenomenológica
Pesquisa em ciências
humanas
Introdução:
Introdução:
Apresenta o tema, situa o fenômeno
tratado e conduz uma pré-reflexão
acerca do mesmo (ideias, leituras e
vivências do pesquisador são
apresentados).
Objetivos não são previamente
definidos.
Apresenta o tema, o problema da
pesquisa e os objetivos da pesquisa,
justificando sua relevância e
contribuição para a área de estudo.
Contém ou não hipóteses.
Fundamentação teórica:
Fundamentação teórica:
Teóricos da fenomenologia  o foco é Estudos da área que embasam um olhar
apreender o proceder fenomenológico.
teórico acerca do tema pesquisado e
Busca-se o desvelamento do fenômeno. mostram possibilidades de pesquisar o
mesmo.
Trajetória Metodológica:
Constituição dos dados:
Entrevista(s), transcrição, apreensão do
sentido, destaque das unidades de
significado, identificação das
divergências, sínteses.
Definição de um conjunto de ações que
originem essas informações
(Entrevistas, grupos focais,
questionários, observação, diário de
bordo etc).
Pesquisa Fenomenológica
Pesquisa em Ciências
Humanas
Objetivo do trabalho: busca-se
Métodos de análises de dados:
compreender e investigar um fenômeno
como tal, desvelando suas
particularidades e generalidades.
Interpretação dos dados face uma teoria
previamente selecionada e conhecida,
como análise do discurso ou do
conteúdo, por exemplo.
Sujeitos:
Apresentação dos resultados
Número de entrevistados e de
entrevistas varia conforme a
manifestação do fenômeno com cada
indivíduo.
analisados e interpretações de acordo
com a teoria selecionada.
Reflexão acerca do fenômeno
Conclusões, apontamentos,
explorado, com vistas ao
estabelecimento de generalizações.
explicações e recomendações.
Reflexões
• Ambas as modalidades de pesquisa tem princípios e
modelos e, por consequência, vantagens e
desvantagens.
• A fenomenologia nos permite explorar um fenômeno
do ponto de vista psicológico, buscando nas
percepções, sensações e descrições, o desvelamento
de fenômenos situacionais e específicos. Limita-se
ao que emerge da fonte de descrições.
• A pesquisa objetivante nem sempre permite o acesso
às percepções e à permissão ao subjetivo do
pesquisador.
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