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O CONHECIMENTO FENOMENOLÓGICO: considerações gerais
Retoma-se, a partir deste texto, o ciclo de modelos de conhecimento, objetivando motivar os
leitores, principalmente, os pós-graduandos, ao aprofundamento da gênese do conhecimento,
tão importante na produção científica. Evidentemente, este artigo é apenas uma incitação à
reflexão, desde que ampliada com fontes secundárias em obras de autores expoentes da área.
A fenomenologia propõe um modelo de ciência social cujo objeto é o estudo das regras que
segue a consciência para fazer com que as coisas pareçam reais. Para Husserl, a
fenomenologia fundamenta-se na concepção de que a realidade está estruturada pela
percepção. Em que pese o citado autor acreditar firmemente na existência de uma realidade
objetiva, pretendia demonstrar que os indivíduos participam, de maneira crucial, na percepção
e construção da realidade. Para ele, portanto, a verdade objetiva da ciência era um fato
incontestável, contudo, insistia em que esta objetividade não poderia ser compreendida de
modo extra-subjetivo e impessoal.
Tendo por base os ensinamentos de Rosilda Arruda Ferreira (2005), a análise fenomenológica
pretende mostrar que a consciência, por meio de desempenhos ocultos, transforma esta
realidade em algo muito diferente, numa imagem objetiva, autêntica e integrada. Enfim, os
atores constroem a sociedade mediante analogias e paralelismos de uma variedade de técnicas
por meio das quais as coisas separadas e desconhecidas, aparecem integradas e conhecidas,
buscando-se averiguar as regras da consciência que operam esta transformação. É o que
afirma Husserl ao propor a descoberta, a partir do modo de combinação próprio e exclusivo
da consciência.
De acordo com Alfonso Trujillo Ferrari (1999), não é nada fácil destacar as regras básicas do
modelo fenomenológico, visto que Husserl as desenvolveu através de suas pesquisas
filosóficas, conforme sinopse a seguir: 1) Intuição eidética, em outras palavras - projetar a
intuição “para as coisas mesmas”, o que significa que é necessário ver intelectualmente essas
coisas - a consciência originária do que se dá é a única fonte do conhecimento. 2) Na pesquisa
deve orientar-se o pensamento exclusivamente para o objeto com exclusão total do subjetivo _______________
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o pesquisador deve entregar-se totalmente ao objeto de sua indagação com uma objetividade
tal que deve excluir de si sentimentos, desejos, posições pessoais que possam deformar o
objeto - o que requer uma intuição para uma atitude teórica. 3) A indagação deve ser dirigida
“para as coisas mesmas”, com a qual postula não somente a redução de atitudes subjetivas,
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mas também do objetivo em si que não está dado diretamente com o objeto considerado.
Portanto, entenda-se a fenomenologia ora tratada de forma científica sobre a descrição e
classificação dos fenômenos, que se propõe a ser uma ciência do subjetivo, dos fenômenos e
dos objetos como objetos.
Convém assinalar que a gênese da Fenomenologia deriva das palavras regas "phainesthai" que
significa aquilo que se mostra, e "logos" que significa estudo, sendo etimologicamente então
"o estudo do que se mostra".
Já abordado neste texto, a fenomenologia tem como objeto de estudo o próprio fenômeno, isto
é, as coisas em si mesmas e não o que é dito sobre elas; assim, a investigação fenomenológica
busca a consciência do sujeito através da expressão das suas experiências internas. Logo, a
fenomenologia busca a interpretação do mundo por meio da consciência do sujeito formulada
com base em suas experiências.
Registre-se que o sentido primeiro da fenomenologia é "ciência ou estudo dos fenômenos". A
amplitude deste sentido permite identificar a fenomenologia com a própria investigação
filosófica, uma vez que esta deve, necessariamente, partir disso que se apresenta - dos
fenômenos, de modo a conferir-lhes uma unidade de sentido.
Portanto, reafirme-se que o modelo de conhecimento fenomenológico consiste em mostrar o
que é apresentado e esclarecer este fenômeno. Para a fenomenologia um objeto é como o
sujeito o percebe, e tudo tem que ser estudado tal como é para o sujeito e sem interferência de
qualquer regra de observação cabendo a abstração da realidade e perda de parte do que é real,
pois tendo como objeto de estudo o fenômeno em si, estuda-se, literalmente, o que aparece.
Ressalte-se, então, que a fenomenologia enquanto objeto, traduz-se por uma sensação,
recordação, enfim, tudo tem que ser estudado tal como é para o espectador.
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Husserl propôs estabelecer uma base segura, liberta de pressuposições, para todas as ciências
e, de modo especial, para a filosofia. A suprema fonte legítima de todas as afirmações
racionais é a visão, ou também, como ele se exprime - a consciência doadora originária [das
origindr gebende Bewusstsein]. Deve-se avançar para as próprias coisas. Esta é a regra
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primeira e fundamental do modelo fenomenológico. Por “coisas” entenda-se simplesmente o
dado, aquilo que se vê ante a consciência. Este dado chama-se fenômeno, no sentido de que
"phainetai", de que aparece diante da consciência. A palavra não significa que algo
desconhecido se encontre detrás do fenômeno. A fenomenologia não se ocupa disso, só visa o
dado, sem querer decidir se este dado é uma realidade ou uma aparência: haja o que houver, a
coisa está aí, é dada.
O modelo fenomenológico não pode ser enquadrado como método dedutivo nem empírico.
Consiste em mostrar o que é dado e em esclarecer este dado. Não explica mediante leis nem
deduz a partir de princípios, mas considera imediatamente o que está perante a consciência, o
objeto. Conseqüentemente, tem uma tendência orientada totalmente para o objetivo. Interessalhe imediatamente não o conceito subjetivo, nem uma atividade do sujeito (se bem que esta
atividade possa igualmente tornar-se objeto da investigação), mas aquilo que é sabido, posto
em dúvida, amado, odiado, etc. Mesmo nos casos em que se trata de uma representação pura,
é preciso distinguir entre o imaginar e o imaginado: quando, por exemplo, na representação de
um centauro. este é um objeto que importa distinguir cuidadosamente de nossos atos
psíquicos. De igual modo, o tom musical dó, o número 2, a figura círculo, etc., são objetos,
não atos psíquicos.
Contudo, Husserl rejeita o platonismo: este só seria verdadeiro no caso de cada objeto ser uma
realidade. O autor qualifica-se a si próprio de “positivista”, enquanto funda o saber sobre o
dado.
Mas, segundo ele, os positivistas cometem erros grosseiros, dos quais importa que o
pesquisador se desembarace se quiser chegar à verdadeira realidade. Não há porque confundir
o ver em geral com o ver meramente sensível e experimental e, sim, compreender que cada
objeto sensível e individual possui uma essência.
Sendo o individual, enquanto real, acidental, ao sentido deste acidental corresponde
precisamente uma essência ou, como diz Husserl, um "eidos" que precisa ser captado
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diretamente. Existem, portanto, duas espécies de ciências: ciências de fatos, ou fácticas, que
se estribam na experiência sensível, e ciências de essências ou eidéticas, às quais compete a
intuição essencial (Wesensschau), a visão do eidos. Mas todas as ciências de fatos baseiam-se
em ciências de essências, porque, em primeiro lugar, todas utilizam a lógica e, em geral,
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também a matemática (ciências eidéticas); em segundo lugar, cada fato alberga uma essência
permanente.
Saliente-se, todavia, que Husserl não encontrou um continuador de sua filosofia, ou seja,
como ele a entendia. Apesar disso, em meados do século XX, quando a fenomenologia já
parecia condenada ao esquecimento, renasceu o interesse por ela.
Espera-se que a presente nota tenha aflorado, no seio dos internautas/pós-graduandos, alguns
aspectos da temática sob análise, ao tempo em que se anuncia o próximo assunto: o modelo
estruturalista.
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O CONHECIMENTO FENOMENOLÓGICO - Prof. Dr. Luiz Carlos dos