1 LU IZ C w w AR L w. OS lc s D an OS to S s.p AN ro TO .br S O CONHECIMENTO FENOMENOLÓGICO: considerações gerais Retoma-se, a partir deste texto, o ciclo de modelos de conhecimento, objetivando motivar os leitores, principalmente, os pós-graduandos, ao aprofundamento da gênese do conhecimento, tão importante na produção científica. Evidentemente, este artigo é apenas uma incitação à reflexão, desde que ampliada com fontes secundárias em obras de autores expoentes da área. A fenomenologia propõe um modelo de ciência social cujo objeto é o estudo das regras que segue a consciência para fazer com que as coisas pareçam reais. Para Husserl, a fenomenologia fundamenta-se na concepção de que a realidade está estruturada pela percepção. Em que pese o citado autor acreditar firmemente na existência de uma realidade objetiva, pretendia demonstrar que os indivíduos participam, de maneira crucial, na percepção e construção da realidade. Para ele, portanto, a verdade objetiva da ciência era um fato incontestável, contudo, insistia em que esta objetividade não poderia ser compreendida de modo extra-subjetivo e impessoal. Tendo por base os ensinamentos de Rosilda Arruda Ferreira (2005), a análise fenomenológica pretende mostrar que a consciência, por meio de desempenhos ocultos, transforma esta realidade em algo muito diferente, numa imagem objetiva, autêntica e integrada. Enfim, os atores constroem a sociedade mediante analogias e paralelismos de uma variedade de técnicas por meio das quais as coisas separadas e desconhecidas, aparecem integradas e conhecidas, buscando-se averiguar as regras da consciência que operam esta transformação. É o que afirma Husserl ao propor a descoberta, a partir do modo de combinação próprio e exclusivo da consciência. De acordo com Alfonso Trujillo Ferrari (1999), não é nada fácil destacar as regras básicas do modelo fenomenológico, visto que Husserl as desenvolveu através de suas pesquisas filosóficas, conforme sinopse a seguir: 1) Intuição eidética, em outras palavras - projetar a intuição “para as coisas mesmas”, o que significa que é necessário ver intelectualmente essas coisas - a consciência originária do que se dá é a única fonte do conhecimento. 2) Na pesquisa deve orientar-se o pensamento exclusivamente para o objeto com exclusão total do subjetivo _______________ Professor Doutor Luiz Carlos dos Santos, publicado no site www.lcsantos.pro.br 2 o pesquisador deve entregar-se totalmente ao objeto de sua indagação com uma objetividade tal que deve excluir de si sentimentos, desejos, posições pessoais que possam deformar o objeto - o que requer uma intuição para uma atitude teórica. 3) A indagação deve ser dirigida “para as coisas mesmas”, com a qual postula não somente a redução de atitudes subjetivas, LU IZ C w w AR L w. OS lcs D an OS to S s.p AN r o TO .br S mas também do objetivo em si que não está dado diretamente com o objeto considerado. Portanto, entenda-se a fenomenologia ora tratada de forma científica sobre a descrição e classificação dos fenômenos, que se propõe a ser uma ciência do subjetivo, dos fenômenos e dos objetos como objetos. Convém assinalar que a gênese da Fenomenologia deriva das palavras regas "phainesthai" que significa aquilo que se mostra, e "logos" que significa estudo, sendo etimologicamente então "o estudo do que se mostra". Já abordado neste texto, a fenomenologia tem como objeto de estudo o próprio fenômeno, isto é, as coisas em si mesmas e não o que é dito sobre elas; assim, a investigação fenomenológica busca a consciência do sujeito através da expressão das suas experiências internas. Logo, a fenomenologia busca a interpretação do mundo por meio da consciência do sujeito formulada com base em suas experiências. Registre-se que o sentido primeiro da fenomenologia é "ciência ou estudo dos fenômenos". A amplitude deste sentido permite identificar a fenomenologia com a própria investigação filosófica, uma vez que esta deve, necessariamente, partir disso que se apresenta - dos fenômenos, de modo a conferir-lhes uma unidade de sentido. Portanto, reafirme-se que o modelo de conhecimento fenomenológico consiste em mostrar o que é apresentado e esclarecer este fenômeno. Para a fenomenologia um objeto é como o sujeito o percebe, e tudo tem que ser estudado tal como é para o sujeito e sem interferência de qualquer regra de observação cabendo a abstração da realidade e perda de parte do que é real, pois tendo como objeto de estudo o fenômeno em si, estuda-se, literalmente, o que aparece. Ressalte-se, então, que a fenomenologia enquanto objeto, traduz-se por uma sensação, recordação, enfim, tudo tem que ser estudado tal como é para o espectador. _______________ Professor Doutor Luiz Carlos dos Santos, publicado no site www.lcsantos.pro.br 3 Husserl propôs estabelecer uma base segura, liberta de pressuposições, para todas as ciências e, de modo especial, para a filosofia. A suprema fonte legítima de todas as afirmações racionais é a visão, ou também, como ele se exprime - a consciência doadora originária [das origindr gebende Bewusstsein]. Deve-se avançar para as próprias coisas. Esta é a regra LU IZ C ww AR L w. OS lcs D an OS to S s.p AN r o TO .br S primeira e fundamental do modelo fenomenológico. Por “coisas” entenda-se simplesmente o dado, aquilo que se vê ante a consciência. Este dado chama-se fenômeno, no sentido de que "phainetai", de que aparece diante da consciência. A palavra não significa que algo desconhecido se encontre detrás do fenômeno. A fenomenologia não se ocupa disso, só visa o dado, sem querer decidir se este dado é uma realidade ou uma aparência: haja o que houver, a coisa está aí, é dada. O modelo fenomenológico não pode ser enquadrado como método dedutivo nem empírico. Consiste em mostrar o que é dado e em esclarecer este dado. Não explica mediante leis nem deduz a partir de princípios, mas considera imediatamente o que está perante a consciência, o objeto. Conseqüentemente, tem uma tendência orientada totalmente para o objetivo. Interessalhe imediatamente não o conceito subjetivo, nem uma atividade do sujeito (se bem que esta atividade possa igualmente tornar-se objeto da investigação), mas aquilo que é sabido, posto em dúvida, amado, odiado, etc. Mesmo nos casos em que se trata de uma representação pura, é preciso distinguir entre o imaginar e o imaginado: quando, por exemplo, na representação de um centauro. este é um objeto que importa distinguir cuidadosamente de nossos atos psíquicos. De igual modo, o tom musical dó, o número 2, a figura círculo, etc., são objetos, não atos psíquicos. Contudo, Husserl rejeita o platonismo: este só seria verdadeiro no caso de cada objeto ser uma realidade. O autor qualifica-se a si próprio de “positivista”, enquanto funda o saber sobre o dado. Mas, segundo ele, os positivistas cometem erros grosseiros, dos quais importa que o pesquisador se desembarace se quiser chegar à verdadeira realidade. Não há porque confundir o ver em geral com o ver meramente sensível e experimental e, sim, compreender que cada objeto sensível e individual possui uma essência. Sendo o individual, enquanto real, acidental, ao sentido deste acidental corresponde precisamente uma essência ou, como diz Husserl, um "eidos" que precisa ser captado _______________ Professor Doutor Luiz Carlos dos Santos, publicado no site www.lcsantos.pro.br 4 diretamente. Existem, portanto, duas espécies de ciências: ciências de fatos, ou fácticas, que se estribam na experiência sensível, e ciências de essências ou eidéticas, às quais compete a intuição essencial (Wesensschau), a visão do eidos. Mas todas as ciências de fatos baseiam-se em ciências de essências, porque, em primeiro lugar, todas utilizam a lógica e, em geral, LU IZ C w w AR L w. OS lcs D an OS to S s.p AN ro TO .br S também a matemática (ciências eidéticas); em segundo lugar, cada fato alberga uma essência permanente. Saliente-se, todavia, que Husserl não encontrou um continuador de sua filosofia, ou seja, como ele a entendia. Apesar disso, em meados do século XX, quando a fenomenologia já parecia condenada ao esquecimento, renasceu o interesse por ela. Espera-se que a presente nota tenha aflorado, no seio dos internautas/pós-graduandos, alguns aspectos da temática sob análise, ao tempo em que se anuncia o próximo assunto: o modelo estruturalista. _______________ Professor Doutor Luiz Carlos dos Santos, publicado no site www.lcsantos.pro.br