200 mil estudantes serão afetados com vestibular unificado A GAZETA - CADERNO B CUIABÁ, 10 DE MAIO DE 2009 PÁGINA 2 SEMIABERTO Mais de 90% dos presos não cumprem pena em Cuiabá Chico Ferreira/Arquivo Ex-ccobrador de Arcanjo, João Leite cometeu novo crime e voltou à prisão Estado e Justiça não sabem nem onde estão 28,7% dos encaminhados para cumprimento de pena mais branda RAQUEL FERREIRA DA REDAÇÃO Mais de 90% dos reeducandos do regime semiaberto de Cuiabá não cumprem a medida de ressocialização como determina a Justiça. Dos 247 homens que deveriam dormir diariamente na Casa do Albergado, somente 22 não faltaram nenhuma vez durante o mês de maio. O paradeiro de 71 (28,7%) deles não é nem mesmo conhecido pelo Estado. O diretor da Casa do Albergado, capitão da Polícia Militar Milton Ribeiro Filho, afirma que o número total de pessoas na instituição deveria ser de 247, mas atualmente somente 176 têm registro e pernoitam no local. As fichas dos outros 71 presos foram retiradas das pastas de presenças devido a quantidade de faltas que acumulavam por mês. O diretor diz não saber aonde estão estes reeducandos, que deveriam trabalhar durante o dia e voltar para as celas às 19h. Ele explica que o papel da Casa do Albergado é acolher o preso, por meio de ordem judicial, e fiscalizar a permanência dentro do local no horário das 19h às 6h. Nos feriados e finais de semana a reclusão é integral. Durante o dia, os reeducandos não podem ficar na Casa do Albergado e deveriam estar trabalhando, como forma de se reintegrar a sociedade. “A responsabilidade da Casa com os reeducandos é a noite, quando eles vêm para dormir. Também fornecemos o jantar e o café da manhã. O restante é por conta deles. Existem as exceções, como as pessoas que trabalham à noite. Neste caso, a ordem vem do juiz para permitir a entrada”. O capitão garante que o preso que chega atrasado não entra e a falta é lançada na ficha de presença, que é encaminhada à justiça mensalmente. Milton argumenta que não cabe ao Estado questionar os faltosos sobre as razões pelas quais não permaneceram na Casa. “O nosso papel é orientar. Se foi por doença, avisamos que deve apresentar ao juiz o atestado médico. Nós não temos autorização nem para pegar o documento. Tem preso que vem com encaminhamento da Justiça e nunca mais aparece. Nós fazemos a notificação, mas cabe ao juiz considerar ele foragido ou não. Tem vários casos de pessoas do semiaberto que passaram pela regressão devido a quantidade de faltas”. Para controlar a permanência dos presos, o capitão explica que é feita uma chamada - após os presentes assinarem a ficha individual - e em seguida as portas dos quartos são trancadas com cadeado. A segurança da Casa do Albergado é feita por 4 agentes prisionais por turno. Um dos funcionários, que preferiu não se identificar, comenta que os reeducandos são tranquilos entre eles, mas receosos em relação aos agentes prisionais. “Problema entre os presos existe somente quando algum deles comete delitos dentro da Casa, como furto, e é descoberto. Quando isso acontece, geralmente, eles batem na pessoa Chico Ferreira Na Casa do Albergado, localizada no bairro Centro América, deveriam dormir 247 reeducandos nas 23 estão no regime aberto. O e não deixam mais ela entrar na restante (224) deveria estar em Casa”, comenta o agente prisiouma colônia. nal que defende a retirada da O local foi construído para PM dos presídios e o uso de aratender 60 pessoas. Com a demas durante o expediente de manda bem maior, a diretoria da trabalho. Casa transformou em quartos a Ele argumenta que não tem lavanderia e a Capela, que torcomo proteger a Casa estando nou-se a ala dos totalmente desarevangélicos. O camado. O problepitão explica que a ma, segundo o Sejusp adquiriu agente prisional, beliches aproveié a tentativa de tando melhor os invasão de pesespaços e garansoas de fora em Não sei qual é o tindo um leito pabusca de vingança contra os ree- acordo para conseguir ra cada preso. “Estamos procuducandos. Outro os benefícios, rando um lugar ponto abordado mas isso existe maior para transpelo funcionário é ferir a Casa”. a quantidade de O agente prisional afirma automóveis e motos de presos que o quarto pode ser montado que ficam no pátio da Casa do de acordo com o bolso do reeAlbergado. Como não existe fisducando. Ele destaca que dentro calização dos veículos, o agente da Casa alguns presos têm pricomenta que o Estado pode estar vilégios, como ar-condiciona“guardando” produto de furto ou do, geladeira e freezer. Em um roubo, ou mesmo os usados em dos setores, o funcionário gacrimes. rante que tem até banheiro priEm relação a estes problevativo. “Não sei qual é o acordo mas, a Secretaria de Justiça e Separa conseguir os benefícios, gurança Pública (Sejusp) estuda mas isso existe”. a possibilidade de colocar poliSegundo a Sejusp, para este ciais militares para ajudar na seano não há previsão de orçamengurança das unidades prisionais, to para criação de uma colônia contrariando a vontade dos agrícola ou industrial. A secretaagentes. A medida ainda é uma ria afirma que Cuiabá tem a Peidéia e a secretaria aguarda o térnitenciária Agrícola das Palmeimino da formação dos novos ras, com capacidade para recePMs para avaliar como a medida ber 100 reeducandos, mas sopode ser adotada. O problema é mente 16 estão no local. O argua falta de efetivo nas ruas. mento da Sejusp é que a justiça Estrutura - A Casa do Alnão faz o encamibergado, de nhamento de preacordo com a sos para a penitenLei de Execuciária, que está senções Penais do reformada pelos (LEP), deveria próprios presos. abrigar reeduJustiça - A candos do regiProblema entre os Corregedoria do me aberto, que já cumpriram a presos existe somente Tribunal de Justiça maior parte da quando algum deles de Mato Grosso pena e estão per- comete delitos dentro afirma não ter coto de ganhar a li- da Casa, como furto, e nhecimento sobre a berdade. Os prenão punição dos é descoberto sos do semiaberpresos faltosos e to, pela lei, devegarante que vai riam ser levados para uma prisão procurar tomar conhecimento agrícola ou industrial, onde trasobre o assunto. Quanto ao não balhariam durante o dia e dormiencaminhamento de presos para riam no mesmo local. Porém, a a Penitenciária Agrícola das Palfalta de estrutura do sistema primeiras, a Corregedoria alega sional de Mato Grosso obriga a que o local não é apropriado, justiça a encaminhar os reedualém de ter instalações antigas e candos do semiaberto para a Caprecárias. sa do Albergado. A juíza da 14º Vara de CriDos 247 que ocupam a Caminal, Nilza Maria Pôssas de sa do Albergado de Cuiabá, apeCarvalho, garante que a justiça “ “ “não está dormindo”. Ela confirma que mensalmente recebe a ficha de presença dos presos e mar- ca audiência de justificação para os faltosos. A juíza argumenta que tem sido muito mais rigorosa e há vários casos de regressão de regime por conta das faltas. Nilza destaca que mesmo os que não passam pela regressão pelo número de faltas são punidos. Os que apresentavam excesso de faltas não receberam indulto nas datas festivas e tiveram alguns pedidos recusados pela Justiça. É considerado aceitável até 8 ausências, explica a juíza. Ela lembra que algumas pessoas fazem tratamento de saúde, outras moram longe e algumas vezes passam o final de semana com a família, entre outras eventualidades. O grande número de processos e a escassez de funcionários é um dos entraves para que haja mais agilidade nas audiências. A juíza comenta que tem 4 funcionários para trabalhar em 3 mil processos. Nas 79 varas judiciais do Estado existem 670.635 processos, para 223 juízes. Otmar de Oliveira/Arquivo Nicássio José Barbosa teve 247 faltas e perdeu o benefício do semiaberto Marcus Vaillant/Arquivo Luiz Alberto Dondo cumpriu pena e conseguiu liberdade condicional