A dimensão técnico-operativa
da atuação do Cientista Social
em sintonia com as dimensões
teórico-metodológica e éticopolítica


O trabalho do Cientista Social constitui numa profissão que
atua na viabilização dos direitos da população através das
políticas sociais;
Esta constatação exige as seguintes premissas para o
exercício do assistente social:

clareza do NORTE TEÓRICO-METODOLÓGICO de suas
ações (visão do indivíduo e das relações sociais);

clareza da ORIENTAÇÃO ÉTICO-POLÍTICA do atendimento
às necessidades ( respostas às requisições da sociedade
conforme compromissos com valores e princípios);

identificação dos INSTRUMENTOS E TÉCNICAS manejados
como meios para alcance das finalidades profissionais (e
não como fins em si mesmos aplicáveis de modo neutro).

A operacionalização da prática
profissional com uso de instrumentos
e técnicas está completamente
vinculada a um claro referencial
teórico (ainda que seja de
desconhecimento) e a uma dada
compreensão ético-política do fazer
(compreensão do papel do Serviço
Social junto à totalidade da vida
social).

“O reconhecimento do caráter interventivo
do cientista social supõe uma capacitação
crítico-analítica que possibilite a
construção de seus objetos de ação em
suas particularidades sócio-institucionais
para a elaboração criativa de estratégias
de intervenção comprometidas com as
proposições ético-políticas do projeto
profissional” (Diretrizes Gerais para o
Curso de Serviço Social In CRESS 7ªregiãoRJ, 2005:379).



São componentes de uma das dimensões do
exercício profissional: a dimensão técnico-operativa
(além das teórico-metodológica e ético-política);
Só adquirem sentido e direção mediante a POSTURA
TELEOLÓGICA do cientista social (liberdade e
criatividade nas escolhas conforme as demandas e a
finalidade do trabalho) que está ligada ao caráter
social e ético-político do projeto profissional;
Não se atrelam a nenhuma matriz teóricometodológica específica (entrevista individual e
funcionalismo/grupo e materialismo histórico).
 Segundo
TRINDADE (2002), a atividade do
cientista social não se vincula diretamente
com a produção material e sim com a
reprodução social (intervenção junto às
condições de vida e às consciências dos
trabalhadores). Assim, os nossos
instrumentos e técnicas provêm das
ciências sociais e “potencializam a
produção de atitudes, posturas e
comportamentos adequados a diferentes
interesses” (p.25)
 Para
Guerra (2000), instrumentalidade
significa a instância de passagem entre
as abstrações da vontade e a concreção
das intencionalidades que confere um
determinado MODO DE SER às
profissões dentro das relações sociais.
(Leitura crítica oposta à herança técnico-burocrática do
Serviço do Cientista Social dos anos 60 e 70
preocupada com a eficácia e focalizada no imediatismo
das ações)
Clareza das incumbências profissionais no
cenário institucional;
 Conhecimento dos modos de ser e viver da
população usuária (linguagem e formas de
abordagem);
 Clareza das finalidades profissionais em
relação às demandas assumidas junto aos
usuários;
 Condições objetivas de trabalho (caráter
institucional, relacionamento com a equipe,
conjuntura, recursos materiais);

Instrumentos são mediadores e
potencializadores do trabalho (só adquirem
significado quando postos em movimento
segundo a teleologia profissional).
Exemplos: observação, entrevista, reunião,
grupo, visita domiciliar;
 Técnicas dizem respeito à habilidade
humana de criar e utilizar instrumentos.
Exemplos: discussão reflexiva (na
entrevista) e dinâmica do“telefone sem fio”
(no grupo)

 Conforme
Magalhães(2003), é um
instrumento de comunicação oral cujos
objetivos em geral são:
 coleta de dados;
 identificação das
demandas/estabelecimento de prioridades;
 convite à reflexão sobre o cotidiano e as
formas de enfrentamento de situações;
 devolução do que foi constado na interação
profissional.
 Tipos
de entrevista: livre (o entrevistado
traz o tema a ser discutido), estruturada
ou dirigida(o entrevistador conduz
conforme seus objetivos específicos) e
semi-estruturada ou semidirigida (o
entrevistador deixa que o entrevistado
fale e direciona essas falas para os
objetivos)
 Caráter/Direção: informativo ou
educativo
 Recursos: conhecimentos
e referenciais
ético-políticos, relacionamento
profissional, linguagem adequada,
habilidades técnicas (saber observar – o
silêncio, os gestos, os olhares, os tons de
voz -, perguntar, ouvir)
 Tipos de pergunta: de esclarecimento
(Há quanto tempo trabalha lá?), de
análise (Por que acha que ele bate em
você?), de ação (O que você pretende
fazer em relação a isso?)

clareza e objetividade na formulação das
perguntas (não fazer interrogatórios);

cuidado para não induzir ou manipular as
respostas;

direcionamento das verbalizações do usuário para
os objetivos do trabalho não precipitando-se em
interromper o entrevistado;

estímulo das reflexões evitando conselhos ou
críticas;

solicitação de permissão para realizar anotações
durante a entrevista, explicando a razão.
 Conforme
Magalhães(2003), é outro
instrumento de comunicação oral cujos
objetivos em geral se aproximam da
entrevista mas com a diferença de
envolverem um maior número de pessoas.
 Tipos
de grupo: aberto (possibilidade de
ingresso de novos participantes quando a
duração não é programada e o próprio
grupo define o momento de se dissolver) ou
fechado (limites de tempo, duração e
número de participantes)
 Tipos
de condução: diretiva (atividades
grupais com objetivos determinados) ou
não-diretiva (propícia à reflexão e à
autonomia do grupo). Aqui o trabalho pode
iniciar-se “a partir de uma queixa, uma fala,
um tema escolhido pelos membros do
grupo ou, dependendo do tipo de grupo,
pelo coordenador” (p.51)
 Caráter/Direção: informativo
ou educativo.
(O grupo favorece experiências horizontais e solidárias)
 Recursos: os
mesmos da entrevista, isto é,
conhecimentos e referenciais éticopolíticos, relacionamento profissional,
linguagem adequada, habilidades
técnicas (saber observar – o silêncio, os
gestos, os olhares, os tons de voz -,
perguntar, ouvir)
 firmamento
de um contrato de trabalho “no
tocante a horário, pontualidade e demais
normas, muitas delas emanadas do próprio
grupo” (p.52);
 atividade com grande número de
participantes caracteriza-se palestra;
 o silêncio também é comunicação;
 observação das conversas paralelas e
daqueles participantes que se destacam no
grupo;
 devolução das indagações e dúvidas para os
participantes
 Para
Kern (s/l, s/d), os ‘visitadores sociais’
tinham como objetivo “ajudar o indivíduo a ele
próprio alcançar o seus propósitos dentro de
um padrão de normalidade previamente
estabelecido” (averiguação, inspeção).
 Tendências psicologizante e individualizante
no enfrentamento das expressões da questão
social;
 Indivíduo a ser apoiado para se “ajustar” à
sociedade equilibrada (controle social).
. Deve ser realizada, após devido
planejamento, apenas quando de fato
necessária e de acordo com o usuário
(prévio agendamento para evitar invasão
de privacidade);
. Utilização das informações coletadas nas
entrevistas mas ênfase na capacidade de
observação para leitura das condições
sócio-econômicas e culturais de vida.
. a comunicação deve ser descontraída, horizontal
com linguagem adequada para estabelecimento de
confiança;
 a razão da visita deve ser confirmada na chegada e
o consentimento do usuário deve ser requisitado
para continuação;
 auto-observação do profissional em relação aos
seus valores é fundamental porque inexiste a
neutralidade;
 anotações breves ajudam na memorização
(esclarecimento ao usuário de que o registro visa
valorizar os assuntos tratados e explicação do seu
destino ).
 Para
Magalhães(2003), é um instrumento de
comunicação escrita cujo objetivo é a
descrição ou o relato do que foi possível
conhecer por meio das entrevistas, visitas
domiciliares, grupos, reuniões, pesquisas etc;
 O relatório também apresenta informações
sobre providências tomadas e justifica
encaminhamentos. Ele é a exposição
pormenorizada de todo o trabalho realizado.
 Segundo
Fávero in CFESS(2003:44), o
relatório é uma “apresentação
descritiva e interpretativa de uma
situação ou expressão da questão
social”. Contém objeto de estudo,
sujeitos envolvidos e finalidade. E ainda
breve histórico, procedimentos
utilizados, desenvolvimento e análise da
situação.
 deve
extrapolar o burocrático e conter
subsídios para tomada de conhecimento e
de intervenção;
 deve informar ou encaminhar mas
explicitando os motivos (se não, tem-se um
informe em vez de um relatório);
 deve-se atentar para o sigilo profissional
(proteção ao usuário conforme capítulo V,
art. 15 do Código de Ética Profissional de
1993).
 Segundo
Moreira e Alvarenga in CFESS
(2003:56), parecer social constitui “a opinião
profissional do cientista social, com base na
observação e estudo de uma dada situação,
fornecendo elementos para a concessão de
um benefício, recurso material e decisão
médico-pericial”
Exemplos de situações para emissão na previdência:
dependência econômica/ união estável (pensão por
morte, auxílio reclusão) e patologias (subsídio à
perícia médica para auxílio-doença, aposentadoria por
invalidez)
 Para
as autoras (ibid:66), “a elaboração
do parecer social não pode ser uma
comprovação de informação e não deve
possuir um caráter de fiscalização: ele é
um viabilizador de direitos”;
 Por isto, o parecer deve considerar o
núcleo familiar e a posição do usuário, a
satisfação das necessidades básicas, a
inserção no mercado de trabalho.
A
elaboração do parecer deve se basear
num estudo sócio-econômico e cultural
(história de vida) por meio de
entrevistas, visita domiciliar etc. sem que
estes insumos detalhados sejam
encaminhados para os solicitantes;
 O conteúdo do parecer deve ser
sucinto,claro e objetivo sem ser
superficial.
 parecer
social não é relatório;
 o processo de elaboração deve se
socializado com o usuário numa
desmistificação do poder institucional;
 o cientista social pode emiti-lo por
iniciativa própria conforme a situação;
 quando da falta de provas documentais,
cuidado com os próprios preconceitos
(princípio do Código de 1993 pelo empenho
na eliminação);
 clareza
quanto ao objetivo, coerência
dos aspectos levantados e expressão
de posicionamento profissional;
 na conclusão, mais adequado o termo
“caracterização” do que
“verificação”, “constatação”,
“comprovação”.

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
CFESS (org).O estudo social em perícias, laudos e pareceres
técnicos: contribuição ao debate no judiciário, no penitenciário e na
previdência social. 4ªed. – São Paulo: Cortez, 2005.
CRESS-7ªregião/RJ. Assistente social: ética e direitos – coletânea de
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GUERRA, Yolanda. Instrumentalidade do processo de trabalho e serviço
social. In: Serviço Social e Sociedade, no.62, São Paulo: Cortez, 2000.
KERN, Francisco A. Visita domiciliar: a linguagem das relações. Mimeo,
s/l, s/d.
MAGALHÃES, Selma M. Avaliação e linguagem: relatórios, laudos e
pareceres. São Paulo: Veras; Lisboa: CPIHTS, 2003.
SANTOS, Cláudia Mônica dos. As dimensões da prática profissional do
Serviço Social.Mimeo, s/l, s/d.
TRINDADE, Rosa Lúcia P. Desvendando as determinações sócio-históricas
do instrumental técnico-operativo do serviço social na articulação entre
demandas sociais e projetos profissionais.In: Temporalis, Brasília:
ABEPSS, Ano 2, no.4, 2001.
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O Serviço Social e os instrumentos e técnicas de intervenção