A IMPORTÂNCIA DA INTERFACE EDUCAÇÃO\SAÚDE NO AMBIENTE ESCOLAR COMO PRÁTICA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE Felipe dos Santos Costa1 Jorge Luiz Lima da Silva2 Márcia Isabel Gentil Diniz3 Refletir sobre educação em saúde implica na observação de inúmeros aspectos relevantes sobre suas origens, implicações e maneiras de se fazer com que se efetive, garantindo melhor assistência de saúde à população. Nesse contexto, possui raízes em teorias distintas e se relaciona com temas relevados na Reforma Sanitária e nas conferências de saúde e encontros internacionais que também versaram sobre o assunto. Dentro deste contexto, articulandose a educação escolar à promoção da saúde percebe-se certo mecanismo de fortalecimento e implantação de política mais transversal, integrada e intersetorial, que propõe a articulação entre os serviços de saúde, a comunidade, às iniciativas pública e privada, além do próprio cidadão na proposição de ações que busquem bem-estar e qualidade de vida. (BRASIL, 2006) Uma das formas de se promover saúde e incentivar práticas de vida saudáveis é utilizar-se do processo de educação em saúde, onde se oportuniza o compartilhamento de saberes dos mais variados possíveis na busca de soluções das mais diversas problemáticas. Ações educativas podem visar à sensibilização e\ou a conscientização sobre algum problema de saúde, ou ações que possam evitar o surgimento de males à clientela. Nesse sentido, não se pode deixar de lembrar o quanto às ações preventivas são mais vantajosas que as ações curativistas; tanto do ponto de vista econômico, quanto do ponto de vista assistencial, uma vez que podem diminuir a incidência de doenças e contribuir para a diminuição do número de pacientes que buscam serviços de maior complexidade, mais dispendiosos e por vezes menos efetivos. Além disso, de acordo com a lei orgânica da saúde (Lei 8.080\1990), entre outros aspectos, percebe-se a educação como fator influente ao estado de saúde do indivíduo: Art. 3ª - A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país. Segundo Pereira (2003), a educação e a saúde são espaços de produção e aplicação de saberes destinados ao desenvolvimento humano, onde se pode notar interseção e modo de operá-las que muitas vezes é feito inconscientemente. Nota-se que o profissional de saúde pratica educação em saúde em seu cotidiano profissional sem que se perceba como tal. Nesta ótica, a escola é espaço essencial para o desenvolvimento do conhecimento partilhado e para a integração com a comunidade. Nela encontra-se grande parte da população que demonstra interesse em aprender, e onde reside grande potencial disseminador de informações que ultrapassam, por inúmeras vezes, seus limites físicos (OLIVEIRA; BUENO, 1997). A escola é um dos alicerces da educação, da cidadania e da formação de uma nação. É por meio dela que a criança inicia sua educação, sua integração e inclusão social, seus relacionamentos e seus potenciais, ou seja, relações complexas que se estendem por toda a vida (LIBERAL 2005). Este fato se reafirma na proposição de Souza e Lopez (2002), onde expõe que a escola é um espaço propício para educação em saúde, pois colabora na melhoria da qualidade de vida da comunidade escolar e contribui, direta e indiretamente para o futuro de nosso país. A população não deve ser negligenciada no espaço em questão, pois abrange grande fatia dos habitantes das comunidades nas quais os profissionais de saúde, dentre eles o enfermeiro, atuam. É também no ambiente escolar que a criança passa a observar questões relativas ao meio ambiente à saúde e também ao próprio cuidado com o corpo, tratando-se de um local de intensas descobertas. Neste ambiente ideal, onde a criança explora suas potencialidades e vive inúmeras descobertas. O enfermeiro pode se encontrar diante de oportunidades de identificar pessoas em situação de risco ou vulnerabilidade em questões relativas à saúde e ambiente. Quando se observa como se dão as investidas sobre saúde no ambiente escolar, tanto por parte dos próprios professores, como pelos profissionais de saúde, percebese que ocorrem de maneira esporádica, em iniciativas de grupos isolados. Ainda neste Informe-se em promoção da saúde, v.4, n.2. p.30-33, 2008. 31 tocante, não se observam abordagens direcionadas aos pais de crianças que, muitas vezes, tem sua participação no contexto escolar limitada à reunião de pais e mestres e eventos promovidos pela escola. Oliveira e Bueno (1997) afirmam que o despreparo das pessoas em geral, de pais e profissionais para trabalharem as questões de educação em saúde na escola junto ao contingente infanto-juvenil, representa certo atravancamento das possibilidades de avanço para a saúde e a melhoria da qualidade de vida, prejudicando, assim, o exercício da cidadania. Dentro desta problemática, o profissional de saúde, neste tocante podendo ser o enfermeiro, pode atuar junto aos professores, às famílias e aos alunos na busca de novos e mais eficientes meios de se abordar educação em saúde no ambiente escolar. Em relação ao profissional de saúde, sobretudo o atuante nos serviços de atenção básica, pode estar em maior proximidade com a população, podendo construir vínculos e pactuar ações tanto no campo preventivo, quanto no de promoção da saúde. Isso se confirma quando se observa que a meta do enfermeiro está relacionada a mudanças positivas em atitudes e hábitos de vida do ser humano, diante da atenção primária à saúde do seu objeto de cuidado, o cliente (OLIVEIRA; ANTÔNIO, 2006). Nesta ótica, o professor é elemento desencadeador de saúde, podendo contribuir para o processo, pois os estudantes, principalmente os menores, têm as atitudes dos professores como referência. Embora isso continue sendo verdade, a forma de ensinar é menos autoritária e formal; pois, atualmente, as relações sociais são mais abertas. O estabelecimento de parcerias entre os profissionais de educação com os da saúde pode ser vantajoso para a construção de novos métodos, estratégias e formas de pensar como tema “saúde” deva ser abordado no meio educacional. As afirmações em questão se sintetizam, na figura do enfermeiro, como demonstrado na seguinte afirmação de Fontana (2008): O enfermeiro, na sua práxis, exerce funções de facilitador, orientador ou educador, inerente à própria natureza profissional. Sendo assim, o processo ensino-aprendizagem, o apreender a aprender e o desenvolvimento de competências e habilidades, devem ser temas norteadores do cotidiano deste profissional, na construção de práticas que oportunizem o desenvolvimento de hábitos saudáveis, de indivíduos responsáveis pelo seu ambiente social e, acima de tudo o respeito à sua dimensão social. É importante salientar, que a educação em saúde para uma comunidade requer considerações não apenas relacionadas ao levantamento das suas necessidades e determinação arbitrária de ações, mas também deve envolver a participação destas comunidades no desenvolvimento destas ações. Desta forma, desempenham o papel principal na identificação de suas próprias necessidades, e no planejamento de soluções para atendêlas com maior especificidade (FONTANA, 2008). Logo se percebe que é de vital importância à valorização da tríade professor\profissional de saúde\ comunidade, onde se estabelecem espaços para que todos os atores deste conjunto possam ser ouvidos em suas necessidades, e também participar no processo de mudanças positivas para todos. Segundo Souza e Lopes (2002), o enfermeiro pode atuar como facilitador desse processo, fazendo consultorias e encontros para estudo com os professores sobre questões de saúde e técnicas, a fim de que possam abordá-las no dia-a-dia e, também, realizando oficinas com os alunos sobre assuntos específicos, sem descuidar da assistência individual, quando esta se fizer necessária. Diante disso, percebe-se que educação em saúde, como forma de promoção da saúde no ambiente escolar, se faz mediante a construção de parcerias e, de certa forma, ao abandono do antigo modelo educacional centrado apenas na figura do professor. Os alunos, assim como seus pais, profissionais de saúde, e educadores devem construir uma forma de pensar saúde mais efetiva e voltada para as reais necessidades da população. Nesta dinâmica as ações interdisciplinares ganham espaço. Nesse sentido, a escola funciona como ponto de encontro a todos, podendo servir como palco para mudanças na forma de se pensar e construir saúde dentro de seu determinado contexto social. Trata-se, portanto, de uma mudança conjunta, que envolve múltiplos aspectos que não podem ser desmerecidos ou negligenciados. Informe-se em promoção da saúde, v.4, n.2. p.30-33, 2008. 32 ____________________ A importância da interface educação\saúde no ambiente escolar como prática de promoção da saúde. REFERÊNCIAS BRASIL, Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da saúde. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2006. FONTANA, R.T. A vigilância sanitária no contexto escolar: um relato de experiência. Rev Bras Enferm, Brasília; v. 61, n.1, p. 131-4, 2008; LIBERAL, E.F. et al. Acidentes e danos com escolares:incidência, causas e consequências Jornal de Pediatria .v. 81, n.5(supl), p.155 – 163, 2005; OLIVIERA, A.S; ANTONIO, P.S. Sentimentos do adolescente relacionados ao fenômeno Bullying: possibilidades para a assistência de enfermagem nesse contexto. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 08, n. 01, p. 30 – 41, 2006. Disponível em http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen. Acessado em: 29\01\2011. OLIVEIRA, M.A.F.C.; BUENO, S.M.V. Comunicação educativa do enfermeiro na promoção da saúde sexual escolar. Rev.latino-Am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 5, n. 3, p. 71-81, 1997. PEREIRA, A.L.F. As tendências pedagógicas e a prática educativa nas Ciências da Saúde Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.19, n.5, p.1527-1534, 2003. SOUZA, A.C.; LOPES, M.J.M. Implantação de uma ouvidoria em saúde escolar: relato de experiênciar. Rev. Gaúcha Enferm., Porto Alegre, v. 23, n. 2, p. 123-141, 2002. REFERÊNCIA DO TEXTO COSTA, F. S.; SILVA, J.L.L.; DINIZ. M.I.G. A importância da interface educação\saúde no ambiente escolar como prática de promoção da saúde. Informe-se em promoção da saúde, v.4, n.2. p.30-33, 2008. 1 Acadêmico de enfermagem do Centro Universitário Plínio Leite – Unipli \ Niterói – RJ. E-mail: [email protected]. 2 Professor do curso de Especialização em Enfermagem e Promoção da Saúde/ UFF. 3 Enfermeira. Mestre em Educação. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Materno-infantil e psiquiátrica da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa UFF. Informe-se em promoção da saúde, v.4, n.2. p.30-33, 2008. 33 ____________________ A importância da interface educação\saúde no ambiente escolar como prática de promoção da saúde.