4 Brasil Econômico Quarta-feira, 26 de março, 2014 BRASIL Ed Ferreira/AE ▲ O governo mantém a previsão de investimento de R$ 99,6 bilhões em ferrovias, além dos recursos previstos para rodovias, aeroportos, portos e no trem de alta velocidade EPL mantém orçamento das concessões, apesar do risco O rebaixamento da nota do Brasil e de suas estatais terá pouco efeito no planejamento dos projetos de logística Fernanda Nunes [email protected] Patricia Büll [email protected] O aumento do custo de financiamento dos projetos de infraestrutura leiloados pelo governo, por conta do rebaixamento da nota de classificação de risco pela agência Standard & Poor’s (S&P), já foi calculado pelo mercado em meses passados e não deve ocorrer novamente, segundo especialistas em estratégia de investimento. A mesma lógica segue a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), que informou não prever qualquer mudança em seu programa de concessões e que manterá as previsões de orçamento das obras. As condições favoráveis de crédito estão garantidas também pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que mantém o foco em projetos de infraestrutura, mesmo diante da redução do repasse de verba pelo Tesouro Nacional, como informou por meio de sua assessoria de imprensa. Não há, por parte do banco, qualquer previsão de restrições no desembolso de crédito às concessões. Em 2013, o BNDES liberou R$ 62,17 bilhões para infraestrutura. No ano anterior, foram R$ 52,9 bilhões. “Na verdade, os bancos já estavam trabalhando com uma nota de risco rebaixado. A S&P só veio confirmar isso. A nota funcionou apenas como um puxão de orelha da agência à equipe econômica brasileira”, avalia o estrategista do Banco Fator, Paulo Gala. Para Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating , os investidores internacionais estão mais atentos na capacidade da economia brasileira em reagir no longo prazo do que em mudanças pontuais, como na nota concedida por uma única agência. Entre as prioridades do investidor, ele cita a possibilidade de formar parcerias com o setor público ou ainda o acesso ao crédito do BNDES. Agostini minimiza até mesmo os alertas feitos pela S&P sobre os riscos no setor elétrico e uma possível dificuldade do setor produtivo em ter acesso à eletricidade necessária à instalação de uma fábri- “ Os bancos já estavam trabalhando com uma nota de risco rebaixado. A S&P só confirmou isso. A nota funcionou apenas como um puxão de orelha da agência à equipe econômica brasileira” Paulo Gala Estrategista do Banco Fator ca ou a ampliações, por exemplo. “O rating não trouxe nada novo sobre o setor elétrico, porque os investidores já acompanham o seu comportamento, independentemente da posição da S&P”, opina. O coordenador da Trevisan Escola de Negócios, Ricardo Cintra, acredita que o efeito negativo ocorreu de fato em julho do ano passado, quando a S&P revisou a perspectiva do rating soberano do Brasil de “estável” para “negativa”, indicando que poderia rebaixar a nota do país. “Naquele momento, os efeitos negativos aconteceram: os investidores estrangeiros ficaram mais resistentes em aportar dinheiro no Brasil e o custo do crédito para financiamento de obras de infraestrutura, por exemplo, também subiu”, analisa. Ainda assim, ele aposta que a captação no exterior poderá ficar um pouco mais cara após a confirmação do novo rating. “Embora esse custo já estivesse precificado, não acredito que os mercados ficarão totalmente insensíveis ao rebaixamento. A teoria econômica diz que, se tem aumento de risco, haverá um aumento na taxa de retorno. Mas se houver um aumento do custo do crédito externo, será mais uma acomodação para cima, já que a grande mudança já foi feita”, afirmou Cintra. Já o sócio do setor regulatório da Siqueira Castro Advogados, Márcio Reis, projeta que haverá uma acomodação do custo de financiamento dos projetos de infraestrutura. “Um dos itens que os bancos estrangeiros analisam na hora de conceder crédito e precificar o juro que vão cobrar é justamente a nota de risco para aquele país. E, nesse caso, a Standard & Poor’s é uma das mais conceituadas. Portanto, tomar crédito lá fora vai ficar mais caro”, diz. Reis acredita que esse encarecimento do crédito terá efeitos em toda a cadeia de infraestrutura, com repasses ao usuário final. “Como o crédito ficará mais caro, o custo da obra também terá um aumento e, consequentemente, a tarifa que será cobrada quando determinada obra for concluída também ficará um pouco maior do que a prevista inicialmente”, argumenta o advogado.