Profa. Msc. Eliana Melcher Martins Doutoranda em Ciências pelo Depto. de Psiquiatria e Psicologia Clínica da UNIFESP Mestre em Ciências pelo Depto. de Psicobiologia da UNIFESP Especialista em Medicina Comportamental pela UNIFESP Psicóloga Clínica Cognitivo-Comportamental Psicologia no início do século XX era dualista. Objeto de estudo: Consciência atingida pela introspecção que não era replicável ou pragmática. Psicologia animal oriunda de Darwin mostrava as vantagens de uma abordagem experimental. O positivismo mostrava as vitórias e conquistas das Ciências Naturais. A cultura norte-americana expressava um espírito conquistador, prático e transformador da cultura. Uma espécie de darwinismo social em que “Os homens nascem todos iguais e no embate com os desafios com o ambiente, os mais fortes e capazes vencem”. 2 trabalhos estimulantes: Ivan Pavlov (1927) na Russia Edward L. Thorndike (1895) na América Watson (1913) influenciado por esses trabalhos transpôs para o domínio da psicologia humana o mesmo rigor científico. Behaviorismo – seu objetivo é a predição e o controle do comportamento. Skinner na década de 50 – behaviorismo radical- estabeleceu relações diretas entre o ambiente e o comportamento. As atividades internas também são comportamentos submetidos às mesmas contingências que controlam as ações descobertas. A introspecção estava de volta sob uma novíssima e revolucionária posição filosófica (ver Skinner, 1953, 1974) CETCC TERAPIA COMPORTAMENTAL Foram nos anos 50 e 60 que motivados por uma crescente insatisfação com a corrente psicodinâmica formou-se o núcleo de um novo enfoque terapêutico: Terapia Comportamental psicologia experimental; condicionamento clássico ou respondente; condicionamento operante; princípios teóricos da aprendizagem; disciplinas da psicologia clínica. Pesquisadores clínicos começaram a aplicar as idéias de Pavlov, Skinner e outros behavioristas experimentais (Rachman, 1997). Joseph Wolpe (1958) e Hans Eysenck (1966) foram pioneiros na exploração do potencial das intervenções comportamentais, como a dessensibilização (contato gradual com objetos em situações temidas) e treinamento de relaxamento. Muitas das abordagens iniciais ao uso dos princípios comportamentais para a psicoterapia prestavam pouca atenção aos processos cognitivos envolvidos nos transtornos psiquiátricos. Pelo contrário, o foco era moldar o comportamento mensurável com reforçadores e em eliminar as respostas de medo através da exposição. Em meados dos anos 60 a importância das variáveis cognitivas já tinha se tornado mais reconhecida pela psicologia comportamental. O trabalho de Albert Bandura, psicólogo canadense (1970), sobre a aprendizagem observacional (modelação) foi importante por chamar a atenção para os fatores cognitivos na terapia comportamental. Nessa abordagem um indivíduo aprende ao observar o comportamento de outra pessoa; o comportamento é aprendido com mais eficácia se o observador o praticar posteriormente, embora isso não constitua uma condição necessária ALBERT BANDURA – (1925) Canadense, Psicólogo, professor emérito na Stanford University Bandura desenvolveu um modelo de autoregulação chamado de auto-eficácia, baseado na idéia de que toda a mudança de comportamento voluntária era medida pelas percepções que os indivíduos tinham de sua capacidade de adotar o comportamento em questão. Meichenbaum (1977) e Lewinsohn e cols (1985) incorporaram as teorias e estratégias cognitivas nos tratamentos. Observaram que a perspectiva cognitiva acrescentava contexto, profundidade e entendimento às intervenções comportamentais. FATORES HISTÓRICOS RELEVANTES Insatisfação com os modelos de depressão (raiva retroflexa e condicionamento operante) na convergência entre a psicanálise e o behaviorismo; validade questionável como modelos de depressão clínica. Wolpe (1958), percebia variáveis cognitivas em sua técnica comportamental da dessensibilização sistemática. Transição generalizada para a perspectiva cognitiva de processamento de informação, com clínicos defendendo uma abordagem mais cognitiva nos transtornos emocionais. FATORES HISTÓRICOS RELEVANTES Anos 60 e 70 afastamento da psicanálise e do behaviorismo radical de alguns adeptos, entre eles: Albert Ellis – primeira psicoterapia contemporânea com clara ênfase cognitiva, tomando construtos cognitivos como base dos transtornos psicológicos. Influenciou os primeiros trabalho de Beck com depressão. Albert Bandura – Princípios de Modificação do Comportamento (1969) e Teoria da Aprendizagem Social (1971); processos cognitivos cruciais na aquisição e regulação do comportamento. Michael Mahoney: Cognition and Behavior Modification (1974), cognição como construto mediacional. Modelo do Desamparo Aprendido de Seligman (1967/79) e revisões (Teoria dos Estilos de Atribuição); relevante para processos psicológicos na depressão. Beck defendeu a inclusão de métodos comportamentais desde o início de seu trabalho. Reconhecia essas ferramentas como eficazes para reduzir sintomas. Conceitualizou um relacionamento estreito entre cognição e comportamento. Alguns puristas argumentam os méritos de se utilizar uma abordagem cognitiva ou comportamental isolada. Terapeutas mais pragmáticos consideram os métodos cognitivos e comportamentais como parceiros eficientes tanto na teoria como na prática. Ex. literatura: tratamento do Pânico ORIGENS CETCC O termo cognição inclui idéias, construtos pessoais, imagens, crenças, expectativas, atribuições, etc. Não é apenas um processo intelectual mas sim padrões complexos de significado em que participam emoções, pensamentos e comportamentos DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO A Terapia Cognitiva tem origem em correntes filosóficas e religiões antigas (estoicismo grego, taoísmo e budismo) que postulavam a influência das idéias sobre as emoções . “Se pudermos reorientar nossos pensamentos e emoções e reorganizar nosso comportamento, então poderemos não só aprender a lidar com o sofrimento mais facilmente, mas, sobretudo e em primeiro lugar, evitar que muito dele surja” Livro: Uma ética para o novo milênio (p.xii) Dalai Lama Filósofo persa da Antiguidade Baseou seus ensinamentos em: Pensar bem Agir bem Falar bem Zoroastro Um dos pais da constituição americana Escreveu extensamente sobre o desenvolvimento de atitudes construtivistas que influenciavam positivamente o comportamento Benjamin Franklin “Os processos cognitivos conscientes tem um papel fundamental na existência humana” Kant, Heidegger, Jaspers e Frankl “Encontrar uma sensação de sentido da vida ajuda a servir como um antídoto para o desespero e a desilusão” Wright et al. (2003); Frankl (1992) “Não são as coisas que nos perturbam, mas a visão que temos dessas coisas” ( Epictetos I d.C) “As ideias não só podiam controlar os sentimentos mais intensos de uma pessoa, como também eram capazes de modificá-los” Beck e cols (1982) AARON TEMKIN BECK (1921) – Professor emérito do Depto. De Psiquiatria da Universidade da Pensilvania - EUA Experimentos de Beck Investigou o modelo psicanalítico da depressão: agressão retroflexa Explorou conteúdos dos sonhos: Resultados negativos para esse tipo de agressão Encontrou conteúdo geral de rejeição, desapontamento ou críticas que não sustentavam a necessidade de sofrer ou masoquismo Experimentos de Beck Perguntou: os conteúdos negativos estão somente nos sonhos ou em material ideacional durante a vigília? Estudos de manipulação de humor e desempenho: em ambiente experimental, ofereceu a depressivos graves e moderados uma experiência de sucesso. Hipótese: se agressão retroflexa, diante do sucesso, o humor de depressivos deveria cair. Resultado: diante do sucesso, observou-se uma elevação do humor! Resultado: refletiriam necessidade de sofrer ou simplesmente padrões cognitivos negativos gerais e inespecíficos? Experimentos de Beck Questionou a validade da livre associação! Investigando, notou: tais fluxos de pensamentos eram básicos para a conceituação do transtorno do paciente. Funcionavam como variável mediacional entre a ideação do paciente e sua resposta emocional e comportamental. Expressavam uma negatividade ou pessimismo geral do indivíduo contra si, o ambiente e o futuro TERAPIA COGNITIVA DA DEPRESSÃO AARON BECK TRÍADE COGNITIVA VISÃO DE SI MUNDO/OUTROS FUTURO É a forma como o indivíduo vê a si mesmo, o mundo e o seu futuro. Na depressão, pela visão essencialmente negativa, geram-se sentimentos de desvalia, autoacusação ou derrota. E o sentimento e o comportamento estão de acordo com a sua percepção distorcida. TERAPIA COGNITIVA DA DEPRESSÃO AARON BECK A negatividade não era sintoma mas desempenhava uma função central na instalação e manutenção da depressão A Cognição, e não a emoção, é considerada o fator essencial na depressão. Depressão é um transtorno de pensamento e não um transtorno emocional Propõe as noções de erros cognitivos e de esquemas Aaron Beck Teorias e métodos para aplicar as intervenções cognitivo-comportamentais Influenciado por Adler, Horney e Sullivan (transtornos psiquiátricos e estrutura de personalidade) Teoria dos construtos pessoais de Kelly (crenças centrais)- “Psicologia dos Construtos Pessoais” (1955) Teoria Racional Emotiva Comportamental de Ellis Piaget (1950): Epistemologia Genética/Construtivismo As primeiras formulações de Beck centravam-se no papel do processamento de informações desadaptativo em transtornos de depressão e de ansiedade. Desenvolveu o conceito de Vulnerabilidade Cognitiva 1960, ele descreveu uma conceitualização cognitiva da depressão A proposta de Beck de uma terapia cognitivamente orientada com o objetivo de reverter cognições disfuncionais e comportamentos relacionados foi tema de várias pesquisas. (Butler e Beck, 2000; Dobson, 1989; Wright et ai., 2003) As teorias e os métodos descritos por Beck e outros colaboradores ampliaram-se a uma grande variedade de quadros clínicos: Depressão Transtornos de ansiedade Transtornos alimentares Esquizofrenia Transtorno bipolar Dor crônica Transtornos de personalidade Abuso de substâncias. Mais de 300 estudos controlados da TCC para uma série de transtornos psiquiátricos (Butler e Beck, 2000). CONCEITOS BÁSICOS DA TCC O INDIVÍDUO INTERAGE COM O MUNDO EXTERNO E CONSTRÓI SIGNIFICADOS QUE ALICERÇAM SEUS SISTEMAS DE CRENÇAS INDIVÍDUO SIGNIFICADO CRENÇAS COMPORTAMENTO MEIO EMOÇÕES ESQUEMATIZAÇÃO DO MODELO DE BECK EVENTOS EXTERNOS ESQUEMAS (ESTRUTURA) CRENÇAS COGNIÇÃO SENTIMENTOS COMPORTAMENTO (PENSAMENTO AUTOMÁTICO) PRINCÍPIOS DA TERAPIA COGNITIVA BASEIA-SE EM UMA FORMULAÇÃO EM CONTÍNUO DESENVOLVIMENTO DO PACIENTE E DE SEUS PROBLEMAS EM TERMOS COGNITIVOS. REQUER UMA ALIANÇA TERAPÊUTICA SEGURA. ENFATIZA COLABORAÇÃO E PARTICIPAÇÃO ATIVA ORIENTADA EM METAS E FOCALIZADA EM PROBLEMAS ENFATIZA O PRESENTE INICIALMENTE É EDUCATIVA - ENSINA O PACIENTE A SER SEU PRÓPRIO TERAPEUTA ENFATIZA A PREVENÇÃO DE RECAÍDA. PRINCÍPIOS DA TERAPIA COGNITIVA VISA TER UM TEMPO LIMITADO AS SESSÕES SÃO ESTRUTURADAS ENSINA O PACIENTE A IDENTIFICAR, AVALIAR E RESPONDER A SEUS PENSAMENTOS E CRENÇAS DISFUNCIONAIS UTILIZA-SE DE UMA VARIEDADE DE TÉCNICAS PARA MUDAR PENSAMENTO, HUMOR E COMPORTAMENTO Filme: Engajando o paciente na TCC MITOS E PRECONCEITOS DA TCC 1. A TCC é baseada no “poder do pensamento positivo”. 2. A TCC propõe que os pensamentos negativos distorcidos causam a psicopatologia.(desequilíbrios bioquímicos, eventos da vida, relações interpessoais) 3. A TCC é simples e apenas utiliza o senso comum. 4. A TCC convence as pessoas a sair de seus problemas. CETCC 5. A TCC ignora as emoções 6. A meta da TCC é eliminar as emoções 7. A TCC é a aplicação de uma variedade de técnicas 8. A TCC ignora o passado e se interessa apenas pelo presente 9. A TCC é superficial 10. A relação terapêutica não é importante na TCC 11. A TCC tem um limite de 15 a 25 sessões 12. Fazer TCC significa não usar medicação 13. A TCC é apropriada apenas para pessoas articuladas com boa capacidade intelectual 14. A TCC não é eficaz em pacientes com transtornos mentais graves BIBLIOGRAFIA Aprendendo a Terapia Cognitivo-Comportamental – Um Guia Ilustrado Jesse H. Wright, Monica R. Basco e Michael E. Thase. ARTMED, 2008 Terapia Cognitiva – Teoria e Prática Judith Beck. ARTMED, 1997 Terapia Cognitivo-Comportamental na Prática Psiquiátrica. Paulo Knapp e colaboradores. ARTMED, 2004 Obrigada Pela Atenção CETCC