Eliana Melcher Martins Doutoranda em Ciências pelo Depto. de Psiquiatria e Psicologia Clínica da UNIFESP Mestre em Ciências pelo Depto. de Psicobiologia da UNIFESP Especialista em Medicina Comportamental pela UNIFESP Psicóloga Clínica Cognitivo-Comportamental TERAPIA COMPORTAMENTAL Foram nos anos 50 e 60 que motivados por uma crescente insatisfação com a corrente psicodinâmica formou-se o núcleo de um novo enfoque terapêutico: Terapia Comportamental psicologia experimental; condicionamento clássico ou respondente; condicionamento operante; princípios teóricos da aprendizagem; disciplinas da psicologia clínica. Pesquisadores clínicos começaram a aplicar as idéias de Pavlov, Skinner e outros behavioristas experimentais (Rachman, 1997). Joseph Wolpe (1958) e Hans Eysenck (1966) foram pioneiros na exploração do potencial das intervenções comportamentais, como a dessensibilização (contato gradual com objetos em situações temidas) e treinamento de relaxamento. Muitas das abordagens iniciais ao uso dos princípios comportamentais para a psicoterapia prestavam pouca atenção aos processos cognitivos envolvidos nos transtornos psiquiátricos. Pelo contrário, o foco era moldar o comportamento mensurável com reforçadores e em eliminar as respostas de medo através da exposição. Em meados dos anos 60 a importância das variáveis cognitivas já tinha se tornado mais reconhecida pela psicologia comportamental. O trabalho de Albert Bandura, psicólogo canadense (1970), sobre a aprendizagem observacional (modelação) foi importante por chamar a atenção para os fatores cognitivos na terapia comportamental. Nessa abordagem um indivíduo aprende ao observar o comportamento de outra pessoa; o comportamento é aprendido com mais eficácia se o observador o praticar posteriormente, embora isso não constitua uma condição necessária ALBERT BANDURA – (1925) Canadense, Psicólogo, professor emérito na Stanford University Bandura desenvolveu um modelo de autoregulação chamado de auto-eficácia, baseado na idéia de que toda a mudança de comportamento voluntária era medida pelas percepções que os indivíduos tinham de sua capacidade de adotar o comportamento em questão. Meichenbaum (1977) e Lewinsohn e cols (1985) incorporaram as teorias e estratégias cognitivas nos tratamentos. Observaram que a perspectiva cognitiva acrescentava contexto, profundidade e entendimento às intervenções comportamentais. Beck defendeu a inclusão de métodos comportamentais desde o início de seu trabalho. Reconhecia essas ferramentas como eficazes para reduzir sintomas. Conceitualizou um relacionamento estreito entre cognição e comportamento. Alguns puristas argumentam os méritos de se utilizar uma abordagem cognitiva ou comportamental isolada. Terapeutas mais pragmáticos consideram os métodos cognitivos e comportamentais como parceiros eficientes tanto na teoria como na prática. Ex. literatura: tratamento do Pânico O termo cognição inclui idéias, construtos pessoais, imagens, crenças, expectativas, atribuições, etc. Não é apenas um processo intelectual mas sim padrões complexos de significado em que participam emoções, pensamentos e comportamentos DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO A Terapia Cognitiva tem origem em correntes filosóficas e religiões antigas (estoicismo grego, taoísmo e budismo) que postulavam a influência das idéias sobre as emoções . “Se pudermos reorientar nossos pensamentos e emoções e reorganizar nosso comportamento, então poderemos não só aprender a lidar com o sofrimento mais facilmente, mas, sobretudo e em primeiro lugar, evitar que muito dele surja” Livro: Uma ética para o novo milênio (p.xii) Dalai Lama Filósofo persa da Antiguidade Baseou seus ensinamentos em: Pensar bem Agir bem Falar bem Zoroastro Um dos pais da constituição americana Escreveu extensamente sobre o desenvolvimento de atitudes construtivistas que influenciavam positivamente o comportamento Benjamin Franklin “Os processos cognitivos conscientes tem um papel fundamental na existência humana” Kante, Heidegger, Jaspers e Frankl “Encontrar uma sensação de sentido da vida ajuda a servir como um antídoto para o desespero e a desilusão” Wright et al. (2003); Frankl (1992) “Não são as coisas que nos perturbam, mas a visão que temos dessas coisas” ( Epictetos I d.C) “As idéias não só podiam controlar os sentimentos mais intensos de uma pessoa, como também eram capazes de modificá-los” Beck e cols (1982) AARON TEMKIN BECK (1921) – Professor emérito do Depto. De Psiquiatria da Universidade da Pensilvania - EUA Investigou o modelo psicanalítico da depressão: agressão retroflexa. Explorou conteúdos dos sonhos: Resultados negativos para esse tipo de agressão Encontrou conteúdo geral de rejeição, desapontamento ou críticas não sustentavam a necessidade de sofrer ou masoquismo Perguntou: os conteúdos negativos estão somente nos sonhos ou em material ideacional durante a vigília? Estudos de manipulação de humor e desempenho: em ambiente experimental, ofereceu a depressivos graves e moderados uma experiência de sucesso. Hipótese: se agressão retroflexa, diante do sucesso, o humor de depressivos deveria cair. Resultado: diante do sucesso, observou-se uma elevação do humor! Resultado: refletiriam necessidade de sofrer ou simplesmente padrões cognitivos negativos gerais e inespecíficos? Beck observou que, durante a livre associação, pacientes estavam relatando um fluxo de pensamentos automáticos, pré-conscientes, rápidos, específicos, em um autodiálogo ininterrupto Questionou a validade da livre associação! Investigando, notou: tais fluxos de pensamentos eram básicos para a conceituação do transtorno do paciente. Funcionavam como variável mediacional entre a ideação do paciente e sua resposta emocional e comportamental. Expressavam uma negatividade ou pessimismo geral do indivíduo contra si, o ambiente e o futuro TERAPIA COGNITIVA DA DEPRESSÃO AARON BECK TRÍADE COGNITIVA VISÃO DE SI EXPERIÊNCIAS FUTURO É a forma como o indivíduo vê a si mesmo, o mundo e o seu futuro. Na depressão, pela visão essencialmente negativa, geram-se sentimentos de desvalia, autoacusação ou derrota. E o sentimento e o comportamento estão de acordo com a sua percepção distorcida. A negatividade não era sintoma mas desempenhava uma função central na instalação e manutenção da depressão A Cognição, e não a emoção, é considerada o fator essencial na depressão. Depressão é um transtorno de pensamento e não um transtorno emocional Propõe as noções de erros cognitivos e de esquemas Teorias e métodos para aplicar as intervenções cognitivo-comportamentais Influenciado por Adler, Horney e Sullivan (transtornos psiquiátricos e estrutura de personalidade) Teoria dos construtos pessoais de Kelly (crenças centrais) Teoria Racional Emotiva Comportamental de Ellis As primeiras formulações de Beck centravam-se no papel do processamento de informações desadaptativo em transtornos de depressão e de ansiedade. Desenvolveu o conceito de Vulnerabilidade Cognitiva 1960, ele descreveu uma conceitualização cognitiva da depressão A proposta de Beck de uma terapia cognitivamente orientada com o objetivo de reverter cognições disfuncionais e comportamentos relacionados foi tema de várias pesquisas. (Butler e Beck, 2000; Dobson, 1989; Wright et ai., 2003) As teorias e os métodos descritos por Beck e outros colaboradores ampliaram-se a uma grande variedade de quadros clínicos: Depressão Transtornos de ansiedade Transtornos alimentares Esquizofrenia Transtorno bipolar Dor crônica Transtornos de personalidade Abuso de substâncias. Mais de 300 estudos controlados da TCC para uma série de transtornos psiquiátricos (Butler e Beck, 2000). CONCEITOS BÁSICOS DA TERAPIA COMPORTAMENTAL COGNITIVA O INDIVÍDUO INTERAGE COM O MUNDO EXTERNO E CONSTRÓI SIGNIFICADOS QUE ALICERÇAM SEUS SISTEMAS DE CRENÇAS INDIVÍDUO SIGNIFICADO CRENÇAS COMPORTAMENTO MEIO EMOÇÕES ESQUEMATIZAÇÃO DO MODELO DE BECK EVENTOS EXTERNOS ESQUEMAS (ESTRUTURA) CRENÇAS COGNIÇÃO SENTIMENTOS COMPORTAMENTO (PENSAMENTO AUTOMÁTICO) PRINCÍPIOS DA TERAPIA COGNITIVA BASEIA-SE EM UMA FORMULAÇÃO EM CONTÍNUO DESENVOLVIMENTO DO PACIENTE E DE SEUS PROBLEMAS EM TERMOS COGNITIVOS. REQUER UMA ALIANÇA TERAPÊUTICA SEGURA. ENFATIZA COLABORAÇÃO E PARTICIPAÇÃO ATIVA ORIENTADA EM METAS E FOCALIZADA EM PROBLEMAS ENFATIZA O PRESENTE INICIALMENTE É EDUCATIVA - ENSINA O PACIENTE A SER SEU PRÓPRIO TERAPEUTA ENFATIZA A PREVENÇÃO DE RECAÍDA. PRINCÍPIOS DA TERAPIA COGNITIVA VISA TER UM TEMPO LIMITADO AS SESSÕES SÃO ESTRUTURADAS ENSINA O PACIENTE A IDENTIFICAR, AVALIAR E RESPONDER A SEUS PENSAMENTOS E CRENÇAS DISFUNCIONAIS UTILIZA-SE DE UMA VARIEDADE DE TÉCNICAS PARA MUDAR PENSAMENTO, HUMOR E COMPORTAMENTO Filme: Engajando o paciente na TCC Exemplos: a leitura de um livro; a apreciação de um filme; a avaliação de uma aula. Cada indivíduo tem uma resposta emocional diferente para cada uma dessas situações com base no que está passando por suas cabeças naquele momento. Portanto o modo como as pessoas se sentem está associado ao modo como elas interpretam e pensam sobre uma situação. ENTENDENDO OS PROBLEMAS PENSAMENTO ESTADOS DE HUMOR REAÇÕES FÍSICAS COMPORTAMENTO AMBIENTE São um fluxo de pensamentos que coexistem com um fluxo de pensamentos mais manifestos, surgem espontaneamente e não são embasados em reflexão ou deliberação. Parecem surgir espontaneamente, mas estão ligados ao nosso sistema de crenças centrais e subjacentes. São quase sempre negativos, a menos que o paciente seja maníaco ou hipomaníaco, tenha um transtorno de personalidade narcisístico ou seja um viciado em drogas. São usualmente breves e o paciente com frequência está mais ciente da emoção que sente em decorrência do pensamento do que do pensamento em si. Ajudam a definir os estados de humor que experimentamos Influenciam o comportamento: o que escolhemos ou não fazer e a qualidade do nosso desempenho. Pensamentos e Crenças afetam respostas biológicas. São influenciados pelas crenças que adquire-se na infância e no meio cultural. Enquanto as mudanças no pensamento são, na maioria das vezes, fundamentais, muitos problemas também exigem mudanças no comportamento, no funcionamento físico e no meio. A TCC ajuda a examinar todas as informações disponíveis; não é simplesmente pensamento positivo É IMPORTANTE IDENTIFICAR OS ESTADOS DE HUMOR EMOÇÕES As emoções são de importância primária para o terapeuta cognitivo. Afinal uma meta importante da terapia é o alívio de sintomas, uma redução no nível de aflição do paciente quando ele modifica o pensamento disfuncional. A emoção negativa intensa é dolorosa e pode ser disfuncional quando interfere com a capacidade do paciente de pensar claramente, resolver problemas, agir efetivamente ou obter satisfação. Os pacientes com um transtorno psicológico, freqüentemente experimentam uma intensidade de emoção que é excessiva ou inapropriada à situação. Podem sentir-se cansados e não reconhecerem que estão deprimidos, ou sentirem-se nervosos e não reconhecerem a ansiedade. Junto com a depressão e a ansiedade, a raiva, a vergonha e a culpa são estados de humor problemáticos comuns a muitas pessoas. EMOÇÕES Uma forma de observação das emoções são as mudanças na tensão do corpo. Ombros caídos podem indicar medo ou tensão; corpo pesado pode indicar depressão ou frustração. Conseguir notar 3 estados de humor durante o mesmo dia.Ou usar lista com estados de humor. Muitos pacientes não entendem claramente a diferença entre o que eles estão pensando e o que estão sentindo emocionalmente. O terapeuta tenta obter o sentido da experiência do paciente e partilha seu entendimento com o paciente, tentando explicar-lhe a diferença entre um material racional (verbal ou pictórico) e um material emocional (aflitivo ou não). Ao fazer essa distinção o paciente pode perceber exatamente qual pensamento o deixa triste, ansioso, com raiva ou constrangido UM CASO Paulo, no início da terapia, relatou que não sentia vontade de estar com sua família e amigos tanto quanto costumava sentir. Contou que preferiria ficar sozinho. Quando começou a analisar de perto as situações nas quais queria se isolar descobriu que com frequência, estava pensando “Eles não querem estar comigo” e “Se for lá,não vou me divertir”, ele reconheceu que seu humor era triste. Durante a terapia aprendeu a relação entre pensamentos e estados de humor e a diferenciá-los Era importante para Paulo diferenciar entre fatores situacionais (ambiente), pensamentos e estados de humor.(Com quem?O que?Quando?Onde?) Os estados de humor são expressos por uma única palavra. Os pensamentos são as frases ou imagens visuais, incluindo as lembranças que passam pela cabeça. QUANTIFICANDO AS EMOÇÕES É importante para o paciente identificar suas emoções e quantificar o grau de emoção que está experimentando. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Alguns pacientes tem a crença que se sentirem uma pequena quantidade de aflição, isso aumentará e se tornará intolerável. Aprender a classificar a intensidade das emoções auxiliará o paciente a testar essa crença MITOS E PRECONCEITOS DA TCC 1. A TCC é baseada no “poder do pensamento positivo”. 2. A TCC propõe que os pensamentos negativos distorcidos causam a psicopatologia. 3. A TCC é simples e apenas utiliza o senso comum. 4. A TCC convence as pessoas a sair de seus problemas. 5. A TCC ignora as emoções 6. A meta da TCC é eliminar as emoções 7. A TCC é a aplicação de uma variedade de técnicas 8. A TCC ignora o passado e se interessa apenas pelo presente 9. A TCC é superficial 10. A relação terapêutica não é importante na TCC 11. A TCC tem um limite de 15 a 25 sessões 12. Fazer TCC significa não usar medicação 13. A TCC é apropriada apenas para pessoas articuladas com boa capacidade intelectual 14. A TCC não é eficaz em pacientes com transtornos mentais graves Obrigada Pela Atenção BIBLIOGRAFIA Aprendendo a Terapia Cognitivo-Comportamental – Um Guia Ilustrado Jesse H. Wright, Monica R. Basco e Michael E. Thase. ARTMED, 2008 Terapia Cognitiva – Teoria e Prática Judith Beck. ARTMED, 1997 Terapia Cognitivo-Comportamental na Prática Psiquiátrica. Paulo Knapp e colaboradores. ARTMED, 2004