Artigo Original Fraturas de zigomático: revisão de 50 casos Fractures of the zygomatic: Report of 50 cases RESUMO Laurindo Moacir Sassi1, José Luis Dissenha2 Cícero Bezeruska2 Maria Isabela Guebur4 Virginia Hepp5 Ricardo Luiz Radaelli6 Orlando Oliva Junior6 Onivaldo Cervantes7 ABSTRACT Introdução: O complexo zigomático maxilar é a segunda área da face mais atingida por injúrias, superada apenas pelos ossos nasais. Objetivo: Demonstrar a prevalência de redução cruenta das fraturas de zigomático. Métodos: Foram avaliados os registros médico-hospitalares dos pacientes atendidos no Hospital e Maternidade e São José dos Pinhais/PR (HMSJP), com diagnóstico de fraturas de zigomático, considerando idade e etiologia, durante um período de cinco anos de janeiro de 1998 a fevereiro de 2003. Resultados: Durante o período da pesquisa, 214041 pacientes foram atendidos no HMSJP, sendo 50 pacientes com fratura do complexo zigomático-orbitário, ou seja, uma prevalência de 0,023%. Destes, 40 eram do gênero masculino (80%) e 10 feminino (20%), entre 10 a 61 anos. As etiologias das fraturas de malar foram classificadas em acidentes de tráfego em 17 pacientes (34%), seguidos de 13 por causas desconhecidas (26%), oito por agressão (16%), sete por queda de nível (14%) e cinco fraturas de malar por esporte (10%). Todos os pacientes foram tratados por meio de redução aberta, sendo que somente um caso foi fixado por ou placa e parafuso, enquanto nos demais casos a fixação foi feita através de amarrias. Conclusão: Tratamento cruento foi o empregado em todos os casos conseguindo uma consolidação óssea satisfatória, reestabelecendo a função e a estética dos pacientes e não resultando em nenhuma complicação pósoperatória. Introduction: The zygomatic-maxillary complex is one of the areas most susceptible to injury, secondary only to the nasal bones. Objective: To demonstrate the effectiveness of open reduction in the treatment of zygomatic fractures. Methods: We analysed the medical charts of all patients admitted in Hospital e Maternidade e São José dos Pinhais (HMSJP) diagnosed with zygomatic fractures during a period of five years – from January, 1998 to February, 2003. Results: Out of the 214,041 patients admitted to the hospital during this period, 50 presented fractures of the zygomatic complex – i.e. 0.023% of all the patients. Among these patients, 40 were men (80%) and 10 were women (20%), aged between 10 and 61. As for the etiology of the fractures, there were 17 cases of car accidents (34%), 8 of physical aggression (16%), 7 of falling (14%) and 5 of sport accidents (10%). In 13 cases (26%) the causes were unknown. All patients underwent open reduction, one with screws and plates and all the others with straps. Conclusion: The use of open reduction was proved to lead both to good bone healing and good aesthetic reconstruction, not leading to any postoperative complications. Key words: Zygomatic Fractures. Fracture Fixation, Internal. Postoperative Complications. Retrospective Studies. Descritores: Fraturas Zigomáticas. Fixação Interna de Fraturas. Complicações Pós-Operatórias. Estudos Retrospectivos. INTRODUÇÃO O complexo zigomático maxilar é a segunda área da face mais atingida por injúrias, superada apenas pelos ossos nasais1,2. A posição e os contornos do osso zigomático tornam-no altamente suscetível a lesões. Ele é elemento essencial na configuração da face, sendo a principal estrutura formadora do terço médio da mesma. Está situado entre o víscero-crânio e o neuro-crânio, desempenhando papel fundamental na absorção e no escoamento das forças de mastigação, através dos pilares de reforço e sustentação2,3. A incidência, etnia, idade, etiologia e o gênero são influenciados pela área geográfica, pelo estado socioeconômico e cultural da população estudada2,4. O arco zigomático, componente da região ântero-lateral da face, apresenta um contorno de curvatura convexa. Quando sofre fratura, perde sua convexidade, condição clinicamente visível, palpável e esteticamente comprometedora. A fratura isolada do arco zigomático está contemplada na classificação geral das fraturas do complexo zigomático: I – sem desloca- 1) Cirurgião Dentista. Doutor pelo Curso de Pós-graduação em Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Universidade Federal de São Paulo. Docente do Curso de Pós-Graduação em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Universidade Federal do Paraná. Chefe do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Hospital Erasto Gaertner da Liga Paranaense de Combate ao Câncer, Curitiba/PR e do Hospital e Maternidade de São José dos Pinhais/PR, Brasil. 2) Cirurgião e Traumatologista Buco-Maxilo-Facial do Hospital Erasto Gaertner da Liga Paranaense de Combate ao Câncer, Curitiba/PR e do Hospital e Maternidade de São José dos Pinhais/PR, Brasil. 3) Cirurgião Dentista, Residente da Universidade Federal do Paraná e do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Hospital e Maternidade de São José dos Pinhais/PR, Brasil. 4) Mestre em Ciências da Saúde do Hospital Heliópolis HOSPHEL, São Paulo/SP. Professora Adjunta das Disciplinas de Anatomia Humana e Pesquisa em Alimentação e Nutrição das Faculdades Integradas “Espírita”/FACIBEM, Curitiba/PR, Brasil. 5) Cirurgião Dentista. Mestre pela Pontifícia Universidade Católica PUC-PR. Estagiário do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Hospital e Maternidade de São José dos Pinhais/PR, Brasil. 6) Cirurgião e Traumatologista Buco-Maxilo-Facial do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Hospital e Maternidade de São José dos Pinhais/PR, Brasil. 7) Professor Livre Docente pelo Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP – Escola Paulista de Medicina, São Paulo/SP, Brasil. Instituição: Hospital e Maternida de São José dos Pinhais/PR, Brasil. Correspondência: Dr. Laurindo Moacir Sassi, Av. Sete de Setembro, 4698 - Sala 1805 – 80240-000 Curitiba/PR, Brasil. E-mail: [email protected] Recebido em: 20/07/2009; aceito para publicação em: 15/10/2009; publicado online em: 15/11/2009. Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma. 246 Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 38, nº 4, p. 246 - 247, outubro/ novembro / dezembro 2009 mento, que não requer tratamento; II – fraturas do arco zigomático, onde a deformidade causada pelo traumatismo direto no arco resulta em uma deformidade angular típica, com três linhas de fratura e dois segmentos; III – fraturas do corpo do osso zigomático sem rotação; IV - fraturas do corpo do osso zigomático com rotação medial; V – fraturas do corpo do osso zigomático com rotação lateral; e VI – fraturas complexas3,5. Os principais sinais de fratura são: achatamento da face com afundamento do globo, deslocamento do ligamento palpebral lateral, retração da pálpebra inferior com achatamento da proeminência malar e equimose das pálpebras, conjuntiva e esclerótica com epistaxe unilateral2,3. A maioria dos pacientes desencadeia trismo porque os segmentos deslocados interferem com os movimentos para frente e para baixo da apófise coronóide da mandíbula, sendo que a dor severa não é uma característica de trauma do arco zigomático, a menos que o segmento fraturado seja móvel. O diagnóstico deve basearse no histórico médico, odontológico, na etiologia da fratura, no exame clínico (extra e intrabucal) e radiográfico. Através da palpação bimanual pode-se comparar as estruturas ósseas da face e localizar a fratura. As radiografias em incidência occipto-mento (ou pósteroanterior de Waters) e submento-vértex (ou de Hirtz) são as mais indicadas para diagnóstico de fraturas do osso e do arco zigomático, dependendo da localização dos pontos de fratura e do grau de deslocamento3. A tomografia computadorizada é bastante utilizada, mas nem todos os serviços a disponibilizam. O tratamento varia de acordo com o tipo de fratura, o grau de fragmentação, a direção e o grau de deslocamento, observadas no exame clínico e radiográfico. Existem dois tipos de tratamento que podem ser indicados no caso de fratura de zigomático: o aberto e o fechado6. O tratamento aberto é indicado em todas as fraturas com deslocamento e rotação medial, mesmo após a redução3. O acesso para a redução de fraturas do arco zigomático pode ser intrabucal, com melhores resultados estéticos, ou por incisão na pele da região zigomática (acesso cutâneo), com menos risco de infecção5. Quando se opta pela osteossíntese, preconizam-se os acessos préauricular ou por extensão da via infrapalpebral2. O tratamento fechado é utilizado em casos menos severos e pode ser obtido através das inserções normais das fascias e músculos nos ossos, ou pela compressão dos fragmentos contra os ossos adjacentes3. meio de redução aberta, sendo que em somente um caso foi fixado por ou placa e parafuso e nos demais casos a fixação foi feita através de amarrias. No presente estudo não ocorreu nenhuma complicação pós-operatória. DISCUSSÃO Fraturas do complexo zigomático-maxilar são relativamente comuns, principalmente devido ao impacto gerado diretamente sob a proeminência do osso zigomático7. O diagnóstico deverá ser clínico e imageológico8. Clinicamente são relatados sinais como equimose subconjuntival, hematomas e equimoses periorbitárias, enoftalmo, proptose, oftalmoplegia, distopia, alterações de reação pupilar e hematomas retrobulbares8. Os dados relacionados ao gênero demonstram predominância masculina sobre a feminina de 4:1, o que coincide com a literatura3,6,9. A faixa etária de 20 a 29 anos foi a mais acometida. A predominância do sexo masculino e a faixa etária, deve-se ao fato de estar ligada com o uso de bebidas alcoólicas e práticas de esportes3,4,6,9. Os acidentes de tráfego são a principal causa das fraturas de zigomático segundo a literatura, o que coincidiu com os resultados encontrados1. A classificação de fratura de zigomático usada foi a proposta por Knight e North acreditando que ela ajuda a diferenciar pacientes que necessitam de uma redução aberta ou fechada. No presente estudo, todos os pacientes foram tratados com redução aberta utilizando amarria ou placas e parafusos, isso porque apresentavam fratura do osso do corpo do zigomático com ou sem rotação ou apresentavam fraturas complexas. Isto concorda com a indicação de redução aberta para fraturas cominutivas, deslocamento da sutura frontozigomática, fraturas com mais de 10 dias sem tratamento e pacientes que apresentavam sinais de diplopia, enoftalmia6,8. Nenhum paciente apresentou qualquer complicação pósoperatória, no entanto, foram relatadas seqüelas pósoperatórias como parestesia do nervo infra-orbital, edema e retração da pálpebra1. CONCLUSÃO O tratamento cruento foi o empregado em todos os casos conseguindo uma consolidação óssea satisfatória, reestabelecendo a função e a estética dos pacientes e não ocorreu nenhuma complicação pós-operatória. MÉTODOS REFERÊNCIAS Foram avaliados os registros médico-hospitalares dos pacientes atendidos no Hospital e Maternidade e São José dos Pinhais/PR (HMSJP), com diagnóstico de fraturas de zigomático, durante um período de cinco anos (janeiro de 1998 a fevereiro de 2003). Todos os prontuários avaliados estavam devidamente registrados no HMSJP, sendo que todos os dados encontrados foram armazenados e catalogados, objetivandose extrair o máximo de informações. RESULTADOS Durante o período da pesquisa, 214.041 pacientes foram atendidos no HMSJP, sendo 50 pacientes com fratura do complexo zigomático-orbitário, ou seja, uma prevalência de 0,023%. Destes 50 pacientes avaliados, 40 eram do gênero masculino (80%) e 10 do feminino (20%). A faixa etária variou de 10 a 61 anos. As etiologias das fraturas de malar foram classificadas em acidentes de tráfego, queda de nível, agressão, esporte e causas desconhecidas. Os acidentes de tráfego apresentaram um total de 17 pacientes (34%), seguidos de 13 por causas desconhecidas (26%), oito por agressão (16%) e sete por queda de nível (14%). Além destes, ocorreram cinco fraturas de malar por esporte (10%). Todos os pacientes foram tratados por 1. Tadj A, Kimble FW. Fractured zygomas. ANZ J Surg. 2003;73(1-2):4954. 2. Torres CS, Almeida DVF, Neto NR, Oliveira MAM, Sobrinho JBM. Cerclagem de contenção em fratura do arco zigomático: relato de caso. Rev Cir Traum Buco-Maxilo-Fac. 2008;8(2):29-34. 3. Dingman RO. 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Ocular findings in patients with orbitozygomatic complex fractures: a retrospective study. J Oral Maxillofac Surg. 2008;66(5):888-92. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 38, nº 4, p. 246 - 247, outubro/ novembro / dezembro 2009 247