Uma avaliação psicológica pode ser científica? Existe uma pergunta que sempre me perseguiu durante minha atividade de consultor: “Por que o valor preditivo da avaliação de um executivo – onde o psicólogo avaliador sempre toma mais tempo, precauções e cuidados – fornece resultados muito abaixo da qualidade da avaliação de um colaborador menos qualificado para funções mais simples?” (Schmidt&Hunter, 1998, o desvio padrão para funções pouco qualificadas: 19% e para executivos 48%!) É claro que em uma organização mais uma função é sofisticada, mais a complexidade da seleção é grande; por isto se tomam mais cuidados, tempo e precauções. Considerando os resultados da pesquisa de Schmidt&Hunter** que porta sobre mais de 40000 (quarenta mil) casos, aparentemente estes cuidados não são suficientes, pois o resultado final se revela 2,5 vezes pior (o desvio padrão podendo ser considerado como a margem de erro na avaliação ou o intervalo de confiança dos resultados). Quanto custa a uma organização, por ano, o fato de ter um desvio padrão de 48%? Será que trabalhando mais tempo os resultados da avaliação seriam melhores? Será que tomando outras precauções a previsibilidade do desempenho seria mais efetiva? Como seria possível diminuir este desvio padrão? Os fatos mostram que, se continuar a utilizar ferramentas inapropriadas e isto é, qualquer seja o processo de avaliação utilizado, o resultado nunca será satisfatório. O que isto significa? Não é fácil responder em poucas palavras, pois a resposta necessita entrar rapidamente em considerações bastantes técnicas. Só podemos afirmar que independentemente da técnica, nosso trabalho nos ajuda a verificar todos os dias que os instrumentos de método funcional são a resposta a esta problemática. Considerando o consenso existente sobre as competências (CHA-O) necessárias para ter um bom desempenho profissional, o conhecimento é o fator crítico para funções mais subalternas enquanto as habilidades e as atitudes impactam mais o resultado em função de liderança enquanto os outros – como a adaptação à cultura, por exemplo – influenciam o desempenho em todos os níveis. Também é consenso considerar que a capacidade de adquirir e utilizar um conhecimento é bastante atrelada a um nível de inteligência, enquanto a personalidade influencia mais diretamente as habilidades e principalmente as atitudes. Isto significa que os testes de personalidade deveriam constituir um melhor indicador do futuro desempenho. Os fatos contradizem esta afirmação. (Schmidt&Hunter, 1998). Por quê ? Enumeramos a seguir as principais razões que rendem os testes “clássicos” de personalidade (construídos de forma clássica) pouco confiáveis para avaliar uma performance futura: Os testes projetivos foram criados para diagnosticar – eventualmente aconselhar – mas nunca para selecionar. Mesmo fenômeno para os questionários de tipologia. Desviar um instrumento de sua finalidade e utilizá-lo em outro contexto é antiético, errado, e prejudica empresas e colaboradores. Como repetimos frequentemente todos percebem que um bisturi não serve para cortar bife e a faca de açougueiro para operar um paciente... mas com os testes os psicólogos acreditam que seja possível !!! Os inventários de personalidade são sempre “manipulados” pelos respondentes quando eles se encontram frente a um desafio profissional. Negar este fato, ou ignorá-lo, é demonstrar uma ingenuidade culposa. Não conhecer com precisão o índice de confiabilidade dos resultados analisados significa se condenar a fazer um trabalho pouco construtivo, às vezes completamente inútil. Adicionar os itens que compõem uma escala como se faria com valores absolutos enquanto que na realidade se trata de valores relativos, nominais, no melhor dos casos ordinais, cria vieses impossíveis de serem “ajustados” depois. Padronizar regularmente os escores a partir de uma amostra cujas características nunca são suficientemente conhecidas cria erros de interpretação muito graves até para profissionais altamente qualificados. O LABEL, construído com o Método Funcional, foi criado para avaliar os traços “normais” de personalidade que fazem a diferença no ambiente profissional. Possui sete índices de controle que permitem entender de qual forma o respondente influenciou os resultados, se entendeu o teste e até qual ponto os resultados são confiáveis. No Método Funcional não se adicionam as respostas dos indivíduos às escalas, mas se calcula a estratégia de resposta do respondente por função linear comparando as respostas preditas às respostas reais. No Método Funcional é possível calcular escores absolutos, comparáveis entre si, e escores padronizados. O psicólogo entra de repente em outra dimensão, até agora desconhecida, que permite aconselhar, diagnosticar e selecionar. Tudo isto parece bem complicado, mas quais são as vantagens para a empresa? Com uma amostra de 280 executivos, podemos verificar que dois anos após a contratação ou a promoção, o desvio padrão se situa a 15%. Diminuir o desvio padrão de mais de 30% significa aumentar a eficiência que aumenta o EBITDA em milhões de reais para uma empresa que conta no seu efetivo mais de 10 executivos. Com isto RH participa efetivamente ao desenvolvimento da empresa, se torna um parceiro estratégico podendo assim assumir seu verdadeiro papel de liderança na transformação constante das organizações. Querendo conhecer mais sobre o assunto, o leitor pode consultar vários textos neste site, rubrica Publicações, ou poderá entrar em contato com Renzo: [email protected] Renzo Oswald São Paulo, 25 de março de 2007 (atualizado 01.2010) **Schmidt & Hunter (1998). The validity and utility of selection method in personnel psychology: practical e theoretical implications of 85 years of research findings. Psychological Bulletin, 124, pág.262-274.