XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 A POLÍTICA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA E OS IMPACTOS NAS PRÁTICAS EDUCACIONAIS Solange Santana dos Santos Fagliari* Resumo: O presente trabalho versa sobre uma pesquisa que está sendo realizada no município de São Bernardo do Campo, que, a partir de 2009, vem buscando um alinhamento à Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva, publicada em 2008. Apresentar-se-ão dados de dois serviços substitutivos especializados – as classes integradas e uma escola especial – que, a partir das reorganizações do sistema, viabilizam a matrícula dos alunos atendidos pelos referidos serviços nas classes comuns das escolas regulares. Tal redirecionamento desencadeou transformações nas práticas dos professores das classes comuns, das professoras da educação especial, das equipes gestoras (coordenadoras pedagógicas, professores assistentes de direção e diretor escolar); redimensionando ainda as ações de acompanhamento das equipes de orientação técnica e de orientação pedagógica. Palavras-chave: Política educacional. Inclusão escolar. Práticas de ensino. INTRODUÇÃO A perspectiva da construção de uma educação inclusiva em nossa realidade brasileira acentuou-se a partir dos anos 90, em um contexto desencadeado por reformas significativas que envolveram a educação básica e mais especificamente o ensino fundamental, com vistas a responder ao desafio de promover uma educação para todos. Com a democratização do acesso, as proposições que enfatizam a construção de uma educação inclusiva requerem mudanças nos sistemas de ensino, nas escolas e nas políticas de formação inicial e continuada. * Mestranda da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e orientadora pedagógica da rede municipal de São Bernardo do Campo. E-mail: [email protected]. Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.000526 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 2 A década de 90 apresentou um amplo conjunto de reformas inspiradas e encaminhadas por organismos internacionais e caracterizada pelo discurso da educação para todos. As políticas educacionais passaram a se referenciar pelo conceito de inclusão e, com relação à educação especial, acentuaram-se as críticas aos modelos de atendimentos segregados ou pautados em uma perspectiva integracionista. No final da década de 80, em um contexto de redemocratização, a pressão pelo acesso à educação possibilitou a inscrição de uma série de avanços no texto constitucional. Damos destaque ao fato de o ensino fundamental receber o status de direito público subjetivo (DUARTE, 2004; OLIVEIRA; ADRIÃO, 2007); e, no campo da educação especial, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência. Se, desde o final da década de 80, o locus prioritário de atendimento do público-alvo da educação especial tem sido preferencialmente a classe comum, identifica-se, a partir de 2008, uma série de diretrizes e documentos legais que anunciam e induzem para que a classe comum seja o seu espaço de matrícula. Em 2008, o Ministério da Educação (MEC) publicou a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva (PNEE/08). Neste documento, a educação especial articula-se com o ensino regular integrando a proposta pedagógica da escola com vistas a promover o atendimento das necessidades educacionais especiais dos alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento (TGD) e altas habilidades / superdotação. A educação inclusiva é definida como: [...] um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à idéia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola. (BRASIL, 2008, s/p). Materializar os conteúdos preconizados por esta política constitui-se um desafio aos municípios brasileiros e aos sistemas de ensino, visto que a exclusão tem sido uma personagem presente em nossa história e, se outrora se manifestava nos altos índices de evasão e repetência dos alunos oriundos das camadas populares, [...] hoje assume a feição de negação do acesso ao conhecimento àqueles que, por força das políticas públicas de correção de fluxo escolar, permanecem Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.000527 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 3 durante os nove anos de escolaridade obrigatória na escola sem que isso represente sua real inclusão nas estratégias de ensino. (ADRIÃO; BORGHI, 2008, p. 81). Nessa perspectiva, a PNEE/08 representa um marco na medida em que se contrapõe à oferta de atendimentos educacionais especializados substitutivos e anuncia como objetivo: [...] o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades /superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais especiais [...](BRASIL, 2008, s/p). Consta ainda no documento que a inclusão escolar tem início na educação infantil, uma vez que nesta etapa constroem-se as bases tanto para os conhecimentos quanto para a formação e desenvolvimento global dos sujeitos. Sendo assim, o atendimento educacional especializado de 0 a 3 anos “se expressa por meio de serviços de estimulação precoce, que objetivam otimizar o processo de desenvolvimento e aprendizagem em interface com os serviços de saúde e assistência social.” (BRASIL, 2008, s/p). Indica-se como diretriz, aos sistemas de ensino, a oferta do atendimento educacional especializado (AEE) em todas as etapas e modalidades da educação básica, sendo que: a) é uma oferta obrigatória dos sistemas de ensino; b) deve ser realizado no turno inverso da classe comum; c) pode ser viabilizado na própria escola ou em centros de apoio. (BRASIL, 2008, s/p). Tendo em vista este cenário, identificamos nas políticas educacionais avanços concernentes ao direito à educação do público-alvo da educação especial, entretanto, não podemos deixar de tecer considerações sobre a existência de uma concepção educacional que tem marcado a história educacional das pessoas com deficiência na política educacional brasileira: a de iniciativas escolares paralelas ao sistema comum de ensino – restritas às instituições privadas e / ou públicas. No cenário educacional constatamos os defensores destes espaços paralelos como relevantes para os processos educacionais do público-alvo da educação especial. Em contrapartida, emergiram movimentos em defesa da inclusão escolar, que preconizam as classes comuns como espaços privilegiados de aprendizagens, interações e convivência social. Diante deste contexto contraditório, as políticas vigentes buscam romper com a organização desses sistemas paralelos de ensino. Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.000528 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 4 A política de atendimento do público-alvo da educação especial no município de São Bernardo inicia-se em 1957, com o atendimento das crianças com deficiência auditiva e surdez. Ao longo da história, o município criou três escolas especiais, três centros de apoio e vem subsidiando projetos referentes à profissionalização; incorporou com a municipalização as classes especiais e transformou sua nomenclatura em classes integradas. Paulatinamente, buscou imprimir outra filosofia a essas classes e também instituiu as salas de recursos. (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2004). Outros serviços também foram criados no percurso da história da educação especial: o serviço de diagnóstico, a escola de arte-educação e o projeto Espaço Integrado. (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2006). A Secretaria Municipal de São Bernardo do Campo, a partir de 2009, tem firmado sua política de atendimento de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades / superdotação de acordo com os princípios de uma educação inclusiva, em consonância com o que preconiza a PNEE/08. Referencia-se também em legislação posterior, regulamentadora do financiamento, bem como nas diretrizes operacionais para o atendimento educacional especializado na educação básica, em documentos normativos nacionais e em recomendações internacionais que preconizam o direito de todos à educação. Este trabalho, conforme mencionado anteriormente apresentará dados de dois serviços substitutivos especializados – as classes integradas e a escola especial Marly Buissa Chiedde – que atendiam alunos na faixa etária do ensino fundamental com deficiência intelectual, múltipla, surdocegueira e TGD, em espaços específicos especializados; a partir das reorganizações do sistema, esses alunos passam a ser matriculados nas classes comuns das escolas regulares. Tal redimensionamento desencadeou transformações nas práticas dos professores das classes comuns, das professoras da educação especial, das equipes gestoras, equipes técnicas e de orientação pedagógica que acompanham as unidades escolares. Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.000529 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 5 METODOLOGIA Esta pesquisa de natureza qualitativa tem privilegiado a realização de um intensivo exame dos dados, tanto em amplitude quanto em profundidade, de modo a fazê-los comunicar a realidade de forma mais completa possível, na perspectiva de apreendê-la e compreendê-la. (MARTINS, 2004). Após a coleta de dados, foram realizadas análises documentais e entrevistas semiestruturadas. Os documentos constituem-se como uma fonte que surge num determinado contexto fornecendo informações sobre ele, possibilitando, ainda, a retirada de evidências que fundamentem as argumentações e afirmações do pesquisador e indicando problemas que necessitam ser mais explorados por outros métodos (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Os documentos também podem propiciar alguns tipos de reconstruções e “acrescentar a dimensão do tempo à compreensão do social” (CELLARD, 2008, p. 295). As entrevistas semiestruturadas foram realizadas com profissionais das equipes de orientação técnica e com uma das gestoras municipais; justificam-se em virtude de nem todas as informações encontrarem-se registradas nos documentos. As entrevistas foram realizadas no segundo semestre de 2011. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da nova administração que se iniciou em 2009, foi constituído um grupo de trabalho com parte da equipe de orientação técnica do ensino fundamental (três fonoaudiólogas e uma psicóloga) e da equipe de orientação pedagógica (duas orientadoras pedagógicas) para o acompanhamento específico das classes integradas – classes exclusivas para os alunos que fazem parte do público-alvo da educação especial. O objetivo do grupo de trabalho foi o de unificar as propostas de organização e funcionamento das oito classes que funcionavam em cinco escolas. A equipe conclui que: [...] a proposta pedagógica do ano letivo de 2009 para todas as Classes Integradas e o plano individual de cada aluno não foram viabilizados em função das características dos agrupamentos constituídos e da dinâmica do ensino regular que não favoreceu a integração das classes como um todo e de Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.000530 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 6 cada aluno em um grupo-classe específico. (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2010b, p. 2). Tendo como subsídio as avaliações das equipes escolares que acompanhavam as classes integradas, as características individuais e a faixa etária dos alunos que frequentavam essas classes (de 9 a 12 anos), eles foram inseridos nos anos / ciclos de acordo com a idade, ou seja, foram matriculados no 2º Ano do Ciclo I e nos 1º e 2º Anos do Ciclo II do ensino fundamental. Definiram-se ainda, como perspectivas de apoio, duas possibilidades de encaminhamento para esses alunos em 2010: - Atendimento Educacional Especializado (AEE) em Sala de Recursos no modelo vigente; - AEE em horário de aula com intervenções e atividades intencionais em atendimentos diários com professora de educação especial, tanto na sala de aula comum quanto em sala de uso específico ou outros espaços. (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2010b, p. 2). Nesse contexto, de acordo com o que consta nas fontes documentais, emerge uma proposta que objetivou promover a melhoria da qualidade escolar, e, como consequência, viabilizar a extinção das classes integradas com o intuito de possibilitar a educação desses alunos em uma classe comum de ensino. Tal ação, segundo os profissionais que acompanharam esse projeto, assentou-se na construção de “conceitos, valores e atitudes, propondo vivências, reflexões e construções de saberes para que todos estes atores sejam igualmente autores de uma sociedade verdadeiramente inclusiva” (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2010, p. 3). Esse projeto passa a denominar-se Projeto Transição. De acordo com uma das profissionais, a ideia era levar as crianças cada vez mais próximas de suas residências, uma vez que as classes integradas, em geral, funcionavam em escolas mais centrais, as crianças eram oriundas da periferia e permaneciam muito tempo no transporte, e a família ficava muito distante da escola. Pelas palavras de uma das profissionais: [...] o Projeto Transição foi criado para pensar uma proposta de trabalho de inclusão de ex-alunos da integrada, que a gente entendia que precisavam de um ajuste mais específico na rotina do fundamental, não bastava o que a gente tinha construído até aquele momento [...] (PROFISSIONAL 1). Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.000531 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 7 Durante o processo de organização e acompanhamento deste trabalho ocorreram discussões e foram organizadas as condições para que o processo de inserção deste público-alvo nas classes comuns propiciasse situações de aprendizagens. Além da questão estrutural – salas reduzidas, o estagiário de apoio para apoiar o professor e o professor da educação especial para trabalhar no atendimento educacional especializado e em parceria com o professor da classe comum – investiu-se em um trabalho sistematizado com o professor da classe comum para que ele pudesse rever um pouco o seu fazer do dia a dia, colocando a pedagogia a favor da inclusão. Evidenciou-se a necessidade de trabalhar com tempos e espaços diferenciados também com o grupo da classe, ampliando assim os objetivos educacionais para além da transmissão acadêmica. Foi necessário que as professoras das classes comuns entendessem que os saberes que elas possuíam era muito importante para o trabalho com aqueles alunos, uma vez que elas explicitavam um não-saber para lidar com o público-alvo que passou a compor sua classe. O investimento também incidiu sobre os professores da educação especial que necessitaram rever suas práticas, uma vez que passaram a atuar não mais em uma perspectiva substitutiva, mas sim colaborativa. Esse profissional também se deparou com um não-saber diante das novas exigências. Podemos notar uma reconfiguração na proposta de atendimento dos referidos alunos, bem como nas formas de atuação das professoras da classe comum e das professoras da educação especial que atuavam nas classes integradas. As ações das professoras da classe comum e da professora de AEE passaram a conjugar-se e pautarse em: - Trabalho Colaborativo nas reuniões do coletivo da escola, nas reuniões com familiares e nos contatos com profissionais da saúde. - Ensino Colaborativo como uma parceria de ação pedagógica entre o professor de educação especial e o professor do ensino comum em sala de aula, nas atividades extra-classe, nos planejamentos e na reflexão sobre a prática. (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2010c) [PONTO] Nesse “Projeto Transição” os professores da educação especial ao invés de atuarem apenas com alunos, incorporam em suas atribuições: 1) Contribuir na elaboração de projetos de trabalho que favoreçam as aprendizagens de todos os alunos do grupo-classe. 2) Oferecer atendimento diário em horário de aula aos alunos inseridos no projeto, propiciando intervenções e atividades intencionais em espaços Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.000532 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 8 específicos, assim como em parceria com a professora do ensino comum na sala de aula. (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2010c). Identifica-se que esse recurso substitutivo deixa de existir e tal transformação solicita o redimensionamento das ações dos diversos atores que compõem o cotidiano escolar. Em relação às escolas especiais, o município manteve a escola especial para pessoas com surdez; entretanto, a partir de 2009, foi redimensionado o trabalho das duas escolas especiais que atendiam alunos com deficiência intelectual, surdocegueira, deficiência múltipla e transtornos globais do desenvolvimento. De acordo com notícia veiculada em imprensa oficial: A reformulação da educação especial tem como objetivo atender a todos os alunos de acordo com suas necessidades educacionais. Para tanto, alunos de 6 a 15 anos foram remanejados para a EMEBE Marly Buissa, no Jardim Nossa Senhora de Fátima, e aqueles entre 16 a 35 anos ficam [FICARAM?] no complexo. São 64 alunos na Marly Buissa e 162 na Rolando Ramacciotti contemplados com propostas educacionais distintas e suporte da equipe de gestão, coordenação pedagógica e professores de educação especial da rede. Para jovens e adultos, a proposta de atendimento está centrada em ações socioeducativas, como a realização de oficinas adequadas ao potencial e interesse desse público. O atendimento será feito três vezes por semana. (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2010a, p. 31, grifo nosso). Conforme demonstra o excerto supracitado, a partir de 2010, o município passou a ter apenas uma escola especial. Ainda neste ano, foi constituída uma comissão, cuja tarefa foi a de transformar a escola especial Marly Buissa Chiedde em um centro de apoio. Solicitou-se a esta comissão que, a partir de 2011, fosse extinta a oferta de escola especial municipal para alunos que completariam 12 anos até dezembro de 2011. Segundo dados referentes a maio de 2011, esse projeto abarcou 14 escolas, 16 professoras da educação especial, 31 professoras do ensino fundamental. Indicaramse, no ano de 2011, um conjunto de ações destinadas aos alunos que tiveram suas trajetórias escolares exclusivas ou parciais em escolas especiais, com o intuito de lhes favorecer o acesso e a permanência nas classes comuns. Esta proposta passa a ser denominada de Projeto Incluindo. Nesta proposta, indicou-se que os objetivos do atendimento dos alunos deveriam ser definidos conjuntamente pelas professoras da classe comum e da educação especial, com a participação da equipe gestora, da equipe técnica e da orientação pedagógica. Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.000533 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 9 Os alunos foram matriculados na classe comum, e o AEE também poderia ocorrer dentro ou fora da sala de aula. Dentro da sala de aula, na forma de ensino colaborativo ou atuação colaborativa (entre as professoras da educação especial e das classes comuns); e fora da sala de aula, o atendimento poderia ser individual, ou com minigrupos da classe nos diversos espaços da escola, conforme o planejamento conjunto das professoras da classe comum e da professora da educação especial. De acordo com uma das profissionais entrevistadas, o trabalho da escola especial era difícil, uma vez que os alunos eram muito comprometidos. No planejamento do Projeto Incluindo, foram levadas em consideração as ações bem avaliadas e experienciadas pelos envolvidos no Projeto Transição. Contudo, cabe ressaltar que, de acordo com a profissional entrevistada, diferentemente do Projeto Transição, no Projeto Incluindo ocorreram muitos embates com os profissionais da escola especial e com famílias que defendiam e argumentavam a favor da continuidade da escola especial, entretanto, a experiência do Projeto Transição fortaleceu os profissionais para os embates. Outra questão ressaltada diz respeito ao fato de o Projeto Incluindo possuir um maior alcance (número de escolas, professores, equipes e alunos) ocasionando a interferência de algumas questões administrativas em sua implementação. Cabe salientar que, apesar de os princípios da PNEE/08 terem sido colocados em ação no atendimento do público-alvo da educação especial nas classes comuns e em relação ao AEE, o sistema ofertou formas diferenciadas deste apoio, ocorrendo inclusive no turno do aluno. Tal definição, de acordo com uma das profissionais entrevistadas decorre da necessidade de contemplar o percurso da escola, as necessidades dos professores e dos alunos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme os dados demonstram, tecer uma política educacional em uma perspectiva inclusiva e não substitutiva englobou o planejamento de ações, bem como o envolvimento de diversos atores do cotidiano escolar: professor da classe comum, as equipes gestoras das escolas e as equipes que realizam acompanhamentos nas escolas, no caso do município de São Bernardo do Campo; as equipes técnicas e as orientadoras pedagógicas. Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.000534 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 10 Nos dois projetos explanados delineou-se a importância do provimento das questões estruturais e do apoio da Secretaria da Educação para pensar nas necessidades específicas de cada escola, aluno e professor; evidenciou-se que o espaço formativo delineado para planejar a prática e articular as ações dos diversos atores, sobretudo da professora da educação especial e da classe comum – que passaram a atuar em muitos momentos numa perspectiva colaborativa – foi relevante para qualificar a prática pedagógica A construção deste modelo não demonstrou não ser uma tarefa simples e contou com os embates entre as pessoas que acreditavam que o melhor local de atendimento educacional para o público-alvo da educação especial era as escolas especiais, aquelas que defendiam a classe comum como o local privilegiado para as interações sociais e construção de aprendizagens. A construção de uma perspectiva inclusiva demonstrou requer uma série de provisões, desde o âmbito estrutural até o investimento formativo. Identificamos ser de fundamental importância prover o que Sousa e Prieto (2007) denominam de o “especial” na educação: O “especial” refere-se às condições requeridas por alguns alunos que demandam, em seu processo de aprendizagem, auxílios ou serviços não comumente presentes na organização escolar. Caracterizam essas condições, por exemplo, a oferta de materiais e equipamentos específicos, a eliminação de barreiras arquitetônicas e de mobiliário, as de comunicação e sinalização e as de currículo, a metodologia adotada e, o que é fundamental, a garantia de professores especializados, bem como de formação continuada para o conjunto do magistério. (p.124-125). Ainda que a Secretaria de Educação do município tenha apoiado os dois projetos, o Projeto Incluindo enfrentou dificuldades em sua operacionalização, em virtude se ser maior e envolver uma série de variáveis. Derivam destas experiências práticas colaborativas entre os diversos atores que atuaram na construção e vivência destes projetos. Os espaços formativos constituíram-se como espaços significativos, nos quais os professores da classe comum e da educação especial puderam explicitar suas angústias, conquistas, saberes e dúvidas; valorizando a experiência e as reflexões advindas, e, sobretudo caminhar num processo de construção de autorias docentes. Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.000535 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 11 REFERÊNCIAS BORGHI, Raquel; ADRIÃO, Teresa. Organização do trabalho escolar e exclusão educacional: caminhos, desafios e possibilidades. In CORREA, Bianca Cristina; GARCIA Teise Oliveira (Orgs). 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