EDUCAÇÃO DO CAMPO: GESTÃO DEMOCRÁTICA. Edson Marcos de Anhaia Coordenador Geral de Educação do Campo SECADI/MEC Contexto de origem da Educação do campo: participação de gestão democrática A situação da educação: a ausência histórica de políticas públicas que garantam o direito à educação dos trabalhadores no sentido do acesso, permanência e continuidade dos estudos Articulação política para a denúncia e para a luta por políticas públicas para os povos do campo. A presença de experiências significativas que expressam a resistência cultural e política dos camponeses. O debate de um outro modelo de campo e de educação a partir do diálogo com as teorias críticas. Esses sujeitos ao se organizarem coletivamente para garantir sua existência, vão construindo experiências. É no fazer-se que vão se fazendo, construindo um novo ser social. Conscientemente ou inconscientemente, criam novas formas de relação e novas possibilidades dentro da estrutura da sociedade capitalista. Essa experiência como nos lembra Thompson (1981, p. 16) “surge espontaneamente no ser social, mas não sem pensamento”, é a reflexão sobre o vivido, sobre o processo de organização que propõe novas possibilidades. A experiência “surge porque homens e mulheres são racionais, e refletem sobre o que acontece a eles e ao seu mundo.” (THOMPSON, idem, p. 16). Neste sentido, as práticas e as experiências vividas por diferentes movimentos sociais produziram outro olhar para a escola e sua organização. É necessário problematizar, propor formas de organização que levem em consideração os sujeitos do campo. A educação do campo é resultado do acúmulo da luta dos trabalhadores do campo, que percebem a importância e a necessidade de ampliá-la para além do acesso à terra, entendendo que são necessárias mudanças mais radicais na estrutura da sociedade e a educação vai sendo incorporada, gradativamente, como fundamental nesse processo. FOLDER DO I ENERA Folder da I Conferência Nacional Por uma Educação Básica do Campo 2004 – II Conferência Nacional Por uma Educação do Campo Tema: Por uma Política Pública de Educação do Campo 2004 – Ministério da Educação Criação da Secretária de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; Coordenação Geral de Educação do Campo Conceito de campo O campo como espaço de trabalho, de produção de saberes, de cultura, de vida. O campo é construído por múltiplos sujeitos: são assalariados rurais temporários, posseiros, meeiros, arrendatários, acampados, assentados, reassentados atingidos por barragens, agricultores familiares, vileiros rurais, povos da florestas, indígenas, descendentes negros provenientes de quilombos, pescadores, ribeirinhos, e outros mais. Concepção de Campo o campo “é mais que um perímetro não- urbano, é um campo de possibilidades que dinamizam a ligação dos seres com a própria produção das condições de existência social e com as realizações da sociedade humana” (Resolução CNE/CEB 1/2002). Portanto, é lugar de vida, de trabalho, de lazer, de produção econômica, cultural e de conhecimentos. Ele retrata a identidade, a luta e resistência dos povos do campo pelo acesso e permanência na terra. Educação do Campo Concepção de Educação • Construído pelos e com os sujeitos do campo, onde a educação é compreendida como formação humana, como direito. • Educação pensada a partir da especificidade e do contexto do campo e de seus sujeitos com forte vinculação com a cominidade. A educação deve se no campo - no espaço onde os sujeitos vivem, fazem cultura, constroem saberes, lutam pela sua sobrevivência e pela sua dignidade A educação deve se do campo - Deve ter uma proposta pedagógica que tome por referencia do processo educativo a produção da vida no campo, articulada com os saberes universais historicamente sistematizados As conquistas na estrutura do Estado Conjunto de Marco Regulatório: construções coletivas. Resolução CNE/CEB nº 1, de 3 de abril de 2002 e a Resolução CNE/CEB nº 2, de 28 de abril de 2008, que instituem as Diretrizes peracionais da Educação Básica nas Escolas do Campo – e o Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010, que dispõe sobre a Política de educação do campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). Resolução CNE/CEB nº 1, de 3 de abril de 2002 No referente à educação escolar no meio rural, o conteúdo da Resolução CNE/CEB nº 1/2002 representa um início, admitido pelo Estado, de tempos de construção de um novo paradigma para a educação do meio rural. Focando nossa atenção ao que é específico para as escolas do campo, veremos que se trata de eixos norteadores, ou princípios a serem seguidos e se contrapõem ao arcabouço daquilo que se tem entendido tradicionalmente por educação rural. Vejamos algumas categorias que pautam a Resolução: a) Universalização – consta no art. 3º “garantir a universalização do acesso da população do campo à Educação Básica e à Educação Profissional de Nível Técnico”. Note-se que esta Resolução nº 1 pontua apenas a universalização do acesso, mas a Resolução CNE/CEB nº 2, de 2008, no art. 1º, § 1º, amplia essa conquista, propondo como objetivo da Educação do Campo a “universalização do acesso, da permanência e do sucesso escolar com qualidade em todo o nível da Educação Básica”. Diversidade – categoria central da Educação do Campo, a diversidade está posta no art. 5º, assim como no art. 13: Art. 5º – As propostas pedagógicas das escolas do campo, respeitadas as diferenças e o direito à igualdade [...], contemplarão a diversidade do campo em todos os seus aspectos: sociais, culturais, políticos, econômicos, de gênero, geração e etnia. b) c) Formação dos professores e organização curricular – merece destaque a indicação inequívoca da Resolução nº 1/2002 sobre a necessidade de uma nova postura, por parte da escola, diante da diversidade dos educandos e dos demais sujeitos que vivem no campo, que não são bancos depositários nem sujeitos passivos. Traz ainda a indicação de como se devem empreender os novos processos de formação dos docentes. d) Sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável – o art. 8º, inciso II, determina o “direcionamento das atividades curriculares e pedagógicas para um projeto de desenvolvimento sustentável”. e) Gestão democrática e controle social – a participação efetiva da comunidade, na forma de organizações de sujeitos coletivos do campo, constitui forte eixo norteador na Educação do Campo. Essa participação é preconizada desde as definições das políticas junto aos órgãos gestores até o cotidiano da escola do campo. Resolução CNE/CEB nº 2, de 28 abril de 2008 Pela primeira vez num documento normativo aparece a denominação “Educação do Campo”. Em seu art. 1º, justamente ao afirmar um conceito, determina que: Art. 1º – A Educação do Campo compreende a Educação Básica em suas etapas de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação Profissional Técnica de nível médio integrada com o Ensino Médio e destina-se ao atendimento às populações rurais em suas mais variadas formas de produção da vida. Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010 O Decreto dispõe sobre a política de educação do campo e o Pronera. Ou seja, de um lado, enfim, é possível dizer que se tem no Brasil uma política pública, no seu sentido de política permanente, porque é materializada no escopo do Estado brasileiro. o Decreto, baixado pelo Presidente da República, tem muito mais forte o sentido de concretização dos resultados – nesse caso positivos – das lutas sociais por Educação do Campo empreendidas até o presente. Programa Nacional de Educação do Campo - PRONACAMPO Conjunto de ações articuladas que asseguram a melhoria do ensino nas redes existentes, bem como, a formação dos professores, produção de material didático específico, acesso e recuperação da infraestrutura e qualidade da educação no campo em todas as etapas e modalidades Decreto n 7.352/2010. Eixo I - Gestão e Práticas Pedagógicas; Eixo II - Formação de Professores; Eixo III - Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional e Tecnológica; Eixo IV - Infraestrutura Física e Tecnológica. Fortalecimento da escola do campo e quilombola •Disponibilizar materiais didáticos e pedagógicos específicos para todas as escolas do campo e quilombola ; •Formação e o acompanhamento pedagógico para todas às escolas com classes multisseriadas ; •Implantar o programa Mais Educação Educação Integral em 10.000 escolas. “...Então o camponês descobre que, tendo sido capaz de transformar a terra, ele é capaz também de transformar a cultura, renasce não mais como objeto dela, mas também como sujeito da história” Paulo Freire Bibliografia ACANDA, Jorge L. Sociedade civil e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2006. ARROYO, Miguel G. Ciclos de desenvolvimento e formação de educadores. Educação & Sociedade, ano XX, nº 68, Dezembro de 1999. CALDART, Roseli Salete. Educação do Campo: notas para uma análise de percurso. 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