SER DIFERENTE De forma sutil, explicitamente, discriminam, não sei ainda por quê: o cdf inteligente o professor exigente o militar competente o religioso crente o gay sorridente o povo pobre, gente quem pensa diferente o rebelde adolescente a pessoa irreverente quem fala de sexo abertamente. Todos nós temos verdades Me deixa ser quem eu sou Você está consciente? JCF ACADÊMICOS E BOMBEIROS Este domingo, 1º de agosto, foi atípico: a convite do Jadson, um grupo de acadêmicos da nossa turma esteve, de 9 às 14h, assistindo a aulas e a demonstrações de APH (Atendimento PréHospitalar) no quartel do Comando Central dos Bombeiros de Maceió. Foi um banho de cortesia do pessoal de serviço e uma exposição primorosa do competente e profissional Sargento Jéferson, nosso instrutor. Além de um delicioso lanche, teve um passeio pela verdejante horta, cultivada naquela organização militar. No meio da exposição, um autofalante anunciou um chamado para atender uma emergência. Fiquei impressionado e emocionado em ver que o pessoal de serviço estava pronto para partir, dentro da viatura, em cerca de dois minutos. Parabéns a esses heróis anônimos, pelo profissionalismo e pelo amor que dedicam à vida dos outros. Ressalto que, sem o acadêmico Jadson, também Coronel Bombeiro, talvez não tivéssemos essa oportunidade de ver, de perto, esse trabalho tão gratificante. O Jadson tem sido um paradigma para nossa turma: pontual, estudioso, assíduo, interessado, companheiro, dentre outras qualidades que possui. Parabéns ao acadêmico, amigo, cidadão, militar e pai de família que você tem sido. Certamente, a turma foi privilegiada com sua presença entre nós. Acadêmico José Carlos (Cap) Sobre o prognóstico do paciente: “Dans la médécine, comme dans l’amour, ni jamais, ni toujours.” (“Na medicina, como no amor, não há sempre, nem há nunca.”), diziam os antigos clínicos franceses, famosos pela elegância na expressão. In: A linguagem médica, Moacyr Scliar VOX ACADEMICAE INFORMATIVO DO 1º ANO DE MEDICINA ANO I – Nº 3 – Maceió, AL, agosto de 2010 EDITORIAL Estamos de volta, pessoal, depois das merecidas férias. Neste número, um debate de ideias sobre as cotas sociais, assunto polêmico e em discussão no Congresso; poesias, crônicas. Queremos fornecer subsídios para que você mesmo(a) forme a sua opinião sobre os fatos. Isso atende pelo nome de autonomia. Em setembro, iniciaremos uma viagem pela História da Medicina, publicando fatos marcantes que a consolidaram como ciência, sem deixar de nos referirmos aos gregos, é claro. Esperamos que você goste e, se gostar, participe mais, redigindo artigos para o nosso informativo. Dia 30 de julho, o Consu aprovou a reforma universitária por 28 votos a 8. O DCE tentou adiar a votação. Perdeu por falha na comunicação com os discentes (a maioria não sabia do que se tratava), só se envolvendo na última fase do processo, que vinha desde fevereiro. SOLIDARIEDADE Atendendo ao apelo das vítimas das enchentes, a turma se mobilizou e, em dois dias de campanha, conseguiu arrecadar o seguinte: - 126 roupas de cama - 1.135 peças de roupas diversas - 355 kg/pacotes de gêneros n/p - 51 pares de sapato - 55 litros água mineral, além de bolsas, capas e redes. Os bombeiros vieram buscar as doações: duas caminhonetes lotadas. Acadêmicos da nossa turma doaram R$120,00, com os quais foram adquiridos gêneros não perecíveis. A Turma agradece a todas as pessoas que aderiram à campanha. Quem recebeu as doações, também. NIVER Parabéns aos professores de Bioquímica que aniversariaram em julho: Profa. Yaskara, dia 8, e Prof. Marcos, dia 29. “O mundo é dos otimistas. Os pessimistas são meros espectadores” Anônimo 4 ETIMOLOGIA COTAS NAS UNIVERSIDADES – SIM! Por que sou a favor das cotas? A resposta é simples, porque vejo nelas justiça. Mas creio que é preciso construir um raciocínio para explicar porque acho justo. Tentarei fazê-lo agora. Nossa sociedade é racista, isso o dia a dia comprova: as taxas de homicídio, a população carcerária, a diferença de salários entre um branco e um negro. Vivemos numa sociedade onde o negro é empurrado à margem da sociedade e lhe são afastadas as oportunidades de ascensão social. E isso não se dá apenas na esfera econômica, ou seja, pelo fato da maioria dos negros serem pobres. Dá-se também na esfera cultural, que o subjuga e lhe tira a autoestima, que diz para o negro não acreditar em si, na sua cor, na beleza de seu cabelo, de seu nariz, de seus lábios. Faz o negro não querer se afirmar como negro, ter vergonha de sua cor (talvez medo do seu destino). Uma das coisas mais importantes para o movimento negro nas cotas é a auto declaração: “eu sou negro!”. Estudos, sobre a trajetória escolar em escolas públicas, revelaram uma das formas como esse preconceito interfere na vida real da população negra no Brasil: um garoto negro tem menos chances de avançar em seus estudos que um branco, mesmo se eles tiverem a mesma origem econômica. E isso não tem a ver com a sua cor, tem a ver com o que a sociedade espera de sua cor, e o que o garoto acaba, por isso, esperando de si. O negro tem mais dificuldades para terminar os estudos e acaba tendo sim, mais dificuldades para entrar no ensino superior. O princípio da igualdade prevê tratar os diferentes de modo diferente. Por isso as cotas são justas. Por ratos e gatos na mesma gaiola, e esperar que a falta de interferência dê igualdade a eles é ver o mundo ou de forma simplista, ou pelos olhos do gato. Toda universidade pública é um órgão do Estado e, como tal, deve estar a serviço dos interesses públicos, dos interesses que a sociedade enxerga como necessários para resolver seus problemas. Os negros foram escravizados, depois substituídos pelos europeus nas lavouras de café, relegados aos quilombos e posteriormente às favelas, e durante muito tempo o movimento negro reclamou justiça. Acredito que quando o Estado Brasileiro se propõe a fazer algo que tente reparar um pouco da opressão histórica que este povo vem sofrendo eu tenho minimamente que achar justo. Ninguém acha que as cotas resolverão o problema da escola pública. Tampouco se acredita que exterminarão o racismo. Mas pelo menos, quanto a este último, é um avanço que ajuda ao negro a se identificar como tal, tenta diminuir as desigualdades raciais brasileiras e ajuda a por em cheque o mito da democracia racial brasileira. Hemopoiese vem do grego. Hemopoese, também, mas passando pelo latim. Significa produção de sangue. O que tem a ver com poesia? O radical poesis (latim), que vem de poísis,eos (grego). Ambos significam criar, seja poema, ou seja sangue. CONSELHO EDITORIAL Editor-Chefe Acad. José Carlos Equipe Acad. Luciana Acad. Maria Carolina Acad. Rafael Costa Acad. Rose Viviane Diagramador Acad. José Carlos COTAS NAS UNIVERSIDADES - DEMAGOGIA OU SOLUÇÃO? A Constituição Federal, no seu Artigo 19 estabelece que: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si”. O Artigo 208 dispõe que: “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”. Após a leitura do trecho acima, retirado da nossa Carta Magna, cabe-nos a pergunta: o sistema de cotas nas universidades é uma ação afirmativa contra a exclusão social ou apenas uma política compensatória? É notório que nossos governos gostam de apresentar resultados num prazo máximo de cinco anos. Rende mais votos realizar essa demagogia de cotas do que mudar um sistema, que além de demorar mais tempo, necessitaria de mais recursos. Além de dar a “oportunidade” de outro governante “colher os louros da vitória”. Então, nossos políticos se preocupam mais em estar na mídia, embaixo dos holofotes, lutando por causas demagógicas, que pensar na solução mais adequada e concreta ao caso. O sistema de cotas nas universidades, seja por classe social ou por questão racial, nos moldes em que vem sendo adotado no Brasil, sem dúvida, torna a Universidade uma forma de “prêmio” à injustiça passada. Não se repara injustiça premiando descendentes de quem foi vítima da injustiça. Utilizar as cotas tendo por base a cor da pele, ou a escola em que o aluno estudou, é uma discriminação também. Discriminação inversa! Num momento em que todos lutam por um mundo mais justo e igual, é incompreensível lutar pela igualdade, baseando-se nesses valores. Mesmo aqueles que defendem as cotas têm consciência que essa é apenas uma solução paliativa e oportunista. Medidas como a criação de cursos pré-vestibulares pelo governo, aprimoramento e ampliação de programas como o Pró-Uni, isenção da taxa de inscrição em concursos públicos e melhoria no ensino básico, é que constituem, de fato, medidas afirmativas. O governo e a sociedade devem repensar o sistema educacional e lutar pela melhoria da educação pública desde a sua base. E isso somente se faz com verbas, com incentivos diversos, com melhores salários, com planos de carreira motivacionais, levando em conta o desempenho dos alunos e dos professores, através de organismos públicos de controle, concretos e verdadeiros. Um povo mais justo, consciente, e honesto, somente se desenvolve com educação de qualidade. Somente dessa maneira estaremos garantindo a igualdade de disputa que tanto queremos, e instalaremos a justiça nas bases sólidas que formam os valores da nossa Nação. E, finalmente, o Artigo 208 da Constituição Federal deixará de ser letra morta nas nossas relações sociais. Revisores Acadêmica Luciana Acad. José Carlos Acad. Rose Viviane Acadêmico Rafael Costa * No próximo número, um sim às cotas sociais. Correspondências: [email protected] 2 O radical da palavra Cristo é grego: khristós (o Ungido), mas a raiz remota é kri, do sânscrito, e significa crise. Ele nos trouxe uma crise de Moralidade e de Amor. 3