O SUCESSO DAS EMPRESAS FAMILIARES Publicação não identificada Tendo em conta que as empresas familiares, de um modo geral atravessam 4 fases distintas de vida, podemos aceitar que os principais critérios de sucesso das empresas familiares estejam intimamente ligadas a cada uma destas etapas: Comecemos, então, por falar um pouco destes diferentes momentos de vida das empresas familiares, explicitando os principais desafios em causa para o seu sucesso. Criação do Negócio Trata-se da fase inicial da vida da empresa, ligada à sua Fundação e à figura do próprio Fundador: A preocupação aqui centra-se na aquisição e manutenção de capital, no desenvolvimento de produto(s) ou serviços(s) que sejam aceites pelo mercado. Colocase, ainda, o foco na admissão de funcionários que, para além de serem competentes, têm de ser de muita confiança. Por tal motivo, muitas vezes é dada preferência aos membros familiares (cônjuge, irmãos, filhos, etc..). Procura-se sobreviver, que a empresa não morra. Os principais desafios deste 1º estádio de vida das empresas familiares são os seguintes: -Instalar um clima de confiança interno, em que os colaboradores devem sentir que estão a fomentar um projecto importante para a sua própria vida, entregando-se ao trabalho e à empresa de um modo total e não apenas instrumental; - Criar com os clientes uma relação de confiança pessoal e profissional, que se paute por valores de integridade, respeito e consideração, sendo a figura do Fundador inquestionavelmente indissociável da empresa (a empresa é o que o Fundador é); - Definir um produto ou serviço de qualidade, apetecível para o mercado, aliado a uma postura de pós-venda muito personalizada, próxima e, até, de certo modo, afectiva com os clientes. Crescimento e Desenvolvimento Neste segundo estádio de vida, o Fundador/Gestor da empresa familiar percebe não pode continuar a centrar em si tudo o que a empresa representa. Ele não tem mãos a medir e não tem capacidade para responder a tudo com a mesma clareza e conhecimento como o fazia inicialmente. Dá-se início à delegação de algumas responsabilidades, a transmissão de valores e crenças para os colaboradores e começa-se , ainda que de um modo muito informal, uma avaliação da capacidade e do potencial dos colaboradores, com ênfase nos familiares, o que acaba por gerar um clima de alguma competição e, por vezes, até, desconfiança interna entre membros familiares e não familiares. É a fase típica da transição do poder e da liderança para a 2ª geração, que nem sempre é bem sucedida, daí que o prazo média de vida das empresas familiares se situe na ordem dos 25 anos. Os principais desafios deste 2º estádio, são os seguintes: - Manter uma atitude de grande imparcialidade na avaliação dos colaboradores, primando pela valorização do mérito, em detrimento da relação familiar; - Preparar e planear muito bem os potenciais sucessores para assumirem no futuro, com reconhecida legitimidade dos outros colaboradores e dos clientes, a posse e gestão da empresa, o que passa por lhes proporcionar uma formação adequada, complementada por experiências de trabalho fora da empresa, para que produzam obra antes de voltarem à empresa da família (caso contrário, serão sempre vistos à sombra dos progenitores); - Informar o mercado dos cuidados tidos na continuação da empresa para a 2ª geração, mantendo e, se possível, reforçando, a credibilidade do negócio (muitas vezes, os clientes afastam-se com a transição para a 2ª geração, devido à grande sobreposição entre a empresa e o seu Fundador, situação que o Sucessor só vencerá se o Fundador, no entretanto, tiver desempenhado bem o seu papel de planeador da Sucessão). Sucessão para a 2ª Geração 2 Fase caracterizada pela maturidade do negócio. O Fundador ainda pode estar presente, mas já não é figura dominante do ponto de vista operacional, podendo funcionar mais como uma figura de referência moral. A empresa é nesta altura um compósito complexo, com muitos colaboradores não familiares e outros familiares, havendo, por vezes, também, investidores externos. A existência de interesses diferentes é potenciadora de discussões e, mesmo, de conflitos. As relações internas, antes de proximidade e muito pessoais, são agora relativamente distantes e mais impessoais. Perde-se o sentido da equidade. Os principais desafios do 3º estádio de vida das empresas familiares são os seguintes: - Criação de um clima interno de estabilidade, gerindo de forma eficaz potenciais focos de conflito, através da implementação (e controle) de objectivos que conduzam as pessoas a lutar pelo bem comum; - Assegurar uma carteira de clientes diversificada que não coloque em risco a vida da empresa (consolidar em definitivo a transição de nicho para o mercado geral); - Atrair investidores de confiança que conheçam bem a empresa e cuja história relacional com a mesma seja pautada de há alguns anos atrás pela confiança (ex: fornecedores, clientes, entidades financeiras, etc..) e que possam assegurar o capital necessário para fazer face a solicitações de mercado mais exigentes e que os capitais próprios já não possam suportar de per si. Posse Pública e Gestão Profissional Última fase da vida das empresas familiares em que se colocam 2 cenários habituais: - Manutenção da estrutura familiar, mas gerida profissionalmente (pessoas qualificadas nas mais diferentes áreas de competências), ou - Passagem para um leque alargado de sócios/accionistas, perdendo a família a maioria do capital e da decisão. 3 Há uma exacerbação da competitividade interna, aumentando os níveis de desigualdade entre colaboradores, com os quadros de topo a assumirem posições de destaque nem sempre relacionadas directamente com um mérito objectivo, até porque alguns deles são recentes, convidados a virem para a empresa resolver dificuldades ou problemas entretanto surgidos. Implementam-se sistemas de controle e recompensas mais ou menos sofisticados, no sentido de monitorizar a produtividade dos colaboradores em geral. Surge um novo tipo de contrato psicológico entre a empresa e os colaboradores, potenciador de um maior distanciamento entre as partes. Eis os principais desafios desta 4ª fase: - Gestão da cultura interna da empresa. no sentido da sua não descaracterização, o que a acontecer pode levar ao estabelecimento de um clima interno de enorme desmotivação, e desconfiança, inimigo da produtividade e da qualidade; - Manutenção e reforço da imagem institucional da empresa junto do mercado, alicerçada em valores e princípios relevantes do passado, integrados com os novos objectivos da gestão; - Formalizar os até então mecanismos informais e aleatórios de inovação e renovação interna de conhecimento, no sentido de não se perder o capital intelectual existente. Embora nem todas as empresas familiares percorra de uma forma exacta estas 4 diferentes etapas, os problemas que as mesmas se vêem na contingência de ultrapassar são idênticos, bem como os desafios apresentados. O que importa, no final, é que as empresas familiares pela sua enorme importância nacional na criação de emprego e no PIB, necessitam de ser apoiadas em termos da sua sobrevivência e sustentação, pois são a base real da economia de qualquer país da economia dita ocidental. E como já dissemos antes, sendo o seu prazo médio de vida relativamente curto (25 anos), tem que haver uma aposta simultânea muito forte no aumento significativo deste 4 período de tempo, bem como na criação e surgimento de novas iniciativas empresariais similares que possam compensar as que, entretanto, vão deixando de existir. Para bem do país e das pessoas, cujo emprego é fundamental preservar. José Coelho Martins 5