Parnasianismo
O Parnasianismo: a disciplina do bom gosto
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A poesia: espaço privilegiado para a expressão das
emoções humanas.
Em nome da expressão de
sentimentos e dos estados de alma, os românticos haviam
abandonado os rigores formais na composição dos
poemas. Este será o primeiro aspecto a ser atacado pela
reação antirromântica.
Théophile Gautier e Leconte de Lisle publicam, em 1866,
uma antologia de poemas intitulada O Parnaso
contemporâneo, em que defendem a necessidade de
tratar os temas poéticos de modo mais objetivo, pondo
fim às “lamúrias” românticas .
O Parnasianismo: a disciplina do bom gosto
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Na segunda metade do século XIX, em uma sociedade
transformada pelas descobertas da ciência e pela
revolução das máquinas, a razão toma lugar dos
sentimentos na produção literária. Na poesia, o impacto
dessa mudança é profundo. Depois de se inspirarem por
décadas nas emoções, os poetas passam a privilegiar a
perfeição da forma. Essa tendência deu origem a uma nova
estética, o Parnasianismo.
O Parnasianismo: a disciplina do bom gosto
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O título da obra faz referência a uma montanha da Grécia
– o Parnaso -, que seria a morada do deus Apolo e das
musas inspiradoras dos artistas. Com essa escolha, os
poetas franceses procuravam resgatar a visão da arte
como sinônimo de beleza formal alcançada por meio do
trabalho cuidadoso e detalhista.
Nascia, assim, o
Parnasianismo.
Para Gautier, arte não existe para a humanidade, para a
sociedade ou para a moral, mas para si mesma. A
finalidade da arte seria, portanto, a própria arte.
O Parnasianismo: a disciplina do bom gosto
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Théophile Gautier era um
defensor da arte pela arte,
adotando como princípio
que a missão da arte era
ser bela. Abandonou assim
o lirismo arrebatado dos
romântico para investir no
trabalho com a forma
poética.
O Parnasianismo: a disciplina do bom gosto
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O objetivo declarado dos poetas parnasianos era um só:
devolver a beleza formal à poesia, eliminando o que
considerava os excessos sentimentalistas românticos que
comprometeriam a qualidade artística dos poemas = Olhar
impessoal para o objeto do poema.
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Na base desse projeto estava a crença de que a função
essencial da arte era produzir o belo. O lema adotado
pelos parnasianos – a arte pela arte – traduz essa crença.
O Parnasianismo: a disciplina do bom gosto
Princípios parnasianos:
 Opção por uma poesia descritiva;
 Preocupação com a técnica: o metro, o ritmo, a rima, todos os
elementos devem ser harmonizados de modo a contribuir para a
perfeição formal;
 Tentativa de manter uma postura impassível diante do objeto do
poema, para não cometer o excesso sentimentalista dos
românticos.
 Resgate de temas da Antiguidade clássica: referências à mitologia.
 Defesa da “arte pela arte”: a poesia deve ser composta com um
fim em si mesma.
 Busca da palavra exata que, muitas vezes, beirava o preciosismo.
O Parnasianismo: a disciplina do bom gosto
Apesar de os poetas brasileiros não adotarem a
impassibilidade francesa, o cuidado com a criação de
versos perfeitos definiu a estética parnasiana no Brasil.
Bela e traidora! Beijas e assassinas...
Quem te vê não tem forças que te oponha
Ama-te, e dorme no teu seio, e sonha,
E, quando acorda, acorda feito em ruínas...
Seduzes, e convidas, e fascinas,
Como o abismo que, pérfido, a medonha
Fauce apresenta flórida e risonha,
Tapetada de rosas e boninas.
O viajor, vendo as flores, fatigado
Foge o sol, e, deixando a estrada poenta,
Avança incauto... Súbito, esbroado,
O Parnasianismo:
linguagem: a “deusa
forma”. Estudo do
poema Abyssus, de
Olavo Bilac.
Abyssus: abismo, em
latim
Pérfido:
traçoeiro
enganador,
Fauce:
garganta,
abertura em forma de
boca
Viajor: viajante
Incauto: descuidado
Falta-lhe o solo aos seus pés: recua e corre,
Vacila e grita, luta e se ensanguenta,
E rola, e tomba, e se espedaça, e morre...
Esbroado:
feito em pó.
desfeito,
MUNCHA,
A.
Pôster publicitário
Biscuit
LéfevreUtile.
1899.
Litografia colorida,
64 x 30 cm
O Parnasianismo no Brasil
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Em 1978, os jornais brasileiros deram notícia de uma
polêmica literária intitulada “A batalha do Parnaso”: de
batia-se a possibilidade de criação de uma poesia
filosófico-científica para refletir o espírito da época. Essa
controvérsia agitou o cenário cultural e preparou o
público, apegado ao arrebatamento emocional romântico,
para uma significativa mudança no tom dos poemas.
O apego mais rigoroso aos princípios estéticos do
Parnasianismo
encontrou
alguns
seguidores
entusiasmados. Os mais destacados foram os poetas
Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira.
O Parnasianismo no Brasil: Olavo Bilac
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Estrela maior do Parnasianismo
brasileiro, a popularidade de Olavo
Bilac está associada à grande
capacidade de trabalhar as palavras e
criar versos inesquecíveis.
Tornou-se um mestre na arte de
escrever sonetos, que aprendeu
estudando a obra dos grandes
sonetistas portugueses: Bocage e
Camões. Abraçou o culto à forma
como uma devoção.
O Parnasianismo no Brasil: Olavo Bilac
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Colocando-se entre o Parnasianismo
mais rigoroso e um Romantismo
erotizado, Bilac tornou-se um mestre.
Como poeta, soube aproveitar o que
essa estética tinha de inovador no
trabalho com a forma, sem abrir mão
da sensibilidade para identificar as
imagens e os temas que respondiam
aos anseios de um público até então
habituado
aos
exageros
sentimentalistas românticos. Por esse
motivo, muito de seus versos são
lembrados até hoje.
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
O
Parnasianismo:
linguagem: a “deusa
forma”. Estudo do
soneto XIII, de Olavo
Bilac.
E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
Pálio: manto
Tresloucado:
desvairado, louco
Cheguei. Chegaste.Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo..
O
Parnasianismo:
linguagem: a “deusa
forma”. Estudo do
soneto Nel mezzo do
camin..., de Olavo
Bilac.
Simbolismo
Simbolismo: contexto histórico
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A Europa no fim do século XIX enfrenta grandes
indefinições e inquietações. A partir de 1870, a
competição econômica e militar entre as grandes
potência ocidentais e o avanço do movimento operário
tornam a crise social inevitável. Nessa crise encontra-se
a origem das duas guerras mundiais que abalarão o
século XX.
Simbolismo: contexto histórico

Uma onda de pessimismo se espalha na Europa. O
artista já não pode se apoiar nos sentimentos que o
Romantismo serviam de filtro para a compreensão da
realidade. Não acredita que a razão, chave adotada para a
interpretação e a explicação do mundo depois da
Revolução Industrial, seja ainda suficiente para orientar
seu olhar e inspirar sua arte. Desconfia da realidade,
considerando-a enganadora. Entende que o mundo
visível, concreto, dá ao ser humano a sensação de
conhecimento, mas que a razão não lhe permite ver o
que vai além do real, não lhe dá meios para alcançar o
desconhecido.
KLIMT,G. As três
idades da mulher.
1905
A arte simbolista
procura
fazer
com
que
o
público perceba a
relação entre a
realidade
aparente e a
essência
Simbolismo: o desconhecido supera o
real
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A arte do período refletirá esse momento de incerteza,
indefinição e pessimismo.
Influenciados pelo desejo de investigar o desconhecido,
os artistas do período exploraram o poder dos símbolos,
e a possibilidade de estabelecer analogias entre eles para
revelar as relações entre o mundo visível e o mundo de
essências. Por essa razão, serão chamados de simbolistas.
A arte que criaram pretende estimular os sentidos
humanos e, desse modo, permitir a apreensão da
realidade sem o auxílio da razão.
Simbolismo: o desconhecido supera o
real
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O termo Simbolismo apareceu em 1886 quando o
escritor francês Jean Moréas afirma em um artigo que a
finalidade da arte simbolista não é revelar a ideia, mas
sugeri-la, de modo que o público possa perceber a
relação entre a realidade aparente e as essências, vivendo
uma experiência sensorial.
Essa explicação deixa clara a filiação do Simbolismo à
visão platônica que opõe o mundo sensível, das
aparências, ao mundo das essências. Os poetas dessa
estética criam símbolos para ajudar os leitores a iniciar a
investigação sobre o desconhecido.
Simbolismo: o desconhecido supera o
real
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Para explorar o mundo, os simbolistas valorizam a intuição e
os sentidos humanos (visão, tato, audição, olfato e paladar). A
percepção das essências é estimulada pela experiência
sensorial, que leva o ser humano a perceber a existência de
uma dimensão que se esconde além da realidade concreta e
que precisa ser explorada.
Misticismo: o abandono do cientificismo e do positivismo, que
marcaram a segunda metade do século XIX, leva os
simbolistas a buscarem a fé, manifestando um misticismo
indefinido, mas ligado à tradição cristã. A crença na existência
de um mundo ideal, que só se pode alcançar pela beleza pura
que deve ser expressa pela poesia, resulta em uma produção
literária cercada de uma clima de fluidez e de mistério.
Simbolismo: o desconhecido supera o
real
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Alienação social: principal interesse simbolista é a
sondagem do “eu”, a decifração dos caminhos que a
intuição e a sensibilidade podem descortinar. Sua busca é
do elemento místico, não consciente, espiritual, imaterial.
Essa é a explicação para o tom de desinteresse pelo
social, que beira à alienação.
REDON, O. A
carruagem
de
Apolo. 1907-1910.
Óleo sobre tela,
47, 6 x 29,9 cm
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras
Formas do Amor, constelarmante puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas ...
Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...
O
Simbolismo:
Análise de Antífona,
de Cruz e Sousa
Simbolismo: o desconhecido supera o
real
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O objetivo, no poema, é criar um verdadeiro
caleidoscópio de imagens que estimule o leitor a
mergulhar nas sensações que começam a ser sugeridas
O efeito dessa longa enumeração é o esvaziamento do
sentido, que perde importância porque a intenção do
poeta é fazer com que o leitor se desligue da realidade e
embarque no mundo sensível de cores, perfumes e sons.
A linguagem precisa ser fundamentalmente sugestiva
para poder evocar sensações e lembranças. Assim, os
escritores recorrerão às sinestesias
Simbolismo: o desconhecido supera o
real
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O termo sinestesia faz referência à associação de
impressões derivadas de diferentes domínios sensoriais
(um perfume que evoca uma cor, um som que evoca uma
imagem).
Outra característica da linguagem simbolista é o uso das
chamadas “maiúsculas alegorizantes”, que personificam
alguns elementos. A ideia é, mais uma vez, criar no leitor
a impressão de que há sentidos desconhecidos,
associados a esses termos, que esperam a ser
descobertos.
A presença constante de reticências também contribui
para tornar mais indefinido e vago o tom do texto.
MONET, C. O
jardim de Monet
em Véthevil. Óleo
sobre tela, 150x
120 cm
A
arte
impressionista
também explora
o
poder
de
sugestão
da
linguagem
da
pintura.
Simbolismo brasileiro: além do real e
próximo da morte
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Considera-se que o Simbolismo brasileiro iniciou-se no
ano de 1893, quando Cruz e Sousa lançou dois livros:
Missal (prosa) e Broquéis (poesia).
Dois nomes se destacaram entre os adeptos da nova
estética: João da Cruz e Sousa e Alphonsus de
Guimaraens. Cada um deles trilhou caminhos diferentes,
mas ambos fizeram uso de uma linguagem claramente
simbolista.
O Simbolismo no Brasil: Cruz e Sousa

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Cruz e Sousa é considerado o maior
representante
do
movimento
simbolista entre nós.
O que impressiona em sua poesia é
a profundidade filosófica e a angústia
metafísica. Outra característica que
inconfundível é o uso de um
vocabulário em que predominam, de
modo obsessivo, termos associados à
cor branca. Essa recorrência indica
uma busca incessante pela “pureza
das Formas eternas, das Essências
das coisas”
Ó solidão do Mar, ó amargor das vagas,
Ondas em convulsões, ondas em rebeldia,
Desespero do Mar, furiosa ventania,
Boca em fel dos tritões engasgada de pragas.
Velhas chagas do sol, ensangüentadas chagas
De ocasos purpurais de atroz melancolia,
Luas tristes, fatais, da atra mudez sombria
Da trágica ruína em vastidões pressagas.
Para onde tudo vai, para onde tudo voa,
Sumido, confundido, esboroado, à-toa,
No caos tremendo e nu dos tempo a rolar?
Que Nirvana genial há de engolir tudo isto - Mundos de Inferno e Céu, de Judas e de cristo,
Luas, chagas do sol e turbilhões do Mar?!
O
Simbolismo:
Análise
de
Alucinação, de Cruz e
Sousa
O Simbolismo no Brasil: Alphonsus de
Guimaraens


Sua poesia é marcada pela
religiosidade e misticismo.
Em toda a obra de Alphonsus de
Guimaraens, a morte será tematizada
direta e indiretamente, com inúmeras
referências aos elementos a ela
associados (círios, esquifes, etc.). Para
Alphonsus, a morte é acolhida como
momento
de
passagem,
de
transformação, que abre as portas da
eternidade, pondo fim ao sofrimento
humano.
O Simbolismo: Análise de
Alphonsus de Guimaraens
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
Ismália,
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
de
Referências bibliográficas
Texto integralmente retirado de:
ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela. Literatura:
tempos, leitores e leituras. São Paulo: Moderna, 2010.
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Parnasianismo - Colégio Santos Anjos