menu ICTR20 04 | menu inic ial ICTR 2004 – CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Costão do Santinho – Florianópolis – Santa Catarina DETERMINAÇÃO DA EMISSÃO DE COMPOSTOS GASOSOS A PARTIR DE LAGOAS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA REFINARIA DE PETRÓLEO UTILIZANDO CÂMARA ISOLADA DE FLUXO Waldir Nagel Schirmer Henrique de Melo Lisboa PRÓXIMA Realização: ICTR – Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável NISAM - USP – Núcleo de Informações em Saúde Ambiental da USP menu ICTR20 04 | menu inic ial DETERMINAÇÃO DA EMISSÃO DE COMPOSTOS GASOSOS A PARTIR DE LAGOAS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA REFINARIA DE PETRÓLEO UTILIZANDO CÂMARA ISOLADA DE FLUXO Autores: Waldir Nagel Schirmer 1 Henrique de Melo Lisboa 2 Resumo Indústrias relacionadas ao processamento de petróleo (petroquímicas e refinarias) constituem-se grandes poluidoras do ar atmosférico, uma vez que lançam para o ar grande carga de poluentes, principalmente de natureza orgânica. Numa planta desta natureza, as fontes poluidoras (e, por sua vez, geradoras de odor) são inúmeras, uma vez que compreendem fontes de naturezas distintas, muitas delas difíceis de serem determinadas (e até mesmo identificadas), o que acaba impossibilitando, conseqüentemente, um controle eficaz destas emissões. Dentre estas fontes, as evaporativas compreendendo lagoas de tratamento constituem-se um problema grave e de difícil controle em se tratando de emissões a partir de sua superfície. Isso porque fatores como elevada área superficial, turbilhonamento do efluente, pH fora da faixa ideal, etc. concernentes a fontes desta natureza acabam por elevar o particionamento de gases odorantes. O presente trabalho aborda questões específicas quanto à qualificação de gases oriundos de fontes evaporativas. O local de amostragem foi a lagoa de equalização para o tratamento dos efluentes industriais de uma refinaria. No processo de amostragem dos gases na lagoa, foi utilizada uma câmara de emissão isolada de fluxo (proposto pela USEPA, agência de proteção ambiental dos Estados Unidos) para estimar as emissões dos gases provenientes da superfície da lagoa de tratamento. A concentração destes gases deu-se em suporte adsorvente para posterior análise em cromatografia gasosa. A análise forneceu cromatogramas com vários picos, a maioria deles hidrocarbonetos aromáticos e alifáticos. Compostos como tolueno, benzeno, etilbenzeno e xilenos (BTEX) também foram identificados, e em quantidades representativas sobre os demais compostos. Palavras-chave: câmara dinâmica de fluxo, composto orgânico volátil, cromatografia gasosa, odor. 1 Engenheiro químico graduado pela UFSC, Mestre em Engª Ambiental pela UFSC. Professor adjunto do Depto. de Engª Sanitária e Ambiental da UFSC, Doutor em Poluição Atmosférica pela Université de Pau/Ecole des Mines d’Alès, França. 2 3220 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial Introdução Os compostos orgânicos voláteis estão entre os maiores poluentes atmosféricos, uma vez que deste grupo fazem parte milhares de compostos presentes no ar, tais como hidrocarbonetos (aromáticos e parafínicos), cetonas, aldeídos, álcoois, ácidos orgânicos, indóis, etc. Todos estes compostos são marcados por um forte caráter odorante e suas fontes de emissão compreendem tanto móveis (como é o caso dos veículos) quanto fixas (indústrias). No caso da indústria do refino do petróleo, as fontes de emissão são inúmeras, desde vazamentos de dutos e equipamentos, chaminés, sistemas de aquecimento até lagoas de tratamento de efluentes. O presente trabalho concentrou-se na amostragem e a análise de gases odorantes presentes em uma refinaria de petróleo, mais especificamente, na estação de despejos industriais da refinaria, visto que as estações de tratamento de águas residuais de plantas desta natureza figuram dentre as principais fontes antropogênicas de odores. A amostragem incluiu métodos normatizados pela Agência de proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA) e compreendeu a qualificação dos gases, tendo-se por base a concentração dos mesmos em suporte adsorvente para posterior análise em cromatografia gasosa/espectrometria de massa. Os gases abordados neste trabalho compreendem compostos orgânicos voláteis (COV), todos eles marcados por um forte caráter odorante. Materiais e métodos O trabalho focaliza a lagoa de equalização da estação de tratamento de efluentes (Figura 1) visto ser esta a primeira lagoa do sistema e, portanto, a mais passível de emitir odores. As lagoas de tratamento, por sua característica física, constituem-se fontes potenciais para a emissão de compostos odorantes uma vez que apresentam grandes áreas superficiais, turbilhonamento devido à aeração, elevadas temperaturas, pH muitas vezes fora da faixa ideal, etc. No caso da lagoa de equalização o problema é ainda mais grave (apesar de não contar com um sistema de aeração), devido a sua elevada carga residual. O procedimento experimental abrange 2 etapas distintas: amostragem dos gases em material adsorvente adequado aos compostos avaliados (COV) e análise do material coletado em cromatografia gasosa/espectrometria de massa. Figura 1 – Local de amostragem sobre a lagoa de equalização (LE). 3221 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial O esquema de amostragem é ilustrado na Figura 2. Figura 2 – Esquema da amostragem de gases com câmara de fluxo a partir da superfície da lagoa. A câmara vista no detalhe é colocada sobre a superfície da lagoa, onde flutua com o auxílio da bóia. Neste caso, a bomba B (da Figura 2) empurra o ar (gás de arraste) pela linha de amostragem até o interior da câmara, fazendo-o passar por um filtro de sílica gel e carvão ativado (para eliminar as impurezas do ar). A bomba A tem a função de succionar o ar (contaminado) para fora da câmara, uma vez que a bomba manual não tem potência suficiente para tal. A bomba manual succiona o ar fazendo-o passar pelos cartuchos contendo o material adsorvente (neste caso, carvão ativado Carbotrap® 2040 Mesh) ficando aí retido para posterior análise. Toda a vazão de ar do sistema teve que ser controlada de modo a deixar Q4 (vazão que passa pelos adsorventes) com valor de 120 mL/min. Assim, num tempo total de amostragem de 2 h, cada cartucho recolheu um volume de 14,4 L de ar. Conforme sugere o Método OM-08 da USEPA (que trata do uso da câmara de fluxo), as vazões de entrada e saída de ar no interior da câmara (Q1 E Q2) devem estar em torno de 5 L/min. O método de amostragem de COV em suporte adsorvente também é normatizado pela USEPA (Método TO-17). Neste caso, devido ao grande tempo de amostragem (2 horas), optou-se por trabalhar com dois cartuchos adsorventes em série (cartuchos duplos) já que, em caso de saturação do leito adsorvente do primeiro cartucho, os compostos passam a ser retidos pelo segundo. A análise destes gases (praticamente todos de natureza orgânica) foi feita em laboratório através de cromatografia gasosa com detecção por espectrometria de massa. O equipamento conta com um sistema de dessorção térmica (DTA) 3222 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial responsável pela extração dos gases retidos no suporte adsorvente. A coluna cromatográfica tem a seguinte configuração: capilar apolar com filme líquido PE 5MS (5% fenil-metilpolisiloxano), com 30 m de comprimento, 0,25 mm de diâmetro externo e 0,5 μm de espessura de filme, e vazão de gás de arraste (Hélio) de 1,0 mL.min-1. Tanto o cromatógrafo quanto o espectrômetro são da marca Perkin Elmer, modelos AutoSystem XL e TurboMass, respectivamente. A Tabela 1 mostra os parâmetros do dessorvedor térmico. TABELA 1 – Parâmetros do método criado para o DTA Temperatura (oC) Válvula Tubo Trap High Trap Low Linha de transferência Modo de operação do ATD: Velocidade de aquecimento: Tempo (min) 200 250 250 -30 260 Dessorção Trap hold Purga 20 5 1 Ciclo 42 Pneumática (mL/min) Dessorção Inlet split Outlet split Fluxo coluna Coluna 50 50 10 1,33 16 psi 2-stg Desorb 40 oC/min O cromatrógrafo tem como propósito separar individualmente os compostos dessorvidos no DTA por meio da coluna cromatográfica. Neste trabalho, o forno do cromatógrafo teve a seguinte programação: temperatura inicial de 33 oC sendo imediatamente aquecido a uma taxa de 2,0 oC/min até 50 oC, onde permaneceu por 3 minutos; a uma taxa de 8,0 oC/min, a temperatura chegou em 210 oC, completando a rampa de aquecimento (tempo total=31,50 min). Quanto ao espectrômetro de massa, os parâmetros utilizados na detecção dos compostos foram: mass range (m/z) = 30-300 (full scan, ou seja, varredura completa dos compostos); tempo de aquisição = 35 minutos. Resultados Do total de compostos identificados a partir dos cromatogramas, mais da metade (53%, nos dois casos) tratava-se de hidrocarbonetos aromáticos, incluindo HPA (tóxicos, devido à presença do anel benzênico); seguido pelos hidrocarbonetos parafínicos (alifáticos e cíclicos, com 21% do total), ocorrendo ainda compostos de outras funções orgânicas como álcoois, fenóis, amidas, aminas, cetonas, ácidos orgânicos e indóis, todos compostos odorantes (principalmente os ácidos e indóis). Além disso, os maiores picos (e, portanto, os compostos de maior concentração) referiam-se a hidrocarbonetos aromáticos; os BTEX também apareceram com uma concentração bastante elevada. Das 3 corridas realizadas no mesmo local da lagoa, todas elas apresentaram resultados (cromatogramas) muito semelhantes, demonstrando assim uma excelente repetibilidade da câmara. Nas três amostragens realizadas, utilizou-se uma vazão constante e relativamente elevada de 5 L/min (sugerido pela USEPA). Uma das vantagens em se trabalhar com uma vazão de ar elevada é a minimização dos problemas de umidade, muito comuns em amostragens desta natureza. O método de amostragem com câmara de fluxo constitui-se um método eficiente na amostragem de compostos, uma vez que apresenta excelente adequação a métodos de análise com 3223 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial baixo limite de detecção; obtém dados de emissão altamente precisos e com baixo custo; exige mínima mão-de-obra para operação e é aplicável a vários tipos de superfícies (inclusive sólidas). O trabalho não previu a quantificação dos gases, embora isto pudesse ser avaliado em função do equipamento analítico disponível. Conclusões e discussão No teste físico-químico por adsorção, tanto os métodos de amostragem quanto de análises foram suficientes e eficientes na avaliação dos ambientes estudados. Até porque os parâmetros de análises utilizados neste trabalho (como melhor rampa do CG, etc.) não foram meramente experimentais; já haviam sido definidos em análises a partir do efluente da lagoa como sendo os mais apropriados. Com relação à amostragem com cartuchos em série, pode-se concluir que, qualitativamente, o segundo cartucho poderia ser dispensado, uma vez que os mesmos compostos identificados no segundo já tinham sido verificados no primeiro da série. Quantitativamente, entretanto, o segundo cartucho seria indispensável, uma vez que a quantidade total de um determinado composto amostrado é o somatório do conteúdo dos dois leitos adsorventes. Os cromatogramas apontaram a predominância de hidrocarbonetos aromáticos e parafínicos. Muitos dos picos presentes nos cromatogramas que foram pequenos demais a ponto de terem sido identificados pelo software do TurboMass podem corresponder a compostos que contribuem fortemente para a formação do odor. A emissão dos gases a partir da superfície da lagoa foi dependente ainda das condições a que se encontrava o ambiente avaliado. Fatores como temperaturas do efluente e do ar, acidez e concentração do efluente, radiação solar, direção e velocidade do vento, por exemplo, foram alguns dos responsáveis pelo maior ou menor particionamento líquido-ar dos gases. Aspectos concernentes à amostragem também influenciaram: no caso da câmara de fluxo, por exemplo, pode-se afirmar que todos os compostos encontrados na fonte avaliada eram exclusivos desta. Assim, onde não for possível o uso da câmara de fluxo, recomenda-se que o local amostrado seja bem próximo da sua fonte, afim de tornar a coleta o mais significativa possível em termos de representatividade daquela fonte, minimizando a contribuição de outras. Referências bibliográficas KINBUSH, M. Measurement of gaseous emissions rates from land surfaces using na emission isolation flux chamber: User’s guide. United States Environmental Protection Agency: Contract n.68-02-3889, WA18 (EPA/600/8-86/008): Method OM-8. Austin, 1986. 53p. LISBOA, H. M. Contribution à la mise en oeuvre et à la validation de modèles de dispersion atmosphérique applicables aux composés odorants. 1996. 195f. Tese (doutorado em química e microbiologia da água) - Université de Pau et des Pays de l’Adour, Alès (France). 3224 anter ior próxima menu ICTR20 04 | menu inic ial UNITED STATES ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY (USEPA). Compendium of Methods for the determination of toxic organic compounds in ambient air Determination of volatile organic compounds in ambient air using active sampling onto sorbent tubes. Method TO-17, 2nd edition. Cincinnati, 1997b. 49p. 3225 anter ior próxima Abstract The operation of petroleum refinery is related to emission of several substances into atmosphere. Most of these processes are associated to emission of odor compounds, including volatile organic compounds (VOC’s), like hydrocarbons (aliphatic and aromatic), alcohols, ketones, organic acids, etc., all of them with a strong bad smell. Moreover, from an environmental point of view, it’s necessary to limit and control vapour emissions because they affect the change of climate, the growth and decay of plants and mainly, the health of humans and animals. This work has focused on sampling and analysis of odor compounds (VOC’s) in a refinery wastewater station. The sampling stage included standardized methods by U.S. Environmental Protection Agency [Methods TO-17 and OM-08 (this last includes the sampling with isolation flux chamber)] that concerns the qualitative measures of these compounds. Regarding to VOC’s, the gases pre-concentration was carried out through adsorption in adsorbents tubes to analyze in gas chromatography/mass spectrometry. Results showed many hydrocarbons, like toluene, benzene, etilbenzene and xylenes (BTEX), these in a large amount over the others. Key-words: gas chromatography, isolation flux chamber, odor, volatile organic compound. 3226