Respostas a questionários autoavaliativos em processos seletivos (2) Neste segundo artigo sobre a alteração das respostas nos testes autodescritivos em processos seletivos, vamos explicitar o desafio do psicometrista que cria um teste. Apesar de o bom senso pretender que os candidatos a um emprego são motivados a mostrarse de forma excessivamente positiva quando respondem a testes de personalidade em processos seletivos, vários estudos empíricos pretendem que a distorção devida às respostas positivas tem finalmente pouco impacto sobre o construto e validade preditiva dos inventários de personalidade. Especificamente, Smith e Ellingson (2002) constataram que, em condições reais (e não com base em instruções destinadas a induzir artificialmente respostas socialmente desejáveis), a distorção de respostas positivas teve pouco impacto sobre a validade de construto das medidas de personalidade. A pesquisa identificou vários tipos de distorção de respostas que afetam potencialmente de forma negativa a qualidade dos resultados diminuindo drasticamente o valor preditivo nos processos de seleção. Além da problemática por parte do respondente, do não entendimento do teste, da falta de concentração, de respostas dadas ao acaso, de erros na transcrição das respostas, do efeito halo, da aquiescência, da denegação, etc. – problemas solucionados nos instrumentos de Método Funcional graças aos índices de controle - existe o fenômeno de autoengano inconsciente (devido à desejabilidade social) e a manipulação consciente das respostas (falsificação). O autoengano refere-se à tendência de dar respostas positivas que os respondentes acreditam ser verdade (Paulhus, 1984). Guion&Gottier (1965) sugerem que as respostas de autoengano ocorrem quando o respondente tem pouca autopercepção, ou de forma inconsciente, usa o teste para apresentar uma autoimagem idealizada. Por outro lado, a falsificação (ou seja, o gerenciamento da própria imagem no intento de impressionar o interlocutor) envolve uma tentativa deliberada de enganar para criar uma impressão favorável nos outros (Paulhus, 1984). A desejabilidade social foi definida por Fordyce em 1956 como um consenso de julgamentos no que diz respeito a todos os aspectos de comportamento, sentimentos ou atitudes que são aprovados pela sociedade. Edwards (1957) define a tendência a responder num sentido socialmente desejável como a tendência a escolher, para descrever-se, respostas que são consideradas como desejáveis nos outros, enquanto Marlowe & Crowne (1960) – autores da escala de desejabilidade social mais utilizada no mundo - concebem esta tendência como a expressão de uma necessidade de aprovação social. A desejabilidade social é objetivada pelos julgamentos de um grupo de peritos ou de sujeitos representativos de uma determinada sociedade implicada. Disto resulta uma escala de desejabilidade que representa um modelo do que é desejável nos outros, inspirando o sujeito a responder num sentido socialmente desejável com o intuito de obter uma vantagem real ou simbólica. A desejabilidade social fez o objeto de estudos já antigos (Marlowe & Crowne, 1960) que mostraram que podia variar em função das instruções dadas aos juízes, mas que a sua coerência através de diversos grupos é elevada (.80 ou mais), idem por suas relações com a © Moityca Eficiência Empresarial 1 popularidade (frequência das respostas) que se situa no mesmo nível. Contudo, Tellegen (1988) sugere que a relação entre a desejabilidade e a popularidade seja susceptível de variar em função do conteúdo dos itens: No contexto de ajustamento e normalidade, a relação deveria ser muito forte. No contexto de qualidade social, moral ou intelectual, deveria ser menos forte. Resumindo, a desejabilidade social é um consenso de julgamentos relativos um conjunto de itens que aparece estável através diversos grupos, mas susceptível de variar em função da natureza dos itens e/ou das instruções utilizados. Isto significa que a característica dos itens não parece tão problemática quanto à verdadeira falsificação das respostas, que depende essencialmente da maneira de responder do sujeito. É por isso que Messick (1960) propõe que seria mais interessante estudar a desejabilidade social ao nível individual ao lugar de abordar sua realidade ao nível coletivo. Em um próximo artigo explicitaremos ainda mais o conceito de desejabilidade social e suas diferentes facetas de acordo com a literatura existente. Porém, desde já, podemos afirmar que a proposta de Messick (1960) se revela particularmente estimulante e desafiadora para qualquer psicometrista: medir a desejabilidade de um ponto de vista idiográfico, enquanto os instrumentos utilizados só fornecem resultados nomotéticos. A tarefa se revela Missão Impossível... apesar de inúmeros artifícios, como, por exemplo, a utilização de itens com respostas ipsativas, a menos que se utilize os instrumentos de Método Funcional. Querendo aprofundar o assunto entre em contato com o autor. Renzo Oswald São Paulo, outubro de 2012 Para conhecer mais sobre o assunto: EDWARDS, A. L. (1957). The social desirability variables in personality assesment and research. New York, Dryden. GUION, R. M., & GOTTIER, R. F. (1965). Validity of personality measures in personnel selection. Personnel Psychology, 18, 135-164. MARLOWE, D. & CROWNE, D. P. (1960). A new scale of social desirability independent of psychopathology. Journal of consulting psychology 24, 349 – 354. MESSICK, S. (1960). Dimensions of social desirability. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 24, 279 – 287. ONES, D. S., VISWESVARAN, C., & REISS, A. D. (1996). Role of social desirability in personality testing for personnel selection: The red herring. Journal of AppliedPsychology, 81, 660-679 PAULHUS, D. L (1984) . Two-component models of socially desirable responding . Journal of Personality and Social Psychology, 46, 598-609. SMITH, D.B., & ELLINGSON, J.E. (2002). Substance versus style: A new look at social desirability in motivating contexts. Journal of Applied Psychology, 87(2) 211-219. TELLEGEN, A. (1988). The analysis of consistency in personality assessment. Journal of Personality, 56, 621 – 663. © Moityca Eficiência Empresarial 2