CALL CENTER: VARIÁVEIS QUE PREJUDICAM A QUALIDADE DO ATENDIMENTO Andréa Rodrigues Silveira, Eliane Aparecida Arantes, José Alves Barros Neto, Leonardo Alves dos Santos, Maíra Monteiro Ferreira1, Profa. Msc. Ana Cabanasn 1,2,3,4,5, n Faculdade Anhanguera de São José/ Administração. Av. João Batista de Souza Soares, 4121, Colônia Paraíso, São José dos Campos- SP- 12236-660 1 2 3 [email protected] [email protected]; [email protected]; 4 5 n [email protected]; [email protected]; [email protected] Resumo- A terceirização é lucrativa às empresas, mas o atendimento ao cliente fica aquém das expectativas. Por isso, nesta pesquisa de campo com caráter qualitatitativo, o objetivo foi identificar os principais problemas ocorridos durante o atendimento no Call Center e verificar os fatores que influenciam na insatisfação do cliente. Aplicou-se um questionário com dez questões em 51 teleatendentes do ramo de TV por assinatura de São José dos Campos-SP. Os resultados indicam que dentre os principais problemas estão falta de treinamento adequado, desorganização, falta de controle e não investimento em softwares e tecnologias que propiciem a melhora no relacionamento com o cliente. Além do conhecimento superficial dos teleatendentes que geram omissão de informações ou estas de maneira inadequada, verificaram como aspectos negativos à satisfação do cliente: não cumprimento das ações e tempo de espera. Conclui-se que, mesmo que gostem do que fazem no trabalho, a (in)satisfação do profissional de telemarketing é resultante de remuneração inadequada, falta de incentivo financeiro aos estudos e investimento em treinamento e desenvolvimento. Palavras-chave: Telemarketing. Qualidade em serviços. Marketing. Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas / Administração. Introdução O ritmo de mudança é tão rápido que as competências e as habilidades de melhor atender ao cliente é vantagem competitiva. À medida que se aceleram as empresas não podem mais confiar em suas antigas práticas de negócios para manter a prosperidade. As empresas estão atentas sobre a importância do crescimento do setor de serviços, pois evidencia a qualidade e a credibilidade perante os clientes (LOVELOCK; WRIGHT, 2001). Embora, muitas vezes, não se atentem à importância da qualidade do atendimento dos serviços prestados no Call Center. Principalmente, no século XXI, o setor de serviços é o grande gerador de empregos, porque as empresas investem no front office. No entanto, está cada vez mais difícil obter sucesso sem prestação de serviços com qualidade ao cliente, ramo de atividade que tem sido, cada vez, mais terceirizado, seja no setor de vendas ou de pósvendas. Todavia, é durante este processo que se observa o nível de satisfação do cliente para com o produto/serviço. Como revelado por Kotler, Hayes e Bloom (2002), para o desenvolvimento de relacionamento com o cliente é indispensável tempo e dedicação, apoiando-se quatros pilares: confiança, conhecimento sobre o cliente, acessibilidade ao cliente e tecnologia. É por meio da qualidade do atendimento oferecido que se pode influenciar o cliente a continuar com o produto/ serviço mesmo este tendo algumas insatisfações anteriores ou mesmo fazê-lo desistir do produto ou serviço. Nesse sentido, o propósito, neste estudo, identificar os principais problemas ocorridos durante o atendimento no Call Center e verificar os fatores que influenciam na insatisfação do cliente. Metodologia Na pesquisa de campo de caráter qualiquantitativo se utilizou o método de abordagem dedutivo com procedimento funcionalista. A coleta de dados ocorreu no setor de Ativo de Cobrança de uma empresa de Call Center localizada em São José dos Campos-SP, a qual, atualmente, conta com mais de seis mil colaboradores, sendo 250 do setor de ativo de cobrança do ramo de TV por assinatura. Porém, para este estudo foram selecionados 51 teleatendentes (20,4% dos funcionários) de ambos os gêneros com, no mínimo, Ensino Médio. Respeitando os aspectos éticos da Resolução nº 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), para não divulgar o nome de cada sujeito, criaram-se denominações fictícias conforme o vocabulário utilizado em Call Center. O roteiro de perguntas, aplicado na técnica de questionário para não prejudicar a rotina do XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 trabalho, continha dez questões (cinco fechadas; três semiabertas; e duas abertas). Tabela 5 – Autoavaliação do atendimento ao cliente na escala de 1 a 10 (n=51) RU Resultados Escala N % 1 0 0 Os 51 sujeitos da pesquisa que atuam em telemarketing responderam às questões voltadas à forma de atendimento praticada, como exposto nas Tabelas 1, 2, 3, 4 e 5. 2 0 0 3 0 0 4 0 0 5 1 2,0 Tabela 1 – Conhecimento sobre procedimentos, normas e padrões internos para exercício da função (n=51) RU 6 1 2,0 7 4 7,8 8 22 43,1 9 15 29,4 Critérios N % Sim 28 54,9 10 5 9,8 Não 21 41,2 Em branco 3 5,9 Em branco 2 3,9 51 100 51 100 Total “Somente o básico.” (LyriCall) “Sim agora, por que muita coisa eu tive que aprender na prática pq não aprendi no treinamento.” (Logoff) “Mas como é meu primeiro contato com esse tipo de serviço, e por isso me deixa inseguro” (Wiset) “+ ou – tem coisa que eu fico perdida” (Inad. Total) Total Os principais questionamentos e a insatisfação dos clientes também foram variáveis deste estudo, apontados nas Tabelas 6, 7 e 8. Tabela 6 – Registro de reclamações de clientes insatisfeitos por omissão de informações ou inadequação destas (n=51) RU Critérios N % Sim 49 96,1 Não 2 3,9 51 100 Tabela 2 – Avaliação do treinamento oferecido pela empresa (n=51) RU Critérios N % Excelente 1 2,0 Bom 18 35,3 Satisfatório 17 33,3 Ruim 14 Péssimo 1 Total 51 N % 27,4 Venda 39 76,4 2,0 Suporte 6 11,8 100 Cobrança 2 3,9 N % Sim 49 96,1 Não 2 3,9 51 100 Total Tabela 7 – Setor responsável pelas reclamações de clientes insatisfeitos por omissão de informações ou inadequação destas (n=51) – RU Setor Tabela 3 – Informações necessárias ao cliente (n=51) RU Critérios Total Pós-venda 1 2,0 Reversão 1 2,0 Em branco Total 2 3,9 51 100 Tabela 8 – Avaliação sobre o quesito que gera insatisfação do cliente (n=126) – RM Quesito de Insatisfação Tabela 4 – Aceita receber o mesmo tratamento que realiza ao cliente (n=51) RU Critérios N % Sim 48 94,1 Não 3 5,9 51 100 Total N % Não cumprimento das ações 35 27,8 Tempo em espera 32 25,4 Falta de resolução imediata 31 24,6 Informações confusas 28 22,2 126 100 Total “Os boletos ñ chega na Res. Os cancelamentos ñ são efetuados e as promessas ñ são cumpridas” (Mailing) XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 “Todos reclamam no ligar para 10699, dizem que o tempo de espera é excessivo e sempre fazer uma reciclagem p/ que todos realizem o mesmo procedimento.” (BPO) “O call Center não é visto por muitos como uma empresa respeitável, ele precisa mudar isso e isso só vai acontecer quando os teles forem tratados com mais respeito!” (Via certa) A amostra de 51 teleatendentes também foi indagada acerca das possíveis aspectos que a motivasse a melhorar a execução da função, como explicitado nas Tabela 9 e 10. Tabela 9 – Prazer no trabalho (n=51) RU N % Sim Critérios 34 66,6 Não 15 29,4 Às vezes 1 2,0 Em branco Total 1 2,0 51 100 Tabela 10 – Fatores motivacionais para melhora do desempenho nas funções (n=127) – RM N % Melhor remuneração Fatores motivacionais 43 33,9 Bolsa de estudo 33 26,0 Bem estar 23 18,1 Elogio 15 11,8 13 10,2 127 100 Outros Total Dentre outros aspectos, foram indicados: “Os supervisores dar valor nos colabores” (Had Set) “Melhoria no sistema problemas” (T3) que sempre dão “Gratificação” (Status) “Melhor comunicação entre os funcionarios em geral.” (Discador) “A individualidade aqui é bem grande começando no treinamento até a operação isso deveria melhorar. Se tivesse um espaço gostoso e legal onde pudéssemos descansar nas pausas com TV e sofás, pois lá fora só encontramos fumantes a cada canto que sentamos, e como trabalhamos muito com a mente precisamos de um momento p/ relaxar.” (Suporte) Discussão Os resultados indicam que fatores como falta de treinamento adequado (Tabela 1), organização e controle (Gráfico 1), e investimento em softwares e tecnologias (Tabela 4), juntamente com a desmotivação dos funcionários por falta de reconhecimento e valorização prejudicam a qualidade do atendimento (Gráfico 5 e Tabela 5). Lovelock (2010) destaca que quando existe orientação para os clientes, treinamentos de funcionários para um bom atendimento e os cientes sentem que o serviço prestado é superior ao esperado. Esta percepção da qualidade de serviço faz com que o funcionário esteja menos propenso a sair da empresa, pois não é recompensador um ambiente onde os serviços são deficientes e os clientes insatisfeitos. Apesar da maioria (54,9%) da amostra de atendentes alega ter conhecimento sobre procedimentos, normas e padrões internos para o exercício da função (Gráfico 1), mas, apenas 2% julgaram o treinamento como excelente. Quando os teleatendentes amostrados que responderam ter conhecimento, justificaram a resposta, o conhecimento pareceu ser muito superficial. Os apontamentos estão ligados à falta de treinamento adequado e falta de clareza, consistência e organização na hora de ser informado sobre os procedimentos e as práticas exigidos. O que afeta diretamente o atendimento ao cliente devido à falta de informação necessária, que causa a não resolução do problema e na insatisfação do cliente, principalmente no setor em análise: “cobrança”. Os fatores-chave de sucesso do Call Center residem na autonomia durante o relacionamento com o cliente e no comprometimento das outras áreas da empresa que precisam estar alinhadas com a missão do canal de relacionamento (BRETZKE, 2005). Passar todas as informações necessárias para o cliente é muito importante, mesmo quando se sabe-que a reação quanto à informação não será muito agradável. Pois, a omissão de informações pode acarretar problemas futuros, exemplo a não aceitação do cliente a normas existentes e não informadas e, consequentemente, insatisfação e desligamento do cliente para com a empresa. Os resultados apontam que 96,1% da amostra oferecem informações necessárias aos clientes (Gráfico 2), porém, apenas 9,8% se autoavaliam como critério 10 no atendimento ao cliente (Tabela 2), mesmo assim, 98,% dos amostrados aceita receber o mesmo atendimento que oferece ao cliente (Gráfico 3). Segundo Cobra (2003), o Call Center só será bem sucedido se for também um centro de contato. Por meio de ampla visão em 360 graus do cliente, a empresa deve visualizar toda e qualquer informação que desejar acerca de seus clientes. Sistemas de software do tipo CSR e equipe de atendimento ao cliente deverão estar a postos 24 horas por dia. XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 Ao se deparar com a grande variedade de produtos e serviços oferecidos no mercado, os clientes optam por escolher aqueles que mais lhe agregam valor e satisfação (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). O que não ocorre com frequência, conforme o parecer dos amostrados neste estudo à respeito do registro de reclamações de clientes insatisfeitos por omissão de informações ou inadequação, 96,1% comentaram que tal fato ocorre (Gráfico 4). O setor que mais registra reclamações é o de vendas (76,4%), como demonstrado na Tabela 3. Dentre os quesitos que mais geram insatisfação do cliente (Tabela 4) estão: não cumprimento das ações (27,8%) e tempo de espera (25,4%). Uma das principais funções do canal de relacionamento é atender ao cliente em tempo real, por qualquer meio disponibilizado. Integra-se às diversas funções de telemarketing, num fluxo integrado de ações, que respeita o ciclo de relacionamento do cliente com a empresa, orientando-se pela informação disponibilizada por database marketing – gerenciamento de um sistema dinâmico de banco de dados inteligíveis, atualizados, com informações relevantes sobre os clientes atuais e potenciais (GONÇALVES; JAMIL; TAVARES, 2002,). Como a qualidade do serviço prestado ao cliente é decorrente da (in)satisfação do profissional que trabalha no Call Center, abordaram fatores que pudessem interferir no relacionamento com o cliente. Os resultados revelaram que 66,7% dos teleatendentes amostrados sentem prazer no que fazem, por outro lado, acreditam que ações como a melhora da remuneração (33,9%) e a oferta de bolsa de estudo (26,0%) poderiam fazer diferença na motivação laboral (Gráfico 5 e Tabela 5). Contudo, mesmo gostando do que fazem, com o passar do tempo fatores como repetição excessiva de atividades, não reconhecimento, mal remuneração e falta de oportunidade de crescimento profissional, torna os atendentes desmotivados e aumenta a rotatividade de funcionários, fazendo com que os atendentes que continuam a trabalhar na empresa fiquem ainda mais desmotivados e prestem uma atendimento cada vez pior. Conforme Norma Regulamentador (NR)17, o empregador deve “permitir a adaptação das condições de trabalho às características psicológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente”. Conclusão Em empresas que não remunerem devidamente os cargos, com clima organizacional entediante, funções repetitivas e com treinamento mínimo, o serviço tende a ser deficiente e a rotatividade alta. Tanto de clientes quanto de funcionários. A empresa consome todos os seus recursos tentando recrutar novos clientes e novos funcionários. Conclui-se que as pessoas satisfazem necessidades e desejos com produtos e serviços, os quais podem ser oferecidos ao mercado para apreciação, aquisição, uso ou consumo. Porém, o suporte ao cliente, indispensável para o crescimento da empresa, também pode se tornar um fracasso se não se não pautado na excelência do atendimento ao cliente. Quando o funcionário é de longo prazo, dedicados aos clientes, bem informados e motivados, o desempenho organizacional deverá ser melhor atendimento e maior retenção de clientes. Referências BRETZKE, M. Marketing direto. In: DIAS, S. R. (Coord.). Gestão de marketing. São Paulo: Saraiva, 2005. p.395-439. COBRA, M. H. N. Administração de marketing no Brasil. São Paulo: Cobra, 2003. GONÇALVES, C. A.; JAMIL, G. L.; TAVARES, W. R. Marketing de relacionamento: database marketing: uma estratégia para adaptação em mercados competitivos. Rio de Janeiro: Axcel, 2002. KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de marketing.9 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003. KOTLER, P.; HAYES, T.; BLOOM, P. Marketing de serviços profissionais. 2 ed. Barueri: Manole, 2002. LOVELOCK, C.; WRIGHT, L. Serviços: marketing e gestão. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2001. MINISTÉRIO DO TRABALHO E DO EMPREGO (MTE). NR 17. Disponível em: http://portal.mte.gov.br/data/files/FF8080812BE91 4E6012BEFBAD7064803/nr_17.pdf Acesso em: 29 maio 2012. XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 4