PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Administração GESTÃO DO CONHECIMENTO EM EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇOS DE TECNOLOGIA Vanderlei Lopes Barbosa Belo Horizonte 2011 Vanderlei Lopes Barbosa GESTÃO DO CONHECIMENTO EM EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇOS DE TECNOLOGIA. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Administração Profissional da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração. Orientadora: Profª Drª Simone Costa Nunes Belo Horizonte 2011 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais B238g Barbosa, Vanderlei Lopes Gestão do conhecimento em empresa prestadora de serviços de tecnologia / Vandelei Lopes Barbosa. Belo Horizonte, 2011. 134f.: Il. Orientadora: Simone Costa Nunes Co-Orientador: Antônio Moreira Carvalho Neto Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. 1. Gestão do conhecimento. 2. Comunicação na tecnologia. I. Nunes, Simone Costa. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de PósGraduação em Administração. III. Título. CDU: 658.011.8 “Família das flores Existem muitas famílias de flores Família de rosa Família de violeta Mas juntando todas as famílias vai ser uma linda bela família de flor”. Maria Gabriela Reis Barbosa, 8 anos. À minha esposa, Tatiane, e aos meus filhos, Maria Gabriela e Francisco, pelo amor infinito que sinto por eles. Aos meus pais, pelo exemplo de honestidade e simplicidade. AGRADECIMENTOS Chegar até aqui não foi tarefa fácil, e talvez esta seja uma das páginas mais difíceis de serem escritas. Muitas foram as torcidas para que chegasse este momento, desta forma, eu o faço com todo zelo, para evitar que alguém seja esquecido. Ao professor Dr. João Francisco, agradeço por ter dado o “chute inicial”, ao sugerir a minha ida para o mestrado em Administração da PUC. Ao sempre simpático professor Toninho, coordenador deste mestrado, meu reconhecimento, por ter colaborado desde o primeiro dia em que o procurei para conversar sobre o mestrado. À minha querida orientadora, professora Simone, minha imensa gratidão por tudo; só Deus sabe o quanto com ela aprendi e, sem sua contribuição e persistência, este trabalho não teria sido concluído. Aos competentes professores do mestrado, sou grato pelos ensinamentos e contribuições durante o curso. Aos colegas do mestrado Renato, Alessandro e Deibson, agradeço a dedicação e amizade durante o mestrado. Ao Marquinhos e à Jaqueline, da Secretaria do mestrado, sou grato pela disposição em ajudar, sempre que foram demandados. À empresa Alpha e aos empregados que se dispuseram em participar desta pesquisa. Ao meu amigo e companheiro, Miguel Cangussu, por ser parceiro e acreditar neste projeto. Ao Luiz Antônio Ribeiro, o Luizinho, minha gratidão, grande professor de pesquisa qualitativa, pessoa que sofreu ao meu lado e, nos seus ensinamentos, sempre acreditou no meu potencial. À PUC, pela concessão da bolsa de estudos para a realização do mestrado. A Deus, pelo dom da vida, minha fonte de inspiração e saber. Por último, mas o mais importante, à minha esposa Tatiane, minha princesa Maria Gabriela e meu príncipe Francisco, que sofreram durante dias e noites com minha ausência, mas que sabem o quanto este trabalho é importante para nossa vida. RESUMO Este trabalho teve como objetivo estudar a gestão do conhecimento em uma empresa prestadora de serviços de tecnologia vinculada a uma instituição de ensino brasileira. O estudo teve como base o modelo de gestão do conhecimento proposto por Nonaka e Takeuchi (1997), conhecido como espiral do conhecimento, onde pode existir a socialização, internalização, combinação e externalização do conhecimento. Trata-se de um estudo de caso com estratégia de pesquisa qualitativa, realizado por entrevistas com questionário semiestruturado. Foram analisadas as práticas utilizadas pela empresa para criar, adquirir, registrar, socializar e converter o conhecimento tácito ou explícito. Concluiu-se com o estudo que a empresa não gerencia o seu conhecimento de forma organizada e planejada, e que a gestão do conhecimento pode ser um importante instrumento de diferencial competitivo das empresas no mercado. Palavras-chave: Gestão do conhecimento. Conhecimento. Conhecimento tácito. Conhecimento explícito. ABSTRACT This work aimed to study knowledge management in a company that provides technology services related to a Brazilian educational institution. The study was based on the knowledge management model proposed by Nonaka and Takeuchi (1997), known as the spiral of knowledge, where there may be socialization, internalization, combination and externalization of knowledge. This is a case study with qualitative research strategy, carried out by interviews with a semistructured questionnaire. Practices employed by the company to create, acquire, record, convert and socialize tacit or explicit knowledge were analyzed by this work. The study concluded that the company doesn’t manage its knowledge in an organized and planned way, and that knowledge management can be an important tool for competitive advantage of firms. Keywords: Knowledge knowledge. management. Knowledge. Tacit knowledge. Explicit LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Desenho do “ba” ...................................................................................33 FIGURA 2 Espiral do conhecimento ......................................................................38 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 Definição do conceito de gestão do conhecimento .........................25 QUADRO 2 Modelos de gestão do conhecimento................................................29 QUADRO 3 Fatores desmotivadores e inibidores do gestão do conhecimento53 QUADRO 4 Codificação da amostra da pesquisa ................................................61 QUADRO 5 Organização das categorias de análise.............................................62 QUADRO 6 Processo de criação e aquisição do conhecimento.........................68 QUADRO 7 Processo de conversão do conhecimento........................................77 QUADRO 8 Processo de utilização do conhecimento .........................................89 QUADRO 9 Processo de proteção do conhecimento ..........................................96 QUADRO 10 Tendências e competências exigidas pelo mercado de tecnologia da informação .......................................................................................................100 QUADRO 11 Resumo das práticas de gerenciamento do conhecimento ........103 QUADRO 12 Processos tecnológicos da gestão do conhecimento .................106 QUADRO 13 Avaliação da estrutura ....................................................................111 QUADRO 14 Resumo dos aspectos culturais.....................................................115 QUADRO 15 Práticas de gestão do conhecimento no modelo SECI ................118 LISTA DE TABELAS TABELA 1 Unidades de observação......................................................................58 TABELA 2 Sujeitos da pesquisa ............................................................................58 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................14 2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................18 2.1 Conhecimento: definição e características.....................................................18 2.2 Gestão do conhecimento: definição e características...................................23 2.2.1 Processo de gestão do conhecimento .........................................................28 2.2.2 O modelo de pesquisa: Nonaka e Takeuchi e os quatro processos para a gestão do conhecimento ........................................................................................33 2.2.3 Fatores intervenientes na gestão do conhecimento ...................................42 2.2.3.1 A confiança no processo de transferência de conhecimento................42 2.2.3.2 Aprendizagem organizacional....................................................................46 2.2.3.3 Obstáculos no aprendizado .......................................................................48 2.2.3.4 A cultura como base para aprendizagem organizacional........................49 2.2.3.5 Fatores desmotivadores e inibidores para a geração do conhecimento 51 3 METODOLOGIA DA PESQUISA...........................................................................55 3.1 Estratégia, tipo e método de pesquisa ............................................................56 3.2 Unidades de análise e observação da pesquisa ............................................59 3.3 Estratégia de coleta de dados..........................................................................60 3.4 Estratégia de análise dos dados.....................................................................63 4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS......................................................65 4.1 Processo de criação e aquisição do conhecimento ......................................65 4.2 Processo de conversão do conhecimento......................................................72 4.3 Processo de utilização do conhecimento .......................................................82 4.4 Processo de proteção do conhecimento .......................................................94 4.5 Gestão do conhecimento..................................................................................98 4.5.1 Cenário e competências exigidas no mercado de tecnologia da informação ...............................................................................................................99 4.5.2 A gerência do conhecimento ......................................................................103 4.6 Tecnologia .......................................................................................................105 4.7 Estrutura .........................................................................................................109 4.8 Cultura..............................................................................................................114 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................119 REFERÊNCIAS.......................................................................................................124 APÊNDICE A ..........................................................................................................133 14 1 INTRODUÇÃO A gestão do conhecimento é, na gestão organizacional, uma área que vem merecendo uma atenção crescente. Se há pouco mais de uma década o conhecimento não era reconhecido como um recurso valioso da organização, hoje, ele se afirma largamente como um recurso estratégico, podendo ser considerado como base e sustento das vantagens competitivas. A atenção que lhe é dedicada em termos de gestão é, assim, correspondente à importância que lhe é conferida para o sucesso empresarial (NICOLAU, 2003). Nas organizações, a gestão do conhecimento passa, necessariamente, pela compreensão das características e demandas do ambiente competitivo e, também, pelo entendimento das necessidades individuais e coletivas associadas aos processos de criação e aprendizado (TERRA, 2005). A definição de conhecimento amplamente aceita é a de Polanyi (apud NONAKA; TAKEUCHI, 1997), que o aborda sob dois aspectos: o conhecimento tácito e o conhecimento explícito. O aproveitamento do conhecimento explícito nas organizações é bem mais fácil, por ser codificado ou pelo menos codificável, e transita de forma relativamente clara nos domínios da organização. O problema colocado pelos pesquisadores do conhecimento, como Nonaka e Takeuchi (1997) reside em como transformar o conhecimento tácito em explícito. Notadamente, no aproveitamento deste conhecimento para o sucesso das organizações, num processo conhecido como gestão do conhecimento. A esse respeito, os autores Davenport e Prusak (1998) propõem que o conhecimento deve ser alinhado e avaliado segundo a contribuição dos empregados para a melhoria do nível de conhecimento da empresa. Apresentam como exemplo uma grande empresa de consultoria que reformulou seus sistemas de avaliação de desempenho para incluir contribuições para o banco de conhecimento da firma como fator importante para decisões relativas à remuneração. A gestão do conhecimento procura compreender, a partir dos avanços nas tecnologias de informática e de telecomunicações, e das conclusões das teorias sobre criatividade e aprendizado individual e organizacional, como os investimentos 15 nessa área podem de fato aumentar a capacidade de gerar, difundir e armazenar conhecimento de valor para as empresas (TERRA, 2005). Esta pesquisa buscou analisar os quatro modos de conversão do conhecimento criados a partir da interação entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito, definidos como: socialização, externalização, combinação e internalização. Esses modos são os que o indivíduo experimenta. São também os mecanismos, por meio dos quais o conhecimento individual é articulado e “amplificado” na organização (NONAKA; TAKEUCHI 1997). Desta forma, o objetivo geral desta pesquisa consiste em discutir se e como uma organização que presta serviços de tecnologia da informação socializa, externaliza, combina e internaliza o conhecimento, transformando-o em conhecimento organizacional. Dentre os objetivos específicos definidos para atingir o principal, encontram-se: discutir se existe o processo de socialização do conhecimento na organização; verificar quais as práticas existentes na organização, para externalização do conhecimento; analisar se a organização utiliza procedimentos para a combinação do conhecimento; estudar se existem mecanismos usados para a internalização do conhecimento na organização; avaliar se ocorre o processo de transformação do conhecimento individual em conhecimento organizacional e sua retenção. Autores como Terra (2005) e Stewart (1998) demonstram que, de um lado, é evidente que estamos vivendo em um ambiente cada vez mais turbulento, onde vantagens competitivas precisam ser, permanentemente, reinventadas e onde setores de baixa intensidade em tecnologia e conhecimento perdem, inexoravelmente, participação econômica. Neste contexto, o desafio de produzir mais e melhor vai sendo suplantado pelo desafio, permanente, de criar novos produtos, serviços, processos e sistemas gerenciais. Por sua vez, a velocidade das transformações e a complexidade crescente dos desafios não permitem mais concentrar esses esforços em alguns poucos indivíduos ou áreas das organizações. Stewart (1998) trata desse assunto ao afirmar que, para o desenvolvimento, a estruturação, o uso e o aperfeiçoamento das competências organizacionais necessárias são fundamentais para que esteja presente um processo de gestão do conhecimento na empresa. Os desafios relacionados à adoção das práticas e modelos associados à gestão do conhecimento não são triviais. Neste sentido, é preciso avaliar as várias 16 experiências (estudos de casos, em particular) reportadas na literatura, de empresas que se engajaram em grandes processos de mudanças. De maneira geral, eles apontam, antes de mais nada, para significativos esforços de conscientização e de comunicação, bem como uma ativa participação pessoal da alta administração. Precisam, por outro lado, ser apoiados por mudanças de processos, estruturas, sistemas de informação e de incentivo individual e coletivo (TERRA, 2005). Neste cenário, Stewart (1998) afirma que o capital intelectual é a soma do conhecimento de todos em uma empresa, o que lhe proporciona vantagem competitiva. Entretanto, mesmo com a extensa pesquisa em gestão do conhecimento, ainda não há consenso principalmente entre os especialistas da área de recursos humanos sobre métodos para implementação e manutenção eficiente de um processo de gestão do conhecimento na empresa. Segundo Fischer e Albuquerque (2001), ainda pouco aplicada e de alta complexidade, a gestão do conhecimento vem sendo alvo das preocupações da maioria dos profissionais e estudiosos das organizações na atualidade. Antes desses autores, Drucker (2001) já sinalizara que os trabalhadores do conhecimento têm uma mobilidade nunca antes observada. Sendo assim, as empresas e, neste caso, as de serviços em tecnologia da informação - TI, estão se preparando para manter sua vantagem competitiva num cenário onde o conhecimento, que é seu principal fator de diferenciação, se não for gerenciado eficazmente, pode ser transferido facilmente ao mercado através da natural troca de pessoas. Subjacente ainda à maior parte destas questões, está o reconhecimento de que o capital humano, formado pelos valores e normas individuais e organizacionais, bem como pelas competências, habilidades e atitudes de cada funcionário, é a "mola propulsora" da geração de conhecimentos e geração de valor nas empresas. Isto significa, por sua vez, reconhecer as necessidades de se estimularem a motivação intrínseca, o estabelecimento de contatos pessoais, a análise de diferentes perspectivas, a abertura para a efetiva comunicação e para o aprendizado através de experiências, tentativas e erros individuais (TERRA, 2005). Johnson (2004) faz um detalhamento de tais necessidades e revela que a maioria das organizações vem enfrentando dificuldades no desenvolvimento de projetos de gestão do conhecimento, por algumas razões específicas, tais como: 17 a) dificuldades em identificar quem efetivamente está gerando um desempenho excepcional e como essas forças iriam interagir em outro departamento ou unidade; b) ao tentar transferir o conhecimento, não há confiança que seja eficaz em uma nova situação; c) membros da unidade de alto desempenho não são percebidos ou não são reconhecidos como confiáveis por outros membros da organização; d) as pessoas não reconhecem o valor do conhecimento, ou não têm habilidades e experiências necessárias, ou ainda, não usam o conhecimento transferido a ponto de o incorporar no seu modo de trabalho; e) as empresas não dispõem de sistemas e estruturas para capacitar as pessoas, reconhecer e alavancar o conhecimento existente; f) pessoas de diferentes unidades não têm histórico positivo de comunicação e colaboração. A existência de dificuldades na implantação da gestão do conhecimento deve servir de base ao processo de planejamento e à implementação de ações que propiciem a correção das deficiências percebidas. A busca de efetividade nos processos de transferência e reutilização do conhecimento requer ações gerenciais que oportunizem a transferência de conhecimento e deem utilidade em novas aplicações (TERRA, 2005). Diante do exposto, e considerando a dificuldade que as organizações têm encontrado em transformar o conhecimento tácito em organizacional, esta pesquisa buscou analisar as contribuições do modelo de Nonaka e Takeuchi para o processo de gestão do conhecimento nas organizações, e a pergunta-chave que se buscou responder nesta pesquisa foi: Como uma empresa de serviços do setor de tecnologia da informação socializa, externaliza, combina conhecimento, transformando-o em conhecimento organizacional? e internaliza o 18 2 REFERENCIAL TEÓRICO O objetivo deste capítulo é apresentar os principais autores pesquisados na literatura sobre conhecimento e gestão do conhecimento, discutindo os conceitos. O foco principal está na compreensão do modelo de conversão do conhecimento proposto por Nonaka e Takeuchi, que foi utilizado neste trabalho. Nonaka e Takeuchi são os principais autores da literatura sobre a gestão do conhecimento e discutem várias visões a respeito das empresas, tomando por base diversas teorias já existentes e utilizam os seus pontos falhos para propor uma nova teoria a partir da visão da empresa como uma entidade criadora de conhecimento. São também apresentadas conhecimento, algumas bem técnicas como os e instrumentos fatores utilizados intervenientes na na gestão do transferência do conhecimento. 2.1 Conhecimento: definição e características Inicialmente é necessário fazer a distinção dos conceitos de dado, conhecimento e informação, que segundo Silva (2004), normalmente devem ser tratados em um sentido hierárquico, em que os dados são simples fatos que se tornam informação, se forem combinados em uma estrutura compreensível; ao passo que a informação torna-se conhecimento, se for colocada em um contexto, podendo ser usada para fazer previsões. Uma informação é convertida em conhecimento quando um indivíduo consegue ligá-la a outras informações, avaliando-a e entendendo seu significado no interior de um contexto específico. De acordo com esse sentido, os dados são pré-requisitos para a informação, e esta é pré-requisito para o conhecimento. Tuomi (1999) menciona que uma hierarquia reversa a esta também faz sentido; neste caso, a informação emerge somente após existir o conhecimento que permita compreender a sua estrutura, e os dados são percebidos somente após a informação que permite verificar a existência dos fatos. 19 Davenport e Prusak (1998) estabelecem diferenças básicas para dados, informação e conhecimento: Dados: conjunto de fatos distintos e objetivos, relativos a eventos. Dados descrevem apenas parte daquilo que aconteceu; não fornecem julgamento nem interpretação e nem base sustentável para a tomada de ação. Os dados são matéria-prima para a criação de informação; Informação: tem relevância e propósito e é organizada com uma finalidade; Conhecimento: é uma mistura fluida de experiência condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para avaliação e incorporação de novas experiências e informações. Ele tem origem e é aplicado na mente dos conhecedores. Nas organizações, ele costuma estar embutido não só em documentos ou repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais (DAVENPORT; PRUSAK, 1988, p. 2). Prusak e Davenport (1998), numa definição mais abrangente, entendem que o conhecimento é um produto não puro, tampouco simples, misturado de elementos formalmente estruturados, complexos e imprevisíveis, como experiência, valores, informação contextual e insights1, que possibilita uma estrutura para evolução e incorporação de novas experiências e informação. Para Oliveira Júnior (2001), o conhecimento organizacional, especificamente, é fruto das interações que ocorrem no ambiente de negócios e que são desenvolvidas por meio de processos de aprendizagem. Ainda segundo ele, o conhecimento pode ser entendido também como informação associada à experiência, intuição e valores. Para Nonaka e Takeuchi (1997, p. 63), o conhecimento diz respeito a crenças e compromissos, “[...] um processo humano dinâmico de justificar a crença pessoal com relação à verdade”. Para esses autores, o que distingue o conhecimento da informação é que este está relacionado à ação e ao contexto relacional específico. Para Bassani, Nikitiuk e Quelhas (2003, p. 43) o conhecimento é “[...] a própria razão de ser da organização” e pode ter seu valor verificado quando a empresa detentora de conhecimento é vendida por um valor superior ao seu valor contábil. O mesmo se verifica em (PFFEFER; VEIGA, 1999), ao afirmarem que o conhecimento, que é oriundo das pessoas, torna o gerenciamento de recursos humanos como uma das poucas formas de vantagem competitiva que não pode ser facilmente imitada. 1 Ter insights: ter grandes ideias. 20 O conhecimento nada mais é do que um processo próprio do ser humano de aprender e vir a conhecer algo que lhe era estranho, ou seja, é um processo de apreensão do mundo que o rodeia. (SHIGUNOV NETO; TEIXEIRA, 2006). Nas organizações, o conhecimento é um ativo com características especiais. Para além de ser um ativo intangível, com as dificuldades de avaliação que tal natureza implica, o seu nível e utilidade dependem de muitos fatores relacionados não só aos recursos tecnológicos, mas também aos humanos, à cultura organizacional e à mentalidade. É, portanto, um ativo cuja percepção envolve alguma complexidade, a começar pelo entendimento do próprio conceito de conhecimento organizacional (NICOLAU, 2003). O conhecimento organizacional pode ser mais do que a soma dos conhecimentos individuais ou ser menos do que isso. Os dois tipos de conhecimento, tácito e explícito, podem mesmo ser largamente divergentes. Isto significa que não basta que, ligado a cada indivíduo, haja um conjunto mais ou menos vasto de saberes para que isso se transforme num ativo da organização. Este ativo existirá na medida em que os conhecimentos individuais forem postos em comum e integrados, com vista à criação de um saber coletivo, capaz de evoluir e ser mobilizado para a atividade organizacional, criando novos produtos e novos processos. Os conhecimentos individuais podem, então, traduzir-se em conhecimento coletivo mais avançado que a soma das partes, ou simplesmente serem usados de forma fragmentada, não produzindo as sinergias necessárias à formação e desenvolvimento de um ativo organizacional. É por isso que muitas vezes se verifica que organizações com o mesmo tipo de atividade, os mesmos suportes tecnológicos e com recursos humanos de qualificação de partida mais ou menos idêntica têm capacidades diferenciadas de criar inovação (NICOLAU, 2003). Probst et al. (2002) entendem que o conhecimento é o conjunto total, incluindo a cognição e habilidade que as pessoas utilizam para resolver problemas. Ele inclui tanto a teoria quanto a prática, as regras do dia-a-dia e as instruções sobre como agir. O conhecimento baseia-se em dados e informações, mas, ao contrário deles, está sempre ligado a pessoas. Essa definição mostra que o conhecimento é construído por indivíduos e representa suas crenças sobre relacionamentos causais. Com base nas ideias de Polanyi (1966), alguns autores (ARMISTEAD,1999; BOSE, 2004; DARROCH, 2003; NONAKA; TAKEUCHI, 1997; TIWANA, 2002) distinguiram duas formas de conhecimento: o tácito e o explícito. O conhecimento 21 tácito está intimamente ligado aos modelos mentais, às concepções e às ações de uma pessoa, sendo, portanto, difícil de expressar, codificar e transferir. Por outro lado, o conhecimento explícito é aquele de fácil identificação e codificação, geralmente expresso em técnicas, métodos e padrões. Polanyi (1966) introduz o tema do conhecimento tácito a partir da frase we can know more than we can tell2. Com isto ele quer dizer que muito do que sabemos não pode ser verbalizado ou escrito através de palavras. Nonaka (1994, p. 33) afirma que “o conhecimento tácito implica em parte de habilidades técnicas – o tipo de destreza informal e de difícil especificação, incorporada ao termo know-how3”. O mesmo autor define que o conhecimento explícito é aquele registrado em algum meio externo ao indivíduo, como arquivos magnéticos, sistemas de informação e/ou impresso em papel. O conhecimento tácito é aquele que está na cabeça dos indivíduos e dela somente saem por necessidades contextuais, espontâneas ou dirigidas. Isto fica mais claro a partir dos exemplos cotidianos e científicos apresentados por Nonaka (1994). Como exemplos mais intuitivos, o autor relaciona: (i) a capacidade do ser humano de conseguir distinguir o rosto de uma pessoa conhecida entre tantas outras, mas não ser capazes de explicitar os particulares que compõem o todo; daí os artifícios usados pela polícia, que, para fazer retratos falados, utiliza uma vasta coleção de fotos de partes específicas do rosto, como narizes, bocas e outros detalhes; (ii) fato de pianistas virtuosos tenderem a ficar paralisados, quando fixam sua atenção ao movimento de seus dedos; e (iii) a habilidade de pessoas cegas, que usam a bengala como uma extensão de seu corpo (POLANYI, 1966). Além disso, vários estudos em laboratório mostram a capacidade humana de reação intuitiva a estímulos externos não compreendidos pela mente consciente. Nesse sentido, Polanyi (1966) cita os exemplos de testes psicológicos envolvendo shock syllables4 e shock words5. Nesses testes, verificou-se que as pessoas eram capazes de antecipar choques elétricos ao verem palavras e sílabas que, de fato, como parte da lógica do experimento, estavam associadas a choques, mesmo sem 2 We can know more than we can tell: nós podemos saber mais do que nós podemos dizer. Know-how: saber fazer 4 Shock syllables: sílabas de choque. 5 Shock words: palavras de choque. 3 22 serem capazes, a posteriori, de explicitar a lógica do experimento. Verificou-se também, em laboratório, através de câmaras escondidas de alta resolução, que muitos dos movimentos dos músculos, ditos "involuntários", poderiam ser, na verdade, estimulados externamente, mesmo sem a consciência humana. Para Polanyi (1966), o conhecimento tácito envolve, pois, uma relação entre duas coisas: um conhecimento específico, como "tocar piano", utilizar uma ferramenta, etc., que ele chama de distal, e outro, que ele chama de proximal, do qual só se tem consciência na medida em que ele serve ao anterior. Para o autor, seria o resultado de um esforço ativo e laborioso de busca de conhecimento, que envolveria corpo humano e todos os seus sentidos. Nesse aspecto, a aquisição de conhecimento, seja intelectual ou prático, seria resultado de envolvimento e compromisso pessoal. Nonaka e Takeuchi (1997) identificam ainda duas dimensões para o conhecimento tácito. A primeira é a dimensão técnica, a qual é definida pelas competências informais do indivíduo usadas para realização de determinada tarefa. A segunda é a dimensão cognitiva que consiste em crenças, ideais, valores e modelos mentais embutidos nos indivíduos. Embora difícil de ser articulada, essa dimensão cognitiva é, para os autores, a maneira pela qual se percebe o mundo ao redor. Para esses autores, o conhecimento explícito formal e sistemático representa apenas a ponta do iceberg na tentativa de uma compreensão mais profunda do tema. Para eles, o conhecimento tácito exprime melhor a noção atual de conhecimento como recurso principal das organizações, uma vez que está profundamente enraizado nas ações e nas experiências de um indivíduo, bem como em suas emoções, valores e ideais. A inteligência torna-se um ativo quando se cria uma ordem útil a partir da capacidade intelectual geral – ou seja, quando assume uma forma coerente; quando capturada de uma forma que permite que seja descrita, compartilhada e explorada; e quando pode ser aplicada a algo que não poderia ser realizado se continuasse fragmentado como moedas em um bueiro. O capital intelectual é o conhecimento útil em nova embalagem (KLEIN; PRUSAK, 1994, p. 1). Em adição a isso, grande parte desse conhecimento é tácito, e não explícito, e, portanto, é difícil explicá-la ou até mesmo identificá-la. Pode inclusive estar errada e não ter como ser corrigida pelo fato de, por definição, não ser expressa. Nonaka e 23 Takeuchi (1997), na descrição da primeira fase de seu modelo proposto para criação do conhecimento organizacional, sugerem que esse conhecimento tácito deve ser compartilhado e debatido entre vários indivíduos com diferentes históricos. Na segunda fase do mesmo modelo, parte desse conhecimento é transformada em conhecimento explícito através da criação de conceitos. Deve haver então estímulo para que novos conhecimentos adquiridos tomem impulso e tornem-se tácitos, fazendo com que o ciclo de criação se perpetue. Uma terceira dimensão do conhecimento, apresentada por Choo (2000), é o conhecimento cultural organizacional. Ele consiste de todas as crenças consideradas verdadeiras pelos indivíduos da organização e baseadas em observação, experiência e reflexão sobre si mesmos e sobre o ambiente em que operam. Ao longo do tempo, uma organização desenvolve crenças compartilhadas sobre a natureza de seu negócio principal, suas competências essenciais, mercados, competidores e assim por diante. Essas crenças, então, formam os critérios de julgamento e a seleção para alternativas e novas ideias, além de formarem as bases para as avaliações de projetos e propostas. Portanto, Choo (2000) reforça que o conhecimento cultural inclui as premissas e as crenças usadas para descrever e explicar a realidade, além de levantar os critérios e as expectativas que são usados para criar valor e significância às novas informações. Nesse sentido, embora o conhecimento cultural não esteja explicitado, ele fica na organização, mesmo com trocas de empregados e eventos de turnover. Segundo Choo (2000), em algumas organizações o conhecimento cultural está dissociado dos esforços para exploração dos conhecimentos tácito e explícito. 2.2 Gestão do conhecimento: definição e características A gestão do conhecimento pode ser considerada como um conjunto de processos que visa à criação, utilização e disseminação do conhecimento, alinhados com os objetivos da organização. Esse conjunto de processos deve considerar tanto os conhecimentos explícitos quanto os conhecimentos tácitos, obtidos através das experiências, e insights das pessoas. 24 Cohen (1999) chama atenção para o fato de cada empresa ter de escolher qual o tipo de gestão do conhecimento que irá usar: o segredo ou a cooperação, isto é, a evolução ditada pelas leis de mercado ou pela união dos pares. Na maioria das vezes, será necessário um misto dessas duas formas de gestão. Para Barroso e Gomes (1999), a gestão do conhecimento inclui, na prática, identificar e mapear os ativos intelectuais ligados à empresa; gerar novos conhecimentos para oferecer vantagens na competição do mercado; tornar acessíveis grandes quantidades de informação corporativas, compartilhando as melhores práticas e a tecnologia que torna possível tudo isto. Também Fleury e Oliveira Junior (2001) tratam dessa questão. Ao estudarem a gestão do conhecimento, os autores concluíram que as dificuldades de identificar e de armazenar os ativos de conhecimento de uma empresa ocorrem porque práticas informais tornam difícil a transferência do conhecimento às pessoas. Do mesmo modo, Sveiby (1998) afirma que a gestão do conhecimento pode ser entendida, basicamente, como a arte de gerar valor a partir de bens intangíveis da organização. Adams e Freeman (2000) definem gestão do conhecimento como a gestão que encara conhecimento como algo construído ativamente em um ambiente social. Outra possível definição para a gestão do conhecimento pode ser apresentada como o conhecimento coletivo de uma organização, e não apenas estoque de dados ou informações. Este conhecimento coletivo inclui experiências, habilidades, dados e informações (SHOCKLEY III, 2000). Já Silveira (2004) observa que a gestão do conhecimento pode também ser definida como uma nova forma de se trabalhar, uma nova cultura organizacional, na qual o ambiente e os valores permitam gerar a motivação necessária à aprendizagem, ao compartilhamento ou mesmo à transferência e à aplicação do conhecimento. Bukowitz e Williams (2002) definem gestão do conhecimento como sendo o processo pelo qual a organização gera riqueza, a partir do seu conhecimento ou capital intelectual. Já Teixeira (2000) mostrou um posicionamento mais pragmático ao definir a gestão do conhecimento como uma forma de observar a organização em busca de pontos dos processos de negócio em que o conhecimento possa ser usado como vantagem competitiva. Nessa direção, Nonaka e Takeuchi (1997, p.12) descrevem a gestão do conhecimento como um processo interativo de criação do conhecimento organizacional, definindo-o como “[...] a capacidade que uma 25 empresa tem de criar conhecimento, disseminá-lo na organização e incorporá-lo a produtos, serviços e sistemas”. Fleury e Oliveira Junior (2001) reconhecem no conhecimento, um recurso que pode e deve ser gerenciado para aprimorar a performance da empresa. Para eles, o processo de aprendizado organizacional constitui o conhecimento da empresa. Como desafios, indicam a descoberta de formas pelas quais o processo de aprendizagem organizacional possa ser estimulado e a investigação de como o conhecimento organizacional possa ser administrado para atender, de forma superior, às suas necessidades estratégicas. Ainda, segundo Fleury e Oliveira Junior (2001), a empresa é entendida, então, como um repertório dinâmico de conhecimento que consiste basicamente em como a informação é codificada e disponibilizada para aplicação, assim como no conhecimento relacionado à coordenação das ações na organização. O que vai determinar o sucesso da empresa é a sua eficiência nesse processo de transformação do conhecimento existente no plano das ideias para o conhecimento aplicado no plano das ações, em comparação com a eficiência de outras empresas. Autores como Davenport e Prusak (1998, p. 28) definem alguns princípios básicos da gestão do conhecimento, partindo de um estudo de caso do Programa de Trabalho em Equipe Virtual da British Petroleum, que considerava: a) o conhecimento tem origem e reside na cabeça das pessoas; b) o compartilhamento do conhecimento exige confiança; c) a tecnologia possibilita novos comportamentos relacionados ao conhecimento; d) o compartilhamento do conhecimento deve ser estimulado e recompensado; e) suporte da direção e recursos são fatores essenciais; f) iniciativas vinculadas ao conhecimento devem começar com um programa piloto; g) aferições quantitativas e qualitativas são necessárias para se avaliar a iniciativa; e h) o conhecimento é criativo e deve ser estimulado a se desenvolver de formas inesperadas. 26 Quando o conhecimento flui livremente, seu valor potencial torna-se real. A produtividade aumenta, e as inovações acabam surgindo como resultado da aplicação apropriada do conhecimento existente e da geração de novas ideias no mercado do conhecimento. Quanto ao mercado do conhecimento, Davenport e Prusak (1998) lhe atribuem, como principal objetivo, tornar o conhecimento disponível quando e onde ele seja necessário. Os mercados do conhecimento são diferentes dos mercados de produtos porque cada venda aumenta o estoque geral de conhecimento da organização. O vendedor mantém e dá seu conhecimento, e, o que é mais importante, a própria transação costuma gerar um novo conhecimento. Conhecimento adquirido em interação com o conhecimento existente pode gerar o despertar de novas ideias. Confirmando o exposto, Davenport e Prusak (1998) esclarecem que as organizações saudáveis geram e usam o conhecimento. O processo de interação com o ambiente permite que as organizações adquiram informações transformandoas em conhecimento por meio de suas experiências, valores e regras internas. A gestão do conhecimento engloba os processos organizacionais que buscam uma combinação do conjunto da capacidade de processamento de dados e informações pela TI com a capacidade criativa e inovadora dos seres humanos (MALHOTRA, 1998). Não há dúvida de que o debate conceitual sobre gestão do conhecimento é de suma importância, pois existem várias interpretações simplistas ou distorcidas que podem terminar em erros de implementação. A correta compreensão do que vem a ser gestão do conhecimento evita que o tema seja tratado como um modismo passageiro. No capítulo de apresentação de seu livro, Davenport e Prusak (1998) alertam que, embora o “movimento” pelo conhecimento produza seus próprios modismos e jargões, o conhecimento em si merece atenção, pois ele mostra às empresas como devem atuar hoje e como melhorar seus produtos amanhã. Em se tratando da preparação para desafios futuros, Probst et al. (2002) entendem que a gestão do conhecimento está ligada à administração estratégica, pois ambas visam proteger vantagens competitivas de longo prazo, desenvolvendo competências organizacionais. A gestão do conhecimento deve ajudar os administradores em geral a tratarem o conhecimento como um recurso, bem como estimular ideias práticas que possam ser implementadas. 27 A gestão do conhecimento baseia-se em recursos existentes, com os quais a organização pode contar. Uma boa gestão de sistemas de informação, uma gestão de mudança organizacional e boas práticas de gestão de recursos humanos são consideradas práticas de gestão do conhecimento (DAVENPORT; PRUSAK, 1998). Oliveira Júnior (2001), por sua vez, entende que a administração do conhecimento é o processo de identificar, desenvolver, disseminar, atualizar e proteger o conhecimento estrategicamente relevante para a empresa, seja a partir de esforços internos à organização, seja a partir de processos que extrapolam suas fronteiras. Interessante notar que, nessa última definição, o autor refere-se à administração e não à gestão. O conceito de gestão do conhecimento foi estudado por diversos autores e estão organizados resumidamente no QUADRO 1, para facilitar a compreensão. Os nomes dos autores estão apresentados em ordem cronológica dos seus trabalhos. Conceito É a capacidade que uma empresa tem de criar conhecimento, disseminá-lo na organização e incorporá-lo a produtos, serviços e sistemas. É a arte de gerar valor a partir de bens intangíveis da organização. Autor (es) Nonaka e Takeuchi (1997). Sveiby (1998). Engloba os processos organizacionais que buscam uma combinação Malhotra (1998). do conjunto da capacidade de processamento de dados e informações pela tecnologia da informação com a capacidade criativa e inovadora dos seres humanos. Inclui a prática de identificar e mapear os ativos intelectuais ligados à Barroso e Gomes (1999). empresa. Gestão que encara conhecimento como algo construído ativamente em Adams e Freeman (2000). um ambiente social. Conhecimento coletivo de uma organização, e não apenas de dados Shockley III (2000). ou informações. Uma forma de observar a organização em busca de pontos dos Teixeira (2000). processos de negócio em que o conhecimento possa ser usado como vantagem competitiva. É o processo de identificar, desenvolver, disseminar, atualizar e Oliveira Júnior (2001). proteger o conhecimento estrategicamente relevante para a empresa. Nova forma de trabalhar, uma nova cultura organizacional, na qual o Silveira (2004). ambiente e os valores permitam gerar a motivação necessária à aprendizagem, ao compartilhamento ou mesmo à transferência e à aplicação do conhecimento. Quadro 1: Definição do conceito de gestão do conhecimento Fonte: Elaborado pelo autor Os conceitos dos autores demonstrados no QUADRO 1 convergem para a mesma conclusão, ao considerarem o conhecimento como ativo intangível vinculado diretamente ao ser humano e que pode se tornar vantagem competitiva e estratégica para as organizações, desde que bem administrados. 28 2.2.1 Processo de gestão do conhecimento Darroch (2003) e Tiwana (2002) dividem o processo de gestão do conhecimento em três partes: a aquisição, a disseminação e a utilização do conhecimento. A aquisição de conhecimento engloba o processo de desenvolvimento e a criação de insights, habilidades e relacionamentos. A disseminação consiste no compartilhamento do conhecimento já adquirido. Por fim, a utilização é considerada a capacidade da organização em aplicar os conhecimentos gerados em novas situações. Darroch (2003) complementa que a organização pode adquirir conhecimento de diversas fontes, tais como os empregados, os clientes, os fornecedores, os competidores, entre outros. A utilização deste conhecimento adquirido demonstra a resposta da organização ao novo conhecimento, ou seja, se a organização adquiriu conhecimento sobre as exigências de seus clientes, ela irá responder a este novo conhecimento através da adequação de seus produtos. Análise semelhante, na visão de Armistead (1999), o processo de gestão do conhecimento compreende os processos de criação, transferência e incorporação do conhecimento. Ele entende que o processo de criação requer principalmente indivíduos inovadores como elemento de entrada. Para o autor a saída deve ser o domínio de solução de problemas e o novo conhecimento gerado. Nota-se que, desde a criação do conhecimento, a existência de indicadores de avaliação. O processo de transferência do conhecimento enfatiza o papel dos indivíduos que facilitam a transferência e o acesso ao conhecimento criado. Os indicadores do processo de transferência suportam a eficiência organizacional através das melhores práticas (ARMISTEAD, 1999). Por fim, o autor apresenta o processo de incorporação do conhecimento. O objetivo do processo de incorporação do conhecimento é garantir que o conhecimento criado e transferido seja incorporado nos processos da organização. Bose (2004) apresenta etapas de um processo cíclico de gestão do conhecimento, o qual não inclui a utilização como proposto por Darroch (2003) e Tiwana (2002). O processo proposto por Bose (2004) é composto por: 29 a) criação do conhecimento - o conhecimento é criado no momento em que as pessoas descobrem novas maneiras de fazer as coisas; o conhecimento pode ser criado pelos empregados da organização ou pode ser transferido de laboratórios de pesquisa para a organização; b) captura do conhecimento - após ser construído, o conhecimento criado deve ser armazenado na sua forma primitiva; c) refinamento do conhecimento - neste momento o conhecimento tácito é contextualizado e refinado, juntamente com o conhecimento explícito; d) armazenamento do conhecimento - a codificação do conhecimento tácito e explícito ajuda no entendimento do conhecimento para uso posterior; e) gerenciamento do conhecimento - o conhecimento deve se manter atual, desta forma a organização deve garantir que o conhecimento seja revisado; f) disseminação do conhecimento - o conhecimento deve estar disponível para todos os empregados da organização; ferramentas como groupware6, internet7, intranet8 auxiliam nesta etapa. Diferentemente, Ahmed, Lim e Zairi (1999) apresentam uma visão do processo de gestão do conhecimento relacionada com o ciclo PDCA (planejar, fazer, verificar e agir). A primeira etapa é a captura ou a criação do conhecimento, que representa o planejamento do ciclo PDCA. Durante a captura do conhecimento, a organização conta com fontes externas, fontes internas estruturadas ou fontes internas não estruturadas de conhecimento. A segunda etapa, representando o fazer, é o compartilhamento do conhecimento. Nesta fase, a organização pode utilizar ferramentas de comunicação para compartilhar o conhecimento. A próxima etapa, associada ao verificar, é a mensuração dos efeitos, quando a organização utiliza dados das etapas anteriores para mensurar o sucesso das atividades. Por fim, o aprendizado e a melhoria correspondem ao agir do ciclo PDCA. É nesta fase que a organização utiliza os resultados obtidos pela mensuração para melhorar continuamente o seu processo. 6 GroupWare é um termo usado para descrever softwares que facilitam a colaboração através do compartilhamento de informações. 7 Internet: rede mundial computadores. 8 Intranet: rede local de computadores. 30 Por outro lado, Demarest (1997) propõe cinco etapas para processo de gestão do conhecimento: a) construção; b) materialização ou transformação; c) disseminação; d) utilização; e) gerenciamento. A construção envolve a criação de novos conhecimentos através de um processo complexo, que pode utilizar a tradução e a reinterpretação. A materialização do conhecimento consiste em transformar o conhecimento criado em processos, práticas, materiais e cultura dentro da organização. Já a disseminação tem como objetivo distribuir o conhecimento transformado para todos os membros da organização. A utilização compreende a aplicação dos conhecimentos criados, transformados e distribuídos através das etapas anteriores. Por fim, o gerenciamento consiste em monitorar, mensurar e intervir nas etapas do processo de gestão do conhecimento. Já Burk (1999) apresenta o ciclo do conhecimento através de quatro etapas: criação, organização, compartilhamento e utilização/reutilização. Na primeira etapa, o conhecimento é criado ou encontrado a partir de diversas maneiras, como publicações, conferências, reuniões, experiências e pesquisas. A fase de organização consiste em filtrar e catalogar o conhecimento. Na sequência, a fase de compartilhamento significa disponibilizar o conhecimento através dos canais de comunicação da organização. Por fim, a utilização e a reutilização é a aplicação do novo conhecimento em problemas reais. O autor fala sobre o gerente do conhecimento, que pode auxiliar na fase de organização e compartilhamento. Burk (1999) não sugere uma fase específica para o refinamento, no entanto ele inclui a atividade de filtrar o conhecimento na etapa que ele chama de organização. Chen e Chen (2005), a partir de uma pesquisa bibliográfica sobre processos de gestão do conhecimento, sugerem quatro etapas para o processo. A primeira é a criação do conhecimento, que são os novos conhecimentos adicionados ou a correção de conhecimentos já existentes. A segunda etapa, a conversão, pode ser definida como a transformação do conhecimento individual em conhecimento 31 organizacional através da contextualização. Na próxima etapa, ocorre a circulação do conhecimento dentro da organização, através da transferência de conhecimentos entre indivíduos e entre grupos. A última etapa, chamada de finalização, é quando a aplicação do conhecimento se transforma em vantagem competitiva. O processo de circulação do conhecimento é proposto por Lee, Lee e Kang (2005). Os autores atribuem cinco fases para este processo: criação, acúmulo, compartilhamento, utilização e internalização do conhecimento. A fase de criação é definida como a fase na qual os indivíduos se inter-relacionam de forma a criar novos conhecimentos. Na fase de acúmulo, ocorre o armazenamento do conhecimento já criado. A fase de compartilhamento promove a difusão do conhecimento para os demais indivíduos da organização. Na fase de utilização, o conhecimento é aplicado e, a partir da aplicação, criam-se melhores práticas. Por fim, a internalização ocorre logo após a utilização, quando os indivíduos adotam o novo conhecimento no seu dia-a-dia. De acordo com Terra (2005), um grande aliado dos processos de gestão do conhecimento são as comunidades de prática que podem ser adotadas pelas organizações com o objetivo de incentivá-los. “Comunidades de prática é um termo que se refere às maneiras como as pessoas trabalham em conjunto e/ou se associam a outras naturalmente” (TERRA, 2005, p. 1). As comunidades podem agregar valor através da criatividade para resolver problemas, e da habilidade de encontrar maneiras melhores e mais fáceis para resolver desafios. O QUADRO 2 resume os conceitos estudados. Ordem Etapas Autor (es) 1 Aquisição, disseminação e utilização. 2 Criação, transferência e incorporação. 3 4 5 6 Criação, captura, refinamento, Darroch (2003) e Tiwana (2002) Armistead (1999) armazenamento, Bose (2004) gerenciamento e disseminação. Planejamento, execução, verificação e atuação Construção, materialização ou Ahmed, Lim e Zairi (1999) transformação, Demarest (1997) disseminação, utilização e gerenciamento. Criação, organização, compartilhamento e Burk (1999) utilização/reutilização. 7 Criação, conversão, circulação e finalização. Chen e Chen (2005) 8 Criação, acúmulo, compartilhamento e internalização. Lee, Lee e Kang (2005). Quadro 2: Modelos de gestão do conhecimento Fonte: Elaborado pelo autor. 32 O QUADRO 2 sintetiza as etapas dos modelos encontrados na literatura pesquisada dos principais autores sobre o processo de gestão do conhecimento. Percebe-se uma consistência e proximidade com o modelo proposto de socialização, externalização, combinação e internalização, proposto por Nonaka e Takeuchi (1997), para a conversão do conhecimento. A ordem apresentada não sugere uma importância entre modelos; é apenas uma forma de disposição e organização do quadro. Existem inúmeras técnicas e ferramentas que podem auxiliar a gestão do conhecimento organizacional, entre elas, estão: a) bancos de competências; b) histórias orais; c) equipes multidisciplinares; d) utilização de metáforas, analogias e modelos; e) flutuação e o caos criativo; f) comunidades de prática; g) meritocracia das ideias; h) repositórios de conhecimento. Os bancos de competências, também conhecidos por páginas amarelas, de acordo com Stewart (1998), são constituídos por meio do armazenamento das ligações entre os profissionais e as habilidades e competências que os mesmos possuem. Outro importante instrumento de gestão do conhecimento são as histórias orais, que se constituem da narrativa de vivência de profissionais experientes, que podem auxiliar a tomada de decisão. A formação de equipes multidisciplinares é uma das técnicas em que, ao agregar diferentes fontes de conhecimento ao redor de problemas específicos, as diferentes visões de uma determinada questão podem ser exploradas, evitando vícios de raciocínio, ou mesmo o pensamento baseado quase que exclusivamente sob a ótica de paradigmas específicos. Nonaka e Takeuchi (1997) listam diversos exemplos de projetos que foram guiados por equipes multidisciplinares que operaram, algumas vezes, em acirrada concorrência com outras equipes internas às organizações, de forma a se 33 autoestimularem a desenvolver soluções melhores para um determinado tipo de problema apresentado. Estas equipes podem ser autogeridas e organizadas na forma de projetos ou força-tarefa. A utilização de metáforas, analogias e modelos são fortes ferramentas para a construção de conhecimento organizacional. A flutuação e o caos criativo visam à estimulação da interação entre as inteligências da corporação, objetivando o desenvolvimento de novas abordagens e estratégias (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). As “Comunidades de Prática”, para Stewart (1998), nascem do próprio consenso, onde várias pessoas veem-se atraídas umas às outras por uma força que é tanto social quanto profissional; elas cooperam de forma direta, sondam-se mutuamente, ensinam umas às outras, exploram juntas um novo assunto. Não se podem criar comunidades como estas por decreto, mas é fácil destruí-las. Elas estão entre as estruturas mais importantes de qualquer organização onde pensar é importante; mas, quase sempre, subvertem suas estruturas e restrições formais. As comunidades de prática são as oficinas do capital humano, o lugar onde as coisas acontecem. Davenport e Prusak (1998) afirmam que as comunidades de prática podem ser formalizadas através de feiras e fóruns do conhecimento, em que os próprios empregados expõem, para os demais empregados da organização, aspectos de seus projetos, esperando que aqueles que estejam interessados os procurem espontaneamente. A meritocracia das ideias, ou seja, a recompensa pelos méritos, algumas vezes age em combinação com a flutuação e o caos criativo, sobretudo no que tange à liberdade para que cada funcionário se sinta motivado a oferecer suas ideias para a organização (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). Os repositórios do conhecimento são ferramentas que tratam do conhecimento já explicitado e estruturado na forma de documentos. Para Davenport e Prusak (1998), um bom exemplo deste tipo de ferramenta é a Internet, com sua rede de hiperlinks9 (a www – World Wide Web), que supera as desvantagens da assimetria e da independência de localização do conhecimento. Segundo esses autores, tais ferramentas de repositórios de conhecimento funcionam de forma 9 Hiperlink: nome que se dá às imagens ou palavras que dão acesso a outros conteúdos em um documento hipertexto. Também é usada a palavra link. 34 satisfatória quando voltadas para áreas do conhecimento mais abrangentes, exigindo tempo dos seus usuários, para pesquisar e ler além de inteligência, para que os repositórios do conhecimento possam sintetizar e interpretar o conhecimento recuperado pela ferramenta. 2.2.2 O modelo de pesquisa: Nonaka e Takeuchi e os quatro processos para a gestão do conhecimento Várias visões a respeito das empresas são discutidas por Nonaka e Takeuchi (1997), tomando por base diversas teorias já existentes e utilizando-se dos de suas lacunas para propor uma nova teoria a partir da visão de empresa como uma entidade criadora de conhecimento. Deste modo, Nonaka e Takeuchi (1997) desenvolvem uma nova teoria em que a empresa se apresenta como uma entidade capaz de produzir, reter e utilizar o conhecimento e considera essa capacidade como o seu mais importante recurso para sustentar a sua competitividade. A teoria, proposta pelos autores, vê as empresas e os humanos como seres dinâmicos que interagem entre si e com o ambiente. Kusunoki et al. (1998) categorizam a capacidade organizacional concernente à criação do conhecimento em três tipos: a) base de conhecimento, inclui unidades distintas de conhecimento, como um conhecimento funcional incorporado por um determinado grupo de engenheiros, tecnologias elementares, dados e patentes; b) quadro de conhecimento, faz a ligação entre as unidades de conhecimento; por exemplo, o processo decisório, a distribuição dos recursos, a comunicação entre grupos funcionais; c) a dinâmica de conhecimento, funciona como a dinâmica de interação na qual as unidades de conhecimento são combinadas e transformadas. O lugar onde ocorre a interação entre o conhecimento é definido por Nonaka e Takeuchi (1997) com o termo “ba”, para significar o ambiente de criação do conhecimento dentro da firma. Os autores chegam a afirmar que a empresa pode 35 ser conceituada como uma configuração dinâmica de “ba”. “Ba” não é necessariamente um lugar físico. Pode ser mental, virtual e/ou temporal. Observe a FIG. 1. Ver a firma como uma configuração dinâmica de “ba” significa que a interação entre os seus membros se desenvolve de forma contínua à criação do conhecimento organizacional, produzindo maior vantagem competitiva. Figura 1: Desenho do “ba” Fonte: Adaptado de NONAKA; TAKEUCHI, 1997. Para discutir como as empresas criam conhecimento, Nonaka e Takeuchi (1997) afirmam que este processo ocorre através da interação entre dois tipos de conhecimento: o conhecimento tácito e o conhecimento explícito. Essa interação recebe o nome de conversão do conhecimento e se dá através de um processo denominado espiral SECI (Socialização, Externalização, Combinação e Internalização), onde: (a) a socialização é a transformação do conhecimento tácito para tácito; (b) a externalização é a transformação do conhecimento tácito em explícito; (c) a combinação é a transformação do conhecimento explícito para explícito; e (d) a internalização é a transformação do conhecimento explícito para tácito. Este modelo será descrito posteriormente neste capítulo. 36 O conhecimento é criado pelos indivíduos, e uma organização não consegue criar conhecimento sem a presença das pessoas. O conhecimento organizacional trata-se de um processo que cristaliza o conhecimento gerado pelos indivíduos, como parte integrante da rede de conhecimentos da organização (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). No mesmo sentido, Alvarenga Neto, Barbosa e Pereira (2007, p. 14), afirmam que a criação do conhecimento “é um processo pelo qual as organizações criam ou adquirem, organizam e processam informação, com o propósito de gerar novo conhecimento através da aprendizagem organizacional”. A criação de conhecimento organizacional para Nonaka e Takeuchi (1997, p. 79) é uma “interação contínua e dinâmica entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito”. É importante ressaltar que a organização deve buscar mobilizar o conhecimento tácito criado e acumulado no nível individual das pessoas, mobilizá-lo e ampliá-lo no nível da organização por meio das quatro formas de conversão do conhecimento (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). Este “processo” é chamado espiral do conhecimento, onde a interação entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito alcançará uma escala cada vez mais elevada à medida que subirem os níveis ontológicos, começando no nível individual e cruzando fronteiras departamentais, divisionais e interorganizacionais. Tal processo é muito importante e é um instrumento facilitador da vantagem competitiva da empresa (MENDES; SOUZA, 1997). Uma organização cria conhecimento através da interação entre conhecimento tácito e conhecimento explícito (conversão de conhecimento). O conhecimento é criado por meio da interação entre indivíduos com diferentes tipos e conteúdo de conhecimento (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). A criação do conhecimento é inerentemente uma atividade muito incerta. Ademais, alguns conhecimentos são difíceis de serem comercializados por serem essencialmente tácitos, já que conhecimento tácito não pode ser transferido, a menos que passe pelo processo SECI e se transforme em conhecimento explícito. Por último, mesmo se o conhecimento for codificável e transferível, haverá a dificuldade de avaliá-lo, porque ele pode ter sido adquirido sem um custo específico e, ainda, ter uma carga de conhecimento popular (NONAKA, 1994). Para explicar como os ativos de conhecimento são criados, adquiridos e explorados, Nonaka e Takeuchi (1997) categorizam tais ativos em quatro tipos: 37 a) conhecimentos experienciais: são os conhecimentos tácitos compartilhados, que incluem as emoções (amor, carinho, confiança); as relações físicas (gestos e expressões faciais); energia (senso de existência, entusiasmo e tensão); ritmo (improvisação e entrosamento); b) conhecimentos conceituais: são conhecimentos explícitos articulados através de imagens, símbolos e linguagem; c) conhecimento sistêmico: são conhecimentos explícitos sistematizados em tecnologias, especificações de produtos, manuais ou documentos de informação sobre clientes e fornecedores; d) conhecimento de rotina operacional: são conhecimentos tácitos interiorizados nas ações e práticas da organização. Esses ativos de conhecimento determinam os limites da empresa pela determinação dos inputs10 do processo de criação do conhecimento. Ao mesmo tempo, o processo de criação determina como os ativos de conhecimento serão criados ao longo do tempo. Do ponto de vista epistemológico, Nonaka e Takeuchi (1997) baseiam-se na distinção dada por Polanyi (1966), que subdivide o conhecimento em tácito e explícito. O conhecimento tácito, segundo Nonaka e Takeuchi (1997, p. 65), é “pessoal, específico ao contexto e, assim, difícil de ser comunicado”. Já para Garvin et al. (1998, p. 58), o conhecimento pode ser caracterizado como tácito quando inclui “ [...] discernimento, o instinto e a compreensão profunda”. Não obstante, Valentim e Gelinski (2005, p. 45) afirmam que o conhecimento tácito “[...] está na mente humana, caracteriza-se pelo conhecimento de mundo, pelas experiências vivenciadas, pelo know-how adquirido e pelas competências essenciais consolidadas”. O conhecimento explícito, de acordo com Nonaka e Takeuchi (1997), é aquele que pode ser transmitido em linguagem sistemática e formal. Neste sentido, Valentim e Gelinski (2005) afirmam que o conhecimento explícito é o conhecimento que está sistematizado em algum tipo de suporte (impresso, eletrônico ou digital), sendo este facilmente acessado e compartilhado. 10 Inputs: entrada de dados. 38 Ainda de acordo com Nonaka e Takeuchi (2008, p. 67), o conhecimento tácito e o conhecimento explícito não são “[...] entidades totalmente separadas, e sim mutuamente complementares”. A esta interação é dado o nome de conversão do conhecimento. Nesta interação, o conhecimento explícito é a base do conhecimento tácito. Nonaka e Takeuchi (1997) listam quatro formas de conversão do conhecimento: (a) socialização; (b) a externalização; (c) a combinação; e (d) a internalização. A socialização se refere à conversão do conhecimento tácito em conhecimento tácito, um processo de compartilhamento de experiências que gera um conhecimento compartilhado. Um indivíduo pode absorver um conhecimento tácito sem a necessidade de formalização do mesmo, através da observação, imitação e prática. Behr e Nascimento (2008) entendem que a socialização pode ser compreendida também como um processo de troca de experiências que estimula a criação do conhecimento tácito. Um indivíduo pode adquirir conhecimento tácito diretamente de outros indivíduos, sem usar a linguagem. Os aprendizes trabalham com seus mestres e aprendem sua arte não por meio da linguagem, mas, sim, por meio da observação, imitação e prática. O segredo para a aquisição do conhecimento tácito é a experiência. Sem experiência compartilhada, é extremamente difícil para uma pessoa projetar-se no processo de raciocínio do outro indivíduo. A mera transferência de informações muitas vezes fará pouco sentido se estiver desligada das emoções associadas e dos contextos específicos nos quais as experiências compartilhadas são embutidas (FROTA et al., 2005). A externalização se refere à conversão do conhecimento tácito em conhecimento explícito, gerando um conhecimento conceitual. Este é um processo de criação do conhecimento perfeito, que é normalmente provocado pelo diálogo e pela reflexão coletiva. Não obstante, a externalização é a chave para a geração do conhecimento, uma vez que cria novos e explícitos conceitos edificados no conhecimento tácito (FROTA et al., 2005; NONAKA; TAKEUCHI, 2008). Behr e Nascimento (2008, p. 4) afirmam que a externalização é a “transformação do conhecimento tácito em manuais ou procedimentos escritos”. A combinação, que é a transformação de conhecimento explícito em conhecimento explícito, é a terceira forma de conversão de conhecimentos descrita 39 por Nonaka e Takeuchi (1997). Ela é um processo onde se busca a sistematização de conceitos em um sistema de conhecimentos. As pessoas cambiam e combinam conhecimentos explícitos em documentos, reuniões, redes e conversas. A reconfiguração de tais informações por meio da classificação, da combinação e da divisão por categorias do conhecimento pode levar a novos conhecimentos (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). Sabbadini e Ferreira Filho (2006) afirmam que esta forma de geração de conhecimento é utilizada nas escolas e nos treinamentos formais. A internalização nada mais é que a transformação de conhecimento explícito em conhecimento tácito, intrinsecamente relacionado com o “aprender fazendo” e gera um conhecimento operacional (NONAKA; TAKEUCHI, 2008). Para Valentim e Gelinski (2005, p. 47), a internalização “permite aos indivíduos apreender, transformando a organização num espaço de saber, mais conhecida como learning organization11”. Não obstante, Nonaka e Takeuchi (1997, p. 78) afirmam que é necessária a “verbalização e diagramação do conhecimento sob a forma de documentos, manuais ou histórias orais” para que o conhecimento explícito se torne tácito. Para os autores Popadiuk e Ricciardi (2007), quando são internalizadas nas bases de conhecimento tácito dos indivíduos sob a forma de modelos mentais ou know-how técnico compartilhado, as experiências através da socialização, externalização e combinação tornam-se ativas e valiosas. No entanto, para viabilizar a criação do conhecimento organizacional, o conhecimento tácito acumulado precisa ser socializado com os outros membros da organização, iniciando assim uma nova espiral de criação do conhecimento. Para que o conhecimento explícito se torne tácito, é necessária a verbalização de diagramação do conhecimento sob a forma de documentação, manuais e histórias orais. A documentação ajuda os indivíduos a internalizarem suas experiências, aumentando assim seu conhecimento tácito. Além disso, os documentos ou manuais facilitam a transferência do conhecimento explícito para outras pessoas, ajudando-as a vivenciar indiretamente as experiências dos outros (POPADIUK; RICCIARDI, 2007). 11 Learning organization: organizações que aprendem. 40 A internalização também pode ocorrer sem que na verdade se tenha que de “reexperimentar” as experiências de outras pessoas. Por exemplo, se ler ou ouvir uma história de sucesso faz com que alguns membros da organização sintam o realismo e a essência da história, a experiência que ocorreu no passado pode se transformar em um modelo mental tácito. Quando a maioria dos membros da organização compartilha de tal modelo mental, o conhecimento tácito passa a fazer parte da cultura organizacional (POPADIUK; RICCIARDI, 2007). A partir dos modos de criação do conhecimento, apresenta-se a espiral do conhecimento, como mostra a figura a seguir. A FIG. 2 foi adaptada por Carvalho (2003) com base no modelo proposto por Nonaka e Takeuchi (1997). Legenda i: indivíduo g: grupo e: empresa Figura 2 - Espiral do conhecimento Fonte: CARVALHO, 2003, p. 23. Através do espiral do conhecimento, Nonaka e Takeuchi (1997) procuram demonstrar a dinâmica da criação e disseminação do conhecimento organizacional. No primeiro momento, os indivíduos compartilham conhecimentos tácitos através da socialização. Podem ser compartilhadas algumas experiências ou alguns modelos mentais. Na externalização, por meio do diálogo ou reflexão coletiva, os indivíduos articulam o conhecimento tácito oculto. No terceiro momento, existe a combinação do conhecimento recém-criado com o conhecimento já existente. Por fim, a internalização acontece através do “aprender fazendo”. 41 Para Kusunoki et al. (1998), os fatores que influenciam a eficiência da conversão do conhecimento são os abaixo descritos: a) visão: determina a missão e o domínio da empresa; sincroniza toda a empresa e define que tipo de conhecimento ela tem que criar; b) forma de organização: pode ajudar ou atrapalhar a criação do conhecimento; é preciso observar como cada ambiente “ba” deve ser conectado aos demais para determinar a eficiência da conversão do conhecimento; c) sistemas de incentivo: além da questão salarial e, mais do que isso, o incentivo através de formação, de valorização do conhecimento tácito de membros da empresa e oportunidade de participação funcionam como vantagem competitiva nas empresas; d) cultura corporativa e rotinas organizacionais: a maneira como os membros da organização veem o processo de criação do conhecimento e a interação entre eles afetam a eficiência da conversão de conhecimento; e) liderança: líderes podem afetar a eficiência da conversão de conhecimento através da implantação de ambientes “ba” e da definição da visão da empresa; deve ser entendido que cada membro pode ser um líder em determinado contexto. O modelo do espiral do conhecimento, apresentado na FIG. 2, faz parte de um processo que se propõe a gerenciar o conhecimento organizacional. Darroch (2003) considera este modelo uma abordagem estruturada que representa a criação e a disseminação do conhecimento dentro da organização, através da socialização, externalização, combinação e internalização. Além de Nonaka e Takeuchi (1997), outros autores como Darroch (2003), Tiwana (2002), Armistead (1999) e Bose (2004) utilizam figuras ou modelos para definir as etapas do processo de gestão do conhecimento. Para esses autores, a definição de gestão do conhecimento está intimamente ligada às etapas do processo de gestão do conhecimento. No entanto, não há um consenso na literatura, ou seja, alguns autores não visualizam a gestão do conhecimento como um processo organizacional. 42 Kuriakose et al. (2005), por exemplo, consideram que o conhecimento não deve ser gerenciado, mas as organizações precisam incentivar a criação e manutenção de um ambiente que propicie o conhecimento a crescer, fluir e adicionar valor à organização. Para os autores, a gestão do conhecimento não deve ser considerada um processo organizacional, mas um conjunto de práticas, programas e tecnologias que possam alavancar o conhecimento organizacional em busca de vantagem competitiva. Stacy (2001) também concorda que o conhecimento não é um ativo que possa ser gerenciado ou armazenado, mas que é criado e transmitido através de um processo ativo de interação entre as pessoas. Já Zhou e Fink (2003) afirmam que as abordagens não estão incorretas, sendo que alguns autores são adeptos da ideia de que o conhecimento pode ser gerenciado, e outros acreditam que não é possível gerenciar o conhecimento organizacional. 2.2.3 Fatores intervenientes na gestão do conhecimento Vários são os fatores desmotivadores e inibidores que podem interferir na gestão do conhecimento, tais como: confiança, aprendizagem e cultura organizacional. Neste capítulo estão apresentados a argumentação de alguns alguns autores da literatura pesquisada. 2.2.3.1 A confiança no processo de transferência de conhecimento Davenport e Prusak (1998) discutem vários fatores culturais que podem inibir a transferência de conhecimentos, como a falta de confiança; diferenças culturais, vocabulários e quadros de referência; falta de tempo e de locais de encontro; um estreito conceito de trabalho produtivo; status e vantagens resultantes para “donos” do conhecimento; síndrome da "não-inventado-aqui"; e intolerância a erros ou necessidade de ajuda. Acima de tudo, os autores ressaltam a importância da confiança and common ground12 no sentido de facilitar a transferência de 12 […] and common ground: e lugar comum. 43 conhecimentos. Davenport e Prusak (1998) concluíram que quanto mais perto as pessoas estiverem da cultura do conhecimento a ser transferido, mais fácil será de partilhar e trocar. É o que mostra a pesquisa de Szulanski (1996, p. 32), ao concluir que uma relação árdua - "laboriosa e distante" entre fonte e receptor aumenta a dificuldade durante a fase de execução de transferência de conhecimento, quando a interação está mais intensa. Isto tem importantes implicações para a transferência de conhecimento tácito, o que poderá implicar em inúmeros intercâmbios individuais (NONAKA, 1994). Alguns autores, como Lemos (1999), questionam como se transfere o conhecimento. Apesar de afirmarem que o processo de globalização e a disseminação das tecnologias da informação e comunicação permitem a fácil transferência de conhecimento, observa-se que, ao contrário, apenas informações e algum conhecimento podem ser facilmente transferíveis. Elementos cruciais do conhecimento, implícitos nas práticas de pesquisa, desenvolvimento e produção, não são facilmente transferíveis, pois estão enraizados em pessoas, organizações e locais específicos. Somente quem tem este tipo de conhecimento é capaz de gerar inovações em produtos, processos e formas organizacionais. Assim, enormes esforços têm sido realizados para tornar novos conhecimentos apropriáveis, bem como para estimular a interação entre os diferentes agentes econômicos e sociais para a sua difusão e consequente geração de inovações. A transferência de conhecimento também ocorre quando a experiência em uma unidade da organização afeta outra unidade. Isto pode ocorrer explicitamente, quando, por exemplo, uma unidade se comunica com outra unidade sobre uma prática que ela pensou poder melhorar o desempenho. Transferência de conhecimento também pode ocorrer implicitamente sem a unidade destinatária ser capaz de articular o conhecimento que adquiriu. Por exemplo, se uma pessoa usa uma ferramenta que foi modificada para melhorar o seu desempenho, o indivíduo pode se beneficiar do melhoramento da produtividade da ferramenta, sem necessariamente compreender as modificações ou ser capaz de articular a razão pela qual a modificação melhorou o desempenho da ferramenta. Do mesmo modo, normas ou rotinas podem ser transmitidas aos membros do grupo sem os membros serem capazes de articular a norma ou estarem conscientes do conhecimento embutido nela (ARGOTE; INGRAM; 2000). 44 Em termos gerais, os conhecimentos podem ser transferidos deslocando-se seu reservatório de uma unidade para outra ou modificando um conhecimento em um reservatório receptor. Os membros podem ser transferidos de uma unidade para outra. Do mesmo modo, tecnologia pode ser movida e rotinas podem ser transportadas a partir de uma organização para outra. Os reservatórios na unidade destinatária também podem ser modificados através de comunicação e formação (ARGOTE; INGRAM, 2000). Davenport e alertam que o compartilhamento do conhecimento exige confiança, devendo ser estimulado e recompensado, e que o suporte da direção e recursos financeiros são fatores essenciais. também é da opinião que a confiança é fundamental nos processos de transmissão de conhecimentos. Os autores Gratton (2000) e Prusak (1998) concluíram que indivíduos precisam confiar uns nos outros e também na empresa para começar a trocar informações. Eles precisam sentir que serão recompensados de alguma maneira, o que não envolve necessariamente dinheiro. A criação desse ambiente de confiança leva tempo e precisa ser estimulado pela empresa. Neste processo, o papel da comunicação é crucial. “A comunicação geralmente anda de cima para baixo, mas não volta.” (GRATTON, 2000). Parece que a questão importante é saber que a comunicação deve ser baseada nas atitudes e motivações das pessoas a quem nos dirigimos e não, como é costumeiro, simplesmente no conteúdo da mensagem. Alguns cuidados devem ser tomados no sentido de melhorar a comunicação: adaptar a comunicação ao ponto de vista do ouvinte, transmitir informações em pequenas doses e possibilitar a participação do ouvinte (BALCÃO, 1975). Os trabalhos entre grupos distintos representam as melhores ocasiões para transmissão de conhecimentos, pois é nessa interface que surgem novas ideias. No contexto da transferência internacional de aprendizagem organizacional, perspectivas orientadas pelo conhecimento focam na transferência de conhecimentos a partir da cúpula para as filiais estrangeiras e seu uso como uma ferramenta para gerar ainda mais conhecimento específico de contexto para resolver problemas locais e desafios (GOVINDARAJAN; GUPTA, 2000). A ampla noção de repositórios de conhecimento sugere que há muitos possíveis canais através dos quais esses conhecimentos podem ser transferidos (ARGOTE; INGRAM, 2000). 45 Fleury e Fleury (2000) classificam os processos associados à disseminação dos conhecimentos em: comunicação e circulação de conhecimentos, treinamento, rotação de pessoas e trabalho em equipes diversas. Dixon (2000) é da opinião que as pessoas têm grande interesse em dividir o que elas sabem e que o ser humano é, por natureza, uma espécie que gosta de ensinar. Como justificar então as reclamações das empresas sobre a dificuldade em fazer com que as pessoas compartilhem o seu conhecimento? Para Fleury e Fleury (2000), esta expressão de reclamação se refere à dificuldade de conseguir que as pessoas escrevam alguma coisa, para ser incluída numa base de dados, sem receber nada em troca, por exemplo. Os autores comparam as bases de dados com buracos negros onde não há retorno nenhum: “[...] nenhum obrigado, nenhum sorriso, nenhum sinal de contentamento ou de alívio, nenhum entusiasmo do outro lado da linha.” (p. 8). As pessoas gostam de ter retorno quando ensinam alguma coisa e esse retorno não precisa ser financeiro. Ainda, Fleury e Fleury (2000) acreditam que o desenvolvimento de uma cultura de aprendizagem acontece a partir da compreensão da importância do compartilhamento do conhecimento. Dixon (2000) focaliza o conhecimento comum que representa um dos vários tipos de conhecimento que reside em uma organização. Este é o conhecimento adquirido pelos empregados ao desenvolver suas atividades dentro do contexto da organização. Este tipo de conhecimento está ligado à pergunta “como”. O conhecimento comum responde à pergunta know how ao invés da pergunta know what aprendida na escola. O conhecimento comum é desenvolvido internamente à empresa por empregados talentosos, que buscam novas e diferentes maneiras de realização de suas atividades. O compartilhamento desse conhecimento é que pode fazer a diferença na busca da competitividade. Um nome dado à prática do compartilhamento do conhecimento comum é reaplicação das melhores práticas. Segundo Daventport e Prusak (1998), a melhor maneira de uma organização transferir conhecimentos é contratar pessoas perspicazes e deixar que elas conversem entre si. Para os autores, na economia regida pelo conhecimento, conversar é trabalhar. As reuniões face a face são de longe os mais importantes canais de transferência de tecnologia, pois a transferência de conhecimento tácito geralmente exige intenso contato pessoal. 46 Davenport e Prusak (1998) afirmam que o relacionamento de transferência de conhecimento pode ser uma parceria, uma relação de orientação ou uma relação de aprendizado, mas algum tipo de relação de trabalho costuma ser essencial. Em alguns casos não há substitutos para o contato direto. Além disso, é importante ressaltar que pessoas não podem compartilhar o conhecimento se não falam a mesma língua. A transferência do conhecimento envolve duas ações: transmissão e absorção. Se o conhecimento não for absorvido, ele não terá sido transferido. 2.2.3.2 Aprendizagem organizacional Nicolau (2003) se refere à aprendizagem como fonte de progresso na empresa, que se manifesta de duas formas: no aumento do conhecimento adquirido e na habilidade para usá-lo, portanto não podemos considerar que a instrução formal é o melhor meio para adquirir o conhecimento. O conhecimento pode ser criado do reconhecimento de soluções para problemas e na investigação de soluções alternativas. O processo pelo qual as organizações adquirem, criam ou disseminam o conhecimento é chamado de aprendizagem organizacional (GARVIN, 1998). Tratase de um processo normal e amplamente praticado nas organizações, contudo tal processo não é planejado e administrado de forma a ocorrer na hora certa e de maneira organizada e rápida, alinhado aos objetivos da organização. Para Oliveira Junior (2001), quando se fomenta o processo de aprendizagem organizacional, identificando mecanismos e ferramentas de gestão que facilitem, distribuam e permitam à empresa possuir um maior controle sobre o processo, ao mesmo tempo em que se estão determinando os mecanismos pelos quais o novo conhecimento vai ser criado – o conhecimento existente vai ser modificado – e como os fluxos de conhecimento vão ser movimentados interna e externamente. Argyris e Schön (1978) identificaram duas formas de aprendizagem organizacional. A primeira delas, a aprendizagem em circuito simples (single loop learning), acontece após a detecção de erros, sem questionar as políticas subjacentes às ações que geraram os erros. A segunda, conhecida como aprendizagem em circuito duplo (double loop learning), envolve o questionamento de crenças, valores e políticas decorrentes na organização. 47 Os autores Argyris e Schön (1996) afirmaram que, para que os membros da organização pudessem desenvolver sua capacidade de produzir circuitos duplos, seria necessário desenvolver uma cultura que premiasse ações dessa natureza. Fleury e Fleury (1995), no entanto, afirmaram que o desenvolvimento de uma cultura organizacional de aprendizagem é dificultado devido à tendência natural, na maior parte das empresas, de uma preservação dos padrões culturais e de resistência à mudança, que propiciam o surgimento de normas que atuam como um impeditivo da adoção de práticas de gestão orientadas para uma aprendizagem mais eficiente e duradoura. As mudanças referidas por Argyris (1996) são possíveis porque aquele questionamento transcende as relações hierárquicas e as fronteiras departamentais da organização. Isso torna claro que o projeto das organizações que aprendem implica profundas mudanças organizacionais, haja vista a típica estrutura organizacional burocrática e hierarquizada difundida na maioria das organizações. Incorporando os conceitos de Argyris e Schön (1978) sobre a aprendizagem de ciclo único e ciclo duplo, Kim (1998) entende que uma organização só pode aprender quando os seus membros passam pelo processo de aprendizagem em ciclo duplo, ou seja, quando eles questionam os seus próprios modelos mentais, gerando novas possibilidades de ação no futuro e novos modelos mentais individuais que devem ser, então, incorporados aos modelos mentais compartilhados da organização. Entre as práticas ou ferramentas que podem auxiliar as organizações na explicitação e transformação dos modelos mentais individuais, Senge (1990) sugere os arquétipos de sistemas e os micromundos ou laboratórios de aprendizagem. Garvin (2000) também propõe atividades nas quais as organizações que aprendem são habilidosas, entre elas: a solução de problemas de maneira sistemática; o aprendizado com as próprias experiências; e o aprendizado com os outros, por meio da observação. Essa última prática também é salientada por DiBella e Nevis (1999), com o nome de investigação imperativa. Além de desenvolver internamente seu próprio conhecimento, também é possível que a empresa aprenda com o ambiente à sua volta, ou seja, fora das suas próprias fronteiras. Uma forma para isso são as alianças estratégicas, como joint 48 ventures13, por exemplo. Leonard-Barton (1998, p. 165) define essas alianças como acordos antecipados e intensivos de intercâmbio de saber, alguns dos quais mal merecem o nome de aliança, já que são antes ligações informais entre a fonte de tecnologia e o receptor. Para Fleury e Fleury (2001, p. 33) a gestão do conhecimento “está imbricada nos processos de aprendizagem nas organizações” e na conjugação dos processos de aquisição e desenvolvimento de conhecimentos, disseminação e construção de memórias (processo de armazenagem de informações com base na história organizacional, que podem ser recuperadas e auxiliar a tomada de decisões presentes). Segundo Mendes e Souza (1997), existem três estágios no processo de aprendizado organizacional que são necessários à amplificação e a cristalização do conhecimento dentro da organização: a aquisição de conhecimento, que é o primeiro estágio; o segundo estágio, chamado de compartilhamento de conhecimento, referese à disseminação do que foi aprendido no primeiro estágio; e o terceiro estágio, utilização de conhecimento, ocorre com a disponibilização e integração do conhecimento que pode ser generalizado para a utilização em novas situações. 2.2.3.3 Obstáculos no aprendizado A comunicação é um dos obstáculos à efetivação de organizações de aprendizagem. Para Bastos et al. (2002), as organizações falham em aprender não em função de obstáculos, como a resistência pessoal à mudança ou a inabilidade de gestores, mas pela incapacidade de criar canais de comunicação que permitam a negociação entre os diversos grupos de interesses: o trabalhador, o técnico, o gestor, o consumidor ou cliente. A rotina operacional defensiva é outro dificultador da aprendizagem operacional. Essas rotinas se constituem em barreiras à mudança. Os executivos não dizem o que pensam, e as organizações não toleram conversas francas, evitam 13 Joint venture ou empreendimento conjunto é uma associação de empresas, que pode ser definitiva ou não,com fins lucrativos, para explorar determinado(s) negócio(s), sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica. 49 embaraços, surpresas, ameaças e desenvolvem a habilidade em se esquivar de conflitos, o que limita o aprendizado. Analisando essas barreiras, alguns autores propõem estratégias para construir uma organização que aprende. Shaw e Perkins (1991 citado por BASTOS et al., 2002) sugerem trazer pessoas de fora para desafiar os pressupostos dos membros. Elas colocariam novas questões que quebrem os esquemas rotineiros de pensamento da organização. Além disso, seria oferecido mais tempo para experimentar e criar. Bastos et al. (2002) citam a necessidade de se adotar uma visão holística, global, da organização; de se oferecer uma descrição mínima dos postos de trabalho, para que as pessoas possam exercitar sua capacidade de construí-los; de facilitar alianças com outras organizações; e de implementar sistemas que retenham conhecimentos. Da mesma maneira, Goh e Richards (1997) apresentam um conceito de capacidade de aprendizado das organizações, que propõe um instrumento de avaliação dessa capacidade. Para eles, as pessoas preocupadas em construir organizações que aprendem devem identificar e avaliar o impacto de condições organizacionais internas e das práticas gerenciais que levam à aprendizagem. Cinco grandes dimensões definiriam as organizações que aprendem: (a) clareza de propósitos e missão; (b) comprometimento da liderança e compartilhamento do poder; (c) experimentação e sistema de recompensas adequado; e (d) transferência de conhecimento e grupos de solução de problemas. Em resumo, os especialistas dessa vertente convergem na tentativa de explicitar os passos necessários para que ocorra a aprendizagem no contexto organizacional e de salientar os fatores dificultadores, de modo que as organizações possam gerenciar o seu próprio processo de aprendizagem no plano individual e coletivo. 2.2.3.4 A cultura como base para aprendizagem organizacional Estudiosos têm utilizado diferentes perspectivas para investigar questões da aprendizagem organizacional. Nos últimos anos, muitos pesquisadores têm defendido a perspectiva da “orientação do processo'' (CROSSAN; LANE; WHITE, 50 1995; HUBER, 1991). Por exemplo, Argyris e Schon (1978) sugeriram que a aprendizagem organizacional é um processo de detectar e corrigir erros. Fiol e Lyles (1985) também salientaram que aprendizagem organizacional é um processo de melhoria das ações através de melhor conhecimento e compreensão. Assim, aprendizagem organizacional é um processo evolutivo para melhorar o desempenho organizacional. Esse processo de orientação também tem servido para explicar como as considerações de aprendizagem organizacional podem ser aplicadas para aperfeiçoar a criação do conhecimento dentro de uma organização e conduzir pesquisa em sistemas de gerenciamento de conhecimento (NONAKA; TAKEUCHI, 1995). Aprender com o passar dos anos, aplicar o conhecimento adquirido nesses anos de experiência, tratar situações diversas, resolver problemas quando não existem informações importantes, determinar o que é importante, ter capacidade para agir e pensar, de forma rápida e corretamente a novas situações, compreender imagens visuais, processar e manipular símbolos, ser criativo e imaginativo, utilizar heurística (normas práticas advindas da experiência) são algumas das características de um comportamento inteligente a ser otimizadas na execução de qualquer atividade funcional em uma empresa. São também características em que se observa uma nítida correlação entre conhecimento, aprendizagem e criatividade (BALCEIRO; BALCEIRO, 2001). De acordo com Nonaka (1994), aprendizagem organizacional depende fundamentalmente da internalização de conhecimento, onde conhecimento explícito (formalizado, explicado) é convertido em formas tácitas, tais como know-how e rotinas organizacionais. O conhecimento é literalmente absorvido através da ação ou experiência. Inkpen (1996) amplia esse conceito, alegando que o desenvolvimento da capacidade em um contexto de parceria é, portanto dependente da integração de conhecimentos internalizados a partir de fontes externas em rotinas organizacionais. Assim, o conhecimento adquirido a partir do parceiro de implementação e o fornecedor devem ser traduzidos, adaptados e combinados com o conhecimento dos processos de negociação da organização e, em seguida, internalizados em novas rotinas organizacionais específicas para o contexto da organização. Para aumentar o processo de aprendizagem dentro de uma organização, é necessário que se tenha consciência da sua cultura. A cultura é importante porque é 51 banco de dados da aprendizagem passada e um instrumento de comunicação desta aprendizagem com toda a organização. Quando a cultura da organização é bem conhecida e apresentada de forma clara para os seus empregados, essa organização se torna passível de testes e mais aberta para as modificações necessárias (BALCEIRO; BALCEIRO, 2001). O aprendizado ocorre quando as pessoas refletem sobre as consequências de seus atos, principalmente quando conseguem estabelecer nexos causais e correlacionais entre os eventos, que levam ao sucesso ou ao fracasso organizacional. Ao se focalizar a cultura de uma organização, consegue-se entender melhor o que se passa nas práticas dos grupos, desvinculando-se um pouco do conceito de aprendizagem organizacional como uma aprendizagem individual dentro do contexto de uma organização. Se a organização é conceitualizada em termos de cultura, torna-se mais fácil falar sobre aprendizagem organizacional. Porque a prática cultural preserva o aprendizado passado, e a consciência e a crítica da própria cultura organizacional podem prover os momentos de mudança (BALCEIRO; BALCEIRO, 2001). 2.2.3.5 Fatores desmotivadores e inibidores para a geração do conhecimento A seguir, estão apresentados os fatores que podem dificultar o processo de geração do conhecimento segundo diversos autores (AMARAL, 2006; GARVIN, 2000; KROGH et al., 2001; NONAKA; TAKEUCHI, 1997; WAGNER III; HOLLENBECK, 2003; WAGNER III; KLUGE et al., 2002; TERRA; GORDON, 2002; TERRA, 2005). 1. Baixa capacidade de acomodação: acomodação é o processo pelo qual as pessoas conferem significado a novos impulsos, distinguindo-os como algo que se situa além de seus atuais conhecimentos. Os indivíduos podem se sentir presos numa armadilha, resposta emocional que cria forte barreira mental a novos conhecimentos, aliado a sentimentos de tensão e ansiedade. Em alguns casos, o resultado será a completa perda de interesse pela nova situação ou a busca de outras tarefas e impressões mais aceitáveis (KROGH 52 et al., 2001). 2. Ameaça à autoimagem: estando o conhecimento diretamente ligado à autoimagem de maneira tão íntima, as pessoas geralmente resistem a qualquer coisa nova. A ruptura em relação a hábitos conhecidos pode provocar sentimento de grande risco, levando a resistências e redução de colaboração (AMARAL, 2006). 3. Percepções individuais diferentes sobre novos produtos e processos: as pessoas podem ter, baseadas em seus valores e conhecimentos individuais, percepções diferentes com relação a novas situações. Essas diferenças podem causar impasses e resistências, podendo levar ao não envolvimento pessoal nessas novas situações e, dependendo do prestígio e poder da pessoa resistente, influenciar indivíduos de forma negativa (AMARAL, 2006). 4. Resistência ao novo, a mudanças: é uma resistência natural do ser humano, mas pode variar em grau. A simples perspectiva de saída da zona de conforto individual pode imobilizar algumas pessoas, que buscarão defender e justificar o status quo (AMARAL, 2006). 5. Medo de falhar: quando uma cultura desfavorece ou até mesmo pune a ocorrência de falhas, as pessoas evitam riscos e mudanças, assumindo posturas defensivas. Falhas e erros são vistos como algo completamente negativo e o aprendizado que pode ocorrer nessas situações (às vezes até maior que com acertos) é desprezado (AMARAL, 2006). Como fatores desmotivadores e inibidores de perspectiva predominantemente organizacional foram encontrados na literatura os seguintes itens: 1. Necessidade de linguagem legítima: a linguagem é crucial para o aprendizado e para a reflexão individuais e para a transmissão de conceitos. Para fins de compartilhamento de conhecimentos é preciso explicitar os conhecimentos táticos por meio de uma linguagem comum, aceitável por outros membros da comunidade e pela organização em geral (KROGH et al., 2001). 53 2. Histórias organizacionais: constituem a memória organizacional ou a compreensão consensual dos processos internos, permitindo que os indivíduos regulem seus próprios comportamentos, interpretando o sistema de valores da organização. Porém, as histórias podem dificultar a manifestação de ideias contraditórias; são capazes de polarizar novos conhecimento, destacando as diferenças entre novos conhecimentos e os existentes, fazendo com que o novo pareça menos legítimo (KROGH et al., 2001). 3. Procedimentos: na maioria das empresas, os procedimentos vigentes não permitem a transposição das linhas disciplinares ou funcionais para a busca de inovações ou de criação de conhecimento. Não admitem, também, que as pessoas dediquem tempo e recursos suficientes a novos projetos de criação de conhecimento (KROGH et al., 2001). 4. Paradigmas da empresa: este é um fator fundamental e abrangente. Em geral, o conjunto de diretrizes estratégicas, declarações de visão e missão e os valores organizacionais essenciais promovem a socialização dos novos membros de uma organização, provocando o seu alinhamento com o pensamento vigente na empresa. Tais paradigmas têm o poder de fomentar ou obstruir a criação de conhecimento; o conhecimento pessoal compatível com o paradigma logo será absorvido por outros colegas, enquanto que tentativas não conformistas de justificar crenças pessoais geralmente são encaradas com ceticismo (KROGH et al., 2001). 5. Burocracia: organizações fortemente apoiadas em processos burocráticos podem apresentar uma inércia inibidora de mudanças, de busca por novas ideias e novos conhecimentos (NONAKA; TAKEUCHI, 1997; WAGNER III; HOLLENBECK, 2003). 6. Forças-tarefa: uma organização fortemente baseada em forças-tarefas, apesar da agilidade em resolver problemas e enfrentar novas situações, tem dificuldades em sedimentar conhecimento (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). 54 7. Percepções coletivas diferentes sobre novos produtos e processos: semelhante à perspectiva individual, mas com muito mais força, pois um grupo passa a defender o status quo (WAGNER III; HOLLENBECK, 2003). 8. Preocupação quanto à desordem após dissolução de antigas equipes: pode haver resistência baseada nas incertezas quanto ao futuro dos integrantes de equipes estabilizadas, sob a forma, inclusive, de solidariedade entre os elementos do grupo e pessoas simpatizantes a esses indivíduos (WAGNER III; HOLLENBECK, 2003). 9. Hierarquia dificultando processos de comunicação: uma organização com níveis hierárquicos desnecessários tende a ter dificuldades e atrasos e distorções nos processos comunicação, com pouco incentivo ao amplo compartilhamento de conhecimentos (WAGNER III; HOLLENBECK, 2003). 10. Feudos e silos de conhecimento: estruturas fortemente enraizadas e delimitadas “politicamente” podem levar a posturas de isolamento e, às vezes, até de confronto entre grupos dentro de uma organizaçâo. A síndrome do “conhecimento é poder” refere-se a uma mentalidade que coloca o valor que o conhecimento tem para o individuo à frente do valor que ele tem para a organização. Novas ideias e conhecimentos que surgem em um determinado grupo podem sofrer resistências, abertas , em outras equipes e localidades de uma empresa; da mesma maneira, pode haver resistências na disseminação de conhecimento para fora de um grupo dentro da empresa, em uma tentativa de preservar esse tipo de poder fictício (GARVIN, 2000; KLUGE et al., 2002). 11. Dificuldade de mensuração de resultados: a falta de comprovação de resultados positivos através de mensuração tradicional (financeira, por exemplo) pode levar a desconfianças e descrença processos de criação de conhecimento (KROGH et al., 2001; KLUGE et al., 2002; TERRA; GORDON, 2002; TERRA, 2005). Esse conjunto de fatores desmotivadores e inibidores de processos de conhecimento defendidos pelos diversos autores citados neste subitem, são fundamentais para comporem a análise do processo de gestão do conhecimento 55 Fatores desmotivadores Fatores inibidores 1. Baixa capacidade de acomodação 1. Necessidade de linguagem legítima 2. Ameaça à autoimagem 2. Procedimentos 3. Percepções individuais diferentes sobre 3. Histórias organizacionais novos produtos e processos 4. Resistência ao novo, a mudanças 4. Paradigmas da empresa 5. Medo de falhar 5. Burocracia 6. Forças-tarefa 7. Percepções coletivas diferentes sobre novos produtos e processos 8. Preocupação quanto à desordem após dissolução de antigas equipes 9. Hierarquia dificultando processos de comunicação 10. Feudos e silos de conhecimento 11. Dificuldade de mensuração de resultados em qualquer organização. O QUADRO 3 apresenta esquematicamente os fatores desmotivadores e inibidores do processo de gestão do conhecimento. Quadro 3: Fatores desmotivadores e inibidores do gestão do conhecimento Fonte: Elaborado pelo autor 56 3 METODOLOGIA DA PESQUISA Este capítulo tem o objetivo de detalhar e discutir a metodologia do trabalho, enfatizando aspectos relacionados à escolha da estratégia, tipo e método de pesquisa, coleta de dados, unidades de análise e observação e a estratégia de análise dos dados. 3.1 Estratégia, tipo e método de pesquisa Para atingir o objetivo proposto por este estudo, de caracterização do processo de gestão do conhecimento, a opção feita foi a abordagem qualitativa, por se acreditar que é a mais adequada ao estudo de um único caso, privilegiando a singularidade da empresa escolhida. A abordagem qualitativa, para Godoy (1995), parte de questões ou focos de interesses amplos, que vão se definindo à medida que o estudo se desenvolve, acrescentando, ainda, que não se procuram medir os eventos estudados e nem se emprega instrumental estatístico na análise dos dados. Por meio da pesquisa qualitativa, estabelece-se um diálogo entre a realidade e a teoria. Como características da pesquisa qualitativa, apresentadas por Lima (1999), têm-se a ênfase na interpretação sobre as concepções dos agentes, a consideração do contexto na busca de integração de informações que tenham sentido como conjunto, o caráter processual da pesquisa que valoriza o avanço na reflexão sobre os dados, o exame de documentos, a realização de entrevistas e a implicação do pesquisador na pesquisa e seu contato direto com os fenômenos organizacionais. Para Bonoma (1985), a pesquisa qualitativa é guiada por um modelo de processo de descoberta que leva a(ao): a) um conjunto de generalizações teóricas a partir das observações; b) teste dessas observações e, c) eventualmente, uma teoria validada. Portanto, o autor entende que a pesquisa qualitativa é o principal ou mesmo o único artifício de conhecimento válido aberto a cientistas cujos interesses estão focados no comportamento humano. 57 Na pesquisa qualitativa, busca-se o sentido do comportamento dos atores por meio da interpretação. Considera-se, simultaneamente, uma interconexão entre a análise do comportamento e do sentido (LIMA, 1999). Portanto, para a pesquisa qualitativa, é necessário a apreensão e conseguinte compreensão em profundidade dos fenômenos sociais e de um conhecimento que é intersubjetivo, descritivo e compreensivo (ALVARENGA NETO, 2005). O objeto de estudo deste trabalho tem ligação com as relações sociais e a atividade humana na criação e na retenção do conhecimento organizacional. Esta pesquisa apresenta uma estratégia qualitativa, tendo em vista que não se pretende mensurar, mas, sim, compreender como a organização em estudo lida com a gestão do conhecimento. A pesquisa qualitativa é adequada ao objeto de estudo, pois pretende compreender o contexto, a percepção dos agentes, o processo, examinar documentos e realizar entrevistas para analisar e refletir sobre os dados. Quanto ao tipo de estudo, optou-se pelo tipo descritivo, que tem como foco essencial o desejo de descrever a condição dos fatos e fenômenos de determinada realidade. O estudo de caso é indicado quando se quer aprofundar na descrição de problema (TRIVINOS, 1987). As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno, ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Uma das características mais significativas das pesquisas descritivas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados (GIL, 1999). Da mesma forma, Mattar (1994) ressalta que a pesquisa descritiva caracteriza-se por possuir objetivos bem definidos, procedimentos formais estudados e orientados para a solução de problemas. A pesquisa descritiva compreende descrição, registro, análise e interpretação na natureza atual ou processo dos fenômenos. O enfoque se faz sobre condições dominantes ou sobre como uma pessoa, grupo ou coisa se conduz ou funciona no presente (SALOMON, 2001). Pelo exposto, o método escolhido foi o estudo de caso, que para Yin (2005) são as estratégias preferidas quando as questões de pesquisa são principalmente como e porquê, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos, e quando o foco é um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto real. Mattar 58 (1994) indica os estudos de casos selecionados como uma forma de aprofundamento do conhecimento de problemas não suficientemente definidos. Triviños (1987) afirma que o estudo de caso é a mais relevante forma de pesquisa qualitativa. Caracteriza-se pelo emprego de uma estatística simples, não indo de encontro ao modelo positivista típico, tão inclinado à quantificação das informações. Na mesma direção, Godoy (1995) afirma que, no estudo de caso, as técnicas fundamentais da pesquisa são as observações e as entrevistas, sendo que é utilizada uma variedade de dados coletados em diferentes momentos. Uma das principais vantagens do estudo de caso está na possibilidade de aprofundamento que ele oferece, já que os recursos de pesquisa são centrados no caso estudado (LAVILLE; DIONNE, 1997). Do mesmo modo, Yin (2005) define que a investigação de um estudo de caso passa por uma situação tecnicamente única, em que há mais variáveis de interesse do que simplesmente dados prontos a serem coletados, além de estar baseada em várias fontes de evidências. Martins (2000) afirma que a técnica de estudo de casos dedica-se a estudos intensivos do passado, presente e de interações ambientais de uma ou mais unidade social. Para o autor, os estudos de casos são validados pelo rigor do protocolo estabelecido. Em função de a pesquisa qualitativa, permitir fazer um exame intensivo – tanto em amplitude como em profundidade, o estudo realizado privilegiou um caso único, uma vez que se buscou, com profundidade, identificar, analisar e compreender o modelo proposto por Nonaka e Takeuchi (1997), para a socialização, externalização, conversão e internalização do conhecimento em uma empresa prestadora de serviços de tecnologia (GODOY, 1995b; YIN, 2003). Para Yin (2005), existe um fundamento lógico para o caso único quando ele apresenta o caso decisivo ao testar uma teoria bem-formulada. O caso único pode, então, ser utilizado para confirmar se as proposições de uma teoria são corretas ou se algum outro conjunto alternativo de explanações possa ser mais importante. 59 3.2 Unidades de análise e observação da pesquisa A unidade de análise foi uma empresa de tecnologia vinculada a uma instituição de ensino superior brasileira, que por solicitação dos dirigentes, terá o nome preservado e aqui será representada como “Alpha”. A Alpha é uma empresa de capital nacional, especializada em prestar serviços de informática e tecnologia, sendo responsável pela gestão de hardware e software para todas as instituições do grupo ao qual pertence. A Alpha possui as seguintes atribuições: a) acompanhar, analisar e garantir a disponibilidade da infraestrutura tecnológica no trato das informações; b) analisar e prospectar novas tecnologias para otimizar as tarefas dos usuários; c) especificar e coordenar aspectos tecnológicos dos projetos que envolvem o uso da tecnologia da informação; d) proporcionar melhoria da eficiência sistêmica do uso da tecnologia da informação. À frente da Alpha, encontra-se um diretor, cujas atribuições visam garantir o funcionamento eficiente dos serviços prestados pela instituição. A Alpha possuía, em 2009, cerca de 82 empregados distribuídos nas atividades de desenvolvimento e manutenção de sistemas, infraestrutura 14 tecnológica, Data Warehouse , garantia da qualidade dos produtos e serviços prestados, atendimento ao usuário de forma remota ou presencial e execução de atividades administrativas. As unidades de observação foram os profissionais das sete áreas da empresa Alpha, que ocupam os cargos de diretor, gerente, analista de sistema e analista de negócios, e buscou-se avaliar a percepção destes sobre o processo de gestão de conhecimento da empresa Alpha. 14 Data warehouse (ou armazém de dados, ou depósito de dados no Brasil) é um sistema de computação utilizado para armazenar informações relativas às atividades de uma organização em bancos de dados, de forma consolidada. 60 A TABELA 1 apresenta as áreas da empresa Alpha onde foram realizadas as entrevistas da pesquisa. TABELA 1 Unidades de observação Unidades de observação Quantidade Diretoria 1 Gerência de Qualidade 2 Gerência de Análise de Negócios 4 Gerência de Desenvolvimento 2 Gerência de Informações Estratégicas 2 Gerência do SDI - Service Desk em Informática 2 Gerência de Tecnologia e Infraestrutura 3 Total 16 Fonte: Dados da pesquisa. Os sujeitos da pesquisa foram escolhidos entre os 82 empregados, devido aos seguintes critérios: formação superior na área de informática e ocupação de cargo de gestor, entrevistados conforme distribuição constante da TABELA 2: TABELA 2 Sujeitos da pesquisa Cargo Quantidade Diretor 1 Gerente 6 Analista 9 Total 16 Fonte: Dados da pesquisa Albarello et al. (1997) afirmam que: “[...] nos estudos qualitativos interroga-se um número limitado de pessoas, pelo que a questão da representatividade, no sentido estatístico do termo, não se coloca. O critério que determina o valor da amostra passa a ser a sua adequação aos objetivos da investigação”. 3.3 Estratégia de coleta de dados Os dados da pesquisa foram semiestruturadas e pesquisa documental. coletados por meio de entrevistas 61 A entrevista é definida como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formulam perguntas, com o objetivo de obtenção de dados que interessam à investigação. As entrevistas mais estruturadas são aquelas que predeterminam em maior grau as respostas a serem obtidas, ao passo que as menos estruturadas são desenvolvidas de forma mais espontânea, sem que estejam sujeitas a um modelo preestabelecido de interrogação (GIL, 1999). Yin (2005) afirma que a vantagem de utilizar mais de uma fonte de evidência é desenvolver linhas convergentes de investigação, ou seja, as descobertas ou conclusões serão mais convincentes se estiverem baseadas em fontes distintas. Desta forma, é possível corroborar um fato. Portanto, nesta pesquisa, entrevistas e coleta de documentos foram utilizadas como fonte de evidências. A entrevista é uma fonte essencial de evidências para os estudos de casos, dado que a maioria delas trata de questões humanas que devem ser captadas e interpretadas pelo pesquisador. Além disso, as entrevistas podem auxiliar a identificar demais fontes relevantes de evidências. Com relação aos tipos de entrevistas, elas podem ser estruturadas ou semiestruturadas. Nas entrevistas estruturadas ocorre um levantamento formal através de questões estruturadas. Já as entrevistas semiestruturadas são informais e o entrevistador pode pedir que o entrevistado exponha suas próprias opiniões sobre determinado assunto. Além da entrevista semiestruturada, foi realizada a pesquisa documental, com o intuito de avaliar relatórios, manuais de procedimentos, roteiros, fluxograma e outros que surgiram no decorrer da pesquisa com o objetivo de complementar as informações obtidas das entrevistas (GODOY, 1995). Foi escolhida a entrevista do tipo semiestruturada por contemplar essas características, definidas por Godoy (1995) e Yin (2005). Neste tipo de entrevista, apesar do entrevistador possuir uma série de perguntas-guias abertas, não necessariamente as colocará pela ordem em que anotou e sob a formulação prevista, podendo inclusive acrescentar perguntas no decorrer das entrevistas. O roteiro de entrevista, que foi elaborado com as perguntas e aplicado durante o processo, teve como base o instrumento utilizado por Lage (2003) em sua dissertação de mestrado com o tema “Práticas e condições organizacionais relacionada à gestão do conhecimento: um estudo de caso na Samarco Mineração S/A”. Lage (2003) buscou avaliar a gestão do conhecimento considerando as mesmas dimensões propostas nesta pesquisa, ou seja, infra- 62 estrutura organizacional e processos organizacionais relacionados à gestão do conhecimento. O objetivo do questionário foi avaliar a percepção dos empregados sobre a existência dos processos de gestão do conhecimento, além de avaliar se estes processos são influenciados pelos aspectos relacionados à estrutura, tecnologia e cultura. A perspectiva da análise documental considera o exame de materiais de natureza diversa, que ainda não receberam um tratamento analítico, ou que podem ser reexaminados, buscando-se novas e/ou interpretações complementares. Desta forma, o conceito de documentos é entendido de uma forma ampla, incluindo, portanto, todos os materiais escritos (GODOY, 1995). A pesquisa documental se mostra pertinente e vantajosa, pois permite acesso a informações de longos períodos de tempos. A pesquisa documental pode ser considerada uma fonte secundária e natural de informação à medida que, por terem origem num determinado contexto histórico, econômico e social, retratam e fornecem dados sobre esse mesmo contexto. É uma fonte segura, pois não há o perigo de alteração no comportamento dos sujeitos sob investigação (GODOY, 1995). A pesquisa documental ocorreu basicamente em folder institucional e site da empresa para verificar a estrutura do organograma e para conhecer as atribuições e responsabilidade das áreas selecionadas. Após o pré-teste do roteiro de entrevista ser realizado com um dos empregados da empresa Alpha, que posteriormente foi excluído do grupo de sujeitos da pesquisa, foram realizadas as adequações às perguntas e dimensionado o tempo utilizado em cada entrevista. Os contatos com os entrevistados foram feitos com agendamentos prévios e as entrevistas foram gravadas e realizadas na empresa durante o horário de expediente. O tempo médio de duração das entrevistas foi de duas horas, totalizando, aproximadamente trinta e duas horas de gravação. Logo após, fez-se a transcrição dos dados que se transformaram em 297 (duzentas e noventa e sete) páginas, para que eles fossem, na sequência, organizados e tratados segundo as categorias de análises previamente definidas na pesquisa. Para preservar o anonimato dos entrevistados, seus nomes e cargos foram omitidos. As entrevistas foram codificadas, considerando uma ordem aleatória, numeradas de 01 a 16, conforme é apresentado no QUADRO 4. 63 Especificação Código Entrevistado 1 E01 Entrevistado 2 E02 Entrevistado 3 E03 Entrevistado 4 E04 Entrevistado 5 E05 Entrevistado 6 E06 Entrevistado 7 E07 Entrevistado 8 E08 Entrevistado 9 E09 Entrevistado 10 E10 Entrevistado 11 E11 Entrevistado 12 E12 Entrevistado 13 E13 Entrevistado 14 E14 Entrevistado 15 E15 Entrevistado 16 E16 Quadro 4: Codificação da amostra da pesquisa Fonte: Elaborado pelo autor. Em síntese, o presente trabalho teve como base um estudo de caso, tendo como estratégia, para a coleta e o tratamento dos dados, a pesquisa qualitativa. O instrumento básico de coleta de dados junto aos empregados e diretor da empresa Alpha foi realizado por meio de entrevista individual semiestruturada. 3.4 Estratégia de análise dos dados Este trabalho privilegiou a técnica de análise de conteúdo, que, segundo a perspectiva de Bardin (2004), tem sido uma das técnicas mais utilizadas para a codificação e a análise dos dados. Consiste em um instrumental metodológico que se pode aplicar a discursos diversos e às formas de comunicação, seja qual for a natureza do seu suporte. Segundo Yin (2005), a análise dos dados é a atividade de examinar, categorizar, classificar, testar e recombinar as evidências. Nesta pesquisa, a análise dos dados das entrevistas foi realizada através de análise de conteúdo. Foram 64 criadas categorias com base na fundamentação teórica para organizar as respostas obtidas quando da realização das entrevistas, constante do QUADRO 5. Categoria Gestão do conhecimento Tecnologia Estrutura Cultura (ambiente) Processo utilização Objetivos • identificar o conhecimento relevante para a Alpha; • verificar até que ponto as áreas estão conscientes a respeito do que é importante para a Alpha; • verificar quais são os indicadores utilizados para medir o resultado da gestão do conhecimento. • identificar os recursos tecnológicos relacionados à gestão do conhecimento que estão disponíveis na empresa; • descrever seu funcionamento, função, nível de acesso, etc. • identificar e conhecer as características estruturais da Alpha; • verificar como essas características se relacionam com a gestão do conhecimento. • identificar os valores que caracterizam o ambiente da empresa; • verificar como esses valores se relacionam com a gestão do conhecimento. de • identificar as práticas que facilitam o uso do conhecimento na empresa. Processo proteção Processo criação aquisição de • identificar as práticas utilizadas para proteger conhecimento. Processo conversão de • identificar as práticas utilizadas para localizar, mapear e compartilhar conhecimento internamente. de • identificar as práticas utilizadas para criar e adquirir conhecimento pela empresa. e Quadro 5: Organização das categorias de análise Fonte: Elaborado pelo autor. Para Bardin (2004), o termo análise de conteúdo designa um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, para permitir a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção dessas mensagens. O método de análise de conteúdo, para Trivinos (1987), divide-se em três etapas: pré-análise, descrição analítica e interpretação referencial. Na pré-análise, o trabalho foi organizar o material encontrado sobre a empresa no site e folder institucional. A descrição analítica é a continuação da pré-análise; aqui os dados extraídos das entrevistas foram submetidos a um estudo aprofundado, orientado em princípio pelos referenciais teóricos. Nesta etapa foram avaliadas e buscou-se apurar sínteses coincidentes e divergentes de ideias. A fase de interpretação referencial ultrapassa a análise do material coletado, buscando ideologias, tendências e outras variáveis que influenciaram na elaboração de documentos. Esta etapa foi importante para elaboração das considerações finais. 65 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Podemos ser conhecedores com o conhecimento de outros, mas não podemos ser sábios com a sabedoria dos outros. Michel de Montaigne Este capítulo é destinado à descrição e análise dos dados coletados nas entrevistas face ao referencial teórico apresentado no Capítulo 2, desta forma busca-se na literatura a teoria dos autores que estudam a gestão do conhecimento. 4.1 Processo de criação e aquisição do conhecimento A empresa diferencia o conhecimento que deve ser criado internamente do conhecimento que deve ser adquirido externamente. Para a maioria dos entrevistados, a empresa busca em primeiro lugar avaliar se existem condições do conhecimento ser criado internamente, considerando a urgência da demanda e a capacidade técnica da equipe para desenvolver o novo conhecimento. Quando não é possível, é buscado o conhecimento externo, o que pode ocorrer em forma de parceria, com uma parte sendo desenvolvida internamente e outra por meio de consultoria externa, ou a aquisição ocorre de forma integral em algum fornecedor que já detenha o conhecimento. Na avaliação sobre a decisão de criar o conhecimento internamente, não existe um roteiro formal sobre os critérios utilizados, descrevendo as competências e itens a serem observados durante o processo de avaliação. Há casos, em que a determinação final sobre a capacidade e prioridade de criar ou adquirir o conhecimento é da Diretoria. A avaliação da Diretoria não ocorre isoladamente, mas com a participação da equipe. O critério utilizado pela empresa para avaliar o que deve ser criado internamente do que deve ser adquirido externamente é a capacidade técnica, considerando se o conhecimento é totalmente novo, ou se existe algo na empresa que pode ser adaptado. 66 Toda vez que surge uma necessidade, a empresa primeiro busca saber se já existe essa demanda, se já existe isso pronto. [...] depois, se não existe [...] depois ela verifica qual que é o jeito mais correto e mais viável, desenvolver aqui ou ainda solicitar esse desenvolvimento fora. Toda vez ela faz isso. (E02). Na nossa área ali, a gente tenta absorver o máximo do nosso conhecimento [...], mas eu acho que o grande ponto dessa decisão é com relação a tempo mesmo. (E11). [...] acredito eu que, primeiramente, analisando tempo, prazo, ferramenta para desenvolvimento [...] e juntando todos esses itens, analisar o custo/benefício de fazer aqui ou buscar fora. (E04). [...] a gente leva para a Diretoria e ela sabe avaliar. E acata também as opiniões da gente, em relação à área, se a gente tem condição de fazer ou não. (E08). E às vezes há uma dedicação do profissional da empresa [...] 80% das atividades serão executadas por ele e os outros 20% ficará a cargo de uma consultoria externa, que veio para dar um apoio às vezes no planejamento, mas às vezes a execução fica com a gente. Então pode ser total ou parcial. (E15). A empresa possui profissionais qualificados com capacidade técnica para o desenvolvimento de novos conhecimentos, o que pode ser comprovado pela formação da equipe e experiência profissional de cada um. Existe um Centro de Analistas de Negócios com especialistas que são responsáveis pelo acompanhamento de solicitações de suporte técnico e demandas dos usuários de sistemas da empresa. Quando surge alguma demanda nova, são avaliadas as tecnologias existentes na empresa, criadas pela própria equipe para atender a outras finalidades, comparando-as com a necessidade da área solicitante, para aferir a viabilidade de adaptação, pois, mesmo com capacidade técnica, pode-se chegar à conclusão de uma inviabilidade do projeto, em função do custo/benefício da criação do conhecimento. O custo/benefício de cada projeto ser criado internamente é avaliado cuidadosamente pelo Centro de Analistas de Negócios, pois a equipe é considerada pequena pelos entrevistados, diante da grande demanda dos usuários dos sistemas. O que geralmente norteia a decisão sobre a criação do conhecimento é, na maioria das vezes, o prazo para conclusão da solicitação, que geralmente é pequeno. Com certeza, o custo/benefício. Por quê? Ela avalia primeiro por isso, porque a demanda dela é muito grande. Então, ela tenta buscar lá fora para a gente direcionar apenas para as questões bem nossas. (E02). Para eu buscar fora ele tem fica um pouco caro [...] normalmente ele fica mais caro. Porém, há uma necessidade? Sim. Se há essa necessidade, a gente busca fora; se não, a gente supre internamente. (E07). 67 A gente foi no mercado, pesquisou empresas que tinham conhecimento no assunto, que fossem empresas reconhecidas no mercado, e fez uma parceria. (E09). Eu acho que são avaliados os sistemas que existem hoje na empresa. Se tem algum com característica semelhante, que tem como ser aperfeiçoado para atender a demanda. Se o esforço vai ser muito grande, nada parecido com o que a gente tem. E se for alguma coisa muito diferente da nossa realidade, aí é buscado no mercado. (E12). A gente faz toda essa avaliação, para ver até uma estimativa de custo, de prazo, o tempo que a gente vai precisar para poder desenvolver isso. E aí é que começam a surgir as comparações com outras soluções – se vai buscar ou se vai fazer internamente. (E16). Os entrevistados demonstraram conhecimento sobre os critérios utilizados pela empresa diante da demanda por um conhecimento novo. A empresa avalia a capacidade da equipe técnica, o custo/benefício e a urgência da demanda. Com base nestes itens, é considerada a estratégia de prioridade para tomar a decisão sobre criar internamente ou adquirir de fornecedores ou parceiros. Para criar conhecimento, há algumas práticas eventualmente utilizadas pela empresa, e entre as mais citadas estão o preenchimento de formulários para documentação do processo e a pesquisa documental. Existe, inclusive, uma metodologia, porém, incompleta, que se resume em preencher um formulário padrão e fazer o levantamento para verificar se existe algo semelhante na empresa em outro sistema. A pesquisa individual, principalmente na web, é a prática mais comum para criar conhecimento, baseando-se em publicações já existentes sobre o mesmo assunto, para produzir o novo conhecimento. Os relatos também demonstram que eventualmente existem treinamentos, capacitação e discussão em grupos que são responsáveis por repassar o processo de criação do conhecimento. A empresa também faz troca de experiências entre os membros das equipes, incentivando a criação de grupos de estudos. Não existe [...] para esses conhecimentos novos não existe uma regra. Ele pode ser passado num documento, pode ser formalizado no datawiki, não tem assim um padrão estabelecido para que isso seja levado para o restante do grupo não. Inclusive tem situações muito específicas que isso não é levado para todo o grupo; é levado às vezes para alguns indivíduos que têm relação com o que está sendo feito. ( E13). Normalmente, quando vai desenvolver uma coisa nova, a gente faz um levantamento para saber se existe alguma coisa semelhante em outro sistema. E aí a gente busca esse conhecimento, essa troca de conhecimento. (E02). Existe até em algumas situações, nós que somos da área de qualidade, ajudamos a uma decisão dessa [...] até por experiência, por uma série de fatos, de fatores, que vai auxiliar. (E07). 68 No nível de cada unidade gerencial, as práticas para criação do conhecimento são semelhantes às utilizadas pela empresa. Há casos de inovações em algumas gerências, como criação de células de trabalho e adoção de melhores práticas, mas a grande maioria concentra-se na prática da pesquisa e documentação. Então é definido de acordo com a célula, que é um grupo de atendimento. Então, cada grupo – que na verdade são três – está focado numa determinada área. (E01). É, na verdade existe. A gente tem uma base de conhecimento, essa base de conhecimento ela é compartilhada entre as equipes de trabalho. (E05). Só na pesquisa. (E06). Em algumas áreas existe o “ponto focal”, que são pessoas com mais experiência e preparadas para lidarem com assuntos que, por sua grande complexidade, exigem um conhecimento maior. Elas são referências da equipe para o esclarecimento de dúvidas e soluções de problemas e funcionam como se fossem lideres de equipes, indicados pela chefia imediata. Então, na área de software tem um ponto focal, na área de banco de dados e na área de conectividade. Esse ponto focal são as pessoas já com mais experiência na atuação daquela área. Então, dependendo da complexidade da solução, vai ter que ser feito pelo ponto focal ou poderá ser feito por outra pessoa da área. E o ponto focal ele é referência em cada área dessa, para adotar as melhores práticas, como é que vai ser a configuração. (E08). Dentro de cada célula de trabalho existe um ponto focal, que é um ponto focal mesmo, a hora que eu preciso saber algumas coisas é o ponto focal do que está aqui dentro e que centraliza o que está sendo desenvolvido aqui. (E13). Quando a empresa conclui que é necessário adquirir o conhecimento externo, ela utiliza técnicas para escolher o melhor fornecedor no mercado, fazendo uma lista de requisitos elaborada por técnicos de diversas áreas da empresa, mediante entrevistas e reuniões com os usuários para definição do escopo do projeto. A metodologia para essa aquisição é sempre a mesma. Os analistas de negócios avaliam as propostas de pelo menos três fornecedores, previamente cadastrados, considerando a lista de requisitos, e fazem a prospecção da solução. A prática do benchmarking junto a clientes dos fornecedores é muito utilizada pela empresa, com pesquisas in loco para avaliar a solução técnica implantada e conhecer o projeto em funcionamento e a qualidade do atendimento para posterior homologação. 69 Então a gente faz uma lista de requisitos, de todos os requisitos que o sistema tem que ter, e começa a fazer a comparação de soluções e pontuando: “essa aqui atende em 80% desses requisitos [...] atende em 100% [...] atende em 70% [...]”. Então, dentro disso, avaliar a questão de custo e tudo mais. (E16). Normalmente a gente reúne [...] os envolvidos de várias áreas. Então, um representante do negócio, um representante do centro de desenvolvimento, um representante da tecnologia, para analisar o impacto do projeto como um todo: se é viável, o quê que ele tem de vantagem, o quê que ele supre na demanda que a gente analisou. (E04). Em geral, como a gente precisa de 3 propostas, a gente faz reunião com cada fornecedor, já busca uma ideia de custo e apresenta isso para a Diretoria. (E08). Mas, então, normalmente, quando você tem que buscar um fornecedor, a gente parte dessa maneira:, “ah, vamos ver se no mercado existe alguma ferramenta que possa apoiar esse processo”. Se existir, nós vamos avaliar, nós vamos fazer um benchmarking num cliente que está usando, fazer esse entendimento: realmente está atendendo? O sistema funciona? E a gente passou em dois ou três clientes que você implantou o sistema. (E03). Para adquirir o conhecimento de clientes externos, a empresa também utiliza práticas. A principal delas é a definição feita pelas seis áreas de responsabilidade da empresa que possuem atribuições distintas durante o processo de avaliação da demanda do cliente. A empresa indica os analistas de negócios que são os responsáveis pela elaboração dos requisitos e descrição da necessidade dos clientes para desenvolvimento da solução que atenda a demanda. O levantamento ocorre por meio de entrevistas, identificação dos usuários chave, reuniões para documentar e entender o processo, que se inicia por meio de um Termo de Abertura de Projeto – TAP, quando a demanda é nova. A Diretoria é quem aprova e prioriza os projetos, depois de discutir com a equipe técnica e considerar as estratégias da empresa. Hoje existe um processo que a gente chama de TAP – Termo de Abertura de Projeto. Esse documento, toda vez que existe uma nova solicitação de um dos clientes e a gente identifica que é um novo sistema, um novo módulo – enfim, uma evolução de uma ferramenta ou a criação de uma nova – é preenchido esse documento, que é o Termo de Abertura de Projeto - TAP. De uma certa forma, na primeira reunião que eu faço, eu explico o método que eu vou utilizar, explico cada elemento que eu vou utilizar na análise, e ele modela o sistema junto comigo. (E03). Hoje a gente faz por meio de conversas com o cliente mesmo. A ideia é realmente ir até o cliente, tentar entender o processo de funcionamento. (E16). Bom, o modelo de atuação nosso ele define seis áreas de responsabilidade, seis áreas de atuação. Para que nós busquemos as necessidades dos nossos clientes – que são as nossas áreas usuárias – nós temos analistas de negócios que fazem visitas periódicas a essas áreas de negócio. (E05). 70 A prática de aquisição de conhecimento não existente na empresa é confirmada pela maioria dos entrevistados, ocorrendo por meio de soluções buscadas de fornecedores e clientes externos que demandam novos projetos. O QUADRO 6 apresenta a síntese das informações obtidas nas entrevistas sobre o processo de criação e aquisição do conhecimento utilizado pela empresa. Título Prática utilizada Diferenciação do conhecimento externo do interno • • • avaliação da capacidade técnica da equipe; análise do custo x benefício; avaliação da existência de algo semelhante na empresa. Criação de novo conhecimento na empresa • • • preenchimento de formulários; pesquisa documental; treinamentos, capacitação e discussão em grupos. • criação de células de trabalho; • adoção de melhores práticas; • pesquisa e documentação; • criação do “ponto focal”. Aquisição de conhecimento • lista de requisitos; de fornecedores • avaliação de propostas de fornecedores; • prospecção da solução; • benchmarking junto a clientes. Aquisição de conhecimento • lista de requisitos; de clientes externos • indicação do responsável; • descrição da necessidade, por meio de entrevistas; • abertura do TAP. Quadro 6: Processo de criação e aquisição do conhecimento Fonte: Dados da pesquisa. Criação de novo conhecimento na gerência Avaliando o processo de criação e aquisição do conhecimento, Davenport e Prusak (1998) estudaram o caso da empresa Bristish Petroleum e também concluíram que deve existir suporte da direção e recursos financeiros suficientes para decidir se é necessário avaliar o que é mais vantajoso para as empresas: criar conhecimento interna ou externamente. Os autores também afirmam que o novo conhecimento acontece com interação com o existente, o que pode gerar o conhecimento novo. Do mesmo modo, Darroch (2003) confirma os achados nas entrevistas sobre a aquisição do conhecimento, afirmando que esta pode ocorrer através de fornecedores e clientes. Já Ahmed, Lim e Zairi (1999) concordam com Darroch (2003) e definem que a criação do conhecimento está relacionada ao ciclo do PDCA, e esta etapa pode ocorrer com o apoio de fontes externas, fontes internas estruturadas ou fontes internas não estruturadas do conhecimento. 71 Outros autores como Armistead (1999), Bose (2004), Demarest (1997) e Burk (1999) afirmam que processo de criação do conhecimento passa principalmente pelos indivíduos, com uma política de recursos humanos que valorize os empregados para torná-los inovadores e facilite o processo de transferência do conhecimento. Na mesma direção dos relatos da pesquisa, Burk (1999) afirma que o processo de criação do conhecimento ocorre a partir de publicações, conferências, reuniões, experiências e pesquisas. A avaliação da existência de conhecimento na organização que deve ser implementado para criar o novo conhecimento é também confirmado por Chen e Chen (2005), ao sugerirem que a gestão do conhecimento passa por quatro etapas: criação, conversão, circulação e finalização. Lee, Lee e Kang (2005) enumeram cinco fases para o processo de criação do conhecimento. Eles confirmam, na fase da criação, o que foi encontrado nas entrevistas sobre o processo de criação do conhecimento nas gerências que ocorre pela inter-relação dos indivíduos. Essas práticas adotadas nas gerências, células de trabalho, melhores práticas e criação do ponto focal são consideradas por Terra (2005) e Stewart (1998) como comunidades de prática, que servem para resolver problemas e encontrar maneiras melhores e mais fáceis para resolver os desafios. Davenport e Prusak (1998) sugerem que as comunidades de práticas podem ser formalizadas através de feiras e fóruns do conhecimento e dependem da espontaneidade dos indivíduos. Os autores Nonaka e Takeuchi (1997), ao proporem um modelo de gestão do conhecimento, corroboram com os autores anteriormente citados, e os achados na pesquisa confirmam que a criação do conhecimento acontece pelos indivíduos, e uma organização não consegue criar conhecimento sem a presença das pessoas. A importância da qualificação profissional no processo de criação do conhecimento é também confirmada por Nonaka e Takeuchi (1997), que afirmam que as pessoas são parte importante para garantir a formação do conhecimento criado pelos indivíduos, e uma organização não consegue criar conhecimento sem a presença das pessoas. O conhecimento organizacional trata-se de um processo que cristaliza o conhecimento gerado pelos indivíduos, como parte integrante da rede de conhecimentos da organização. 72 4.2 Processo de conversão do conhecimento O processo de conversão ocorre quando o conhecimento individual é socializado, transformando-se em coletivo. No conjunto da empresa, assim como nas gerências, existem várias práticas utilizadas, dentre elas: publicação na biblioteca virtual, treinamento dos multiplicadores, documentação dos processos, rodízio de equipe, reuniões, formação de time, grupos de estudos, workshops e treinamento. As práticas mais citadas pelos entrevistados foram o treinamento de multiplicadores e criação da biblioteca virtual. Também denominada datawiki, a biblioteca virtual é considerada um instrumento de fácil acesso; trata-se de um sistema de banco de dados, criado em ambiente de rede de informática interna para os empregados publicarem e realizarem consultas na busca de informações já registradas. O conhecimento na datawiki é registrado na forma de manuais de procedimentos, erros conhecidos e práticas para solução de problemas. A biblioteca virtual é conhecida pela maioria das pessoas que trabalham na empresa. Os depoimentos extraídos dos relatos confirmam as práticas utilizadas para conversão do conhecimento: Sim. A gente tem esse portal, o datawiki, que é o nosso portal lá da nossa base de conhecimento. Então, a gente trabalha lá desde práticas, erros conhecidos, processos de como fazer tal coisa. E a gente tem uma política de procurar sempre incentivar a equipe interna: “olha, aconteceu alguma coisa [...], então vamos pegar, documentar, coloca no datawiki para a gente pelo menos ter a referência disso”. (E13). [...] tem-se a criação de procedimentos, para rotinas que já existem e para as que virão. E essa parte de conhecimento, cada vez que a gente descobre alguma coisa – pesquisa e provê uma solução – é gerado um procedimento, é publicado numa área comum a todos os técnicos, para que eles tenham acesso. (E06). A gente tem a wiki, o datawiki, que é para documentação de todos os documentos dos nossos setores, melhores práticas, processos, procedimentos – a gente tem que registrar o máximo de coisa no wiki – as regras de negócio, as regras para implementação [...]. Isso tem que registrar lá. (E12). A formação de times relacionados a determinada área de tecnologia, de acordo com a aptidão de cada funcionário, é também uma prática utilizada em determinados setores da empresa para atualizar a base de conhecimento da datawiki. 73 Lá a gente tem o chamado “time”, que é uma habilidade que [...] são 3 grupos específicos, cada um focado numa tecnologia. E esse time atualiza a wiki, [...]. É uma biblioteca. Então, algumas discussões são feitas nesse time – eu por exemplo participo de um time – e o que a gente resolve ou vê que é a melhor prática a gente publica na wiki. De acordo com esse time. [...]. São três times de três tecnologias específicas, mas tem time com mais de três pessoas. Aí é de acordo com a aptidão. Por exemplo, quem gosta mais de banco de dados participa do time banco de dados, porque às vezes já tem mais conhecimento; o outro participa de relatório [...]. É distribuído assim. (E01). A prática de treinamento do multiplicador, comumente utilizada, é uma estratégia mais econômica de disseminar o conhecimento na empresa. Nos trabalhos em equipes, existe um funcionário que exerce o papel de “ponto focal”, que recebe a nomenclatura por agregar um valor maior do conhecimento sobre as atividades que são exercidas na área ou setor onde atua, servindo de referência para os colegas de trabalho. Ele cumpre o papel de apoiar o direcionamento e o gerenciamento do trabalho, funcionando como um líder de equipe, um multiplicador do conhecimento. As equipes costumam ter um funcionário que exerce o papel de ponto-focal. A gente chama de ponto-focal aquele funcionário que agrega um valor maior do conhecimento sobre as atividades que são exercidas na área dele, no setor dele, ele serve de referência para os colegas de trabalho e ele apóia no direcionamento e no gerenciamento do trabalho do expediente que está sendo ali feito. Quando às vezes é um treinamento especializado, um treinamento de maior custo, a gestão opta por capacitar uma pessoa para que ela seja multiplicadora desse conhecimento internamente. Essa multiplicação ela acontece também em formato de treinamento, que vem aqui ocorrer dentro daquela prática normal de treinante e de instrutor. É claro que há aí uma perda, acredito eu, em conteúdo, em qualidade de ensino. (E05). Em algumas gerências, onde o número de empregados é pequeno, em torno de três ou quatro pessoas, a prática do rodízio também é um instrumento utilizado para disseminar o conhecimento. O objetivo é evitar que o conhecimento concentrese nas mãos de uma pessoa e exista uma dependência dela para funcionamento de determinado sistema. Deste modo, busca-se diluir o problema quando ocorre desligamento de membros da equipe. Rodízio [...] todo mundo vai ter que saber um pouco de tudo, porque a gente já passou muito aperto. Teve uma época que eu fiquei sozinha [...] eu e minha coordenadora. (E12). [...] no centro de análise de negócio, a gente tenta fazer um rodízio, na medida do possível, dos responsáveis para não ficar uma pessoa especialista numa coisa. (E04). 74 [...] todo mundo faz tudo. Para quê? Para tentar disseminar o conhecimento entre toda a equipe. Então, isso aí é uma prática que leva a isso. Logicamente tem uma pessoa que conhece mais o financeiro, outra pessoa que conhece mais a ferramenta que a gente utiliza, mas a ideia é que isso não esteja assim. (E09). Outra forma de disseminar o conhecimento é por meio de documentação de procedimentos já aprovados pela equipe e registrados, que são adotados como melhores práticas. Aí são criados [...] normalmente assim [...] existe ‘os combinados’. Esses combinados eles são registrados para que eles possam ser avaliados se eles estão sendo cumpridos ou não. Então, do final dessas discussões, nós chamamos isso de melhores práticas. (E10). Com a preocupação em criar o processo de conversão do conhecimento coletivo em organizacional, ou seja, aquele conhecimento que já está explicitado e armazenado na empresa, independente da permanência ou não do funcionário, buscam-se documentar os processos, para gerar uma base de dados, que são publicados e registrados no datawiki, para atender demandas da instituição. Tudo isso que hoje já está explicitado, já está documentado dentro desse processo, já pode ser considerado um conhecimento organizacional. Isso fica tudo guardado em uma área da organização, uma área pública, com rotina de backup diário e tudo mais. As pessoas que trabalham com essas informações elas conhecem onde estão essas informações. Então, a gente considera que seja organizacional. (E16). É. Ele pensa menos. “Olha na base de dados que está lá a solução”, ele sabe que a solução está lá, mas aí ele [...] Tudo bem, está alimentando uma base de dados, fica mais formal, a instituição fica mais [...]. [...] documentada e mais resguardada de uma possível perda daquela pessoa, porque o conhecimento dela está registrado ali dentro; mas, por outro lado, você perde o calor humano que, na minha opinião, também faz parte do processo de geração de conhecimento organizacional. (E14). Alguns relatos indicam que a empresa, apesar de registrar, não prioriza a atualização das informações publicadas na datawiki, a principal fonte do conhecimento organizacional. Há a percepção da melhoria a partir de 2004, quando o processo de registro passou a ser obrigatório, porém, não existe a prática formal para atualizar as informações. Segundo relatos dos entrevistados, a existência da prática de conversão do conhecimento deve ser melhorada, pois ela não ocorre na totalidade, e não é 75 comum a prática para atualização do conhecimento armazenado, desestimulando, deste modo, a consulta à base do conhecimento registrado. Outra coisa também importante é a atualização do que se tem documentado. Porque à vezes você tem um tempo documental e depois você não tem mais tempo para atualizar. E a evolução das soluções é muito dinâmica. Então, é um problema também manter o que já tem; não só se ter mais documentação, mas também manter a que se tem. (E05). Então, cada pessoa registrou num determinado momento as habilidades dele, em relação às habilidades técnicas e tal. Só que, na verdade, isso não foi bem gerido e acabou ficando desatualizado. (E13). Existe a percepção dos empregados com a preocupação da empresa com o processo de conversão de conhecimento, relatos também indicam que as práticas devem ser aprimoradas, carecendo de avanços para estimular o indivíduo a registrar o que sabe. O registro na datawiki não é monitorado e acompanhado por um gestor ou responsável, portanto, isto é uma mudança de cultura para muitos, porque depende da iniciativa de cada um. Por exemplo, as pessoas têm aquela sensação de que se eu tirar isso que é só meu, eu vou estar perdendo o meu espaço, a minha importância. A gente ainda esbarra com esse tipo de coisa aqui dentro. De indivíduo para indivíduo não pensar no coletivo. Quer dizer, eu acho que o controle pode ser mais efetivo. A partir do momento que você não encontra uma informação que você sabe que existe lá dentro, e se essa é uma ferramenta de disseminação, é porque os indivíduos não estão sendo obrigados a fazer. Então eu acho que isso poderia melhorar. Nesses momentos é que a gente vai também passando um pouquinho de conhecimento para essa equipe [...] para essa equipe nova que está chegando. Mas a gente percebe que assim [...] em termos técnicos, eles recebem treinamento, eles recebem manuais, aquelas ferramentas que eles vão trabalhar. Mas e aquele conhecimento do negócio? Foi embora. (E04). Não. Não. Porque, na verdade, o fato de colocar lá [...]. Nós estamos num processo assim de criar tanto essa cultura de registrar as coisas no datawiki quanto de, ao precisar, saber que lá é uma fonte para pesquisa. (E13). Existem, no conjunto da empresa, segundo relatos de alguns dos entrevistados, práticas informais de compartilhamento do conhecimento, que acontecem em função da distribuição da estrutura do espaço físico em salas onde as pessoas trabalham próximas umas das outras e nas conversas no horário do cafezinho. Não. Aí eu acho que fica informal, essa prática assim de um capacitar o outro e transferir esse conhecimento de uma forma mais colaborativa, mais proativa, eu acho que acontece por demanda ou até por proatividade – por 76 iniciativa de algum funcionário [...] chegar, sentar, fazer esse repasse [...]. (E16). Há, até pela nossa condição física, porque a nossa condição física de trabalho, a gente fica muito perto. Então, essa prática ela é muito comum no nosso dia-a-dia, por essa proximidade de local físico de trabalho. Muitas das vezes – aquilo que eu coloquei para você – muitas das vezes uma conversa no cafezinho, te induz a prolongar um pouquinho aquela conversa fazer essa transferência. (E07). Nas gerências, além do datawiki, utilizado como estratégia de compartilhar internamente o conhecimento, existem diversas práticas e formas que variam de uma área para outra. São elas: criação do ponto focal na equipe, reuniões, seminários, adoção de melhores práticas, divisão do trabalho em células e leitura dos manuais de procedimentos pelos empregados novatos. Dentro da minha gerência a gente tem reunião mensal, sempre que possível o nosso coordenador pede para a gente pontuar as demandas, para ele tentar coletar aquilo que é coletivo, porque às vezes uma queixa sua é uma queixa do outro também, que é uma queixa do outro também [...]. (E04). [...] Dentro de cada célula de trabalho existe um ponto focal, que é um ponto focal mesmo, a hora que eu preciso saber algumas coisas é o ponto focal do que está aqui dentro e que centraliza o que está sendo desenvolvido aqui. (E13). [...] Ah, tem uma outra prática, que eu esqueci de falar, na minha área, que a gente chama de Seminários Internos. De 15 em 15 dias – se bem que esse semestre, especialmente, isso ficou muito pouco utilizado – uma pessoa fala para os outros do projeto que está atuando ou de um recurso da ferramenta que está utilizando, etc, exatamente para a gente poder forçar que o conhecimento. (E09). A principal dificuldade no processo de compartilhamento do conhecimento, tanto para empresa, quanto para a Gerência, é a mesma, a informalidade, uma vez que não existe uma política definidora dos passos a serem seguidos para compartilhar e atualizar o conhecimento. O fato de inexistir uma política norteadora da maneira de se compartilhar o conhecimento faz com que cada um faça de um jeito, o que gera questionamentos na equipe. Apesar da gama de conhecimento que a empresa possui, com profissionais qualificados e capacitados tecnicamente não existe o mapeamento sistematizado do conhecimento no conjunto da empresa. Apesar disso, alguns entrevistados afirmaram que a empresa vem tentando solucionar tal problema. A necessidade de mapear o conhecimento é considerada importante para a empresa, inclusive já foram realizadas tentativas de solucionar o problema, entre elas, a criação de fluxos dos processos e o mapeamento dos perfis dos analistas. 77 Não sei se ela tem isso mapeado, não. Mas ela tem tentado. Não. Eu acho que ela tem [...] ela sabe [...]. Por exemplo, essa questão desse agrupamento de dois em dois, desse grupo, dessa formação de grupo de dois, foi na [...] porque ela sabia que tinha essa necessidade, que tinha gente que possuía conhecimento e só ela possuía. Então, é a tentativa dela de solucionar esse problema, mas ainda não solucionou. Está solucionando [...] está tentando resolver esse problema. (E02). Um pouco. Eu acho que a gente tem sim algum conhecimento, algum mapeamento. Até por esses fluxos que você está vendo aqui, a gente mapeia o conhecimento que a gente tem sim. (E06) Acredito que sim. Eu não sei como faz, mas acredito que sim. Eles conhecem os perfis dos analistas. (E04). Ela consegue mapear em 90%. Porque ela está lidando diretamente com a gente, diretamente com o nosso trabalho. E o nosso trabalho está envolvido necessariamente naquele conhecimento que a gente tem. A gente tem aquele conhecimento e é aquele conhecimento que a gente precisa para exercer o nosso trabalho. Então, diante disso, ela tem esse conhecimento. (E11). A prática de mapeamento do conhecimento nas gerências é semelhante à situação da empresa, mesmo assim, o fato de haver um contato mais próximo com os empregados permite que isso se torne menos complicado do que na empresa. Como não existe uma ferramenta para mapear o conhecimento, o que ocorre são ações isoladas dos gerentes, que informalmente e por experiência tentam mapear o conhecimento de seus empregados, sem registro organizado e sistematização. Alguns gerentes conhecem a qualificação dos seus empregados, além dos requisitos exigidos para o exercício do cargo, entretanto isto não está documentado ou registrado em uma base de conhecimento. Não. A gente não tem essa [...] quer dizer [...] pelo menos assim [...] pode ser que existam iniciativas isoladas. Por exemplo, eu sei dos meus empregados, porque são só três. Não tenho isso escrito e nem tenho uma forma de falar “fulano sabe mais que sicrano”. Eu sei que fulano é bom nisso e fulana é boa naquilo. (E09). A gente sabe. Hoje a gente consegue saber. Mas isso [...] a gente não tem isso, digamos assim, registrado em algum sistema [...]. Por exemplo, lá na minha área, que são os analistas de negócio, a gente tem o mapeamento lá “oh, fulano é responsável por tais tais e tais sistemas e isso permeia e tais áreas de negócio”. Então tem essa matriz. [...] Isso. Exatamente. Enquanto coordenador e até pelo acompanhamento diário dos trabalhos. O que realmente está registrado é: fulano conhece tal sistema, atende tais e tais usuários, tal área de negócio [...] pelo menos dentro da minha área isso está registrado, publicado [...] todo mundo conhece. Agora, a questão [...] as habilidades técnicas não estão registradas. (E16). Sistematizado não. Mas hoje é muito claro para o coordenador e para mim também – eu sou da área de computação, então assim é muito fácil para mim, porque eu estou na minha área. Então, eu consigo chegar e entender [...]. (E14). 78 Eu não tenho explicitado, mas eu sei. É. Eu sei que tem várias pessoas da minha equipe que [...] algumas já terminaram o mestrado, outras estão fazendo, outras estão em cursos de especialização, outros fizeram outro tipo de curso de capacitação. (E13). Na empresa e nas gerências, o registro do conhecimento ocorre basicamente com a documentação dos sistemas e dos erros conhecidos, e ele fica disponibilizado na datawiki. A documentação existente é pouca, segundo alguns entrevistados. Os sistemas informatizados que foram criados antes de 2004 possuem pouca documentação, visto que a prática começou a ser utilizada na empresa somente a partir daquele ano. Não existe um padrão para o registro do conhecimento que oriente o funcionário, dependendo deste modo da habilidade de cada um. Relatos indicam que é uma preocupação constante aumentar a documentação para registros dos processos e sistemas. Eu acho que está menos bem documentado. Está mais na habilidade de cada um mesmo. (E01). Tem. Tem. A nossa documentação hoje ela é pequena em relação ao volume de serviço e de trabalho que a gente tem. [...]. Não. Nós não temos a metade documentada, não. Não temos, porque a gente tem sistemas antigos, sistemas que não tinham essa prática de documentação. (E05). Em relação a procedimentos de trabalho, não. Não está registrado ainda. Mas a gente tem hoje o registro do conhecimento dos sistemas. (E16). Porque tudo que está sendo feito em coisa antiga [...] mas qualquer melhoria que está sendo feita está sendo documentado a partir dessa melhoria. Então, a médio prazo essa deficiência vai diminuir. Porque a partir de um mês atrás mais ou menos foi estipulado que agora tem que ser documentado, independente se está implantado ou não. Então é para começar. (E01). Então, ele tem regras muito específicas – regras de negócio – ele tem formas de implementação técnicas muito específica também e o pessoal não tem muito tempo para registrar, mas está no projeto documentar tudo isso – na wiki e no SOL. Principalmente na wiki, que na wiki tem uma abrangência maior, maior documentação. (E12). Os relatos dos entrevistados indicam que, apesar da existência de várias práticas de conversão e compartilhamento do conhecimento, não ocorre o mesmo para o registro e mapeamento sistematizado do conhecimento. O QUADRO 7 demonstra os dados extraídos da pesquisa. 79 Título Prática utilizada Transformação do conhecimento individual em coletivo Transformação do conhecimento individual em organizacional Compartilhamento do conhecimento internamente Mapeamento do conhecimento Registro do conhecimento • • • • • • • • publicação na biblioteca virtual; treinamento de multiplicadores; documentação dos processos; rodízio de equipe; reuniões, grupos de estudos; formação de times. documentação dos processos; publicação e registro na biblioteca virtual. • • • • • • • criação do ponto focal; seminários e reuniões; adoção de melhores práticas; divisão do trabalho em células; leitura de manuais de procedimentos; práticas informais (proximidade e cafezinho). não foi identificada nenhuma prática. • documentação dos sistemas e erros conhecidos; • disponibilização na biblioteca virtual. Quadro 7: Processo de conversão do conhecimento Fonte: Dados da pesquisa. O processo de conversão do conhecimento é definido por Nonaka e Takeuchi (1997) como espiral do conhecimento, sendo considerado, pelos autores, como a etapa mais difícil. É nela que o conhecimento é distinguido como tácito e explícito, e se transforma. Os autores definem a etapa de conversão do conhecimento individual em coletivo com externalização, que é a transformação do conhecimento tácito em explícito. Vários autores, entre eles, Stewart (1998), Nonaka e Takeuchi (1997) e Davenport e Prusak (1998) enumeram diversas técnicas que auxiliam à gestão do conhecimento. Nos relatos da fase de transformação do conhecimento individual em coletivo, as práticas encontradas foram a publicação na biblioteca virtual, treinamento de multiplicadores, documentação dos processos, rodízio de equipe, reuniões, grupos de estudos e formação de times. Davenport e Prusak (1998) definem a biblioteca virtual como um dos principais instrumentos na empresa, como repositórios do conhecimento, afirmando ser esta uma ferramenta importante de pesquisa do conhecimento já explicitado; entretanto, funcionam satisfatoriamente quando estão destinadas aos conhecimentos mais abrangentes, diferente do que ocorre na empresa pesquisada, que publica conhecimentos específicos. 80 As práticas de formação de times, grupos de estudos e rodízio de equipe são também conhecidas como formação de equipes multidisciplinares, que são propostas por Stewart (1998) e Nonaka e Takeuchi (1997) como uma das técnicas para agregar diferentes fontes do conhecimento e sugerem até mesmo uma concorrência para estimular o desenvolvimento de soluções para um determinado problema. O treinamento de multiplicadores é tratado por Stewart (1998) como bancos de competências onde ocorrem as ligações entre os profissionais de determinadas áreas que trocam os conhecimentos que possuem. Sobre a prática de documentação, relatada pelos entrevistados, Behr e Nascimento (2008) a consideram como a transformação do conhecimento tácito em manuais ou procedimentos escritos, demonstrando a importância desta prática utilizada pela empresa. O rodízio de equipe ocorre apenas em algumas gerências e é uma prática onde os membros podem ser transferidos de uma unidade para outra. Em termos gerais, os conhecimentos podem ser transferidos deslocando-se seu reservatório de uma unidade para outra ou modificando um conhecimento em um reservatório receptor (ARGOTE; INGRAM, 2000). A transformação do conhecimento coletivo em organizacional tem sido um desafio para empresa e sua tentativa ocorre pela prática da documentação mencionada por Behr e Nascimento (2008) e pela publicação e registro na biblioteca virtual citada por Davenport e Prusak (1998) como repositório do conhecimento. No modelo proposto por Nonaka e Takeuchi (1997), esta etapa de transformação do conhecimento é denominada combinação, em que o conhecimento do grupo passa a ser organizacional e é importante para sucesso das empresas. Terra (2005) e Nicolau (2003) afirmam que, com os avanços das tecnologias, os investimentos em conhecimento organizacional podem aumentar a capacidade de gerar valor para as empresas. O compartilhamento do conhecimento internamente entre os indivíduos ocorre com várias práticas, que se diferenciam entre as gerências e no conjunto da empresa, ou seja, não existe uma política instituída e definidora do método a ser utilizado. As práticas são a criação do ponto focal, seminários e reuniões, adoção de melhores práticas, divisão do trabalho em células, leitura de manuais de procedimentos e práticas informais. 81 Davenport e Prusak (1998), assim como Nonaka e Takeuchi (1997), consideram que o compartilhamento do conhecimento deve ser estimulado, recompensado e quantificável para que esta prática seja frequentemente utilizada pelas pessoas. Autores como Krogh et al. (2001), Kluge et al. (2002) e Terra e Gordon (2002) consideram que a dificuldade de mensurar o resultado é um fator desmotivador e inibidor na perspectiva da organização. O ponto focal, prática utilizada em algumas gerências da empresa, é considerado por Stewart (1998) e Nonaka e Takeuchi (1997) como técnica de histórias orais que se constituem em narrativa de vivência de profissionais experientes, que podem auxiliar a tomada de decisão. Fleury e Oliveira Junior (2001) atribuem às práticas informais uma das dificuldades do processo de transferência do conhecimento. No entanto, nesta pesquisa os relatos dos entrevistados foram contrários a esta afirmação, pois eles disseram que a informalidade tem contribuído com a gestão do conhecimento. Chen e Chen (2005) definem esta etapa como circulação do conhecimento, que é a transferência de conhecimentos entre indivíduos e entre grupos; já Nonaka e Takeuchi (1997) e Popadiuk e Ricciard (2007) classificam esta etapa, em seu espiral do conhecimento, como a socialização do conhecimento. Mesmo existindo práticas de socialização do conhecimento, isto não acontece com o mapeamento do conhecimento. Apenas iniciativas isoladas para o desenho de fluxos de procedimentos e identificação da qualificação dos profissionais da empresa foram os achados nas entrevistas. De outra forma, Barroso e Gomes (1999), Fleury e Oliveira Junior (2001) consideram que a gestão do conhecimento envolve identificar e mapear os ativos intelectuais da empresa, o que não vem acontecendo na empresa pesquisada. Sobre a importância do mapeamento do conhecimento, Sveiby (1998) e Bukowitz e Willians (2002) afirmam que esta prática pode gerar valor por serem considerados bens intangíveis. Para Probst et al. (2002), o mapeamento do conhecimento possibilitaria ao usuário a identificação e classificação do conhecimento novo, funcionando como um índice para organização do conhecimento. Já o registro do conhecimento, diferente do mapeamento, ocorre, porém apenas com a documentação dos softwares e erros conhecidos, e são armazenados na biblioteca virtual. Esta etapa do processo de conversão do conhecimento é chamada por Bose (2004) como captura do conhecimento; após ser construído, o 82 conhecimento criado deve ser armazenado na sua forma primitiva. O mesmo conceito é confirmado por Lee, Lee e Kang (2005), que, em seu modelo de gestão do conhecimento, chamam esta fase de acúmulo, onde ocorre o armazenamento do conhecimento já criado. 4.3 Processo de utilização do conhecimento O registro do conhecimento na forma de normas ou manuais de procedimentos acontece na empresa; existem muitos processos documentados, porém, ainda há muito sem registro. Parcela dos procedimentos tem seus registros feitos; há manuais, relatos de melhores práticas, entre outros, ao passo em que há também uma grande quantidade de conhecimento sem ter sido transformado em normas ou relatos. Não há como precisar, mas fica nítida a impressão de que o que não existe acumulado enquanto materiais formalizados está em maior proporção, se comparado ao que estaria sistematizado, organizado. Então o seguinte: se acontece um problema lá no seu setor, na sua gerência, e como aquilo não está documentado, ele tem uma dificuldade muito grande de saber como solucionar. (E03). Sim. Na medida do possível. Agora que a gente está trabalhando de uma maneira mais organizada, a gente consegue fazer esses manuais. Sempre que a gente tem uma demanda nova – vai exigir um treinamento para o cliente [...] – então a gente tem essa preocupação de preparar esse manual. Agora, o quê que a gente tem hoje documentado? Muito pouco. (E04). Além disso, os registros estão fragmentados, não estão reunidos em um todo coerente, articulado, regulamentado para toda a empresa, abrangente e completo, contendo o conhecimento a ser utilizado. Diversos são os momentos nos quais os entrevistados relatam a necessidade de encontrar registros ou especificações, sabidamente existentes, por informação de colegas, mas cuja busca não logra êxito no momento ou naquela circunstância, onde, por razões de tempo, custo ou outras, não se pode dedicar maior esforço na tentativa de encontrá-los. Ah fulano, sobre aquele assunto e tal” [...]. Você fala: “oh fulano, essa informação já existe em outro local, você deve procurar [...] onde ela está [...]?”. (E10). 83 Não. Mais assim [...] como a nossa área é uma área muito corrida, eu acho que a deficiência está muito voltada ao tempo de você sentar e escrever o procedimento. Porque muita atividade, muita coisa uma atrás da outra, às vezes você faz e você acaba: “ah,depois eu escrevo o procedimento”. E você acaba esquecendo, deixando e passou batido. (E11). Eu não sei se há um log do serviço, eu não conheço a estrutura interna do datawiki, eu não sei se fica registrado lá [...]. Para a midiwiki como um todo, eu não sei se tem como a gente recuperar. Tem quem colocou as informações [...]. (E09). Ocorre, ainda, de os diversos setores da empresa adotarem uma postura diferente em relação a este fator, fazendo com que alguns estejam melhor posicionados quanto ao registro de seus processos e procedimentos, enquanto outros se encontram bem mais defasados. [...] Hoje, com o processo de qualidade, esses documentos estão sendo registrados e eles têm as áreas definidas onde eles estão. E quando a pessoa fala: “eu quero saber disso” e passou pela qualidade, e dentro dos projetos que estão sendo desenvolvidos, ele tem um endereço certo. (E10). O que for padronizado. Isso a gente faz. Agora, o conhecimento que é muito focado só na minha área de conectividade, muitas das vezes a gente não documenta determinados tipos de configuração [...] até por questão de pressa assim, para resolver rápido, a gente acaba esquecendo de documentar, e não tem um padrão para isso. (E11). Na outra vertente da fragmentação detectada nas entrevistas, está a não catalogação ou organização dos registros efetivados, pois ainda que não haja 100% de formalização, aquela existente deve ser objeto de algum índice ou catálogo, sistematizando assim qual informação e o local onde se encontra. Quer dizer, [...] pensar sempre em quem está chegando. Por quê? Quem está aqui já conhece o caminho das pedras, já sabe onde é o diretório. E quem está chegando conhece isso? Então isso também tem que estar formalizado: se é um lugar na rede, uma pasta para cada sistema [...]. Ainda falta um pouco de organização nesse sentido. (E04). [...] Mas assim, na wiki, são disponibilizados procedimentos técnicos, específicos da nossa área, quando a gente tem interação com outras. Então, nós por exemplo determinamos como que o pessoal do suporte vai fazer um atendimento: “olha, para criar um usuário de rede, eu preciso dessas e dessas informações”. (E15). Do exposto até aqui, se deduz que não há uma política de registro macro, abarcando todas as áreas onde haja o trabalho com conhecimento na instituição e nem todos os aspectos que esse tema (do registro) tem na gestão do conhecimento. E também não há uma política clara, ao mesmo tempo ampla e concisa, 84 normatizando a atuação dos profissionais da empresa; nesse sentido, é um dos instrumentos da utilização do conhecimento. A gente registra [...] a gente tem, inclusive, o modelo padrão para registrar os procedimentos. Mas eu acho que falta, até para utilização, uma determinação mais formal [...] eu acho que até da própria Diretoria. É uma dificuldade que a gente tem [...] A exigência do cumprimento. Eu acho que falta também por alguns gestores, de cobrar que seja feito dessa forma. Acho até que é uma tentativa, é uma vontade, mas não conseguimos ainda fazer que seja dessa forma. Então, vamos supor, chegou um técnico novo na empresa XYZ, o técnico já começa a atender e, às vezes, ninguém nem fala para ele que existem esses procedimentos, que ele precisa ler, que ele precisa conhecer, que tem algumas normas. (E08). Outro fator dificultador do processo de registro relacionado pelos entrevistados é a falta de tempo dos profissionais para efetuá-lo. A única dificuldade que eu vejo é tempo hábil para documentar. Nem sempre a gente tem. Mas a ferramenta é [...], não tem problema nenhum. (E12). É o tempo ali para poder resolver isso. (E16). Não, a utilização disso é muito simples, a documentação é muito simples. A maior dificuldade é as duas áreas pararem para poder fazer [...]. (E01). Muitas vezes, no entanto, apesar do registro do conhecimento não obter dos profissionais da empresa o tempo necessário para sua execução, ocorre que o que é registrado não é publicado, ficando assim, desconhecido dos empregados. É. Alguns assuntos são publicados, mas outros não, a maioria não. Que é o interno, que é o manual interno, norma interna, desenvolvimento interno não está publicado. Na wiki, às vezes, fica a melhor prática, sugestão de implementação, algum conhecimento que talvez estivesse mais internalizado e vai externalizando lá na wiki. Agora, o que está no nosso registro de manual aí já faz parte do procedimento. (E01). Existem vários aspectos relevantes detectados nas entrevistas, quando se analisa o círculo virtuoso da gestão do conhecimento. Há o fato de haver menos registros que o desejável, uma fragmentação da informação existente, ausência de uma política consolidada, e o conhecimento registrado não ser publicado para, assim, estar acessível a quem dele necessite. 85 Não. Para definir o conteúdo do que vai ser publicado. A maior dificuldade realmente é essa. Porque eu preciso da disponibilidade do meu analista de negócio, com o pessoal lá de outra equipe [...], o atendente lá [...], eles tem que sentar e definir “o quê vai ser publicado? (E16). [...]. Eu acho que a gente devia ter aí é um volume de conhecimento muito maior registrado do que o que a gente tem hoje. E o pouco que a gente tem hoje a gente tem dificuldade de manter, e ainda tem a dificuldade de fazer com que as pessoas utilizem. Eu não consigo [...] eu tenho dificuldade de motivar as pessoas a estarem utilizando a documentação de referência para trabalhar. E não é só aqui não. A gente tenta ver nas unidades, nos outros estabelecimentos, que são usuários da rede corporativa – tem outras pessoas lá, outras equipes, que não são do nosso gerenciamento direto – que também desconhecem e às vezes não tem o hábito ali. (E05). O estabelecimento de uma política de registro do conhecimento para a qual alguns dos entrevistados chamam a atenção ganha mais relevância na medida em que pode ocorrer, como em toda empresa, a saída de algum colaborador, e não exista a fixação do conhecimento detido por ele em manuais ou normas. Nesse caso, a instituição em questão terá sofrido uma perda do conhecimento existente à sua disposição até então. Ficaria naquele conjunto de pessoas que trabalhou no projeto. E ai acaba criando uma dependência muito grande. Eu me lembro, quando entrei aqui, de uma dificuldade porque tinha uma menina que fazia o processamento e ela estava saindo.[...] E ai o pessoal ficou doido. (E03). Foi uma urgência mesmo a gente ter essas coisas, porque realmente não podia ficar só na cabeça das pessoas determinadas estruturas que estão em funcionamento. Então, foi um trabalho muito grande esse primeiro movimento e, a partir daí, torna-se uma coisa assim mais rotineira. (E15). Mas, além do registro em si, a gestão do conhecimento engloba diversos outros subtemas. Assim, há outros dois aspectos também abordados nas entrevistas, ou seja, a utilização do conhecimento registrado, bem como dos novos conhecimentos. Na temática da disponibilização, o conhecimento registrado na empresa é publicado basicamente no datawiki, que é uma ferramenta de fácil acesso ou, em diretórios, disponibilizados na rede interna. Por política de segurança, algumas informações são restritas a alguns empregados e setores. O processo de disponibilização é fácil, porém, existem resistências, seja por parte dos empregados, em buscar o conhecimento, seja pela direção, que monitora o acesso ao datawiki. E uma coisa que a gente criou [...], datawiki, que é uma biblioteca [...] como se diz assim [...] a gente tem lá as informações sobre cada sistema, qual é o analista de negócio responsável, qual é o usuário, quais são os telefones de contato. (E16). 86 Depende. Se lá na norma está alguma informação que impacta a segurança da informação, essa norma fica com o acesso restrito só a quem necessita dela. Acesso não tem problema. O acesso é policiado. Porque aqui a gente trabalha com um valor crítico para a instituição, que é a informação do negócio dela. Então, todo acesso a esse conteúdo ele tem que ser policiado [...]. Mas a política de segurança ela dá acesso a quem precisa e não tira o acesso de ninguém que possa ter, apenas gerencia quem está acessando o quê. (E05). Existe – como eu havia dito antes – a resistência em buscar o conhecimento. Mas assim, a parte técnica está disponibilizada; agora, muitas vezes, eles não fazem uso disso. (E06). Todo mundo tem acesso. A datawiki é uma ferramenta muito interessante, porque ela é colaborativa [...]. (E09). Ficou caracterizada a facilidade na disponibilização do conhecimento existente, através da rede. Ou seja, o que está registrado, publicado e com localização definida fica facilmente acessível aos colaboradores, de maneira geral. Tem um diretório na rede. Está organizada essa estrutura, todo mundo conhece esse mapeamento. Foi apresentado numa reunião esse mapeamento, onde está cada coisa. Está estruturado. (E01). Eles estão no mídia wiki. Eles estão no mídia wiki para a área de suporte técnico. Para a área de tecnologia, a gente tem uma intranet nossa, porque são até procedimentos mais de segurança e tal, que a gente não disponibiliza. (E08). Quanto ao processo de utilização de novos conhecimentos, quando perguntados se a empresa oportuniza, aos seus técnicos, a utilização, não só do conhecimento existente, mas também do agregar novos conhecimentos ao seu acervo, várias dificuldades são citadas (resistência dos empregados e restrições da empresa). Tanto há resistências em se propor a utilização de novos conhecimentos, como, quando propostos, a empresa impõe restrições à sua implementação. Dificuldade eu não diria que existe. Existe hoje uma condição de restrição. Por quê? Tem que ser dada permissão a quem de direito, a quem de dever, para que ele acesse esse sistema de procedimento. (E07). Eu acho que isso já é uma parte de cultura da empresa. A gente vem trabalhando numa cultura e hoje – quer dizer, essa parte de procedimentos tem dois anos para cá que a gente está começando a fazer a alimentação desse banco de dados. Então, para você mudar a cabeça da pessoa para se adequar a essa nova linha, é muito difícil. (E06). [...] no caso de empresa e de gerência, existem muitos gerentes que ocupam determinados cargos que não são da área. Então, eu acho que isso dificulta uma visão mais ampla do negócio. E eu acho que a resistência maior está justamente nisso: a pessoa não conseguir entender que o método, às vezes, que você está propondo ou está sugerindo vai ser melhor. (E06). 87 Quando a parte propositora da utilização de novos conhecimentos é a de empregados, surge a resistência às mudanças, fazendo com que mesmo os colegas de trabalho já “cerceiem” a utilização de inovações, temendo inadaptações ou perda de desempenho dos softwares. Além disso, existe a dificuldade em não querer se deslocar das “zonas de conforto” do trabalho, nas quais estão instalados há muito tempo, demonstrando acomodação. Então assim, é uma “biodiversidade” grande aqui de pessoas na hora de colaborar; são muitos empregados. Então assim, o espírito crítico aqui é muito grande. O que é muito bom. Chegam ideias que, às vezes, vão ser discutidas até comigo aqui e aí nós vamos questionar “será que isso é viável ou não é?”. E a gente tem que tomar muito cuidado, porque às vezes um conhecimento que alguém está tentando gerar, trazer e compartilhar, se você inibe esse cara, ele pode se tornar até um inimigo da própria empresa. (E14). Então, a gente detém o conhecimento – ou absorve ou recebe ou estuda –, gera um documento que é difundido, para dividir isso com outras equipes. E, às vezes, a pessoa ou as pessoas não têm a preocupação de: “ah, vou ler [...] quero saber também sobre isso [...] preciso me inteirar e agir em consonância [...] ou seguir essas normas [...] ou vou aprender sobre isso também”. Então, infelizmente, ainda há resistência. (E15). [...] Então, eu acho que às vezes as pessoas perdem muito tempo reclamando, mas não buscam também. Não procuram o seu coordenador, não trocam uma ideia: “vamos fazer diferente [...], vamos mudar a equipe [...], vamos fazer um rodízio [...], vamos fazer dessa forma que assim não está legal [...]”. Às vezes a gente percebe as pessoas acomodadas no sentido de esperar vir da coordenação ou vir da Diretoria. (E04). Outrossim, a instituição tem, no fator da “integração” dos seus diversos sistemas, um limitador à utilização de novos conhecimentos. E nesse sentido, “integração” aparece como barreira, pois, para se estabelecer a conexão necessária de um novo conhecimento com os sistemas já em produção, ou seja, integrá-los, demanda-se investimento de tempo, em pesquisa, e para isso há um custo financeiro. Surge então o dilema de se optar entre estes custos que permitirão avanços ou o risco de cair na obsolescência, já que o mercado da tecnologia da informação dá enormes saltos qualitativos em um curto espaço de tempo. Sim. Mas determinadas coisas não se integram. Então às vezes eu vi uma ótima ferramenta para resolver uma coisa, mas que na arquitetura atual do desenho de todos os sistemas ela não cabe. Eu acredito que se tiver alguma coisa que pode ser incorporada, eu acredito que vai ser sim. Só que é tudo muito fechado à tecnologia que já é usada, porque já está todo o sistema, todos os servidores, as máquinas, tudo modelado naquela arquitetura ali. Tem determinadas coisas que não encaixam. (E01). Aí já é uma barreira [...]. Eu acho que se você mostrar que é uma coisa bacana, que vai trazer um retorno, eu não vejo problema não. Eu acho que ela até dá essa oportunidade. Agora, qual que é a nossa dificuldade aqui? É 88 igual eu te falei. Como a gente está trabalhando numa universidade, onde a tecnologia não é o negócio, a gente está um pouquinho atrás do mercado. Então, de repente, a gente fica aqui [...] às vezes tentando fazer mágica porque a nossa ferramenta está [...] está atrasada, vamos dizer assim. Então, limita nisso também. Quer dizer, não pode inventar muita moda [...] se precisar, por exemplo, comprar uma ferramenta nova. (E04). Nós somos cobrados por um nível de serviço muito alto. Então, eu não posso me dar ao luxo de dizer que eu estou experimentando uma tecnologia. A inovação tecnológica tem que ser feita com muito cuidado, de uma forma muito tranquila, porque ela não pode desestabilizar o que já funciona [...]. Mas eu acho que a gente não tem mecanismos formais para esse tipo de inovação. Se dependesse de mim eu ia ser muito liberal, mas aí eu teria que afrouxar o nível de serviço do outro lado ou ter uma infraestrutura maior – tanto de gente quanto de recurso de infra-estrutura e financeiros – para testar. Eu adoraria transformar isso aqui e fazer vários laboratórios aqui dentro. Seria ótimo, mas não tem recurso. (E14). Na utilização de novos conhecimentos, ocorrem alguns processos já conhecidos como utilização de multiplicadores, workshops, alguns aplicativos, ou até informalmente se discute sobre o uso de novos conhecimentos, etc. A própria equipe é considerada em alguns casos, como a ferramenta de disponibilização para utilização de novos conhecimentos. Tem até um negócio que eu lembrei agora, que eles estão me cobrando. Eles estão querendo que eu faça um negócio chamado workshop das melhores práticas, para construir alguns artefatos que registrem o conhecimento [...]. (E10). Através da intranet e de reuniões internas de cada área. O próprio coordenador tem por missão levar isso para os seus coordenados.” (E14). Sim, uma parte sim. Inclusive [...] principalmente aos procedimentos técnicos [...] que a gente utiliza um software, um sistema desenvolvido internamente que é o sistema NOC. Esse sistema principalmente atende aos procedimentos da área técnica: procedimentos de instalação de equipamento, procedimentos de publicação, de serviço [...]. Então, todos esses procedimentos estão registrados nesse sistema. (E07). É na datawiki. É uma base de conhecimento. (E16). Quanto à utilização dos conhecimentos, os empregados preferem, muitas vezes, consultar o colega ao lado, ou por telefone, por ser mais rápido e cômodo do que consultar a datawiki ou verificar as normas e manuais de procedimentos. Conhecimento não adianta você só registrar, você tem que ter a prática de correr atrás do conhecimento. Muitas vezes é mais fácil eu falar com o meu colega do lado, eu falar com aquela pessoa que já trabalha aqui há mais tempo para pedir essa informação. Correr atrás da informação parece que não está na gente. (E09). Em termos de percentual eu diria para você que 80% do que a gente gera de conhecimento não é aproveitado pelos empregados. Pelo menos na minha área. Fica muito naquele patamar de “não, vamos ligar para lá que ele já sabe de cor” [...]. Eles preferem ligar do que ter o conhecimento do que está disponibilizado. (E06). 89 [...]. Com certeza, primeiro ele pergunta para o colega ao lado. Ainda não tem o hábito de ir lá procurar na base não. Mas, dependendo do colega que ele perguntou, ele fala: “ah, vamos olhar lá”, porque às vezes já tem mais o hábito. (E13). As oportunidades para quem quer utilizar um conhecimento diferente ou mudar a forma como as coisas são feitas são incentivadas. Os empregados podem propor, entretanto é criteriosamente avaliada a implementação, que na maioria das vezes não acontece por inadequação aos interesses da empresa ou pelo alto valor a ser investido. Treinamentos para difusão de novos conhecimentos são raros, mas acontecem; e eventualmente há a participação de empregados em workshops. Eu acho que não. [...] atualmente nós estamos num processo de treinamentos de evoluções que estão acontecendo [...]. O SQL 2008 [...] estamos já tendo alguma coisa. Mas isso é muito raro. Isso é muito, muito esporádico. (E02). [...]. E a todos os coordenadores e ao diretor também é dada a oportunidade de apresentar suas proposições. Claro que a aprovação e a autorização ela vai ser dada mediante uma avaliação que vai contemplar aí uma série de fatores. (E05). [...] dentro das restrições orçamentárias [...] aquilo que não envolve custo e tudo mais, existe um incentivo total [...]. (E13). Sim. Nós damos toda cobertura para ele fazer, desde que ele me prove que isso vai ter algum tipo de resultado e que não tem um risco muito alto [...]. Tem que ter uma fundamentação. Nós, tanto eu quanto os coordenadores, exigem dos empregados que tenham essas ideias, que são muito importantes para nós [...]. (E14). Havendo a proposição de novos conhecimentos, deve-se avaliar quanto às condições necessárias para implementar qualquer mudança, condições estas, criadas ou concedidas pela direção da empresa. Nesse caso, é sempre considerada a relação de custo/benefício para a instituição, observando-se tempo, recurso financeiro, adequação aos sistemas já existentes. No aspecto de treinamentos para adequação aos novos conhecimentos, ora ocorrem, ora não. Isso aí não. Isso aí não acontece. Isso assim [...] isso é muito difícil. Por exemplo, a gente tem que implantar um sistema, uma forma nova de fazer determinada coisa: “ah, a gente precisa de um treinamento”. Aí abafa o assunto. Porque aí é investimento, tem que investir [...] não pode investir em treinamento [...]. Para conseguir arrancar um treinamento é muito difícil. (E04). Ela oferece as condições para quem quer usar um conhecimento diferente [...]. E se tornando um projeto, esse projeto vai ser aprovado, depois ele vai ser priorizado e depois ele vai ser [...] E vai executar quando? Quando ele vai ser executado, aí tem uma alocação de recursos; às vezes essa alocação de recursos não é feita por nós que estamos aí gerenciando o projeto [...]. (E05). 90 Na medida do possível [...]. Mas eu acho que a gente consegue aí, com certeza, equilibrar as duas coisas. O que talvez não aconteça sempre e nem às vezes no momento que a gente deseja – a gente tem que esperar o melhor momento – que é a questão do treinamento. (E09). A empresa não utiliza ferramentas formais para socializar os novos conhecimentos. Existem ações isoladas, por exemplo, o ponto focal, para multiplicar o conhecimento para a equipe, e também ocorrem reuniões; mas estes procedimentos apenas não são suficientes para gerar um processo tecnicamente estruturado na direção da garantia de que os novos conhecimentos, quer gerados internamente, quer buscados externamente sejam devidamente repartidos e postos à disposição de todos os colaboradores da empresa. Os depoimentos dos entrevistados confirmam a inexistência do processo estruturado para prática de utilização do conhecimento. Não. Na verdade, o que pode ser dentro da minha área do centro de desenvolvimento, a técnica para passar seria o time. Eu vejo ele como uma técnica. Por quê? Quando eu entrei nesse time, tem um coordenador do time que é uma pessoa que domina um pouco essa tecnologia, mais do que as outras pessoas. Então, desse modo eu já aprendi bastante coisa com ele. É uma técnica. O time é uma técnica. (E01). Formalmente, não. O que a gente faz são os workshops direcionados aos assuntos de interesse [...]. Então, não há assim uma forma única, uma condição única e formal dessa divulgação, não. Mas sempre está tendo workshops, sempre está tendo reuniões [...] e nessas reuniões são divulgadas muitas coisas. (E07). Eu vejo realmente só o procedimento mesmo. Eu não vejo assim algo [...] reuniões periódicas, uma metodologia [...]. (E13). O QUADRO 8 apresentado na página seguinte, demonstra as diversas etapas consideradas no processo de utilização do conhecimento com as práticas utilizadas pela empresa e as dificuldades apresentadas nas entrevistas. O que se verifica nos relatos é que a etapa de registro do conhecimento possui um número maior de dificuldade que as outras etapas. 91 Etapa Prática utilizada Registro • manuais de normas e procedimentos; • documentação das melhores práticas. Disponibilização • publicação na biblioteca virtual; • diretórios na rede interna. • formação de multiplicadores; • realização de workshops; • consulta à biblioteca virtual. Utilização Socialização Dificuldade • • • • • • • falta de tempo; limitação financeira; pouca documentação; desatualização dos registros; falta de sistematização; falta de publicação. Não existe dificuldade. • resistência às mudanças; • restrições da empresa; • limitação da integração dos sistemas; • limitação financeira. • inexistência de um processo tecnicamente estruturado. • criação do ponto focal; • realização de reuniões com a equipe; • formação de times; • informalidade. Quadro 8: Processo de utilização do conhecimento Fonte: Dados da pesquisa. O processo de utilização do conhecimento envolve quatro etapas distintas: o registro, a disponibilização, a utilização e a socialização. O registro encontra-se na mesma condição do processo de conversão, pouca documentação e, quando existe, está fragmentada e desorganizada. Várias são as justificativas encontradas nos relatos, mas a maioria delas resume-se na falta de priorização e exigência por parte da empresa. O que existe registrado de conhecimento na empresa são a documentação dos softwares e os erros conhecidos e estão armazenados na biblioteca virtual. Várias foram as dificuldades encontradas no processo de utilização do conhecimento. Para o registro do conhecimento, a falta de tempo, limitação financeira, pouca documentação, desatualização dos registros, falta de sistematização e falta de publicação do que já está registrado foram as dificuldades relatadas pelos entrevistados. Johnson (2004) revela que a maioria das organizações não dispõe de sistemas e estruturas para a gestão do conhecimento. A inexistência de registros é considerada por Szulanski (1996) como a maior dificuldade no processo de transferência do conhecimento, pois não há como transferir uma prática quando não se tem registro comprovado de sua utilização, o que pode facilitar o trabalho de persuasão de potenciais receptores. No mesmo 92 sentido, Bose (2004) entende que o armazenamento do conhecimento ajuda no entendimento do conhecimento para uso posterior. Como o conhecimento que existe registrado está na biblioteca virtual, datawiki, ele também é disponibilizado nesse mesmo local e em diretórios da rede interna para os usuários e técnicos dos sistemas. Nesta fase, não existem dificuldades e, segundo Mendes e Souza (1997), a utilização de conhecimento, ocorre com a disponibilização e integração do conhecimento que pode ser generalizado para a utilização em novas situações. Autores como Balcão (1975), Davenport e Prusak (1998) e Gratton (2000) consideram que é importante o conhecimento fluir livremente para facilitar sua utilização. A afirmação de Bose (2004) sobre a disponibilização do conhecimento em ferramentas como internet e intranet confirma que o uso do datawiki é importante para o processo de disseminação do conhecimento. Este modo de disponibilização do conhecimento encontrado na pesquisa é tratado por Burk (1999) como canais de comunicação da organização. Mesmo havendo facilidade no processo de disponibilização do conhecimento, a sua utilização vem ocorrendo com a formação de multiplicadores, realização de workshops e consulta à biblioteca virtual, entretanto, dificuldades como resistência às mudanças, restrições da empresa, limitação da integração dos sistemas e limitação financeira foram encontrados nos relatos dos entrevistados. A utilização do conhecimento é a aplicação dos conhecimentos criados e transferidos para uso em problemas reais do dia-a-dia (BURK, 1999; DARROCH, 2003; DEMAREST, 1997; LEE; LEE; KANG, 2005; TIWANA, 2002). O uso do conhecimento é considerado por Nonaka e Takeuchi (1997) como a capacidade importante para a empresa sustentar sua competitividade. Os mesmos autores, em seu modelo de gestão do conhecimento, classificam esta etapa como internalização, e as práticas utilizadas pela empresa são consideradas por Nonaka e Takeuchi (1997) como o “reexperimentar” das experiências de outras pessoas. Durante o processo de utilização do conhecimento, foram relatadas algumas dificuldades, entre elas, encontram-se as resistências às mudanças e o medo do novo; elas são tratadas por Davenport e Prusak (1998) e Amaral (2006) como falta de confiança para manutenção do status quo. Outros autores, como Szulanski (1996), Nonaka (1994) e Lemos (1999) tratam este tema como dificuldade de interação entre transmissor e receptor do conhecimento. Essa ruptura em relação a 93 hábitos conhecidos pode provocar sentimento de grande risco, levando a resistências e redução de colaboração, conforme estudos de Amaral (2006). A empresa também restringe e não estimula o uso do conhecimento novo, por razões de ordem financeira, limitação de tempo ou medo de errar, corroborando com a falta de iniciativa dos empregados. Para Terra (2005), as ações gerenciais são relevantes para que oportunizem a transferência de conhecimento e deem utilidade em novas aplicações. Já Dixon (2000) afirma que os empregados devem buscar novas e diferentes maneiras de realização de suas atividades, o que não vem ocorrendo na empresa, pois os entrevistados afirmaram que existe até incentivo para buscar novos conhecimentos, mas não lhes é dada oportunidade para utilizá-los. Outros autores, como Argyris (1996), Argyris e Schon (1978), Fleury e Fleury (1995), e Kim (1998), ao estudarem a gestão do conhecimento, descobriram que a resistência às mudanças na maior parte das empresas é uma preservação dos padrões culturais, o que, para Bastos et al. (2002), é justificado pela incapacidade de as organizações criarem canais de comunicação que facilitem o aprendizado. No processo de socialização do conhecimento que é transferência do conhecimento tácito para tácito, conforme modelo proposto por Nonaka e Takeuchi (1997), é nesta etapa que, para os autores, existe um processo de compartilhamento de experiências que gera um conhecimento compartilhado. As técnicas utilizadas pela empresa para socialização são a criação do ponto do focal, realização de reuniões com a equipe, formação de times e informalidade. Todas as técnicas utilizadas pela empresa baseiam-se na experiência dos empregados para gerar um conhecimento compartilhado. A informalidade é uma prática que ocorre no cafezinho ou em conversas no local de trabalho e, segundo Nonaka e Takeuchi (1997), um indivíduo pode absorver um conhecimento tácito sem a necessidade de formalização do mesmo, através da observação, imitação e prática. Behr e Nascimento (2008) concordam com Nonaka e Takeuchi (1997), ao afirmarem que o segredo para a criação e aquisição do conhecimento tácito é a troca de experiências. 94 4.4 Processo de proteção do conhecimento A empresa faz a diferenciação entre o conhecimento que deve ser compartilhado interna e externamente, daquele que deve ser protegido; no âmbito interno, por exemplo, há os conhecimentos específicos de determinada área que não necessariamente devem ou teem que ser compartilhados, tais como, sistema de gestão das contas de e-mails. Assim, o conhecimento fica sob determinado nível de proteção interna. Sim, a empresa como um todo, sim. Por exemplo, esses procedimentos da área técnica – que a gente estava comentando lá da área [...] – eu não tenho acesso. Eu sei que existe, mas é um conhecimento que é restrito e eu sei que fica só dentro da equipe deles. E no datawiki a gente também tem essa configuração lá: daquilo que é um conhecimento que deve ser mais restrito, daquilo que pode ser público. (E13). Tem. É. Existe essa [...]. Até porque nós temos alguns documentos que realmente não são pertinentes a outras áreas, por questões até eventualmente de segurança. Então, a gente tem determinados procedimentos que realmente não são acessíveis a outras áreas. (E05). Essa distinção perpassa todos os níveis, do institucional ao das gerências e até mesmo o individual (informações pessoais de cada funcionário/colaborador). Sim. Eu acho que tem esse cuidado. Não sei se eu estou interpretando corretamente, mas por exemplo a questão de folha de pagamento. Então você tem muitas informações que são sigilosas. (E03). A maior preocupação reside no âmbito da segurança dos sistemas informatizados da empresa como um todo, para não extrapolarem seus muros, porém não há normas estabelecidas de maneira abrangente para que isto seja garantido. Não há, por exemplo, um contrato de confidencialidade entre empresa e empregados ou coisas do gênero. Novamente detecta-se a inexistência de uma política formal da empresa nessa direção, apesar da grande preocupação de haver diversas ações envolvendo o campo de proteção para determinar níveis de acesso e monitoramento das alterações nos sistemas. 95 Não existe uma política clara de diferenciação. Normalmente, todo processo que a gente cria – de conhecimento [...] de realmente documentar e formalizar algum conhecimento – a gente coloca isso em domínio público interno [...]. (E16). A gente tem uma preocupação grande com isso sim. Agora, se está sendo feito de forma efetiva [...] está meio complicado [...]. Então, não existe nenhum tipo de assinatura de acordo, assinatura de confidencialidade [...]. (E14). Então [...] primeiro que a empresa investe muito em segurança de um modo geral [...] dos dados da empresa. E, através do Guardian, cada coordenador do setor que vai determinar quem que pode ter e qual permissão pode ter. Então [...] aí a administração é feita através do Guardian. (E02). Quanto ao conhecimento que circula entre as gerências e/ou setores internos, conquanto existam também as cautelas estabelecidas de área a área, no geral a informação sobre os sistemas passam sem restrições, pois a interdependência e necessária integração interna o exigem. Então, é importante que as equipes técnicas, independente ali do tipo de demanda que elas atendam, que elas tenham acesso à informação da outra equipe, porque isso vai facilitar o diagnóstico, vai precisar melhor o diagnóstico do problema. (E05). Lá eu não faço isso. Eu vou te explicar o porquê. É porque, apesar dessa estrutura de células existir, eu posso ter projetos que eu estou envolvendo pessoas de células [...]. Até porque, como a nossa demanda é muito variável e tudo mais, eu posso estar num momento em que eu tenha uma alta demanda nessa célula e nessa aqui está mais tranquilo. Então, eu consigo deslocar e envolver pessoas. Então, o conhecimento do CD, de modo geral, ele é compartilhado para todos. (E13). [...]. Não separa. Porque é até uma política assim nossa, interna – para que a coisa não fique na cabeça de um só – a gente deixa uma área compartilhada, todos têm acesso a essa área, a gente divide as informações por sistema e até por projetos dentro de cada um desses sistemas, mas normalmente a gente até estimula mesmo que haja uma troca de conhecimento [...]. (E16). Os níveis de proteções dos sistemas em sua quase totalidade advêm dos perfis dos usuários, gerências, setores. Cada qual possui as permissões de acesso atinentes ao seu papel e relativamente às informações trabalhadas. Todo processo é monitorado por um software denominado Guardian, que garante o controle e registro do acesso aos sistemas. Por questão de perfil das pessoas e necessidade do uso da informação. Informações que são de uso exclusivo da parte financeira são disponibilizadas para os usuários da parte financeira, externamente. Internamente, também há essa diferenciação [...]. E a gente utiliza hoje uma ferramenta para permitir ou inibir o uso da informação, que é o Guardian – é um software terceirizado, é um software de terceiro – que a gente utiliza para determinar essa segurança dessa informação. (E07). 96 Tem essas restrições. Inclusive, quando alguém pede permissão para acessar alguma coisa, algum relatório, por exemplo, a gente pergunta para o dono da informação se a gente pode liberar. (E12). O estabelecimento das faixas de proteção do conhecimento é avaliado considerando-se o nível de acesso e permissão necessários para os técnicos e gerências realizarem o seu trabalho. Bom a gente percebe assim [...] é até na questão da análise do perfil do analista para o nível de dificuldade ou de tipo do conhecimento – se ele mais estratégico, se ele é mais operacional. Quer dizer, a gente percebe que há uma separação. Por exemplo, esse analista está mais preparado, é mais maduro para trabalhar com tal conhecimento, esse aqui não porque é mais operacional. Agora, como que eles medem isso, eu não sei. (E04). Outro destaque, e desta feita é uma norma objetiva e difundida na instituição, todos os softwares, seja para o mercado, sejam os de utilização intramuros, são concebidos contendo dispositivos de filtragem, seleção e definição de diferentes níveis de acesso e proteção das informações com as quais os diversos usuários trabalharão. Com certeza. Em todo projeto é verificado isso. Nós preocupamos com a informação que vai ser publicada e a quem vai ser publicada, a quem vai acessá-la e a quem vai modificá-la. É tanto que nós temos, em todos os nossos sistemas, a preocupação nossa é ter a rastrealidade de ponta a ponta. Então, não só nos projetos, mas também – nós estamos com essa tendência de fazer isso – mas também nos aplicativos são implementados através de logs, através de seguranças [...]. Quem fez isso e em qual data? Foi fulano. E fez porque tinha acesso a fazer. (E10). Mas, teoricamente, todo sistema tem sua senha de acesso. Então, por exemplo, um sistema de folha, que tem dados confidenciais ali dentro [...] eu não tenho acesso, o outro colega também não tem acesso. Se a gente precisa de alguma informação, o analista vai ter que analisar se essa informação pode ou não dar, senão ela tem que reportar ao cliente, ao setor ou à divisão de pessoal e tal. Porque nem ela tendo o acesso, enquanto analista, pode passar esse conhecimento adiante. Então isso é respeitado. Então, tem esses níveis de segurança, até da importância aí da informação. Importância entre aspas, porque toda informação é importante. [...] Ou até o próprio sistema, o próprio conhecimento. Por exemplo, a gente tem o sistema acadêmico, em que estão todas as informações de professores e alunos, o sistema de folha [...] quer dizer, não vai ser uma coisa aberta para todo mundo mexer. Então, isso está na responsabilidade dos analistas daquele sistema. (E04). E o compartilhamento da informação tem por base obedecer às hierarquias formais de níveis de acesso da empresa, enquanto algumas diferenciações mais funcionais estão atreladas aos perfis e papéis desempenhados por cada usuário. 97 Assim, por exemplo, os empregados que atuam como pontos focais das equipes não possuem acesso privilegiado em relação aos demais membros ou setores. Não é porque eu sou o ponto focal que eu tenho acesso a documentos que eles não têm. Não. Eu acho que isso é mais nível de Coordenação e de Diretoria. Então, os coordenadores têm uma área aí onde eles salvam os documentos deles, isso é da Coordenação. Mas no que diz respeito à informação para disseminação de conhecimento, não. E se eu gerei o conhecimento, ele é da área de software rede Windows; então, todos ali podem acessar. (E15). A habilidade e a função [...] o que que você [...] para que que você precisa daquele dado. Eu preciso para desenvolver? Então eu preciso saber o que que o usuário tem, eu preciso de uma outra base que não é aquela que o usuário está. Quem precisa daquela? A outra área. Quem pode alterar algum dado? Uma outra área ou não. (E01). Então assim, na minha área, as informações da coordenação elas são informações não compartilhadas e as demais informações – que são informações de atuação, aquelas normas de atuação comportamental e técnica – essas são completamente disponibilizadas, sem nenhuma restrição e uma equipe pode acessar a informação da outra [...]. (E05). Todas as alterações realizadas nos sistemas da empresa, bem como o acesso a sites e diretórios ficam registradas, como forma de guardar as informações sobre quem e quando houve a modificação. A biblioteca virtual datawiki também é acessada conforme o perfil do usuário. Tem. Tem uma ferramenta que monitora os sistemas, que chama Guardian e tem o próprio gerenciador de bancos de dados, que tem as ferramentas internas deles – o que a gente usa é SQL – ele tem permissões e verificações internas, que é definido por uma terceira área de banco de dados. (E01). [...] Hoje a gente tem [...] eu conheço três: tem a própria datawiki – o que está documentado na wiki é uma ferramenta de colaboração mesmo. Tem o próprio sistema de arquivos da rede – que aí a gente define os perfis de acesso, os diretórios e tudo mais. E tem o suporte – que é outra área– eles têm o NOC – que é uma ferramenta interna. (E16). Sim. Por exemplo, a datawiki está guardando ali o que que é a forma como a empresa produz. A inteligência do negócio empresa, à medida que o tempo vai passando e que ele vai sendo registrado, a inteligência da empresa está ficando ali, aberta [...]. Tem todo esse cuidado com a segurança [...] com os perfis [...]. (E09). A empresa pesquisada preocupa-se basicamente em proteger os seus conhecimentos com a política de segurança que limite o acesso a sistemas, pelo cargo e nível hierárquico ocupado pela pessoa. Com o uso do sistema Guardian, ela monitora os acessos e alterações ocorridas nos softwares. Apesar dos entrevistados mencionarem que a empresa cria conhecimento novo, nada foi dito sobre a patente desse conhecimento. 98 O QUADRO 9 apresenta as práticas e os instrumentos utilizadas no processo proteção do conhecimento na empresa Alpha encontradas nas entrevistas. Prática utilizada Instrumento utilizado • delimitação de nível de acesso; • avaliação das tarefas exercidas; • avaliação do perfil do usuário; • características do cargo; • monitoramento de alterações e acesso aos sistemas. • uso do software Guardian. Quadro 9: Processo de proteção do conhecimento Fonte: Dados da pesquisa. Como não existe na empresa uma política de retenção de talentos, a proteção do conhecimento mereceria especial atenção, pois, nas empresas prestadoras de serviços de tecnologia da informação, os trabalhadores do conhecimento têm uma mobilidade nunca antes observada (DRUCKER, 2001). Bukowitz e Willians (2002) alertam que o conhecimento que é importante para a empresa deva ser protegido e cultivado. Probst et al. (2002), inclusive, sugerem três processos básicos para a preservação do conhecimento: selecionar, armazenar e atualizar. Para Barroso & Gomes (1999), a gestão do conhecimento inclui, na prática, identificar e mapear os ativos intelectuais ligados à empresa para gerar vantagens competitivas. Esses conhecimentos são considerados por Nonaka e Takeuchi (1997) como conhecimento explícito nas organizações, sendo mais fáceis, por serem codificados ou pelo menos codificáveis, e transitam de forma relativamente clara nos domínios da organização. 4.5 Gestão do conhecimento Para entender o processo de gestão do conhecimento, foram avaliados o cenário e as competências exigidas pelo mercado de tecnologia da informação e como a empresa Alpha utiliza o conhecimento, apresentados em dois subtítulos. 99 4.5.1 Cenário e competências exigidas no mercado de tecnologia da informação Os aspectos da gestão do conhecimento que mais se destacam nas entrevistas são os elementos de TI relacionados às ferramentas tecnológicas (aplicativos), equipamentos, infraestrutura e o nível de acompanhamento de evolução do mercado. As tendências na área de tecnologia da informação, apontadas pelos entrevistados, indicam para uma evolução constante em grande velocidade e possibilidades infinitas de crescimento. A automação dos processos para evitar ao máximo a intervenção do homem é uma realidade dos tempos atuais. Há expectativas que a internet via sistema de rede elétrica faça com que a informática chegue a todos os cantos do país. A informação em tempo real e a mobilidade das pessoas, aliadas ao fácil acesso a dados e informações na web, fazem com que os equipamentos de informática acompanhem essa tendência. Estes foram alguns dos achados nos relatos dos entrevistados. [...] E eu acho que com essa parte de comunicação o que está vindo atrás é a parte de automação. Uma parte aí de evitar ao máximo a intervenção do usuário num processo. Ou seja, automatizar o máximo possível [...]. (E06). E a própria condição de comunicação via rede elétrica também – que a CEMIG já está com esses estudos de transmissão de dados via rede elétrica – com certeza vai facilitar muito a divulgação do conhecimento. (E07). [...] Então, na minha área que é a área de informação – que eu posso te falar melhor – eu vejo que é isso: é cada vez você poder disponibilizar cada vez mais informação, utilizando recursos mais sofisticados de manipulação da informação, a tempo e a hora. Eu acho que a gente já tem que pensar em falar em informação em tempo real [...]. (E09). As ferramentas de gestão de dados, denominadas datawarehouse, são consideradas importantes na produção de relatórios e o seu conhecimento faz com o gestor se torne mais proativo. A convergência de dados, voz e vídeo em um mesmo dispositivo também deverá ser outra tendência da informática. A redução dos dispositivos, cada vez menores e com maior potência para armazenamento de dados e velocidade, já é uma realidade, chamada de nanoinformática. 100 Eu acho que o caminho é mais integração de informações, colocar isso em datawarehouse, que você consegue tirar muitas informações gerenciais, para te ajudar inclusive a ser mais proativo. (E08). Olha, a nível de rede, que é o que eu trabalho, a gente está caminhando para a convergência, que é a união de dados – voz e vídeo no mesmo dispositivo, tudo utilizando o mesmo recurso.(E11). [...] o lado principalmente de hardware – a coisa caminhando para nanotecnologia, para dispositivos cada vez menores e menores e menores mesmo. (E13). O mercado e as empresas buscam sempre maximizar seus lucros, e os profissionais tendem a especializarem-se em determinadas áreas em função da diversidade e possibilidades que a informática oferece. Muitas empresas não têm como estarem na ponta, porque a tecnologia de ponta custa caro, deste modo, é necessário ficar em uma posição intermediária. Estas são as principais percepções observadas nos relatos da maioria dos entrevistados ao analisarem o atual cenário de informática e as tendências da tecnologia e do mercado. [...]. Então, eles não buscam empregados, fornecedores de serviço, que não tenham um conhecimento muito específico daquilo que eles precisam. Então, está cada vez mais específico. (E12). [...] elas não têm como estar na ponta, porque a ponta custa caro, a tecnologia de ponta custa caro. [...] e eu acho que a empresa tem que ficar na faixa média. Ela não pode ficar lá embaixo, porque senão ela fica muito atrasada [...]. (E10). Diante do cenário de avanços tecnológicos e exigências do mercado, as organizacionais devem desenvolver as competências para competir e crescer nesse setor. É necessário o investimento em atualização tecnológica de hardware e software, mas, principalmente, o investimento em pessoal para desenvolvimento de competências profissionais. Para os entrevistados, a empresa deve aumentar o conhecimento dos empregados, alinhando-o à definição estratégica do negócio. Como é o mercado que dita as regras, é necessária uma definição das metas da empresa de forma planejada e adotando como referencial as melhores práticas utilizadas por outras empresas do ramo e de mesmo porte. O investimento nos usuários também é, quer dizer, o fator humano, que são os empregados também é fundamental. Eu acho que isso aí pode comprometer significativamente um projeto de uso de tecnologia, caso não ocorra investimento também nas pessoas. Mas eu vejo o seguinte: a falta de alinhamento do negócio à tecnologia é que é o grande problema. Porque às vezes você tem um grande 101 investimento tecnológico, mas se você for medir o resultado que aquilo ali trouxe, de repente ele gerou foi mais problema do que resultado. (E03). Com o objetivo de sustentar essas competências, a empresa precisará atualizar-se tecnologicamente, incluindo hardware e software, investir em capacitação para qualificação técnica de sua equipe de trabalho, repensar a cultura organizacional e melhorar o processo decisório, além de definir seu processo de planejamento. Os conhecimentos são: primeiro conhecer o negócio bem da empresa, para fazer um alinhamento estratégico entre as soluções de TI, os serviços prestados, com as necessidades de negócio. (E05). Então eu acho que é treinamento, tanto técnico quanto esses treinamentos de dinâmicas de grupo, para desenvolver essas habilidades. Ou no dia-adia mesmo... reuniões, tentar colocar que a forma de trabalho melhor é essa, tentar viabilizar essa forma de trabalho, tentar quebrar essas ilhas aí de trabalho [...]. (E04). Eu vejo assim uma necessidade de investimento na parte de infraestrutura, como um todo, para atender todas as áreas [...]. (E15). É importante estar atento às tendências de tecnologia, mas isso nem sempre significa investir hardware ou software, pois empresas erram porque colocam o foco muito na tecnologia e se esquecem do processo, como funciona e qual seria a melhor forma de funcionamento, para buscar atingir o máximo de resultado, seja lá qual a natureza de operação da empresa. Tendo um processo definido, o que fazer, ter um norte, eu acho que a gente desbanca qualquer ferramenta nova, qualquer tecnologia aí. Porque a tecnologia vem, mas ela vem... a base dela é daquilo que foi desenhado lá atrás. (E01). [...] você tem que conhecer o seu negócio – porque aí é conhecimento –, fazer com que as pessoas se identifiquem dentro daquele negócio – conhecendo, produzindo esse conhecimento aqui – e realmente todo mundo falar a mesma língua. E a empresa alinhando dentro das metas que ela vai determinar para o futuro da empresa. Só tecnologia não vai resolver isso não. (E03). As tendências e as competências exigidas pelo mercado de informática, estão organizadas resumidamente no QUADRO 10, segundo as informações dos entrevistados. 102 Mercado de informática Tendências • • • • • automação de processos; comunicação via rede elétrica; informação em tempo real; gestão dos dados pelo datawarehouse; convergências de dados, voz e vídeo no mesmo dispositivo; nanoinformática; especialização dos profissionais. Competências exigidas • investimento em atualização tecnológica; • qualificação profissional; • desenvolvimento de competências profissionais; • investimento em planejamento das empresas; • • benchmarking em outras empresas; • • acompanhamento das tendências tecnológicas. Quadro 10: Tendências e competências exigidas pelo mercado de tecnologia da informação Fonte: Dados da pesquisa. Os caminhos do mercado de tecnologia da informação indicam para uma evolução constante, tanto de hardware como de software, deste modo, exige-se também diversas competências das organizações. A principal delas é a definição de uma política de recursos humanos, clara e transparente, divulgada a todos os empregados com o objetivo de possibilitar a retenção do conhecimento tácito. O conhecimento tácito é também conhecido como know how e é difícil de ser transferido e identificado, conforme afirmam os autores, Nonaka e Takeuchi (1997) e Valentim e Gelinski (2005). As tendências do mercado indicam uma competição maior entre as empresas, desta forma, Barroso e Gomes (1999) e Fleury e Oliveira Junior (2001) sugerem que a empresa gere novos conhecimentos para oferecer vantagens competitivas e melhorar sua performance no mercado. O investimento nas competências exigidas pelo mercado, definidas no QUADRO 10, mostram que a gestão do conhecimento não é apenas a combinação da capacidade de processamento de dados e informações, mas a ação inovadora dos seres humanos que podem atuar na melhoria dos produtos e serviços das empresas. Estas foram as conclusões de Malhotra (1999) e Davenport e Prusak (1998), ao avaliarem a gestão do conhecimento nas organizações. Diversos autores, como Armistead (1999), Bose (2004), Darroch (2003), e Nonaka e Takeuche (1997) afirmam categoricamente a importância do investimento nos indivíduos para a gestão do conhecimento, o que não ocorre na empresa, segundo relatos da maioria dos entrevistados. 103 A inexistência de um planejamento definidor dos rumos da empresa, alinhado ao negócio, missão e visão é também mencionada pelos entrevistados, e autores como Ahmed, Lim e Zairi (1999) e Probst et al. (2002) consideram o planejamento importante no processo de gestão do conhecimento que o relacionam com o PDCA. 4.5.2 A gerência do conhecimento O conhecimento que a empresa possui não é gerenciado em sua totalidade. Ele está fragmentado e desorganizado. O que se percebe é o uso do datawiki como tentativa de gestão, com elaboração de normas para a política de segurança, para acesso às informações armazenadas; e mesmo este processo é desconhecido por vários dos entrevistados. A prática de gestão do conhecimento na empresa envolve a existência também de uma base de cadastro de currículos, que é um instrumento de atualização para conhecer a qualificação dos empregados, mas não é considerada prática organizada de gestão do conhecimento. Não. Bom, para armazenar a gente tem; o gerenciamento é feito através das normas. A política de segurança é também uma forma de gerenciar o acesso. (E05). Eu acredito que seja só a percepção pessoal, porque ferramenta eu não conheço. Se tem eu desconheço. (E01). [...] não existe uma prática formal. (E09). Essa gestão do conhecimento está no CVL, igual eu estou te falando: então as pessoas vão fazendo lá os cursos, e fica por conta delas de colocar. A empresa incentiva que as pessoas coloquem esses conhecimentos, a nível de curriculum vitae.(E10). Alguns dos entrevistados afirmam que poderiam contribuir com o desenvolvimento do processo de gestão do conhecimento, inclusive mencionam algumas práticas já utilizadas em seus setores, tais como rodízio dos empregados, explicitação e normalização de processos, e rotina de registros de procedimentos. Existe também, já implantado em alguns projetos, o check list para verificação e a validação de sistemas; desta forma ocorre o armazenamento de tudo que foi realizado na execução de um projeto novo. 104 Eu acho que tenta. Por exemplo, essa prática de rodízio, na minha área, é recente. (E12). Nós já temos alguns projetos que já seguem isso, através do check list, a verificação e a validação. Então, você acaba armazenando tudo que foi feito dentro de um projeto, as notificações [...]. Existem algumas coisas que a gente precisa de algumas ferramentas para estar melhorando essa informação e é o que a gente sempre está discutindo. Mas eu acredito que existe uma grande motivação para isso. (E10). Eu diria que, pelo menos, em normalizar esses conhecimentos, sim. Para haver uma normalização desses conhecimentos, sim. Eu não vou dizer que tecnicamente nós estamos totalmente aptos, não. Mas em termos de conhecimento de normalização, conhecimento de como organizar isso para facilitar, sim. (E07). A empresa não mede e nem percebe os esforços dos empregados relacionados à gestão do conhecimento, e segundo alguns relatos dos entrevistados, ela até dificulta, como a inflexibilidade de horários dos empregados que buscam realizar cursos de atualização e qualificação. Portanto, não tem sido considerado como prioridade ou preocupação, porque a empresa fica focada no resultado e na efetividade das atividades, carecendo de implantar uma política de recursos humanos que valorize mais o funcionário para reter o conhecimento na organização. [...] não há investimento em gestão do conhecimento. (E05). [...] eu acho que, nesse ponto, a gente vai esbarrar lá nas políticas de RH da instituição, que no meu modo de ver, elas não são as melhores, porque também tem suas limitações. Então, a gente não tem um plano de carreira, a gente não tem [...] quer dizer, a área [...] a gente entra e não sabe aonde que a gente vai parar, o que pode acontecer com a gente, o que precisa fazer para a gente desenvolver. Mas a gente vê e reconhece os vários esforços que são feitos individualmente para tentar que as coisas se organizem. (E09). Em partes. Muitas vezes a gente busca um conhecimento e esse conhecimento ele não vai ser utilizado aqui. Então, para a empresa, esse conhecimento não está servindo, mas para a gente é importante. (E11). Não tem essa forma de medir não. A gente não tem isso como um indicador para falar assim “olha, nós estamos usando pouco”. Hoje não tem nenhum tipo de medida. (E13). O QUADRO 11 sistematiza as práticas de gestão do conhecimento adotadas pela empresa no processo de gerenciamento o conhecimento. 105 Especificação Práticas Práticas para o conjunto da empresa • software Datawiki e atualização de currículos. Práticas localizadas em áreas da empresa • • • • Segurança rodízio dos empregados; explicitação e normalização de processos; rotina de registros de procedimentos. elaboração de algumas normas. • check list para verificação; • validação de sistemas. Quadro 11: Resumo das práticas de gerenciamento do conhecimento Fonte: Dados da pesquisa. Novos projetos O conhecimento na empresa está disponibilizado, mas não está organizado de forma a permitir que os empregados tenham acesso fácil ao conhecimento. Percebe-se, pelos relatos, que apesar de ser da área de tecnologia da informação, a empresa não possui um gerenciamento do conhecimento, e também não existe a prática de incentivar os empregados a buscarem novos conhecimentos. A informação dos entrevistados sobre a inexistência do investimento por parte da empresa em capacitação e qualificação profissional vai na contramão da gestão do conhecimento, defendida por Terra (2005), que considera os investimentos em aprendizado individual e organizacional como elementos essenciais para gerar valor para as empresas. O autor afirma ainda que a velocidade das transformações e a complexidade crescente dos desafios não permitem mais concentrar estes esforços em alguns poucos indivíduos ou áreas das organizações, como vem ocorrendo na empresa pesquisada. Outros autores, como Garvin et al. (1998), Valentim e Gelinski (2005) e Stewart (1998) também concordam com Terra (2005) sobre a importância de desenvolver habilidades e competências individuais para a gestão do conhecimento. A gestão do conhecimento deve ajudar os administradores em geral a tratarem o conhecimento e, como afirma Probst et al. (2002), ela deve ser tratada como um recurso e deve estimular ideias práticas que possam ser implementadas. 4.6 Tecnologia O ramo de atividade da empresa de prestação de serviços de tecnologia é um facilitador para o processo de gestão do conhecimento, conforme afirmaram os 106 entrevistados. Desta forma, ela pode aplicar seu conhecimento tecnológico na utilização de ferramentas para gerenciar o conhecimento. O software atualmente em uso na empresa é o datawiki, que está disponível em rede de informática para a disseminação e armazenamento do conhecimento. A qualificação do corpo técnico também contribui para facilitar o processo de gestão do conhecimento, pois a maioria dos empregados possui curso de especialização em engenharia de softwares, fator importante para aprimoramento e uso da tecnologia, segundo relato dos entrevistados. Os recursos eu acho que a gente tem bastante. A gente tem ferramentas, tem as pessoas capacitadas para gerar a informação, temos onde armazenar e como divulgar. (E15). Eu acho que essas ferramentas. A wikipédia é uma excelente ferramenta, desde que seja organizada e alimentada [...] eu acho que é excelente. (E04). [...] eu acho que um facilitador é o conhecimento do pessoal e a facilidade do pessoal tem de conhecer software que registram isso. (E07). Nossa, a Alpha tem, não só tecnologia, ele tem cabeças pensantes aí, que geram muitas ideias interessantes. E tem a tecnologia na mão, basta atuar. (E09). Existem fatores dificultadores para o uso dos recursos tecnológicos, entre os quais destacam-se a falta de tempo para dedicar a própria gestão do conhecimento, para tornar rotina a prática da documentação, registro, compartilhamento e utilização do conhecimento, além de não existir um responsável indicado para fazer de fato o acompanhamento e monitoramento deste processo. A carência do trabalho de integração da equipe contribui com a dificuldade de gerenciar o conhecimento, visto que não existe uma política de recursos humanos para melhorar o entrosamento entre as áreas da empresa. Como parte dos procedimentos não foi formalizada para o registro e documentação, e não existe a rotina de cobrança para consulta à base do conhecimento disponível no datawiki, há um desestímulo por parte dos empregados de recorrer à consulta para solução de problemas, o que ocasiona retrabalho e falta de padronização para os mesmos procedimentos. A falta de planejamento é mencionada também como fator que dificulta a gestão do conhecimento, pois existe na empresa um grande número de clientes de diferentes áreas de atuação, fazendo com que não exista uma definição do foco e consequente diversificação dos serviços oferecidos. 107 Se a gente conseguisse fazer um planejamento, buscar esse conhecimento que está aí disponível, de como criar toda essa estrutura, de tornar todo esse conhecimento que está assim explícito, de reciclar conhecimento, de promover a divulgação do conhecimento e criar essa boa prática na instituição, eu acho que seria muito positivo. (E03). Eu acho que essa base é colaborativa. A própria datawiki que a gente criou ela é o mecanismo mais eficaz para isso. E o grande desafio é manter isso sempre atualizado e devidamente divulgado. (E16). Nós temos profissionais, temos tecnologia para isso, nós precisamos é criar na verdade é essa condição. Talvez tornar isso um projeto que a empresa reconheça e queira implantar. Porque não adianta um querer, dois querer, a instituição é que tem que falar “nós vamos trabalhar isso aí”. Então eu acho que ela tem tudo na mão. (E03). O cliente da [EMPRESA] ele é diversificado e ele necessita do atendimento. Então, ela não poderia direcionar só para um setor. Não sei. Não sei. Eu acho que sim. Evidentemente, qualquer setor [...] qualquer empresa que focasse num setor só, atenderia melhor. Mas eu acho que ela não teria como fazer isso. (E02). Os entrevistados não demonstram dificuldades no uso dos softwares relacionados à gestão do conhecimento, pois a maioria deles possui formação na área de tecnologia, entretanto, percebe-se que não existe um tempo dedicado e não é prioridade da empresa cuidar deste processo. A principal justificativa está basicamente relacionada à falta de tempo para atender as demandas de serviços, o que dificulta o processo gestão do conhecimento. Pode ser que sim. Acredito que sim. Tem influência, mas característica pessoal também conta muito [...] mais a formação [...] todo mundo aqui gosta de Engenharia de Software – ela favorece isso [...] de integrar, de fazer um processo. Acho que todo mundo aqui tem essa visão [...]. Talvez pelo curso contribua [...]. (E01). Uma das dificuldades é tempo. O tempo para dedicar a isso – é como eu estava te falando – alguns procedimentos a gente não tem como validar, eu não tenho como validar e a gente coloca. Mas eu acho que falta melhorar a ferramenta também, porque a gente não utiliza o mídia wiki. No meu caso, a gente tem muito procedimento, mas a gente não tem uma fonte de pesquisa. Então, isso às vezes dificulta a utilização também. Então, o mídia wiki [...] hoje aqui a gente vê talvez que falte um gestor [...]. (E08). Outros empregados do corpo gerencial da empresa por iniciativa própria, inclusive, afirmam estarem contribuindo com o processo de disseminação do conhecimento para melhorar o processo de registros de documentação dos procedimentos. Eu acho que eu estou contribuindo. A própria experiência, o dia-a-dia de coordenar uma equipe, como eu faço há alguns anos, me leva a contribuir no sentido de definir modelos de atuação que eu acho que são mais adequados, que promovem a disseminação da informação; incentivar e 108 cobrar que a pessoa registre a informação da forma correta; ser receptiva nas novas ideias que chegam. (E09). O QUADRO 12 apresenta resumidamente as facilidades e dificuldades encontradas nos relatos dos entrevistados sobre os recursos tecnológicos utilizados pela empresa na gestão do conhecimento. Facilidades Dificuldades • qualificação do corpo técnico; • falta de tempo; • existência de software disponível • inexistência de prática para atualização; para o gerenciamento; • falta de um gestor do conhecimento; capacidade para gerar, armazenar e • falta de dinâmicas de integração da • divulgar a informação. equipe; • inexistência de planejamento; • diversificação de áreas de atuação; • falta de priorização da gestão do conhecimento; • excesso de demanda de serviços. Quadro 12: Processos tecnológicos da gestão do conhecimento Fonte: Dados da pesquisa. Mesmo a empresa possuindo mecanismos facilitadores para a gestão do conhecimento, como a qualificação profissional, tecnologia e capacidade para gerenciar o conhecimento, isto não vem ocorrendo. Outras pesquisas, entre elas, Lage (2003), mostram que não é necessário a empresa ser do ramo de informática para se ter uma boa gestão do conhecimento. Diversas dificuldades foram apontadas pelos entrevistados em seus relatos que justificariam os problemas encontrados no processo de gestão do conhecimento. Novamente a inexistência de planejamento é reforçada, pelas justificativas de falta de tempo e excesso de demandas de serviços, o que dificulta a implementação de ações para a gestão do conhecimento, que, como afirma Terra (2005), propiciariam a correção de deficiências percebidas durante o processo. Como não existe planejamento, não há formas de medir os resultados obtidos, tornando um ciclo vicioso do PDCA, conforme Ahmed, Lim e Zairi (1999). Não existe na empresa pessoa alguém responsável pela gestão do conhecimento, o que para Burk (1999) seria o gerente do conhecimento, alguém 109 responsável pela organização e compartilhamento do conhecimento. Autores como Kuriakose et al. (2005) e Stacy (2001) divergem de Burk (1999), pois afirmam que o conhecimento não precisa de gerente, mas de um ambiente organizacional propício para a interação entre as pessoas, e desta forma ocorrer a transmissão do conhecimento. A falta de dinâmicas de integração é outro fator dificultador do processo de gestão do conhecimento. Nonaka e Takeuchi (1997), ao avaliarem as técnicas e ferramentas que auxiliam a gestão do conhecimento, citam a flutuação e o caos criativo, como forma de estimular a interação entre as inteligências da organização, visando ao desenvolvimento de novas abordagens e estratégias. Para Bastos et al. (2002), a falta de comunicação é um obstáculo ao processo de aprendizagem organizacional. Na mesma direção, Krogh et al. (2001) considera crucial a necessidade da linguagem comum para explicitar os conhecimentos tácitos e facilitar o processo de gestão do conhecimento. 4.7 Estrutura Os entrevistados não demonstraram ter conhecimento quanto ao tipo de estrutura organizacional dominante na instituição. Na realidade, nenhuma citação sequer tocou nesse aspecto, aparecendo, nos relatos, apenas informações superficiais quanto ao organograma da empresa. Hoje a gente é composto de uma Diretoria, Coordenações – nós somos em seis coordenadores - e tem as pessoas que [...] além da parte da coordenação [...] não existe cargos determinados, mas são mais focadas em responsabilidade [...]. A gente tem a Diretoria, que é o Prof. [...]. Acima dele estaria o Prof. [...] hoje, no nível mais da [...], que seria a área de Tecnologia da Informação. Embaixo a gente tem as seis Coordenações internas aqui na empresa. A minha é uma delas, é o Centro de Análise de Negócio. (E06). Há, no entanto, uma visão quanto à divisão mais geral dos diversos cargos e profissionais que compõem o corpo da empresa. Esta visão geral é bem conhecida através de suas quatro grandes divisões setoriais, a saber: Diretoria, Coordenações, analistas e pessoal técnico. Hierarquicamente descritos nessa ordem e dessa forma. 110 Tem a Diretoria, as coordenações de setores e os analistas. E tem a parte dos técnicos também, que aí no caso não são analistas, mas estão debaixo dos seus respectivos coordenadores. (E04). A gente tem a Diretoria [...] os coordenadores [...] e os setores. [...] analistas de negócio, tem os analistas de desenvolvimento, tem os analistas de qualidade [...]. (E02). [...]. É. Aí tem os analistas, os desenvolvedores, os analistas de informática [...] de TI. Tem a parte operacional, tem a parte administrativa. Tem os técnicos; abaixo dos analistas tem os técnicos de informática. (E07). Do ponto de vista da interação entre as diversas áreas ou níveis hierárquicos dentro da empresa, os entrevistados afirmaram que o relacionamento é bom, portanto os seus reflexos não interferem na gestão do conhecimento. E quando ocorre interferência, elas são em sua maioria tidas como positivas, pois a variável interação é considerada bastante satisfatória. Eu acho que é uma estrutura hierárquica enxuta, e com poucos níveis hierárquicos. E eu acho que é bem ativa e bem objetiva, rápida, bem fluente assim a relação entre essas áreas. (E16). Eu percebo assim que é excelente. É muito boa. (E02). Interfere. Interfere. Por que que eu digo? [...] Quando há uma coisa muito focada para aquela área, ela não transfere esse conhecimento, não há uma divulgação efetiva do que está sendo feito ali. A interação entre as áreas é muito tranquila hoje, mas a desse conhecimento ela é um pouco complexa, é um pouco restrito. (E07). Eu acho que flui a comunicação assim. Sempre que a gente precisa de um retorno do coordenador ou que leve alguma coisa para a Diretoria, o coordenador é participativo nesse sentido; traz também coisas da Diretoria para a gente [...] alguma decisão que seja cabível à gente, ele traz. Eu acho que flui. A comunicação flui. (E04). Sobre a rigidez ou flexibilidade da gestão da organização, os entrevistados, em sua maioria, consideram que a empresa é flexível, com raras discordâncias, porém, não relataram o porquê de ela ser classificada como flexível. Em suas falas nada há de relevante, que relacione diretamente flexibilidade ou rigidez, com gestão do conhecimento. Questões como flexibilidade dos horários de trabalho (desde que, sem interferir no resultado final das tarefas), dos prazos de cumprimento de projetos, entre outros, é que definem para os participantes o que seria o grau de rigidez da empresa. Eu acho que é um lugar bom de se trabalhar. Não vejo totalmente rígida. Eu acho que é flexível entre aspas. Porque tem o que que é flexível também, não é? De acordo com a regra de trabalho? Ou a forma de trabalhar, depende o que que é o flexível e o rígido [...] 111 Eu acho que é mais flexível. Ela não é rígida não [...] [...]. Em tudo. Até pelo nosso perfil de trabalho assim também. Por exemplo, a questão do nosso horário, não é rígido, não é de 8 ao meio dia e de 1 e meia a 5 e meia. Não. Dentro da capacidade de cada um, tem analisar [...]. (E04). Eu acho que existe da Diretoria para a Coordenação e da Coordenação para a área. Agora, da área operacional para a Diretoria, eu não conheço [...]. (E01). É mais rígida [...]. Ela é rígida sim. Eu acho que é uma cultura da instituição [...] em função aí da nossa [...] de nós sermos mantidos aí pela igreja [...]. Eu acho que assim o caráter de gestão da igreja, centralizador, sigilo, disciplina [...] isso está aqui nas quatro paredes [...] Então assim, eu acho que é um reflexo da [...] Da tradição de quem mantém. (E05). Eu, particularmente, acho a Diretoria muito distante. Houve um movimento há um tempo atrás, para aproximar, mas se perdeu... da Diretoria com os analistas. Da Diretoria com a Coordenação são feitas reuniões semanais, tem um acompanhamento muito próximo. Da Coordenação com os analistas também, porque a gente está sempre [...]. Mas Diretoria/analistas está [...]. (E15). Outro aspecto relacionado à estrutura que deve ser considerado é o espaço físico enquanto facilitador ou dificultador na promoção do fluxo do conhecimento. Nesse quesito os relatos apontam que o layout atualmente utilizado na empresa é um potencializador das interações que facilitam a gestão do conhecimento. Eu acho que sim. As áreas afins estão próximas, então facilita. (E01). Eu acho que o espaço é até positivo. Eu acho que poderia ser mais confortável e com isso poderia promover uma interação maior, dependendo da disposição das pessoas. E o próprio trabalho que a gente faz a gente fica muito concentrado. Então, eu não vejo assim um problema, de falar assim “o espaço físico é um impedidor da geração de [...]”. Eu não vejo [...]. (E03). O espaço físico [...] não interfere. Por exemplo, na minha visão o espaço físico não interfere numa disseminação [...] – Não, não interfere não. Você pode trocar uma ideia por telefone. Então assim, eu acho que o espaço físico não [...] Eu não consigo visualizar uma [...]. (E06). Proximidade entre colaboradores, layouts que privilegiam a comunicação e a interação interpessoal, espaços quase sempre bem dimensionados para o trabalho neles executado são alguns dos exemplos na direção de uma boa relação entre espaço físico e fluidez do conhecimento. Não necessariamente, contudo, teria havido um planejamento prévio para se atingir esse fim. Falando de [...] Eu não sei se ele é bem planejado, não. Eu sei que me atende. É suficiente [...] nós é que somos meio desorganizados mesmo e grita: “oh fulano [...]”, que a gente sabe que vai atrapalhar o colega do lado, mas a gente faz [...]. Eu não sei se ele é bem planejado não. Com certeza. Eu só sei que não tenho nada a reclamar não. (E02). 112 Atende. Inclusive a gente trabalha [...] recentemente o nosso coordenador até nos trocou de lugar porque a gente quer trabalhar em duplas, justamente para facilitar essa questão do conhecimento. (E04). Está bem dimensionado. A gente tem [...] cada área tem um espaço adequado... eu tenho só aquele [...]. Em relação à troca de ideias, não. Eu acho que não. Eu acho que a gente podia trabalhar num ambiente mais[...] – É. Exato. Mais compartilhado. Inclusive assim isso aí é uma recomendação mesmo assim já dessa visão mais contemporânea da gestão de serviço em TI, é que apesar de pessoas exercerem atividades [...] atuarem em níveis de solução diferentes, que elas estejam lado a lado [...]. (E05). Às vezes não, porque a gente senta em fila. Eu preciso comunicar com a pessoa lá do canto, às vezes eu deixo de comunicar porque eu tenho que escrever um e-mail, ou então pegar um ramal, levantar e ir lá [...] ou até mesmo em outros setores. Mas então eu acho que internamente lá na sala [...] se tivesse uma disposição mais [...]. (E15). Um destaque sobre estrutura, mencionado por um entrevistado, está na localização da empresa Alpha, que guarda informações de uma instituição de ensino superior, dentre outras empresas ligadas ao grupo e está situada em andar superior de determinado prédio, cujo térreo abriga atividades onde a base, a matéria prima com a qual trabalham é o papel. Nesse local, um eventual sinistro com fogo teria o mais fértil campo, podendo, até mesmo, destruir completamente o acervo de informações e conhecimento ali guardados, caso não haja cópias de segurança em outros espaços. Não. Eu acho que podia ser melhor. Eu acho que o espaço aqui [...] as pessoas aqui elas ficam muito tensas com a localização da [empresa]. E isso já foi sinalizado. E tem gente aí falando da [outra empresa do grupo]. Nós estamos em cima do barril de pólvora [...] só falta o fósforo [...] lá embaixo no [...] tem papel, tem tinner, tem tinta, tem produtos inflamáveis, que podem gerar uma catástrofe interna. – E é um local também [...] um negócio perigoso [...], se você for pensar metaforicamente [...] – E isso nos pressiona. Mas internamente não, não é? Internamente é até razoável. – É um bom espaço de trabalho, mas o espaço externo, ele é complicado. (E14). Os aspectos relacionamentos a estrutura da empresa avaliados na pesquisa e extraídos dos relatos da maioria resumidamente no QUADRO 13. dos entrevistados, são apresentados 113 Especificação Situação Estrutura organizacional • desconhecida. Níveis hierárquicos • quatro. Interação entre as áreas • boa e não interfere. Tipo de organização • flexível. Espaço físico • planejado. Quadro 13: Avaliação da estrutura Fonte: Dados da pesquisa. A estrutura das organizações pode facilitar ou dificultar o processo de gestão do conhecimento. Pelos depoimentos, neste quesito, a empresa possui um bom layout com proximidade dos locais de trabalho dos empregados. A esse respeito, Argyris (1996) diz que não basta disposição física, a melhoria do processo de gestão do conhecimento implica profundas mudanças organizacionais, haja vista a típica estrutura organizacional burocrática e hierarquizada difundida na maioria das organizações. Mesmo a gestão da empresa sendo considerada flexível para a maioria dos entrevistados, Terra (2005) e Stewart (1998) defendem mudanças de processos, nas estruturas, sistemas de informação e de incentivo individual e coletivo para a implementação da gestão do conhecimento. Esta flexibilidade da gerência não tem sido reconhecida pelos subordinados como comprometimento da liderança com a gestão do conhecimento, que Goh e Richards (1997) consideram importante para o aprendizado das organizações. A interação mencionada entre as áreas pelos entrevistados é fator preponderante para a gestão do conhecimento; confirmando o exposto, Davenport e Prusak (1998) esclarecem que o processo de interação com o ambiente onde a empresa está inserida permite que as organizações adquiram informações, transformando-as em conhecimento por meio de suas experiências, valores e regras internas. 114 4.8 Cultura Para facilitar o processo de gestão do conhecimento, os valores considerados pela empresa são a formação acadêmica, experiência profissional, comprometimento (“vestir a camisa”), iniciativa e disposição para “fazer”. Por se tratar de empresa prestadora de serviços de tecnologia, o comprometimento com a instituição é fundamental para garantia do sigilo das informações. É. Esses fatores eu acredito que [...] eu vejo na Coordenação. A atenção ao fazer as coisas [...] também, eu acho que é bem valorizado. Porque o que a gente faz tem muito a ver em estar certo ou errado do ponto de vista do usuário. (E01). O histórico: o histórico das pessoas que têm mais tempo de casa. (E07). Eu acho que a palavra chave é comprometimento. (E09). Eu vejo assim – não sei se pela minha formação [...] e acho que cada um tem que merecer, é lógico – mas você tem que mostrar à empresa que você merece, através disso: do seu trabalho, das competências técnicas que você oficializou através do seu esforço, o que você faz, o resultado do seu trabalho [...]. Então, essas são olhadas, indiretamente, dessa forma. (E10). Outros relatos dos entrevistados já afirmam que a empresa não possui, ou não divulga, qual a política clara e transparente de recursos humanos, que valorize e indique para o funcionário quais os caminhos a serem percorridos para buscarem o reconhecimento e crescimento profissional na instituição. Não. Eu não entendo que ela valoriza [...]. Bom, ela tenta valorizar o profissional que está atendendo [...] sempre esse pessoal [...]. (E02). Se existe, não é divulgado. Não sei responder a essa pergunta. (E11). Eu não sei. O que eu sei é que eles falam assim: “não comenta com ninguém que vocês estão fazendo treinamento não, para não gerar polêmica”, mas acaba que gera. Isso não tem como esconder muito não. A gente sabe que tem uma diferenciação, mas a gente também não questiona, não tem feedback da nossa avaliação, fica uma coisa no ar. (E12). Ao avaliar a sua demanda de serviços e necessidade de atualização tecnológica, a empresa busca investir em desenvolvimento profissional dos empregados, o que já ocorreu por meio de cessão de bolsas de estudo para cursos de graduação e especialização; atualmente realiza treinamentos direcionados, conforme a área de atuação e formação dos empregados. 115 Apesar do reconhecimento da existência de preocupação da empresa em desenvolver profissionalmente os empregados, os relatos dos entrevistados indicam a inexistência de uma política de recursos humanos, com plano de cargos e carreiras e um processo de avaliação de desempenho que motive e dê, para o funcionário, um feedback do resultado de seu trabalho. O corpo gerencial recebeu, em 2008, uma qualificação de formação para desenvolvimento gerencial, destinado a todos os coordenadores. Esta foi uma iniciativa da empresa, que percebeu a necessidade de desenvolver esse perfil gerencial nas equipes. Outra prática utilizada pela empresa para desenvolver profissionalmente os empregados recém-contratados está relacionada à prática de introduzi-los em equipes experientes; deste modo, ocorre a disseminação do conhecimento. Eu, falando por mim, eu tive bolsa e eu fiz o curso de especialização com uma bolsa muito interessante, muito boa e tal, não era 100%, mas era uma bolsa [...] eu não lembro muito bem, mas assim eu sei que era uma bolsa [...] eu pagava eu acho que 20% ou 30%. Mas eu tive um incentivo muito grande. Mas atualmente não tem. (E02). Ela demonstra interesse no desenvolvimento profissional. Eu acho que a empresa ela às vezes não tem são recursos para efetivamente estar fazendo isso acontecer. Interesse há, mas às vezes não há a condição de fazer. (E05). Eu acho que existe sim. Tanto é que já existiu aí um programa de desenvolvimento gerencial do qual empregados da Alpha fizeram parte. Eu acho que existe uma preocupação da instituição em desenvolver os seus empregados. Com certeza. Eu acho que sim. Pode ser que não seja no ritmo que deveria ser, talvez não seja tão abrangente quanto deveria ser, mas com certeza existe a preocupação. Agora, o que eu acho que emperra tudo é, realmente, não existir esse plano de carreira e um processo de avaliação de desempenho, que faça ele funcionar. Isso emperra tudo. (E09). Por outro lado alguns dos entrevistados relatam que a empresa apenas investe em desenvolvimento profissional dos empregados quando a necessidade é extrema, por exemplo, fiscalização do Ministério do Trabalho. A justificativa pela empresa é a falta de recursos financeiros. Quando o investimento é do próprio funcionário, não existe uma política de incentivo por parte da empresa, ou seja, não existe um plano de carreira. É. Eu acho. Eu acho que isso aí ela deixa a desejar um pouco. Eu acho que poderia ter um plano de carreira mais claro, possibilitando aí uma reciclagem mais – principalmente na área de tecnologia, que é uma coisa que tem uma mudança muito diária praticamente, muito frequente. (E03). Não. Eu nunca me deparei com essa situação da pessoa querer: “olha, eu gostaria de evoluir nessa área, está direcionada às atividades da [Empresa], 116 mas não está tendo treinamento [...]“, “vamos ver aqui uma possibilidade”. Eu nunca vi [...]. (E15). Até que chegou uma necessidade assim extrema – até por fiscalização do Ministério do Trabalho e não sei o quê – a gente precisava dar aquela informação, resolver algumas coisas, aí o treinamento foi aprovado. Então assim, algumas vezes o leite tem que derramar. (E16). O que fica faltando na nossa formação – e que eu acho que traria um retorno grande para a empresa também – é essa questão dos treinamentos, tanto técnico [...] no sentido ao menos de renovar, não só quando chegar uma coisa nova, mas de renovação técnica; quanto às habilidades pessoais. Isso realmente fica a desejar aqui dentro. (E04). Ao avaliarem o estilo de gestão predominante na empresa, os entrevistados, em sua maioria, afirmam ser participativo, de fácil acesso e com perfil técnico. É uma administração colegiada, onde os coordenadores estão sempre opinando em algumas decisões, por meio de discussão em reuniões semanais. [...] aberto a discussão, a gente consegue conversar com ele problemas pessoais, do tipo interno – pessoal que eu falo é de relacionamento que acontece entre um funcionário e outro – vejo ele super aberto, tranquilo. Isso quanto ao coordenador. (E01). Bom, eu imagino [...] eu vejo assim que a Diretoria é muito técnica [...] muito técnica mesmo. Mas é aberta eu acho. É uma Diretoria bem aberta, bem [...] a gente tem acesso [...] fácil acesso [...].. (E02). Hoje, eu acho que uma dificuldade que a Diretoria tem é de não estar alinhada com – eu não sei se existe, como é feito, e tudo mais – mas um planejamento estratégico institucional. (E16). A maioria dos empregados admite levar mais conhecimentos do que deixam na empresa caso se desliguem dela. Outros afirmaram que há certo equilíbrio, e que os projetos não seriam interrompidos. Para evitar isto a empresa realiza rodízio de empregados nos sistemas de informática e trabalho em equipe, com o objetivo de disseminar o conhecimento para mais de uma pessoa. Quanto mais documentado, mais independente das pessoas, desta forma o conhecimento explícito fica na empresa. Não. Talvez prejudicado, mas não interrompido. Prejudicado... que é um tempo básico de adaptação da outra pessoa... de entendimento. Mas nunca ela iria chegar sem saber nada, porque ela também participou. (E01). Ela ficaria em alguns momentos aí – porque ninguém é insubstituível – até conseguir entender determinados detalhes. Por exemplo, tem processos que eu implementei de estação de dados que comunica com outro sistema [...]. Isso de uma certa forma – eu tenho a documentação, eu fiz a documentação – mas não tem assim um processo que está publicado, que está de fácil acesso, que poderia ter um histórico mais claro. Eu fiz da minha maneira. Então assim, não é uma maneira que é entendida por todos. (E03). 117 Olha, eu acho que eu mais deixo, porque é realmente muita coisa da nossa área especificamente que está documentado, está guardado. E a gente já teve situações em que eu estava de férias e não conseguiram me localizar. (E15). Eu acho que sempre foi uma relação equilibrada. Eu acho que eu sempre tive uma [...] eu sempre dei à instituição na medida em que a instituição me deu. Eu acho que eu consegui crescer junto com a instituição, com o próprio [Empresa], vou levar certamente muita coisa e vou deixar muita coisa também. (E16). Os aspectos culturais encontrados nos relatos dos entrevistados, estão apresentados no QUADRO 14. Especificação Resultado Desenvolvimento profissional • • • • • formação acadêmica; experiência profissional; comprometimento (vestir a camisa); iniciativa e disposição para “fazer”. atualmente inexistente. Estilo gerencial • participativo. Valores organizacionais Quadro 14: Resumo dos aspectos culturais Fonte: Dados da pesquisa. A empresa apresenta um estilo gerencial participativo e suas práticas percebidas nos relatos dos entrevistados indicam pouco sobre a cultura organizacional predominante na empresa. A avaliação da estrutura indica uma flexibilidade nos processos de gestão. A cultura organizacional envolve diversos fatores, como apresentado por Pheysey (1993, p. 6), comentando as definições de Hofstede (1993), quando este analisa os fatores característicos de uma cultura organizacional, definidos como hierarquia, controle, mensagem, conceito de missão, envolvimento, comunicação, lealdade, noção de status e fatores advindos do relacionamento com a comunidade externa a organização. Estes fatores, para o autor, permitem delinear e confirmar o que se pensa em termos de organização e do desenvolvimento de uma cultura própria. Alguns valores organizacionais foram considerados pelos entrevistados, como facilitadores do processo de gestão do conhecimento, são eles: formação acadêmica, experiência profissional, comprometimento (“vestir a camisa”), iniciativa e disposição para fazer. Ao estudarem a gestão do conhecimento Choo (2000) e Nonaka e Takeuchi (1997) apresentam a cultural organizacional como uma das dimensões do conhecimento. A cultura organizacional, para os autores, consiste de todas as crenças consideradas verdadeiras pelos indivíduos da organização e 118 baseadas em observação, experiência e reflexão sobre si mesmos e sobre o ambiente em que operam. Essas crenças, então, formam os critérios de julgamento e a seleção para alternativas e novas ideias, além de formarem as bases para as avaliações de projetos e propostas que compõem a cultura organizacional das empresas. A cultura organizacional também foi estudada por outros autores, dentre eles, Argyris (1996), Nicolau (2003), Popadiuk e Ricciardi (2007) e Silveira (2004), que consideraram como fator determinante para gestão do conhecimento os aspectos culturais que envolvam os indivíduos. Já para Balceiro e Balceiro (2001), ao se focalizar a cultura de uma organização, consegue-se entender melhor o que se passa nas práticas dos grupos, desvinculando-se um pouco do conceito de aprendizagem organizacional como uma aprendizagem individual dentro do contexto de uma organização. 119 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente pesquisa visou analisar o processo de gestão do conhecimento em uma empresa prestadora de serviços de tecnologia da informática vinculada uma IES brasileira, realizada com estudo de caso, por meio de uma pesquisa qualitativa com o uso de roteiro de entrevista semiestruturado. As perguntas foram direcionadas a investigar a gestão do conhecimento no nível micro e macro, ou seja, na gerência e no conjunto da empresa. A prática de criação do conhecimento é comum na empresa, sendo utilizadas várias práticas para avaliar a capacidade da empresa criar internamente o conhecimento ou adquirir de fornecedores. Quando a decisão é criar o conhecimento, a empresa busca: preencher formulários para novos projetos, fazer pesquisa documental, ou seja, um diagnóstico para conhecer um pouco mais a demanda, e posteriormente realiza a capacitação e discussão em grupo. No nível mais local, ou seja, nas Gerências, não existe uma padrão determinando os passos para se criar um conhecimento internamente. Algumas práticas, além das utilizadas no conjunto da empresa, como orientação geral, são consideradas bem sucedidas pelos entrevistados. São elas: criação de células de trabalho, adoção de melhores práticas e a criação do ponto focal. Diferente do processo de criação interna do conhecimento para a aquisição do conhecimento externo, já existe um padrão preestabelecido pela empresa que deve ser seguido na tomada de decisão para escolha do fornecedor. A empresa Alpha faz a lista de requisitos, avalia as propostas dos fornecedores (no mínimo três), faz a prospecção da solução e realiza o benchmarking junto a clientes. Quando a aquisição do conhecimento ocorre com pesquisa em clientes externos, o processo também é sistematizado, a empresa faz a lista de requisitos, indica um responsável técnico para acompanhar o projeto, faz a descrição da necessidade do cliente por meio de entrevistas e visitas in loco. Todo o processo é acompanhado pelo Termo de Abertura de Projeto. Percebe-se que a criação do conhecimento ocorre na empresa, ora internamente e as vezes buscando de fornecedores, por meio de aquisição ou realização de parcerias. É importante ressaltar que, dos critérios utilizados para 120 nortear a decisão, estão sempre presentes na avaliação os fatores limitadores: o custo/benefício e o tempo para entrega da demanda. Assim como no processo de criação de conhecimento, a transformação do conhecimento individual em coletivo e o compartilhamento do conhecimento internamente ocorre com o uso de várias práticas. Dentre as mencionadas pelos entrevistados, merece destaque o uso do software datawiki, local onde o conhecimento está facilmente acessível a todos os colaboradores. É neste ambiente que ocorre a publicação do que já está registrado e documentado pela empresa e que é considerado como conhecimento organizacional. Compartilhar e proteger o conhecimento estão diretamente relacionados e não existe uma política estruturada e norteadora que definam as regras da empresa. O que existe é a definição do nível de acesso dos usuários e técnicos que utilizam os sistemas. A empresa também monitora os acessos dos usuários e registra as alterações nos sistemas realizadas pelos técnicos. Das informações relatadas anteriormente, deduz-se que as práticas de gestão do conhecimento na organização, mesmo ocorrendo fragmentada e não organizadamente, podem ser organizadas pelo modelo de gestão do conhecimento tácito e explícito, denominado SECI – Socialização, Externalização, Combinação e Internalização, proposto por Nonaka e Takeuchi (1997), conforme apresentado no QUADRO 15. Socialização Externalização • publicação na • manuais de normas biblioteca virtual; e procedimentos; • treinamento de • documentação das multiplicadores; melhores práticas. • rodízio de equipe; • reuniões, grupos de estudos; • formação de times. Combinação • formação de multiplicadores; • realização de workshops; • consulta à biblioteca virtual. Internalização • criação do ponto focal; • seminários e reuniões; • adoção de melhores práticas; • divisão do trabalho em células; • leitura de manuais de procedimentos; • práticas informais. Quadro 15: Práticas de gestão do conhecimento no modelo SECI Fonte: Elaborado pelo autor. O QUADRO 15 foi agrupado com base nas entrevistas, e mostra que existem várias práticas para socializar e internalizar o conhecimento. Já para externalizar e combinar, poucas são as práticas utilizadas pela empresa, se comparadas com as outras etapas. 121 Muitas foram as justificativas apresentadas nas entrevistas para explicar a dificuldade de melhorar a prática de gestão de conhecimento, entre elas, destaca-se a falta de tempo, excesso de demanda e a inexistência de uma política de recursos humanos, encontradas na maioria dos relatos, ou seja, não existe um planejamento dos rumos da empresa. Davenport e Prusak (1998) propõem que o conhecimento deve ser alinhado e avaliado segundo a contribuição dos funcionários para a melhoria do nível de conhecimento da empresa. Apresentam como exemplo uma grande empresa de consultoria que reformulou seus sistemas de avaliação de desempenho para incluir contribuições para o banco de conhecimento da firma como fator importante para decisões relativas à remuneração. Na mesma direção desses autores, Jamil (2006) realizou um estudo de múltiplos casos sobre a gestão de informação do conhecimento em empresas brasileiras de diversos setores, inclusive do setor de informática, e concluiu que, para o sucesso da gestão do conhecimento, é necessário o envolvimento e convencimento das pessoas que participam do processo. A empresa preocupa-se com a gestão do conhecimento, como afirmaram os entrevistados, porém, não existe um profissional responsável para gerenciar e acompanhar o processo de gestão do conhecimento, como sugere Burk (1999). Contudo, outros autores, com Kuriakose et al. (2005) e Stacy (2001) divergem da necessidade de haver alguém responsável pela gestão do conhecimento. A análise dos dados também mostra que a empresa possui uma boa estrutura física, entretanto as suas ferramentas tecnológicas não acompanham a tendência do mercado, haja vista, por exemplo, que somente em 2009 a empresa migrou sua base de banco de dados para uma plataforma de 2005, ou seja, ainda com cinco anos de atraso. No aspecto relacionado à cultura organizacional, não foi possível aprofundar essa questão, tendo em vista que as respostas pouco informaram sobre a cultura predominante na empresa e que poderia influenciar na gestão do conhecimento. Pelo exposto, e considerando os achados das entrevistas, conclui-se com esta pesquisa, que a gestão do conhecimento na empresa Alpha ainda não está totalmente implementada, mas algumas etapas, como internalização e socialização, mesmo não estando formalizadas e padronizadas, estão em uma fase avançada. Implantar a gestão do conhecimento nas empresas não tem sido uma tarefa fácil, como indicam pesquisas, por exemplo, a de Albuquerque e Fischer (2001). Tais 122 autores, ao avaliarem as tendências para a área de gestão de pessoas no Brasil, projetando um cenário para dez anos (2000-2010), constataram que a gestão do conhecimento possui alta relevância para as empresas (98%), segundo a percepção dos formadores de opinião entrevistados, mas, também, o maior grau de dificuldade de implantação, dentre os diversos itens avaliados. A pesquisa dos autores mostrou também que apenas 22% das empresas já haviam introduzido até o ano 2000 práticas de gestão do conhecimento, confirmando, portanto a dificuldade de se implantar a gestão do conhecimento nas organizações. Esta dificuldade na implementação da gestão do conhecimento citada por Albuquerque e Fischer (2001) é também corrobarada por Nicolau (2003), que define o conhecimento como um ativo com características especiais e dificuldades de avaliação que tal natureza implica; seu nível e utilidade dependem de muitos fatores relacionados, não só aos recursos tecnológicos, mas também aos humanos e à cultura organizacional. Prosseguindo nesta ótica, Jamil (2006) afirma que desconsiderar a gestão do conhecimento como simples modismo pode representar a perda de oportunidade de compreender como o conhecimento é desenvolvido, gerado e usado nas organizações. Probst et al. (2002) são incisivos ao afirmar que, para sobreviver e competir na “sociedade do conhecimento”, as empresas devem aprender a administrar seus ativos intelectuais. Desta forma, para os autores, a empresa estará em condições de desenvolver estratégias baseadas em suas competências. Conclui-se, com esta pesquisa, que os objetivos iniciais propostos foram atingidos, entretanto alguns questionamentos, a seguir descritos, propõem novos estudos para entender as dificuldades que as empresas possuem em gerenciar o conhecimento. Deve-se avaliar, por exemplo, a dificuldade que as empresas possuem para registrar e proteger o seu conhecimento, e quanto os investimentos em política de recursos humanos podem interferir no processo de gestão do conhecimento. A literatura pesquisada mostrou que vários fatores interferem no processo de gestão do conhecimento, tais como cultura, estrutura, tecnologia, política de recursos humanos. Mas em que medida isto ocorre, ou seja, interfere muito, pouco ou não interfere? Uma outra questão que poderia ensejar novos estudos é a verificação do processo de gestão do conhecimento em empresas de outros ramos de atividades, a fim de avaliar se isto interfere ou não na gestão do conhecimento. 123 Outra contribuição evolutiva a este estudo seria realizar pesquisas e comparar os resultados entre empresas que possuem um gestor do conhecimento e as que não possuem, uma vez que existem controvérsias entre defensores de correntes de pensamentos diferentes sobre este tema. As questões acima indicam algumas limitações deste estudo, e há que se considerar que esta pesquisa é um estudo de caso, o que não permite generalizar os resultados obtidos; por outro lado, os sujeitos da pesquisa foram de 16 empregados no universo de 82 pessoas. Ressalte-se ainda, em relação aos sujeitos, que outra limitação foi o nível de escolaridade, pois a pesquisa foi composta de profissionais de nível superior, e a empresa possui também empregados de nível médio, mesmo que em menor proporção, o que poderia apresentar percepção diversa da encontrada. Mesmo com algumas questões não respondidas neste estudo, pode-se afirmar que esta pesquisa foi válida, por possibilitar compreender a aplicação de modelo de gestão do conhecimento. 124 REFERÊNCIAS ADAMS, E.; FREEMAN, C. Communities of practice: bridging technology and knowledge assessment. Journal of Knowledge Management, v. 4, n. 1, 2000. AHMED, P. K.; LIM, K. K.; ZAIRI, M. Measurement practice for knowledge management. Journal of Worksplace Learning: Employee Counselling Today, v. 11, n. 8, p. 304-311, 1999. ALBARELLO, L.; DIGNEFFE, F.;HIERNAUX, J.-P.,MAROY, C. et al. Práticas e Métodos de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa : Gradiva Publicações Ltda., 1997. ALVARENGA NETO, R. C. 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Bloco II: Processo de conversão do conhecimento 7. A empresa utiliza práticas para que um conhecimento individual seja transformado em conhecimento coletivo? Quais? 8. A empresa utiliza práticas para que um conhecimento coletivo seja transformado em conhecimento organizacional? Quais? 9. A empresa compartilha conhecimento internamente? Como? 10. Existem dificuldades nesse processo? Quais são as principais? 11. A gerência compartilha conhecimento internamente? Como? 12. Existem dificuldades nesse processo? Quais são as principais? 13. A empresa mapeia o conhecimento que ela já possui? Como? 14. A gerência mapeia o conhecimento que ela já possui? Como? 15. Existem práticas na empresa para registrar os novos conhecimentos? Quais são elas? 134 16. Existem práticas na gerência para registrar os novos conhecimentos? Quais são elas? Bloco III: Processo de utilização do conhecimento 17. A empresa registra o conhecimento na forma de normas ou manuais de procedimentos? 18. Como ele é disponibilizado para os empregados? 19. Quais dificuldades são identificadas? 20. Como ocorre o processo de utilização dos novos conhecimentos pelos empregados? 21. A empresa oferece oportunidades para quem quer utilizar um conhecimento diferente ou mudar a forma tradicional como as coisas são feitas? Quais? 22. A empresa oferece condições necessárias para quem quer utilizar um conhecimento diferente ou mudar a forma tradicional como as coisas são feitas? Quais? 23. A empresa utiliza técnicas para socializar novos conhecimentos? Como? Bloco VI: Processo de proteção do conhecimento 24. A empresa diferencia o conhecimento que deve ser compartilhado interna ou externamente do conhecimento que deve ser protegido? 25. Como é feita essa diferenciação? 26. A gerência diferencia o conhecimento que deve ser compartilhado interna ou externamente do conhecimento que deve ser protegido? 27. Como é feita essa diferenciação? Bloco V: Gestão do conhecimento 28. Fale sobre o atual cenário do setor de informática e suas principais tendências tecnológicas e mercadológicas. 29. Quais são as competências organizacionais requeridas para competir e crescer nesse setor? 30. Quais são os conhecimentos-chave que a Alpha precisa desenvolver para sustentar essas competências? 31. Como a Alpha gerencia esses conhecimentos? 135 32. Qual a contribuição desse setor no desenvolvimento desses conhecimentos? 33. A empresa mede os esforços relacionados à gestão do conhecimento de seus empregados? Como isto acontece? Bloco VI: Tecnologia 34. Para a empresa, quais são os fatores facilitadores no uso de recursos tecnológicos relacionados à gestão do conhecimento? 35. E quais são os fatores dificultadores na visão da empresa? 36. Para você, considerando suas atribuições, quais são os fatores facilitadores no uso de recursos tecnológicos relacionados à gestão do conhecimento? 37. Para você, ainda, considerando suas atribuições, quais são os fatores dificultadores no uso de recursos tecnológicos relacionados à gestão do conhecimento? Bloco VII: Estrutura 38. Qual a estrutura organizacional dominante na empresa? (formal, unidade de negócio, rede)? 39. Quantos níveis hierárquicos existem na empresa? 40. Como você avalia o nível de interação entre as áreas? 41. Esse nível de interação interfere na gestão do conhecimento na empresa? Como? 42. Você considera a Alpha como uma organização rígida ou flexível? Explique. 43. O espaço físico é planejado para promover o fluxo de ideias entre os grupos de trabalho? Bloco VIII: Cultura 44. Que valores organizacionais a empresa considera para facilitar o processo de gestão do conhecimento? 45. Que valores organizacionais a gerência considera para facilitar o processo de gestão do conhecimento? 136 46. Como a empresa demonstra interesse pelo desenvolvimento profissional de seus empregados? 47. Como você avalia o estilo gerencial da empresa?