Processos em Engenharia: Conceitos de Controle de Processos e Ações de Controle Elementares Prof. Daniel Coutinho [email protected] Departamento de Automação e Sistemas – DAS Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC DAS 5101 - Aula 4 – p.1/43 Sumário • Conceitos Básicos de Sistemas de Controle • Ações de Controle Elementares: 1. Controle Liga-Desliga 2. Ação Proporcional 3. Ação Integral 4. Ação Derivativa • Exemplo DAS 5101 - Aula 4 – p.2/43 Introdução - I • Processos industriais – métodos utilizados para modificar e/ou transformar matéria-prima com o objetivo de criar um produto final. • A matéria-prima pode passar e/ou permanecer em estado líquido, gasoso ou líquido-sólido durante a realização de um processo (transferência, mistura, separação, aquecimento, armazenamento, manipulação). • Controle de processo – metodologia utilizada para controlar certas variáveis do processo quando manufaturando um determinado produto. DAS 5101 - Aula 4 – p.3/43 Introdução - II • Exemplos de controle de variáveis – proporção de um ingrediente com relação a outro, a temperatura dos materiais, mistura e ou separação de ingredientes, pressão, etc. • Objetivos no controle das variáveis de um processo: • Redução da variabilidade dos produtos; • Aumento da eficiência (e/ou qualidade do produto); • Aumento da segurança de operação do processo. DAS 5101 - Aula 4 – p.4/43 Introdução - III • Redução da variabilidade: o set-point (condição de operação) pode ser colocado próximo ao ponto de produção ótimo. DAS 5101 - Aula 4 – p.5/43 Introdução - IV • Aumento da Eficiência: • O ponto de operação pode ser mantido próximo ao ponto específico para maximizar a eficiência. • Por exemplo, a variável de processo que configura o ponto de operação pode ser a temperatura em um reator químico. • Um controle da temperatura pode maximizar a reação química no reator. • A minimização dos recursos para a produção de um produto pode aumentar o lucro na produção. DAS 5101 - Aula 4 – p.6/43 Introdução - V • Segurança de operação: • Processos operando sem controle (malha aberta) ou que perdem o controle (instáveis) podem levar a situações catastróficas (explosões, perda completa da produção, etc.), por exemplo, em usinas nucleares e na indústria petro-química. • Em muitos casos, um preciso controle de certas variáveis do processo é necessário para assegurar uma faixa segura de operação. DAS 5101 - Aula 4 – p.7/43 Sistema de Controle - I • Um sistema de controle possui três ações básicas: 1. Medição (medir a variável de processo) 2. Comparar com o valor desejado (set point) 3. Correção ou ajuste (lei de controle) • Por exemplo, em um controle de nível em um tanque, é necessário medir o nível do tanque (LT) e transmiti-lo para o dispositivo de tomada de decisão (LIC). • Esse valor é então comparado com um valor pré-determinado de operação (SP). • O controle então envia um sinal de correção ao elemento de atuação (no caso uma válvula controlada). DAS 5101 - Aula 4 – p.8/43 Sistema de Controle - II • Diagrama de um controle de nível DAS 5101 - Aula 4 – p.9/43 Terminologia - I • Existem vários termos normalmente utilizados na área de controle de processos. Com base no exemplo anterior: 1. Variável do processo (PV) – altura da coluna de líquido (ou vazão de saída). 2. Variável medida – às vezes a variável medida não corresponde a variável do processo (e.g., sensor de pressão para estimar o nível). 3. Ponto de operação ou valor de referência (SP) – valor desejado para o nível de líquido (ou vazão). 4. Variável manipulada (MV) – é a abertura da válvula de saída. DAS 5101 - Aula 4 – p.10/43 Terminologia - II • Sistema Realimentado: Variável Manipulada sinal de erro Variável do Processo SP + Processo Controlador _ Transmissor (sensor) DAS 5101 - Aula 4 – p.11/43 Equipamentos e Tecnologia - I • Para executar as operações básicas de sistemas de controle (medição, comparação e correção) existem diversos equipamentos e estratégias. • Os modernos equipamentos de controle de processos podem executar mais de uma função básica. • A seguir, apresentam-se alguns dos equipamentos utilizados em controle de processos: 1. Elemento primário (sensor): células de carga (strain gauges), RTD, termopares, placas de orifício, tubos de Pitot, tubos de Venturi, emissores e receptores ultra-sônicos, células capacitivas, etc. DAS 5101 - Aula 4 – p.12/43 Equipamentos e Tecnologia - II 2. Transdutores: transforma um sinal mecânico em um sinal elétrico. 3. Conversores: transforma um tipo de sinal (corrente) em outro tipo (tensão). 4. Transmissores: são dispositivos que convertem a leitura de um sensor ou transdutor em um sinal padrão (tensão: 0-5V, 1-5V ou corrente: 4-20mA) e o transmite para um indicador (monitor) ou um controlador. Exemplos: transmissor de pressão, transmissor de vazão, transmissor de nível, etc. DAS 5101 - Aula 4 – p.13/43 Equipamentos e Tecnologia - III • A informação transmitida pelos diversos equipamentos industriais de controle de processos pode ser através de sinais: penumáticos, sinais analógicos (tensão ou corrente) e digitais. • Sinais Pneumáticos: são sinais produzidos pela modificação de pressão de ar em tubo de transmissão devido a modificação na variável medida. A variação de pressão padrão na indústria de processos é 3-15 psi (3psi = Low Range Value e 15 psi = Upper Range Value). DAS 5101 - Aula 4 – p.14/43 Equipamentos e Tecnologia - IV • Sinais Analógicos: o padrão de transmissão na indústria é um sinal de corrente de 4-20 mA. O sinal de 4 mA corresponde ao menor valor possível, enquanto 20 mA corresponde ao maior valor. Outros padrões também encontrados em equipamentos industriais são 1-5V e 0-5V. • Sinais Digitais: os equipamentos mais modernos tem capacidade de transmitir sinais digitais utilizando protocolos de comunicação industriais. Os protocolos mais usados são o HART (highway addressable remote transducer), FiledBus, Profibus, DeviceNet e Modbus. DAS 5101 - Aula 4 – p.15/43 Equipamentos e Tecnologia - V • Indicadores: são dispositivos utilizados para visualização das variáveis medidas. • Registradores: são dispositivos que registram (armazenam) a informação proveniente de um dispositivo de medição ou atuação (transmissor, controlador, atuador). • Controladores: são os dispositivos que implementa a ação de controle através da comparação da variável medida com o seu valor desejado (SP). DAS 5101 - Aula 4 – p.16/43 Equipamentos e Tecnologia - VI • CLP (ou PLC – programmable logic controller): são basicamente computadores dedicados ao controle de processos, contendo várias portas de entrada e saída (analógicas e digitais on/off isoladas). Estes dispositivos podem realizar um conjunto de operações de maneira a implementar digitalmente uma lei de controle para regular a variável medida no valor SP. • SCD (DCS – distributed control systems): são controladores que em adição as funções executadas pelos CLPs permitem a leitura das mais diversas variáveis de processo, armazenamento de dados, sistemas de supervisão e segurança e interface avançada homem-máquina. DAS 5101 - Aula 4 – p.17/43 Equipamentos e Tecnologia - VII • Elementos finais de controle (atuadores): é o dispositivo no sistema de controle que atua no sistema de maneira a modificar a variável manipulada. • No exemplo do controle de nível, o elemento final de controle é a válvula de saída que é utilizada para modificar a vazão de líquido na saída (e, portanto, para modificar o nível de líquido no tanque). • Em um sistema de controle, a velocidade com a qual o elemento final atua é muito importante. Grande parte da pesquisa sobre elementos finais busca melhorar a resposta dinâmica dos elementos finais de controle. DAS 5101 - Aula 4 – p.18/43 Simbologia - I • Simbologia ISA (Instrumentation, Systems, and Automation Society) S5.1 DAS 5101 - Aula 4 – p.19/43 Simbologia - II • Um círculo representa um elemento individual de instrumentação (transmissores, sensores, e detectores). • Um quadrado com um círculo interno representa um instrumento que possui um display de leitura e também realiza alguma função de controle. • Os transmissores modernos são equipados com microprocessadores que podem realizar a operação de controle e enviar o sinal de atuação para o elemento final. • Um hexágono representa uma operação em um computador (como as realizadas pelos controladores). DAS 5101 - Aula 4 – p.20/43 Simbologia - III DAS 5101 - Aula 4 – p.21/43 Simbologia - IV • Um quadrado com um losango interno representa um CLP. • Note que a simbologia também indica a posição aonde se encontra o equipamento: 1. Sala de comando 2. Em uma posição auxiliar (hack de instrumentação) 3. Diretamente no processo (em campo) 4. Inacessível (localizado atrás de algum painel) DAS 5101 - Aula 4 – p.22/43 Simbologia - V • Elementos finais de controle: DAS 5101 - Aula 4 – p.23/43 Simbologia - VI DAS 5101 - Aula 4 – p.24/43 Simbologia - VII • Letras de identificação: 1. A variável sendo medida (T temperatura, F flow, P pressão) 2. A função do dispositivo (T transmissor, C controle) 3. Modificadores adicionais (H alto, L baixo) • Números de identificação: se referem a uma malha de controle em particular. DAS 5101 - Aula 4 – p.25/43 Simbologia - VIII • As letras de identificação tem uma designação baseada na posição: • A primeira letra indica a variável medida. • A segunda letra indica uma modificação (modifier), um visualizador (readout) ou função do dispositivo. • A terceira letra indica ou a função de um dispositivo ou um modificador. • Exemplos: FIC (flow indicating controller), TT (temperature transmitter) e PT (pressure transmitter). DAS 5101 - Aula 4 – p.26/43 Simbologia - IX DAS 5101 - Aula 4 – p.27/43 Ações de Controle • O controlador é o dispositivo que realiza determinadas operações matemáticas sobre o sinal de erro e(t) a fim de produzir um sinal de controle (atuação) u(t) de maneira a levar a variável controlada ao seu valor desejado (SP). • As operações matemáticas são chamadas de ações (elementares) de controle. • As ações de controle podem ser divididas em grupos de acordo com as funções executadas pelo controlador: 1. Ação bang-bang 2. Ação Proporcional 3. Ação Integral 4. Ação Derivativa DAS 5101 - Aula 4 – p.28/43 Controle Bang-Bang - I • O sinal de controle pode assumir dois valores: u(t) = u u se e(t) > 0 se e(t) < 0 DAS 5101 - Aula 4 – p.29/43 Controle Bang-Bang - II • Quando u = 0 (ou u = 0), a ação de controle bang-bang é chamada de ação liga-desliga. • A ação bang-bang apresenta uma indefinição para e(t) = 0. Isto pode levar a comutações espúrias (devido ao ruído) ou a frequencias de comutação muito elevadas. • Para evitar esses problemas, inclui-se uma histerese: • Se u(t) = u, é necessário que e(t) < e− para que u(t) → u. • Se u(t) = u, é necessário que e(t) > e+ para que u(t) → u. DAS 5101 - Aula 4 – p.30/43 Controle Bang-Bang - III • Controle bang-bang com histerese: DAS 5101 - Aula 4 – p.31/43 Ação Proporcional - I • A ação de controle é proporcional à amplitude do valor do sinal de erro: u(t) = Kp e(t) • Quanto maior o ganho proporcional Kp , menor será o erro (entre a variável medida e o SP). • Em termos de resposta transitória, quanto maior o ganho, maior é a velocidade da resposta do sistema em malha fechada. • No entanto, a resposta do sistema tende a ficar oscilatória (podendo chegar a instabilidade). DAS 5101 - Aula 4 – p.32/43 Ação Proporcional - II 20(s + 5) G(s) = (s + 2)(s + 10)(s + 15) Step Response SP 1 Kp = 20 Amplitude 0.8 Kp = 10 0.6 Kp = 5 0.4 0.2 0 Kp = 1 0 0.5 1 1.5 Time (sec) 2 2.5 3 DAS 5101 - Aula 4 – p.33/43 Ação Proporcional - III • Na área de controle de processos, encontram-se duas formas de especificação da ação proporcional: Saída% 1. Ganho proporcional percentual: KP = ∆∆Entrada % 2. Banda proporcional: é o percentual de mudança na entrada que causará uma modificação na saída do controlador P B = ∆Entrada (% Span) 100%∆Saída • Relação entre KP e P B: 100 1 PB = × 100% , KP = KP PB DAS 5101 - Aula 4 – p.34/43 Ação Proporcional - IV • Relação entre KP e P B: DAS 5101 - Aula 4 – p.35/43 Ação Integral - I • A ação de controle integral consiste em aplicar um sinal de controle proporcional à integral do erro: Z t 1 u(t) = e(τ )dτ Ti 0 onde Ti é chamado de tempo integral (reset-time). • A ação integral armazena a energia do erro, e quando o erro é nulo, o sinal de controle é proporcional a energia armazenada. • Uma outra forma de analisar a ação integral é através da duração do erro. • A saída da ação integral, nesse caso, é proporcional a duração do erro. DAS 5101 - Aula 4 – p.36/43 Ação Integral + Proporcional • Reset lento (Ki ↓ ou Ti ↑) • Reset rápido (Ki ↑ ou Ti ↓) DAS 5101 - Aula 4 – p.37/43 Windup - I • Os processos em geral tem atuação de controle limitada (saturação). • Por exemplo, em um sistema com controle de nível, a abertura da válvula de controle tem atuação limitada entre a válvula toda aberta e a válvula toda fechada. • Quando o controlador possui uma ação integral, uma grande diferença transitória entre o valor SP e o valor de P V for grande existirá um acúmulo de erro ao longo do tempo que tende a gerar um grande sobre-sinal na resposta (de maneira a anular – reset – o acumulo de ação integral). • Este efeito é conhecido na literatura como Reset Windup. DAS 5101 - Aula 4 – p.38/43 Windup - II • Para evitar esse fenômeno, utiliza-se um mecanismo de correção na ação integral chamado de Anti Reset Wind-up (ARW). DAS 5101 - Aula 4 – p.39/43 Ação Derivativa - I • A ação derivativa corresponde à aplicação de um sinal de controle proporcional à derivada do erro: de(t) u(t) = Td dt • A ação derivativa é uma medida da tendência do sinal de erro (predição) e visa acelerar a resposta dinâmica do sistema de controle. • Para variações rápida de e(t), u(t) → ∞. Então: U (s) U (s) s = Td s ⇒ = Td E(s) E(s) s+p DAS 5101 - Aula 4 – p.40/43 Ação Derivativa - II • O pólo em p serve para limitar o ganho em alta-frequência visando evitar que o sinal de controle tenha um valor elevado quando existe uma modificação abrupta do sinal de referência (o que poderia levar a saturação do atuador). • Uma outra forma de implementar a ação derivativa é aplica-la diretamente no sinal de saída e nesse caso o próprio processo funcionaria como um filtro de alta frequência. MV SP PI + + − PV Processo − D DAS 5101 - Aula 4 – p.41/43 Ação Derivativa + Proporcional • Somente ação proporcional • Inclusão da ação derivativa pura DAS 5101 - Aula 4 – p.42/43 Aula de Simulação • Aula de simulação utilizando o software Control Station. ⇒ Manual disponível na página. • Processo com dois tanques (acoplamento vertical). • Avaliação malha aberta vs malha fechada (perturbação de carga). • Ação proporcional (erro em regime permanente). • Ação integral (erro nulo em regime permanente). DAS 5101 - Aula 4 – p.43/43