Processos em Engenharia: Sistemas com Reação Química Prof. Daniel Coutinho [email protected] Departamento de Automação e Sistemas – DAS Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC DAS 5101 - Aula 12 – p.1/37 Sumário • Introdução • Reatores Químicos • Classificação: forma e operação • Princípios básicos para modelagem: 1. Conservação de massa e 2. Conservação de energia • Modelagem matemática de reatores • Exemplos DAS 5101 - Aula 12 – p.2/37 Introdução - I • Os processos químicos industriais são planejados para produzirem, de modo econômico, um determinado produto a partir de uma variedade de materiais e através de sucessivas etapas de tratamento DAS 5101 - Aula 12 – p.3/37 Introdução - II • As reações químicas são em geral realizadas em recipientes específicos (reatores químicos) com variáveis físico-químicas controladas (temperatura, pressão, etc). • Reatores químicos são vasos projetados para conter reações químicas de interesse e em escala industrial. • O projeto de um reator deve garantir que a reação ocorra nas condições ideais aumentando a eficiência (alto rendimento e mínimo custo energético) na produção do produto final desejado. • Existem vários conceitos envolvidos na análise de reações químicas que envolvem: termodinâmica, cinética química, transferência de calor e massa, etc. DAS 5101 - Aula 12 – p.4/37 Reatores Químicos - I • Existem vários tipos de reatores químicos e várias formas de classificá-los. • Com relação ao formato: 1. Reatores tubulares (PFR – plug flow reactor) 2. Tanque com agitador (STR – stirred tank reactor) • Com relação a produção: 1. Em batelada ou descontínuo (batch reactor) 2. Descontínuo com alimentação (fed batch reactor) 3. Contínuo com agitação (CSTR – continuous stirred tank reactor) DAS 5101 - Aula 12 – p.5/37 Reatores Químicos - II • Exemplos de reatores: DAS 5101 - Aula 12 – p.6/37 Reatores Químicos - III • Ambos os reatores (tubular e tanque) podem operar em modo descontínuo ou contínuo. • Normalmente, a operação de um reator é feita em regime permanente sendo que uma operação transitória ocorre quando, por exemplo, existe alguma manutenção no equipamento e este deve ser colocado em operação de regime novamente. • Os reatores podem acomodar sólidos (reagentes, catalisadores, materiais inertes), mas em geral os reagentes são tipicamente líquidos e gases. DAS 5101 - Aula 12 – p.7/37 Reatores Químicos - IV • Diversas variáveis afetam o desempenho de um reator químico como: 1. Tempo de residência 2. Volume 3. Temperatura 4. Pressão 5. Concentrações dos componentes químicos 6. Coeficientes de transferência de calor • Os reatores podem ser classificados quanto a natureza das fases dos reagentes: 1. Homogêneos: gases e líquidos 2. Heterogêneos: gás-líquido, gás-sólido, líquido-sólido, gás-líquido-sólido DAS 5101 - Aula 12 – p.8/37 CSTR - I • Em CSTR, um ou mais fluidos reagentes são introduzidos em um reator tanque com um agitador enquanto o efluente do reator é removido. • O agitador agita os reagentes para garantir a mistura adequada. • Dividindo o volume do tanque pela vazão volumétrica média através do tanque resulta no tempo de residência, ou a quantidade média de tempo na qual uma quantidade discreta de reagente passa dentro do tanque. • Utilizando princípios da cinética química, a realização completa da reação esperada em porcentagem pode ser calculada. DAS 5101 - Aula 12 – p.9/37 CSTR - II • O tanque é geralmente envolto por uma serpentina por onde circula um líquido com a função de controlar a temperatura (refrigeração para reações exotérmicas ou aquecimento para reações endotérmicas). • Em operação de regime, o fluxo de entrada deve ser mantido igual ao do fluxo de saída (caso contrário, o tanque esvaziaria ou transbordaria). • A equação dinâmica da reação é determinada através de um balanceamento de massa e energia. • Frequentemente, é economicamente benéfico operar diversos reatores RPA em série. Isto permite, por exemplo, que o primeiro reator opere em uma concentração de reagente mais alta e consequentemente numa mais alta taxa de reação. Nestes casos, os tamanhos dos reatores podem variar de maneira a minimizar o capital de investimento requerido para implementar o processo. DAS 5101 - Aula 12 – p.10/37 CSTR - III • O comportamento de um CSTR é frequentemente aproximado ou modelado por aquele que seria um reator tanque idealmente agitado contínuo, ou reator tanque agitado contínuo ideal. • Todos os cálculos realizados com um CSTR ideal assumem mistura perfeita (se o tempo de residência é 5 a 10 vezes o tempo de mistura, esta aproximação é válida para os propósitos de engenharia). • O modelo do CSTR ideal é frequentemente usado para simplificar cálculos de engenharia e pode ser usado para descrever pequenos reatores de pesquisa. • Na prática, pode-se somente realizar aproximações de reatores em escala industrial através de modelos de CSTR ideais. DAS 5101 - Aula 12 – p.11/37 Reatores Tubulares - I • Em um reator tubular, um ou mais reagentes fluidos são bombeados através de uma tubulação que é o próprio reator. • A reação química ocorre na medida em que os reagentes viajam através do reator. • Neste tipo de reator, a taxa de reação cria um gradiente em relação à distância percorrida: na entrada do reator, a taxa é muito alta, mas como as concentrações dos reagentes diminuem e a concentração do produto aumenta (ou as concentrações dos produtos aumentam) a taxa de reação diminui. • Reagentes podem ser introduzidos no reator em posições no reator que não seja o de entrada (para obter uma maior eficiência, menor tamanho ou menor custo). DAS 5101 - Aula 12 – p.12/37 Reatores Tubulares - II • Para a maioria das reações químicas, é impossível alcançar-se 100% de completação: taxa da reação decai a medida que a reação se completa até um ponto onde o sistema alcança um equilíbrio dinâmico. • Os modelos dinâmicos de reatores são mais complexos, pois o balanceamento de massa e energia varia não somente com relação ao tempo, mas também com relação a posição: DAS 5101 - Aula 12 – p.13/37 Princípios Básicos - I • Balanceamento de massa (princípio da conservação de massa): Fluxo de massa que entra no sistema = − Fluxo de massa que sai do sistema taxa de acumulação de massa no sistema ⇒ Exemplo 1: DAS 5101 - Aula 12 – p.14/37 Exemplo 1 • Vazão de entrada de líquido F0 [m3 /min] com densidade ρ0 [kg/m3 ]. O volume de líquido no tanque é V [m3 ] com densidade ρ. A vazão de líquido que sai do tanque é F : → Note que: taxa de massa que entra = F0 ρ0 e que sai = F ρ → Massa dentro do tanque = ρV → Pelo princípio de conservação de massa: dρV = F0 ρ0 − F ρ dt DAS 5101 - Aula 12 – p.15/37 Princípios Básicos - II • Em geral os componentes químicos podem não ser conservados devido a reação entre esses componentes. • Em outras palavras, um produto pode ser gerado ou consumido em uma reação química. • Na química, costuma-se representar quantidades de substâncias pelo número adimensional mol (1 mol = 6, 02 · 1023 moléculas). • Em uma reação química, o número de moles de um componente individual aumenta (produto) ou diminui (reagente). • Portanto, pode-se fazer a equação de balanceamento de componentes de forma individual em moles/unidade de tempo. DAS 5101 - Aula 12 – p.16/37 Princípios Básicos - III • Equação de continuidade por componente: i = 1, . . . , N ± • Fluxo do n. de moles para o sistema taxa de formação do n. de moles no sistema − i = i Fluxo do n. de moles saindo do sistema i taxa de mudança do n. de moles no sistema i Em termos matemáticos: ni,0 ni dni = F0 −F ± V r̄i dt V V (1) onde ni é o número de moles do componente i no sistema ni,0 é o número de moles do componente i entrando no sistema F0 é o fluxo (volumétrico) do material que entra no sistema F é o fluxo (volumétrico) do material saindo do sistema V é o volume de material reagindo no sistema r̄i é a taxa de formação/consumo do componente i em (no moles/(m3 · s)). DAS 5101 - Aula 12 – p.17/37 Princípios Básicos - IV • Em geral, a equação de continuidade por componente é expressa em termos da concentração do componente Ci = ni /V expressa em no moles/m3 . • Desta forma, a equação (1) pode ser reescrita como dV Ci = F0 Ci,0 − F Ci ± V ri Ci dt (2) onde ri é a taxa de variação do componente i por unidade de tempo (1/seg). • Ao invés de descrever a dinâmica do sistema por N equações de continuidade, pode-se utilizar uma equação de continuidade total (conservação de massa) e N − 1 equações de continuidade por componente: N X i=1 Mi Ci V = ρV ⇒ N X Mi Ci = ρ i=1 onde Mi é a massa molecular do componente i (kg/mol), e ρ é a massa específica da mistura (kg/m3 ) DAS 5101 - Aula 12 – p.18/37 Exemplo 2 - I • Considere um tanque perfeitamente misturado onde ocorre uma reação química entre dois componente A e B: r A −→ B A notação acima indica que o componente A reage irreversivelmente a uma taxa de reação específica r para forma o componente B. DAS 5101 - Aula 12 – p.19/37 Exemplo 2 - II • Portanto, para o componente A: ⇒ F0 CA,0 é o fluxo de A entrando no sistema ⇒ F CA é o fluxo de A saindo do sistema ⇒ −V rCA é a taxa de consumo do componente A (consumo = sinal negativo) • Logo, obtém-se a seguinte equação de continuidade para o componente A: dV CA = F0 CA,0 − F CA − V rCA dt • A equação de continuidade do componente B pode ser similarmente obtida, no entanto as concentrações dos componentes A e B estão ligadas pelo princípio de conservação total de massa: MA CA + MB CB = ρ onde MA e MB são os pesos moleculares dos componentes A e B, respectivamente. DAS 5101 - Aula 12 – p.20/37 Reações Químicas - I • As reações químicas são normalmente acompanhadas da liberação (reação exotérmica) ou absorção de calor (reação endotérmica). • A taxa de calor adicionado (ou retirado) pela reação de um componente A é dada por: QG = λV rCA [kcal/s] (3) onde λ é denominado de calor da reação em kcal/mol de produto A que reagiu • Reação exotérmica: λ > 0 • Reação endotérmica: λ < 0 DAS 5101 - Aula 12 – p.21/37 Reações Químicas - II • Moles não são necessariamente conservados em reações químicas. • Por exemplo, a reação: r 2A + B −→ 3S + P (4) • Na reação acima são necessários 3 moles de reagentes para a formação de 4 moles de produto. • Portanto, no balanceamento de componentes se deve levar em conta a produção ou consumo de moles na reação. • Para tal, utiliza-se o conceito de coeficientes estequiométricos que são as constantes utilizadas no balanceamento de moles em uma reação. DAS 5101 - Aula 12 – p.22/37 Reações Químicas - III • Em reações envolvendo mais de um reagente, define-se a taxa de produção/consumo do i-ésimo componente como νi V r̄k onde νi é o coeficiente estequiométrico do componente i r̄k é a taxa de reação do componente base k da reação em no moles/(m3 · s) • Na equação acima: • νi > 0 indica produção e νi < 0 indica consumo • O componente base da reação pode ser qualquer componente da reação (reagente ou produto). • O coeficiente estequiométrico do componente base é unitário. DAS 5101 - Aula 12 – p.23/37 Reações Químicas - IV • Considerando o exemplo da reação química em (4): • Assume-se que B é o componente base. • A taxa de reação é dada por r̄B = número de moles de B volume · tempo • Coeficientes estequiométricos: νA = −2 , νB = −1 , νS = 3 , νP = 1 • Componente A: taxa de moles de A taxa de moles de A − que entra no sistema que sai do sistema − 2r̄B V = dV CA dt DAS 5101 - Aula 12 – p.24/37 Reações Químicas - V • Componente S: taxa de moles de S taxa de moles de S dV CS − + 3r̄B V = dt que entra no sistema que sai do sistema • Balanceamento molar total: razão de acumutaxa total taxa total de moles que − de moles que + de produção de = lação total de moles no sistema moles no sistema sai do sistema entra no sistema taxa total onde a taxa total de produção de moles = νt rk V com P νt = i νi . • Para o exemplo: νt = νA + νB + νS + νP = −2 − 1 + 3 + 1 = 1 DAS 5101 - Aula 12 – p.25/37 Cinética Química - I • A cinética química é uma ciência que estuda a velocidade das reações químicas de processos químicos e os fatores que as influenciam. • A velocidade de uma reação é caracterizada pela chamada taxa de reação de um componente ri . • A taxa de reação pode ser definida de diversas formas dependendo das fases envolvidas: ⇒ Baseada na unidade de volume do líquido reagente: 1 dni n. de moles formados do componente i r̄i = = V dt volume · tempo DAS 5101 - Aula 12 – p.26/37 Cinética Química - II ⇒ Baseada na unidade de massa do sólido para sistemas fluído-sólido: r̃i = 1 dni n. de moles formados do componente i = m dt massa · tempo • Para vários reagentes líquidos, pode-se definir a taxa de reação explicitando a concentração do componente base como visto no Exemplo 2 (chamada de taxa de reação específica): rk = 1 ⇒ r̄i = rk Ck tempo DAS 5101 - Aula 12 – p.27/37 Cinética Química - III • A taxa de reação depende de diversos fatores: – as concentrações dos reagentes e seu estado particular (estado físico, estado nascente dos gases, estado cristalino ou amorfo dos sólidos); – o fato dos reagentes estarem ou não em solução (neste caso a natureza do solvente irá influir na velocidade da reação); – a temperatura, a eletricidade, a luz, e a pressão; – a presença de catalisadores; – da concentração dos produtos da reação. DAS 5101 - Aula 12 – p.28/37 Cinética Química - IV • As taxas de reação são determinadas experimentalmente. • Existem várias propostas de expressões analíticas para as taxas de reação cujos coeficientes são determinados experimentalmente. • Leis de taxa relativamente simples existem para reações de ordem zero (no qual as taxas de reação são independentes da concentração), reações de primeira ordem, e reações de segunda ordem, e podem ser derivado para outras. • Por exemplo, uma relação constitutiva para a taxa de reação (para reações irreversíveis): a b r̄ = k(T ) · CA · CB ··· DAS 5101 - Aula 12 – p.29/37 Cinética Química - V • Os expoentes a, b, . . . não são necessariamente números inteiros e são determinados experimentalmente. • Para reações reversíveis: a b r̄ = k1 (T )CA CB · · · − k2 (T )CPp CSs · · · • k(T ), k1 (T ) e k2 (T ) são chamados de coeficientes específicos da reação e geralmente são descritos pela equação de Arrhenius: k(T ) = k0 · e E − RT onde k0 é o fator de atividade da reação, E é a energia de ativação (energia/moles), R é a constante universal do gás perfeito, e T a temperatura em Kelvin. DAS 5101 - Aula 12 – p.30/37 Princípios Básicos - V • Conservação de Energia: taxa de variação no tempo de energia cinética, potencial, e interna do sistema fluxo de energia cinética, pontencial, = e interna para dentro do sistema calor adicionado ou retirado do sistema ± por condução, convecção, radiação e reação ± fluxo de energia cinética, pontencial, − e interna para fora do sistema taxa na qual trabalho é realizado no ou pelo sistema • A diferença no balanço de energia em relação a de sistemas termo-hidráulicos é a presença do calor gerado/absorvido pela reação: QG = λ V r Ck . DAS 5101 - Aula 12 – p.31/37 Exemplo 3 - I • Considere um tanque com uma jaqueta (serpentina) de refrigeração onde ocorre uma reação exotérmica: DAS 5101 - Aula 12 – p.32/37 Exemplo 3 - II • A taxa de calor removida da reação pela serpentina por onde circula um líquido refrigerante é −Q (energia/tempo). • Fluxo de energia para o sistema: F0 ρ0 (U0 + K0 + Φ0 ). • Fluxo de energia que sai do sistema: F ρ(U + K + Φ). • Taxa de calor acionado/removido do sistema λV rCA − Q • Taxa de trabalho feito/realizado no sistema: F0 P0 − F P − W . • Onde: U é a energia interna, K é a energia cinética, Φ é a energia potencial, P pressão do sistema, P0 pressão no fluxo de alimentação, e W trabalho realizado pelo sistema. • A noção de energia interna está intimamente ligada ao conceito de entalpia. DAS 5101 - Aula 12 – p.33/37 Exemplo 3 - III • Balanceamento de energia: d(U + K + φ)V ρ = F0 ρ0 (U0 + K0 + Φ0 ) − F ρ(U + K + Φ) dt + QG − Q + (F0 P0 − F P − W ) (5) • Pela figura, nota-se que nenhum trabalho é realizado pelo sistema: W = 0. • Hipóteses simplificadoras: 1. As velocidades de entrada e saída do fluxo de líquido são pequenas: F0 ρ0 K0 ≈ 0 e F ρK ≈ 0. 2. A diferença de altura entre a entrada e saída de líquido é pequena: Φ0 ≈ 0 e Φ ≈ 0. DAS 5101 - Aula 12 – p.34/37 Exemplo 3 - IV • Portanto, a equação (5) pode ser reescrita na forma: d(U V ρ) = F0 ρ0 U0 − F ρU + QG − Q + F0 P0 − F P dt (6) • A entalpia de um fluxo de líquido é dado por: P h=U+ ρ • Logo, a equação dinâmica do CSTR é dada por: d(U V ρ) = F0 ρ0 h0 − F ρh + λV rCA − Q dt DAS 5101 - Aula 12 – p.35/37 Exercício - I • Considere o seguinte CSTR na qual acontece a seguinte reação endotérmica: r A −→ B , r = k0 e E − RT CA DAS 5101 - Aula 12 – p.36/37 Exercício - II • Hipóteses simplificadoras: 1. O controle de nível regula o nível do tanque em um valor constante H. 2. O controle de temperatura regula a temperatura da mistura dentro do reator em valor T . • Obtenha equações dinâmicas que descrevem o comportamento das concentrações dos componentes A e B. DAS 5101 - Aula 12 – p.37/37