VI Conferência Estadual de Saúde Saúde e Qualidade de Vida: Políticas de Estado e Desenvolvimento VI Conferência Estadual de Saúde TEMA Saúde e Qualidade de Vida: Políticas de Estado e Desenvolvimento Busca refletir a conjuntura política, social e econômica do país no período Eixos da Conferência Eixo 1: Desafios para a Efetivação do Direito Humano à Saúde no Século XXI: Estado, Sociedade e Padrões de Desenvolvimento Avaliar a situação da saúde no país, levando em conta os problemas prioritários, as possíveis causa e as formas de enfrentamento, tendo como perspectiva a atuação intersetorial. Eixos da Conferência Eixo 2: Políticas Públicas para a Saúde e Qualidade de Vida: o SUS na Seguridade Social Tem como meta a defesa do SUS como Política de Estado e a afirmação da atenção à saúde como um direito de seguridade social e avaliar o processo de consolidação do SUS, considerando seus princípios constitucionais e as proposição do novo Pacto pela Saúde. Eixos da Conferência Eixo 3: A Participação da Sociedade na Efetivação do Direito Humano à Saúde. Busca refletir a construção de caminhos para a integração das diversas instâncias de controle social e a formulação de propostas para reorganizar e aprimorar os conselhos e conferências Reflexão sobre a conjuntura política, social e econômica do país MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL O processo de exportação do modelo dos EEUU aos países latino-americanos. Reformas impulsionadas pelos organismos financeiros internacionais, em especial o BIRD. As transformações operadas em nível ideológico — os de inexorabilidade das reformas Os conceitos vigentes no contexto das reformas: Eficiência; Eficácia; Custo/benefício; Livre escolha, descentralização; Participação comunitária, etc. A crise do modelo de acumulação capitalista de meados dos anos 70 com recessão mundial, transformações nas formas de produção, domínio do capital financeiro, crescente endividamento interno e externo dos países, crescimento do déficit fiscal, alta inflação, problemas de balança de pagamentos, desemprego — é neste contexto que se inscreve a atual reforma setorial. Os organismos multilaterais de crédito vão exigir: I. A contenção de gastos público; II. O controle da expansão monetária; III. A reforma de estado; O RESULTADO Abertura da economia aos capitais internacionais, reestruturação do estado — planos de ajuste estrutural, privatizações, diminuição de gastos — em especial os sociais. O temário proposto para a 13ª Conferência Nacional de Saúde estimula a retomada da discussão do conceito de saúde e da correspondente ação política realizada 21 anos antes, na histórica 8ª. Conferência Nacional de Saúde. a relação entre saúde e qualidade de vida significa afirmar que a saúde está associada às condições de vida dignas para todos os seres humanos, tanto do ponto de vista individual como coletivo. Qualidade de vida - bem-estar social e, portanto, ao que dá suporte a este bem-estar nas diferentes esferas da vida, como alimentação, habitação, educação, cultura, lazer...e saúde. Há uma imbricação entre todos esses aspectos, pois saúde implica qualidade de vida. Contudo, sabemos que uma sociedade marcada pela desigualdade social em virtude da propriedade, renda e poder – como a sociedade brasileira e latino americana em que vivemos –, inevitavelmente implica em diferenças na qualidade de vida dos grupos sociais, nas cidades e no campo e, em conseqüência, de sua saúde. A consciência da necessidade e possibilidade de superar a desigualdade é a base da motivação da luta política, das exigências de intervenção do estado e da participação popular. A luta pela saúde é, portanto, uma luta política que não se limita aos serviços de saúde uma vez que implica a superação das condições sociais que estabelecem dificuldades de se ter uma vida saudável. O ideário da 8ª Conferência Nacional de Saúde era, como sabemos, o movimento da reforma sanitária italiana. Giovanni Berlinguer, líder intelectual e político daquele movimento, afirmou no texto Os anos difíceis da reforma sanitária que, para se ter saúde, era indispensável mudar a qualidade da vida, o que requer alterações profundas no modo de produzir e de consumir, nas formas de participar da vida social e de governar (Berlinguer, Teixeira e Campos, 1988). Esta perspectiva de transformação social foi sendo progressivamente deixada em segundo plano devido às exigências políticas da instituição de um sistema de saúde como uma rede integrada de serviços capaz de proteger e recuperar a saúde da população. Lembremos que, mal a Constituição de 1988 tinha aprovado o direito à saúde e outros direitos sociais, inicia, em 1990, com o governo de Fernando Collor de Melo, a contra-reforma neoliberal cujos efeitos se fazem sentir até hoje. A luta pela construção do Sistema Único de Saúde praticamente mobilizou todos os esforços dos movimentos sociais, dos profissionais e técnicos envolvidos no movimento da reforma sanitária. DIFICULDADES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO SUS ANOS 90 Nos anos 90 a concretização dos princípios do SUS caracteriza-se por continua tensão devido a diversos obstáculos estruturais e conjunturais. Dificuldades Estruturais a) A marcante desigualdade social no país b) As características do federalismo brasileiro c) A persistência de traços do modelo médico-assistencial privatista. Aspectos Conjunturais A repercussão no Brasil da onda conservadora de reformas no plano político, econômico social norteada pelo fortalecimento das idéias neoliberais, amparadas nas crises dos Estados Nacionais. Conseqüências na Reforma Sanitária Brasileira Tais mudanças tornaram tensa a implementação de políticas sociais universais. Em países como o Brasil, onde não existem sistemas de proteção social consolidados, as repercussões são ainda mais graves. A Reforma Sanitária brasileira é construída na contra corrente das tendências hegemônicas de reformas dos Estados, nos anos 80, e sua implementação nos anos 90 se dá em uma conjuntura bastante adversa. 11ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE DESAFIOS PARA EFETIVAR O SUS Carta de princípios OS(AS) DELEGADOS(AS) PRESENTES RECONHECEM QUE NO BRASIL: AS DESIGUALDADES SOCIAIS, A CONCENTRAÇÃO DE RENDA, A EXISTÊNCIA DE UM VERDADEIRO “ESTADO DE MAL-ESTAR SOCIAL” PRODUZEM AS CONDIÇÕES QUE DETERMINAM A ATUAL SITUAÇÃO DE SAÚDE DA POPULAÇÃO, ONDE O SURGIMENTO DE DOENÇAS CARACTERÍSITICAS DAS CONDIÇÕES DO DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL E DO ESTILO DE VIDA DAS SOCIEDADES MODERNAS SE SOMA À PERSISTÊNCIA DE DOENÇAS TÍPICAS DA POBREZA E DO SUBDESENVOLVIMENTO. QUE AS LUTAS SETORIAIS APRESENTAM RESULTADOS SIGNIFICATIVOS, MESMO QUANDO TRAVADAS NUMA PERSPECTIVA COMPENSATÓRIA; QUE, ELAS DEVEM EXISITR, SOMANDO-SE ÀS LUTAS POR UMA ORDEM SOCIAL E ECONÔMICA MAIS JUSTA. HÁ UM CONSENSO DE QUE O SUS REPRESENTA UM GRANDE AVANÇO NO TOCANTE ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS, SENDO O ÚNICO SETOR COM PROPOSTAS E PRÁTICAS CLARAS DE CONTROLE SOCIAL COM: TRANSPARÊNCIA ADMINISTRATIVA, GESTÃO PARTICIPATIVA DEMOCRATIZAÇÃO, CONSELHOS DE SAÚDE EM PRATICAMENTE, TODOS OS MUNICÍPIOS DO PAÍS. QUE OS AVANÇOS SÃO DIFICULTADOS PORQUE A PROPOSTA DO SUS – UM SISTEMA CONSTRUÍDO COM BASE EM PRINCÍPIOS DE SOLIDARIEDADE SOCIAL - AO ASSEGURAR A UNIVERSALIDADE DO ACESSO E A INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO – NÃO É COMPATÍVEL COM O ATUAL MODELO ECONÔMICO; QUE, NUM CONTEXTO SOCIAL, EM QUE A CULTURA POLÍTICA É MARCADA PELO AUTORITARISMO, PELO CLIENTELISMO, PELA EXCLUSÃO, A LUTA PELA PRESERVAÇÃO DAS CONQUISTAS SOCIAIS É DIFICULTADA PELA FRÁGIL ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE, EM ESPECIAL DOS SETORES EXCLUIDOS. A ÓTICA ECONOMICISTA, PRÓPRIAS DO NEOLIBERALISMO, TRANSFORMA A SAÚDE E A VIDA EM MERCADORIAS E, ASSIM AS DESVINCULA DOS VALORES HUMANOS. AS PESSOAS NÃO SÃO VISTAS, O QUE IMPORTA SÃO AS PLANILHAS DE CUSTO E A ACUMULAÇÃO E CONCENTRAÇÃO DO CAPITAL. A REFORMA DO ESTADO NO BRASIL CONTEMPLA OS SEGUINTES ASPECTOS: A TRANSFERÊNCIA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS POTENCIALMENTE LUCRATIVOS AO SETOR PRIVADO; A CONCENTRAÇÃO DA AÇÃO DIRETA DO ESTADO EM PROGRAMAS DE BAIXO CUSTO E VOLTADOS PARA AS POPULAÇÕES POBRES; A AMPLIAÇÃO DOS RECURSOS DOS PLANOS DE SAÚDE PARA AS CAMADAS MÉDIAS DA POPULAÇÃO, SUBMENTENDO-OS A UMA CERTA REGULAÇÃO PARA REFREAR A VORACIDADE DAS EMPRESAS DO SETOR. UMA MATRIZ TRIBUTÁRIA QUE SOBRECARREGA A CLASSE MÉDIA E A POPULAÇÃO MAIS POBRE E GARANTE ESTÍMULOS AO CAPITAL, EM DETRIMENTO DE UMA ARRECADAÇÃO MAIS JUSTA QUE PERMITIRIA AUMENTAR O VOLUME DE RECURSOS PARA AS ÁREAS SOCIAIS. CONSEQÜÊNCIAS: AUMENTO DA DEMANDA POR AÇÕES E SERVIÇOS DE SAÚDE. AS AÇÕES DE SAÚDE SÃO VISTAS COMO UMA CONCESSÃO AOS POBRES SÃO RESPONSABILIDADE PRIVADA, OS GOVERNOS DEVEM AGIR SOMENTE NAQUILO QUE NÃO INTERESSA AO SETOR PRIVADO (Ex. EVITAR AS EPIDEMIAS). NESSE CONTEXTO A IMPLEMENTAÇÃO DO SUS É UM DESAFIO AINDA MAIOR. EM SÍNTESE: UMA VERSÃO MODERNA DA CARIDADE. Alguns números sobre a desigualdade social no Brasil. Os 10% mais ricos da população são donos de 46% da renda nacional, enquanto que os 50% mais pobres (cerca de 87 milhões de pessoas) ficam com apenas 13,3% do total da renda nacional. Países com renda per capita similar à brasileira têm 10% de pobres em sua população, enquanto nós estamos na casa dos 30%. Segundo dados oficiais, cerca de 55 milhões de brasileiros vivem em situação de pobreza. Destes, cerca de 22 milhões em condição de indigência. Por outro lado, o Brasil possui a segunda maior frota de aviões e helicópteros particulares do mundo, um número que expressa seguramente a “parte eficiente da economia”. Essa “parte eficiente” fez com que o Brasil tivesse uma das maiores taxas médias de crescimento ao longo do século XX e, ao mesmo tempo, criasse uma das sociedades mais desiguais do planeta. O que a “parte eficiente da economia”, essa que anda em aviões e helicópteros particulares, tem a oferecer para os 22 milhões de brasileiros que vivem em situação de indigência (para não falar dos outros 30 milhões que vivem na linha da pobreza)? Tem algo “para o sujeito comer”? Em torno de 70% da produção de alimentos que vão para a mesa dos brasileiros(as) provém da agricultura familiar e camponesa. Retomando a 8ª Conferência Nacional de Saúde Vozes oriundas do movimento da reforma sanitária brasileira interrogam-se sobre a sustentabilidade do Sistema Único de Saúde, mostram-se descrentes com a possibilidade de mudar esta situação e advogam uma revisão no “modelo de gestão” (Campos, 2007). A atual crise ideológica e, em conseqüência política tem, a nosso ver, seus fundamentos no momento da aprovação das teses da 8ª Conferência Nacional de Saúde, quando a proposta da estatização do sistema de saúde foi derrotada em prol da aliança entre o setor estatal (INAMPS, MS) com o setor privado contratado e conveniado. Admitiu-se, portanto, a segmentação do sistema nacional de saúde em público e privado autônomo. Esta segmentação acabou por privilegiar o setor privado em detrimento do público (Coelho, 2007). A atual proposta da gestão privada da rede hospitalar estatal, numa revisão da tese da exclusividade das normas de Direito Público no âmbito do SUS afirmada na 8ª Conferência Nacional de Saúde, ameaça o direito à saúde, na medida em que abre brechas para a criação de “duplas portas de entrada” nos serviços. O próprio enfrentamento desta problemática implica recuperar nossa capacidade de mobilização de forças. Como observa Sonia Fleury, a política de saúde encontra-se atualmente “isolada dos movimentos da sociedade que se articulam em função da questão social”. A sua proposta de construção de uma estratégia comum entre os movimentos sociais, a exemplo da convocação de uma Conferência Nacional de Seguridade Social, parece-nos bastante oportuna na medida em que os direitos sociais assegurados na Constituição estão novamente em questão: quer devido a não serem mais considerados serviços públicos essenciais, quer pela revisão da abrangência e especificidade. Isso vale especialmente no que diz respeito ao regime previdenciário atual. O aumento da idade de aposentadoria é o alvo da atenção imediata. Mas o salário maternidade, a pensão aos viúvo(a)s, os auxílios de trabalho, doença e reclusão igualmente estão incluídos nos itens passíveis de discussão e proposta de revisão pelo Fórum Nacional de Previdência criado pelo presidente da república, Luis Inácio Lula da Silva. Leva-nos inicialmente a necessidade de re-conceituar a participação popular. Lembremos que, nos termos propostos pela 8ª Conferência Nacional de Saúde, a participação foi definida como controle do processo de formulação, gestão e avaliação das políticas sociais e econômicas pela população. Contudo, a participação de um controle do processo, passou a ser definida, a partir da 9ª. Conferência Nacional de Saúde, como controle social sobre políticas (Guizardi e outros, 2004). A ênfase do controle social a ser exercido pelos conselhos de saúde deslocou-se, portanto, da formulação para a fiscalização das políticas. Sabemos também que os conselhos de saúde não foram capazes de assumir esta função porque a regulação na saúde, tanto do setor público, como do privado, se dá à margem das instâncias de controle social do SUS: é uma atribuição das comissões intergestoras bipartites (secretarias municipais e estadual de saúde) e tripartites (secretarias municipais e estaduais e Ministério da Saúde). A Agência Nacional de Saúde regula o setor privado autônomo na saúde, também conhecido como Saúde Suplementar. As entidades profissionais têm um poder auto-regulatório das respectivas práticas. Insustentabilidade dos padrões atuais de desenvolvimento Insegurança alimentar e nutricional Limitações no âmbito da vigilância à saúde (epidemiológica, ambiental, sanitária, controle de agravos à saúde) e da alta complexidade (transplantes, tratamento de câncer, de problemas renais, etc.). “baixa” e “média complexidade”, procedimentos, medicamentos, exames complementares, consultas especializadas e internações hospitalares não têm sido satisfatoriamente resolvidos quer em termos de acesso, quer em termos da qualidade da atenção e da resolubilidade das ações (Coelho, 2007). A implementação do Programa Saúde da Família a partir de meados dos anos 1990 ampliou a cobertura dos serviços mas os dilemas do SUS apontados continuam sem solução. As persistentes iniqüidades: diversidade sexual,mulher, cor, raça, cigana, pessoas com doenças especiais. Superação e desafio A superação destas limitações requer outra concepção de participação popular. O desafio consiste em retomar o ponto de partida da 8ª. Conferência Nacional de Saúde e exercitar a escuta daqueles que não têm participação direta nos espaços formais da gestão participativa no SUS. Apresentação organizada a partir das contribuições: Saúde Pública em Tempos de Neoliberalismo – Clair Castilho Contribuição da ANEPS para as Conferências de Saúde: Retomar a Mobilização Popular (Versão para discussão) – Eduardo Estotz Proposta de Roteiro para o Debate e Apresentação de Propostas para a 13º Conferência Nacional de Saúde