FORMAÇÃO DE TUTORES Vol. 21 EDUCAÇÃO INCLUSIVA MARIA JOAQUINA NOGUEIRA DA SILVA (ORG.) MARIA DO PERPÉTUO SOCORRO CARDOSO DA SILVA (ORG.) ANNA CLÁUDIA BOADANA DA PAIXÃO ANNA KAREN M. S. SÉRGIO CONCEIÇÃO DE MARIA CONTENTE PEREIRA EDMILSON RAIMUNDO LIMA DE SOUZA ELANE CONCEIÇÃO SILVA LOPES HELOÍSA HELENA DE MENEZES VEIGA BRITO JOSÉ ANCHIETA DE OLIVEIRA BENTES KÁTIA DO SOCORRO CARVALHO LIMA KMILLA FERREIRA BATISTA LÚCIA CARLA DOS S. MATNI MARIA IZABEL CONTENTE PEREIRA DOS SANTOS ONEIDE DE JESUS NASCIMENTO REJANE DE ASSIS OLIVEIRA RITA DE CÁSSIA C. SILVA ZOÊNIO ALVES DA SILVA 25 anos Presidente da República Federativa do Brasil Luis Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Tarso Genro Secretário Executivo Fernando Haddad Secretário de Educação Básica Francisco das Chagas Fernandes Diretora de Política da Educação Infantil e Ensino Fundamental Jeanete Beauchamp Coordenação Geral de Política de Formação de Professores (REDE) Lydia Bechara Universidade Federal do Pará Reitor Alex Bolonha Fiúza de Mello Vice-Reitora Marlene Rodrigues Medeiros de Freitas Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação João Guerreiro Pró-Reitor de Extensão Regina Feio Coordenação do Núcleo Pedagógico de Apoio ao Desenvolvimento Científico Terezinha Valim Oliver Gonçalves Coordenação Geral do Programa EDUCIMAT Terezinha Valim Oliver Gonçalves UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO CENTRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E CIENTÍFICA EDUCIMAT: Formação, Tecnologia e Prestação de Serviços em Educação em Ciências e Matemáticas Cursos de Especialização a Distância em Educação Matemática e Científica, em Educação Infantil, Educação em Ciências, em Educação Matemática ênfase na formação de tutores para a formação continuada de professores do Ensino Fundamental Volume 21 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Maria Joaquina Nogueira da Silva (Org.) Maria do Perpétuo Socorro Cardoso da Silva (Org.) Anna Cláudia Boadana da Paixão Anna Karen M. S. Sérgio Conceição de Maria Contente Pereira Edmilson Raimundo Lima de Souza Elane Conceição Silva Lopes Heloísa Helena de Menezes Veiga Brito José Anchieta de Oliveira Bentes Kátia do Socorro Carvalho Lima Kmilla Ferreira Batista Lúcia Carla dos S. Matni Maria Izabel Contente Pereira dos Santos Oneide de Jesus Nascimento Rejane de Assis Oliveira Rita de Cássia C. Silva Zoênio Alves da Silva Educimat 31 Editora da UFP A Belém – Pará – 2006 Conselho Editorial Adilson Oliveira do Espírito Santo UFPA Adriano Sales dos Santos Silva UFPA Ana Cristina Cristo Vizeu Lima - UFPA Ariadne Peres do Espírito Santo UFPA Arthur Gonçalves Machado Júnior PPGECM Eugenio Pacelli Leal Bittencout - UFPA Flávio Leonel Abreu da Silveira - UFPA Gleiciane de Souza Alves - PPGECM Isabel Cristina Rodrigues Lucena - UFPA Jane Felipe Beltrão - UFPA José Fernando Pina Assis UFPA Mara Rubia Ribeiro Diniz Silveira - PPGECM Marcio Couto Henrique UFPA Maria Isaura de Albuquerque Chave UFPA Maria Lúcia Harada - UFPA Natanael Freitas Cabral - UNAMA Neivaldo Oliveira Silva - UEPA Renato Borges Guerra UFPA Sheila Costa Vilhena Pinheiro PPGECM Tadeu Oliver Gonçalves - UFPA Tânia Regina dos Santos UEPA Terezinha Valim Oliver Gonçalves - UFPA Valéria Risuenho Marques - SEMEC Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca Setorial do NPADC, UFPA Educação inclusiva / Maria Joaquina Nogueira da Silva, E24 Maria do Perpétuo Socorro Cardoso da Silva (Orgs.)... et al Belém: Ed. da UFPA, 2006. (Obras completas EDUCIMAT; v. 21) ISBN 85-247-0292-3 1. EDUCAÇÃO ESPECIAL. 2. ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS. I. Silva, Maria Joaquina Nogueira da. II. Silva, Maria do Perpétuo Socorro Cardoso da. III. Universidade Federal do Pará. Núcleo Pedagógico de Apoio ao Desenvolvimento Científico. IV. Série. CDD 19. ed. 371.9 SUMÁRIO O Programa EDUCIMAT ORGANIZADORAS AUTORES APRESENTAÇÃO MAPAS DAS UNIDADES UNIDADE I.......................................................................................................................................................17 AS DIFERENÇAS DE APRENDIZAGEM NO CONTEXTO SOCIAL E ESCOLAR ............................17 OBJETIVOS...................................................................................................................................................................................................17 CONTEÚDO ..................................................................................................................................................................................................17 APRESENTAÇÃO.........................................................................................................................................................................................18 1.1 POLÍTICA EDUCACIONAL INSTITUCIONAL...................................................................................................................................18 1.2 POLÍTICA EDUCACIONAL DE INTEGRAÇÃO .................................................................................................................................20 1.3 POLÍTICA EDUCACIONAL INCLUSIVA ............................................................................................................................................21 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................................................................27 UNIDADE II .....................................................................................................................................................28 FLEXIBILIDADE CURRICULAR................................................................................................................28 OBJETIVOS...................................................................................................................................................................................................28 CONTEÚDO ..................................................................................................................................................................................................28 APRESENTAÇÃO.........................................................................................................................................................................................28 2.1 FLEXIBILIDADE CURRICULAR .........................................................................................................................................................28 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................................................................................................36 UNIDADE III....................................................................................................................................................37 O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: FÍSICO/MOTORA .....................37 OBJETIVOS...................................................................................................................................................................................................37 CONTEÚDOS................................................................................................................................................................................................37 APRESENTAÇÃO.........................................................................................................................................................................................38 3.1 CONCEITO DE NECESSIDADE FÍSICO/MOTORA ...........................................................................................................................38 3.2 COMPORTAMENTOS OBSERVADOS NO DESENVOLVIMENTO DO ALUNO COM DIFICULDADE FÍSICO/MOTORA.......39 3.3 O ALUNO COM PARALISIA CEREBRAL ...........................................................................................................................................39 3.3.1 CLASSIFICAÇÃO POR TIPO CLÍNICO ..................................................................................................40 3.3.2 PROBLEMAS DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO ............................................................................41 3.4 ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA PARA O ACESSO E PERMANÊNCIA COM SUCESSO DO ALUNO COM PARALISIA CEREBRAL ...................................................................................................................................................................................................43 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................................................................45 UNIDADE IV....................................................................................................................................................46 O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: MENTAL .....................................46 OBJETIVOS...................................................................................................................................................................................................46 CONTEÚDO ..................................................................................................................................................................................................46 APRESENTAÇÃO.........................................................................................................................................................................................47 4.1 O ALUNO COM NECESSIDADE ESPECIAL MENTAL .....................................................................................................................47 4.2 IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO COM NECESSIDADE ESPECIAL MENTAL ..................................................................................47 4.3 FATORES CAUSAIS DA NECESSIDADE ESPECIAL MENTAL .......................................................................................................49 4.4 CARACTERÍSTICAS DE APRENDIZAGEM DO ALUNO COM NECESSIDADE ESPECIAL MENTAL ......................................50 4.5 ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA .............................................................................................................................................................50 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................................................................54 UNIDADE V .....................................................................................................................................................55 O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: SURDEZ ......................................55 OBJETIVOS...................................................................................................................................................................................................55 CONTEÚDO ..................................................................................................................................................................................................55 APRESENTAÇÃO.........................................................................................................................................................................................56 5.1- CONCEITO, CAUSAS, GRAUS E CLASSIFICAÇÃO DAS PERDAS AUDITIVAS. .......................................................................56 5.2- COMO IDENTIFICAR O ALUNO SURDO EM SALA DE AULA? ...................................................................................................58 APARELHO DE AMPLIFICAÇÃO SONORA INDIVIDUAL (A.A.S.I.) / IMPLANTE COCLEAR ........................................................59 5.3 - CONCEPÇÕES SOBRE A PESSOA SURDA ......................................................................................................................................60 5.4 - SURDEZ: CONSTRUTO CLINICOPATOLÓGICO E SOCIOANTROPOLÓ-GICO ........................................................................61 5.5 - CONCEPÇÕES EDUCACIONAIS DE SURDEZ E DA PESSOA SURDA: ORALISMO, COMUNICAÇÃO TOTAL E BILINGÜISMO..............................................................................................................................................................................................63 5.6 - AGORA VOCÊ VAI FICAR FASCINADO COM A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS LIBRAS................................................65 5.7 - PROFESSOR, VAMOS FALAR UM POUCO DO PROFISSIONAL INTÉRPRETE DE LIBRAS ...................................................68 5.8 - A EDUCAÇÃO DA PESSOA SURDA NO PARÁ ...............................................................................................................................68 5.9 - A INCLUSÃO DO ALUNO SURDO NAS ESCOLAS REGULARES................................................................................................71 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................................................................74 UNIDADE VI....................................................................................................................................................77 O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: CONDUTAS TÍPICAS ...............77 OBJETIVOS...................................................................................................................................................................................................77 CONTEÚDO ..................................................................................................................................................................................................77 APRESENTAÇÃO.........................................................................................................................................................................................78 6.1 CONDUTAS TÍPICAS.............................................................................................................................................................................78 6.2 ALUNOS COM AUTISMO.....................................................................................................................................................................85 6.3 ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA .............................................................................................................................................................91 REFERÊNCIAS ..........................................................................................................................................................................................102 UNIDADE VII ................................................................................................................................................103 O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: BAIXA VISÃO E CEGUEIRA103 OBJETIVOS.................................................................................................................................................................................................103 CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................103 APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................................................104 7. 1 - CONCEITO DE CEGUEIRA E BAIXA VISÃO ...............................................................................................................................104 7. 2 - CLASSIFICAÇÃO, CAUSAS E PREVENÇÃO ...............................................................................................................................105 7. 3 - PERDA VISUAL E SEGURANÇA PSICOLÓGICA ........................................................................................................................107 7.4 - A EDUCAÇÃO E A REABILITAÇÃO DA PESSOA COM PERDA VISUAL .................................................................................108 7.5 - PROCESSO DE REABILITAÇÃO .....................................................................................................................................................111 7.6 - EDUCAÇÃO PROFISSIONAL ..........................................................................................................................................................112 REFERÊNCIAS ..........................................................................................................................................................................................114 UNIDADE VIII ...............................................................................................................................................115 O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO............................................................................................................115 OBJETIVOS.................................................................................................................................................................................................115 CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................115 APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................................................................................116 8.1 RECONCEITUANDO ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO..................................................................................................116 8.2 CARACTERIZAÇÃO DOS TIPOS DE ALTAS HABILIDADES .......................................................................................................117 8.3 IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO COM ALTAS HABILIDADES.........................................................................................................118 8.4 METODOLOGIA DE ATENDIMENTO NO PROGRAMA DE ALTAS HABILIDADES NO PARÁ................................................119 8.5 SUGESTÕES AOS EDUCADORES.....................................................................................................................................................120 REFERÊNCIAS ..........................................................................................................................................................................................121 UNIDADE IX..................................................................................................................................................122 O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: MÚLTIPLAS NECESSIDADES ... ..........................................................................................................................................................................122 OBJETIVOS.................................................................................................................................................................................................122 CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................122 APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................................................123 9.1 DEFINIÇÃO DE NECESSIDADES EDUCACIONAIS MÚLTIPLAS ...............................................................................................123 9.2 - TIPOS DE MÚLTIPLAS NECESSIDADES ESPECIAIS..................................................................................................................124 9.3 - CAUSAS DAS NECESSIDADES ESPECIAIS MÚLTIPLAS ..........................................................................................................125 9.3.1.PRÉ-NATAIS............................................................................................................................................125 9.3.2.PERI-NATAIS OU NATAIS......................................................................................................................125 9.3.3.PÓS-NATAIS............................................................................................................................................125 9.4 AVALIAÇÃO ........................................................................................................................................................................................127 9.5 - A FAMÍLIA E O DESENVOLVIMENTO DA PESSOA COM NECESSIDADES MÚLTIPLAS.....................................................129 9.6 - ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA .........................................................................................................................................................129 REFERÊNCIAS ..........................................................................................................................................................................................131 UNIDADE X ...................................................................................................................................................132 O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: SURDOCEGUEIRA.................132 OBJETIVOS.................................................................................................................................................................................................132 CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................132 APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................................................133 10.1 POR QUE ESTUDAR A SURDOCEGUEIRA?..................................................................................................................................133 10.2 DEFINIÇÃO E CAUSAS DA SURDOCEGUEIRA ...........................................................................................................................134 10.3 CLASSIFICAÇÃO DA SURDOCEGUEIRA .....................................................................................................................................135 10.4 CARACTERÍSTICAS DAS PESSOAS SURDOCEGAS...................................................................................................................136 10.5 FORMAS DE COMUNICAÇÃO ........................................................................................................................................................137 10. 6 COMO AJUDAR UM SURDOCEGO/ INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA ......................................................................................144 REFERÊNCIAS ..........................................................................................................................................................................................147 CONCLUSÃO ................................................................................................................................................148 O PROGRAMA EDUCIMAT: Formação, Tecnologias e Prestação de Serviços em Educação em Ciências e Matemáticas O Programa EDUCIMAT é coordenado e desenvolvido pelo NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLIMENTO CIENTÍFICO NPADC , da Universidade Federal do Pará, que integra a Rede Nacional de Formação Continuada de Professores de Educação Básica (MEC/SEB), na qualidade de Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Matemática e Científica. O Programa visa à formação continuada de professores para a Educação Matemática e Científica, no âmbito da Educação Infantil e Ensino Fundamental. Como estratégia de trabalho, prevê a formação/fortalecimento de grupos de professores tutores dos Centros Pedagógicos de Apoio ao Desenvolvimento Científico CPADC e municipais, por meio da constituição dos Grupos Pedagógicos de Apoio ao Desenvolvimento Científico GPADCs em nível de especialização lato sensu. Nessa perspectiva, colocam-se como princípios de formação, dentre outros: a reflexão sobre a própria prática, a formação da cidadania e a pesquisa no ensino, adotando-se como transversalidade a educação inclusiva, a educação ambiental e a educação indígena. O Programa está proposto para quatro anos, iniciando-se no Estado do Pará, com possibilidades de expansão para outros estados, especialmente das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Parcerias poderão ser estabelecidas para otimizar o potencial da região no que diz respeito à institucionalização da formação continuada de professores no âmbito da Educação Infantil, Séries Iniciais, Ciências e Matemáticas. O Programa EDUCIMAT situa-se no Núcleo Pedagógico de Apoio ao Desenvolvimento Científico NPADC/UFPA , no âmbito do Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemáticas Mestrado. O NPADC é unidade acadêmica dedicada à pesquisa, à pós-graduação e a educação continuada de professores de Ciências e Matemáticas, desde a educação infantil e séries iniciais até a pós-graduação lato e stricto sensu. Conta com a parceria da Secretaria Executiva de Estado de Educação, por meio do Convênio 024/98 e de Instituições de Ensino Superior integrantes do Protocolo das Universidades da Amazônia: Universidade da Amazônia UNAMA; Centro de Estudos Superiores do Estado do Pará CESUPA e a Universidade do Estado do Pará UEPA. Objetivos do Programa EDUCIMAT — — — Contribuir para a melhoria do ensino e da aprendizagem de Ciências e de Matemática no Estado do Pará e em outras regiões do país; Formar professores especialistas na área de Ensino de Ciências e Matemáticas, para constituir Grupos Pedagógicos Municipais na área de Educação Matemática e Científica; Formar e certificar professores de Ciências e Matemáticas da Educação Infantil e Fundamental nos Estados e Municípios, por meio da Educação a Distância; Cursos de Especialização a Distância para Formação de Tutores e Cursos de Formação Continuada de Professores — Educação Matemática e Científica ênfase em Educação Infantil; — Educação Matemática e Científica Iniciais; — Educação em Ciências ênfase em Ensino Fundamental; — Educação Matemática ênfase em Ensino Fundamental. ênfase em Séries Metas do Programa EDUCIMAT — — Fortalecer os municípios, instituindo os GPADC como organismos municipais capazes de assegurar a tutoria da formação continuada de professores em cada município; Buscar a parceria dos governos municipais, estaduais e de outras instituições, garantindo a produção e reprodução de materiais didáticos específicos. Linhas de Ação do EDUCIMAT 1. 2. 3. 4. Desenvolvimento de programas e cursos de formação continuada, em rede, e de professores da Educação Infantil e Fundamental, de natureza semi-presencial e a distância nos municípios, incluindo elaboração de materiais didáticos, tais como módulos, livros, softwares e vídeos; Realização de programa de formação de tutores, em nível de pós-graduação lato sensu, para o desenvolvimento de programas e cursos de formação continuada de professores e lideranças acadêmicas locais; Desenvolvimento de tecnologias educacionais (software, kits, cd-rom) para o ensino infantil e fundamental, no âmbito dos municípios e unidades educacionais públicas; Associação a outras instituições de ensino superior e outras organizações para a oferta de programas de formação continuada, formação de grupos de estudos e pesquisas e implantação de redes e novas tecnologias educacionais. Estratégias para o desenvolvimento do Programa — — — Formação de Pólos para o desenvolvimento do Programa EDUCIMAT, por meio de momentos presenciais e a distância; Realização de Seminários e Encontros com a participação da equipe coordenadora do programa, professores, prefeituras e associações para firmar compromissos e acordos com o Programa; Participação de estudantes, tutores e professores na produção de materiais didáticos e/ou produção intelectual; — Tutorias presenciais e a distância para formação de professores nas áreas de educação infantil, séries iniciais, ciências e matemática. — Desenvolvimento de cursos presenciais, semi-presenciais e a distância. — Formar, em 4 anos, 1920 (um mil, novecentos e vinte) tutores; — Formar, com tutoria local, cerca de 20.500 (vinte mil e quinhentos) professores para educação infantil, séries iniciais, ciências e matemática; — Produzir kits de material instrucional para o ensino de Ciências e de Matemática; — Produzir 88 (oitenta e oito) produtos, nas quatro linhas de ação, em quatro anos; — Reproduzir, por meio de acordos com prefeituras e outras instituições, produtos de ensino e de formação, para uso da rede pública de ensino. Comitê Geral do Programa EDUCIMAT Profª. Dra. Terezinha Valim Oliver Gonçalves UFPA Profª. Ms. Andrela Garibaldi Loureiro Parente UFPA Prof. Ms. Adriano Sales dos S. Silva UFPA/Castanhal Profª. Ms. Larissa Sato Dias CESUPA Coordenação de Áreas: Ciências Maria Lúcia Harada UFPA Educação Indígena Jane Felipe Beltrão UFPA Matemática Tadeu Oliver Gonçalves UFPA Educação Infantil Tânia Regina Lobato dos Santos UEPA Educação Inclusiva Maria Joaquina Nogueira da Silva CESUPA Séries Iniciais Neivaldo Oliveira Silva SEDUC Educação Ambiental Ariadne Peres do Espírito Santo UFPA Secretária Lourdes Maria Trindade Gomes ORGANIZADORAS Maria Joaquina Nogueira da Silva Especialista em Motricidade Humana (UEPA). Docente Especializada em Educação de Surdos (SEDUC-PA) e Pedagoga, com Habilitação em Administração Escolar (UEPA). Diretora da Unidade Educacional Especializada Prof. Astério de Campos. Coordenadora do Curso de Psicopedagogia e Educação Especial sob Enfoque da Inclusão (CESUPA). Docente (UEPA/FACI/CESUPA). Maria do Perpétuo Socorro Cardoso da Silva Doutora em Semiótica e Lingüística Geral (USP). Mestre em Letras Lingüística (UFPA). Especialista em Língua Portuguesa (UECE). Graduada em Letras (UFPA). Coordenadora de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, da Pesquisa, da Pós-Graduação e da Extensão do CCSE-UEPA. Docente e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação Mestrado (CCSE-UEPA) e da Graduação (UEPA/UNAMA/FACI). AUTORES Anna Cláudia Boadana da Paixão Mestranda do PPGECMM/NPADCUFPA. Especialista em Educação de Ensino em Ciências (NPADC-UFPA) e em Informática Educativa (UNAMA). Graduada em Biologia (UFPA). Colaboradora do Grupo de Pesquisa e Estudo em Educação Ambiental (GPEEA). Docente de Educação Especial (SEDUC) e do CESUPA e UFPA. Funcionária do Núcleo de Tecnologias Aplicadas à Educação (SEDUC-NTAE). Anna Karen M. S. Sérgio Especialista em Gestão Escolar, Psicologia Escolar e Educação Especial. Psicóloga da Equipe de Condutas Típicas da Coordenação de Educação Especial (COEES-PA). Conceição de Maria Contente Pereira Mestre em Educação: Ensino Superior e Gestão Universitária (UNAMA). Especialista em Deficiência Auditiva (PUC-RJ). Psicóloga da Unidade Educacional Especializada José Álvares de Azevedo (SEDUC). Edmilson Raimundo Lima de Souza Especialista em Gestão Educacional (UNAMA). Psicólogo. Coordenador da Divisão de Projetos da Coordenação de Educação Especial e Técnico da Equipe de Autismo (COEES-PA). Elane Conceição Silva Lopes Especialista em Educação Especial (UFPA) e Psicomotricidade (FACI). Pedagoga. Docente da Unidade Educacional Especializada José Álvares de Azevedo (SEDUC Pa). Heloísa Helena de Menezes Veiga Brito Mestre em Teoria e Pesquisa do Comportamento (UFPA). Psicóloga. Coordenadora da Coordenação de Educação Especial (COEES-PA). Técnica da equipe de autismo (SEDUC Pa). José Anchieta de Oliveira Bentes Mestre em Letras - Lingüística (UFPA). Docente da Unidade Educacional Especializada Prof. Astério de Campos (SEDUC Pa) e Centro de atendimento às pessoas Surdas. Coordenador do MOVA (SEMEC-PA). Kátia do Socorro Carvalho Lima Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Mestrado do Centro de Ciências Sociais e Educação da Universidade do Estado do Pará. Especialista em Psicopedagogia (CESUPA). Pedagoga. Coordenadora da Unidade Educacional Especializada Prof. Astério de Campos (SEDUC Pa). Kmilla Ferreira Batista Especialista em Linguagem (UNAMA) e em Educação Especial sob o Enfoque da Inclusão (CESUPA). Fonoaudióloga da Unidade Educacional Especializada Prof. Astério de Campos e do Instituto Felipe Smaldone. Lúcia Carla dos S. Matni Especialista em Psicopedagogia, Gestão Escolar e Pesquisa (UFPA). Graduada em Ciências Sociais (UFPA). Psicopedagoga da equipe de Educação Especial SEDUC Pa. Maria Izabel Contente Pereira dos Santos Especialista em Educação Infantil (UEPA). Psicóloga da Unidade Educacional Especializada Prof. Astério de Campos (SEDUC Pa) e do Centro de Saúde Municipal. Oneide de Jesus Nascimento Especialista em Gestão Escolar (UNAMA). Psicóloga da Equipe de Atlas Habilidades de Coordenação de Educação Especial (COEES).técnica da Educação Inclusiva SEDUC-Pa. Rejane de Assis Oliveira Mestre em Educação: docência universitária (IPLAC-CUBA/UEPA). Especialista em Informática Educativa. Pedagoga, com habilitação em Educação em Educação Especial (UEPA). Docente da UEPA e da Unidade Educacional Especializada Prof. Astério de Campos (SEDUC Pa). Rita de Cássia C. Silva Especialista em Gestão Escolar, Problemas Regionais e Educação Especial. Pedagoga da Equipe de Autismo da Coordenação de Educação Especial COEES. SEDUC/PA Zoênio Alves da Silva Especialista em Gestão Escolar (UEPA). Psicólogo da Unidade Educacional Especializada José Álvares de Azevedo (SEDUC). Técnico da Coordenação de Educação Especial COEES. SEDUC/PA. APRESENTAÇÃO Partir para essa travessia mesmo com a consciência da incerteza e do acaso é a fonte que nos ilumina a matar a sede do que não tem nome e a saciar a fome da utopia que escreve o amanhã. (FACHIN, Luiz Edson, 2003) Prezado Professor. A efetiva regulamentação da inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais no sistema regular de ensino instaurou o susto, o medo, o sentimento de frustração e impotência dos professores e das escolas. Ao mesmo tempo trouxe o mérito, para o centro do debate, de uma questão mais ampla, a da diversidade, que, sem dúvida, é um dos maiores desafios da educação na atualidade. Historicamente marginalizadas, ao lado de crianças, idosos e mulheres, em uma sociedade que se diz moderna e globalizada, as pessoas com necessidades educacionais especiais continuam segregadas e são exemplos seculares de nossas desigualdades e do desprezo à vida. A cidadania plena, em sociedades como a nossa, só é possível se e quando ela é possível se a todos for garantido o direito de acesso aos bens materiais e culturais. Entre esses, a educação. E a escola é o espaço singular, para, com competência e qualidade, formar todos os alunos. No entanto, é preciso ir além da reivindicação do acesso à escola, há que se garantir uma educação acessível e de qualidade para que nela os alunos permaneçam com sucesso. Posto que, aqueles que não conseguem se adaptar a currículos e métodos vigentes no ensino dito oficial, logo são transformados em números diagnosticadores do suposto 'fracasso' escolar, que só servem para 'engordar' as estatísticas dos índices de reprovação, repetência e expulsão dos alunos das escolas. Dentre aqueles, a quem foi negada a expressão individual, alguns continuam na escola, mas irão se arrastar durante anos nela, nada aprendendo de significante, perdem a auto-estima, e quando, finalmente, a deixam, não passam de jovens desanimados e desapontados, quase ou sem nenhuma perspectiva, sujeitam-se a empregos sub-humanos e mal remunerados. Dessa perspectiva, estamos convictos que só coletivamente, em troca contínua de experiências com os outros, se aprende e se vivencia de forma plena. É nesse intercâmbio que se refinam, se reajustam e se redimensionam práticas de significação, ampliando constantemente nossa compreensão dos outros, de nós mesmos e do mundo e cimentam a cidadania, a sensibilidade e o imaginário. Portanto, este Módulo de Educação Inclusiva propõe discutir estratégias de detecção e ações pedagógicas, prioritariamente, para alunos com necessidades educacionais especiais, no contexto das escolas regulares. Espaços, estes, eminentemente sociais, nos quais se desenvolvem aspectos políticos e culturais. Nesse cenário, você, professor, não pode ser um ator isolado e sim componente de uma rede de apoio necessária ao processo de inclusão. Assim, este material faz parte dessa rede de apoio, ao oportunizar reflexão e ação, sob o pilar de novas matrizes pedagógicas que possibilitam flexibilizar o currículo no qual, da intervenção educativa, centrada nas diferenças, passemos à mediação educativa, radicada na capacidade de aprendizagem, a partir das características individuais dos alunos (HEGARTY, 1987). A questão curricular, ao instituir novos paradigmas, remete a questionamentos sobre QUE escola e QUE currículo queremos oportunizar a todos. Para fins didáticos, este Material está organizado conforme segue. O SUMÁRIO é o esquema-guia deste MÓDULO, cuja função é identificar cada Unidade e Conteúdo, pela numeração da página, sem perda de tempo, indo direto ao assunto desejado. A APRESENTAÇÃO é uma espécie de SUMÁRIO detalhado, que permite compreender e avaliar a relevância dos conteúdos propostos para a formação do profissional da educação. O MAPA DAS UNIDADES, em um total de 10 (dez) contém os Objetivos desejáveis ao perfil do profissional que se almeja formar, os Conteúdos e as Referências. O DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO aborda temas, apresentados em forma de textos, cujo objetivo, por um lado, é potencializar os educadores com saberes técnico e científico, que subsidiem reflexões e ações significativas sobre Educação Inclusiva, ou seja, são saberes do professor e, ao mesmo tempo, possibilitar o desenvolvimento de práticas que medeiem a apropriação do conhecimento pelos alunos portadores de necessidades educativas especiais, ou seja, são saberes para o professor. Os temas, aos quais nos referimos anteriormente, constituem, sobretudo, um conjunto de saberes que permite ao professor romper algumas rupturas equivocadas e, assim, superar o atraso acadêmico a que muitos foram submetidos. AS REFERÊNCIAS são as fontes consultadas para a elaboração deste MATERIAL, incluem livros, pesquisas, fotos, figuras, dados estatísticos, sites, entre outros. Elas também têm a função de identificar, para recomendar e orientar, o maior número possível de leituras pertinentes e possíveis, para que, mais facilmente, os professores acessem, dominem, ampliem, construam e reconstruam, a partir delas, outros saberes. AS ATIVIDADES visam avaliar a aprendizagem dos conteúdos, portanto, devem ser exercitadas. Por fim, Professor, o objetivo deste Módulo é socializar, com você, muitos questionamentos, que também são nossos, nesse processo escolar. (As organizadoras) MAPA DAS UNIDADES UNIDADE I AS DIFERENÇAS DE APRENDIZAGEM NO CONTEXTO SOCIAL E ESCOLAR OBJETIVOS CONTEÚDOS · Refletir sobre os diferentes momentos históricos de exclusão social pelos quais passaram e passam as pessoas com necessidades educacionais especiais; · Compreender o processo de exclusão vivenciado pelas pessoas que apresentam necessidades educacionais especiais; · Política educacional institucional · Política educacional de integração · Política educacional inclusiva · Identificar as diretrizes educacionais que, ao longo da história, permearam e permeiam as políticas públicas de inserção escolar das pessoas com necessidades educacionais especiais. UNIDADE II FLEXIBILIDADE CURRICULAR OBJETIVOS CONTEÚDOS · Refletir sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas no contexto escolar analisando a qualidade do ensino para todos os alunos; · Flexibilidade curricular · Construir o conceito de flexibilidade curricular como eixo metodológico para atender à diversidade de aprendizagem dos alunos. UNIDADE III O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: FÍSICO/MOTORA OBJETIVOS · Compreender o aluno com necessidade especial físico/motora como pessoa de possibilidades; · Identificar as dificuldades e potencialidades do aluno com necessidade especial físico/motora; · Conhecer alternativas educacionais que favoreçam o acesso e a permanência com sucesso do aluno com necessidade especial físico/motora no contexto escolar. CONTEÚDOS · Conceito de necessidade físico/motora · Comportamentos observados no desenvolvimento do aluno com dificuldade físico/motora · O aluno com paralisia cerebral · Orientação pedagógica para o acesso e permanência com sucesso do aluno com paralisia cerebral UNIDADE IV O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: MENTAL OBJETIVOS CONTEÚDOS · Conhecer os parâmetros básicos de identificação do aluno com necessidade especial mental; · Identificar as características de aprendizagem do aluno com necessidade especial mental; · Conhecer os principais fatores causais da necessidade especial mental; · Subsidiar pedagogicamente os professores · O aluno com necessidade especial mental · Identificação do aluno com necessidade especial mental · Fatores causais da necessidade especial mental · Características de aprendizagem do aluno com necessidade especial mental · Orientação pedagógica UNIDADE V O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: SURDEZ OBJETIVOS CONTEÚDOS · Discutir a educação do surdo, sob os pressupostos da educação inclusiva; · Conceito, causas, graus e classificação das perdas auditivas · Refletir sobre as especificidades lingüísticas do estudante surdo; · Como identificar o aluno surdo em sala de aula? · · Orientar os pós-graduandos acerca das estratégias de intervenção pedagógica para alunos surdos. Aparelho de amplificação sonora individual AASI e Implante coclear · Concepções sobre a pessoa surda · Surdez: construtos clinicopatológico e socioantropológico · Concepções educacionais de surdez e da pessoa surda: Oralismo, Comunicação Total e Bilingüismo · Agora você vai ficar fascinado com a Língua Brasileira de Sinais LIBRAS · Professor, vamos falar um pouco do profissional intérprete de LIBRAS · A Educação da pessoa surda no Pará · A inclusão do aluno surdo nas escolas regulares. UNIDADE VI O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: CONDUTAS TÍPICAS OBJETIVOS · Compreender a abrangência do conceito de condutas típicas; · Identificar as condutas típicas mais comumente CONTEÚDOS · Condutas Típicas · Autismo · Orientação Pedagógica encontradas nas escolas; · Observar as dificuldades acentuadas de aprendizagem provenientes da síndrome do autismo; · Refletir a respeito das estratégias educacionais aplicadas às condutas típicas. UNIDADE VII O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: BAIXA VISÃO E CEGUEIRA OBJETIVOS CONTEÚDOS · Estabelecer uma relação entre a baixa visão e a cegueira; · Identificar as patologias, mais freqüentes, que geram a perda total ou parcial da visão; · Proporcionar conhecimentos a respeito dos recursos didático-pedagógicos necessário para o processo ensino aprendizagem e desenvolvimento global do aluno com necessidade especial visual; · Conceito de cegueira e baixa visão · Classificação, causas e prevenção · Perda visual e segurança psicológica · A educação e a reabilitação da pessoa com perda visual · Processo de reabilitação · Educação profissional · Fomentar a implementação de planos e projetos de intervenção educacional para estudantes com necessidades visuais em processo de inclusão escolar. UNIDADE VIII O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO OBJETIVOS CONTEÚDOS · Oportunizar conhecimentos teórico-práticos que favoreçam aos professores uma melhor compreensão sobre o aluno com altas habilidades e seus processos de aprendizagem no contexto educacional; · Identificar propostas e alternativas pedagógicas de atendimento ao alunado com necessidades educacionais especiais na área de Altas Habilidades; · Reconceituando altas habilidades/superdotação · Caracterização dos tipos de altas habilidades · Identificação do aluno com altas habilidades · Metodologia de atendimento no programa de altas habilidades no Pará · Sugestões aos educadores · Identificar parâmetros básicos para a identificação de alunos com Altas Habilidades/Superdotação no contexto escolar. UNIDADE IX O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: MÚLTIPLAS NECESSIDADES OBJETIVOS · Compreender a definição de necessidades especiais múltiplas; · Identificar os tipos de necessidades especiais múltiplas; CONTEÚDOS Definição de necessidades educacionais múltiplas · Tipos de múltiplas necessidades especiais · Pré-natais · · Reforçar a importância da família no processo de desenvolvimento da pessoa com múltiplas necessidades; · Oferecer aos professores subsídios teóricos para suas práticas pedagógicas. Peri-natais ou natais Pós-natais Avaliação A família e o desenvolvimento da pessoa com necessidades múltiplas · Orientação pedagógica · Referências · · · · UNIDADE X O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: SURDOCEGUEIRA OBJETIVOS CONTEÚDOS · Por que estudar a surdocegueira · Discutir as bases teórico-metodológicas da educação do aluno surdocego; · Definição e causas da surdocegueira · Identificar as causas e as principais características das pessoas Surdocegas; · Classificação da surdocegueira · Analisar o método de Van Dijk e as formas de · Formas de comunicação · Características das pessoas surdocegas · Como ajudar um surdocego / Intervenção pedagógica EDUCAÇÃO INCLUSIVA UNIDADE I AS DIFERENÇAS DE APRENDIZAGEM NO CONTEXTO SOCIAL E ESCOLAR OBJETIVOS · · · Refletir sobre os diferentes momentos históricos de exclusão social pelos quais passaram e passam as pessoas com necessidades educacionais especiais; Compreender o processo de exclusão vivenciado pelas pessoas que apresentam necessidades educacionais especiais; Identificar as diretrizes educacionais que ao longo da história permearam e permeiam as políticas públicas de inserção escolar das pessoas com necessidades educacionais especiais. CONTEÚDO · · · Política educacional institucional Política educacional de integração Política educacional inclusiva UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 17 EDUCAÇÃO INCLUSIVA APRESENTAÇÃO Professor(a), nesta unidade, o(a) convidamos para voltar no tempo. Nesse percurso, compreenderá a trajetória histórica de exclusão que as pessoas com necessidades educacionais especiais vivenciam ao longo do tempo. Você irá identificar, também, as transformações da sociedade na forma de perceber esse segmento social e as tentativas, principalmente no âmbito escolar, de dar conta das suas necessidades educacionais, que inicia pela garantia de acesso a este espaço, bem como a permanência nele, com sucesso, portanto, uma escola que reconheça e respeite a diversidade de todos os educandos. Nesse contexto histórico, professor(a), esperamos que você reconheça, pela reflexão, a importância da sua atuação profissional, como mediador dessa diversidade, para, de fato, haver educação inclusiva, que acolhe a todos os alunos, independente de suas condições sociais, cognitivas, sensoriais, físicas, culturais, étnica ou religiosa. No processo de desenvolvimento social e escolar da pessoa com necessidades educacionais especiais, várias políticas públicas ensejaram diretrizes, para o trabalho com essas pessoas, permeadas pela concepção de deficiência e pela ideologia social de cada momento histórico em que se definem. Vamos examinar professor(a), no campo da educação, as principais diretrizes educacionais que nortearam e/ou norteiam as práticas pedagógicas para essas pessoas. PASSEMOS A EXAMINAR CADA UMA DESSAS DIRETRIZES EDUCACIONAIS 1.1 POLÍTICA EDUCACIONAL INSTITUCIONAL Ainda pela Idade Média, algumas experiências desenvolvidas por padres da igreja católica, como Pedro Ponce de Leon, na Itália, Juan Pablo Bonet,na Espanha, Charles Hichel de L'Epe e Valentin Hauy, na França, além de alguns médicos e educadores, como Philipe Pinel, Esquirol, Jean Marc Itard, Edward Seguin, Pestalozzi e outros, começaram a voltar suas atenções para a pessoa denominada 'deficiente', desenvolvendo trabalhos e estudos com pessoas surdas, cegas e com atrasos e lentidão cognitiva, retardo mental grave e etc. O resultado das experiências e pesquisas desenvolvidas por esses estudiosos, delineadas pelas possibilidades de respostas da pessoa com 'deficiência' e por uma filosofia mais humanística, fazem com que a sociedade, nos fins do século XVIII e princípio do século XIX, comece a compreender a necessidade de apoiar esse segmento da sociedade. 18 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Nessa prática assistencialista, imperavam alguns critérios, como: Proteger a pessoa 'normal' da 'não normal', porque esta última constituía um perigo para a sociedade, como, também, acontecia o inverso, isto é, era preciso proteger o 'deficiente' da sociedade, a qual só poderia lhe trazer danos e prejuízos. Precisamente, em 12 de setembro de 1854, pelo Decreto Imperial, D. Pedro II fundou, na cidade do Rio de Janeiro, o Imperial Instituto de Meninos Cegos. Assim, no início do século XIX, no Brasil, esta tendência teve início. A fundação desse Instituto deveu-se em grande parte a um cego brasileiro, José Álvares de Azevedo, que estudara no Instituto dos jovens cegos de Paris, fundado por Valentin Haüy, no século XVIII. Por ter obtido sucesso na educação de Adélia Sigaud, filha do médico da família imperial, José Álvares de Azevedo despertou a atenção e o interesse do Ministro do Império, Conselheiro Couto Ferraz, sob a influência do mesmo, D. Pedro II criou este Instituto. Posteriormente, em 1857, foi criado o Imperial Instituto dos Surdos Mudos. Atualmente, em pleno funcionamento, são denominados, respectivamente, Instituto Benjamim Constant (IBC), em homenagem ao ilustre e atuante ex-professor de matemática e ex-Diretor, Benjamim Constant Botelho de Magalhães, e Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). O atendimento educacional às pessoas com 'deficiências', nesse momento, caracteriza-se pela influência do modelo médico, portanto: · · o conceito de deficiência se fundamenta, sobretudo, em causas orgânicas, produzidas no início do desenvolvimento e dificilmente modificadas posteriormente; a concepção de 'deficiência' impulsionou estudos para a organização de categorias de 'deficiências', classificando-as em: deficiente físico, deficiente auditivo, deficiente visual e deficiente mental; UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 19 EDUCAÇÃO INCLUSIVA · · havia necessidade de detecção precisa de deficiência (o diagnóstico); a atenção educacional especial deveria ser distinta e separada da organização educacional regular. No Brasil, de modo geral, da década de cinqüenta à sessenta, do século XX, essas instituições se estendem de Sul a Norte do país, para o atendimento de pessoas com 'deficiência' mental, representadas, sobretudo pela Associação Pestalozzi e pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais-APAE. Atividade 1. Professor(a), consulte, em sua cidade, ou cidade vizinha, uma escola de educação especial. Entreviste a direção ou a Coordenação pedagógica da escola e tente identificar, nos discursos apresentados, se a escola ainda trabalha sob a influência do modelo médico. Nas linhas que seguem, escreva um breve comentário sobre o que você identificou. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 1.2 POLÍTICA EDUCACIONAL DE INTEGRAÇÃO Decorrente do fracasso escolar (repetência, evasão, etc...) resultante da pedagogia tradicional, há uma infinidade de comportamentos que a escola, por não saber explicar, expulsa o aluno que apresenta baixos índices de aprendizagem, encaminhando-o para a educação especial. Eram alunos que, segundo a avaliação do sistema escolar, demonstravam 'dificuldades', 'problemas' de aprendizagem diversos, mas que, por suas características sociais, afetivas e cognitivas, lhes era permitido permanecer na escola, desde que, inicialmente, fossem preparados em um ambiente restritivo e, posteriormente, quando apresentassem comportamentos 'adequados', poderiam ser integrados no ambiente escolar mais amplo. Tal política encontra suas bases, também, na política institucional, a fim de garantir que as crianças 'deficientes' “não interferissem no ensino ou não absorvessem as energias do professor a tal ponto que impedissem de instruir adequadamente o número de alunos geralmente matriculados em uma classe”. Nessa política, marcada pelo uso indiscriminado da psicometria, os testes de inteligência desempenharam um papel relevante, no sentido de identificar e selecionar apenas as crianças com 20 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA potencial acadêmico. Atualmente, esse elitismo é defendido, com freqüência, para justificar a instituição educacional que rejeita os alunos a ela encaminhados. Algum avanço da Política de Integração em relação à Política Institucional. Observe os critérios que fundamentavam esta política. · · · · A deficiência não é um fenômeno autônomo, somente próprio da pessoa. A deficiência está relacionada também a fatores ambientais; Adaptação do aluno deficiente à escola e à sociedade; Integração centrada no aluno e nos esforços da educação especial. Atividade 2. Consulte a Secretaria Municipal de Educação do seu município, ou município vizinho, sobre a existência de classe especial, o número de alunos que a freqüentam, a necessidade educacional específica deles, a idade e há quanto tempo (meses, anos) cada um deles já está na classe especial, e se há algum aluno, entre estes, prestes a ser inserido em classe comum, e, se for, que tipo de apoio receberá e de quem. Após essa pesquisa e com base na Política de integração escolar, escreva, nas linhas que seguem, um comentário sobre vantagens e desvantagens da proposta de inserção escolar do aluno com necessidades educacionais especiais em salas regulares. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 1.3 POLÍTICA EDUCACIONAL INCLUSIVA Inspirada no lema do Ano Internacional das Pessoas Deficientes Participação Plena e Igualdade tão propagado em 1981, um pequeno segmento da sociedade, em muitos países, começou a tomar algum conhecimento da necessidade de mudar o enfoque até então dirigido à pessoa com 'deficiência'. Iniciou, nessa década, na Europa, um movimento em prol da pessoa 'deficiente'; se começava a perceber que não é o 'deficiente' que deveria se ajustar à sociedade, esta, sim, deveria se modificar para que este, como todo cidadão, pudesse nela conviver. No Brasil, esse movimento tem início mediante um processo evolutivo de conceitos, expressos em documentos internacionais e nacionais como: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 21 EDUCAÇÃO INCLUSIVA · Declaração Universal do Direito do Homem, de 1984, reconhece que os direitos são comuns a todos os homens, sem qualquer discriminação, enfatizando o direito à educação; · Constituição da República Federativa do Brasil/1988, no seu Artigo 208, inciso II expressa “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”; · Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, regulamenta os direitos expressos na Constituição Federal, pressupondo uma revisão geral nas políticas públicas sociais e nas posturas individuais relacionadas à infância e à juventude. Cria o Conselho tutelar, órgão encarregado de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, independente de suas condições sociais, físicas, psicológicas, étnicas, etc. Entretanto, esse movimento, de fato, só começou a se delinear como um redirecionamento das tendências pedagógicas voltadas ao aluno com necessidades especiais a partir de 1990, quando surgem documentos resultantes de encontros mundiais, que se realizaram no âmbito da educação, nos quais o Brasil, também, participou, na busca de outros paradigmas educacionais. Entre esses documentos, relevantes e decisivos para a efetivação de uma adequada educação a essas pessoas, se destacam: · Declaração Mundial de Educação para Todos, de 1990, prevendo a universalização das oportunidades educacionais iguais para todos e a melhoria da qualidade dos serviços em educação, buscando garantir, também, a igualdade de acesso à educação aos 'deficientes', como parte integrante do sistema educacional; · Política Nacional de Educação Especial, de 1994, do MEC, ao estabelecer que a educação deva ser, por princípio, democrática, e o educando, acima de tudo, digno de respeito e do direito à educação de melhor qualidade. De acordo com esses princípios, a educação especial deve iniciar no momento que se identificam os primeiros sinais de atrasos ou alterações no desenvolvimento global da criança e continuar ao longo da vida dela, valorizando suas potencialidades e propiciando ações e práticas que permitam a ela desenvolvê-las ao máximo; · Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais Declaração de Salamanca, de 1994, reafirma o compromisso com a educação para todos; reconhece a necessidade e a urgência de ser o ensino ministrado no sistema comum de educação a todas as crianças, jovens e adultos, com uma das formas mais eficazes de combater atividades e atitudes discriminatórias; bem como afirma a criação de comunidades solidárias como alicerce de uma sociedade inclusiva, que garanta educação para todos; · Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira Lei 9394/96, ao definir a educação 22 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA especial como modalidade da educação escolar, deve ser ofertada, preferencialmente, na rede regular de ensino, para educandos com necessidades educacionais especiais, propiciando, assim, espaço para a criação de serviços de apoio especializado na escola regular para atender às peculiaridades desses alunos. Esses documentos não só instigam a reflexão sobre conceitos, até então vigentes, sobre 'deficiência', como imprimem uma concepção de necessidades educacionais especiais que desloca o foco da integração centrada do aluno, de forma individual e unilateral, para o da inclusão. Mesmo assim, só recentemente, sobretudo a partir da Declaração de Educação para Todos e da de Salamanca, é que foram lançadas as sementes de políticas de educação inclusiva no Brasil, posto que, o cenário educacional deste país, ainda é fortemente permeado mais pelas correntes da integração, e, em menor grau, a institucionalização do aluno com necessidades educacionais especiais, frente a uma ampla discussão sobre o redirecionamento da prática docente com esses alunos, e algumas práticas iniciais de escola inclusiva em âmbito nacional. Os critérios delineadores da concepção inclusiva na educação assentam-se nos seguintes conceitos: · A deficiência é estabelecida ou agravada em função da resposta educacional; · Qualquer aluno pode apresentar ao longo de sua escolaridade um problema de aprendizagem; · A escola é, por excelência, um espaço da diversidade de pessoas, portanto também da educacional e não da homogeneidade; · A escola deve dar respostas adequadas às necessidades educacionais de seus alunos; · A educação especial, modalidade de educação escolar, transversal a todos os níveis de ensino, é um conjunto de ações especializadas para apoiar o aluno com necessidades educacionais especiais e não um sistema paralelo ao sistema regular; · A parceria entre as escolas e a educação especial garante o acesso e a permanência bem sucedida desses alunos no processo escolar. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 23 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Professor(a), perceba a mudança de concepções no cenário educacional que passam a nortear as práticas escolares nas quais o aluno com necessidades educacionais especiais é o principal sujeito. A política inclusiva, diferente da integração, cujo foco é a preparação do aluno para se adaptar ao espaço social, fomenta a modificação da sociedade como pré-requisito para a pessoa com necessidade educacional especial desenvolver e exercer a cidadania, tornando-se sujeito no processo de construção social. A Declaração de Educação Para Todos e a de Salamanca propõem uma ressignificação do conceito de educação especial e, ao mesmo tempo, o redimensionamento da função e das ações da escola para que se efetive a inclusão. O processo de integração, compreendido pela sociedade e pelo sistema educacional como a preparação do aluno “portador de deficiência” para se adaptar à escola e ao meio social, é revertido para uma ampliação desse conceito, entendendo que a sociedade é heterogênea, e a escola é um espaço por excelência de manifestação dos comportamentos sociais e considera, segundo a Declaração de Salamanca, “as escolas de ensino regular os meios mais capazes para combater as atividades discriminatórios, criando comunidades solidárias”. No Estado do Pará, as discussões sobre educação de pessoas com necessidades educacionais especiais, sob o enfoque da inclusão, iniciaram a partir de 1995, com a participação da Diretora de Educação Especial (DEES/SEDUC), no encontro sobre Necessidades Especiais em Sala de Aula, em Portugal, promovido pela UNESCO. A partir dessa data, nos anos consecutivos, essa discussão se ampliou para todo o Estado do Pará, na tentativa de sensibilizar as Secretarias Municipais de Educação e as escolas da necessidade de iniciar um processo de construção de um modelo de educação inclusiva, coerente com a realidade social, cultural e econômica paraense. Não se pode afirmar, ainda, que a proposta pedagógica de educação inclusiva no Estado é a corrente principal. Porém, podem-se pontuar algumas escolas, na capital, e em alguns municípios do Estado, que já acenam para a concepção de educação inclusiva e de escola (regular e especial), de aluno, de professor e de sociedade, isso, no entanto, requer das unidades de ensino rever seus Projetos Políticos Pedagógicos, em que conceitos, atitudes e práticas escolares cotidianas, até então legitimadas como verdades, porém estigmatizadoras para a pessoa com necessidades educacionais especiais, começam a ser questionados. O ideário educacional proclamado nos preceitos teóricos que versam sobre a educação para todos no Brasil, em geral, e no Pará, em particular, ainda não é uma realidade, mas, sobretudo, um desafio. 24 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Atividade 3. Experimente a seguinte situação Convide um amigo, preencham o quadro que segue, e em seguida analisem, juntos, as respostas dadas às questões proposta. Características que dizem respeito somente a você Características que são comuns a vocês dois Características que dizem respeito somente ao seu amigo UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 25 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Então, deu para perceber que, ao mesmo tempo, você e seu amigo possuem traços comuns, e também diferentes. Essas características, específicas a cada um, indicam, revelam e conferem que vocês são diferentes. Atividade 4. Elabore uma lista registrando as diferenças humanas que você consegue observar, porque estão presentes no contexto da diversidade social e escolar e fazem parte do seu contexto social. Ex: Negros Brancos Emigrantes Artistas de cinema Índios Homens Mulheres Alfabetizados Não alfabetizados Crianças Na verdade, você selecionou as diferenças culturalmente consideradas como parte da diversidade social. Sempre ficam outras diferenças do lado de fora. No entanto, se, nesta breve reflexão, você identificou pessoas com necessidades educacionais especiais, isso indica que elas poderão fazer parte do seu todo social. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 26 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA REFERÊNCIAS COOL, César (org.). Desenvolvimento Psicológico e Educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. 379 p. BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Conjunto de Materiais Para a Capacitação de Professores: necessidades em sala de aula. Brasília: MEC/SEESP, 1998. BELISÁRIO, José Ferreira. Inclusão: uma revolução na saúde. Rio de Janeiro: WVA, 1999. MITTLER, Peter. Educação Inclusiva: contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003. PADILHA, Anna Maria Lunardi. Práticas Pedagógicas na Educação Especial. Campinas/SP: Autores Associados Ltda, 2001. WERNECK, Claudia. Sociedade Inclusiva: quem cabe no seu todo? Rio de Janeiro: WVA, 1999. 240 p. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 27 EDUCAÇÃO INCLUSIVA UNIDADE II FLEXIBILIDADE CURRICULAR OBJETIVOS · Refletir sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas no contexto escolar analisando a qualidade do ensino para todos os alunos; · Construir o conceito de flexibilidade curricular como eixo metodológico para atender à diversidade de aprendizagem dos alunos CONTEÚDO .· Flexibilidade curricular APRESENTAÇÃO Prezado professor, nesta unidade convidamos-lhe para refletirmos sobre a prática pedagógica desenvolvida em nível de sala de aula. A partir de sua vivência profissional e do estudo do assunto proposto desejamos que você perceba a necessidade de redimensionar a sua prática pedagógica para atender a diversidade de aprendizagem presente no contexto escolar. 28 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 2.1 FLEXIBILIDADE CURRICULAR Professor(a), vamos iniciar nossa conversa, fazendo uma reflexão sobre as práticas pedagógicas percebidas no contexto escolar. Atualmente, no Brasil, vivenciamos a presença marcante de práticas pedagógicas pautadas na pedagogia tradicional. São comuns, ainda, práticas metodológicas do tipo escrever 10 vezes uma mesma frase, ligar, cobrir, decorar, responder o óbvio a perguntas óbvias, respostas descontextualizadas, etc. Além de uma metodologia inadequada, o trabalho pedagógico é desenvolvido de forma homogênea, considerando que todos os alunos são homogêneos, e portanto, supostamente possuem uma aprendizagem homogênea. Na virada do século para o terceiro milênio, vem se discutindo sobre a diversidade humana, como característica inerente da sociedade e dos grupos sociais da qual fazem parte. Começa haver um reconhecimento de que a sociedade é heterogênea, composta por uma diversidade complexa e da qual não temos compreensão da sua dimensão. Nós nunca daremos conta da diversidade humana, pois ela surge e se recria à medida das nossas necessidades. Por outro lado, a escola é um recorte da sociedade, e reflete os diversos comportamentos percebidos no contexto social maior. O contexto escolar é o espaço onde se vive a diversidade cultural, religiosa, étnica, sócioeconômica, entre outras; e também da diversidade de aprendizagem. Na diversidade de aprendizagem encontramos diferentes estilos cognitivos, ritmos de aprendizagem, ritmos de desenvolvimento, dificuldades, potencialidades, tempos, necessidades educacionais, interesses, experiências, etc. Podemos concluir que a sala de aula é o contexto da mais viva expressão da diversidade humana. Professor (a), pela sua prática pedagógica vivenciada no contexto da sua sala de aula, você pode perceber que essa realidade também é presente no seu espaço profissional. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 29 EDUCAÇÃO INCLUSIVA ATENTE PARA A QUESTÃO: Existem necessidades educacionais comuns e necessidades educacionais especiais. No espaço da sala de aula há um “continum” de necessidades educacionais determinadas pelas diferenças dos alunos. Vão desde as necessidades educacionais mais comuns até as necessidades educacionais mais específicas. E desse modo, requerem da escola respostas educacionais concretas e adequadas às suas necessidades educacionais, que podem ir desde estratégias que os professores de alguma forma, menos elaboradas podem estar atendendo-as, até metodologias mais específicas e mais elaboradas para atender as solicitações de ensinoaprendizagem dos alunos. De modo geral, as necessidades educacionais mais comuns não exigem muito do conhecimento teórico e técnico dos professores. Na nossa formação inicial, e no dia a dia de nossas vivencias e experiências conseguimos acomodar essas situações de aprendizagem. O que nos causa desequilíbrio, que nos coloca em posição de conflito é o diferente. Deste modo, as diferenças humanas (as diferenças de aprendizagem, e outras diferenças) constituem um desafio à prática pedagógica dos professores. Professor(a), a diversidade educacional não é problema. Ela enriquece nossa prática educacional, pois somos desafiados pelo novo, pelo diferente, e para isso necessitamos acolher os alunos que apresentam necessidades educacionais especiais ou mais específicas. Nessa perspectiva, o currículo escolar deve ser planejado de modo a contemplar as necessidades de aprendizagem de todos os alunos. Deve se introduzir e desenvolver medidas capazes de garantir a flexibilidade curricular que alcancem os aspectos macro da escola (Projeto Político Pedagógico), em nível micro (no coletivo da sala de aula) e planificação de programas de desenvolvimento individual. A flexibilidade curricular é o eixo metodológico capaz de atender as necessidades educacionais de todos os alunos em diferentes situações de aprendizagem. 30 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA A flexibilidade curricular envolve os aspectos do planejamento ensinoaprendizagem, tais como: OBJETIVO CONTEÚDO METODOLOGIA AVALIAÇÃO Atividade 1. Professor(a), após esta discussão, analise a sua turma e avalie identificando quantos alunos estão na média das aprendizagens, os que se destacam acima da média das aprendizagens, os que estão abaixo da média das aprendizagens, e os alunos com baixíssimo ou nenhum rendimento escolar. Lembre-se que a avaliação formativa poderá lhe dar informações importantes sobre as características de aprendizagem dos seus alunos. RENDIMENTO DE APRENDIZAGEM DOS ALUNOS Média das aprendizagens Baixíssimo ou Acima da média das Abaixo da média aprendizagens das aprendizagens nenhum rendimento escolar Total de alunos Então professor, a sua turma é homogênea ou heterogênea? Escreva a sua resposta aqui: _________________________________________ Este é apenas um critério pelo qual você pode perceber que a sua turma é marcada pelas diferenças. Outros critérios devem ser considerados como: Interesses, preferências cognitivas, dificuldades, etc. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 31 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Professor(a), vamos analisar cada um dos elementos do planejamento de ensino, considerando a flexibilidade curricular como eixo metodológico para atender as diferenças de aprendizagem. Objetivos Devem-se definir os objetivos gerais, porém, introduzindo, também, objetivos individualizados para grupos de alunos e para cada aluno, nas diversas áreas do desenvolvimento e/ou áreas de estudos. Não podemos deixar de pensar que em algumas situações, também pode haver a necessidade de introduzir e/ou eliminar determinados objetivos, para atender necessidades educacionais específicas de aprendizagem. Vamos ver um exemplo. Em uma sala de aula de 3ª série há alguns alunos com dificuldades na leitura e escrita e 2 alunos com deficiência mental iniciando o processo de alfabetização. Vamos elaborar um plano de aula para essa turma passo a passo. Disciplina: Estudos Sociais Turma 3ª série Assunto: Meios de comunicação Objetivo · Identificar os diversos meios de comunicação utilizados na sociedade moderna. · Identificar nomeando oralmente os principais meios de comunicação · Desenhar os meios de comunicação existentes em sua cidade. · Escrever uma carta coletiva a um amigo, com registro feito pela professora, para ser colocada em envelope devidamente preenchido e posta no correio. · Escrever individualmente uma carta a um amigo e colocar em envelope devidamente preenchido. Professor, você pode perceber que há objetivos com diferentes níveis de desafios para os alunos realizarem, e que os alunos com dificuldades na leitura e escrita também terão possibilidades de aprendizagem. Atividade 2 - Professor(a), imagine pelo menos 2 situações diferenciadas de aprendizagem em uma sala de aula e elabore objetivos de ensino para atender as necessidades de aprendizagens dos alunos, considerando a flexibilidade curricular. Registre primeiro as características de aprendizagem dos alunos e o nível de ensino em que se encontram. 32 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA ATENÇÃO! Lembre, nível de ensino não é o mesmo que nível de aprendizagem. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Objetivos ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Conteúdos Ao propor os conteúdos das diversas áreas do desenvolvimento e/ou áreas de estudos deve ser levado em conta os diferentes níveis de aprendizagem em que os alunos se encontram, freqüentando o mesmo contexto de sala de aula. Para tanto, é fundamental diversificar o nível de complexidade dos conteúdos curriculares, assim como, também, introduzir ou eliminar determinados assuntos para atender as especificidades de aprendizagem de dados alunos. No que diz respeito à introdução e eliminação de objetivos e conteúdos para atender as necessidades educacionais de determinados alunos, deve se ter o conhecimento das características de aprendizagem dos alunos que requerem essas medidas de flexibilidade curricular, a fim de não se incorrer em um reducionismo da proposta de ensino. A tomada de decisão, nesse sentido, deve partir de um estudo e análise criteriosos, envolvendo não só a equipe da escola, mas também, especialistas da área da educação especial. Vamos dar continuidade ao nosso exemplo. Conteúdo Principais meios de comunicação: Televisão Rádio Correio ( cartas, telegrama, ...) Telefone Jornal, Internete, etc. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 33 EDUCAÇÃO INCLUSIVA ATENÇÃO! O conteúdo deve ser abrangente e posteriormente ganhar complexidade e aprofundamento de acordo com as necessidades e potencialidades dos alunos. Atividade 3 - Dê continuidade ao exemplo que você iniciou. Liste os conteúdos relacionados aos objetivos que você elaborou, sempre considerando a flexibilidade curricular. Conteúdo ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Metodologia Ressalta-se que o uso de metodologias pautadas no ensino tradicional não cabe e nem encontram espaço dentro da flexibilidade curricular, enquanto eixo metodológico para a proposta de uma educação que se fundamenta em conceitos inclusivos. Deve ser analisado as necessidades educacionais especiais dos alunos e avaliar o desenvolvimento de currículos específicos. Entretanto, as bases didáticas e organizativas da educação de pessoas com necessidades educacionais especiais estão fundamentadas na educação geral. Assim é válido considerar o que segue. · Uso de métodos e atividades interativas, · Aprendizagem cooperativa, · Organização e reorganização de grupos, · Considerar os níveis de conhecimentos prévios, · Partir dos interesses e necessidades dos alunos, · Uso de estratégias amplas capazes de envolver a todos os alunos, · Atividades com diferentes níveis de complexidades, · Uso de pistas, orientações, ajudas, apoios de acordo com as necessidades educacionais de todos os alunos, · Uso de materiais diversificados, · Atividades diversificadas, · Atividades diferenciadas, entre outras. 34 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Continuando o nosso exemplo. Metodologia · Contextualização histórica da necessidade do homem se comunicar (Ex. Como as pessoas se comunicavam antes de haver os modernos meios de comunicação ) · Em pequenos grupos, pesquisa em jornal e revistas sobre os meios de comunicação existentes em sua cidade. · Escrever no caderno o nome dos meios de comunicação e a freqüência com que usa (raramente, regularmente, freqüentemente, nunca usa ) · Desenhar no caderno os meios de comunicação que utiliza · A professora deverá registrar uma carta coletiva elaborada pela turma, e escolherem um amigo comum ( poderá ser a Direção, um professor, um colega que esteja doente ou que viajou, etc.) para endereçar no envelope e pôr no correio. · Escrever uma carta individualmente, convidando um amigo para passar um final de semana, e colocar em um envelope devidamente preenchido. Atividade 4 - Dando continuidade ao seu exemplo, elabore a metodologia de ensino considerando a flexibilidade curricular para atender as necessidades de aprendizagem de todos os alunos Metodologia ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Avaliação A LDB nº 9394/96 define as diretrizes para o processo de avaliação educacional, colocando que deve ser processual, contínua, qualitativa e acumulativa em detrimento de processos quantitativos. Isto é, a LDB 9394/96 dá espaço aos sistemas educacionais para que constituam as bases dos processos de avaliação do rendimento escolar e das formas de promoção escolar. Entretanto, os sistemas educacionais continuam usando como critério fundamental para a avaliação educacional o quantitativo, obtidos através de provas e testes realizados em momentos estanques. A flexibilidade curricular, como eixo metodológico propõe critérios para o processo avaliativo, contrários aos utilizados na pedagogia tradicional, tais como: · · · considerar mais os processos de aprendizagem do que o produto, considerar o desenvolvimento de cada criança individualmente, utilizar processos, técnicas e estratégias diversificadas, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 35 EDUCAÇÃO INCLUSIVA · · · · · considerar os processos alcançados nas diversas áreas do desenvolvimento, uso do contexto de ensino-aprendizagem, entre outros para atender ao nosso contexto de aprendizagem colocado anteriormente, usaríamos os seguintes instrumentos de avaliação. avaliação das atividades individuais realizadas em sala de aula em prova registrando os meios de comunicação existentes em sua cidade: o Escrito o Desenho o Oralmente OBSERVAÇÃO IMPORTANTE! A Resolução nº 400/05 CEE/PA prevê para o aluno com necessidades educacionais especiais, que a sua avaliação além dos instrumentos usados sistematicamente, seja anexado um relatório descritivo das suas aprendizagens e competências alcançadas. Atividade 5 - Conclua o seu plano de ensino definindo os instrumentos e a forma como avaliaria a aprendizagem de seus alunos. Avaliação ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ REFERÊNCIAS ANTUNES, Celso. Novas Maneiras de Ensinar, Novas Formas de Aprender. Porto Alegre: Editora Atual, 2002. 172 p. CARVALHO, Rosita Egler. Removendo as Barreiras para a Aprendizagem: educação inclusiva. Porto Alegre: Editora Mediação, 2002. 174 p. COOL, César. (Org.). Desenvolvimento Psicológico e Educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1995. 379 p. CARVALHO, Rosita Egler. Uma Promessa de Futuro: aprendizagem para todos e por toda a vida. Porto Alegre: Editora Mediação, 2002. 93 p. 36 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA UNIDADE III O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: FÍSICO/MOTORA OBJETIVOS · Compreender o aluno com necessidade especial físico/motora como pessoa de possibilidades; · Identificar as dificuldades e potencialidades do aluno com necessidade especial físico/motora; Conhecer alternativas educacionais que favoreçam o acesso e a permanência com sucesso do aluno com necessidade especial físico/motora no contexto escolar. · CONTEÚDOS · Conceito de necessidade físico/motora · Comportamentos observados no desenvolvimento do aluno com dificuldade físico/motora O aluno com paralisia cerebral Orientação pedagógica para o acesso e permanência com sucesso do aluno com paralisia cerebral · · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 37 EDUCAÇÃO INCLUSIVA APRESENTAÇÃO Professor, agora vamos estudar sobre as pessoas com déficit físico/motor. Existe uma variedade muito ampla de condições que ocasionam o déficit físico/motor, causando desde mobilidade reduzida a dificuldades gerais que podem interferir no processo ensino aprendizagem. Como dissemos, existem muitas condições que incorrem em déficit físico/motor. Vamos nos deter, neste estudo, mais na observação do aluno com paralisia cerebral, por ser uma situação bastante freqüente na sociedade, e a sua participação na escola, vem se ampliando à medida que esta lhe dá acessibilidade. 3.1 CONCEITO DE NECESSIDADE FÍSICO/MOTORA Do ponto de vista educacional o déficit físico/motor é uma variedade de condições não sensoriais que afetam o indivíduo em termos de mobilidade, de coordenação motora geral ou da fala como decorrência de lesões neurológicas, neuro-musculares e ortopédicas, ou ainda, de más conformações congênitas ou adquiridas. Professor existe uma variedade de condições que são definidas como déficit físico/motor, vamos citar algumas: · lesão cerebral; · lesão medular; · miopatias; · patologias degenerativas do sistema nervoso; · lesões nervosas periféricas; · amputações; · seqüelas de politraumatismos; · mal formações congênitas; · distúrbios posturais da coluna; · distúrbios dolorosos da coluna vertebral e das articulações dos membros; · artropatias; · reumatismo inflamatório da coluna e das articulações; · doenças osteo-musculares; · seqüelas de queimaduras; · outros. A variedade de condições definidas como déficit físico/motor ocasiona uma série de comportamentos no desenvolvimento da pessoa com déficit físico/motor. 38 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Professor, a seguir, citaremos os comportamentos mais freqüentes de serem percebidos. 3.2 COMPORTAMENTOS OBSERVADOS NO DESENVOLVIMENTO DO ALUNO COM DIFICULDADE FÍSICO/MOTORA · Atrasos no desenvolvimento neuro-psicomotor do bebê (é comum a criança não firmar a cabeça, não sentar, não falar no tempo esperado). · Pode apresentar comprometimentos diversos das funções motoras do organismo físico, que variam em número e grau, de indivíduo para indivíduo, dependendo das causas e da abrangência. Pode apresentar andar cambaleante. Pode necessitar de uso de muletas, ou andador, ou cadeira de rodas manobrada pelo aluno ou manobrada por terceiros, ou cadeira de rodas motorizada. Pode apresentar dificuldades de linguagem. Pode apresentar dificuldades visuais e auditivas. Pode apresentar independência, semi-dependência ou dependência total para realização de atividades de vida diária. Pode ou não apresentar problemas cognitivos. · · · · · · Professor, entre as várias condições definidas como déficit físico/motor, vamos nos deter no aluno com paralisia cerebral, por ser uma situação bastante freqüente na sociedade. 3.3 O ALUNO COM PARALISIA CEREBRAL A paralisia cerebral não é doença, mas uma condição especial, que, freqüentemente, ocorre em crianças, e quase sempre é o resultado da falta de oxigenação no cérebro, o que ocasiona uma diferença motora, ocasionada por lesão cerebral. Tem, como conseqüência da lesão orgânica instalada, variados graus de espasticidade muscular. Essas pessoas apresentam dificuldades no desempenho motor ao andar, ao equilibrar-se, ao usar as mãos para comer, ao escrever, ao olhar, ou qualquer outra atividade que exija controle do corpo e coordenação motora adequada. Atenção professor: “Paralisia cerebral” não significa que o cérebro ficou paralisado. O que acontece é que o cérebro não comanda corretamente os movimentos do corpo. Não manda ordens adequadas para os músculos, em conseqüência da lesão sofrida. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 39 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 3.3.1 Classificação por tipo clínico A classificação especifica o tipo de alteração de movimento que a criança apresenta. 1- Espástica: os músculos são muito tensos, o que limita ou impossibilita os movimentos do corpo. A criança espástica é dura demais para mover-se, todo movimento é lento e exige um grande esforço. É o tipo mais comum de paralisia cerebral. 2- Extrapiramidal: a lesão ocorreu em uma região do cérebro chamada Núcleo da Base. Os músculos possuem um grau de tensão variável, o que resulta em uma realização de movimentos indesejáveis, involuntários. É o segundo tipo mais comum de paralisia cerebral. · Atetóide: há variação no grau de tensão dos músculos das extremidades do corpo (em relação aos braços, esta variação ocorre nas mãos), levando a realização de movimentos lentos, contínuos e indesejáveis, que são muito difíceis de dosar e controlar. A criança atetóide tem grande dificuldade de realizar o movimento voluntário e manter a postura por muito tempo. · Coréico: há variação no grau de tensão dos músculos das raízes dos membros (em relação ao braço, esta variação ocorre nos ombros), levando à realização de movimentos rápidos e indesejáveis. A criança coréica pode ter dificuldade para realizar o movimento voluntário. · Distônico: há um aumento repentino da tensão do músculo, levando a fixação temporária de um segmento do corpo a uma postura estrema. 3- Atáxico: a lesão ocorreu em uma região do cérebro chamada Cerebelo, responsável, entre outras coisas, pelo equilíbrio. Os movimentos são incoordenados e bruscos. Pode haver a presença de um certo tremor. A criança atáxica tem dificuldade de manter uma postura parada. É um tipo raro de paralisia cerebral. Professor, cabe ressaltar que é muito comum haver uma combinação desses tipos de Paralisia Cerebral apresentados, caracterizando o que alguns autores chamam de Paralisia Cerebral Mista. Dependo da localização do corpo que foi afetada, há as seguintes subdivisões anatômicas. Diparesia: quando os membros superiores apresentam melhor função do que os membros inferiores, isto é, quando eles apresentam menor acometimento. Hemiparesia: quando apenas um lado do corpo é acometido, podendo ser o lado direito ou esquerdo. Tetraparesia: quando os quatro membros estão igualmente comprometidos. 40 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA ATENÇÃO: Não existem 2 crianças, e, mais tarde, 2 adultos, que apresentem o mesmo tipo de comprometimento motor em decorrência da Paralisia Cerebral. Há uma variação imensa desses comprometimentos, podendo acarretar desde um leve cambaleio no andar até os quadros que apresentam parcial ou total dependência. De modo geral, apresentam comprometimentos das funções neuro-vegetativas, como sucção, mastigação, deglutição e insalivação, podendo apresentar, ou não, dificuldades sensoriais e intelectuais. Atividade 1 - Professor, você conhece, ou conheceu, alguma criança com Paralisia Cerebral com estes comportamentos? Descreva como eram, ou são, as dificuldades dessa criança . ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Professor, vamos a uma outra atividade. Chama-se sentindo na pele. Atividade 2 - Experimente as seguintes situações Feche as mãos e ponha um par de meias socketes grossas. Dessa maneira, abotoe e desabotoe uma camisa, sirva água em um copo para beber, tente se pentear. Após alguns minutos de tentativas, registre aqui as dificuldades e as sensações que você vivenciou neste sentindo na pele. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 3.3.2 Problemas de linguagem e comunicação Crianças com problemas neurológicos, em especial as que sofreram paralisia cerebral, na sua quase totalidade, sofrem de distúrbios no desenvolvimento da fala, podendo apresentar alterações variáveis em maior ou menor grau de inteligibilidade da língua falada, chegando ao impedimento por completo. Isto ocorre devido, a partir, mais ou menos grave dos órgãos fonológicos (músculos que controlam os movimentos da boca, das articulações e da respiração), podendo acarretar comprometimento da fala em vários níveis (COLL et all, 1995). UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 41 EDUCAÇÃO INCLUSIVA A comunicação da criança com paralisia cerebral pode apresentar as seguintes características. Retardo de linguagem: a 'aquisição' da fala pode ocorrer com atraso devido ao comprometimento motor que prejudica os órgãos fonológicos, pela falta de estimulação do meio, e por comprometimento mental em decorrência do grau de comprometimento neurológico. Disartria: a fala da criança pode ser realizada com dificuldade de articulação, em que os fonemas não são claros (trocas de fonemas, dificuldades para pronunciar as sílabas complexas), necessitando de tempo, atenção e paciência do interlocutor para o entendimento da mensagem falada. Anartria: pode existir intenção de fala, mas não consegue concretizá-la pela impossibilidade de organizar o conjunto muscular encarregado da articulação e emissão da mesma. Gagueira: a fluência da fala fica prejudicada pelos problemas motores e também emocionais, decorrentes de exigência demasiada das pessoas que com ela convivem (na família, na escola), com ênfase somente para as suas dificuldades e seus limites de ação e de execução, evidenciando as diferenças e dificuldades em detrimento das conquistas alcançadas. Os distúrbios motores dos órgãos fonoarticulatórios podem afetar outras funções importantes da criança como a mastigação, a deglutição, o controle de saliva ou a respiração. Se ocorrerem distúrbios específicos da linguagem na área cerebral, e não somente problemas localizados para o ato motor da fala, poderão afetar não somente a expressão como a compreensão da fala. Isto é, além de não falar, também não compreenderá o que os outros falam, comprometendo, assim, a sua compreensão do mundo. Para diferenciar a criança que compreende a linguagem daquela que não compreende, é preciso estar atento a todos os sinais que ela possa fazer para se comunicar com o meio e aqueles que mostram o que realmente está compreendendo. O fato de não falar, não quer dizer que esteja alheia ao meio em que vive, como, também, não quer dizer que não tenha condições de aprendizagem formal de leitura, de escrita e de raciocínio em ambiente escolar. ATENÇÃO PROFESSOR! O fato da criança com paralisia cerebral não falar, não quer dizer que esteja alheia ao meio que vive, como também não quer dizer que não tenha condições de aprendizagem formal de leitura, de escrita e de raciocínio em ambiente escolar. Por outro lado, nem todas as crianças com paralisia cerebral apresentam dificuldades no desenvolvimento da comunicação. 42 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Atividade 3 Professor, vamos experimentar uma outra situação de sentindo na pele. Coloque a ponta da língua no céu da boca e fale a um interlocutor e peça-lhe que traduza o que você está falando. Registre aqui as dificuldades que você sentiu de comunicação. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 3.4 ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA PARA O ACESSO E PERMANÊNCIA COM SUCESSO DO ALUNO COM PARALISIA CEREBRAL Ao depararmos com o aluno com paralisia cerebral, é comum nos causar a impressão de que este educando não tem como participar do processo pedagógico em função dos comprometimentos físico/motores apresentados. Entretanto, é surpreendente a participação e o desenvolvimento escolar dos mesmos, desde que realizado um trabalho de flexibilidade curricular, de modo a atender as suas necessidades educacionais especiais. É imprescindível a eliminação das barreiras de aprendizagem que impedem ou dificultam a participação com êxito desse aluno no contexto escolar. O primeiro passo a dar é no sentido do acolhimento desse aluno, eliminando as barreiras atitudinais, valorizando as suas potencialidades e buscando formas adequadas para o trabalho pedagógico. Uma outra questão diz respeito à eliminação das barreiras arquitetônicas, realizando modificações nos espaços físicos dos prédios escolares, construindo rampas e instalando corrimões próximos a bebedouros, assentos de banheiro, lousa e corredores, fazer alargamento de portas, colocação de lajotas ou tapetes antiderrapantes, cantos arredondados no mobiliário. Atividade 4 -Professor, vamos vivenciar mais uma experiência de sentindo na pele. Consiga uma cadeira de rodas, sente-se e dê uma volta pelas proximidades. Peça que alguém lhe empurre. Entre em banheiros, salas, ande pelas áreas externas. Você verá que não precisará ir muito longe para enfrentar dificuldades arquitetônicas. Registre aqui as suas impressões. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 43 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Não existem receitas quanto ao trabalho de flexibilidade curricular junto a esse aluno, mas alguns aspectos podem ser considerados como relevantes para o seu acesso e permanência com sucesso no processo educacional. É necessário identificar as suas potencialidades e dificuldades e, em função disso, tomar decisões para o planejamento curricular em nível de sala de aula. Alguns critérios devem ser considerados no trabalho de planejamento do professor para que o aluno com paralisia cerebral se beneficie do processo educacional: · · · · · · · · · · · · · · buscar a postura mais adequada ao aluno; usar mobiliário adaptado; usar materiais pedagógicos e brinquedos preferencialmente grandes e leves; usar lápis, pincéis e talheres que deverão ter cabos engrossados com madeira, espuma, fita crepe, etc.; usar ventosas e outros adaptadores para fixar pratos e copos; fixar o papel, caderno e mesa; usar equipamentos adaptados como pulseira com peso, capacete com ponteira, prancha de comunicação, computador com teclado adaptado, uso de prancha elevatória, etc.; usar comunicação alternativa (para a comunicação, o alfabeto móvel, formas de expressar pelo olhar, sorriso, etc.); confeccionar materiais com traçado e contornos grosso e poucos detalhes; propor poucas atividades com papel; ser criativo (lembre, o diferente é que enriquece a nossa prática pedagógica); exercitar a afetividade; considerar o trabalho da família como parceiro; fazer o trabalho com a criança e não pela criança. Atividade 5 - Analisando as possibilidades da pessoa com déficit físico/motor Professor, agora que você já conhece um pouco a pessoa com déficit físico/motor decorrente de paralisia cerebral, poderá assistir a filmes que abordem essa temática e analisar os comportamentos observados na pessoa com essas características, as estratégias educacionais e de inserção social, realizadas, e como as pessoas convivem, percebem e se relacionam com a mesma. Registre neste espaço as suas observações e análises realizadas durante a reprodução do filme. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 44 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Seguem alguns títulos de filmes relacionados a este assunto, e que você pode encontrar em qualquer locadora: · Amargo Regresso · Óleo de Lorenzo · Meu Pé Esquerdo · Tudo Pela Vida · O Despertar Para a Vida · A Força de um Campeão · De Porta em Porta REFERÊNCIAS COOL, Cesar (Org.). Desenvolvimento Psicológico e Educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1995. BAUTISTA, Rafael. Necessidades Especiais em Sala de Aula. Portugal: Editora Dinalivro, 2000. BRASIL. Ministério da Educação. Estratégias e Orientações Pedagógicas para a Educação de Crianças com Necessidades Acentuadas de Aprendizagem: deficiência física. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP, 2002. 99 p. _______ .Ministério da Educação. Adaptações Curriculares em Ação: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais de alunos com deficiência física/neuro/motora. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP, 2002. 44 p. GONZÁLEZ, José Antônio Torres. Educação e Diversidade: bases didáticas e organizativas. Porto alegre: Artmed, 2002. MITTLER, Peter. Educação Inclusiva: contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 45 EDUCAÇÃO INCLUSIVA UNIDADE IV O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: MENTAL OBJETIVOS · Conhecer os parâmetros básicos de identificação do aluno com necessidade especial mental; · Identificar as características de aprendizagem do aluno com necessidade especial mental; Conhecer os principais fatores causais da necessidade especial mental. Subsidiar pedagogicamente os professores. · · CONTEÚDO 46 · O aluno com necessidade especial mental · · · · Identificação do aluno com necessidade especial mental Fatores causais da necessidade especial mental Características de aprendizagem do aluno com necessidade especial mental Orientação pedagógica PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA APRESENTAÇÃO Professor(a), desta vez, o convidamos para estudar sobre a pessoa com necessidade especial mental, suas características de aprendizagem, suas possibilidades e dificuldades. Você terá a oportunidade de ressignificar seus conceitos e rever seu imaginário social em relação a esse segmento social, e compreender que a educação e a sua função, professor(a), são fundamentais para o desenvolvimento e a participação social dessas pessoas. 4.1 O ALUNO COM NECESSIDADE ESPECIAL MENTAL Possivelmente, a identificação da pessoa com necessidade mental no contexto escolar é uma questão muito complexa. É claro que quando a diferença/necessidade é evidente na fisionomia e expressões da pessoa, não há dificuldade nessa identificação. No entanto, somente uns 25 a 30% desse segmento social é percebível a olho nu no seio da sociedade. 70 a 75% dessas pessoas são sutilmente afetadas. PROFESSOR(A), cuidado para não estar apontando como ''deficiente mental'' todo e qualquer aluno que apresente uma dificuldade acentuada de aprendizagem. Por outro lado, não é função do professor, ou de qualquer especialista na área da educação geral, e mesmo da educação especial, diagnosticar a necessidade mental ou qualquer outra condição intelectual ou sensorial. Qual é a nossa função, profissional, como educadores? A nossa função profissional, como educadores, é identificar comportamentos diferenciados para orientar a família em busca de esclarecimentos e/ou diagnósticos com especialistas da área da saúde, além de identificar os pontos fortes do aluno (potencialidades), os pontos fracos (dificuldades), e as características de aprendizagem dele, e, assim, construir caminhos metodológicos para o processo de ensino-aprendizagem dele. 4.2 IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO COM NECESSIDADE ESPECIAL MENTAL Para a identificação desse aluno, podemos nos pautar nos parâmetros traçados pela Associação Americana de Retardo Mental (AARM), segundo o conceito de necessidade mental, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 47 EDUCAÇÃO INCLUSIVA que dista de 1992: Funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da média, oriundo do período do desenvolvimento, concomitante com limitações associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo em responder adequadamente às demandas da sociedade, nos seguintes aspectos: comunicação, cuidados pessoais, habilidades sociais, desempenho na família e comunidade, independência na locomoção, saúde e segurança, desempenho escolar, lazer e trabalho. As condutas adaptativas, e/ou capacidade de responder adequadamente às demandas sociais, podem ser definidas como as que seguem. 1. Comunicação: capacidade de compreender as mensagens de outras pessoas e expressar informações por meio de palavras, linguagem gestual, digital, de sinais, toques, gestos, expressões, corporais, etc. 2. Auto-cuidado: capacidade de realizar a higiene pessoal, alimentação, vestuário, etc. 3. Vida familiar: participação na divisão de tarefas na família, convívio e relação familiar, etc. 4. Vida social: capacidade de realizar trocas sociais na comunidade, compartilhar, cooperar, respeitar limites e normas, controlar impulsos, controle frente às frustrações e situações negativas, etc. 5. Autonomia: capacidade para fazer escolhas, tomar iniciativa, atender aos próprios interesses, cumprir tarefas, saber quando necessita de ajuda e como buscar, resolver problemas, defender-se, explicar-se, etc. 6. Independência na locomoção: capacidade para deslocar-se com segurança, domínio do espaço físico e dos meios de transportes, capacidade de ir e vir, etc. 7. Saúde e segurança: capacidade para cuidar da saúde, evitar perigos e doenças, seguir regras e leis de segurança, etc. 8. Funcionalidade acadêmica: capacidade para a aprendizagem acadêmica relacionada aos conteúdos curriculares escolar e ao desenvolvimento de habilidades e competências. 9. Lazer: interesse e participação em atividades de entretenimento pessoal e coletivo. 10. Trabalho: participação no mundo do trabalho. ATENÇÃO! Ressalta-se que a pessoa com necessidade especial mental não possui prejuízos, necessariamente, em todas as demandas sociais. Os comprometimentos podem alcançar desde duas demandas sociais até comprometimentos mais graves, com prejuízos globais, não há um padrão de comportamento. Pode ir desde situações em que são sutilmente afetados até quadros mais amplos de comprometimentos das demandas sociais. 48 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Atividade 1 - Leia com atenção o conceito de necessidade mental definido pela Associação Americana de Retardo Mental e liste os três critérios básicos para identificação da pessoa com essa necessidade. 1. __________________________________________________________________________ 2. __________________________________________________________________________ 3. __________________________________________________________________________ ATENÇÃO PROFESSOR(A)! A identificação do aluno com necessidade especial mental deve ser realizada mediante avaliação educacional contextualizada, em que devem ser observados e analisados os comportamentos de aprendizagem e as áreas de desenvolvimento do aluno (sócioafetiva, cognitiva, acadêmica, motora...) e as práticas pedagógicas desenvolvidas pelo professor (currículo, metodologias, interações sócio-afetivas...). 4.3 FATORES CAUSAIS DA NECESSIDADE ESPECIAL MENTAL A necessidade especial mental pode ocorrer durante o período intra uterino (pré-natal), no nascimento (perinatal) e no crescimento (pós natal). · · · · Fatores biomédicos: dizem respeito a processos biológicos. Ex.: problemas metabólicos (fenilcetonúria), síndromes genéticas e anomalias cromossômicas (Síndrome de Down), síndromes endocrinológicas (hipotireoidismo), síndromes morfológicas (microcefalia), síndromes neurológicas (distrofia muscular), doenças infecciosas, intoxicação, traumatismos, crânio encefálicos, anoxia, tumores, transtornos mentais, etc. Fatores sociais: dizem respeito às interações familiar e social e relacionam-se à situação de extrema privação ambiental e ausência de interação social e familiar. Fatores comportamentais: estão associados a comportamentos potencialmente causais, tais como a síndrome da criança maltratada, golpeada, seviciada, abusada ou negligenciada. Podem estar envolvidos tantos os aspectos emocionais como os traumas crânio encefálicos decorrentes. Fatores educacionais: estão associados ao não atendimento das exigências de apoio e suporte que certas crianças necessitam para o desenvolvimento intelectual e das habilidades adaptativas. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 49 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 4.4 CARACTERÍSTICAS DE APRENDIZAGEM DO ALUNO COM NECESSIDADE ESPECIAL MENTAL · Lentidão no raciocínio. · · · · · Crescimento físico, psicológico e social não seguem o mesmo ritmo de seu desenvolvimento mental (cognitivo), gerando um desequilíbrio. Aprende num ritmo mais lento. Construção do conhecimento segue os processos psicológicos igual às demais crianças, jovens e adultos, apresentado dificuldades para alcançar o pensamento abstrato (estágio das operações formais). Requer apoio pedagógico especializado e diversificação de estratégias pedagógicas. Requer um aprendizado que parta de situações concretas e contextualizadas. Professor, o aluno com necessidade especial mental tem um aprendizado e desenvolvimento cognitivo diferenciados. Mas saiba que esse aluno é um ser pensante, desejante, social e possui potencialidades. 4.5 ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA Deve-se partir de uma avaliação educacional junto ao aluno no contexto escolar, e em outros espaços sociais, se for relevante, de forma contínua e processual, considerando os seguintes aspectos: · o potencial do aluno identificar os pontos fortes e os pontos fracos do aluno, os conhecimentos emergentes, as características de aprendizagem, suas preferências, etc. · as respostas educacionais metodologias de ensino desenvolvidas pelo professor, qualidade do ensino, possibilidades da escola. · família a participação familiar, o ambiente familiar, as interações familiares. Atividade 2 - Professor(a), lembre de algum aluno que você percebe que apresenta as características de pessoa com necessidade especial mental, ou que se aproxime, e elabore um relatório descrevendo o seu funcionamento intelectual, os pontos fortes desse aluno, suas dificuldades de aprendizagem, etc. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 50 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Professor(a), mesmo que o seu aluno não tenha necessidade especial mental, existem sempre alunos com dificuldades intensas de aprendizagem e que requerem atenção individualizada, estratégias e técnicas de ensino mais específicas para atender as suas necessidades de aprendizagem. Atividade 3 (15 minutos) Professor(a), pensando neste aluno, elabore um plano de aula para a turma toda, tendo como eixo metodológico a flexibilidade curricular Assunto_______________________________________________________________ Objetivos:_____________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Objetivos flexibilizados___________________________________________________ Conteúdos abrangentes: __________________________________________________ Conteúdos aprofundados: _________________________________________________ Metodologia: Estratégias amplas que envolvam todos os alunos ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Atividades diversificadas/flexibilizadas ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Avaliação: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Professor(a) se você conseguiu elaborar um plano de ensino para a turma toda, considerando os alunos com dificuldades acentuadas de aprendizagem, decorrentes de necessidades especiais mentais ou não, parabéns! Você está aprendendo a ensinar a turma toda com as diferenças. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 51 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Professor(a), a participação do aluno com necessidade especial mental no contexto escolar é um grande passo para a sua inclusão social. No entanto, é preciso mais que isso, a sociedade, em geral, também, precisa acolher essa pessoa. Convido-o, professor(a), para sairmos do espaço da escola e conhecer a opinião da sociedade sobre a pessoa com necessidade especial mental. Atividade 4 (pesquisa de campo) Agora que você já tem uma idéia de quem é a pessoa com necessidade especial mental, vamos conhecer como a sociedade percebe essas pessoas? Você poderá aproveitar a oportunidade para esclarecer e prestar informações corretas sobre as questões apresentadas. Escolha uma ou mais pessoas e faça uma entrevista, usando o nosso roteiro, que segue, como sugestão, e ampliando se achar conveniente. SUGESTÃO DE ROTEIRO PARA ENTREVISTA Nome: ___________________________________________________________ Formação: ________________________________________________________ Local de trabalho: __________________________________________________ Conhece alguma pessoa com “deficiência” mental? _________________________________________________________________ Qual o tipo de relacionamento que tem com essa pessoa? ( ) familiar ( ) vizinhos ( ) amizade ( ) colega de trabalho ( ) aluno/professor ( ) não há relacionamento ( ) patrão/empregado ( ) outros __________________________________ O que você sabe sobre as pessoas com “deficiência” mental? _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ Você deixaria seu filho brincar com uma criança com “deficiência” mental? _________________________________________________________________________ Você empregaria uma pessoa com “deficiência” mental? _________________________________________________________________________ 52 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Após a entrevista, analise as respostas, as intenções e compreensões subjacentes, e conclua se há a aceitação da pessoa com necessidade especial mental na sociedade. Analise se estamos caminhando para a inclusão e o que podemos fazer para otimizar o acolhimento desse segmento social. Registre neste espaço as suas análises e sugestões. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Atividade 5 (assistir um filme) Professor(a), para recapitularmos este assunto, você poderá assistir a um filme, cujos títulos sugerimos a seguir, e fazer um resumo contendo as questões propostas no roteiro que segue. Sugestão de Roteiro para o Resumo Quais as características de aprendizagem da pessoa com necessidade especial mental; Suas potencialidades; Suas dificuldades; Suas preferências; Quais as atitudes e práticas da sociedade em relação à pessoa com necessidade especial mental (aceitação, discriminação, rejeição...). Sugestão de títulos de filmes: · · · · · George o 8º dia Uma Lição de Amor Simples Como Amar Forest Gump O contador de histórias Aprendiz de Sonhador UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 53 EDUCAÇÃO INCLUSIVA REFERÊNCIAS BAUTISTA, Rafael. Necessidades Especiais em Sala de Aula. Portugal: Editora Dinalivro, 2000. CARVALHO, Rosita Egler. Removendo as Barreiras para a Aprendizagem: educação inclusiva. Porto Alegre: Editora mediação, 2002. 174 p. ________ .Rosita Egler. Uma Promessa de Futuro: aprendizagem para todos e por toda a vida. Porto Alegre: Editora Mediação, 2002. 93 p. COOL, César. (Org.). Desenvolvimento Psicológico e Educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1995. 379 p. GONZÁLEZ, José Antônio Torres. Educação e Diversidade: bases didáticas e organizativas. Porto Alegre: Artmed, 2002. JANUZZI, Gilberta. A Luta pela Educação do Deficiente Mental no Brasil. São Paulo: Editora Cortez, 1985. MANTOAN, Maria Tereza Égler. Ser ou Estar, Eis a Questão: explicando o déficit intelectual. Rio de Janeiro: Editora WVA, 1997. SILVA, Otto Marques da. Uma Questão de Competência. São Paulo: Editora Memnon, 1993. MITTLER, Peter. Educação Inclusiva: contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003. 54 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA UNIDADE V O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: SURDEZ OBJETIVOS · · · Discutir a educação do surdo, sob os pressupostos da educação inclusiva; Refletir sobre as especificidades lingüísticas do aluno surdo; Orientar os pós-graduandos acerca das estratégias de intervenção pedagógica para alunos surdos. CONTEÚDO § § § § § § § § § § Conceito, causas, graus e classificação das perdas auditivas Como identificar o aluno surdo em sala de aula? Aparelho de amplificação sonora individual AASI e Implante coclear Concepções sobre a pessoa surda Surdez: construtos clinicopatológico e socioantropológico Concepções educacionais de surdez e da pessoa surda: Oralismo, Comunicação Total e Bilingüismo Agora você vai ficar fascinado com a Língua Brasileira de Sinais LIBRAS Professor, vamos falar um pouco do profissional intérprete de LIBRAS A Educação da pessoa surda no Pará A inclusão do aluno surdo nas escolas regulares. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 55 EDUCAÇÃO INCLUSIVA APRESENTAÇÃO Prezado(a) professor(a), nesta Unidade discutiremos a educação da pessoa surda, o que impinge repensar os valores que você tem acerca desse aluno, que é falante da Língua Brasileira de Sinais LIBRAS. Por isso, convido você a refletir sobre sua prática educativa, que, com certeza, é direcionada ao aluno ouvinte, e potencializá-la com outras matrizes pedagógicas. Ao final desta Unidade, você encontrará o Alfabeto Manual, usado pelos surdos e a Lei da LIBRAS. Você é capaz! 5.1- CONCEITO, CAUSAS, GRAUS E CLASSIFICAÇÃO DAS PERDAS AUDITIVAS. VOCE SABE O QUE É SURDEZ? A surdez é uma experiência visual, uma identidade múltipla e multifacetada, que se constitui em uma diferença politicamente reconhecida e localizada, na maioria das vezes, dentro do discurso da deficiência. (SKLIAR, 1998). Professor(a), muitas são as causas da surdez. Veja as mais freqüentes 1) Pré-natais (antes do nascimento do bebê): causadas por: problemas genéticos ou hereditários, consangüíneos e pelas doenças infecto-contagiosas, como: rubéola, toxoplasmose, diversos fatores também causam surdez como: drogas, carências alimentares, pressão alta, alcoolismo materno e outros. 2) Peri-natais (no decorrer do nascimento do bebê): causadas por: pré-maturidade, pós-maturidade, anóxia, fórceps e infecção hospitalar. 3) Pós-natais (após o nascimento) causadas por: meningite, drogas ototóxicas, sífilis, sarampo, caxumba, excesso de ruídos e traumatismo craniano. Atenção, Professor! Na elaboração de um plano de ensino para um estudante surdo é importante saber o período de manifestação da surdez, que pode ser: 56 · congênita aparecimento da perda auditiva antes do nascimento. A surdez é pré-lingual. · Adquirida aparecimento da perda auditiva depois do nascimento. A surdez pode ser pré ou pós-lingual. PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Existem vários graus de surdez, por isso, você vai encontrar alunos que embora apresentem perda da audição, respondem a determinados sons e a outros não. Observe a classificação das perdas auditivas quanto ao grau: · Surdez Leve até 40 db. A pessoa não percebe a voz fraca ou distante, é desatenta. A criança adquiri a linguagem “normalmente”, porém pode apresentar dificuldade na leitura e/ou escrita. Embora com surdez leve, apresenta muita dificuldade no contexto escolar regular, devido ao excesso de ruídos na sala e principalmente pela falta de informação dos professores acerca da surdez. · Surdez Moderada de 40 a 70 db. A pessoa percebe a voz em forte intensidade. Apresenta dificuldades na articulação das palavras e a discriminação auditiva é comprometida principalmente em ambientes ruidosos. · Surdez Severa de 70 a 90 db. A pessoa pode perceber a voz forte. Apresenta ausência de linguagem oral, necessita de metodologia específica para desenvolver a linguagem e o aprendizado escolar. Utiliza muito a percepção visual para entender o contexto. · Surdez Profunda perda auditiva superior a 90 db. Apresenta ausência de linguagem oral, não percebe a voz humana e tem dificuldades no processo de escolaridade, devido o currículo ser constituído pela e para a pessoa ouvinte. Professor, mesmo com grau de perda auditiva semelhante nenhum aluno surdo é igual a outro, pois cada aluno é singular e tem características próprias para aprender. Fique atento! As perdas auditivas são classificadas quanto à localização, de acordo com a região da orelha que é lesada, assim sendo, classificam-se em: · Perdas Condutivas alterações na orelha externa e/ou na orelha média; · Perdas Neurossensoriais atingem a cóclea ou o nervo auditivo, afeta a intensidade e a fidelidade do som, ou seja, vozes podem ser ouvidas e não compreendidas; · Perdas Mistas infecções na orelha média, inflamação ou acúmulo de secreção por trás do tímpano; · Perdas Centrais lesão no tronco cerebral que provoca a perda da habilidade de interpretação de sons. Atividade 1 - Com certeza você já percebeu que é possível evitar a surdez. De posse das informações anteriores, pesquise sobre doenças infecto-contagiosas e fatores genéticos que ocasionam a surdez, reuna com outros professores da escola que você atua e, num trabalho interdisciplinar, oriente a comunidade educativa acerca da prevenção da surdez. Sugestões: você pode fazer parceria com a Secretaria de Saúde de seu município e trabalhar os seguintes temas: vacinação contra a rubéola, sarampo, caxumba, a importância dos exames pré-nupciais, poluição sonora e outros que você julgar importante. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 57 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Registre no espaço abaixo os encaminhamentos necessários para o desenvolvimento do trabalho. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ AGORA VAMOS À PRÁTICA! 5.2- COMO IDENTIFICAR O ALUNO SURDO EM SALA DE AULA? É preciso aprender, primeiramente, a conviver com a diversidade, ou seja, a reconhecer, no cotidiano escolar, a pessoa surda. A seguir elencamos algumas das peculiaridades mais recorrentes em alunos surdos: · · · · · · · · · · é considerado “distraído”, “desatento”, “desinteressado”; não responde ao ser chamado pelo nome; fixa atenção no rosto do falante; fica sempre isolado dos colegas ouvintes; pergunta muito, hein? o tom de voz é excessivamente alto ou excessivamente baixo; não se assusta com ruídos fortes, como batidas de portas e na porta; apresenta “atrasos” significativos no desenvolvimento de linguagem oral, principalmente nos casos de surdez severa e/ou profunda; aponta muito, por exemplo, quando solicita água, ou quando quer um objeto; alguns deles gritam muito para chamar a atenção do professor. Atividade 2 - Na sua turma, você já detectou um aluno surdo? Registre nas linhas abaixo o comportamento observado nesse aluno. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 58 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA SEJA UM DETETIVE! Mas com cuidado: você não pode diagnosticar a surdez! Em caso de suspeita, solicite uma avaliação por uma equipe especializada no seu município. NOVIDADE! A surdez já pode ser detectada precocemente por meio do teste de Oto Emissões Acústicas (Teste da Orelhinha). O referido teste pode ser aplicado 48 horas após o nascimento do bebê, e assim os pais saberão se o bebê tem ou não perda auditiva. A audiometria é outro exame utilizado no diagnóstico da surdez. Professor, no nosso cotidiano, usamos diferentes unidades para medir as coisas, por exemplo, o litro para medir líquidos, o quilo para medir sólidos, o metro para medir comprimento. A audição é medida em decibéis (dB). FIQUE ATENTO! Não basta detectar a surdez, é preciso que a criança seja encaminhada para receber intervenção pedagógica adequada. APARELHO DE AMPLIFICAÇÃO SONORA INDIVIDUAL (A.A.S.I.) E IMPLANTE COCLEAR Este aparelho auditivo deve ser indicado por um médico otorrino e tem como função desenvolver a capacidade de percepção auditiva. Não basta só colocar o aparelho no conduto auditivo da criança, é preciso uma estimulação auditiva adequada, para que a pessoa protetizada possa dar funcionalidade aos sons que percebe. Conheça agora, os tipos de aparelhos de amplificação sonora individual e os avanços tecnológicos na área da surdez . É importante que você saiba que, em qualquer abordagem educacional deve se estimular o uso do A.A.S.I. São eles: · aparelho de caixinha, retroauricular, mini-retroauricular, intraauricular, intra-canal e os microcanais. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 59 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Na sala de aula, o docente deve observar se o aparelho está funcionando, se a pilha está fraca, se a pilha está bem colocada, se o molde está bem ajustado na orelha da criança, se o molde está limpo, se os fios estão em perfeitas condições, se está em volume adequado ou está ocasionando desconforto para o usuário. Por exemplo: o aluno surdo, usuário de A.A.S.I., incluído na educação superior, relata: “quando os colegas ouvintes arrastam as carteiras da sala sinto uma sensação horrível”. Converse com seus alunos sobre as próteses auditivas e a importância desta para o aluno que não ouve. Implante coclear É uma prótese auditiva composta de componentes internos e externos que substituem as células sensoriais de órgãos de corti, ativando diretamente as terminações nervosas do nervo auditivo. (Centro de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo, 1994) - Qualquer pessoa surda pode fazer o implante coclear? Não, o implante coclear é indicado para pessoas com surdez profunda e há critérios, como: crianças e jovens até 17 anos que apresentem quadro de surdez profunda bilateral; surdez pós-lingual, com até 6 anos de surdez; surdez pré-lingual; crianças de 2 a 4 anos de idade. No Brasil, o implante coclear é uma realidade e tem como referência o Centro de Pesquisas Audiológicas do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo Campus Bauru. 5.3 - CONCEPÇÕES SOBRE A PESSOA SURDA Professor(a), muitos mitos permearam a educação da pessoa surda, fundamentados em representações sociais, cujo parâmetro é o modelo ouvinte, por isso, a pessoa surda não seria/é educável ou responsável pelos seus atos. Os mitos, por sua vez, se originam de concepções baseadas em modelos clínicos, segundo os quais, todo o aprendizado acontece por meio da língua oral, logo, se a pessoa apresenta dificuldades na comunicação oral, essas interferem nas interações sociais e, conseqüentemente no aprendizado escolar. 60 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA As interpretações patológicas expostas no quadro 1, cujo critério, para afirmar a singularidade das pessoas surdas, parte da caracterização da “deficiência” que possuem, instituíram esta como eixo definidor da vida pessoal e social dessas pessoas. Isto posto, apresentamos, a seguir, um breve panorama de algumas concepções mais presentes nesta trajetória secular, de acordo com Moors (apud Marchesi, 1987). Quadro 1 Concepções sobre a pessoa surda (período/autor) Autor Período Década de 1950 Pintner fundamenta-se nos testes psicométricos. Os surdos têm menos nível de inteligência e diferente forma de raciocinar. Década de 1960 Myklebust ressalta que, embora os surdos e ouvintes tenham obtido os mesmos resultados em provas não-verbais, os primeiros apresentam uma maior vinculação ao concreto e dificuldade para generalização e o pensamento obtido. Década de 1960 Furth afirma que a atividade cognitiva do surdo é igual à do ouvinte, portanto, a surdez e a falta de linguagem não impedem o desenvolvimento intelectual da pessoa surda. Nesse percurso, ressalta-se que o construto interacionista de Vygotsky, inicia o processo de redimensionamento das concepções acerca da surdez, com o advento da língua de sinais. 5.4 - SURDEZ: CONSTRUTO CLINICOPATOLÓGICO E SOCIOANTROPOLÓGICO No interior das regras sociais que regulam a educação brasileira, atualmente, as reflexões e os debates sobre a surdez resultaram em, pelo menos, dois paradigmas dominantes, quadro 2: o construto clinicopatológico e o socioantropológico. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 61 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Quadro 2 Construto teórico- metodológico Construto clinicopatológico Construto socioantropológico O construto clinico-patológico fundamenta-se no modelo médico da deficiência. A surdez é uma doença que precisa ser tratada, ocorre a patologização da surdez. É uma contraposição ao modelo médico. A surde é uma diferença. · Surdo é doente. · Modelo pedagógico: pedagogia corretiva que · A pessoa surda é diferente. · Modelo pedagógico: pedagogia socializada. · Currículo: bilíngüe. Língua Brasileira de Sinais LIBRAS e Língua Portuguesa. propõe normalizar o surdo. · · Currículo: ortopédico monolíngüe (só a trabalham em parceria. língua oral é valorizada). · Professor regente é ouvinte. · Projeto político pedagógico da escola é · surda. · Somente os professores ouvintes ensinam os · sala de aula. Presença de intérpretes de Língua de Sinais nas escolas regulares. Surdo não precisa de intérprete, deve aprender por meio da leitura labial. Professores ouvintes aprendem a língua de sinais com professores surdos. surdos. Professores surdos foram expulsos da · Projeto político pedagógico da escola é construído com a participação da comunidade construído por profissionais ouvintes. · Professores ouvintes e professores surdos · A cultura surda é valorizada. Atividade 2 Elabore um resumo do modelo clinicopatológico e do socioantropológico, fazendo uma análise crítica dos mesmos. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 62 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 5.5 - CONCEPÇÕES EDUCACIONAIS DE SURDEZ E DA PESSOA SURDA: ORALISMO, COMUNICAÇÃO TOTAL E BILINGÜISMO. “Eles/as chegam sem ter, na maioria das vezes, desenvolvido nenhuma língua” (Professoras Rosa e Dalva) As professoras Rosa e Dalva relatam uma situação muito comum: surdos chegam à escola com conhecimentos mínimos da língua materna deles, isso devido seus pais serem ouvintes e não saberem como ultrapassar as situações corriqueiras de apontar e interpretar contextualmente o que “ele ta querendo dizer”. Isso diferentemente dos/as ouvintes, que chegam à escola já dominando um amplo acervo lexical (vocabulário): saber pedir, persuadir, expressar sentimentos e outras intencionalidades, sem contar uma quantidade muito grande de enunciados. A questão crucial é o que fazer? Que metodologia construir para superar essa situação? Como já vimos, há diferentes concepções sobre essa situação, por isso, se faz necessário recuperálas sinteticamente, em forma de quadro, como também os objetivos, a visão de sujeito e de língua, defendidos por elas. Lembramos que tais concepções se fundamentam essencialmente na lingüística e servem de base para uma escolha metodológica. Vamos à síntese, no quadro abaixo. Quadro 3 - Concepções Educacionais de Surdez ORALISMO Objetivo: Concepção do sujeito: Concepção de língua: COMUNICAÇÃO TOTAL BILINGÜISMO Utilizar a língua oral, Utilizar a língua oral Utilizar a língua de sinais proibindo o uso da Língua simultaneamente à Língua de e a língua oral/ escrita em de Sinais. Sinais. situações diferenciadas. Os/as surdos/as devem ser agentes da comunicação oral, não têm identidade própria. Os/ as surdos/as começam a ser respeitados/as, mas a Língua de Sinais e a Língua Portuguesa são adulteradas para atender ao objetivo de ensino da língua oral. Os/as surdos/as constroem sua identidade na interação social. Há respeito pela língua deles, que é considerada a língua natural ou materna. A língua é vista como expressão do pensamento da comunidade ouvinte. O surdo não fala, por isso não tem pensamento próprio. A língua é o meio de comunicação. É o código, o que importa é o aprendizado da estrutura da língua. É criada uma estrutura artificial com fins pedagógicos. A língua é o meio de interação social. A língua de sinais tem status de língua da cultura surda. É preciso deixar claro que estas concepções expressam uma metodologia de ensino. No entanto, mesmo sem perceber, toda concepção educacional é norteada por uma determinada concepção. Quanto à metodologia do ensino de língua, ela é erroneamente pautada no ensino de fonemas ou de palavras, concebendo o texto um aglomerado de palavras, em que cada uma traz um significado isolado. O juntamento de todos esses UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 63 EDUCAÇÃO INCLUSIVA significados daria o significado do texto, com um agravante, este é o algo muito distante de ser trabalhado na educação de surdos/as. Eles e elas devem receber em doses pequenas os fonemas, dos mais simples, os que têm relação biunívoca fonema letra, para os mais complexos, que devem ser repetidos, ininterruptamente, para serem assimilados, e o máximo a ser alcançado é uma frase simples, que deve, no ano seguinte, ser repetido novamente. Os conteúdos “tradicionais” são colocados no currículo, mas dependentes da aquisição do vocabulário, repetidos incansavelmente em diversas aulas para serem assimilados e respondidos em uma prova, geralmente de marcar ou de completar sentenças, isso tudo dissociando fala de escrita, como se a escrita pudesse se manter sozinha. Aliás, quando não é aquisição de fonema e de palavras, o ensino é de aprendizagem da escrita de frases, sem necessidade de relacionar fala-leitura-escrita. A luta das professoras (a maioria é mulher) é manter a atenção e controlar o comportamento, facilmente eles e elas dispersam e não conseguem assimilar este ensino mecânico de forma nenhuma, é preciso atenção redobrada, algo difícil de conseguir em uma criança e muito menos em um adolescente, já cansado dessa situação sem sentido e cansativa. A saída é o abandono da escola. Os adolescentes da classe empobrecida, e até aqueles com maior poder aquisitivo, partem para outros objetivos, como o emprego é difícil, tomam coragem e vendem produtos que fazem alusão a surdez, no interior dos coletivos ou na rua. Os mais ousados partem para viagens, sempre vendendo, se tornando andarilhos (econtram-se muitos nos terminais e no interior de coletivos interestaduais). A síntese deste cenário, quanto ao ensino de surdos/as, pode ser assim: 1) partir da aquisição dos fonemas, um a um, para depois, progressivamente, se compor palavras e frases, ocorre predominantemente na concepção oralista; 2) partir da aprendizagem de estruturas formais (frases), compostas pela junção do português com os sinais, como ocorre na concepção comunicação total; 3) partir dos gêneros textuais. Atividade 4 QUESTÕES GERADORAS DO DEBATE 1) como seria uma metodologia crítica que considerasse o surdo bilíngüe? ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 64 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 5.6 - AGORA VOCÊ VAI FICAR FASCINADO COM A LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS LIBRAS O QUE É LIBRAS? A Língua Brasileira de Sinais é uma modalidade de língua vísuo-espacial, é a língua natural do surdo, símbolo por excelência da surdez (BRITO, 1993). Foto 1: Professora surda ensina Língua de Sinais para crianças surdas em turma de alfabetização. Fonte: arquivo da escola QUAL A DIFERENÇA PORTUGUESA? · · ENTRE A LÍNGUA DE SINAIS E A LÍNGUA A Língua de Sinais é uma modalidade de língua vísuo-espacial. A Língua Portuguesa é uma modalidade de língua oral-auditiva. VOCÊ SABIA QUE NO BRASIL HÁ DUAS LÍNGUAS DE SINAIS? · · A Língua de Sinais usada pelos índios Urubus-Kaapor, na Floresta Amazônica (LSKB). A Língua Brasileira de Sinais utilizada pelas comunidades surdas (LIBRAS). UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 65 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Foto 2: Atividades Pedagógicas na U.E.ES Prof. Astério de Campos Fonte: arquivo da escola Atividade 5 Registre, aqui, o conceito de Língua de Sinais. Em seguida, faça a diferença entre a Língua de Sinais e a Língua Portuguesa. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ COMO SURGIU A LÍNGUA DE SINAIS? O reconhecimento da Língua de Sinais Brasileira, como uma língua, requereu muita luta da comunidade surda, representada pela Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos FENEIS, pois alguns teóricos da linguagem não admitiam a existência de uma língua sinalizada. Essa negação, resulta de muitos mitos, entre os quais a crença na idade média, que os surdos não teriam acesso à salvação, de acordo com Paulo, na Epístola aos romanos por que, segundo este apóstolo, a fé provém de ouvir a palavra de Cristo. Atribui-se, assim, um status inferior às línguas de sinais, já que a linguagem plena era oral. O primeiro acadêmico a tentar lidar com a Língua de Sinais foi o estudioso da psicologia étnica Willian Wundt, em meados de 1911. De acordo com Ferreira-Brito (1993), referências científicas sobre a língua de sinais datam de 1957, com William C. Stokoe, que, em 1960, reconhece a LIBRAS como uma língua, nos Estados Unidos. Pesquisas recentes revelam que, quanto mais cedo, na tenra idade, uma criança surda for exposta à Língua de Sinais, a aplicação das suas habilidades lingüísticas será semelhante a de uma criança ouvinte postulado este que rompe com a crença do déficit cognitivo da abordagem oralista. 66 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA VEJA A LEGISLAÇÃO RECENTE DA LÍNGUA DE SINAIS NO BRASIL A regulamentação da legislação sobre a Língua de Sinais no Brasil, ressentia-se da ausência de políticas de institucionalização da mesma nos meios acadêmicos. O Decreto de Nº 5626/2005 que regulamenta a Lei de Nº 10.436/2002, e a emergência e expansão de uma série de iniciativas da comunidade surda, alimentadas por crescentes pesquisas na área em diversas instituições, possibilitaram a efetivação do referido preceito legal que, em linhas gerais assegura. · Inclusão da LIBRAS como disciplina obrigatória nos cursos de Licenciatura: pedagogia, fonoaudiologia e optativa nos demais cursos; · Implementação do curso de letras com habilitação em LIBRAS; · Formação de tradutores intérpretes de LIBRAS e Língua Portuguesa; · Formação de professores bilíngües. Atividade 5 Professor, com certeza você já sentiu vontade de aprender LIBRAS. Procure a comunidade surda do seu município e organize um curso de LIBRAS na sua escola. Convide professor surdo para ministrar o Curso ou um professor ouvinte, fluente em LIBRAS. Todos irão adorar! No espaço abaixo, registre os encaminhamentos necessários para a realização do Curso. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 67 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 5.7 - PROFESSOR, VAMOS FALAR UM POUCO DO PROFISSIONAL INTÉRPRETE DE LIBRAS Foto 3 - Professora Intérprete de libras. Com o advento da Língua de Sinais flui a necessidade do profissional intérprete, no caso do Brasil, o intérprete de LIBRAS Língua Portuguesa, para mediar a comunicação entre surdos e ouvintes. Em Belém, já é realidade, embora de forma incipiente, a presença desse profissional nas escolas especiais, igrejas, instituições de Educação Superior, na associação de surdos, conferências, Fonte: arquivo da escola seminários e outros. Que legal! E qual o papel do intérprete? Realizar a interepretação da língua falada para a língua sinalizada e vice-versa (Quadros, 205). Como em qualquer profissão, exige que sejamos éticos. Com o intérprete não é diferente, ele deve atentar para: confiabilidade (sigilo profissional), imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não interferir com opiniões próprias), discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu envolvimento durante a atuação), distância profissional e fidelidade (não pode haver interferências sobre o assunto). No Brasil, atualmente, há uma política de institucionalização da LIBRAS e conseqüentemente do tradutor intérprete, entretanto, percebe-se muitas dificuldades para a aceitabilidade desse serviço. O processo de inclusão escolar de alunos surdos no ensino regular deve assegurar, prioritariamente, a presença do tradutor e intérprete de LIBRAS e Língua Portuguesa na sala de aula. Aqui vai uma dica para você, professor! Você pode se tornar um intérprete. Em Belém, procure o Centro de Apoio ao Surdo CAS e/ou Universidade do Estado do Pará CCSE. Assegure o direito de acessibilidade comunicacional das pessoas surdas! Para você ampliar seus conhecimentos acerca do assunto exposto, acesse o site: http://www.feneis.com.br e conheça mais sobre o intérprete de LIBRAS. 5.8 - A EDUCAÇÃO DA PESSOA SURDA NO PARÁ No Pará, há duas escolas especializadas em educação de surdos: o Instituto Felipe Smaldone e a Unidade Educacional Especializada Prof. Astério de Campos, ambas vinculadas à Coordenação de Educação Especial (COEES) SEDUC. Ressalta-se que essas instituições, desde 68 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 1996, vem redimensionando o Projeto Político Pedagógico sob o paradigma da diversidade, no sentido de subsidiar as escolas regulares no processo de inclusão. Segundo dados da SEDUC, o Pará é um dos estados da Federação que mais tem incluído alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas regulares. Em Belém, já são 45 escolas Pólos de inclusão escolar da SEDUC, podemos citar como referência em inclusão de estudantes surdos as seguintes instituições: E.E. Vilhena Alves, E.E. Jarbas Passarinho, E.E. Barão do Rio Branco, E.E. Paulino de Brito, E.E. Professora Anésia, E.E. Tiradentes, E.E. Presidente Costa e Silva, esta última é a pioneira no Pará. Uma das dificuldades nesse processo de inclusão de pessoas surdas são as divergências sociolingüísticas entre o educador ouvinte e o educando surdo. Pesquisa realizada para um trabalho de conclusão de curso (TCC), de alunos do Curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Pará, concluiu que: os alunos surdos têm acesso ao conhecimento através das salas de recursos, ou seja, por professores especializados; o estudo revelou também um avanço notório em relação ao fato de todos os docentes querem aprender a língua de sinais, e acreditarem na inclusão desta língua no currículo da escola regular. Uma surpresa: os sujeitos surdos não querem voltar para a escola especial de onde são oriundos, manifestaram, sim, o desejo de todos os docentes dominarem a LIBRAS, pontuaram as aulas expositivas, e por isso, se ressentem da falta de intérpretes nas aulas. Mesmo com todas as questões citadas, é importante frisar que a Educação do Surdo no Pará deu um salto qualitativo com a implantação do Curso Pré Vestibular Inclusivo, posto que até o ano de 2002, eram apenas dois surdos com nível superior, com a implantação do referido curso, cujo objetivo é promover o acesso à educação superior das pessoas com necessidades educacionais especiais, pautado numa abordagem educacional bilíngüe, segundo as estatísticas da U.E.Es. “Prof. Astério de Campos” atualmente já são 70 alunos inseridos no nível Superior, distribuídos nos cursos de Pedagogia, Arquitetura, Design Interior, Licenciatura em Letras, Matemática, Biologia, Ciências da Computação e Ciências Contábeis. Esse total inclui graduados e graduandos. Registram-se, também, alunos nos cursos de pós-graduação. Nesse aspecto as Instituições de Educação Superior tem assegurado o profissional intérprete para mediar o conhecimento aos alunos surdos. Isto posto, percebe-se que é possível incluir com qualidade, porém, se faz necessário o desenvolvimento de políticas educacionais que assegurem mecanismos pertinentes e essenciais às estratégias fomentadas pela SEDUC, no Pará, em consonância com o Ministério da Educação e Cultura, são elas: · · Formação continuada de professores sobre as políticas inclusivas, no caso dos surdos, desenvolvimento de programas de capacitação em Língua de Sinais e Língua Portuguesa com metodologia de segunda língua (L2); Orientação sobre a adoção de critérios de avaliação diferenciada, devido as UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 69 EDUCAÇÃO INCLUSIVA · · · · · dificuldades de expressão na Língua Português, segundo a norma padrão vigente; Compromisso das secretarias de educação estadual e municipal em assegurar um currículo bilíngüe para surdos; Contratação de professores surdos fluentes em LIBRAS; Contratação de profissionais intérpretes de Língua de Sinais Língua Portuguesa; Desenvolvimento de ações pelas Instituições de Ensino Superior para incluir a LIBRAS como disciplina em todos os cursos; Formação de instrutores surdos. Atividade 5 De posse do referencial teórico trabalhando nesta unidade, vamos à prática! Reúna com a equipe gestora da escola, junte-se a outros docentes e faça uma pesquisa na instituição que você atua para verificar as situações descritas a seguir e outras que você considerar relevante. Com esse levantamento, elabore um programa de formação continuada para toda a comunidade intra e interescolar. Você pode buscar parcerias com as Secretaria de Educação Estadual e Municipal do seu município. ROTEIRO DE ENTREVISTA · · · · · · · · · · · · Quantos alunos surdos tem na escola? Identifique as turmas onde estão incluídos. A escola dispõe de serviços de apoio especializado (sala de recursos, serviço de itinerância)? Os professores dominam a Língua de Sinais? Dificuldades encontradas na relação professor ouvinte aluno surdo? O aluno surdo interage com os colegas ouvintes ou prefere ficar com os colegas surdos? A Língua de Sinais é divulgada na escola? De que forma os professores avaliam os estudantes com perdas auditivas? Qual o sistema lingüístico que o aluno utiliza para se comunicar? Língua de Sinais ou comunicação oral? Qual disciplina que apresenta maior dificuldade para aprendizagem? Quais estratégias de ensino utilizadas pelos professores, aulas expositivas? Que opinião os professores tem sobre os alunos surdos? Nas linhas abaixo faça um rascunho do programa de formação continuada. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 70 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 5.9 - A INCLUSÃO DO ALUNO SURDO NAS ESCOLAS REGULARES Certamente, você vai desenvolver novas estratégias, como Foto 4 Atividades pedagógicas com alunos surdos Fonte: arquivo da escola · · · · · · · · Evitar aulas expositivas, utilizar recursos visuais: cartazes, figuras, dramatizações, lembre-se que você tem um aluno cuja compreensão de mundo é visual, imagética, iconográfica e ideovisiva; Cuidar dos avisos orais, usar sempre avisos escritos, como, por exemplo: mudanças na rotina da escola, avisos de avaliação de segunda chamada, atividades extra-classe e outros; Clarificar os comandos das questões, em uma avaliação que priorize o conteúdo em detrimento da forma; Situar o aluno surdo num grupo que lhe permita trabalhar, pois ele precisa de um colega para mediar a comunicação com os demais; Cuidar da auto-estima desse aluno, inclua-o nas atividades para que possa participar, pois este, em uma sala de aula de ouvintes é um estrangeiro; Divulgar a Língua de Sinais na escola, e assim valorizar a cultura surda, por meio de contação de histórias, brincadeiras, teatro, músicas em LIBRAS; Promover as adaptações curriculares; Convidar professores surdos, fluentes em LIBRAS, para conversar com os alunos, eles UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 71 EDUCAÇÃO INCLUSIVA · · · · · · · · · · · · · · · · 72 irão adorar! Você, agindo dessa forma, assegura o direito de acessibilidade comunicacional das pessoas surdas; Seja um educador bilíngüe aprenda a LIBRAS; Evitar deixar o aluno surdo sozinho numa turma de ensino regular, pois não terá com quem compartilhar a comunicação em sinais; Estimular os cursos de formação continuada em LIBRAS e Braille na escola onde você atua; Identificar o colega que está falando, pois em uma sala de aula, como é de rotina os trabalhos de grupo, as perguntas são freqüentes,caso contrário, ele não entenderá o contexto; Utilizar todas as formas de comunicação: gestos, sinais, desenhos, leitura labial, escrita e outros; Cuidar, pois as pessoas surdas percebem nossas emoções por meio das expressões faciais, e assim podem desenvolver um conceito negativo sobre você; Chamar uma pessoa surda acenando com as mãos, não a toque pelo braço, pois ela é muito sensível a qualquer toque; Utilizar, em sala de aula, objetos em miniatura, principalmente na educação infantil, como: animais, utensílios domésticos, roupas, brinquedos, material escolar, alimentação, entre outros; Trabalhar a caracterização por meio de vivências e confecção de álbuns, envolver a família do aluno em todas as atividades da vida diária, alimentação, higiene, rotina de uma casa ou da escola e outras; Utilizar situações reais, para as aulas serem produtivas, isto serve para qualquer aluno, principalmente para aquele que não ouve, ou que ouve com os olhos; Adicionar a campainha sonora luzes nas salas, na área e em todas as dependências da escola, pois o mundo surdo difere do mundo ouvinte, não esqueça; Ser um educador, participar do processo de transformação social e orientar os gestores para a aquisição da tecnologia surda: telefone tdd, relógio em LIBRAS e outros; O aluno surdo não pode escrever e prestar atenção ao mesmo tempo, sendo necessário que isto seja levado em conta nos momentos em que é preciso fazer apontamentos, olhar para mapas ou livros ao mesmo tempo em que se dá uma explicação; Estimular o desenvolvimento da leitura utilizando rótulos, anúncios, cartazes, televisão e situações do cotidiano; Estimular a contação de histórias em LIBRAS e Língua Portuguesa; Utilizar os recursos da informática, mas com cuidado ao dar um comando, os alunos surdos têm reclamado que os professores de informática emitem os comandos de costas para o aluno surdo; PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA · · · · · · · · · · · · · Promover as adaptações curriculares considerando as especificidades da escrita do surdo, como por exemplo, frases muito simples e curtas; as frases tem mais palavras de conteúdo (nomes e verbos) do que de função (artigos, preposições, conjunções); uso inadequado do tempo nas frases: erro de concordância de gênero, número e pessoa. Desenvolver pesquisas sobre a surdez e suas interferências na comunicação, fazer debates, trabalhos em feira da cultura, redações, cartazes com o alfabeto manual e sinais rotineiros; Evitar a utilização de rótulos, como “surdo-mudo”, “mudinho”, “doidinho”; Desenvolver o sentimento de “pertença” no aluno surdo e do grupo; Utilizar o quadro branco para fazer anotações sobre aula; Verificar se o aluno freqüenta a sala de recursos, caso contrário encaminhe-o; Manter contatos freqüentes, pessoalmente, com os professores de sala de recursos, ou por meio de uma agenda, informando-os sobre os conteúdos que o aluno está em defasagem. Antecipar o conteúdo das aulas para o intérprete e para o aluno surdo; Colocar o aluno surdo sentado na frente e ter cuidado, para quando estiver explicando o conteúdo não ficar se deslocando na sala de aula, falar de frente para o mesmo, articulando bem as palavras; Evitar usar barba e bigode, pois são empecilhos para a compreensão da leitura labial; Evitar falar mastigando chicletes, bombons ou outros alimentos; Utilizar o retroprojetor, vídeos e DVD's. Mas tenha cuidado para não deixar a sala no escuro, impedido que o surdo perceba a explicação do professor. São freqüentes as reclamações sobre a má utilização desses recursos e m salas que tem aluno surdo e gera uma angústia muito grande nesse aluno; Falar de frente e pausadamente para o aluno, Atividade 5 Chegamos ao final desta Unidade, e, com certeza, você já sabe o que vai fazer quando receber um aluno surdo em sua sala de aula. Continue pesquisando sobre essa temática. Aqui vão algumas dicas: · assista aos filmes: Filhos do Silêncio; O Milagre de Anne Sullivan; Meu Adorável Professor e Ariel. Faça uma reflexão sobre o que é ser surdo em uma sociedade ouvinte. Registre suas impressões. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 73 EDUCAÇÃO INCLUSIVA REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Salete Fábio (Org.). Desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais de alunos surdos. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2005. BAUTISTA, Rafael (Org.). Necessidades Educativas Especiais. Lisboa: Dinalivro, 1993. BARBOZA, Heloisa Helena; MELLO, Ana Cláudia P. Teixeira. O Surdo Este Desconhecido: incapacidade absoluta do Surdo-Mudo. Rio de Janeiro: Folha Carioca, s/d. BRASIL, Lei de Nº 10.436/2002. Lei da LIBRAS. Brasília, 2002. _______ Decreto Lei Nº 5626. Brasília, 2005. _______Ensino de Língua Portuguesa para Surdos: caminhos para a prática pedagógica. Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos, Vol. 1. Brasília: MEC/SEE, 2003. ______Adaptações Curriculares em Ação: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais de alunos surdos. Brasília: MEC/SEE, 2002. BRITTO, Lucinda Ferreira. Integração Social & Educação de Surdos. Rio de Janeiro: Babel, 1993. LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de; GOES, Maria Cecília Rafael de. SURDEZ: Processos Educativos e Subjetividade (Orgs.) São Paulo LOUISE, 2000. LUCHESI, Maria Regina C. Educação de Pessoas Surdas, Experiências Vividas, Histórias Narradas. Campinas, SP: Papirus, 2003. QUADROS, Ronice Muller de. O Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais e Língua Portuguesa. Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos. Brasília: MEC, SEESP, 2005. RINALDI, Giuseppe et al. (Org.). Dficiência Auditiva. Brasília SEESP, 1997 RODRIGUES, Cássio; TOMITCH, Leda Maria Braga. Linguagem e Cérebro Humano: contribuições multidisciplinares. Porto Alegre: Artmed, 2004. SKLIAR, Carlos (Org.). A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998. _______ (Org.). Educação & Exclusão. Abordagens Sócio-antropológicas em Educação Especial. Porto Alegre: Meditação, 2004. 74 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Anexo 1 O ALFABETO MANUAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 75 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Anexo 2 A LEI DA LIBRAS O PRESIDENTE DA REPUBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º. É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais LIBRAS a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria constitui um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos nas comunidades de pessoas surdas do Brasil. Art. 2º. Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e a difusão da Língua Brasileira de Sinais LIBRAS como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3º. As instituições públicas e empresas concessionárias de serviço público de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4º. O Sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, de ensino da Língua Brasileira de Sinais LIBRAS , como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais LIBRAS não poderá substituir a modalidade escrita da Língua portuguesa. Art. 5º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 24 de abril de 2002; 181º da Independência e 114º da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Presidente da República 76 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA UNIDADE VI O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: CONDUTAS TÍPICAS OBJETIVOS · Compreender a abrangência do conceito de condutas típicas; · dentificar as condutas típicas mais comumente encontradas nas escolas; · Observar as dificuldades acentuadas de aprendizagem provenientes da síndrome do autismo; · Refletir a respeito das estratégias educacionais aplicadas às condutas típicas. CONTEÚDO · · · · Condutas Típicas Autismo Orientação Pedagógica UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 77 EDUCAÇÃO INCLUSIVA APRESENTAÇÃO Prezado professor, vimos desta vez, até você, discutir as bases teóricas de mais uma das necessidades especiais, tópico de extrema importância na perspectiva da inclusão: conduta típica, e como a sua mediação, professor, poderá auxiliá-los didático-pedagogicamente na construção do conhecimento. Caminhamos para um fazer que objetiva minorar as situações de evasão, retenção e exclusão. Renovando nossos conhecimentos, nossa prática, nossa sala de aula, nossa escola, nossa comunidade e porque não dizer nossa sociedade, veremos, no reflexo desta construção, a melhoria da qualidade de ensino vivenciada por nossos alunos. Vamos juntos, professores, neste desafio e nas conquistas que estão por vir? 6.1 CONDUTAS TÍPICAS Ao iniciarmos nossa conversa, seria interessante que construíssemos nosso conceito sobe condutas típicas. Segundo o dicionário Aurélio, “conduta: procedimento, comportamento”, e a palavra “Típica: adjetivo que serve de tipo; característico.”. Dessa forma, podemos entender melhor as peculiaridades que serão apresentadas e então existentes em cada indivíduo, e em cada um dos nossos alunos em particular. São comportamentos que, muitas vezes, se revelam num contínuo, desde a simples inquietação natural em crianças até os comportamentos bizarros (como a auto mutilação), e que, na verdade, são comuns às síndromes existentes, ou seja, são comportamentos característicos, ou, ainda, são pertencentes ao quadro de condutas típicas. São estilos cognitivos peculiares a cada quadro, e determinantes na sua interação social, manifestados na escola por atitudes que tendem a dificultar as relações do aluno com o professor e/ou com seus pares, com materiais de uso coletivo e pessoal e ainda com o processo de ensino aprendizagem. Será que tenho alunos com condutas típicas? 78 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Professor, como você já observou, vários adjetivos procuram etiquetar pessoas que apresentam necessidade especial de natureza emocional, social e comportamental. Alguns alunos com condutas típicas podem não apresentar comprometimento e /ou atraso intelectual, porém vivenciam enorme dificuldade em adaptar-se ao contexto social (família, escola e comunidade). A exemplo leia, mais adiante, a história do Menino Maluquinho FIQUE ATENTO! A simples manifestação de comportamentos inadequados não é suficiente para identificar as condutas típicas, há necessidade de observação quanto ao grau de severidade. GRAU DE SEVERIDADE DURAÇÃO FREQUÊNCIA INTENSIDADE Vamos analisar um exemplo! CASO Carlos. Carlos é um garoto de 11 anos de idade, sua mãe o leva todos os dias de ônibus à escola, ele e sua mãe entraram em um ônibus lotado. Ele reagiu gritando e pulando no colo de um rapaz para que este lhe cedesse o lugar. Sua mãe observa que, todas às vezes que pega o ônibus lotado, Carlos reage desta forma durante todo o trajeto, obrigando-a, por vezes, a descer do ônibus. No exemplo, observamos: R INTENSIDADE: reação de Carlos gritando e pulando no colo das pessoas ao subir para o ônibus lotado; R FREQUÊNCIA: repetição dos comportamentos diante das mesmas situações; R DURAÇÃO: proporcional ao tempo que Carlos permanece na situação. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 79 EDUCAÇÃO INCLUSIVA (15 minutos) AGORA PROFESSOR É A SUA VEZ! Atividade 1 Crie ou faça um breve relato de uma situação acontecida, enfocando comportamento sugestivo de condutas típicas. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ________________________________________________________________ Na década de 90, a Secretaria de Educação Especial do MEC (SEESP, 1994) adotou a definição “Condutas Típicas, considerando-as como síndromes e quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos, que ocasionam atrasos no desenvolvimento e prejuízos no relacionamento social, em grau que requeira atendimento educacional especializado”. Alunos com condutas típicas podem apresentar: 80 · Neuroses: alterações emocionais, caracterizadas por respostas inadequadas, excessivas e não usuais a situações da vida cotidiana. Entre as reações neuróticas estão os fenômenos como a ansiedade, a irritabilidade, as fobias, a depressão e a insegurança. A pessoa tem plena consciência da realidade, mas, às vezes, não consegue evitar que estas reações ocorram. · Psicoses: casos mentais mais graves, caracterizado por um comportamento inadequado e estranho, não relacionado com as circunstâncias do mundo real. A pessoa perde a noção de realidade e seu comportamento se desorganiza, passando a gravitar em torno de situações imaginárias. Apresenta crises (situações momentâneas) de alterações na percepção, tais como ilusões e alucinações, e alterações no pensamento como os delírios. PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Manifestações das condutas típicas: 1. Quadros psicológicos temporários: mudanças no comportamento habitual, decorrentes de determinadas circunstâncias. Ex: chegada de um irmãozinho, morte de algum parente ou de animal de estimação, conflitos familiares freqüentes, ou situações que possam gerar o acúmulo de tensão suficiente para reações adversas à adaptação escolar. 2. Quadros neurológicos, psicológicos complexos ou psiquiátricos: são aqueles que persistem, mesmo com as intervenções clínicas, educativa e/ou sociais, exigindo atenção intensiva e duradoura. 2.1 Neurológicos: apresentam, como principal conduta, a falta de atenção e a hiperatividade. 2.2 Psicológicos complexos: dificuldades emocionais persistentes que geram atitudes de medo, agressividade e isolamento. 2.3 Psiquiátricos: caracterizam-se por manifestações que afetam as relações De acordo com Stainback & Stainback, os padrões comportamentais característicos das Condutas Típicas, e mais comumente encontradas, nas salas de aulas, são os que seguem. Déficit de atenção Os alunos com esta característica tendem a ter dificuldades de atentar a estímulos relevantes de uma situação e/ou não conseguem manter a atenção neles, de acordo com o tempo requerido pela atividade. Basicamente a dificuldades se encontra na concentração para execução das atividades. Hiperatividade Apresentam uma constante habilidade e agitação motora, alunos, com esta característica, possuem baixo controle de seu comportamento motor, de acordo com as diversas situações do cotidiano. Impulsividade É característica, deste comportamento, dar respostas espontâneas e instantâneas perante UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 81 EDUCAÇÃO INCLUSIVA uma situação estímulo. Em geral, não param para pensar, refletir, analisar, situações vivenciadas, tomar decisões e então se manifestar por meio de atitudes e falas intempestivas. Alheamento Observam atentamente o que a ocorre com outras pessoas, a exemplo dos alunos que não iniciam contato verbal, ou ainda não demonstram interesse pelos acontecimentos ao seu redor. Também, podem, apresentar falta de contato com a realidade, parecendo viver e um mundo próprio e imaginário. Agressividade física e/ou verbal São ações destrutivas, direcionadas ora si próprio, a outras pessoas ou a objetos do ambiente. São exemplos: gritar, xingar, ameaçar, agredir etc.. Professor, lembre que, em todos os comportamentos, apresentados acima, devem ser observadas: intensidade, freqüência e duração, sugerindo intervenção e/ou encaminhamento/acompanhamento, quando tais comportamentos ultrapassam o esporádico, o focal e passageiro. Segundo Silvaz (2003), Déficit de Atenção, Hiperatividade e Impulsividade podem estar associados, constituindo o que se denomina de Distúrbio de Déficit de Atenção, Hiperatividade e Impulsividade DAH/I. O DSM IV utiliza-se da nomenclatura de Transtorno de Défict de Atenção, Hiperatividade e Impulsividade TDAH/I. Então, recapitulando. Estudamos que, a partir da definição do SEESP, o aluno com Condutas Típicas é aquele que se comporta de modo considerado pouco apropriado no espaço escolar. É comum ouvir nas escolas: “O aluno faz o que o professor pede para não fazer, e não faz o que o professor gostaria que fizesse.” De um certo modo, todos os alunos têm esta atitude de vez em quando. Contudo, o que diferencia o aluno com condutas típicas é a intensidade e a presença freqüente de 82 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA comportamentos que vão a extremos: ou são muito agressivos, ou são passivos. Gritam muito ou nada dizem. São muito eufóricos ou muito deprimidos. Possuem uma dificuldade para aprender que não pode ser explicada por fatores intelectuais ou sensoriais. Apresentam comportamentos ou sentimentos pouco apropriados para as situações cotidianas. Entre todos estes casos estão incluídos os alunos com neuroses e psicoses, assim como, também, com autismo, grupo no qual nos deteremos mais adiante. AMIGO PROFESSOR, VOCÊ JÁ OUVIU FALAR DE DDAH/I OU TDAH/I? VOCÊ CONHECE A HISTÓRIA DO MENINO MALUQUINHO? Era uma vez um menino maluquinho... Ele era muito sabido. Ele sabia de tudo, a única coisa que ele não sabia era como ficar quieto, seu canto, seu riso, seu som, nunca estavam onde ele estava.... Um dia, num fim de ano, o menino maluquinho chegou em casa com uma bomba: _ “Mamãe, tou aí com uma bomba”. Mas, aí, o menino explicou: "A bomba já explodiu, gente. Lá no colégio.”.... Às vezes, sem qualquer ordem do papai ou da mamãe, se trancava lá no quarto e estudava, e estudava e voltava do colégio com as provas terminadas, tinha dez no boletim que não acabava mais. E ele dizia contente: - só tem um zerinho aí, num tal de comportamento! UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 83 EDUCAÇÃO INCLUSIVA O menino Maluquinho é um personagem da literatura, criado por Ziraldo, que conta a história de um menino que possuía, na infância, um comportamento com características de agitação motora, impulsividade, baixa atenção/concentração, mas era muito, muito inteligente e FELIZ. E você, Professor, conhece alguma história parecida? Que tal contar, ao grupo, a forma como administrou a situação? Atividade 2 (20 minutos) MÃOS A OBRA! Caso não tenha vivenciado a experiência, crie uma história, sugerindo a(s) forma(s) de intervenção (20 minutos). ______________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Determinantes das condutas típicas A humanidade produziu inúmeras e diferentes explicações para os comportamentos que intrigam e desconcertam as pessoas, por sua atipia e pelo prejuízo que causam, seja a quem os emite, seja a quem os recebe. Assim, encontramos desde as explicações de cunho metafísico, como a possessão demoníaca, até as explicações cientificas mais recentemente desenvolvidas. Segundo Hardman et al (1993), as causas variam de acordo com as bases teóricas que lhes servem de referência. § CAUSAS BIOLÓGICAS: a herança genética, as anormalidades bioquímicas, as neurológicas e as lesões no sistema nervoso central. § CAUSAS FENOMENOLÓGICAS: conhecimento equivocado sobre si mesmo, uso inadequado de mecanismos de defesa, sentimentos, pensamentos e eventos subjetivos. § CAUSAS PSICOLÓGICAS: os processos psicológicos, o funcionamento da 84 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA § § mente (id, ego e superego), as predisposições herdadas (processos instintivos) e experiências traumáticas na primeira infância. CAUSAS COMPORTAMENTAIS: eventos ambientais, tais como: falha na aprendizagem de comportamentos: adaptativos, aprendizagem de comportamentos não adaptativos e o desenvolvimento de comportamentos não adaptativos por circunstâncias ambientais estressantes. CAUSAS SOCIOLÓGICAS: a rotulação, a transmissão cultural, a desorganização social, a comunicação destorcida, a associação diferencial, e interações negativas com outras pessoas. É HORA DE PASSARMOS ADIANTE. VAMOS CONHECER AGORA UM POUCO SOBRE AUTISMO? 6.2 ALUNOS COM AUTISMO Caro professor, começaremos, agora, a compreender um pouco a respeito de alunos que apresentam dificuldades acentuadas de aprendizagem, decorrentes da Síndrome do Autismo. Historicamente, estudar sobre autismo sempre foi uma tarefa instigante. A compreensão das peculiaridades de um autista, o respeito a o seu ritmo próprio, a garantia de acesso à escola comum e apoios especializados é o caminho para a construção da cidadania destes alunos. PROFESSOR, VOCÊ É PARTE DESTA CONSTRUÇÃO! Comportamentos bizarros? Repetitivos? Interpretações literais dos fatos? O que isto tem a ver com autismo? UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 85 EDUCAÇÃO INCLUSIVA O autismo não é uma síndrome nova, segundo Brito (1996), existem citações de registros na história antiga da medicina sobre autismo, e, na história antiga da Rússia, há registros a respeito da influência do autismo sobre a política e a religião local. Brito (1996) nos apresenta o relato do historiador Horácio W. Dewey sobre os “Bobos abençoados na velha Rússia”, que divertiam, intrigavam e afrontavam as pessoas, com seu comportamento por vezes bizarro e repetitivo e suas interpretações literais dos fatos. Essas características de comportamento dos “Bobos abençoados” podem ser sugestivas do autismo. Os primeiros estudos sobre autismo foram realizados por dois médicos Austríacos: em 1943, por Léo Kanner, e em 1944, por Hans Asperger. Ambos observaram crianças. O primeiro descreveu casos com inúmeras dificuldades acentuadas, enquanto o segundo descreveu crianças que tinham uma originalidade particular de pensamento e experiência, que podiam muito bem levar a conquistas excepcionais na vida adulta (SACKS, 1995), conforme Quadro 1 que segue. Quadro 1 idade/tipo e autor CRITÉRIOS IDADE FALA AUTISMO ASPERGER - de 30 meses, presença de + de 3 anos. aspecto(s) da tríade. C o m p r o m e t i m e n t o d o Desenvolvida na idade b a l b u c i o , d é f i c i t d e normal. linguagem. ALTERAÇÕES Inversão pronominal, Inversão pronominal, ecolalia. linguagem pedantes, repetitivas. DESENVOLVIMENTO SOCIAL Falha na reciprocidade e Falha em entender regra resposta social, poucos que controla conduta jogos cooperativos. social. CARACTERISTICAS Jogos poucos imaginativos, T e m a s r e p e t i t i v o s , preocupações não usuais, preocupações intensas rotinas rígidas. podem ser criativas. Autismo, segundo o guia prático da Associação de Amigos do Autista AMA, é uma síndrome definida por alterações presentes, desde idade muito precoce. As crianças, em geral, apresentam características normais, contudo, antes dos três anos de idade, os comportamentos do autismo aparecem. Também é definido como inadequacidade do desenvolvimento que se manifesta de 86 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA maneira grave por toda a vida. É incapacitante e aparece tipicamente nos três primeiros anos de vida. Acomete cerca de 20 entre cada 10 mil nascidos e é quatro vezes mais comum em meninos que em meninas. È encontrado em todo o mundo e em famílias de qualquer configuração racial, étnica e social. Não se conseguiu, até o momento, provar nenhuma causa psicológica no meio ambiente dessas crianças que pudessem causar a doença. Os sintomas são causados por disfunções físicas no cérebro, e verificadas pela anamnese e/ou observação do comportamento (Sociedade Americana de Autismo ASA). PRESTE ATENÇÃO! O autismo não é uma condição de “tudo ou nada”, mas é visto como um continuum que vai do grau leve a dificuldades mais acentuadas. Atividade 3 Vamos lá, você está indo bem! Na definição da ASA, que você acabou de ler, na página anterior, fala-se de inadequacidade do desenvolvimento. Para você, professor, o que significam as palavras: Inadequacidade:_____________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Crescimento:________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Desenvolvimento:____________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ A seguir, apresentaremos, no Quadro 2, os quatorze critérios diagnósticos, citados por diversos autores e que facilitam o entendimento dos comportamentos peculiares a grande parte de UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 87 EDUCAÇÃO INCLUSIVA crianças autistas. Quadro 2: Critérios diagnósticos de Clancy; Dugdale; Rendle-Short (1969) 88 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Atividade 4 Desta vez, vamos dividir nossos conhecimentos com outros colegas e construirmos um pequeno texto (TEXTO I) que ilustre a diferença entre CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO. Você deve continuar com o mesmo grupo e, agora, definir, em um pequeno texto (TEXTO II) como vocês conceituariam e/ou exemplificariam, o desenvolvimento adequado e uma inadequacidade do desenvolvimento. TEXTO I____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ TEXTO II___________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ MUITO BEM! COM CERTEZA VOCÊS DERAM UM SHOW! É importante lembrar que as características autísticas são iguais em qualquer parte do mundo. Mesmo com semelhanças, cada autista é uma pessoa diferente, com vivências e origem familiar diferentes, assim como cada um de nós! Vamos observar, a seguir, algumas características relacionadas ao desenvolvimento de pessoas com autismo, no Quadro 2, por faixa etária. Quadro 2 0 a 06 meses Não nota a chegada ou saída da mãe; Custa a responder a sorrisos, ou simplesmente não responde; Não levanta os braços para ser pego no colo, como faz a maioria das crianças aos quatro ou cinco meses; Demonstra falta de interesse por objetos como chocalho, brinquedos de borracha, etc.; Reage de maneira exagerada a sons; Começa a balbuciar e a falar mais tardiamente. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 89 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 06 a 12 meses Rejeita alimentos sólidos, preferindo os pastosos; Brinquedos, anteriormente ignorados, podem ser jogados; Começa a sentar, engatinhar, tentar levantar e andar mais tarde; Não estranha pessoas desconhecidas, como a maioria das crianças; Fala mais tarde, com dificuldade, e em geral deixa de falar; Distúrbios de percepção ficam mais claros. O segundo e o terceiro anos de vida Busca estimulação: pode arranhar a parede ou ranger os dentes para ouvir os ruídos, desenvolve curiosidade por texturas e objetos brilhantes; Começa a apresentar estereotipias; Tende a apresentar de maneira repetitiva as atitudes de observar as próprias mãos em movimento e caminhar na ponta dos pés; Apresenta movimento de se ninar, bater a cabeça e balançá-la de um lado para outro; Pode ficar rodando por minutos, sem ficar tonta; Demonstra interesse por objetos giratórios; Tenta evitar o contato olho a olho com interlocutor; Usa a mão do interlocutor como se fosse pinça. O quarto e o quinto anos de vida A maioria dos comportamentos já referidos continua, mas se nota uma melhora, inclusive em crianças não tratadas; Começa a inverter pronomes. As crianças autistas respondem, neste caso, com a mesma pergunta que lhe fizeram, repetindo a mesma entonação e o tom de voz do interlocutor. Sexto ano à adolescência Se a linguagem não foi usada até os cinco anos, geralmente não desenvolverá mais; Os sintomas tendem a diminuir de intensidade; Melhoram as respostas a estímulos sensoriais; Podem aumentar suas crises comportamentais e hiperatividade. Idade adulta s apresentam desempenho semelhante ao do portador de necessidade especial mental, ou esquizofrênicos, ou, ainda, habilidade específica para alguma área. A TRÍADE DE DIFICULDADES COMUNICAÇÃO DIFICULDADES INTERAÇÃO 90 IMAGINAÇÃO PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Vamos conhecer alguns exemplos? § Maior facilidade em receber e transmitir comunicação, por meio da troca de cartões (FIGURAS), do que pela linguagem verbal; § Dificuldade de imitação da maioria dessas crianças e o porquê da conveniência de ensinar por meio da estrutura dos materiais ou do apoio físico, a invés de demonstração ou da comunicação verbal; § A facilidade que a maioria destes alunos tem de fixar seqüência de objetos, em contra partida em memorizar idéias em seqüência; § A dificuldade em estabelecer relações entre eventos e estabelecer generalizações; § A dificuldade, principalmente, nos três primeiros anos de vida, de aprender por exploração do ambiente ou por tentativas, o que torna necessário ensinar o “acerto”, pois, caso contrário, o aluno poderá aprender o erro; § A ausência de reações e demonstrações de afeto ou elogios de pais e professores impede, nestes alunos, o aparecimento de um mecanismo comum à maioria das crianças, o de aprender para agradar pais ou professores. A chamada tríade de dificuldades comunicação , interação social e uso da imaginação - tem como conseqüência principal, no estilo cognitivo de crianças, maior facilidade de relacionamento com o universo concreto do que com o de idéias abstratas. 6.3 ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA Professor, estes pontos são importantes para compreendermos as necessidades de nossos educandos! Nós, professores, no cotidiano de nossa sala de aula, recebemos um número de crianças cada vez mais diversificado em suas capacidades, estrutura familiar, interesses e condições sociais e econômicas. Dessa forma, caberá a nós uma parcela significativa da responsabilidade de romper com a inflexibilidade e rigidez curricular que norteiam nossas práticas dentro do espaço escolar, compreendendo que cada um possui seu próprio tempo e possibilidades dentro de seu processo de construção de aprendizagens. O desafio de educar crianças com condutas típicas representa a oportunidade de a escola aprimorar suas concepções sobre aprendizagem, desenvolvimento e avaliação. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 91 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Atividade 5 O que você compreende sobre: Aprendizagem:______________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Desenvolvimento:____________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Avaliação:___________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Segundo Zabala (1995), as aprendizagens dependem de características singulares de cada aluno, bem como suas experiências prévias, ao longo da vida, possui forma e ritmo próprios, que se modificam de acordo com as motivações e interesses de cada um. Isso significa que o professor deve conhecer o seu aluno a partir de suas experiências, valorizando suas capacidades, competências, motivações e etc. De acordo com a Psicologia do Desenvolvimento, o mesmo vale para as mudanças que ocorrem em suas habilidades motoras, habilidades em soluções de problemas, entendimento conceitual, aquisição de linguagem, formação de identidade, etc. Quando um desses fatores não está plenamente amadurecido poderá acarretar prejuízos significativos no desenvolvimento do aluno. A avaliação, no contexto escolar, deve ser compreendida como um momento de ação/ reflexão, levando sempre em consideração o desenvolvimento do aluno, a partir dele mesmo, nunca o comparando com os demais. Novamente, abordamos o desenvolvimento, reforçando o já dito, anteriormente. Queremos frisar, Professor, a necessidade de você conhecer a criança com a qual vai trabalhar. Só assim será possível elaborar o seu Plano Individual de Ensino. A compreensão desses conceitos torna-se ainda mais importante, quando, dentro de nossa sala de aula, estamos trabalhando com crianças com condutas típicas, pois, a simples garantia do DIREITO DE APRENDER JUNTOS, independente de suas dificuldades e diferenças, necessitam da complementação de um apoio educacional para a garantia de uma educação eficaz. 92 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Os alunos com condutas típicas necessitam de serviço de apoio especializado? Não só o aluno com condutas típicas, mas todo aluno que apresente necessidades educacionais especiais. Atividade 6 Que tal fazermos uma reflexão? Quais os apoios existentes em sua escola? Em seu município? Discuta com seus colegas e escreva nas linhas abaixo. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ JÁ ESTÁ ANOITECENDO! Em Belém do Pará, a Coordenação de Educação Especial (COEES)/SEDUC desenvolve Projeto de Intervenção Psicopedagogia Precoce, para atendimento a crianças na faixa etária de 02 a 07 anos, conforme Foto 5. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 93 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Foto 6: Crianças em atendimento Fonte: arquivo da escola Este trabalho, realizado por equipe multidisciplinar, .composta por psicólogas, pedagoga e psicopedagoga, prioriza a independência nas AVDS, a relação interpessoal e a imaginação/criatividade, para resolução de situações problemas, comunicação e alguns conceitos básicos da Educação Infantil. O atendimento à criança é semanal, com duração de uma hora cada sessão; bimestralmente há reuniões/oficinas, com os pais, e, semestralmente, há atividades com crianças e familiares fora do espaço de atendimento (praias, clubes museus, bosques, praças e etc..), Foto 7. Foto 7: Confraternização natal/2005 pais, crianças e professores Fonte: arquivo da escola 94 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Tipos mais usuais de intervenção Existem vários métodos que visam proporcionar, ao aluno com condutas típicas, o desenvolvimento de sua independência e potencialidade, facilitando, assim, o seu convívio com o meio que o cerca. A estrutura, a organização, a previsibilidade e a comunicação visual, geralmente fazem partes desses métodos. Esses tipos mais usuais de intervenção vêm sendo adaptados no Brasil, a fim de estruturar o apoio pedagógico ao ensino comum, apontando caminhos para a flexibilização curricular, e a individualização do ensino quando necessário. PROFESSOR, CONHEÇA, A SEGUIR, ALGUNS MÉTODOS! A) TRATAMENTO E TRADUÇÃO PARA CRIANÇAS AUTISTAS E COM DISTÚRBIOS CORRELATOS DA COMUNICAÇÃO TEACCH O TEACCH, Foto 4, foi desenvolvido nos anos 60, no Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Norte, Estados Unidos, e atualmente é muito utilizado em vários países do mundo. Foto 8: Tratamento e Tradução para Crianças Autistas e com Distúrbios Correlatos da Comunicação TEACCH. Fonte: arquivo da escola O método utiliza uma avaliação chamada Perfil Psicoeducacional Revisado - PEP-R, para avaliar a criança, levando em conta os seus pontos fortes e suas maiores dificuldades, tornando possível um programa individualizado. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 95 EDUCAÇÃO INCLUSIVA O TEACCH baseia-se na organização do ambiente físico pelas rotinas-organizadas em quadros, painéis, ou agendas e sistemas de trabalho, de forma a adaptar o ambiente para tornar mais fácil para a criança compreendê-lo, assim como compreender o que se espera dela. Por meio da organização do ambiente e das tarefas da criança, o TEACCH visa desenvolver sua independência nas atividades estruturadas, de modo que ela necessite cada vez menos da presença física do professor para conduzir o aprendizado. B) ANÁLISE APLICADA DO COMPORTAMENTO ABA O tratamento comportamental analítico de pessoas com condutas típicas visa ensinar a criança habilidades que ela não possui, pela introdução destas habilidades por etapa. Cada habilidade é ensinada, em geral, em esquema individual, inicialmente apresentandoa associada a uma indicação ou instrução. Quando necessário, é oferecido algum apoio (como, por exemplo, apoio físico), que deverá ser retirado tão logo seja possível, para não tornar a criança dependente dele. A resposta adequada do aluno é tida como conseqüência de algo agradável para o mesmo, o que na prática é uma recompensa. Quando a recompensa é utilizada de forma consistente, a criança tende a repetir a mesma resposta. O primeiro ponto importante é tornar o aprendizado agradável para o aluno, o segundo ponto é ensiná-lo a identificar os diferentes estímulos. C) CURRÍCULO FUNCIONAL Desenvolvido por Judith M. Le Blanc, e Liliana Mayo, o Currículo Funcional é bastante considerado no atendimento a autistas. É fruto de estudos realizados na Universidade do Kansas (EUA), junto ao Centro de Educação Especial Ann Sullivan (San Miguel, Lima Peru) e à Universidade Peruana Cayetano Heredia. Atualmente, está sendo aplicado no Brasil, Argentina, Alemanha, Japão e Estados Unidos. No Brasil, destaca-se o trabalho da AMA, de Ribeirão Preto - São Paulo. Esse método compreende, por currículo, as matérias constantes de um curso e, por funcional, as execuções que se têm em vista atender, antes de tudo o fim prático. O currículo funcional tem como meta principal oferecer aos alunos com dificuldades significativas de dependência, sobretudo as com autismo, um programa de educação individualizado para ajudá-los a ter uma vida mais feliz e produtiva, com respeito as suas capacidades individuais, oportunizando independência, produtividade e principalmente felicidade. Ao selecionar um objetivo de trabalho, questiona-se a sua funcionalidade, se este respeita as necessidades cronológicas da criança/ adolescente, se facilita outras aprendizagens, propicia maior integração. 96 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Sabe-se que a aprendizagem funcional promove o aumento das habilidades, da autoestima, da aceitação na família e, conseqüentemente, uma diminuição de comportamentos pouco adequados ao convívio na escola ou na comunidade. Os objetivos acadêmicos são abordados, na medida em que há compreensão de que os alunos são capazes de, por exemplo, dar o dinheiro correto para as coisas que desejam comprar, pois serão menos dependentes dos demais em seu ambiente. Deste modo, a matemática tem lugar importante no currículo. Assim como a matemática, a escrita, a leitura ou qualquer outro código de comunicação também faz parte dos objetivos acadêmicos. Todos os objetivos serão selecionados pelos professores e técnicos da escola em conjunto com os pais e se possível com o próprio aluno. Professor, como você já percebeu, a aprendizagem de grande parte dos alunos com Condutas Típicas se constroem a partir do concreto. Desta forma, sugerimos que os objetivos sejam traçados tomando por base a vivência dos alunos e os conteúdos estudados. Sendo assim se tornará mais fácil ao aluno, que está aprendendo, por exemplo, o estado físico da água, sentir o gelo, tocar na água , concretizar sua passagem do estado sólido ao líquido e vice- versa, relacionar o assunto estudado na sua vida prática , saber a utilidade do conhecimento adquirido para o seu dia a dia , bem como ter ilustrações que representem o conteúdo (veja ilustrações ) a seguir. 1º Passo 2º Passo 3º Passo 4º Passo Chegou o momento de utilizarmos em nossa sala de aula, as sugestões apresentadas neste módulo. Então, vamos lá, mãos na massa! Todos os métodos estudados podem ser adaptados a sua realidade e necessidade, valorizando a individualidade de cada aluno. Ao seu(s) aluno(s) com Condutas Típicas (real ou fictício), realize a aplicação de um dos métodos estudados. Não esqueça de registrar o seu objetivo, o desenvolvimento de seu aluno, no decorrer das atividades, bem como o(s) resultado(s) que ele alcançou. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 97 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Em seguida, utilizando o exemplo anterior, vamos sugerir como trabalhar pela interdisciplinaridade. Sua tarefa continua sendo a de acompanhar e elaborar o registro de sua ação e do aproveitamento que agora deve ser da turma. Atividade 7 É ATÉ AGORA TUDO BEM! MAS COMO FAZER? 1º Passo: pergunte aos seus alunos se eles conhecem o chopinho, normalmente vendido nas portas das escolas. Caso a resposta seja negativa, leve-os até a frente da escola ou outro ponto de venda, isto é, leve-o para o concreto e apresente-os ao produto. Se a resposta for positiva fica mais fácil . É interessante observarmos que, em cada região, o produto recebe um nome (din-din, suquinho, sacolé etc..). 2º passo: como atividade de casa, peça que eles façam um suco de sua preferência, adocem, coloquem em um saco plástico de tamanho pequeno, amarrem o saquinho e em seguida coloquem no congelador para congelar (endurecer). A tarefa concluída deverá ser apresentada no dia seguinte. A partir desta atividade realizada, você poderá trabalhar em sua sala de aula de forma interdisciplinar: Ao aluno autista, você poderá utilizar o método TEACCH, para o passo a passo na execução das tarefas solicitadas. É NECESSÁRIO TRABALHAR EXATAMENTE ESTES CONTEÚDOS? Professor, as sugestões apresentadas, aqui, podem ser modificadas de acordo com a realidade e /ou interesse de sua turma. Tentamos mostrar com que facilidade podemos estar explorando os conhecimentos de nossos alunos e levá-los à aquisição de novos conceitos e/ou conhecimentos, por meio de sua vivência e/ou seu cotidiano. 98 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA O que devemos sempre ter em mente é que a aprendizagem deve se dar de forma concreta, dinâmica, prazerosa, enfim de forma viva. A seguir lembramos algumas dicas: § você precisa fazer o registro das atividades sugeridas com os resultados alcançados, assim poderá avaliar se a metodologia utilizada foi eficaz, ou precisa ser revista, fica mais fácil para você aperfeiçoar os pontos de dúvidas, antes de ir em frente com a atividade; § não seja rigoroso com o tempo levado para esmiuçar a atividade, preocupe-se, sim, com a fixação dos objetivos que você quer alcançar e se a atividade está sendo prazerosa a todos os alunos, caso contrário pode haver a necessidade de fazer adaptações individuais, visto que cada aluno tem o seu interesse, seu conhecimento, ritmo e habilidades que devem ser respeitados; § mesmo que haja necessidade de você estabelecer prazos mensais, bimestrais e/ou trimestrais para os objetivos gerais e específicos, estes prazos não devem ser inflexíveis; § é importante ressaltarmos também a necessidade de atenção para o entrosamento dos grupos, visto que aprendizagem cooperativa poderá ser sua grande aliada nesta conquista; § é interessante que possamos trabalhar as relações interpessoais e comunicação desde cedo em nossa sala de aula, pois é a partir daí que surgem os conceitos de respeito, limites, regras e etc... RECOMENDAÇÕES GERAIS AOS PROFESSORES § Um dos aspectos que você professor deve compreender é a necessidade do planejamento individualizado de ensino, pois, será a partir dele que iremos definir nossos objetivos dentro das diversas áreas do conhecimento. Assim como elaborar estratégias que facilitem o processo de aprendizagem de seu aluno. § Não existe um modelo único de plano individualizado de ensino, mas devemos sempre lembrar que ele deverá valorizar as potencialidades do aluno, aquilo que ele é capaz de realizar sozinho e as atividades que deverão ser gradativamente estimuladas, a fim de propiciar os novos desafios que serão enfrentados pelo mesmo. § Os objetivos a serem traçados devem ser claros e passíveis de serem realizados pelo aluno, levando sempre em consideração o contexto e a realidade na qual o mesmo está inserido. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 99 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 100 § As aquisições acadêmicas devem ser conseqüências do desenvolvimento do aluno. Em alguns casos, o mais importante é o resgate da auto-estima, sua afetividade, convívio social e etc; § Procure trabalhar em pequenos grupos, buscando integrá-lo ao grupo. § Intercalar tarefas que o aluno domina com atividades que necessitem de um maior apoio. § Elogiar sempre os resultados positivos. § Valorizar a rotina, pois deixa o aluno mais seguro. § Repetir individualmente as informações prestadas ao grupo de forma breve e clara. § Nunca provocar constrangimento e nem desprezar o aluno. § Recompensar seu esforço e avanços com palavras e outros estímulos positivos. § Permanecer em constante comunicação com os pais e especialistas em Educação Especial. PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Encerramos este modulo com uma reflexão para você professor que já foi criança e vivenciou as dúvidas, curiosidades, certezas e pensamentos próprios da idade.Na Idade dos Porquês (Cecília Meireles) Professor, diz-me, por quê? Por que voa o papagaio Que solto no ar, Que vejo voar tão alto no vento Que o meu pensamento Não pode alcançar? Professor, diz-me por quê? Por que roda o meu pião? Ele não tem nenhuma roda E roda, roda, gira, rodopia E cai morto no chão... Tenho nove anos, professor, E há tanto mistério à minha volta Que eu queria desvendar... Por que o céu é azul? Por que marulha o mar? Tanto porquê que eu queria saber E tu, tu não queres me responder! Tu falas, falas professor Daquilo que te interessa E que a mim não interessa... Tu obrigas-me a ouvir, quando eu quero falar Obrigas-me a dizer Quando eu quero escutar Se eu vou a descobrir, Faz-me decorar... E a luta professor, A luta em vez do amor... Mas, enquanto tua voz zangada ralha, Tu sabes, professor, Eu fecho-me por dentro, Faço uma cara resignada, e finjo, finjo que não penso em nada... Mas penso! Penso em como era engraçada Aquela rã que esta manhã ouvi coaxar, Que graça que tinha Aquela andorinha Que no céu vi passar! E quando tu, depois vens definir, O que são preposições e conjunções, Quando me fazes repetir Que o coração tem dois ventrículos E duas aurículas... E tantas, tantas mais definições, O meu coração, meu coração que não sei como é feito E nem quero saber, Cresce, cresce dentro do peito, A querer saltar para fora, professor, A ver se assim compreenderias E me farias Mais belos os meus dias. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 101 EDUCAÇÃO INCLUSIVA REFERÊNCIAS ALCÚDIA, R. Atenção à Diversidade. Porto Alegre: Artmed, 2002. BRASIL, Diretrizes Nacionais Para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília: MEC/SEES, 2001. ______.Estratégias e Orientações para a Educação de Alunos com Dificuldades Acentuadas de Aprendizagem Associadas às Condutas Típicas. Brasília: MEC/SEESP, 2002. ______.Saberes e Práticas da Inclusão: dificuldades acentuadas de aprendizagem: autismo. Educação Infantil (3). Brasília: MEC/SEESP, 2004. ______.Projeto Escola Viva. Garantindo o Acesso e Permanência de Todos os Alunos com Necessidades Educacionais Especiais. Série 2: Reconhecendo os Alunos que Apresentam Dificuldades Acentuadas de Aprendizagem, Relacionadas a Condutas Típicas. Brasília: MEC/SEESP, 2002. BRITO, Heloisa H.V. Uma Menina Especial: histórias e curiosidades sobre o autismo. Belém: Grafisa, 1996. CAMARGO, Jr. et al. Transtornos Invasivos do Desenvolvimento: 3º milênio. Brasília: CORDE, 2002. FAVÉRO, Eugênia A. G. 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O Menino Maluquinho. São Paulo: Melhoramentos, 2000. 102 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA UNIDADE VII O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: BAIXA VISÃO E CEGUEIRA OBJETIVOS · Estabelecer uma relação entre baixa visão e a cegueira; · Identificar as patologias, mais freqüentes, que geram a perda total ou parcial da visão; Proporcionar conhecimentos a respeito dos recursos didático-pedagógicos necessários para o processo ensino aprendizagem e desenvolvimento global do aluno com necessidade especial visual; Fomentar a implementação de planos e projetos de intervenção educacional para estudantes com necessidades visuais em processo de inclusão escolar. · · CONTEÚDO · Conceito de cegueira e baixa visão · · · · · Classificação, causas e prevenção Perda visual e segurança psicológica A educação e a reabilitação da pessoa com perda visual Processo de reabilitação Educação profissional UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 103 EDUCAÇÃO INCLUSIVA APRESENTAÇÃO Nesta Unidade você terá oportunidade de conhecer os principais aspectos que constituem o universo do portador de necessidade especial visual. De posse desse conhecimento você pode, em sua práxis, aplicar, didático-pedagogicamente, os conteúdos disciplinares, relacionando-os com a realidade desse educando. Espera-se que a apreensão desse conteúdo propicie reflexões acerca das barreiras impostas por um sistema educacional ultrapassado, e sejam ampliadas as oportunidades de crescimento profissional, edificando mudanças necessárias para a efetivação da proposta que é preconizada, mundialmente, que assegura uma educação para a diversidade. Atividade 1: Professor (a), você já teve alguma experiência pedagógica com alunos com necessidades educacionais visuais ou conhece algum caso? Relate brevemente a experiência, projetando pontos positivos e negativos da ação docente que você achar pertinente. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 7. 1 - CONCEITO DE CEGUEIRA E BAIXA VISÃO Professor, agora que você relatou sua experiência, para que tenha melhor compreensão da sua ação perante as questões que se referem à perda visual, é necessário primeiramente que você saiba que a mesma pode ser classificada em cegueira e baixa visão. Conceitualmente, para Garcia (1998), a perda da visão é uma limitação sensorial grave, capaz de anular ou reduzir a capacidade de ver, abrangendo vários graus de acuidade visual, permitindo diversas classificações de redução visual. A pessoa com baixa visão tem alterações na capacidade funcional de ambos os olhos, apresenta dificuldades para enxergar com clareza os elementos físicos do mundo que a cerca. A 104 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA acuidade visual dessa pessoa pode apresentar-se em três níveis: leve, moderado ou severo. É importante enfatizar que o nível de acuidade pode ser influenciado por fatores ambientais inadequados. A cegueira é a incapacidade de enxergar, mesmo em condição proximal, podendo ser considerada desde a ausência total da visão, até a perda da projeção de luz, necessitando, para seu aprendizado, de recursos que não requeiram o uso da visão, como o sistema Braille e outros instrumentos de comunicação não visual. 7. 2 - CLASSIFICAÇÃO, CAUSAS E PREVENÇÃO · Classificação Organização Mundial de Saúde (OMS) apresenta, da maneira que segue, a classificação de perda visual: GRAU DE PERDA VISUAL 1 (B. V.). 2 (B.V.). 3 (Cegueira) 4 (Cegueira) 5 (Cegueira) ACUIDADE VISUAL (com ambos os olhos e melhor correção óptica possível) Máxima (Inferior a) Mínima (Igual ou superior a) 6/8 3/10 (0,3) 20/70 6/60 1/10 (0,1) 20/200 6/60 1/10 (0,1) 20/200 3/60 1/20 (0,05) 20/400 3/60 1/20 (0, 05) 20/400 1/60 1/50 (0,02) 5/300 1/60 1/50 (0,02) 5/300 Percepção de luz Não percebe luz UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 105 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Do ponto de vista clínico, a pessoa é considerada com baixa acuidade visual, quando apresenta acuidade inferior a 0,3 em seu melhor olho, e passa a ser classificada dentro das exigências da cegueira legal, quando sua acuidade visual é igual ou menor que 20/200, ou campo visual inferior a 20°. Do ponto de vista educacional, este conceito passa a ser evitado, sendo utilizado apenas para fins legais, sociais e estatísticos, pois não expressa o potencial visual necessário à execução de tarefas. Partindo desse ponto de vista, as Drªs. Faye e Barraga consideram educando cego, os que utilizam o sistema Braille, como principal veículo de comunicação escrita no processo ensino/aprendizagem e não utilizam a visão para aquisição de conhecimentos, mesmo que a percepção de luz os auxilie na orientação e mobilidade. Atividade 2: Professor(a), você saberia responder o que é o sistema Braille? ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ · Causas Os estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que, anualmente, cerca de 500.000 crianças ficam cegas no mundo. Estima-se que, destas, 70 a 80% morrem durante os primeiros anos de vida, em conseqüência de doenças associadas ao seu comprometimento visual. São várias as causas da perda visual, podendo estar relacionadas a complicações, que vão desde a formação do feto, até as desenvolvidas após o nascimento, podendo estar incluídos, nessa última, os casos em que as pessoas são acometidas por acidentes. Vamos então conhecer as causas mais freqüentes e suas patologias conseqüentes. ETIOLOGIA PATOLOGIAS Glaucoma / Catarata congênita Catarata Congênita Citomegalovírus Corioretinite/Nistagmo/alteração no fundo Toxoplasmose do olho/ Estrabismo/ erros de refração Síndrome de Usher Retinose Pigmentar Prematuridade Retinopatia Hipoxia/Anoxia/Infec. Perinatais Encefalopatias/ alterações do Sistema Atrofia óptica por problemas de parto Deficiência visual cortical Nervoso Central ou Convulsões Retinopatia Diabética/ Glaucoma/ Hereditariedade Catarata Acidentes: domésticos, Trânsito, Trabalho, Descolamento da retina, traumatismos oculares. Esporte e Agressão Física. Rubéola 106 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Devemos ficar ALERTAS, pois quando nossos alunos ou qualquer pessoa do nosso convívio passar a apresentar, com grande freqüência, tonturas, náuseas, dor de cabeça, sensibilidade excessiva à luz, visão dupla, embaçada ou turva; podemos estar diante de alguns sintomas comuns que denotam um possível problema visual. · Prevenção Falamos dos conceitos, classificações, causas, sintomas; agora é hora de falarmos de como algumas dessas manifestações podem ser evitadas. É importante que toda mulher, em idade fértil, faça uso das vacinas contra as doenças infecciosas e que, durante a gravidez, ela faça acompanhamento pré-natal, com aconselhamento genético, para que seja garantida a saúde dela, gestante, e do bebê, evitando assim algumas complicações de origem genéticas. Assim, também como as manifestações causadas por gravidez precoce, desnutrição, drogas, álcool e infecções, que podem interromper a formação natural do bebê. 7. 3 - PERDA VISUAL E SEGURANÇA PSICOLÓGICA Conforme abordado, anteriormente, a perda visual pode ser de natureza congênita ou adquirida, portanto, possuem características distintas. O indivíduo que nasce cego é impedido de formalizar uma memória visual de elementos da natureza que não podem ser percebidos por outros sentidos a não ser pela visão, como, por exemplo, o pôr-do-sol. Já aquele que perdeu a visão após os primeiros anos de vida consegue reter na memória imagens visuais, o que poderá favorecer o seu processo de reabilitação. Entretanto, para estes, o trauma da perda visual acarreta danos psicológicos que interferem em seu processo de reabilitação, uma vez que qualquer indivíduo que perde a visão busca mecanismos psicológicos importantes de adaptação à cegueira, por melhor que seja seu equilíbrio mental. A pessoa, ao perder a visão, vivencia uma necessidade de reorganização psicológica, pois esta perda influencia em outros aspectos importantes de sua vida, como os relacionamentos sociais, familiares e pessoais. Segundo Adams apud Barczinski (2001), existem quatro fases distintas de reação à cegueira: · a descrença, momento em que a pessoa, ao tomar conhecimento do diagnóstico, tende a negá-lo, por não acreditar; · depois, o protesto, quando busca o parecer de outro(s) profissional (ais); · em seguida, se manifestam sintomas de depressão como inapetência, perda de peso, ansiedade e, finalmente, quando aceitam a perda visual, acontece o período; · de recuperação, momento em que se dá a aceitação de apoios. Vale ressaltar que, do ponto de vista psicológico, o processo de luto é importante, pois, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 107 EDUCAÇÃO INCLUSIVA quando esta fase é “queimada” ou negada, podem ocorrer reações neuróticas de desconfiança, insegurança, isolamento, dependência, acentuada necessidade de aprovação e afeto, dentre outras. Para Carroll (1968), diante da perda visual a pessoa sente-se mutilada, diferente das demais, sente que perdeu sua integridade física, suas habilidades básicas de andar sozinho, correr; que não domina mais as técnicas da vida diária como beber, comer, maquiar-se, pentear-se, barbear-se, contar dinheiro, preencher cheques; considera que perdeu sua facilidade de comunicação corporal e escrita por não ver mais os gestos, mímicas, expressões faciais, e por se sentir impossibilitado de assinar seu próprio nome, ler livros, jornais, suas correspondências. Além também de perder a visão dos rostos familiares, de sofrer discriminações sociais, pois não passa mais despercebido nos lugares públicos; sofre restrições à sua recreação e, dependendo da profissão que exerce, poderá não mais exercê-la, o que acarretará em dificuldades de prover suas necessidades básicas e de seus familiares, ocasionando sentimento de menos-valia, de incapacidade e falta de autonomia. Na maioria dos casos, ocorrem alterações na vida conjugal em conseqüência, muitas vezes, das dificuldades de aceitação do parceiro, que passa a perceber o outro como “doente”. Enfim, a perda de visão acarreta em outras perdas, o que pode ocasionar importantes conseqüências para sua auto-imagem e auto-estima, abalando seriamente a estrutura psíquica da pessoa cega. Assim, ressalta-se que os familiares também estão vivenciando uma situação nova e precisam de apoio psicoeducacional, pois, em geral, manifestam dois tipos de comportamentos que são a rejeição ou superproteção. Atividade 3: Professor(a), após o estudo deste conteúdo, faça um breve comentário sobre como você procederia com os familiares do seu aluno com necessidades educacionais visuais. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 7.4 - A EDUCAÇÃO E A REABILITAÇÃO DA PESSOA COM PERDA VISUAL A educação da criança com perda visual não pode ser diferente, mas precisa ser adaptada a sua singularidade no que se referem às habilidades a serem desenvolvidas, tanto para a aprendizagem formal e acadêmica quanto para a aprendizagem realizada pelas Atividades de Vida Prática e de Atividades de Vida Diária e Orientação e Mobilidade. 108 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Isso é válido tanto para as crianças cegas quanto para as crianças com baixa visão, considerando-se, ainda, as características pessoais e o funcionamento visual em cada patologia em diferentes indivíduos, observando-se a história sócio-cultural e a utilização dos sentidos remanescentes como o tato, o olfato, o paladar, a audição, a visão residual em diversos níveis, bem como o sentido do movimento (propriocepção) e do equilíbrio (labirinto). A intervenção precoce é vital para a criança de tenra idade e se constitui em alicerce para o seu desenvolvimento global e específico. Inicia no lar, em que a família, após orientação adequada, estimula o bebê a iniciar a utilização dos seus sentidos e a exploração de pessoas e objetos em seu entorno. Na Educação Infantil, se intensifica a exploração das habilidades motoras amplas e refinadas de todo o corpo, a exploração dos objetos, apreensão de conceitos e interação com o meio em que vive. Para tanto, é preciso desenvolver, de forma lúdica, atividades que envolvam a imagem corporal, o esquema corporal, a definição e o domínio da lateralidade, exercício da sociabilidade, e a estruturação espaço-temporal, indispensáveis para o crescimento e o desenvolvimento do ser humano e que funcionam como requisitos básicos para a aprendizagem prática, cotidiana, informal, formal e acadêmica. O período da Alfabetização constitui-se em tempo mágico de descobertas e conquistas por meio do processo de leitura e escrita e de formação de conceitos. É, principalmente, nesse período que a criança com perda visual precisa de uma educação capaz de enriquecer e ampliar suas experiências sensoriais e vivências pessoais e começar a ser exposta à simbologia Braille ou em negro (ampliada ou não), que poderá torná-la uma leitora e produtora de material impresso capaz de codificar e decodificar os símbolos gráficos, seus significantes e significados. De um modo geral, a criança com limitação visual severa ou significativa não realiza leitura incidental como as crianças sem dificuldades visuais, daí já se ter certa defasagem nas informações pela impossibilidade da estimulação visual. Portanto, precisa de uma educação compartilhada e bastante colaborativa, em que suas famílias adquiram o domínio do Braille, no caso de uma criança cega. No caso da criança com baixa visão, os familiares precisam compreender que tipo de correção óptica (para perto ou longe) deve usar, que recursos ópticos ou não ópticos são necessários, verificar se a criança precisa ou não de ampliação e qual é o tipo de letra mais adequado, enfim, conhecer o funcionamento visual de seus filhos, sendo parceiros de seus professores e auxiliares na adaptação ambiental (tipo de iluminação) e de recursos educacionais necessários a uma educação de qualidade. É possível alfabetizar uma pessoa com perda visual por qualquer método, contudo o método silábico contribui positivamente para a efetiva alfabetização, posto que, o indivíduo que apresenta limitação visual significativa faz sua exploração tátil iniciando das partes para o todo. · Alguns recursos e ações educacionais § Desenhos livres, contornos e tabelas feitas em telas de desenho ou em placas UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 109 EDUCAÇÃO INCLUSIVA § § § § § emborrachadas. Uso de material alternativo para a elaboração de material pedagógico concreto, capaz de subsidiar o aprendizado e dar suporte à assimilação de conceitos abstratos. O material concreto enriquece o aprendizado de toda a turma. Participação direta do aluno em todos os eventos sociais, culturais, esportivos e recreativos da escola; mobilidade livre e segura e comunicação adequada. Uso de reglete, punção, sorobã, máquina Perkins, papel 40 quilos, gravador, computador (softwares sonorizados como: DOSVOX (Microsoft), Braivox, Braille Fácil, Pintor Braille, o Software Letra (Leitura Eletrônica) e SINAL (Sistema Interativo de Navegação no Linux)), Circuito Fechado de Televisão (CCTV), Mapas e tabelas táteis, maquetes dentre outros. Uso de recursos ópticos: lupas de mão ou de mesa iluminadas ou não, telelupas, lupa eletrônica, telesistemas, telescópios, barra de leitura. Recursos não ópticos: filtro amarelo para contraste, caneta com ponta porosa preta, lápis 6B, papel pauta larga, prancheta para leitura, assinador, guia de leitura, luminária. Ressalta-se que o uso dos recursos tecnológicos não substitui a utilização do Sistema Braille. Quadro ao lado. Vale lembrar que: · o aluno deve sempre utilizar o seu resíduo visual, por mínimo que seja; · o professor deve preparar a turma para receber o aluno que, por causa da perda visual, não é diferente dos outros; · o professor deve posicionar o aluno em espaço adequado na sala de aula, visando o seu rendimento visual e sua aprendizagem; · o professor deve ler para o aluno cego ou com baixa visão o que está escrito no quadro; este deve ser negro ou verde, pois o quadro branco tem brilho e impede que o aluno com baixa visão leia o que está escrito; 110 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA · · · a condição visual do aluno não deve por si só causar ao educador uma baixa avaliação ou uma baixa expectativa em relação ao desempenho escolar; o professor deve, junto com os técnicos da escola e o professor itinerante, formar uma rede de apoio capaz de dar suporte às adaptações físicas, emocionais, sociais e pedagógicas, visando o acesso e a permanência do aluno no meio-ambiente escolar; o professor deve primar por um planejamento dinâmico e flexível, usar didática e estratégia adequadas a todos, criar materiais, avaliar o percurso do aluno, verificar a evolução e as competências do educando e compreender como ele vê ou percebe o mundo. 7.5 - PROCESSO DE REABILITAÇÃO O processo de reabilitação da pessoa que apresenta perda visual é constituído por um programa composto, basicamente por três pilares: Comunicação (oral e escrita), Treinamento em Orientação e Mobilidade (OM) e Atividades de Vida Diária (AVD's). Esses três tipos de atendimento que constituem a base da reabilitação necessitam de outros apoios como a Educação Física, que dá suporte físico (anatomia e fisiologia), movimentos corporais ritmados ou não, espontâneos ou dirigidos, fortalecimento da musculatura, resistência física e postura corporal; a Arte Educação cujas atividades podem ajudar na elevação da auto-estima e do autoconceito e a Musicalização que funciona como terapia relaxante e prazerosa, envolvendo diferentes pessoas em um único grupo fortalecendo as relações interpessoais. A reabilitação é uma atividade que é desenvolvida dentro de Unidades Especializadas e em CAP's (Centros de Apoio Pedagógico), sendo oferecidas como complementação curricular, desempenhadas por profissionais treinados adequadamente e /ou especializados na área de perda visual. Tem como clientela adolescentes e adultos cegos ou com baixa visão significativa, que desejam ou precisam resgatar as suas atividades, retomando seus projetos de vida e readaptandose a uma nova condição visual temporária ou permanente para a reintegração social. A reabilitação considera o indivíduo nas dimensões social, psicológica e educacional e objetiva oferecer programas que proporcionarão sua independência e autonomia, por meio de um planejamento individualizado, flexível e que considera as condições emocionais e de saúde. A Orientação e Mobilidade Por meio da mobilidade, garantimos direito de ir e vir, independentemente. É um programa sistemático que visa o desenvolvimento de habilidades que envolvem o reconhecimento do ambiente circundante em que vive o indivíduo, o relacionamento espaço-temporal do reabilitando consigo mesmo e com o meio, sua capacidade de orientar-se pelos sentidos remanescentes e a vontade de locomover-se livremente. A OM apresenta um programa extenso e complexo, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 111 EDUCAÇÃO INCLUSIVA cujo treinamento volta-se para o uso adequado das técnicas de locomoção dependente e independente em ambiente interno e externo. O ponto culminante é o uso correto da bengala longa nos mais diferentes ambientes e nas mais diversas situações. Atividades de Vida Diária é o conjunto de tarefas que, ao serem realizadas de forma satisfatória, propiciam o aprimoramento de habilidades e capacidades físicas, mentais e posturas sociais na vida cotidiana e que levam à autonomia e à independência de forma segura. Envolvem a realização do autocuidado, comunicação e comportamentos socialmente aceitos em diversos ambientes. A Comunicação envolve o aprendizado do Sistema Braille e de outras formas de comunicação oral e escrita (língua portuguesa, códigos matemáticos, uso de teclados, telefones), o uso do Sorobã, treinamento de escrita cursiva para o aprendizado da assinatura. O Sistema Braille é um código de leitura tátil, inventado por Louis Braille e dedicado à educação da pessoa cega, constituindo-se de sessenta e seis pontos combinados ou isolados, escritos com um punção no interior de celas que formam a reglete. O referido sistema requer treinamento do tato ativo e o desenvolvimento perceptivo-motor e de lateralidade, bem como exige memória consistente. Constitui-se em insubstituível, até o momento, mediador do letramento da pessoa com limitação visual grave, abrindo aos cegos as portas da cultura pelas pontas dos seus dedos e possibilitando e cada um deles que produza a sua história de sujeito aprendente, incluso, significante e participante da sociedade. Enfim, a Orientação e Mobilidade, as Atividades de Vida Diária e a Comunicação são dimensões dinâmicas que significam postura, atitude e desempenho na vida do que ensina e do que aprende. Atividade 4: Professor(a), destaque, nas linhas que seguem os fundamentais programas da reabilitação do aluno cego? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 7.6 - EDUCAÇÃO PROFISSIONAL A Educação Profissional tem como objetivo propiciar à pessoa com perda visual qualificação e/ou aperfeiçoamento profissional que sejam compatíveis com suas preferências, habilidades, aptidões, enfim com suas potencialidades, visando prepará-lo para ingressar ou permanecer no mercado de trabalho, considerando suas demandas na atual conjuntura social, política e econômica. 112 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Nessa perspectiva, deve haver compromisso com uma educação profissional que eleve o nível de escolaridade dos alunos, uma vez que se trata de incluir o educando em um contexto social mais amplo e não apenas de inseri-lo no mercado de trabalho. O professor, como orientador, exerce papel fundamental nesse processo, pois deve estar atento à motivação do aluno, à modernização, à diversidade e às reais demandas sociais. Sabemos que a pessoa com necessidades educacionais especiais possui direitos básicos constitucionais e também os previstos na Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), no Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996), em Direitos trabalhistas, enfim, tem assegurados legalmente direitos e deveres. A Educação Profissional é um direito do aluno que deve se efetivar nos cursos oferecidos pelas redes regulares de ensino público e privado, mediante adequações e apoios efetivados por meio de flexibilizações e adaptações dos recursos instrucionais; capacitação de recursos humanos; eliminação de barreiras atitudinais, arquitetônicas, curriculares, de comunicação entre outras; encaminhamento para o mundo do trabalho e acompanhamento dos egressos . As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica defendem parcerias das redes de educação profissional com escolas especiais públicas ou privadas, com vistas a construir competências necessárias à inclusão de alunos em seus cursos, bem como prestar assistência técnica e convalidar cursos profissionalizantes realizados pelas escolas especiais. Vale ressaltar que as escolas da rede de educação profissional poderão também avaliar e certificar atividades laborais de alunos com necessidades especiais não matriculados em seus cursos e encaminhá-los ao mercado de trabalho. A educação profissional em escolas especiais só deverá ocorrer quando esgotadas as respostas educativas no ensino regular ou diante de demandas específicas do aluno de acesso ao currículo (MEC/SEESP, 2001). A educação profissional integra o processo de reabilitação da pessoa com perda visual e a terminalidade desse processo culmina com o desenvolvimento de competências funcionais, de (re) adaptação ao trabalho e à vida comunitária, por meio do desenvolvimento da independência e autonomia adquiridas, favorecendo sua inclusão social. Portanto, a perda visual não deve se constituir em um obstáculo para o efetivo exercício da cidadania. Atividade 5: Professor (a), chegamos ao final desta Unidade, como atividade de culminância, investigue, em sua escola, o número de alunos com perda visual regularmente matriculados, e qual(is) o(s) método(s) que a Escola propicia para o ensino-aprendizado destes discentes. Sugestão: formem grupos de trabalho, com colegas que atuam no mesmo Município e/ou na mesma Escola que você. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 113 EDUCAÇÃO INCLUSIVA ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ REFERÊNCIAS BARCZINSKI, M.C. Reações Psicológicas à Perda da Visão. Rio de Janeiro: IBC/ MEC. Centro de Pesquisa, Documentação e Informação. V.1, n. 18, 1995. BRASIL/MEC. Adaptações Curriculares em Ação: desenvolvendo as competências para o atendimento às necessidades educacionais de alunos cegos e de alunos com baixa visão. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC; SEESP, 2002. 211p. BRASIL/MEC. Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental: deficiência visual. Vol. 1, 2, 3. Fascículo IV/Marilda Moraes Garcia Bruno e Maria glória Batista da Mota (Coord.). Colaboração Instituto Benjamin Constant. Brasília: MEC; SEESP. (Série Atualidades Pedagógicas; 6). BRASIL/MEC. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC; SEESP, 2001. 79 p. CARROLL, T. Cegueira. Trad. MEC, São Paulo, dezembro, 1968. COLL, César; MARCHESI, Álvaro; PALACIOS, Jesús e col. Desenvolvimento Psicológico em Educação: transtornos do desenvolvimento e necessidades educativas especiais. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. 3 v. ISAAC, M.J.P. (tradutor). As Deficiências Visuais - Deficiências e Adaptações. SP. Ed. Manole, 1999. PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL. Deficiência Visual. (Série Atualidades Pedagógicas. Volumes 1, 2 e 3). Brasília: MEC; SEESP, 2001. ROCHA, Adonai. Educação Profissional de Pessoas com Deficiência: relatos, críticas e reflexões. Brasília: MEC; SEESP. Integração: n. 22, p. 8-15, 2000. VIEGAS, Conceição. Educação, Trabalho e Pessoas com Deficiência. Brasília: MEC; SEESP Integração: n. 22, p. 16-19, 2000. 114 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA UNIDADE VIII O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO OBJETIVOS — Oportunizar conhecimentos teórico-práticos que favoreçam aos professores uma melhor compreensão sobre o aluno com altas habilidades e seus processos de aprendizagem no contexto educacional; — Identificar propostas e alternativas pedagógicas de atendimento ao alunado com necessidades educacionais especiais na área de altas habilidades; — Identificar parâmetros básicos para a identificação de alunos com altas habilidades/superdotação no contexto escolar. CONTEÚDO — — — — — Reconceituando altas habilidades/superdotação Caracterização dos tipos de altas habilidades Identificação do aluno com altas habilidades Metodologia de atendimento no programa de altas habilidades no Pará Sugestões aos educadores UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 115 EDUCAÇÃO INCLUSIVA APRESENTAÇÃO Nesta Unidade, convido você, professor, a fazer uma reflexão sobre os alunos que apresentam altas habilidades/superdotação. Faremos algumas (re)leituras de conceitos e terminologias aplicadas a esses alunos, buscando ressignificar a compreensão de suas necessidades educacionais especiais, vendo como pessoas de possibilidades e que também requerem apoios e ajudas específicas, mediante o desenvolvimento de alternativas educacionais que valorizem o seu potencial. 8.1 RECONCEITUANDO ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO O contexto social em geral, e em particular a escola, são espaços constituídos por uma diversidade de pessoas, permitindo-nos refletir sobre a complexidade e a riqueza de comportamentos presentes na espécie humana. Em nossa essência somos iguais, porque somos humanos, pessoas. Mas somos únicos em nossas singularidades, portanto, somos marcados pelas diferenças. Entre as diferenças presentes e observadas no contexto educacional estão os alunos que se destacam pelo seu elevado potencial em alguma área ou aspecto do desenvolvimento humano. Assim, pessoas que possuem um 'notável' desempenho se caracterizam, segundo a LDB 9394/96, Resolução nº. 002/01 do Conselho Nacional de Educação, entre outros documentos, como aquelas que apresentam altas habilidades/superdotação. Tradicionalmente, tem se desenvolvido um equívoco teórico julgar que esses educandos se saem bem em todas as atividades escolares, sobretudo na área acadêmica, não necessitando, portanto, de apoios educacionais específicos. Os preceitos teóricos, acima mencionados, e pesquisas realizadas nessa área educacional, apontam que alunos com altas habilidades/superdotação são alunos que apresentam padrões de desempenho superior e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica especifica, pensamento criativo ou produtivo, capacidade de liderança, talento especial para artes e capacidade motora. Em geral, na escola, os alunos com altas habilidades, segundo o MEC (adaptações curriculares, 2002), apresentam um comportamento caracterizado pela curiosidade, fluência de idéias, desempenhos superiores em uma ou mais áreas acadêmicas, grande motivação pela aprendizagem, facilidade para abstração, percepção, relacionamento de um tema específico a contexto amplo, estilos particulares para a aprendizagem e uma busca constante para atingir alvos e metas mais distantes. 116 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Atividade 01 Em síntese, após a leitura feita, individualmente, elabore um conceito de altas habilidades/superdotação. Em seguida, socialize com seu grupo de estudo e juntos reelaborem o conceito. 10 minutos __________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 8.2 CARACTERIZAÇÃO DOS TIPOS DE ALTAS HABILIDADES O Documento Adaptações curriculares em ação MEC/SEESPE identifica seis tipos de altas habilidades e suas respectivas características, expostos no Quadro que segue. Tipo intelectual Apresenta flexibilidade e fluência de pensamento, capacidade de pensamento abstrato, associações, produção ideativa, memória elevada, capacidade de lidar e resolver problemas. Tipo acadêmico Evidencia aptidão acadêmica específica, de atenção, concentração, rapidez de aprendizagem, boa memória, motivação pelas disciplinas acadêmicas de seu interesse, habilidades para avaliar, sintetizar e organizar o conhecimento. Tipo criativo Relaciona-se às seguintes características: originalidade, imaginação, resolução de problemas de forma inovadora, sentimento de desafio diante da desordem de fastos, facilidade de auto-expressão. Tipo social Capacidade de liderança, sensibilidade interpessoal, atitude cooperativa, sociabilidade expressiva, capacidade para resolver situações sociais complexas, alto poder de persuasão e de influência no grupo. Tipo talento especial Destaque nas áreas das artes plásticas, musicais, literárias e dramáticas. Tipo psicomotor Habilidade e interesse por atividades psicomotoras, desempenho fora do 'comum' em velocidade, agilidade de movimentos, força, resistência, controle e coordenação motora. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 117 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 8.3 IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO COM ALTAS HABILIDADES Embora o aluno com altas habilidades se destaque dos demais alunos de alguma forma pelo seu elevado desempenho ou potencial, não é fácil a identificação deste e suas necessidades. Muitas vezes, é confundido com pessoas dispersas, agitadas, desinteressadas, indisciplinadas entre outros rótulos, precipitadamente atribuído a eles. Por outro lado, podem ser confundidos com crianças e adolescentes altamente estimulados no contexto familiar. Na intenção de definir critérios de desempenho que possam caracterizar o aluno com altas habilidades, o MEC/SEESP indica parâmetros que podem ser usados, tendo em vista a identificação desse aluno, as suas necessidades educacionais específicas e o apoio pedagógico especializado que ele necessita. O que observar Alto desempenho em uma ou várias áreas. Fluência verbal e/ou vocabulário extenso. Envolvimento ou foco de atenção direcionado a alguma atividade em especial. Desempenho elevado qualitativamente nas atividades escolares. Qualidades das relações sociais, em diversas situações. Curiosidade acentuada. Facilidade para aprendizagem. Originalidade na resolução de problemas ou na formulação de respostas. Atitudes comportamentais de excesso para a produção ou planejamento. Habilidades específicas de destaques em diversas áreas (artes plásticas, música, artes cênicas e psicomotoras). Senso de humor, senso crítico. Baixo limiar de frustração. Dispersão ou desatenção. Defesa de suas idéias e ponto de vistas Impaciências com atividades rotineiras e repetitivas. Perfeccionismo. Resistência a seguir regras. Desenvolvimento superior atípico em relação a pessoas de igual faixa etária. Originalidade de idéias inusitadas e diferentes. 118 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Atividade 02 Professor (a), as características que definem um aluno superdotado não se limitam às citadas nesse estudo. Pesquise mais informações que possam ser socializadas na turma e faça seu comentário: (sugestão: visite o site do Ministério de Educação - MEC). ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 8.4 METODOLOGIA DE ATENDIMENTO NO PROGRAMA DE ALTAS HABILIDADES NO PARÁ Os alunos com altas habilidades constituem um grupo bastante heterogêneo, apresentam uma variedade de características que exigem uma metodologia diversificada, com estruturas adequadas dotadas de recursos humanos, físicos e materiais capazes de promover e desenvolver atividades teóricas e práticas, que lhe permitem uma aprendizagem significativa. Em um programa dinâmico, que reúne o enriquecimento e o aprofundamento curricular, a aceleração e orientação individual e/ou grupal, centrados nos fundamentos construtivistas, possibilita-se, ao aluno com altas habilidades, crescimento nos aspectos social, afetivo, cognitivo e cultural, por meio de vivências e experiências que ampliem as suas potencialidades. O atendimento educacional especializado é realizado nas salas de recursos, localizadas em escolas da rede pública de ensino, em dois turnos, onde os alunos são agrupados por faixa etária, considerando sua área de interesse, em horário oposto ao que freqüenta na escola regular. Este atendimento se faz por meio de oficinas pedagógicas coletivas e ou individuais, planejadas e executadas em nível interdisciplinar com temáticas pré-estabelecidas. As oficinas oferecidas reúnem as disciplinas Língua Portuguesa, Matemática, História, Ciências e Artes Plásticas. Além dessas oficinas, há atendimento em Informática Educacional. Com isso se oportuniza ao aluno a investigação científica e descobertas de novos caminhos, tornando-os capazes de elaborar e executar o seu próprio projeto de estudos. O projeto abrange, além das atividades em sala de recursos, a participação em excursões, pesquisa de campo, visitas a bibliotecas, centros de pesquisas, empresas, museus e outras instituições culturais, recorrendo-se a recursos existentes na comunidade local para a complementação do enriquecimento curricular. A função do professor é de facilitador da aprendizagem, utilizando, para isto, estratégias de ensino que estimulem a criatividade, a habilidade acadêmica, a capacidade de previsão e a tomada de decisão. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 119 EDUCAÇÃO INCLUSIVA O programa de aceleração oferecido aos alunos de altas habilidades, tanto na capital como no interior do Estado, é amparado pela Resolução Nº. 340, de 06 de julho de 1995, do Conselho Estadual de Educação, que garante a entrada precoce do aluno no sistema educacional, antes da idade legal, além da promoção desse aluno a séries mais avançadas e conclusão de estudo em tempo inferior ao previsto, como consta na referida resolução. Com o objetivo de promover a adaptação social e familiar do aluno com altas habilidades, além da melhoria do seu aproveitamento escolar, reduzindo as discrepâncias entre as reais possibilidades e o rendimento obtido, desenvolve-se um acompanhamento psicológico, individual, grupal e a família, além do processo de orientação vocacional. Dinamiza-se o elo da estrutura psicopedagógica, proporcionando-se assessoramento técnico ao aluno com Altas Habilidades e ao professor que atua com ele na escola da rede de ensino, através de visitas de orientação e de acompanhamento ao desempenho do aluno. A equipe técnica que atua com esses alunos é formada por professores das várias áreas acadêmicas, arte educadores, psicólogos e assistente social. 8.5 SUGESTÕES AOS EDUCADORES · · · · · · · · · Procurar, juntamente com os alunos, encontrar tópicos de interesses como ponto de partida; Assegurar que a pesquisa desafie a imaginação e a intuição dos alunos; Estimular a freqüência a bibliotecas públicas ou particulares; Insistir na exigência de altos padrões de aproveitamento em todas as matérias, não permitir mera cópia de material; Deixar cada aluno trabalhar segundo seu próprio ritmo e nível; Enfatizar a importância de diversos pequenos relatórios de pesquisa; Impedir que seus programas de enriquecimento e aprofundamento se tranformem em uma atividade vaga e desorganizada; Levar, tanto quanto possível, o projeto do aluno a um planejamento cooperativo entre colegas; Valorizar os projetos que desenvolvam habilidades relacionadas à investigação independente, à iniciativa, à originalidade e ao trabalho criativo. Atividade 03 Para encerrar essa unidade de estudo, em grupo, elabore um folder informativo, contendo conceito, características e sugestões destinados a outros professores sobre altas habilidades/superdotação. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 120 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ REFERÊNCIAS ALMEIDA, L.S. Inteligências: definições e medidas. CIDINE. Portugal: Aveiro, 1994. BRASIL, H. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: ArteMed, 1995. GUENTHER, Z.C. Desenvolver Capacidades e Talentos. Um Conceito de Inclusão. Petrópolis: Ed. Vozes, 2000. METTRAU, M. (Org.) Inteligência: patrimônio social. Rio de Janeiro: Dunya Ed., 2000. SANTOS, O de B. Superdotados. Quem São? Onde Estão? São Paulo: Ed. Pioneira, 1998. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 121 EDUCAÇÃO INCLUSIVA UNIDADE IX O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: MÚLTIPLAS NECESSIDADES OBJETIVOS · Compreender a definição de múltiplas necessidades especiais; · · Identificar os tipos de necessidades múltiplas especiais; Orientar a importância da família no processo de desenvolvimento da pessoa com múltiplas necessidades; Oferecer aos professores subsídios teóricos para suas práticas pedagógicas. · CONTEÚDO 122 · Definição de Necessidades Educacionais Múltiplas · · · · · Tipos de múltiplas necessidades especiais Causas das necessidades especiais múltiplas Avaliação A família e o desenvolvimento da pessoa com necessidades múltiplas Orientação pedagógica PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA APRESENTAÇÃO Professor, possivelmente você já manteve contato com alguma pessoa com múltipla necessidade especial e talvez tenha se perguntado como contribuir na educação do mesmo. Pois bem, nesta Unidade, abordaremos sobre causas, tipos, avaliação, família e abordagens pedagógicas que podem subsidiar o seu trabalho, além de atividades reflexivas que possam estimular o aprofundamento do assunto. 9.1 DEFINIÇÃO DE NECESSIDADES EDUCACIONAIS MÚLTIPLAS Foto 9: Crianças com necessidades múltiplas em atividades pedagógicas na U.E.ES Prof. Astério de Campos. Fonte: Arquivo da Escola A expressão "múltiplas necessidades" é utilizada para identificar pessoas com mais de uma necessidade especial, que afetam, mais ou menos intensamente, o funcionamento individual e o relacionamento social (MEC, 2000). E a associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiências primarias... com comprometimentos que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa (Política Nacional de Educação Especial, 1994). A definição de múltiplas necessidades especiais varia entre os estudiosos, pois alguns defendem a proposição de que uma 'necessidade' gera outra, por acarretar comprometimentos que causam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa, portanto, não consideram necessária a associação de mais de uma 'deficiência' primária no mesmo indivíduo. E importante ressaltar que a 'necessidade múltipla' não pode ser separada para análise, pois não se caracteriza como soma das partes. O indivíduo deve ser visto como um todo e com peculiaridades de sua condição. Comumente, se considera a 'necessidade múltipla' como a mais grave e de difícil atendimento pedagógico, porém fatores como aceitação familiar e oportunidade de vivências no âmbito escolar e social, como um todo, são preponderantes na formação do autoconceito e desenvolvimento de autonomia de pessoas com múltiplas necessidades. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 123 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Atividade 2 Continue refletindo sobre o entendimento de múltiplas necessidades. Agora, relacione o seu entendimento e o do texto sobre 'múltiplas necessidades.' ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 9.2 - TIPOS DE MÚLTIPLAS NECESSIDADES ESPECIAIS R Física e psíquica: · necessidade física e mental · necessidade física e transtorno mental R Sensorial e psíquica: · perda auditiva e necessidade mental · perda auditiva e transtorno mental · perda visual e mental · perda visual e transtorno mental R Física, psíquica e sensorial: · necessidade física, mental e auditiva · necessidade física, mental e visual · necessidade física, transtorno mental e perda auditiva · necessidade física, transtorno mental e perda visual 124 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 9.3 - CAUSAS DAS NECESSIDADES ESPECIAIS MÚLTIPLAS A etiologia das múltiplas necessidades são de fatores: · pré-natais · peri-natais ou natais · pós-natais 9.3.1 PRÉ-NATAIS 1 - FATORES GENÉTICOS: podem ser de anormalidades cromossômicas ou genes mutantes. 1.1 Anormalidades cromossômicas: estão relacionadas a dois tipos de alterações numéricas e estruturais, podem afetar os autossomos e/ou cromossomos sexuais. As características fenotípicas (determinadas pelos genótipos) de pessoas com as mesmas anormalidades cromossômicas são semelhantes. Ex: pessoas com Síndrome de Down. 1.1.1 Anormalidades cromossômicas de alterações numéricas: o ser humano possui normalmente 46 cromossomos, havendo desvio para mais ou para menos, há a ocorrência de uma anomalia. Ex: A Síndrome de Down ocorre alteração no cromossomo 21. 1.1.2 Anormalidades cromossômicas estruturais: são alterações nas estruturas do cromossomo. A síndrome de “Cri do Chat” ou “Miado de Gato”, decorre da quebra de uma porção do cromossomo que se perde. Neste caso, a criança apresenta um choro semelhante ao miado do gato, microcefalia, retardo mental grave e doença cardíaca. 1.2 Genes mutantes: em geral, envolve perda ou alteração da função do gene, como exemplo do gene dominante. Exemplo: acondroplasia nanismo com membros curtos, cabeça grande, cifose torácica e protusão do abdome. 2 - FATORES DO DESENVOLVIMENTO: provenientes de agentes chamados terotogênicos, que interferem no desenvolvimento do embrião, como a Talidomida. 9.3.2 PERI-NATAIS OU NATAIS Situações que podem ocorrer durante o nascimento, como: anóxia; prematuridade; atraso no parto; má utilização do fórceps, entre outros. 9.3.3 PÓS-NATAIS Doenças, como: meningite, rubéola, sarampo, etc., assim como fatores chamados ambientais: acidentes, traumatismos cranianos, intoxicações químicas, irradiações, tumores, entre outros. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 125 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Algumas enfermidades comprovadas associadas à deficiência múltipla: · hipotireoidismo lesão cerebral · rubéola congênita perda visual, auditiva e microcefalia · síndrome de Rett perda mental, alterações neurológicas e motores · citomegalia perda neurológica e motora · toxoplasmose hidrocefalia, deficiência motora e orgânica · síndrome de Uscher perda auditiva estável e visual progressiva · síndrome de Alstron perda visual e auditiva progressiva Visualize mais sobre as causas das múltiplas necessidades no Quadro de Kirk e Gallagher In Educação da Criança Excepcional (1991: p. 416). Época de ocorrência Agentes que afetam Concepção Translocação de pares de cromossomos no nascimento. Mudanças sérias no embrião e no feto, muitas vezes fatais. Erros congênitos do metabolismo, como a fenilcetonúria. Incapacidade de efetuar processos químicos e metabólicos; danos ao desenvolvimento fetal. Medicamentos como a talidomida. Medicamento usado como sedativo para a mãe; pode prejudicar o desenvolvimento normal do embrião. Uma criança acentuadamente deformada com anomalias sérias no coração, olhos, ouvido, membros superiores e inferiores e outros. Anoxia (falta prolongada de oxigênio ao feto durante o processo de nascimento). A falta prolongada de oxigênio pode causar destruição irreversível de células cerebrais. Criança com paralisia cerebral que pode ou não ter perda mental e outras necessidades que afetam a visão e a audição. Encefalite e meningite. Doenças infecciosas (Sarampo, coqueluche e outras) podem levar à inflamação das células do cérebro e sua destruição. Pode levar a uma variedade de problemas, como a falta de atenção e a hiperatividade; causa epilepsia, transtorno mental e problemas de comportamento. Pré-natal Natal Pós-natal 126 Atividade do agente Resultado típico Certos reagrupamentos dos cromossomos podem levar à síndrome de Down e à deficiência mental. Resulta em deficiência grave, em outras complicações; pode ser revertido parcialmente quando diagnosticado cedo e administrando-se uma dieta especial. PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Atividade 3 NÃO ESQUEÇA, CUIDAR DA SAÚDE É FUNDAMENTAL! Que ações você considera importante na prevenção de enfermidades que ocasionam a múltipla necessidade? Relacione-as nas linhas abaixo. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 9.4 AVALIAÇÃO Os tradicionais instrumentos e metodologias de diagnósticos não são aplicáveis para muitos casos de Necessidade Múltipla, atualmente, se propõe uma proposta de avaliação dinâmica, que possa ser adaptada às características específicas de cada pessoa. O processo avaliativo deve se realizar em uma situação lúdica, que possibilite a interação e observação das respostas maduras da pessoa. A observação deve ser conduzida por um facilitador na presença dos demais profissionais e dos pais ou responsáveis, que prestarão informações importantes sobre a história de vida. E importante considerar o aspecto funcional da pessoa, ou seja, seu funcionamento cognitivo e habilidades de interação social. Tais habilidades são classificadas, em áreas, conforme segue, de acordo com a American Association on Mental Retardation, para o diagnóstico de perdas mentais e podem ser aplicadas às pessoas com múltiplas necessidades. · Comunicação habilidade escrita, falada, gesticulada, corporal ou qualquer outra forma de expressão e compreensão entre pessoas. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 127 EDUCAÇÃO INCLUSIVA · · · · · · · · Autocuidado habilidade de cuidar de seu corpo, vestimentas, etc. Vida familiar habilidade de participação na vida em família, como os cuidados, com os pertences, a participação na dinâmica familiar, entre outras. Vida social habilidade no relacionamento interpessoal, mantendo atitudes de respeito, compartilhamento e cooperação. Autonomia habilidade para tomar iniciativas, tomar decisões nos momentos adequados, fazer escolhas, etc. Saúde e segurança habilidade em cuidar da saúde, com hábitos saudáveis e respeito a normas de trânsito, etc. Funcionalidade acadêmica habilidade relativa aos conhecimentos adquiridos relacionados à qualidade de vida, propostos nos conteúdos curriculares, como ler, escrever, contar, noções de sexualidade, etc. Lazer habilidade em participar com interesse de atividades esportivas, culturais, recreativas, etc. Trabalho habilidade em realizar atividades laborais, da maneira mais independente possível, inclusive na administração do próprio dinheiro. Devemos considerar, também: · · · · · tipos e quantidades de necessidades primárias associadas; amplitude e abrangência dos aspectos comprometidos; idade da aquisição da necessidade; fatores ambientais relacionados, como: família, comunidade e escola; eficiência das intervenções da educação e saúde. A caracterização da múltipla necessidade requer a observação da existência de duas ou mais necessidades associadas, sem que haja relação de dependência entre elas, ou seja, sem que uma condicione a existência da outra, não havendo nenhuma necessidade mais importante que a outra. A gravidade da necessidade extrapola as condições individuais de seus portadores, pois estão incluídas as atitudes da família; intervenções que atuem nas causas e efeitos das necessidades; a oportunidade de interação no meio social e físico. A educação deve primar pela qualidade de vida das pessoas com múltiplas necessidades. Os critérios individuais e sócio-culturais são determinantes no dimensionamento da gravidade da necessidade múltipla, pois são consideradas as características da pessoa, os efeitos do meio social e do apoio que recebe. Intensas exigências do ambiente social geram como conseqüência menos possibilidades de respostas eficientes, evidenciando suas limitações funcionais. 128 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Atividade 4 Junte-se a um amigo para realizar esta atividade e depois exponham à turma o que vocês discutiram. Que propostas vocês apresentam para avaliar uma pessoa com múltiplas necessidades? ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 9.5 - A FAMÍLIA E O DESENVOLVIMENTO DA PESSOA COM NECESSIDADES MÚLTIPLAS A atitude de aceitação, por parte da família, oportunizando a participação e a inclusão da pessoa ao ambiente familiar e social, incidirá, sobremaneira, na formação da autonomia, independência, criatividade e formação de autoconceito positivo da pessoa com necessidade múltipla. A família deve participar da equipe que realiza o diagnóstico e a intervenção, trazendo informações sobre aspectos não percebidos na escola, porém manifestados em casa. É no contexto familiar que a pessoa manifesta as primeiras necessidades básicas e atendimento. A família, em muitos casos, reage com insegurança e frustração a chegada de um filho com necessidades especiais, vindo, posteriormente, sentimentos de compaixão, depressões, entre outras manifestações emocionais. Diante de tal situação, são necessárias informações e apoio ao grupo familiar para a aceitação do filho com essas limitações, reconhecendo, portanto, as variadas possibilidades de desenvolvimento dele. O apoio à família deve ser contínuo e freqüente, diante das mais diversas fases de desenvolvimento do filho, para compreender suas necessidades, expectativas, desejos, etc. A escola deve ter como prioridade a participação familiar no processo de desenvolvimento desse aluno. 9.6 - ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA O atendimento ao portador de necessidades múltiplas deve contar com atenção individual do professor para estimular as áreas cognitiva, sensorial, física e emocional de seu educando, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 129 EDUCAÇÃO INCLUSIVA porém a participação do aluno em atividades coletivas, de pequenos e grandes grupos, contribuem para o desenvolvimento do aspecto social, o que possibilita a interação afetuosa entre seus pares e a vida em sociedade. Ao educador cabe oferecer apoio que vise potencializar o funcionamento da pessoa no ambiente; apoio à autonomia, criatividade e contribuir para uma formação positiva do autoconceito, da auto-imagem, além de apropriada intervenção educacional, que deve se dar o mais precocemente, a fim de melhorar as condições de desenvolvimento, aprendizagem e inclusão social. O professor deve compreender a necessidade das adaptações curriculares de acordo com as características, necessidades e potencialidades de cada educando. E, para finalizar... O que é importante na atitude do professor para a formação da auto-imagem positiva desse educando? ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Esperamos que você tenha se interessado mais pelo tema e busque outros conhecimentos para potencializar e mediar as práticas pedagógicas docente em sua comunidade escolar. BOM TRABALHO! 130 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA REFERÊNCIAS BAUTISTA, Rafael. Necessidades Especiais em Sala de Aula. Portugal: Editora Dinalivro, 2000. BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Conjunto de Materiais Para a Capacitação de Professores: necessidades em sala de aula. Brasília: MEC/SEESP, 1998. _______ Estratégias e Orientações Pedagógicas para a Educação de Crianças com Necessidades Acentuadas de Aprendizagem: deficiência física. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP, 2002. 99 p. _______ Adaptações Curriculares em Ação: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais de alunos com deficiência física/neuro/motora. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP, 2002. 44 p. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 131 EDUCAÇÃO INCLUSIVA UNIDADE X O ALUNO COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS: SURDOCEGUEIRA OBJETIVOS · · · · Discutir as bases teórico-metodológicas da educação do aluno surdocego; Identificar as causas e as principais características das pessoas surdocegas; Analisar o método de Van Dijk e as formas de comunicação do surdocego como proposta educacional; Refletir sobre as estratégias significativas na intervenção pedagógica para alunos surdocegos. CONTEÚDO · · · · · · 132 Por que estudar a surdocegueira? Definição e causas da surdocegueira Classificação da surdocegueira Características das pessoas surdocegas Formas de comunicação Como ajudar um surdocego / Intervenção pedagógica PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA APRESENTAÇÃO Caro professor (a), esperamos que, ao concluir esta Unidade, você tenha ampliado seus conhecimentos na área da surdocegueira, por meio da aquisição de informações propostas nesta unidade em relação a conceito, classificação, causas, características e formas de comunicação da surdocegueira. Desejamos sucesso no transcurso deste estudo e na sua carreira profissional e que, desse modo, possa mediar com segurança o contexto da educação de surdocegos. 10.1 POR QUE ESTUDAR A SURDOCEGUEIRA? A resposta mais convincente diz respeito à Foto 10 e 11: Atividades pedagógicas com complexidade que envolve a educação dessas pessoas, aluno surdocego na U.E.ES. Prof. Astério de Campos. pois conviver com a surdocegueira é se defrontar com um mundo totalmente diferente, o que requer, ao mesmo tempo, conhecimento e domínio de técnicas específicas para que possa desbravá-lo com mais habilidade e eficiência. Ao considerar que a surdocegueira, no Brasil, ainda é um campo quase que totalmente desconhecido, a literatura é escassa, assim como o conhecimento e a prática para atendimento especializado ao surdocego. A partir deste estudo, aspira-se potencializá-lo, professor (a), com uma gama de conhecimentos motivadores para você se apaixonar pela surdocegueira, e que, você, possa pensar, em seu aluno, primeiramente como um aluno, e somente depois como um surdocego. Fonte: Arquivo da Escola Acredita-se que o estudo desta necessidade especial despertará o interesse pela pesquisa nessa tão importante área, para que se tenha mais conhecimento sobre a surdocegueira e as implicações delas nas unidades educacionais, acumulando experiências exitosas. Atividade 1 Professor (a) registre, no espaço que segue, suas primeiras impressões e/ou saberes prévios, a partir desse breve ensaio introdutório, acerca da educação de surdocegos: 20 minutos ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 133 EDUCAÇÃO INCLUSIVA ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Você notou que o registro que acabou de realizar já é um passo importante para iniciarmos o percurso teórico-prático da educação de surdocegos? Pois é! Desse modo, graças as suas primeiras idéias podemos adentrar nos aspectos mais específicos sobre a educação dessas pessoas, começando pela definição e causas mais comuns da surdocegueira. 10.2 DEFINIÇÃO E CAUSAS DA SURDOCEGUEIRA A fim de se definir a surdocegueira e, por conseguinte, o surdocego, considera-se conveniente citar uma definição que potencialize a compreensão. Desta forma, adota-se a definição da tradução do Sense Internacional Latinoamérica, do Comitê Nórdico de Deficiência, (1980) A surdocegueira é uma deficiência única causada por uma combinação da deficiência auditiva e visual. É preciso se ter bem claro que não se trata da somatória da surdez mais a cegueira, mas que é uma só deficiência com características próprias. Isto faz com que se apresentem problemas na comunicação com a família e a comunidade. É mister realçar a importância e o significado do vocábulo “combinação”, elo de ligação entre essas duas necessidades especiais, pois uma pessoa com perda, em ambos os sentidos, experimenta privações que, conseqüentemente, causam muitas dificuldades, levando em conta que, apesar da comunicação ser a maior delas, ela traz uma somatória de dificuldades na locomoção, na vida diária, no estudo e na sua inclusão social. QUAIS AS PRINCIPAIS CAUSAS QUE LEVAM UMA PESSOA A FICAR SURDOCEGA? 134 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Boa Pergunta! Vejamos agora as etiologias mais freqüentes Causas Pré-Natais (antes do parto) Causas Peri-Natais (durante o parto) Causas Pós-Natais (depois do parto) · Rubéola · Citomegalovírus · Toxoplasmose · Sífilis Congênita · Medicação Teratogênica · Falta de oxigênio (Hipoxia) · Medicação Ototóxica · Icterícia · Meningite · Medicação Ototóxica · Otite Média Crônica · Sarampo · Caxumba 10.3 CLASSIFICAÇÃO DA SURDOCEGUEIRA Caro Professor! Saiba que o universo das pessoas surdocegas é bastante diversificado, uma vez que, à época da aquisição destas e a combinação da surdez com baixa visão ou cegueira podem acontecer de várias formas. Foto 12: Aluna surdocega pré-lingüística em atividade pedagógica na U.E.E. Prof. Astério de Campos Fonte: arquivo da escola UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 135 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Surdocego pré-lingüístico Pessoa que ficou surdo-cega anterior ao aprendizado de uma língua. Surdocego pós-lingüístico Pessoa que ficou surdo-cega posterior ao aprendizado de uma língua. Classificação segundo a intensidade das perdas: · surdocego total; · surdez profunda com baixa visão; · surdez moderada ou leve com cegueira; · surdez moderada com baixa visão; · perdas leves auditivas e visuais. 10.4 CARACTERÍSTICAS DAS PESSOAS SURDOCEGAS Agora, que sabemos como é classificada a surdocegueira, temos que ter clareza das principais características das pessoas surdocegas. É o assunto da nossa próxima leitura! As características mais comuns das crianças surdocegas dizem respeito à falta da percepção auditiva e visual, que limita a pessoa na antecipação que vai ocorrer em sua volta. Esta dificuldade faz com que cada experiência possa parecer nova e assustadora, como: ser transportada de um lugar para o outro, introdução de um alimento novo na boca, etc. É comum, também, ter uma percepção distorcida do mundo, pois o mesmo não é explorado, os objetos não têm função, são apenas fontes de prazer e manipulação, demonstram distração e isolamento. Inicialmente, o contato com o ambiente, na maioria das vezes, se dá pelo olfato, pois é o sentido que pode lhe trazer mais informações, por ser proximal, direto e não requerer contato físico, já que muitos são resistentes a este. As crianças surdocegas preferem as brincadeiras que envolvam movimentação, balanço, giros, etc. As formas de comunicação expressiva são geralmente as primitivas e não intencional, como: o choro, o gemido e os movimentos corporais. Outras características ocorrentes são os comportamentos estereotipados ou autísticos; apresentam auto-estimulação proprioceptiva e cinestésica (balanço das mãos na frente do rosto, movimentos de cabeça e dos membros; pulam, buscam a luz, batem as mãos ou objetos no rosto e corpo), entre outras, podem ter vida auto-erótica ou apática; dificuldades de adaptação de óculos e aparelhos de amplificação sonora individual (principalmente); apresentam atraso no 136 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA desenvolvimento neuro-psicomotor, por falta de estimulação, ou muitas vezes, por problemas de saúde, pois possuem baixa resistência, etc. IMPORTANTE! Em que pese as inúmeras características das pessoas surdocegas, elas apresentam perfis distintos, em função de vários aspectos, quais sejam: o período da aquisição da surdocegueira; grau da perda auditiva; grau da perda visual; outros comprometimentos associados, entre os quais o motor e o neurológico; o período da intervenção e o meio sócioeconômico-cultural no qual está inserido. Atividade 2 Professor (a), após o estudo dos tópicos anteriores sobre a definição, as causas e as características da surdocegueira. Elabore um conceito sobre esta necessidade especial, pontuando os aspectos que você considerou mais importantes: 10 minutos. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Parabéns! Você deve ter pontuado alguns aspectos relevantes que contribuirão para darmos continuidade ao nosso estudo. Então, vamos às formas de comunicação mais utilizadas na mediação pedagógica com as pessoas surdocegas. 10.5 FORMAS DE COMUNICAÇÃO A forma de comunicação a ser usada com surdocegos deve partir da facilidade dos mesmos, daquilo que lhes é mais acessível, deve-se levar em conta vários fatores, tais como: o resíduo visual, o resíduo auditivo, a atenção tátil, habilidade cognitiva, problemas motores e/ ou musculares, quadro de isolamento, hiperatividade, estilo de aprendizagem do aluno, necessidades e preferências do aluno e da família. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 137 EDUCAÇÃO INCLUSIVA a) Comunicação do surdocego pré-lingüístico A comunicação do surdocego pré-lingüístico é complexa e difícil. O profissional mediador da intervenção será intérprete e tradutor para adentrar no universo do surdocego e tentar obter o máximo de aproveitamento do seu potencial comunicativo. A expectativa para o surdocego total pré-lingüístico é proporcionar sua independência, autonomia e melhorar sua qualidade de vida. A METODOLOGIA DE VAN DIJK Os programas educacionais com crianças surdocegas devem ter em seu principal enfoque o movimento, pois é pelo movimento que a criança surdocega descobre o Mundo, melhora a qualidade e quantidade de interações com as pessoas, objetos e acontecimentos (BORGES, 2003). Este “movimento” deve ser realizado conjuntamente pelo educador e a criança, e que tornará a relação entre a criança e o adulto, que representa a referência de Mundo para a criança, pois estes movimentos servirão de modelo para guiar ações, descobertas e conquistas dos alunos. O enfoque no movimento, para o desenvolvimento da linguagem, é a base do programa de Jan Van Dijk. A metodologia do trabalho de Van Dijk, baseado no movimento, fundamenta-se nas interações sistemáticas da criança com o meio ambiente. É um processo interativo que permite, à criança, adquirir conceitos, estabelecer relações sociais e influir no ambiente. Pressupõe uma seqüência de níveis e desenvolvimento da comunicação para se chegar à linguagem simbólica. O programa de Van Dijk é dividido em quatro níveis ligeiramente seqüenciais: CARACTERÍSTICAS: NÍVEIS: NUTRIÇÃO · · · · · · RESSONÂNCIA · · · · MOVIMENTOS CO-ATIVOS · 138 A postura símbolo desta fase é o “colo”; É um período de doação por parte do adulto, não se exige nenhuma resposta da criança; Nível base para a comunicação e a linguagem; Os primeiros contatos físicos: toque, abraços, carinho. A postura símbolo é o “envolver”; O adulto e a criança atuam como se fossem um só individuo; Compreensão da ação/movimento como forma de intervenção no meio; Movimentos “ressonam” com a pessoa adulta; Construção da “antecipação” (ligação de um sinal ou objeto a uma reação ou tipo de comportamento). A postura símbolo é o “lado a lado”, o adulto e a criança ainda atuam juntos, mas começa a diferenciação; Têm como propósito geral aumentar a distância entre ELE, EU e “O MEIO”. PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA IMITAÇÃO · · · Nesta fase a postura símbolo é o “frente a frente”; A criança reproduz um modelo quando este deixa de estar presente; O adulto pode iniciar com as atividades de imitação, as atividades da vida diária, dramatizações e iniciar atividades acadêmicas. Saiba que esses níveis propostos na metodologia de Van Dijk não têm, entre eles, relações excludentes e nem exclusivos, eles mesclam-se constantemente. A criança pode retroceder às fases iniciais a cada situação nova. Atividade 3 A metodologia de Van Dijk baseada no movimento é a mais utilizada nos programas educacionais com crianças surdocegas. Por isso, precisa ser exaustivamente estudada como base teórica nas práticas pedagógicas, considerando uma compreensão particular e especial a cada criança surdocega envolvida no programa. Com base nessa afirmação faça uma pesquisa no sentido de coletar mais informações sobre os níveis propostos por Van Dijk e socialize com os colegas (como sugestão acesse os sites: www.adefav.org.br, www.ahimsa.org.br, www.grupobrasil.org.br): 20 minutos. _____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ RECURSOS PARA A COMUNICAÇÃO As maiorias das crianças surdocegas não Foto 13 Atividades pedagógicas com desenvolvem a fala, no entanto, podem expressar e receber aluno surdocego. mensagens que lhes são transmitidas por outras vias sensoriais. Mas é necessário esperar o tempo de cada indivíduo para que possa entender o enunciado e, conseqüentemente, elaborar sua resposta. É de fundamental importância a presença de um guia intérprete, profissional que serve de canal de Fonte: arquivo da escola comunicação e visão entre a pessoa surdocega e o meio no UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 139 EDUCAÇÃO INCLUSIVA qual ela está interagindo, o que facilita, “o deslocamento e a mobilidade desta pessoa, por isso é chamada de guia” (RODRIGUEZ, 1999). Também há necessidade de instrutor de língua de sinais, que é um intérprete da língua oral para a língua de sinais ou vice-versa. Esses dois profissionais contribuirão para a construção de um elo facilitador da comunicação receptiva e expressiva, do surdocego, no seu meio. SURDOCEGO EM FASE PRÉ-LINGÜÍSTICA No que se refere à criança surdocega em fase pré-lingüística, as formas de comunicação mais freqüentes são (BRASIL, 2002): 1. Pistas de Contexto: ocorre no decorrer das atividades desenvolvidas no espaço natural da criança, permitindo-lhe saber o que vai acontecer de significativo neste contexto, por exemplo, o cheiro da comida dentro da panela, no fogo, indica que está na hora de comer. 2. Pistas Táteis: são estímulos táteis feitos no corpo da criança, com o objetivo de transmitir mensagens específicas, como por exemplo tocar no ombro para indicar a aproximação de alguém. 3. Objetos de Referência: são objetos utilizados no cotidiano, como pistas na indicação de eventos futuros. Esses objetos representam pessoas, ações, lugares, que são essenciais para a estimulação da memória, pois recorda acontecimentos. Os objetos devem seguir uma escala de dificuldade, optando pelo mais concreto ao mais simbólico, como exemplo: 1 Usar a colher (objeto concreto) várias vezes para indicar a hora do almoço, a criança num momento ulterior poderá antecipar, pois ao visualizar a colher demonstrará entender o que vai acontecer através de um sorriso ou de um movimento de excitação; 2 Após todo esse trabalho com o objeto concreto substitui-se por outra representação, por exemplo, uma colher de papelão; 3 Caso a criança consigo fazer a antecipação com outras representações do objeto, passa-se para o nível de abstração, mostrando somente uma parte do objeto (metade da colher); 4 Utilizar objetos em miniaturas ou representações do objeto real, ressaltando que estes só poderão ser utilizados se a criança possuir resíduo visual, sendo de suma relevância que os objetos selecionados sejam baseados no contexto e nas experiências da criança. 140 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Foto 14 - A pulseira é o objeto de referência da professora Fonte: arquivo da escola. 4. Uso do Calendário: É construído um sistema de rotina por meio do calendário, a partir do momento em que a criança já faz a antecipação de algum evento através da representação de objetos de referência. Os objetos são relacionados às atividades, organizados em prateleiras, divisórias ou caixas. Esse calendário funcionará como um plano de atividade e/ou rotina para a criança saber ou prever o que vai acontecer, ou mesmo escolher a atividade do seu interesse. 5. Gestos Naturais: Inclui gestos faciais, corporais e manuais nos atos comunicativos, mas lembrando que exigem resíduos visuais. Exemplos: Acenar para dizer 'adeus', Acenar 'não' ou 'sim' com a cabeça, apontar para indicar objetos, locais ou pessoas. 6. Pistas de Imagens: Dependendo do nível de simbolização da criança o professor oferece imagem de contorno de objetos, desenhos e fotografias, para representar uma atividade e/ou ação, como o desenho de uma chave para representar 'ir para casa'. Essas pistas dependem da visão para a apreensão da imagem. SURDOCEGO EM FASE PÓS-LINGÜÍSTICA As formas de comunicação receptivas mais freqüentes na fase pós-lingüística são (BRASIL, 2002): 1. Língua de Sinais Tátil: É a língua de sinais usada por surdos adaptada ao tato. Os sinais são realizados em uma ou ambas as mãos da criança surdocega. Neste caso, mudou-se apenas o espaço de realização dos sinais. 2. Língua de Sinais em Campo Visual Reduzido: a interação se dá por meio de sinais no campo visual espacial perceptivo da criança surdocega. 3. Alfabeto Manual Tátil: É a utilização do alfabeto manual (dactilologia) como via de UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 141 EDUCAÇÃO INCLUSIVA comunicação que, dependendo da necessidade, pode ser adaptado. As adaptações mais usadas consistem em fazer as letras sobre a palma da mão da criança para que perceba através do tato a realização do movimento. Fonte: http://www.feneis.com.br/surdoscego/imagens/sc_alfabeto.gif 1. Sistema Braile Tátil ou Manual: Baseia-se no sistema braile, utilizado por cegos, nas atividades de leitura e escrita, podendo também ser utilizado o braile digital. Segue as mesmas regras e convenções do braile tradicional, mas sua realização é no próprio corpo da pessoa surdocega e de seu interlocutor, usam-se os dedos indicador e médio, que representam a cela braile e a falange representa o espaço de marcação do ponto. 2. Escrita na Palma da Mão: consiste no registro de cada letra de uma palavra na palma da mão ou em outra parte do corpo (braço) da pessoa surdocega, com o dedo indicador do interlocutor. 142 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 3. Tablitas Alfabéticas: a tablita é uma espécie de prancha em tamanho reduzido, que contém letras e números em relevo ou em braile. A comunicação se dá a partir de um deslocamento do dedo indicador da pessoa surdocega sobre as letras, formando, assim, as palavras que irão compor a mensagem. 4. Método Tadoma: é uma forma de comunicação na qual a pessoa surdocega usa uma ou as duas mãos (percepção tátil), sendo que o dedo polegar fica sobre os lábios do interlocutor e os demais dedos se mantém sobre a bochecha, a mandíbula e a garganta do mesmo, para receber a mensagem através da produção da fala. 5. Materiais Técnicos do Sistema Alfabético com Retransmissão em Braile: são como computadores ou máquinas de escrever portáteis, mecânicas ou eletrônicas. Sua função é transformar mensagem do sistema alfabético em sistema braile. 6. Sistema Malossi: sistema baseado na colocação de letras e números de 0 a 9 nas falanges dos dedos e na palma de uma das mãos da pessoa surdocega. Distribui-se em cada falange uma letra do alfabeto. Na medida em que o espaço destinado à letra é tocado, formam-se as palavras. Podem ser utilizadas luvas que têm impressas as letras e os números, indicando os lugares que devem ser tocados. 7. Escrita em Tinta: consiste na escrita ampliada da mensagem em tinta, para ser percebida pela pessoa surdocega com resíduos visuais. 8. Leitura Labial: o surdocego que possui resíduos visuais recebe a mensagem do interlocutor mediante a língua oral, através da leitura labial. 9. Língua Oral Amplificada: é a recepção da mensagem expressa pelo interlocutor através da língua oral, mediante o uso, por parte da pessoa surdocega, do aparelho de amplificação sonora individual. Importante! Todas essas formas de expressão são constituintes do processo comunicacional das pessoas surdocegas, numa escala de evolução, partindo das formas mais simples/concretas às mais complexas/simbólicas. Atividade 4 Agora, faça uma reflexão acerca das seguintes questões: · · · Qual a importância da intervenção educacional para o aluno surdocego? Quais as contribuições do método da Van Dijk na educação dos surdocegos? Que considerações podem ser feitas com relação às formas de comunicação dos surdocegos? Com base em suas reflexões, nas leituras e no conhecimento acumulado em torno do assunto, comente sua posição pessoal acerca da intervenção educacional com alunos surdocegos: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 143 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 20 minutos. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Professor (a), a intervenção educacional com alunos surdocegos é desafiadora, mas com essas informações somadas ao seu interesse serão fortes subsídios para uma mediação com êxito. Prosseguindo os estudos, realize a leitura de algumas orientações práticas no trabalho pedagógico com surdocegos. 10. 6 COMO AJUDAR UM SURDOCEGO/ INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA Quando uma porta de felicidade se fecha, abre-se outra; muitas vezes, porém, ficamos a olhar tanto tempo para a porta fechada, que não vemos a que se abriu para nós (Helen Keller). [TRADUÇÃO DE UM FOLHETO DO: HELEN KELLER NATIONAL CENTER -NOVA YORK] · · · · · · · · · · · 144 Ao se aproximar de um surdocego, toque levemente em seu ombro para que ele perceba sua presença; Qualquer que seja o meio de comunicação utilizado, faça-o gentilmente; Combine com ele um sinal para que ele o identifique; Aprenda e use qualquer que seja o método de comunicação que ele saiba, mesmo que elementar; Se houver um método mais adequado que lhe possa ser útil, ajude-o a aprender; Tenha a certeza de que ele o está percebendo; Encoraje-o a usar a fala se ele conseguir mesmo que ele saiba apenas algumas palavras; Se estiverem outras pessoas presentes, avise-o quando for apropriado para ele falar; Avise-o sempre do que o rodeia; Informe-o sempre de quando vai embora, mesmo que seja por um curto espaço de tempo; Assegure-se de que ele ficará confortável e em segurança. Se não estiver, vai precisar de algo para se apoiar durante a sua ausência, coloque a mão dele no que servirá de PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA · · · · · apoio. Nunca o deixe sozinho num ambiente que não lhe seja familiar; Mantenha-se próximo dele para que ele perceba sua presença; Ao andar, deixe-o apoiar-se no seu braço, nunca o empurre a sua frente; Utilize sinais simples para avisar que tem escada, porta ou carro; Um surdocego que se apóia no seu braço percebe qualquer mudança do seu andar; Confie na sua cortesia, consideração e senso comum. É normal esperar algumas dificuldades na comunicação. ESCREVA NA PALMA DA MÃO DO SURDOCEGO COM O SEU DEDO INDICADOR Fonte: Grupo Brasil 2001(encarte). COMO FAZER: Qualquer pessoa que saiba escrever letras maiúsculas pode imediatamente usar o alfabeto acima indicado e se comunicar com a maior parte das pessoas surdocegas. Traços, setas e números indicam a direção, seqüência e número de pancadas. Escreva só na área da palma da mão. Não tente juntar as letras. Quando quiser passar a escrever números, faça um ponto na base da palma da mão; é o sinal de que vai passar a escrever números. A IMPORTÂNCIA DA MÃO SOBRE A MÃO Foto 15: atividades com as mãos Fonte: arquivo da escola U.E.ES. Prof. Astério de Campos UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 145 EDUCAÇÃO INCLUSIVA A criança surdocega, para conhecer e explorar o mundo que a cerca, precisa de diferentes recursos (táteis, visuais, gestuais, auditivos, fala e outros), porém suas mãos devem estar livres, pois elas serão seus olhos e ouvidos nas interações com as pessoas, objetos e ambiente. FUNÇÃO DAS MÃOS (GRUPO BRASIL, 2001): Mãos de ressonância Principio de interação Mãos mediadoras Direitos a escolhas Mãos interativas Momentos sociais Mãos expressivas Aceitação, recusa, desejo Mãos explorativas Conhecer Mãos de orientação Indicação (o que quero) Mãos curiosas Descoberta Mãos ferramentas Ferramenta para meu guia interprete Mãos que tocam palavras Tocar palavras TADOMA Para uma interação eficaz lembre-se que quando a atividade envolve mão sobre mão, a mão do professor repousa em cima da mão da criança, orientando o movimento, o professor conduz a atividade. Quando a atividade requer a mão sob a mão, a mão do professor é posicionada em baixo da mão da criança, na orientação do movimento convida a criança a explorar com segurança. Atividade 5 Caro professor (a), para finalizar o estudo deste capítulo, elabore um folder informativo que contemple os princípios básicos da educação das pessoas surdocegas e divulgue nas escolas do seu município. Sugestão: De posse de todas essas informações, sobre a surdocegueira, seja um agente multiplicador e se disponha a realizar estudos, debates e seminários nas escolas do seu município. Socializando, assim, o que você aprendeu. 146 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 EDUCAÇÃO INCLUSIVA REFERÊNCIAS ALFABETO MANUAL. Disponível em: <htpp://www. feneis. com.br/.../ >. Acesso em 27.09.2005. AMARAL, Isabel. A Educação de Estudantes Portadores de Surdocegos. In: Masini, Elcie F.S. (Org.). Do Sentido… Pelos Sentidos… Para os Sentidos. São Paulo: Vetor Editora, 2002. BIANCHETTI, Lúcido; FREIRE, Ida Maria (Orgs.). Um Olhar Sobre a Diferença: interação, trabalho e cidadania. Campinas/SP: Papirus, 1998 (Série Educação especial). BORGES, Ana Carolina et al. Curso de Capacitação na Área da Multideficiência e Surdocegueira: enfoque inclusivo. São Paulo: AdefAV, 2003. Mimeografado. BRASIL. Estratégias e Orientações Pedagógicas para a Educação de Crianças com Necessidade Especiais: dificuldades de comunicação e sinalização: surdocegueira e múltipla deficiência sensorial. Brasília: MEC, 2002. GIACOMINO, Lilia (Org.). Síndrome de Usher: série surdocegueira e múltipla deficiência sensorial. São Paulo: Folder, 2001. GRUPO BRASIL DE APOIO AO SURDOCEGO E AO MULTIPLO DEFICIENTE SENSORIAL. Programa Hilton Perkins. São Paulo: Instituições, 2001. IPÓLITO, Clarissa (Org.). Surdocego PósLingüístico: série surdocegueira e múltipla deficiência sensorial. São Paulo: Folder, 2001. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO – NPADC 147 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Conclusão Aprender a conviver com a diversidade talvez seja o maior desafio, a nós todos, nestes tempos de agora. A leitura desta obra talvez nos ajude a iniciar esse aprendizado, posto que nos convida a olhar com outros olhos para algumas diferenças. No entanto, é preciso ir mais longe, tomar iniciativas e, neste sentido, este livro é exemplar, pois resulta da parceria de várias instituições. E estas são feitas por homens e mulheres, a quem, ora, agradecemos. Inicialmente, porque o devemos a incomensurável dedicação, para elaborá-lo, a vários especialistas, que, mais que autores e colaboradores, são, na essência, os construtores deste outro olhar que tanto nos falta. Merecem, também, especial referência, o Dr. João Paulo Mendes e a Profª. Drª. Carmem Barroso do Centro de Estudos Superiores do Pará CESUPA , pela confiança, em nós depositada, que, além de fortalecer, nos faz acreditar que sonhar é possível, sim. À Profª. Drª. Terezinha Valim Oliver Gonçalves, da Universidade Federal do Pará UFPA , os nossos elogios nunca serão suficientes para agradecer a competência, o empenho e a seriedade com que coordena o Projeto EDUCIMAT. Á Profª. Ms. Ana Cláudia Serruya Hage, Diretora do Centro de Ciências Sociais e Educação, da Universidade do Estado do Pará UEPA , por não medir esforços para que as parcerias saiam das letras da Lei e se concretizem de fato, ao dispor alguns de seus docentes para esta árdua, é verdade, porém gratificante obra. À Secretaria Executiva de Educação SEDUC , cuja parceria é imprescindível, pois aposta, acolhe e apóia saberes necessários à formação de seu corpo docente. (As organizadoras) 148 PROGRAM A EDUCIM AT: FORMAÇÃO, TECNOLOGIAS E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS ANO 2005 Coordenação Editorial Maria de Fátima Vilhena da Silva Editoração Eletrônica Éder Ruffeil Cristino Odivaldo Teixeira Lopes Arte final da Capa Nelson Duarte Faro Júnior Ruan Carlos Sasaki Brito Revisão Marusa da Silva Camargo Rita de Cássia Diniz Rodrigues Contato: Endereço: Av. Augusto Correa, nº 01 Guamá- Belém- Pará. CEP: 66075-110 Fone: (91) 32017487/3201-7642/3201-8070 Site: www. ufpa.br/npadc E-mail: [email protected] Realização Universidade Federal do Pará Núcleo Pedagógico de Apoio ao Desenvolvimento Científico Rede Nacional de Formação Continuada de Professores de Educação Básica (MEC-SEB) Financiamento Governo Federal MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Parcerias Apoio