PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO JOSÉ ANTONIO ZACARIAS BRANCO GARCIA IMPACTO DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL COM AS HABILIDADES RELACIONAIS NA ADMINISTRAÇÃO DE PROJETOS DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO: O CASO CELEPAR CURITIBA 2003 JOSÉ ANTONIO ZACARIAS BRANCO GARCIA IMPACTO DO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL COM AS HABILIDADES RELACIONAIS NA ADMINISTRAÇÃO DE PROJETOS DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO: O CASO CELEPAR Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de mestre do curso de Administração da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Orientador: Prof. Luiz Carlos Duclós, Ph.D. CURITIBA 2003 1. Garcia, José Antonio Zacarias Branco 2. G216i Impacto do processo de comunicação interpessoal com habilidades 3. 2003 relacionais na administração de projetos de pesquisa de desenvolvimento : o caso CELEPAR / José Antonio Zacarias Branco Garcia ; orientador, Luiz Carlos Duclós. – 2003. 179 f. : il. ; 30 cm Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2003 Inclui bibliografia 1. Comunicação interpessoal. 2. Cultura organizacional. 3. Relações Humanas. 4. Administração. I. Druclós, Luiz Carlos. II. Pontifícia Dedico este trabalho a minha esposa e companheira Eliane, minhas filhas Silvia, Viviane, Alessandra, ao meu filho Marcelo, meus netos e, principalmente, ao pai Orlando e a minha mãe Silvina (em memória). AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a DEUS Todo Poderoso por tudo que tenho recebido em minha vida. Por ter me propiciado a oportunidade concluir tão árdua tarefa, pondo em meu caminho pessoas que acreditaram, estimularam e me ajudaram das mais diversas e inesperadas formas. Em particular a Luciana Lopes, amiga e estimuladora que demonstrou uma imensa paciência para comigo, a Dna. Helena Abage pelo apoio financeiro ao meu projeto, a todos os professores, cujos conhecimentos foram fundamentais para o meu desenvolvimento acadêmico, ao Professor Manoel Flávio Leal, funcionário da CELEPAR, pela sua contribuição na aplicação dos instrumentos empregados neste estudo de caso. Mas, principalmente, agradeço ao meu mentor e orientador Professor Luiz Carlos Duclós, pela sua expressiva contribuição para meu amadurecimento pessoal e acadêmico. Enfim, agradeço a todos que, embora não mencionados, sabem quando foram importantes para esse processo e o que representaram para mim. Longa é a jornada Daqueles que caminham Pela estrada do conhecimento. Passos pensados, Muitas vezes pesados, A se perderem no passado, Por não se poder ser, apressado! Tempo presente, Constantemente a mostrar Outra nova realidade... O que antes era verdade, Agora tem de mudar Para outra coisa referenciar! Caminho que sem fim Continua a estimular Mentes que não querem calar, Que esperam um dia enfim, Em algum lugar... Chegar! J. A. Garcia RESUMO Ao final do século XX, o tema globalização da economia, passou a ser uma constante, promovendo a sofisticação dos meios de comunicação, bem como o desenvolvimento de novas culturas organizacionais, focadas na gestão do conhecimento decorrente do processo de comunicação entre seus atores. As competências nas habilidades relacionais e nas comunicações interpessoais podem garantir o sucesso de executivos e profissionais das mais diversas áreas. A comunicação interpessoal apresenta-se como o elo central que permeia todas as demais habilidades. A importância de se buscar a relação entre a comunicação interpessoal e as habilidades relacionais, está na razão direta em que estas possam influenciar no desenvolvimento de competências ainda maiores, principalmente em setores que possam estar carentes de tais habilidades, como no caso de profissionais ligados a projetos de Pesquisa e Desenvolvimento. O objetivo deste trabalho é analisar o processo de comunicação interpessoal de profissionais que atuam em projetos de Pesquisa e Desenvolvimento, identificando como o mesmo impacta nas habilidades relacionais destes profissionais. A metodologia de pesquisa empregou instrumentos como revisão bibliográfica, reuniões, observações diretas não-sistemáticas, levantamento dos recursos de comunicação, entrevistas abertas e questionário, aplicados na área de tecnologia da CELEPAR - Companhia de Informática do Paraná. Os resultados encontrados demonstraram haver uma predominância do tipo de comunicação focada nas relações e que estas correspondem aos níveis encontrados nas habilidades relacionais necessárias a este tipo de comunicação, principalmente quando se observam habilidades como as de negociação e de administração de conflitos. Este estudo de caso conclui que os profissionais de projetos de pesquisa e desenvolvimento apresentam dificuldades relacionais, devido a percepções diferenciadas, determinadas pelo tipo de formação que recebem e pela influência dos ambientes de trabalho. Estas condições se refletem diretamente na forma como se comunicam, indicando a ligação entre as habilidades relacionais e a comunicação interpessoal. Palavras-chave: gestão do conhecimento, processo de comunicação, gestão de competências, comunicação interpessoal, habilidades relacionais, projetos de pesquisa e desenvolvimento. ABSTRACT At the end of the last century, the global economy theme, started to be a constant, promoting the sophistication of the communication means, as well as the development of new organizational cultures, focused on knowledge management as consequence of the communication process between its actors. The competences in the relational abilities and in the interpersonal communications can guarantee the success of professionals in several areas. The interpersonal communication presents as the central link that permeates all the other abilities. It is important the relationship study between the interpersonal communication and the relational abilities, because they can influence the development of more significant competences, mainly in sections that can be lacking of such abilities, as the professionals in Research and Development projects. The objective of this work is to analyze the process of interpersonal communication of professionals who act in Research and Development projects, identifying the impact in its relational abilities. The research methodology used instruments as bibliographical revision, meetings, no-systematic direct observations, communication resources revision, open interviews and questionnaires, applied in the technology area of the CELEPAR – Companhia de Informática do Paraná. The results demonstrated that exists a predominance of a kind of communication focused in the relationships and they correspond at the levels found in the relational abilities necessary to this kind of communication, in particular when abilities are observed during negotiations and conflicts administration. This study concludes that the professionals involved in Research and Development projects, present relational difficulties, due to differentiated perceptions, determined by the individual formation and by the influence of the work atmosphere. These conditions reflect directly in the form as they communicate, pointing to an strong connection between the relational abilities and the interpersonal communication. Key words: knowledge management, communication process, competences management, interpersonal communication, relational abilities, Research and Development projects. LISTA DE FIGURAS Figura 1 Processo Comunicação em Esquema.............................. Figura 2 Modelo Conceitual da Pesquisa........................................ 35 108 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Gráfico 2 Gráfico 3 Gráfico 4 Distribuição de estilos predominantes............................... Estilo predominante por sexo........................................... Local de trabalho versus estilo predominante.................. Trabalha nos salões versus estilos predominantes versus função básica.................................................................... Gráfico 5 Trabalha nos salões versus faixa etária versus estilo predominante.................................................................... Gráfico 6 Não trabalha nos salões versus faixa etária versus estilo predominante.................................................................... Gráfico 7 Tempo de trabalho em anos versus estilo predominante.................................................................... Gráfico 8 Dimensões Interpessoais.................................................. Gráfico 9 Tipos de Comunicação...................................................... Gráfico 10 Funcionários versus questionários................................... 124 125 126 127 130 130 132 141 142 143 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Negociação Posicional Vs Cooperativa................................. Quadro 2 Desenvolvendo Habilidades Para Uma Delegação Eficaz.... 78 85 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Incidência de respostas por sexo e função básica desempenhada...................................................... Tabela 2 Estilos de administração de conflitos por participante...... Tabela 3 Distribuição dos estilos predominantes............................. Tabela 4 Estilo predominante por sexo............................................ Tabela 5 Função básica vs estilos predominantes........................... Tabela 6 Local de trabalho o vs estilos predominantes.................... Tabela 7 Trabalha nos salões vs função básica vs estilos predominantes................................................................... Tabela 8 Não trabalha nos salões vs função básica vs estilos predominantes................................................................... Tabela 9 Distribuição por faixa etária............................................... Tabela 10 Local de trabalho vs faixa etária vs estilos predominantes................................................................... Tabela 11 Estilo predominante por tempo de trabalho na celepar..... Tabela 12 Comunicação com foco na relação................................... Tabela 13 Comunicação focada no conteúdo.................................... Tabela 14 Comunicação estratificada................................................ Tabela 15 Habilidades políticas.......................................................... Tabela 16 Habilidades de negociação................................................ Tabela 17 Habilidades de administração de conflitos......................... Tabela 18 Habilidades de aconselhamento........................................ Tabela 19 Função básica vs habilidades de comunicação/relação.... Tabela 20 Comunicação estratificada vs função básica..................... Tabela 21 Comunicação conteúdo vs função básica.......................... 121 122 123 124 125 126 127 128 128 129 131 134 135 136 137 138 138 139 139 140 140 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...............................................................................................1 1.1. OBJETIVOS...................................................................................................7 1.1.1. Objetivo geral.................................................................................................7 1.1.2. Objetivos específicos.....................................................................................8 1.2. ESTRUTURA DO TRABALHO......................................................................8 2. REFERENCIAL TEÓRICO..........................................................................11 2.1. ADMINISTRAÇÃO DE PROJETOS DE P&D..............................................11 2.2. PESQUISA E DESENVOLVIMENTO NO PROCESSO DE INOVAÇÃO ...15 2.3. GESTÃO DO CONHECIMENTO.................................................................16 2.3.1. O conhecimento e a sua gestão..................................................................17 2.3.2. Capital intelectual ........................................................................................19 2.3.3. Capital humano............................................................................................20 2.3.4. Capital estrutural..........................................................................................20 2.3.5. Capital do cliente .........................................................................................21 2.3.6. Cultura organizacional e seus novos paradigmas.......................................21 2.4. GESTÃO DE COMPETÊNCIAS ..................................................................27 2.5. COMUNICAÇÃO..........................................................................................30 2.5.1. Comunicação organizacional ......................................................................31 2.5.2. Processo de comunicação...........................................................................34 2.5.3. Comunicação interpessoal ..........................................................................36 2.5.3.1 Análise dos Determinantes da Comunicação ..................................................40 2.5.3.2 Controle das Desigualdades Sociais.................................................................41 2.5.3.3 Análise dos Recursos ..........................................................................................42 2.6. COMPETÊNCIAS INDIVIDUAIS E A IMPORTÂNCIA DAS HABILIDADES RELACIONAIS. .................................................................................43 2.6.1. Processos de percepção e a comunicação interpessoal: ...........................46 2.6.1.1 Percepção interpessoal .......................................................................................46 2.6.1.2 Fatores perceptuais..............................................................................................50 2.6.2. Habilidades relacionais................................................................................53 2.6.2.1 Habilidade de comunicação ................................................................................53 2.6.2.2 Habilidade de administração de conflitos .........................................................61 2.6.2.3 Habilidades de negociação .................................................................................67 2.6.2.4 Habilidades de aconselhamento ........................................................................79 2.6.2.5 Habilidades políticas ............................................................................................81 2.6.2.6 Habilidades de delegação ...................................................................................84 3. METODOLOGIA..........................................................................................86 3.1. ESPECIFICAÇÃO DO PROBLEMA ............................................................86 3.1.1. Perguntas de pesquisa ................................................................................86 3.1.2. Definições constitutivas e operacionais.......................................................88 3.1.3. Definição de outros termos relevantes ........................................................92 3.2. CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO..................................................94 3.2.1. A Companhia de Informática do Paraná – CELEPAR ................................94 3.2.2. Unidade estudada: Divisão Técnica “E” – DITEC-E..................................100 3.3. DELINEAMENTO DA PESQUISA.............................................................102 3.3.1. Delimitação do estudo ...............................................................................103 3.3.2. População e amostra.................................................................................104 3.3.3. Tipos, coleta e tratamento de dados. ........................................................104 4. MODELO PROPOSTO E MÉTODO DE TRABALHO..............................107 4.1. MODELO CONCEITUAL ...........................................................................107 4.2. MÉTODO DE TRABALHO.........................................................................111 5. ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................116 5.1. OBSERVAÇÕES .......................................................................................116 5.2. ENTREVISTAS ..........................................................................................118 5.3. QUESTIONÁRIOS .....................................................................................120 5.3.1. Perfil preferencial básico de administração de conflitos ...........................121 5.3.2. Dimensões interpessoais...........................................................................133 6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ...................................................146 REFERÊNCIAS........................................................................................................151 APÊNDICES.............................................................................................................157 1 1. INTRODUÇÃO Ao final do século XX, o tema globalização da economia, passou a ser uma constante. Se antes o mundo estava organizado sob a premissa de relações internacionais baseadas em Estados tradicionais, regidas por questões ideológicas, agora é cada vez mais ressaltada a importância do desenvolvimento econômico. O mundo passou a ser percebido como um ambiente de relacionamentos. Tecnologias inovadoras de informação e comunicação têm despertado à atenção de administradores e de profissionais em todos os setores da vida humana. Novas formas de gerenciar e administrar tem agilizado os procedimentos em todas as indústrias e segmentos de mercado. Empresas surgem a todo o momento, não mais necessitando de grandes estruturas físicas ou patrimoniais. Conceitos e estruturas se fundamentam em espaços e tempos virtuais, criando outras maneiras de fazer as coisas e formas diferentes de ver as organizações. Novos pressupostos, por sua vez, sofisticam ainda mais os sistemas de comunicação desenvolvendo culturas organizacionais cada vez mais focadas nas competências, de forma a tirar o máximo de proveito das inovações tecnológicas, ao mesmo tempo em que se alavanca um diferencial que possa fazer frente às exigências de um mercado altamente digitalizado e de uma sociedade em rede. Sociedade que se desenvolve tecnologicamente, mas que parece continuar apresentando dificuldades no que tange a comunicação interpessoal e as habilidades relacionais. Castells (2001) faz uma análise desse contexto tendo como ponto de partida o paradigma da TI – Tecnologia da Informação. As mudanças que estão ocorrendo propiciam o surgimento de uma nova estrutura social, multiforme em função das várias culturas e instituições espalhadas pelo planeta. Este paradigma apresenta as seguintes características: a tecnologia age sobre a informação e vice-versa; toda a atividade humana está permeada, mas não determinada pela TI; as redes estão presentes nos conjuntos das relações humanas preservando a flexibilidade. O surgimento de uma sociedade baseada na informação e no conhecimento é uma conseqüência direta destes fatos. 2 O conhecimento é um tema que há muito tem instigado pensadores como Platão, Aristóteles e outros que ao longo da história se preocuparam em defini-lo. Nas organizações é cada vez maior a preocupação com este assunto. A valorização da experiência, do know-how das pessoas, de alguma forma sempre se fez presente e há muito tempo o conhecimento já é considerado uma importante fonte de vantagem competitiva. Porém, o conhecimento advém da interpretação da informação e de sua utilização para algum fim, como o de gerar novas idéias, resolver problemas ou tomar decisões, em outras palavras, exige alguém capaz de compreender e utilizar as informações relevantes, know-why, qualificando-as em ações dirigidas ao desenvolvimento profissional e organizacional. Fato que leva as organizações a dar cada vez mais importância a quesitos como criatividade, flexibilidade, iniciativa e capacidade de tomar decisões, procurando por profissionais que saibam fazer uso do seu conhecimento. No centro desta questão está não só a capacidade destes profissionais em lidar com a informação, transformando-as em valor agregado, mas principalmente na capacidade de se comunicar de forma a tirar o máximo proveito operacional e comercial dessas informações, facilitando processos e relacionamentos. Deste modo, a riqueza de uma organização não é mais determinada exclusivamente pelos recursos materiais que eventualmente possua e controle, mas pela qualidade com que utiliza as informações que dispõe, pelo conhecimento de seus colaboradores e pela competência de suas ações. O conhecimento agregado a um produto ou serviço, assim como a velocidade em que é gerado, representa hoje um importante diferencial competitivo que somente pode ser evidenciado através de uma comunicação organizacional efetiva e eficiente, tanto no âmbito interno quanto externo. A comunicação aparece como condutor deste processo na medida que dissemina informação e conhecimento de forma sistêmica e relacional. A rigor, a organização não possui conhecimento. O seu capital intelectual está no conhecimento de seus colaboradores, denominado de capital humano; nas características e opiniões de seus clientes, ou capital do cliente; e na forma como as informações de ambos são gerenciadas, chamado de capital estrutural. Assim, a gestão do conhecimento, que pode ser entendida como o principal instrumento para 3 viabilizar o capital intelectual das organizações, passa a ter na comunicação o seu principal elemento. A gestão do conhecimento é, portanto, uma ferramenta gerencial desenvolvida para administrar informação e agregar-lhe valor de forma a permitir ações mais adequadas e eficazes para situações e contextos específicos, viabilizando a utilização do conhecimento no nível organizacional. Segundo Fleury e Oliveira (2001), a gestão do conhecimento representa a capacidade das empresas em utilizar e combinar as várias fontes e tipos de conhecimento organizacionais para desenvolverem competências específicas e capacidades inovadoras, que se traduzem ao longo do tempo em novos produtos, processos, sistemas gerenciais e liderança de mercado e assim fazer frente às exigências e demandas de um contexto dinâmico e complexo, destacando a necessidade de uma comunicação cada vez mais eficiência e capaz. Vargas (2000) afirma que para atender a essas demandas de maneira eficaz, em um ambiente cada vez mais caracterizado pela velocidade das mudanças, tornase indispensável um modelo de gerenciamento baseado em prioridades e objetivos. O fato do gerenciamento de projetos ter crescido de maneira tão acentuada desde o início dos anos noventa, baseia-se exatamente na proposta de se estabelecer um processo estruturado e lógico que permita o trabalho com eventos que se caracterizem pela novidade, complexidade e pela dinâmica ambiental. Stano e Leite (2001, p.21), salientam que “estruturas administrativas muito formais, centralizadas na burocracia e na hierarquização extrema de tarefas e de postos, podem ser deflagradores de elementos que impedem a circulação e criação de conhecimentos”. A estrutura proposta pela administração por projetos, ao contrário, pelas suas características, facilita o processo de construção do conhecimento compatível com os objetivos da organização, ou seja, no conjunto de estratégias para criar, adquirir, compartilhar e utilizar ativos de conhecimento. A inovação está diretamente relacionada a aprendizado, capacitação e acumulação contínua de conhecimentos. As organizações que aprendem e que geram conhecimento são as mais competitivas e aptas a inovar. Segundo Fonseca (2001), o processo de inovação tecnológica está intimamente ligado à geração de idéias, embora vá além do simples gerar idéias, abrangendo também, o sentido de pô-las em uso. Idéia é a representação de um tipo de bem com características 4 singulares. Daí a importância da pesquisa científica e tecnológica no desenvolvimento econômico de países e de suas organizações, o que levou a uma substancial ampliação dos investimentos na área de P&D – Pesquisa e Desenvolvimento. A P&D facilita a produção de novas idéias e experimentos, assim como a sua conexão em nível de usuários e gerência, além de favorecer a comunicação, a flexibilidade e a redução de barreiras e custos. Daí surgem o desenvolvimento de habilidades multidisciplinares e uma maior versatilidade ao aprimorar conhecimentos, principalmente quando se associa pesquisa e desenvolvimento ao gerenciamento de projetos. A administração de projetos de P&D, oferece características que atende de maneira particularmente eficaz ao momento atual das organizações, que em função das exigências do mercado está começando a se disseminar por todos os segmentos, na medida que a aplicação de conhecimentos, habilidades e técnicas projetam atividades que visam atingir ou exceder as necessidades e expectativas das partes envolvidas. Porém, estas organizações que desenvolvem suas atividades por meio da administração de projetos, têm freqüentemente acusado problemas na área de comunicação, principalmente no que se refere à comunicação interpessoal. Apesar de todo o avanço ocorrido em TI durante os anos noventa, com o advento de equipamentos e sistemas altamente sofisticados, ainda se depende cada vez mais de habilidades relacionais. Uma pesquisa de campo realizada num projeto piloto com 30 profissionais do CNTS – Centro de Novas Tecnologias de Software do próprio CITS – Centro Internacional de Tecnologia de Software, aponta efetivamente para a importância da comunicação nas atividades de profissionais que trabalham na administração de projetos de pesquisa e desenvolvimento, uma vez que os resultados obtidos indicaram um comprometimento de habilidades interpessoais (GARCIA, 2002). Porém, no mesmo estudo não se pode afirmar que estes profissionais apresentem mais comprometimentos do que outros que trabalham na administração de projetos que não sejam de TI – Tecnologia de Informação. É fato também que para os entrevistados estas são questões importantes e que estes acreditam que uma melhor capacitação pode prepará-los mais adequadamente para lidar com elas. 5 A relevância destes fatos se dá na medida direta que a comunicação aparece como facilitadora na gestão do conhecimento, uma vez que é a base do processo de troca, tendo papel fundamental nas movimentações de informações e conhecimento, assim como no processo decisório, em face da dificuldade que uma única pessoa apresenta para decodificar todas as informações necessárias para a tomada de uma decisão, agravada pelo aumento expressivo das atividades em equipes, dentre outros motivos como forma de suprir a limitação individual. Rector e Trinta (1986, p. 26) afirmam que “a comunicação é, ao mesmo tempo, fenômeno e função social”, podendo ocorrer entre homem / homem, homem / máquina e máquina / máquina. Desta forma, o comunicar significa compartilhar os modos de vida e os comportamentos globais, que se manifestam por meio de um conjunto de normas previamente estabelecidas pelo homem e para homem. Ao se comunicar o homem transmite uma série de informações, simples e complexas, em nível de relações humanas ou sociais, e/ou em nível biológico. Comunicar é manifestação da essência humana, é um “estar-no-mundo-junto-de-outros” (RECTOR; TRINTA 1986, p. 26). As organizações têm se preocupado cada vez mais com as questões relacionadas com os processos de comunicação, internos ou externos, principalmente quando estas trabalham com administração de projetos, no qual o nível de autonomia é ainda maior, o que acarreta um certo isolamento das equipes de projetos, gerando uma maior necessidade de interação, integração, troca de informações, e de compartilhamento de conhecimentos, conferindo à comunicação organizacional um aspecto sistêmico, na medida que esta surge como um fator interativo entre os diversos sistemas e subsistemas da organização, regulando-os por meio de feedback constante. A comunicação precisa ser vista como um todo, que afeta o sistema em seus diversos níveis e o ambiente em que está inserido, que deve estar diretamente relacionada com a estratégia e com os objetivos da organização, integrando e divulgando as competências essências – aquelas que estão relacionadas àquilo que a empresa faz de melhor e sua identidade no mercado. Para Fleury e Oliveira (2001), compreender as competências estrategicamente relevantes como o resultado de integração de conhecimentos com a geração de vantagem competitiva, possibilita o desenvolvimento de competências 6 em todos os níveis da organização, alinhando e integrando principalmente o conhecimento de seus muitos especialistas, o que coloca ênfase especial no conhecimento coletivo, na forma de linguagem ou de significado compartilhado. Muitos teóricos das organizações têm definido competência como uma característica organizacional, um elo entre o conhecimento e estratégia, como o poder que uma organização tem de agir na relação com outras organizações (SVEIBY, 1998). A gestão de competências é o processo de diagnóstico, mapeamento e avaliação dos talentos da organização, definição de diretrizes e o desenvolvimento das competências da empresa. O processo de gestão de competências está estreitamente relacionado à gestão estratégica da empresa. É a gestão de competências que estabelece as diretrizes que permitem a organização mapear as competências institucionais e individuais para o atendimento das necessidades de conhecimentos técnicos, habilidades e atitudes, atuais e futuras, para obtenção de efetividade, tanto na execução dos processos organizacionais, como na construção e desenvolvimentos de produtos, na prestação dos serviços e no relacionamento com os clientes (SANTOS et al. 2001). No âmbito empresarial o conceito das competências individuais assume particular importância, principalmente no que se refere às habilidades interpessoais. Para Sveiby (1998), habilidade significa a arte de “saber fazer” e envolve uma proficiência prática físico/mental sendo adquirida principalmente por treinamento prático. Inclui-se neste o conhecimento de regras de procedimentos e habilidades de comunicação. Robbins (2000, p.423) afirma que a falta de habilidades interpessoais, também chamadas de relacionais, é responsável por mais demissões de executivos do que a falta de habilidades técnicas para o cargo. Segundo ele, existe um grande número de estudos que demonstram este fato, entre eles o autor cita uma pesquisa realizada pelo Centro de Liderança Criativa e um levantamento realizado entre quase 200 executivos de seis companhias arroladas na revista Fortune 500. Para este autor, as competências nas habilidades interpessoais: comunicação, administração de conflitos, negociação, aconselhamento, atividade política e delegação; e em outras, podem garantir o sucesso de executivos e profissionais das mais diversas áreas. Dependendo das atividades a exigência destas habilidades é maior ou menor. Robbins (2000) ressalta a importância da comunicação interpessoal 7 ao afirmar que há pouca probabilidade de sucesso onde habilidade comunicativa é deficitária e que esta depende diretamente de dois elementos fundamentais: habilidade para ser um ouvinte ativo e habilidade para dar feedback. A comunicação interpessoal parece ser o elo central que permeia todas as demais habilidades. Esta difere de outras formas de comunicação por existirem poucos participantes envolvidos. Neste tipo de comunicação as pessoas que estão interagindo encontram-se em grande proximidade física uma da outra, existindo múltiplos canais sensoriais utilizados e o retorno é imediato. Ocorre entre pessoas que convivem durante algum tempo. Estas pessoas vêem as outras como indivíduos únicos e não como um grupo social agindo fora de situações sociais. Na comunicação interpessoal, as mensagens são constituídas por palavras e insinuações não-verbais, os interlocutores recorrem muito mais a conversas face-aface, ao telefone e aos e-mails como canais básicos (ROBBINS, 2000 p.424). A comunicação interpessoal se revela importante pelos ganhos que se pode adquirir durante a relação com outras pessoas, tanto na aquisição e compreensão de informações sobre estas, como na obtenção de vantagens adquiridas pelo reconhecimento de uma variedade de sinais verbais e não-verbais, permitindo assim um maior conhecimento sobre o outro, constituindo-se na base da comunicação organizacional. A importância de se buscar a relação entre a comunicação interpessoal e as habilidades relacionais, está na razão direta em que estas possam influenciar no desenvolvimento de competências ainda maiores, principalmente em setores que possam estar carentes de tais habilidades, como se acredita ser o caso de profissionais ligados a projetos de P&D. 1.1. OBJETIVOS 1.1.1. Problema de Pesquisa De que forma a comunicação interpessoal interfere nas habilidades relacionais de profissionais que atuam em projetos de Pesquisa e Desenvolvimento? 8 1.1.2. Objetivo geral Analisar o processo de comunicação interpessoal de profissionais que atuam em projetos de Pesquisa e Desenvolvimento, identificando como o mesmo impacta nas habilidades relacionais destes profissionais. 1.1.3. Objetivos específicos • Identificar as “habilidades relacionais” envolvidas em projetos de pesquisa e desenvolvimento. • Descrever o processo de “comunicação interpessoal” envolvido em projetos de pesquisa e desenvolvimento. • Descrever a relação entre “comunicação interpessoal” e “habilidades relacionais” envolvidas em projetos de pesquisa e desenvolvimento. • Desenvolver um modelo básico de pesquisa. • Avaliar os padrões de relacionamento no grupo de amostra. • Identificar os perfis básicos predominantes no grupo de amostra. • Estabelecer um paralelo entre as habilidades relacionais e a comunicação interpessoal. 1.2. ESTRUTURA DO TRABALHO Esta pesquisa está estruturada em seis capítulos: No capítulo 1 de “Introdução”, descreveu-se o problema de pesquisa, com a questão central: o impacto do processo da comunicação interpessoal nas habilidades relacionais de profissionais que atuam em projetos de pesquisa e desenvolvimento. Foram descritas também as definições conceituais dotadas e 9 contextualizadas com relação aos modernos métodos de administração e o papel da comunicação como processo sistêmico e pessoal, assim como os objetivos e justificativas do estudo, finalizando com a estrutura do trabalho. No capítulo 2 da “Fundamentação Teórica”, desenvolveu-se a revisão bibliográfica a partir do estudo da administração de projetos de P&D, contextualizando-a dentro da gestão do conhecimento e da gestão de competências, e de como estas se correlacionam com o processo de comunicação. No estudo da comunicação interpessoal procurou-se demonstrar, através da descrição conceitual, a influência desta nas habilidades relacionais. Por último se conceituou as competências individuais e os processos perceptivos, seus fatores e as habilidades relacionais em si: habilidades de comunicação, de administração de conflitos, de negociação de aconselhamento, de políticas e de delegação. No capítulo 3 da “Metodologia”, destacou-se a metodologia de pesquisa de caráter eminentemente qualitativo, o que se justifica por se tratar de avaliações de comportamentos, no qual análise de conteúdos se mostrou mais indicada. A especificação do problema, a caracterização da organização e o delineamento da pesquisa complementam este capítulo. No capítulo 4 do “Modelo Proposto e Método de Trabalho”, foi apresentado o desenvolvimento de um modelo conceitual capaz de demonstrar a relação entre a comunicação interpessoal e as habilidades relacionais. Este modelo serve de base para futuras pesquisas e a visualização proposta do presente trabalho. No capítulo 5 da “Análise dos Resultados”, destacou-se os resultados da pesquisa, fruto direto do estudo de caso através de informações colhidas ao longo das entrevistas e das observações físicas e pessoais. Estas entrevistas e observações foram complementadas pela elaboração de questionários que procuraram relacionar os resultados obtidos nos dois primeiros instrumentos com os referenciais teóricos. Estes instrumentos possibilitaram o estabelecimento do perfil básico preferencial de administração de conflitos e a relação entre este e as dimensões interpessoais. No capítulo 6 da “Conclusões e Recomendações”, foram apresentadas conclusões e recomendações baseadas nas entrevistas, nas observações e nos resultados obtidos com a aplicação dos questionários que confirmam a premissa 10 deste trabalho e sua pertinência. Em especial evidencia a ligação direta entre a comunicação interpessoal e as habilidades relacionais, tão necessário para o sucesso profissional e empresarial. Destacou também, que a percepção interpessoal desempenha um importante papel na determinação das habilidades relacionais, o que justifica uma maior dificuldade por parte de profissionais de áreas técnicas que não foram devidamente preparados para lidar com pessoas. Porém, recomendam-se outros estudos comparativos com profissionais que desempenhem suas atividades em áreas relacionais, assim como um maior destaque na preparação dos profissionais que trabalham em áreas técnicas, especialmente para aqueles que integram equipes de projetos de pesquisa e desenvolvimento, objeto deste estudo de caso. A partir do desenvolvimento do modelo conceitual pode-se confirmar a inter-relação dos processos de comunicação com os diversos níveis da gestão de conhecimento, principalmente no que se refere à comunicação interpessoal e as habilidades relacionais. 11 2. REFERENCIAL TEÓRICO O desenvolvimento do referencial teórico sobre o tema proposto exigiu a realização de uma revisão bibliográfica que pudesse dar conta da magnitude e da complexidade que representa o processo da comunicação para a administração moderna, principalmente no que tange a gestão da informação e do conhecimento. Apesar da importância da comunicação, esta ainda é pouco explorada em seus aspectos pessoais e sociais, se comparado com a sofisticação das relações de trabalho e com a complexidade das tarefas. É bem verdade que desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação tem facilitado gerenciamento de dados técnicos e numéricos, porém o mesmo parece não acontecer na gestão de pessoas, principalmente nas relações interpessoais. Por esse motivo, inicia-se este trabalho pela administração de projetos de pesquisa e desenvolvimento, passando pela gestão do conhecimento, gestão de competências, comunicação em seus mais diversos aspectos de forma que se possa perceber a relação desta com os tipos de gestão revisados. Por fim, revisaram-se as competências individuais e a importância das habilidades relacionais, os processos de percepção, de seus fatores e sua relação com comunicação interpessoal, além da revisão de cada habilidade relacional. 2.1. ADMINISTRAÇÃO DE PROJETOS DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO Um projeto pode ser definido por suas características distintas como um empreendimento temporário com o objetivo de criar um produto ou serviço único. Temporário porque cada projeto tem um começo e um fim bem definidos; e único porque o produto ou serviço produzido é de algum modo distinto de todos os outros produtos ou serviços semelhantes. Podem ser desenvolvidos em todos os níveis da organização e serem constituídos por um número ilimitado de participantes, de um único indivíduo até milhares. O tempo de atuação de um projeto, uma vez determinado, poderá ser de poucas horas ou de milhares. Podendo ainda, envolver uma unidade isolada da organização ou irem além das fronteiras organizacionais, como ocorre com consórcios e parcerias. Sendo freqüentemente componentes críticos da estratégia de negócios da organização (PMBOK, 2000). 12 Já para Robbins (2000, p.127) um projeto “é um conjunto de atividades que acontecem apenas uma vez, com ponto de partida e ponto de chegada definidos no tempo”, variando em tamanho e objetivos. Para ele a administração de projetos é “a tarefa de fazer com que as atividades sejam realizadas no prazo, dentro do orçamento e de acordo com as especificações” (ROBBINS, 2000, p.127). Uma das características em especial se destaca nas organizações que trabalham com administração de projetos, segundo Valeriano (1998), é a questão dos conflitos, resultado dos choques ou dos antagonismos entre elementos ou idéias oponentes, ocorrendo quando o comportamento de um indivíduo ou de um grupo deles ou mesmo de uma organização impede ou dificulta a realização dos objetivos de outra destas partes. Surgem como decorrência de diferenças e objetivos particulares ou específicos de cada profissional, de grupos de profissionais, de órgãos internos e os da organização como um todo, os quais precisam ser administrados, especialmente os decorrentes das relações de trabalho, não para extingui-los, mas para se tirar o melhor proveito destes. Valeriano (1998, p. 163), reconhece três tipos de conflito presentes na administração de projetos: 1. Intrapessoal – que ocorre no próprio individuo; 2. Interpessoais – existentes entre indivíduos; 3. Intergrupos – que se manifestam entre grupos de indivíduos. Segundo esse autor: [...] os conflitos interpessoais na área técnica ou profissional envolvem questionamentos e diferenças de ponto de vista quanto a objetivos técnicos, marcos a atingir, meios a empregar para obter determinados resultados e interpretações de informações (VALERIANO, 1998, p.164). Podendo ocorrer: entre pares; com superiores; ou com subordinados, exigindo destes profissionais cada vez mais habilidades interpessoais que favoreçam os relacionamentos. A fim de se tornar praticável, o trabalho e qualquer projeto do mesmo deverá ser dividido em tarefas e então, incorporado em serviços que são atribuídos a 13 funcionários. Essas tarefas também devem ser coordenadas a fim de alcançarem bons resultados. A estrutura organizacional básica do empreendimento deriva da forma como o trabalho é dividido e como as tarefas resultantes são coordenadas. Segundo Menezes (2001) há aproximadamente oito falhas de organização que ocorrem com freqüência em departamentos de gerenciamento de projetos: Serviços grandes demais para qualquer um realizar, serviços pequenos demais que não bastam para ocupar alguém adequadamente ou que acrescentem linhas desnecessárias de comunicação, níveis de gerenciamento e número exagerado, a estrutura de gerenciamento restrita demais, a separação entre autoridades e responsabilidades, a distribuição da necessidade de conhecimentos especializados que exige que todos saibam alguma coisa de tudo para a organização poder funcionar, hipocondria organizacional, onde um departamento está em constante reorganização em uma infrutífera busca de perfeição e política excessiva, causada não tanto pela tentativa das pessoas disfarçarem a própria incompetência, mas por serem deixadas por sua própria conta (para fazer o que quiserem) devido a uma fraca organização formal (MENEZES, 2001, p.75). Uma organização eficiente que se propõe para o estabelecimento de gerenciamento de projeto tem a estruturada matricial. O componente linear da matriz consiste em projetos organizados de forma mais ou menos especializados. O componente de pessoal da matriz é responsável por desenvolver e coordenar as técnicas durante as diferentes atividades do projeto, bem como por fornecer equipes para projetos e por desenvolver os talentos do pessoal que lhe está subordinado (MENEZES, 2001). Stano e Leite (2001, p.21), salientam que “estruturas administrativas muito formais, centralizadas na burocracia e na hierarquização de extrema de tarefas e postos, podem ser deflagradores de elementos que impendem à circulação e criação de conhecimentos”. A estrutura proposta pela administração por projetos, ao contrário, pelas suas características, facilita o processo de construção do conhecimento compatível com os objetivos da organização, ou seja, no conjunto de estratégias para criar, adquirir, compartilhar e utilizar ativos de conhecimento. Segundo Maximiano (1997) as desvantagens da estrutura matricial são as despesas adicionais de gerenciamento e comunicação e a necessidade de uma 14 forma para resolver conflitos entre gerentes de linha e de pessoal antes que desentendimentos afetem os funcionários. Conhecer os princípios e as técnicas de gerenciamento de projetos e aplicálos são habilidades importantes para todas as pessoas que se envolvem com projetos, podendo estas pessoas ser gerentes ou não. O gerenciamento de projetos, como habilidade é importante não apenas para gerentes de projetos e executivos (BOITEUX, 1979), como também para muitos tipos de profissionais que não ocupam cargos de gerência, mas têm atividades e responsabilidades de fundo gerencial. Para que um projeto tenha sucesso, o resultado não pode ser apenas de alta qualidade técnica, deve também render melhorias quanto à economia no empreendimento do cliente ou usuário. Assim, para ser econômico e praticável, o projeto deve fornecer benefícios que excedam seus custos e não deve requerer custos que ultrapassem os recursos disponíveis. Portanto, um projeto deve render benefícios tanto solucionando problemas quanto explorando oportunidades. Para Plonsky (2001), os benefícios ocorrem em quatro classes: aumentando a receita, reduzindo os custos, aprimorando os serviços ao cliente e satisfazendo uma necessidade imutável da empresa. Resumindo, o benefício é um aprimoramento da competitividade da companhia. A gestão do conhecimento oferece uma excelente alternativa como forma de diminuir as desvantagens decorrentes de uma estrutura matricial citadas por Maximiano (1997), na medida que desenvolve competências e habilidades que favoreçam o desenvolvimento das atividades e das relações. No caso específico de equipes de projeto de pesquisa e desenvolvimento, em que o foco de atuação é muito mais no desenvolvimento dos projetos do que no desenvolvimento das negociações, ou da administração dos conflitos, por exemplo, pode levar a um comprometimento das habilidades relacionais (interpessoais) em detrimento das habilidades técnicas requeridas por estas áreas de alta tecnologia, na qual a maior parte de seus integrantes são especialista em P&D, com tendências, teoricamente, voltadas para o desenvolvimento do produto, programas e sistemas de software. Levando estas questões para o âmbito da comunicação podem-se relacionar as habilidades técnicas a um tipo de comunicação que privilegia os 15 aspectos de relato (dados técnicos e numéricos) e que se referem apenas ao “conteúdo” da mensagem, por isso também chamado de aspectos de conteúdo, enquanto que as habilidades relacionais se preocupam com os aspectos de ordem ou de relação, referindo-se à “espécie” de mensagem e como esta deve ser considerada, preservando as relações entre os comunicantes (WATZLAWICK, et al 1993). 2.2. PESQUISA E DESENVOLVIMENTO NO PROCESSO DE INOVAÇÃO A globalização enfatizou a importância da pesquisa científica e tecnológica no desenvolvimento econômico de cada país, bem como revelou a importância em se ampliar os investimentos na área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). A exigência cada vez maior de respostas rápidas por parte das organizações, em detrimento da complexidade e da velocidade das demandas do mercado; a necessidade de se agregar cada vez mais valor a produtos e serviços, que vão além da simples transformação de matéria-prima ou de informação; a própria interação dos mercados (globalização), que apesar de um certo desequilíbrio de forças, têm derrubado fronteiras, aumentando sensivelmente às oportunidades de negócios; a mudança na estrutura das organizações, que se organizam em parcerias e grupos virtuais de trabalho, eliminando a dependência geográfica e a necessidade de centralização; assim como, o desenvolvimento de uma tecnologia da informação mais acessível e transparente para o usuário, onde os custos de aquisição e manutenção são cada vez mais reduzidos e há mais recursos disponíveis, são alguns fatores ambientais que ressaltam a importância dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (REVISTA PROFISSIONALIZAÇÃO, 2002). A tecnologia e a inovação tecnológica são fundamentais para o desenvolvimento econômico das organizações, bem como para a manutenção das mesmas no mercado. Segundo Fonseca (2001), [...] o processo de inovação tecnológica está intimamente ligado à geração de idéias, ainda que a inovação seja mais do que criar uma idéia, mas colocar uma idéia em uso. Idéia é um bem com características singulares. Diferentemente dos demais bens produzidos na economia, a idéia é não- 16 rival1 e, de uma maneira geral, de difícil exclusividade de seu uso (FONSECA 2001, p. 07). Robbins (2001) afirma que inovação é uma idéia nova aplicada na criação ou aprimoramento de um produto, processo ou serviço, que estimula as oportunidades e o crescimento e que sem ela as organizações certamente definharão e morrerão, sendo, portanto, uma forma especial de mudança e de tornar as coisas diferentes, estando diretamente relacionada ao aprendizado, capacitação e acumulação contínua de conhecimentos. 2.3. GESTÃO DO CONHECIMENTO Na “Economia do Aprendizado” o conhecimento deve ser encarado como o recurso mais estratégico, no qual a aprendizagem é o mais importante processo. No contexto atual as organizações que aprendem e que geram conhecimento são as mais competitivas e aptas à inovação, não somente por gerarem conhecimento, mas principalmente por aplicá-lo. Por outro lado não pode haver inovação sem informação e para Santos et al (2001, p.30) a “Informação é uma mensagem com dados que fazem diferença, podendo ser audível ou visível, e onde existe um emitente e um receptor”. Sveiby (1998) afirma que a informação por si só é desprovida de significado, uma vez que é o receptor da informação que lhe dá sentido e não o transmissor, sendo, portanto, ideal para transmissão de conhecimentos articulados, mas não é confiável nem eficiente para transferir conhecimento entre pessoas. Já Robbins (2000), destaca que a qualidade de toda decisão depende diretamente da qualidade da informação a disposição de quem tem a função de decidir, principalmente em um mundo cada vez mais complexo, no qual a habilidade de tomar decisões rápidas e inteligentes é fundamental para a sobrevivência, fazendo com que o controle da informação tenha adquirido uma importância significativamente maior. 1 Bem não–rival: é aquele cujo uso por um indivíduo não impede o uso, mesmo que, simultaneamente, por outros. 17 A revolução das tecnologias de informação, processamento e comunicação se caracterizam pela aplicação das informações e dos conhecimentos vigentes na geração de outros conhecimentos, o que permite o desenvolvimento de novos dispositivos de processamento e comunicação, formando assim um ciclo de realimentação cumulativo entre inovação e seu uso. Castells (2001) faz uma análise desse contexto tendo como ponto de partida o paradigma da tecnologia da informação (TI). Para ele, as mudanças que estão ocorrendo propiciam o surgimento de uma nova estrutura social, multiforme em função das várias culturas e instituições espalhadas pelo planeta. O autor afirma que este paradigma apresenta as seguintes características: a tecnologia age sobre a informação e vice-versa; toda a atividade humana está permeada (não determinada) pela TI; as redes estão presentes nos conjuntos das relações humanas preservando a flexibilidade. O surgimento de uma sociedade baseada na informação e no conhecimento é uma conseqüência direta destes fatos. Novas tecnologias de informação e comunicação têm despertado à atenção de administradores e de profissionais em todos os setores. Formas mais adequadas de gerenciamento e administração têm agilizado os procedimentos em todas as indústrias e segmentos de mercado. Empresas surgem a todo o momento, não mais necessitando de grandes estruturas físicas ou patrimoniais. Conceitos e estruturas se fundamentam em espaços e tempos virtuais, criando novas maneiras de ver as organizações, como por exemplo: a gestão do conhecimento, a gestão de competências e a administração de projetos. 2.3.1. O conhecimento e a sua gestão O conhecimento é um tema há muito já tratado, como pode ser percebido pelos estudos realizados por Platão, Aristóteles e outros tantos pensadores, que ao longo da história se preocuparam em defini-lo. Da mesma forma, também as organizações têm se preocupado com este assunto. A valorização da experiência, do know-how das pessoas, de alguma forma sempre se fez presente e há muito tempo o conhecimento já é considerado uma importante fonte de vantagem competitiva. Porém, o conhecimento advém da interpretação da informação e de sua utilização para algum fim, como o de gerar novas idéias, resolver problemas ou 18 tomar decisões. Portanto, o conhecimento só pode existir quando uma informação for interpretada e compreendida por alguém. Por este motivo, as organizações têm dado maior importância a requisitos como: criatividade, flexibilidade, iniciativa e capacidade de tomar decisões, procurando por profissionais que saibam fazer uso do seu conhecimento. Para Santos et al (2001), o conhecimento deriva da informação e esta dos dados. Sendo assim, os dados podem ser percebidos como a matéria prima básica da informação e do conhecimento; a informação como dados que possuem algum significado; e o conhecimento como o resultado da aprendizagem, daquilo que é experimentado e que pode ser utilizado novamente em outras situações. A GC – Gestão do Conhecimento tem como foco principal viabilizar a utilização do conhecimento em nível organizacional (REVISTA PROFISSIONALIZAÇÃO, 2002). O conceito de GC surgiu no inicio da década 1990 e rapidamente difundiu-se como uma ferramenta gerencial para administrar e agregar valor à informação, que depois de filtrada, sintetizada e reduzida, ajuda os profissionais a conseguir o tipo de informação que possam utilizar (HSM MANAGEMENT, 2000). Segundo Sveiby (1998, p.3), “a gestão do conhecimento não é mais uma moda de eficiência operacional. Faz parte da estratégia empresarial”. Gestão do Conhecimento é um processo sistemático de identificação, criação, renovação e aplicação dos conhecimentos que são estratégicos na vida de uma organização. É a administração dos ativos de conhecimento das organizações. Permite à organização saber o que ela sabe (SANTOS et al 2001, p.32). Fleury e Oliveira (2001), destacam que GC é a capacidade das empresas em utilizar e combinar as várias fontes e tipos de conhecimento organizacionais para desenvolverem competências específicas e capacidades inovadoras, que se traduzem ao longo do tempo em novos produtos, processos, sistemas gerenciais e liderança de mercado. A riqueza de uma organização é determinada, principalmente, pela qualidade com que utiliza as informações que dispõe, pelo conhecimento de seus colaboradores e pela competência de suas ações, e não mais pelos recursos 19 materiais que esta possua e controle. O conhecimento agregado a um produto ou serviço e a eficiência com que ele é gerado formam o seu componente principal. Em principio, a organização não possui conhecimento. O seu capital intelectual está no conhecimento de seus colaboradores (capital humano), nas características e opiniões de seus clientes (capital do cliente) e na forma como as informações de ambos são gerenciadas (capital estrutural). A gestão do conhecimento pode ser entendida como o principal instrumento para viabilizar o capital intelectual das organizações (STEWART, 1988). Portanto, a gestão do conhecimento implica em mudança de cultura, modelos de gestão, adaptação à nova realidade em relação ao capital intelectual, ao compartilhamento de conhecimento, as mudanças de modelos mentais, a motivação dos envolvidos numa organização por meio da adoção de gestão de competências e principalmente, implica na necessidade de planejamento e administração estratégica focada em criação, manutenção, disseminação e compartilhamento de conhecimento (FLEURY; OLIVEIRA, 2001). 2.3.2. Capital intelectual Santos et al (2000), afirma que a gestão do conhecimento é um processo corporativo, focado na estratégia organizacional que envolve outros modelos de gestão, dentre eles, o CI – Capital Intelectual. Para os autores, o... Capital Intelectual é a soma do conhecimento de todos os conhecimentos em uma organização, o que lhe proporciona vantagens competitivas; é a capacidade mental coletiva, a capacidade de criar continuamente e proporcionar valor de qualidade superior. Criado a partir do intercâmbio entre: capital humano; capital estrutural e capital de clientes (SANTOS et al, 2000, p.34). Stewart (1998, p.69), afirma que o capital intelectual “é a capacidade organizacional que uma organização possui de suprir as exigências de mercado”; e que este pode ser encontrado em um ou mais desses lugares: pessoas, estruturas e clientes, baseando-se na taxonomia de Humbert Saint-Onge, do Canadian Imperial Bank of Commerce, e de Leif Edivinsson da Skandia, que dividiram o capital 20 intelectual em três partes: capital humano, capital estrutural e capital do cliente. Todos são intangíveis e refletem os ativos de conhecimento da organização, sendo esta categorização possível em face da elaboração de perguntas que permitam identificar tanto o conhecimento tácito quanto o conhecimento explicito. Esse autor destaca ainda que, “o capital intelectual não é criado a partir de partes distintas do capital humano, estrutural e do cliente, mas do intercâmbio entre eles” (STEWART 1998, p.70). 2.3.3. Capital humano O capital Intelectual está no conhecimento e habilidades dos seus colaboradores (funcionários), o qual é representado pelo capital humano, que segundo Santos et al (2000), se traduz na capacidade organizacional que uma empresa possui de atender as demandas do mercado. Diz respeito, essencialmente, às pessoas da empresa, ao seu intelecto, a seus conhecimentos e experiências. Para Stewart (1998, p.68), o CH – Capital Humano “é a capacidade necessária para que os indivíduos ofereçam soluções aos clientes” e que este “é importante porque é a fonte de inovação e renovação”. O autor destaca ainda, que é fundamental para a gestão do conhecimento se distinguir capital humano do capital estrutural. É o capital estrutural que “embala o capital humano e permite o seu uso repetido para a criação do valor” (STEWART, 1998, p.69). 2.3.4. Capital estrutural O CE – Capital Estrutural está diretamente relacionado à forma com que as informações geradas pelo capital humano e pelo capital do cliente são gerenciadas. Segundo Santos et al (2000, p, 36), representam a “soma das patentes, processos, manuais, marcas, conceitos, sistemas administrativos, banco de dados disponibilizados, tecnologia, estruturas organizacionais”. Para Stewart (1998, p.69), “assim como o capital humano, o capital estrutural só existe no contexto de um ponto de vista, uma estratégia, um destino, um propósito”. 21 2.3.5. Capital do cliente Para Santos et al (2000, p.36), CC – Capital do Cliente “é o valor dos relacionamentos de uma empresa com as pessoas com as quais faz negócios”. É nos relacionamentos com os clientes, que o capital intelectual se transforma em dinheiro e/ou valor, como no caso das marcas. Quanto melhor são os relacionamentos, maior a probabilidade da organização aprender com seus clientes e fornecedores. O conhecimento compartilhado e o valor dos relacionamentos se dão em todas as esferas da organização; é o capital do cliente que permite a empresa ganhar dinheiro e agregar valor, desenvolver-se em seu mercado – e quem sabe, conquistar outros (STEWART, 1988). 2.3.6. Cultura organizacional e seus novos paradigmas Chiavenato, (1999), diz que a cultura organizacional é um padrão de assuntos compartilhados que um grupo aprendeu como maneira de resolver seus problemas de adaptação externa e integração interna e que funciona bem a ponto de ser considerado válido e desejável para ser transmitido a novos membros como maneira correta de perceber, pensar e sentir em relação àqueles problemas. Meyerson e Martin (1987) propõem uma definição de cultura organizacional paradoxal, a qual é ao mesmo tempo resistente a mudanças, de desenvolvimento adaptativo e que está continuamente em fluxo. As autoras se baseiam na noção de que cultura é realidade socialmente construída e, desta maneira, a sua definição depende de como a mesma é percebida e ordenada. Por meio do paradigma da integração, a cultura é vista como algo compartilhado ao longo da organização, servindo como mecanismo de integração dos membros pertencentes a uma organização. Assim, há uma consistência entre as manifestações culturais, negando-se a existência de ambigüidade interna à organização. Cultura não pode ser vista como conceito unitário, pois perderia seu potencial analítico. Assim, Pettigrew (1979) argumenta que uma abordagem mais proveitosa é entender a cultura como fonte de outros conceitos, tais como símbolos, linguagem, ideologia, crenças, rituais e mitos. Dentre esses conceitos, o que parece sobremodo 22 inclusivo são os símbolos, mais pelo fato de o simbolismo ser estilo de análise do que por comportar outros conceitos, como linguagem, ritos e outros. Veja-se a definição de símbolos, utilizada pelo autor: “Símbolos são objetos, atos, relacionamentos ou formações lingüísticas que dão suporte ambiguamente para a multiplicidade de significados, evocam emoções e impelem os homens para a ação” (COHEN apud PETTIGREW, 1979, p.574). Meyerson (1994) sublinha a importância de se levar em conta as subculturas dentro das organizações, porquanto as pessoas de diferentes subsistemas profissionais possuem diferentes ideologias. A cultura organizacional e as subculturas são resultados dos arranjos humanos continuamente estabelecidos e reconstituídos. Demonstrando as inter-relações dos vários aspectos organizacionais, a cultura organizacional tem sido utilizada com constructo holístico, que descreve a complexa estrutura de conhecimento que os seus membros usam para realizar as tarefas e gerar o comportamento social (BATES et al., 1995). Assim, a cultura afeta e é afetada por diversos aspectos da vida organizacional, ou seja, a estrutura, os papéis, as descrições de cargo, e outros. A cultura organizacional está, portanto, diretamente relacionada com o ambiente em que se insere, influenciando e sendo por ele influenciado. Desta forma, pode-se compreender melhor os comportamentos encontrados no modus operantes de uma organização, do mesmo modo que as resistências aparecem no status quo de seus colaboradores. O estudo da cultura organizacional é fundamental para o desenvolvimento estratégico da empresa, na medida que perde o seu caráter tradicional; determinista e de posicionamento, passando a ganhar um outro caráter direcionado de mais ação e tolerância aos erros, tático, de alavancagem baseada em habilidades centrais e de formação de alianças, como pode ser constado em Hamel & Prahalad (1994) e Mitzember (1989), citados por José Cláudio Terra em seu artigo “Gestão do Conhecimento – Aspectos conceituais e estudo exploratório sobre as práticas de empresas brasileiras” (FLEURY; OLIVEIRA 2001, p.214). Neste mesmo artigo o autor destaca ainda que é a capacidade das empresas em utilizar e combinar as várias fontes e tipos de conhecimento organizacionais para desenvolverem 23 competências específicas e capacidades inovadoras, que se traduzem ao longo do tempo em novos produtos, processos, sistemas gerenciais e liderança de mercado. Para Terra (2001), no centro dessa questão está o desenvolvimento de uma cultura que priorize a criatividade e a inovação, e que o sucesso empresarial estaria calcado em ideologias, sendo que estas teriam um papel fundamental de guia para ação e de inspiração para as pessoas nas organizações, sendo que as empresas chamadas de “visionárias” seriam aquelas que de fato promovem ações de manutenção e de difusão dos valores, de forma a sustentar uma ideologia voltada para a inovação. Terra (2001) afirma ainda que a cultura organizacional necessita de um ambiente que favoreça o aprendizado, a colaboração e o compartilhamento de conhecimentos, tácitos e/ou explícitos, de forma contínua e extensível a todos funcionários, presentes no dia-a-dia da organização. Assim, o monitoramento regular do ambiente e dos valores organizacionais, assim como o seu direcionamento, de tempos em tempos, torna-se parte importante de qualquer esforço em “Gestão do Conhecimento” (TERRA 2001, p.238). A preocupação do autor com a questão da cultura é melhor percebida, quando este a elege como uma das sete dimensões da prática gerencial da Gestão do Conhecimento, conferindo-lhe um papel central: O desenvolvimento de uma cultura organizacional voltada à inovação, experimentação, aprendizado contínuo e comprometida com resultados de longo prazo e com a otimização de todas as áreas da empresa deve ser uma das preocupações fundamentais da alta administração. Neste sentido, as escolhas em termos de normas formais e informais a serem estimuladas e apoiadas adquirem um caráter altamente estratégico. A cultura organizacional torna-se, ademais fundamental para o desenvolvimento estratégico à medida que o próprio conceito de estratégia perde o seu caráter tradicional, determinista e de posicionamento, e ganha um caráter muito mais de ação e tolerância ao erro, tático, de alavancagem baseada em habilidades centrais e de formação (TERRA 2001, p.83/84). 24 Da mesma forma, TERRA (2001, p.85) também destaca os Sistemas de Informação, como outra importante dimensão da Gestão do Conhecimento: Os avanços na informática, nas tecnologias de comunicação e nos sistemas de informação estão afetando os processos de geração, difusão e armazenamento de conhecimento nas organizações. Reconhecem-se as novas possibilidades propiciadas pelo avanço tecnológico, mas o papel do contato pessoal e do conhecimento tácito para os processos de aprendizado organizacional, assim como a manutenção de um ambiente de elevada confiança, transparência e colaboração, ainda são considerados essenciais. Os melhores sistemas de informação e ferramentas de comunicação ainda dependem essencialmente dos ‘inputs’ individuais (TERRA 2001, p.85). A preocupação do autor com estas duas dimensões, chama a atenção para a pertinência destas para a gestão do conhecimento e, mais especificamente, para a questão das competências e das habilidades. Robbins (2000), afirma que a Tecnologia da Informação (TI) mudou completamente a maneira de se fazer negócios, influenciando a administração e os processos de trabalho. Programas de edição de texto, fax e o correio e comércio eletrônico que tornaram os profissionais mais produtivos ao permitir que gerassem mais resultados em suas atividades. Por esse motivo a TI tornou-se o foco primário de qualquer esforço da administração para melhorar a produtividade. Sistemas especialistas, as redes neurais, o groupware e os softwares para solução de problemas gerenciais específicos são exemplos de TI criados para apoiar e melhorar a tomada de decisões nas organizações. A TI possibilitou também o surgimento das chamadas organizações virtuais – também chamadas de organização em rede ou modular. Organizações que com um pequeno quadro permanente de pessoal para supervisionar as operações, concentra-se nas competências centrais da organização e coordena relações com clientelas externas, recorrendo bastante à terceirização das funções não essenciais. A vantagem dessa estrutura é que ela confere à administração uma grande flexibilidade, facilitando o uso de recursos de outras organizações para a organização virtual fazer mais com menos. Castells (2001) defende que a economia global se caracteriza cada vez mais pelo fluxo e troca quase que instantâneas de informação, capital e comunicação cultural. Fluxos esses que regulam e condicionam a um só tempo o consumo e a 25 produção, de forma que as próprias redes refletem e criam culturas distintas, numa verdadeira Sociedade em Redes que regula através de seu fluxo informacional, grande parte forma das regulamentações nacionais, grandes massas clientilizadas, dando enormes poderes de controle àqueles que as controlam. Para Castells (2001), as culturas são formadas por processos de comunicação e todas as formas de comunicação são baseadas na produção e consumo de sinais, portanto não há separação entre realidade e representação simbólica. Nas sociedades, a humanidade tem existido em um ambiente simbólico e atuado por meio dele. Assim, no novo sistema de comunicação organizado pela interação eletrônica de todos os modos de comunicação – do tipográfico ao sensorial – não é a indução à realidade virtual, mas a construção da virtualidade real. Pois, segundo definições de dicionário levantadas por este autor: Virtual – é o que existe na prática, embora não estrita ou nominalmente; e... Real – o que existe de fato (CASTELLS 2001, p. 395). Castells (2001, p. 395), afirma que a realidade como ela é vivida e conhecida, sempre foi e será virtual, uma vez que ela “é sempre percebida por intermédio de símbolos formadores da prática com algum sentido que escapa à sua rigorosa definição semântica”. Para ele, esta capacidade está presente em todas as formas de linguagem, codifica a ambigüidade e dá abertura a uma diversidade de interpretações, possibilitando a distinção entre expressões culturais e o raciocínio formal/lógico/matemático. A gama de variações culturais do significado das mensagens é o que permite a interação do individuo em uma multiplicidade de dimensões – explicitas e implícitas, em que todas as realidades são comunicadas por símbolos e de certo modo percebidas de maneira virtual. Assim, para Castells (2001), existe um sistema de comunicação que gera virtualidade real, [...] um sistema em que a própria realidade (ou seja, a experiência simbólico/material das pessoas) é inteiramente captada, totalmente imersa em uma composição de imagens virtuais no mundo do faz-de-conta, no qual as aparências não apenas se encontram na tela comunicadora da experiência, mas se transformam na experiência (CASTELLS 2001, p. 395). 26 Desta forma, todas as mensagens de todos os tipos são incluídas no meio por este que se tornar tão abrangente e ao mesmo tempo tão diversificado e maleável, que absorve, em um mesmo texto de multimídia, toda experiência humana de passado, presente e futuro (CASTELLS 2001). Baseado na interação em rede digitalizada de múltiplos modos de comunicação, o novo sistema de comunicação é caracterizado pela capacidade de inclusão e abrangência de todas as expressões culturais, onde todas as espécies de mensagens funcionam de modo binário: presença/ausência no sistema multimídia de comunicação. Só a presença nesse sistema integrado permite a comunicabilidade e a socialização da mensagem. Todas as outras mensagens são reduzidas à imaginação individual ou as subculturas resultantes de contato pessoal. A inclusão da maioria das expressões culturais no sistema de comunicação integrado baseado na produção, distribuição e intercâmbio de sinais eletrônicos digitalizados, traz conseqüências importantes para as formas e processos sócio-organizacionais. O novo sistema de comunicação transforma radicalmente o espaço e o tempo, dimensões fundamentais da vida humana. Os espaços desaparecem, despojados dos sentidos culturais, históricos e geográficos, reintegrando-se em redes funcionais ou em colagens de imagens que formam um espaço de fluxos que substitui o espaço de lugares, enquanto o tempo é apagado já que passado; presente e futuro são programados para interagir entre si na mensagem (CASTELLS 2001). Assim... O espaço de fluxos e o tempo intemporal são as bases principais de uma nova cultura, que transcende e inclui a diversidade dos sistemas de representação historicamente transmitidos: a cultura da virtualidade real, onde o faz-de-conta vai se tornando realidade (CASTELLS 2001, p. 397). Todos estes fatos corroboram com uma sociedade voltada para a informação e para o conhecimento e que combinados conferem a gestão de competências e a comunicação conhecimento. um papel de destaque no desenvolvimento da gestão do 27 2.4. GESTÃO DE COMPETÊNCIAS O surgimento da tecnologia digitalizada lançou o mundo numa das mais importantes transformações da evolução humana, talvez comparada somente à descoberta do fogo e a invenção da roda. Parece não existirem mais barreiras à transmissão da informação, quase tudo se tornou possível. Grandes bancos de dados armazenam informações complexas e tão diversificadas que muitos nem sabem o que fazer com elas. O conhecimento sofreu uma estupenda alavancagem, acelerando a tal ponto as novas descobertas, que quase não se tem mais tempo para estas serem festejadas, porque novas descobertas se sobrepõem com extrema rapidez. Assim as inovações passaram a ser uma constante na vida cotidiana e empresarial, a todo instante é preciso inovar, assimilar novos conhecimentos, novas maneiras de fazer as coisas. Novos conhecimentos se fazem necessários, pois levam a busca de mais informações, realimentando os sistemas com mais dados. Está é a sociedade da informação, uma sociedade em rede permanente, sem fronteiras, de espaços virtuais e com sua realidade própria. É neste contexto que as organizações existem e operam. Para fazer frente a tais condições as empresas precisam cada vez mais desenvolver novas competências e para isso necessitam novos conhecimentos, novas habilidades e novas atitudes; precisam, portanto de novas formas de fazer as coisas, de agirem em seus mercados e indústrias para se manterem competitivas. Ser competitivo necessariamente significa ser competente, mas como mudar tão rapidamente, como assimilar novos procedimentos e processos, quando os antigos ainda estão tão enraizados. Está é sem dúvida uma questão cultural porque se apóia não só em pressupostos, mas também em valores e regras. O termo competências é muito mais abrangente do que se imagina e não se limita apenas ao significado de habilidades práticas, podendo ser usado, por exemplo, como sinônimo tanto de saber quanto de conhecimento. Muitos teóricos das organizações têm definido competência como uma característica organizacional, um elo entre o conhecimento e estratégia, como o poder que uma organização tem de agir na relação com outras organizações (SVEIBY 1998). A gestão de competências é o processo de diagnóstico, mapeamento e avaliação dos talentos da organização, definição de diretrizes e o desenvolvimento das competências da empresa. Nesse sentido, as competências podem ser 28 compreendidas em duas dimensões: as competências essenciais, que estão relacionadas àquilo que a empresa faz de melhor e sua identidade no mercado; e as competências profissionais, que em última análise correspondem a um diagnóstico das competências essenciais para áreas da empresa, cargos e pessoas. O processo de gestão de competências está estreitamente relacionado à gestão estratégica da empresa, estabelecendo diretrizes que permitem a organização mapear as competências institucionais e individuais para o atendimento das necessidades de conhecimentos técnicos, habilidades e atitudes, atuais e futuras, para obtenção de efetividade na execução dos processos organizacionais, na construção dos produtos, na prestação dos serviços e no relacionamento com os clientes (SANTOS et al. 2001). Sveiby (1998, p. 42; 46) chama a atenção para o conceito das competências individuais no âmbito empresarial, dizendo que este é melhor compreendido pela análise de cinco elementos mutuamente dependentes: a. Conhecimento explícito ou real – refere-se ao conhecimento dos fatos, sendo adquirido principalmente pela informação, estando quase sempre relacionado à educação formal. b. Habilidades – é a arte de “saber fazer” e envolve uma proficiência prática (físico/mental), sendo adquirida principalmente por treinamento prático. Inclui-se neste o conhecimento de regras de procedimentos e habilidades de comunicação. c. Experiência – é adquirida principalmente pelas reflexões sobre os resultados passados: acertos e erros. d. Julgamentos de valor – são percepções daquilo que o indivíduo acredita ser certo e agem como filtros conscientes e inconscientes para o processo de aprendizagem do sujeito. e. Rede Social – é formada pelas relações do sujeito com os outros dentro de um ambiente e de uma cultura transmitida pela tradição (SVEIBY, 1998, p. 42). Essa visão de Sveiby (1998), aponta para a existência de uma interdependência destes elementos com a comunicação, a qual se faz notar em maior ou menor intensidade conforme o elemento que se analise. 29 Prahalad e Hamel (1990), expressam as competências também sob a forma de dimensões, na qual a mais abrangente é a noção de competências essenciais, que representam as dimensões organizacionais, ligadas à estratégia da empresa. Em seguida os autores destacam a dimensão das competências funcionais, necessárias ao desenvolvimento das áreas vitais da organização, como as competências para vender produtos ou serviços, para produzi-los etc, estando ligada à dimensão de grupos. Por fim, os autores relacionam na dimensão individual as competências individuais. A partir do final dos anos noventa, a noção de competências tem aparecido como uma forma de representar as interações entre, de um lado, as pessoas, seus saberes e capacidades, e de outro lado, as organizações com suas demandas no campo dos processos de trabalho essenciais e processos relacionais, nas relações com clientes, fornecedores e com os próprios funcionários e que sofreram profundas modificações qualitativas, levando-se a tratar de forma mais particular a questão das competências individuais (FLEURY, 2001 p. 248). Sendo a gestão de competências um processo de diagnóstico, mapeamento e avaliação dos talentos da organização, definição de diretrizes e o desenvolvimento das competências da empresa, podem assim ser compreendida em três dimensões: a. Competências essenciais, que estão relacionadas àquilo que a organização faz de melhor e sua identidade no mercado. São competências que diferenciam a empresa perante seus concorrentes e clientes, e que determinam sua sobrevivência. Estando presente em todas as áreas, grupos e pessoas da organização, em níveis diferenciados. b. Competências funcionais, que são competências específicas de cada uma das áreas vitais da empresa como, vender, produzir, conceber transportar etc, presentes entre os grupos e pessoas de cada área. c. Competências profissionais (individuais), que apesar de se tratar de uma dimensão individual, podem exercer importante influência no desenvolvimento das competências dos grupos ou até mesmo da organização. Em última análise correspondem a um diagnóstico das competências essenciais para áreas da empresa, cargos e pessoas (FLEURY, 2001 p. 248). 30 As competências essenciais das organizações, segundo Fleury (2001), estão baseadas em conjuntos de conhecimento coletivo que é também tácito (know-how coletivo) que foram desenvolvidos por meio de processos de aprendizagem que cruzam conhecimentos individuais, unidades individuais isoladas e parcerias com outras organizações, que se transformam em ganhos, aperfeiçoados pela prática do trabalho, porém com uma natureza dinâmica para atender às demandas continuas do mercado. O conhecimento coletivo, afirma Fleury (2001), é desenvolvido pelas interações entre indivíduos que pertencem a grupos internos, mas também entre as organizações, sendo criado e revelado na prática e compartilhado em grupos de trabalho, o que lhe dá um caráter singular e peculiar àquela organização ou parceria. Um modo próprio de fazer as coisas, idiossincrático, sustentado pela linguagem comum e por símbolos, mediante interações únicas em um contexto específico; dificilmente imitável, que se enraíza na prática de trabalho. Quando este conhecimento também ajuda a empresa a criar valor, torna-se à base de suas competências essenciais. Para Fleury (2001), compreender as competências estrategicamente relevantes como o resultado de integração de conhecimentos com a geração de vantagem competitiva, que é o desenvolvimento de competências em todos os níveis da organização, alinhando e integrando principalmente o conhecimento de seus muitos especialistas, é que coloca ênfase especial no conhecimento coletivo, na forma de linguagem ou de significado compartilhado. Baseado nas afirmações de Fleury (2001), perceber-se a importância da comunicação como base integradora de todo esse processo, na medida que o conhecimento coletivo depende do desenvolvimento, tanto de grupos de indivíduos quanto de organizações que interagem entre si. Não pode haver conhecimento coletivo ou compartilhamento de conhecimento sem comunicação. 2.5. COMUNICAÇÃO Rector e Trinta (1986, p. 26) afirmam que “a comunicação é, ao mesmo tempo, fenômeno e função social”, podendo ocorrer entre homem/homem, 31 homem/máquina e máquina/máquina, onde o comunicar tem o significado de compartilhar os modos de vida e os comportamentos globais, que se manifestam por meio de um conjunto de normas previamente estabelecidas pelo homem e para homem. O homem, ao se comunicar, transmite uma série de informações, simples e complexas, em nível de relações humanas ou sociais, e/ou em nível biológico. Comunicar é manifestação da essência humana, é um “estar-no-mundo-junto-deoutros” (RECTOR e TRINTA, 1986, p.26). Segundo Watzlawick et al, (1993) existem três áreas de estudo na comunicação: • Sintática: Preocupa-se com as questões teóricas ligadas aos elementos da comunicação: emissor, receptor, canal, ruídos, barreiras etc. • Semântica: Ocupa-se das questões ligadas ao significado das comunicações. Dos elementos de significação da linguagem. • Pragmática: Referem-se aos aspectos verbais e não-verbais que são determinantes de comportamentos. Comunicação vai além de transmitir informações, ela impõe comportamentos (WATZLAWICK et al, 1993). O foco deste estudo, portanto, situa-se no campo da pragmática da comunicação, como se percebe na definição de Rector e Trinta (1986), na qual a comunicação aparece como uma constante da vida humana, presente em todas fases de seu desenvolvimento e nas suas atividades, determinando comportamentos e atitudes. Como não poderia deixar de ser, a organização é o seu maior exponencial, na qual todas as suas anuências e complexidade podem ser constadas. 2.5.1. Comunicação organizacional As organizações têm se preocupado cada vez mais com as questões relacionadas com os processos de comunicação, sejam estes, (1) internos: comunicação de sistemas internos, entre níveis hierárquicos ou entre colaboradores, recursos humanos e endomarketing; ou (2) externos: marketing, propaganda e relações públicas. Em especial quando as empresas trabalham com administração de projetos, onde o nível de autonomia é ainda maior, o que acarreta um certo 32 isolamento das equipes de projetos, gerando uma maior necessidade de interação, integração, troca de informações, e de compartilhamento de conhecimentos, conferindo a comunicação organizacional um aspecto sistêmico, na medida que esta surge como um fator interativo entre os diversos sistemas e subsistemas da organização, regulando-os por meio de feedback constante. Pimenta (2002), afirma que comunicação organizacional ou empresarial se caracteriza pela somatória de todas as atividades de comunicação da organização, que por ser multidisciplinar envolve métodos e técnicas de relações públicas, jornalismo, assessoria de imprensa, lobby, propaganda, promoções, pesquisa, endomarketing e marketing. Destina-se ao público em geral que pode ser divido em: • Interno: formado pelos colaboradores da organização como funcionários, fornecedores e parceiros; e... • Externos: formado pela sociedade de maneira geral como: o governo, os políticos, os formadores de opinião e os consumidores. Em resumo, a comunicação organizacional pode ser compreendida como um conjunto de métodos e técnicas de comunicação utilizadas dentro da empresa, dirigida tanto ao público interno quanto externo, onde as iniciativas institucionais representam os resultados dos investimentos, principalmente em comunicação interna, em face da importância desta frente a concorrências acirradas. O principal objetivo da comunicação interna é procurar informar e integrar os vários segmentos deste público aos objetivos e interesses da organização como um todo. Kunsch (2003, p.154), afirma que “ela seria um setor planejado, com objetivos bem definidos, para viabilizar toda a interação possível entre a organização e seus empregados, usando ferramentas da comunicação institucional e até mercadológica”. A comunicação interna, segundo Curvello (2002), abrange três outras formas de comunicação: • Comunicação administrativa: memorandos, cartas, circulares, instruções. • Comunicação social: boletins, jornais internos, vídeos, jornais e revistas. 33 • Comunicação interpessoal: funcionário / funcionário, alta administração / funcionário. Sendo assim, a comunicação interna ocorre em paralelo com a circulação normal da comunicação que permeia todos os departamentos da organização, possibilitando a troca de informações e experiências a partir da participação dos atores organizacionais e da interação entre os diversos setores da empresa, mostrando-se como uma ferramenta estratégica que possibilita o diálogo. Para Robbins (2000), a abordagem sistêmica é a perspectiva que encara as entidades como um conjunto de partes inter-relacionadas e interdependentes dispostas de maneira a produzir uma totalidade unificada. Neste contexto, é impossível não se perceber a comunicação como um processo sistêmico, principalmente quando se fala dos sistemas abertos e de rede de negócios. A comunicação precisa ser vista como um todo, que afeta o sistema em seus diversos níveis e o ambiente em que está inserido, que deve estar diretamente relacionada com a estratégia e com os objetivos da organização, integrando e divulgando as competências essências, aquelas que estão relacionadas àquilo que a empresa faz de melhor e sua identidade no mercado. A comunicação organizacional também está diretamente ligada ao desenvolvimento da organização, refletindo-se no clima e nas atitudes de seus colaboradores, fornecedores e clientes. Kunsch (1985), afirma que por agregar valores e facilitar os processos interativos, quer por meio das relações públicas, da organização com seus diferentes públicos, da opinião pública e da sociedade em geral, a comunicação organizacional deve constituir-se num setor estratégico. Para este autor, o pensamento estratégico deve estar necessariamente relacionado a uma comunicação integrada, uma vez que esta engloba todas as formas de comunicação encontradas numa organização. A comunicação integrada “pressupõe a junção da comunicação institucional, da comunicação mercadológica, da comunicação interna e da comunicação administrativa, que formam o mix, o composto da comunicação organizacional” (KUNSCH 1985, p. 150). Torquato (2002), refere-se à comunicação organizacional como um processo multidisciplinar e abrangente que não pode ser confundido, como ocorre com algumas empresas privadas, com a comunicação administrativa. Para ele este 34 processo engloba quatro formas de comunicação: (1) a comunicação cultural que comporta os climas internos, clima organizacional, (2) a comunicação administrativa que reúne os aspectos formais da comunicação interna como memorandos, e-mails, cartas e papéis oficiais, (3) os sistemas de informação que agregam os valores dos bancos de dados e, (4) a comunicação social que envolve as áreas de jornalismo, relações públicas, publicidade, editoração e marketing. Sendo que todas devem atuar em conjunto para que atinjam os objetivos almejados, uma vez que estas estão interligadas de tal forma que uma influi na outra. Bueno (2003), levando em conta essas considerações, propõe o conceito de comunicação como inteligência empresarial. Neste conceito a comunicação deixa de ser meramente operacional para tornar-se estratégica, mas para isso é necessário pensar em estratégias diferentes para públicos diferentes. A comunicação como inteligência empresarial não pode fazer concessão ao improviso. Apóia-se em metodologias, em pesquisas, em desenvolvimento de teorias e conceitos a serem aplicados a novas situações, sobretudo apóia-se na necessidade imperiosa de dotar a comunicação de um novo perfil: a passagem real do tático para o estratégico (BUENO, 2003, p.15). Para tanto, torna-se necessário um conhecimento que favoreça tal condição, que envolva deste de o reconhecimento das estruturas básicas que norteiam a comunicação organizacional como um todo, com foco na comunicação interna e, mais especificamente, a comunicação interpessoal, seus contextos atuais e influências sobre as habilidades relacionais, para que então se possa compreender melhor como ocorrem os processos comunicativos na organização moderna voltada para conhecimento e para o capital humano, tirando melhor proveito destes, diminuindo conflitos e equívocos que possam comprometer relacionamentos e estratégias. 2.5.2. Processo de comunicação Por processo de comunicação, Robbins (2000) entende a classificação das etapas: (1) fonte ou emissor, origem da comunicação; (2) codificação, conversão de uma mensagem em forma simbólica; (3) mensagem, aquilo que é comunicado; (4) canal, meio pelo qual a mensagem é transmitida, (5) decodificação, retradução da 35 mensagem enviada por um emissor; (6) receptor, destinatário a quem a mensagem é dirigida; e (7) feedback, verificação do sucesso obtido com a transferência da mensagem, procura confirmar se o entendimento aconteceu. Em outras palavras, o autor considera o processo de comunicação como etapas “entre um emissor e um receptor que resultam na transmissão e compreensão de um significado” (ROBBINS, 2000, p.424), no qual vários fatores podem interferir neste processo. Em qualquer uma das sete etapas apresentadas podem aparecer desvios ou bloqueios no fluxo da comunicação. Para se evitar estes problemas a comunicação deve ser vista como um todo, que pode afetar sistemas nos seus mais diversos níveis quer individual, grupal ou organizacional, quer ainda no próprio ambiente onde está inserido. Figura 1 – Processo Comunicação em esquema. (Autor) Já Berlo (1999), define comunicação como um processo, marcado por relações dinâmicas, mutáveis e contínuas que, portanto, não permitem identificar uma fonte específica para determinada idéia ou mesmo afirmar que a comunicação se produza um único sentido. Segundo este autor, o modelo clássico, ao ser transportado ao contexto das organizações, reproduz a separação dos papéis de comunicador e destinatário, como se ambos fossem seres isolados no processo. A Figura 1 procura demonstrar, em esquema, as afirmações de Berlo (1999). A partir do recurso de sistematização dos elementos constitutivos da definição de comportamento como uma relação significativa entre organismo e meio, proposto em Botomé (2001), é possível decompor o processo de comunicação, ação de comunicar, em uma relação de interação simbólica na qual pelo menos dois seres 36 humanos enviam e recebem mensagens codificadas, ou seja, tornam comuns as coisas, em nível conceitual, através de símbolos. Botomé (2001), propõe um recurso que desmembra o comportamento em três momentos: a) situação anterior; b) ação humana e c) conseqüência ou situação decorrente, tornando assim possível analisar de forma comparada, os elementos constitutivos de um agir comunicacional, o que significa decompor o processo de comunicação na situação em que ele é realizado. Decomposição essa que possibilita uma maior visibilidade sobre o processo de comunicação, de modo a se compreender como um comportamento intencionalmente produzido é expresso na forma de mensagens, verbais e não-verbais, e construído na interação entre as pessoas. Dessa decomposição decorre um aspecto essencial: só há comunicação quando o emissor toma conhecimento de que o conteúdo da mensagem foi interpretado pelo receptor, ou seja, somente quando é observada uma resposta pelo envio de informação de retorno ou feedback. Desta forma, é importante ressaltar que, enquanto a comunicação é universal, o diálogo assume um caráter estrito da comunicação entre pessoas que tentam se informar e comunicar, que com seus aspectos verbais, responsáveis por informações intencionais explícitas, e os não verbais, representados por outras modalidades de expressão resultantes de funções igualmente necessárias à atividade de interação comunicativa, assumem uma posição de destaque nas pesquisas a cerca da comunicação interpessoal. 2.5.3. Comunicação interpessoal Robbins (2000) chama de comunicação interpessoal a comunicação entre duas pessoas, seja em situações face a face ou em grupo, no qual as partes são tratadas como indivíduos e não como objetos, ocorrendo de forma mais proximal e pessoal, sendo uma das principais habilidades interpessoais e de comunicação organizacional, a comunicação interpessoal promove a interação entre diversos indivíduos ou grupos. Segundo este autor, com o advento da TI as estruturas estão mais orgânicas na medida que a comunicação interna se torna mais informatizada, permitindo que os funcionários saltem níveis hierárquicos e eliminem intermediários, favorecendo o processo de comunicação. Porém, não se pode esquecer que a TI 37 facilita uma comunicação cujo foco é o conteúdo, ideal para transmissão de dados técnicos e numéricos, expressa por uma linguagem linear que, segundo Senge (2002), não é suficiente para dar conta de outros aspectos mais sutis que dizem respeito ao sujeito comunicante, principalmente àqueles ligados às emoções, que só podem ser expressos pelo diálogo, os quais Watzlawick et al (1993) chamam de aspectos de relação. Berlo (1999), que afirma que o principal objetivo da comunicação interpessoal é a interação e que esta envolve as questões de interdependência entre a fonte ou transmissor e o receptor como condição necessária à comunicação humana. O autor afirma ainda, que esta interdependência se dá em diversos níveis de complexidade: 1º. Interdependência física: fonte e receptor são conceitos didáticos, onde cada qual exige o outro pela própria definição, cada qual precisando do outro para a sua própria existência. 2º. Interdependência entre ação e reação: é quando a mensagem inicial influencia a resposta subseqüente que lhe retorna, que por sua vez, influencia outra resposta subseqüente e assim sucessivamente, sendo utilizadas pelos comunicadores como feedback – informação que facilita a mensuração dos resultados esperados, de confirmação de tendências. 3º. Interdependência produzida pelas expectativas sobre como os outros responderão à mensagem: a análise da comunicação que se preocupa com as habilidades empáticas. Empatia é o processo pelo qual nos projetamos nos estados internos ou na personalidade dos outros como forma de se tentar predizer como se comportarão, é a capacidade que possuímos de pôr-nos no lugar do outro e assim tentar perceber o mundo como este o percebe, de forma a se escolher papéis que facilitem a compreensão da mensagem. As expectativas da fonte e do receptor são interdependentes, onde cada uma influencia a outra e cada uma é, em parte, criada pela outra. 4º. Interação: é último nível de interdependência, cujo termo denomina o processo de adoção recíproca de papéis, o desempenho mútuo de comportamentos empáticos (BERLO, 1999). 38 Se dois indivíduos tiram inferências sobre os próprios papéis e assumem o papel um do outro ao mesmo tempo, e se o seu comportamento de comunicação depende da adoção recíproca de papéis, então eles estão em comunicação por interagirem um com o outro (BERLO, 1999, p.135). Berlo (1999, p.136), afirma que “o conceito de interação é fundamental para o entendimento do conceito de processo, na comunicação” e que esta procura conjugar dois indivíduos na tentativa (impossível) de cobrir lacunas surgidas pela produção e recepção de mensagens que tenham sentido para ambos. Em outras palavras, pode-se definir a interação como o ideal da comunicação, ou seja, meta comunicação. A interação é diferente da ação-reação em que os atos de cada participante da comunicação são inter-relacionados um com o outro, influenciam um ao outro por meio da criação de hipóteses sobre as quais serão esses atos, sobre como se ajustarão aos objetivos da fonte e do receptor, etc (BERLO, 1999, p.135). Assim, as questões de comunicação não se restringem apenas às trocas de informações, qualificadas por Chanlat (1994) como “função do dizer”, por estarem diretamente ligadas ao verbal (palavra), ou seja, àquilo que está escrito e que vão compor os dados técnicos e numéricos das mensagens, constituindo o que Watzlawick, et al (1993) definiram como aspectos de “relato”. Importantes sem dúvida, mas referindo-se apenas ao “conteúdo” da mensagem. Já os aspectos de “ordem”, segundo estes mesmos autores, referem-se à “espécie” de mensagem e como esta deve ser considerada, portanto as relações entre os comunicantes. Assim, toda comunicação tem um aspecto de conteúdo e um aspecto de mensagem, tais que o segundo classifica o primeiro. Nichols (1990), complementa esta afirmação dizendo que toda mensagem tem dois níveis: o conteúdo e o comentário classificatório que revela a atitude do emissor (fonte) a respeito da mensagem e da relação entre o emissor e o receptor, no que Chanlat (1994) poderia incluir suas outras três funções para a comunicação: • Função do falar: refere-se ao indivíduo. Aquilo que fala dele, o que ele pensa, suas idéias, intenções, percepções etc, ligado às questões de criatividade e motivação. 39 • Função do fazer: a palavra transformando-se em ação, a palavra em ato – ligado às questões de tarefa, comando e liderança; • Função do pensar: a palavra como pensamento, ligado às questões cognitivas, ao planejamento, às estratégias que em futuro se transformarão em ações (CHANLAT 1994). A comunicação interpessoal difere de outras formas de comunicação por existirem poucos participantes envolvidos. Neste tipo de comunicação as pessoas que estão interagindo encontram-se em grande proximidade física uma da outra, existindo múltiplos canais sensoriais utilizados e o retorno é imediato. Ocorre entre pessoas que convivem durante algum tempo. Estas pessoas vêem a outra como indivíduos únicos e não como um grupo social agindo fora de situações sociais. Na comunicação interpessoal, as mensagens são constituídas por palavras e insinuações não-verbais, os interlocutores recorrem muito mais a conversas face-aface, ao telefone e aos e-mails como canais básicos (ROBBINS, 2000). A comunicação interpessoal se revela importante pelos ganhos que se pode adquirir durante a comunicação com outras pessoas, no ganho de novas informações sobre estas, na obtenção de vantagens pelo reconhecimento de uma variedade de sinais verbais e não-verbais. Permitindo um maior conhecimento sobre o outro individuo. Porém, Robbins (2000) afirma que muitos profissionais, principalmente aqueles que ocupam cargos de gestores, não dão a devida atenção à comunicação interpessoal e aponta como a principal causa deste fenômeno, a percepção equívoca que a maioria dos colaboradores têm, sobre sua real capacidade para se comunicar. Afirmações como: “eu já sou um bom comunicador”, “as boas habilidades de comunicação não podem ser ensinadas; ou você as possui, ou não”, “as pessoas ouvem aquilo que desejam ouvir. Eu não posso fazer muita coisa a esse respeito” (Robbins 2000, p.423) são exemplos deste fato. Para este autor, a comunicação eficaz é crucial para o sucesso profissional, em especial daqueles que são responsáveis diretos pela condução de grupos e equipes, existindo técnicas específicas que podem ser aprendidas de forma a melhorar as habilidades de comunicação, sendo necessário que profissionais e gerentes compreendam que “é 40 provável que exista um milhão de maneiras para estragar a comunicação em sua empresa e apenas umas poucas para fazê-la direito” (ROBBINS 2000, p.423). É importante perceber que uma comunicação não se restringe apenas à transmissão de informações ou, a transferência e compreensão de um significado como afirma Robbins (2000), mas ao mesmo tempo, impõe um comportamento. Neste contexto a expressão gestual, os movimentos do corpo, a percepção do tempo e do espaço, entre outros traços distintos de uma dada cultura, são feixes de culturemas – para Poyatos, (1976, p. 16), culturemas são “unidades mínimas culturais”, presentes em determinados ambientes – cuja reunião permite o estabelecimento de estruturas e comportamentos, que podem ser estudados tanto pela observação direta quanto por questionamentos na forma entrevistas estruturadas ou semi-estruturadas. As quais, segundo Mielnik (1987), para serem melhor compreendidas devem observar: 2.5.3.1 Análise dos Determinantes da Comunicação É a partir do momento, em que as pessoas tentam se comunicar que se cria um processo social controlado por três grupos de determinantes, que podem ser observados e analisados: a. Determinantes orgânicos ou biológicos – o sistema sensório, motor e o sistema nervoso central, além dos impulsos e da urgência biológica na utilização dos órgãos de comunicação, constituem esta classe de determinantes. Fazem parte do patrimônio genético dos indivíduos e determina como este lida com suas emoções e sentimentos; b. Determinantes sociais da comunicação – compostos pelo ambiente social do indivíduo e as pessoas que nele se movem, com suas vivências e manifestações; c. Determinantes psicológicos da comunicação – correspondem às experiências adquiridas, aos conhecimentos, a capacidade e as formas de adaptação do indivíduo – aqui se enquadram às estruturas psicológicas como formas de interação com o meio, formando padrões de comportamentos comunicacionais e de resposta mais ou menos adequados (MIELNIK 1987). 41 2.5.3.2 Controle das Desigualdades Sociais Sendo o homem um ser vivo; biológico e essencialmente social e sociável, cuja conduta é, basicamente, orientada por um complexo de fatores biopsicossociais, o que o confirma como animal de rebanho, sensível a separações prolongadas ou completas, as quais são vistas por este homem como altamente penosas e frustradoras. Por este motivo, cada indivíduo se esforça ao máximo para continuar dentro do grupo e ao mesmo tempo manter suas próprias características. Por isso procura controlar as desigualdades sociais que possam existir entre ele e os outros, que podem causar tenções indesejáveis e para reduzi-las, aplica determinadas técnicas como: a. Procurar contato com outras pessoas, objetos e situações em exposições semelhantes (experiências semelhantes); b. Por meio da comunicação, informação e conduta (interação social); c. Por meio de conhecimentos partilhados que justifiquem as diferenças (interpretação); e d. Com medidas policiais ou repressivas que contenham as ameaças de comportamentos diferentes do habitual – ostracismo social; penitenciárias e hospitalização (MIELNIK 1987). Mas, não é somente a desigualdade entre o indivíduo e o grupo social que podem trazer problemas. A falta de diferenças também pode causar tensões e por em funcionamento outras medidas de controle. As diferenças entre pessoas podem aumentar: a. Em face ao isolamento do grupo e ao confinamento do indivíduo em si próprio (solidão, autismo); b. Devido à exposição a novos grupos (transição cultural); c. Por meio da aquisição de novos conhecimentos ou habilidades não compartilhadas pelos outros (formação cultural); e d. Em função da vivência não partilhada pelos outros, crises vitais como enfermidades, dificuldades, aventuras e traumas (MIELNIK 1987). 42 Porém, a que se ter consciência que estas medidas controladoras são produtivas quando há falta de diferenças, caso contrário são indicadores de possíveis causas do aumento das desigualdades, em que outras medidas atenuadoras, já comentadas, devam ser postas em prática. A observação das técnicas de controle empregadas pelos membros colaboradores de uma determinada população, tanto no que concerne na busca do controle das desigualdades sociais, quanto na manutenção de suas individualidades ajuda a compreender sua conduta comunicativa e, por conseqüência, sua habilidade de comunicação. Outro fator igualmente importante para compreensão deste contexto é a identificação dos fatores que estejam contribuindo para o aumento ou diminuição das diferenças. O que pode ser percebido pela observação e análise dos conflitos existentes no grupo (MIELNIK, 1987). 2.5.3.3 Análise dos Recursos Inúmeros são os recursos empregados pelos seres humanos, ao longo de toda a sua história, na tentativa de melhor se comunicar. Desde o farol marítimo que avisa os navegantes sobre os perigos da costa até aos sinais semafóricos que dirigem veículos em estradas, ferrovias e aeroportos, indicando e orientando as pessoas que os conduzem, e ainda computadores, rádios, telefones, telégrafos e outros instrumentos de comunicação que aqui classificaremos como recursos tecnológicos. Além destes o homem possui seus próprios recursos – recursos naturais – que vão desde o olhar, o gesto, carinho, sussurro, grito e palavra, até os castigos, empurrões, beliscões, palmadas, mordidas e outros. Cores, fumaça, bandeirolas, luzes, sons, ritmos, musica, letras, palavras, gestos, posturas, mímicas, movimentos, olhares, espaço e tempo fazem parte do arsenal comunicativo do ser humano, aperfeiçoados ao longo dos anos. Quanto mais cresce seu conhecimento, mais se sofistica sua comunicação. Embora os recursos tecnológicos tenham como objetivo primordial à transmissão de dados, informações técnicas e numéricas; os recursos naturais objetivam atividades mais complexas de comunicação, como a persuasão, o cortejamento, a sedução e a negociação, onde as informações são apenas partes complementares e por sua vez também recursos destes processos, em que as informações de conteúdo emocional acabam por ter uma maior importância (MIELNIK, 1987). 43 A análise destes recursos permite a identificação da predominância do tipo de comunicação e de sua ênfase, auxiliando na compreensão do processo de comunicação como um todo e como este se integra aos diversos níveis organizacionais, especialmente quando nos referimos ao individual na determinação de competências e de habilidades relacionais (MIELNIK 1987). 2.6. COMPETÊNCIAS INDIVIDUAIS E A IMPORTÂNCIA DAS HABILIDADES RELACIONAIS. O processo de gestão de competências está estreitamente relacionado à gestão estratégica da organização. Porém, não se pode falar de competências essenciais, incluindo-se as funcionais, sem falar de competências individuais e estas, por sua vez, estão diretamente ligadas habilidades relacionais, também chamadas de interpessoais. Sveiby (1998, p. 47) afirma que a competência é o mais importante dos ativos intangíveis e que só pode ser transferido às pessoas de duas formas: por meio da informação ou da tradição (pela prática); A informação transfere conhecimento de forma indireta por meio de veículos como palestras e apresentações audiovisuais; a tradição transfere o conhecimento de forma direta, de pessoa para pessoa, por meio do aprendizado pela prática (SVEIBY, 1998, p. 58). O que se explica pelo fato da informação ser desprovida de significado. É o receptor da informação que lhe dá sentido e não o transmissor (emissor), sendo ideal para transmissão de conhecimentos articulados, mas não é confiável nem eficiente para transferir conhecimento entre pessoas. Para a transmissão de conhecimento entre pessoas o mais indicado é a tradição, onde quem aprende pode recriar diretamente as habilidades daqueles que ensinam, mediante de modelos de simulação, jogos e representações que se assemelham aos métodos tradicionais de aprendizagem (SVEIBY, 1998). Para este autor a informação é o elemento fundamental da competência e o ambiente tem grande influência na formação das competências, especialmente para 44 os componentes empíricos (experiência) e da rede social. Desta forma, uma mudança de ambiente pode levar a uma perda na valorização das competências de um profissional, o que demonstra a contextualização das competências (SVEIBY, 1998). Sveiby (1998), também salienta que o conhecimento prático baseia-se em regras que sustentam o processo de saber, mas que acabam também por restringilo. Este é um dos fatores que dificulta que as competências sejam copiadas com exatidão. Todos desenvolvem competências próprias, por meio de treinamento, da prática, de erros, da reflexão e da repetição, ou seja, pela capacitação prática. E quanto maior for à qualificação do individuo – a sua perícia –, maior será sua capacidade de modificar e/ou criar novas regras e comportamentos. O conhecimento humano pode ser visto como uma espécie de hierarquia em que na base está a capacidade (a mais comum), no centro a competência e, finalmente, no ápice a perícia (a mais rara). A perícia é intransferível. O poder da perícia está na forma como ela influencia o modo de pensar e o comportamento das pessoas (SVEIBY, 1998, p. 46). As competências individuais sempre estiveram ligadas ao conhecimento, as habilidades e as atitudes (SANTOS, 2001), sendo que as habilidades representam um elemento central destas. Para Sveiby (1998), habilidade significa a arte de “saber fazer” e envolve uma proficiência prática (físico/mental), sendo adquirida principalmente por treinamento prático. Inclui-se neste o conhecimento de regras de procedimentos e habilidades de comunicação. Robbins (2000), destaca três grupos de habilidades: a. Habilidades conceituais: dizem respeito à aptidão mental para analisar e diagnosticar situações, ajudando a tomar decisões. b. Habilidades técnicas: para aplicar conhecimento especializado ou experiência, estando também relacionada com o conhecimento do setor e a um entendimento geral de processos e produtos da organização, especialmente quando se tratar de gestores. 45 c. Habilidade interpessoais: que incluem a capacidade, de trabalhar em equipe, entender e motivar as outras pessoas, de se relacionar tanto individualmente como em grupo. Para Robbins (2000), as habilidades relacionais são constituídas pela capacidade de comunicação, de administração de conflitos, de negociação, de aconselhamento, de habilidade política e de delegação. As competências nestas habilidades e em outras pode garantir o sucesso de executivos e profissionais das mais diversas áreas. Dependendo das atividades a exigência de habilidades relacionais é maior ou menor. O autor afirma ainda, que há pouca probabilidade de sucesso onde não habilidade comunicativa e esta dependem diretamente de dois elementos fundamentais: habilidade para ser um ouvinte ativo e habilidade para dar feedback. Poyatos (1976; 1980), entende os padrões culturais como regras de avaliação de relações interpessoais, prescritas explícita ou tacitamente, e executadas consciente ou inconscientemente. Todo indivíduo só irá se sentir integrado numa determinada cultura quando houver adquirido a “fluência cultural”. Para ele, tanto a capacidade de entender quanto de produzir comportamentos não-verbais isolados ou em conjunção com a linhagem verbal, os quais estão enraizados em fatores éticos, geográficos, sócio-econômicos, entre outros, da sociedade em questão, advêm desta fluência cultural. Robbins (2000, p.423) afirma que a falta de habilidades relacionais é responsável por mais demissões de executivos do que a falta de habilidades técnicas para o cargo. Segundo ele, existe um grande número de estudos que demonstram este fato, entre eles o autor cita uma pesquisa realizada pelo Centro de Liderança Criativa e um levantamento realizado entre quase 200 executivos de seis companhias arroladas na revista Fortune 500. Para ele as competências nestas habilidades – comunicação, administração de conflitos, negociação, aconselhamento, atividade política, e em outras pode garantir o sucesso de executivos e profissionais das mais diversas áreas. A comunicação interpessoal parece ser o elo central que permeia todas as demais habilidades e que há pouca probabilidade de sucesso onde habilidade comunicativa é deficitária. 46 2.6.1. Processos de percepção e a comunicação interpessoal: Para se compreender melhor a importância da comunicação como habilidade na qual se sustentam as demais habilidades se torna necessário aprofundar alguns conceitos que fundamentam esta questão, tais como: a. O que é percepção interpessoal? b. Quais os fatores que estão envolvidos na percepção? c. E como esta se manifesta na comunicação interpessoal? 2.6.1.1 Percepção interpessoal Mehl (1979), foi um dos primeiros a reconhecer a percepção como um fenômeno psíquico que inaugura e fundamenta o conhecimento e que, por sua vez, só pode ser visto como parte de uma experiência global. Para tanto, é necessário vê-la considerando um contínuo indivíduo-coletividade no qual se manifestam os comportamentos sociais interpessoais que se localizam a partir de um plano mais individual. A dinâmica continua das mudanças ambientais obriga o organismo a se adaptar constantemente, buscando e processando todo tipo de informação a respeito desse ambiente. É um processo que envolve traduzir e utilizar as informações recebidas através dos receptores sensoriais na qual a percepção desempenha um papel de importância decisiva. Entretanto, a percepção não ocorre isoladamente, independentemente de outros processos psicológicos como a atenção, motivação, curiosidade, memória e aprendizagem, ao contrário, todos estes se integram de forma que cada indivíduo possa perceber o mundo segundo as características do estímulo – brilho, tamanho, cor, movimento... – e os seus próprios referenciais, representações de suas experiências passadas, de seus motivos, necessidades, atitudes, expectativas e de personalidade. Para o homem, portanto, a percepção vai além das sensações, embora estejam diretamente relacionadas (ALENCAR, 1976). Sensação, segundo Barros (1997, p.39), “é o fenômeno psicológico produzido pela estimulação do nosso organismo”, “a base de todos os nossos conhecimentos”. 47 Em outras palavras, é o fenômeno psicológico que resulta de processos anteriores. Fenômeno este que depende diretamente do cérebro. Ballone (2003), afirma que em um significado preciso, a sensação aparece como um fenômeno psíquico elementar, resultante da ação de estímulos externos sobre os órgãos dos sentidos. Para este autor, sensação é um fator causal e determinante entre o estado psicológico atual e o estímulo exterior e que deve existir uma concordância entre as sensações e os estímulos que elas produzem. Por outro lado, a percepção “é o fenômeno que consiste em reconhecermos qual o estímulo que produziu em nós determinada sensação. É a interpretação da sensação como sinal de um objeto exterior” (BARROS 1997, p.43). Barros (1997), comenta que foi no século XVIII que o filosofo escocês Tomás Reid distinguiu estes dois fenômenos. Para Reid... [...] sensação se dá quando um órgão como os olhos ou os ouvidos recebem um estímulo. A percepção abrange a sensação, mas inclui também o conhecimento do objeto percebido e a certeza de sua existência. Um certo estímulo produz sensações de cor vermelha, de forma arredondada e odor agradável. Mas o que nós percebemos é uma rosa (BARROS 1997, p.43). Em outras palavras, o perceber supõe as sensações acrescidas dos significados que se lhe atribuem em função das experiências. A percepção envolve, portanto, a transformação, em nível mais elevado cortical da entrada sensorial decorrente do impacto dos estímulos sobre os receptores, ou seja, por meio do processo perceptivo, o fluxo de experiências sensoriais se integra no resíduo de experiências anteriores para produzir significado. Kandel et al (1997), destaca que nos estágios críticos do desenvolvimento humano, a ação interativa do cérebro, assim como das suas conexões, depende de interações específicas entre o organismo e o seu ambiente. Assim a influência do ambiente sobre o cérebro e, por conseqüência, sobre o comportamento, muda conforme a idade do sujeito. Quando mais adulto o indivíduo, menor é a possibilidade de influência de experiências ambientais anormais. Outro aspecto interessante, destacado por Ballone (2003), é que a percepção representa o ato pelo qual o indivíduo toma conhecimento de um objeto exterior e 48 que a maior parte das percepções conscientes são provenientes do meio externo, enquanto que as sensações dos órgãos internos são, em sua maioria de ordem inconsciente, desempenhando um papel limitado na elaboração do conhecimento do mundo. Assim para este autor, a percepção dá-se pela apreensão de uma situação objetiva baseada em sensações acompanhadas de representações e de juízos. Na percepção, cada indivíduo acrescenta aos seus estímulos – qualidades objetivas dos sentidos – elementos de memória, do raciocínio, do juízo e do afeto – elementos subjetivos. De acordo com o artigo: “Os Processos de Percepção e Comunicação Interpessoal” da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa – FCT/UNL (2003), quando se fala de pessoas não se está falando de tecnologia, pois quando estas ouvem ou vêem algo, não o fazem como os gravadores ou como as máquinas fotográficas. Para de cada uma destas ações existe um sujeito que responde somente a sinais que lhe têm algum significado, ou seja, existe uma pessoa que vê aquilo que quer ou que necessita ver, em função de objetivos próprios, sejam estes de desenvolvimento e/ou de defesa. Uma pessoa é notada, não pelo que realmente é, mas por aquilo que ela significa àquele que o observa. Nesta concepção, a compreensão do mundo, assim como dos aspectos com quais nos identificamos, sejam estes de ordem interna, intrapessoal, ou externa, como nas relações com outras pessoas, depende de como organizamos conceitos ou categorias tais como, quente ou frio, bom ou mau, simples ou complexo. Cada um destes conceitos pode ser considerado uma dimensão na qual situamos os acontecimentos do mundo, aproximando-os ou distanciando-os de um dos extremos. É preciso recorrer a estes conceitos quando se tem de considerar qualidades próprias ou de outras pessoas, ou mesmo quando analisamos os acontecimentos do mundo inanimado. A dependência destes conceitos e categorias para a compreensão e organização do mundo em que se vive, é tal que todas as experiências individuais são organizadas segundo um conjunto próprio de conceitos, ou seja, cada pessoa desenvolve o seu e o utiliza para interpretar comportamentos de outros, tendo suas categorias preferenciais determinadas por motivações próprias. A falta de algum conceito para definir algo ocorrido no mundo, obriga a criação de um outro que possa dar conta do evento ou se corre o risco de não poder responder ao acontecimento em questão de forma organizada (FCT/UNL, 2003). 49 Estes conceitos, portanto, não podem existir isoladamente, estão interligados por meio de uma rede de relações. Utilizados pelas pessoas, tanto para compreender situações e relações entre os próprios conceitos, formam um sistema conceptual que atua formando imagens e estereótipos. Em outras palavras, a informação sobre um conceito do tipo: ele é “negro”, ou um “líder sindical”, ou “psicólogo”, ou uma “mulher”, imediatamente evoca um conjunto de expectativas sobre outras características da pessoa em questão. O conjunto das dimensões conceituais, que permite organizar as múltiplas experiências diárias, sem o qual as pessoas viveriam num estado de caos constante que as transforma em partes funcionais e necessárias da personalidade humana. Esta dependência de um sistema conceptual transforma-se em resistência e hesitação para qualquer outra informação que não se adapte ao mesmo. Como forma de proteção, as pessoas dispõem de inúmeras defesas perceptuais que atuam como filtros, bloqueando o que não se “quer ver”, deixando passar o que se “pode” ver. Desta forma, quanto mais as pessoas se aproximam de sistemas conceptuais ligados a relações com outras pessoas, mais fazem uso destes filtros defensivos (FCT/UNL, 2003). Em suma, a percepção representa um elemento decisivo quanto ao conhecimento que o indivíduo têm do mundo que o cerca, não lhe permitindo qualquer representação fotográfica da realidade, tornando impossível imaginar que se possa a alcançar uma percepção neutra dos muitos estímulos sociais a que está exposto. Por outro lado, não se deve deixar de considerar o efeito decisivo de elementos como a seletividade, as nossas teorias sobre o mundo e as impressões que formamos sobre os outros, no que se percebe e se interpreta o comportamento das pessoas, quando se estabelece algum tipo de contato (BALLONE, 2003). A percepção interpessoal, portanto, se manifesta em situações distintas, decorrentes da necessidade em se distinguir as condições que se manifestam os vários padrões de comportamentos interpessoais (BALLONE, 2003). Segundo J. Brunner, a percepção interpessoal ao depender de um sistema de categorias nas quais os estímulos são classificados e passam a receber uma identidade, permite que se possa compreender a percepção como um processo decisório realizado por um agente ativo, um sujeito, que se percebe na medida que relaciona o estímulo de entrada com os sistemas de codificação apropriados, 50 tornando-o capaz de ultrapassar as propriedades perceptivas dos objetos, devido às atividades inferências (COMPORTAMENTO, 2003). 2.6.1.2 Fatores perceptuais Diversos são os fatores envolvidos na percepção, entre eles destacam-se: os estruturais, os funcionais, os institucionais e os pessoais (FCT/UNL, 2003). Os fatores estruturais são as primeiras condições da percepção humana sobre as quais não há ação, ou seja, que não se podem mudar. Mehl (1979), afirma que são estímulos que se apresentam dentro de princípios formais, impondo-se como uma forma preferencial e dominante – aqueles que são mais facilmente percebidos na heterogeneidade do mundo circundante. Em outras palavras: aqueles que se destacam, que se fazem destaque. Já os fatores funcionais permitem que o percebido seja o conjunto daquilo que vem do mundo exterior e que possa ter alguma significação para o sujeito, operando assim sobre os elementos que estão mais à disposição deste, cuja organização permite a sua integração de forma compreensível (FCT/UNL, 2003). Num exemplo mencionado em FCT/UNL (2003), uma pessoa é introduzida numa sala e, depois de algum tempo, retirada. Quando inquirida sobre os objetos que viu, só consegue descrever alguns detalhes que faziam parte do acervo desta sala. Isto acontece porque a pessoa só conserva uma parte dos elementos que podia ver, fenômeno que ocorre pelo simples fato de que a percepção opera por meio de uma seleção de informações que atingem os sentidos. Isso não significa que não tenha sido visto, todos os elementos expostos, mas sim que o sujeito em questão valorizou umas coisas em detrimento de outras. Desta forma, não só se elimina um certo número de informações “desnecessárias” , como se organiza um campo de dados sensoriais, introduzindo neles uma estrutura que se torne coerente. Porém, isto não ocorre aleatoriamente, a percepção isola os conjuntos, obedecendo a certas leis, onde os objetos são percebidos em grupo, por causa da sua proximidade, semelhança, simetria, etc. Do mesmo modo, a percepção destaca uma figura do fundo em que está inscrita, quando a figura adquire maior significação e propriedades diferentes das do fundo 51 (FCT/UNL, 2003). Leis já bastante conhecidas da Gestalt – Psicologia da Boa Forma. A visão da percepção como uma das possíveis formas de conhecimento, que se baseia em relações, o conceito de figura e fundo torna-se fundamental para que se possa descrever este fenômeno psíquico. Neste sentido, Mehl (1979) afirma que a figura é aquilo que se percebe, que possui unidade, que por ser mais densa, destaca-se sobre o fundo, sendo os limites entre a figura e o fundo pertencentes à figura, em particular quando se refere visão. O que se percebe faz parte de um campo, visual, auditivo, táctil, gustativo e olfativo, no qual se desenvolve a percepção. Esta, por sua vez, só pode acontecer na presença da diferença, ou seja, na heterogeneidade, pois na frente do igual não há àquilo que se diferencia no campo (MEHL, 1979). Ainda em FCT/UNL (2003), nas atividades perceptivas se fazem presentes também comparações e juízos que permitem ao sujeito assimilar um "dado" presente a um já "conhecido" anteriormente. Pois, a percepção é uma função pessoal que sofre não só a influência das características de cada um, mas também do contexto social em que vive e das instituições nas quais está integrado. Os mesmos objetos, os mesmos acontecimentos, as mesmas pessoas do mundo exterior impõem-se com uma significação diferente para cada indivíduo. Nos fatores institucionais, o sujeito da percepção, enquanto pessoa se insere numa sociedade da qual veicula algumas representações. Representações estas que estão institucionalizadas. Por exemplo: em nossa cultura, parece natural se achar que irmãos devam ser parecidos, porém em outras, como no caso de tribos melanésias, este não é um fato contundente e não se procura por estas semelhanças (FCT/UNL 2003). Já nos fatores pessoais, constatou-se que, sujeitos que haviam jejuado previamente, ao interpretar figuras ambíguas as relacionavam com maior facilidade a alimentos e/ou utensílios de cozinha, numa proporção nitidamente maior que aqueles sujeitos em estado de fome normal, quando as percepções se tornavam exclusivamente alimentares à medida que o tempo de jejum aumentava. O que permite afirmar que vários parâmetros estão na base das preferências pessoais, tais como: 52 1. Desejos, preferências, opiniões e estereótipos: Em função dos desejos pessoais, transforma-se de modo mais ou menos intenso o objeto da percepção de forma que ele possa preencher as expectativas do sujeito. Por exemplo: espectadores de um jogo de futebol vêem todas as faltas do time adversário, mas têm dificuldades em ver as do seu clube favorito. 2. Experiências passadas – aprendizagem: A percepção depende enormemente das experiências anteriores. Em outras palavras, um sujeito aprende a dar um sentido maior aos pormenores para os quais foi preparado para notar, enquanto outros lhe escapam, uma vez que não têm nenhuma significação para ele. 3. Contexto e quadro de referência: As percepções de uma pessoa não são as mesmas conforme o contexto no qual se encontra uma figura. Sendo que este contexto significa, tanto o ambiente objetivo exterior que observamos ao mesmo tempo em que a figura, quanto os contextos internos, pessoais, que é o quadro de referência no qual recebemos a imagem (FCT/UNL, 2003). Assim, pode-se notar que é ao nível da percepção de outro que se colocam os maiores problemas de distorção perceptiva. Os riscos de erro aumentam consideravelmente, uma vez que grande parte das razões e motivações do comportamento deste outro nos escapa. As significações que a percepção de um sujeito atribui aos outros não correspondem necessariamente às que eles próprios atribuem à sua conduta. A pessoa não é percebida pelo que é, pelo que deseja ser, assim gerando descontentamento, hostilidade. A explicitação das motivações e dos objetivos é uma das formas de ultrapassar este estado de coisas, sendo que somente o esforço para atingir uma comunicação livre e sem barreiras poderá permitir aos indivíduos ajustar suas percepções (FCT/UNL 2003). O estudo das interações humanas e dos métodos de aprendizagem que levam às mudanças de comportamento demonstra a existência de uma importante área que se configura como a primeira a ser focalizada. A comunicação é uma área na qual o indivíduo pode fazer grandes progressos na melhoria de sua própria eficácia, embora também represente o ponto onde ocorrem os maiores desentendimentos e conflito entre pessoas e sistemas (CHIAVENATO, 1987). 53 Para Chiavenato (1987): Existe uma profunda relação entre motivação, percepção e comunicação. Aquilo que duas pessoas comunicam é determinado pela percepção de si mesmas e da outra pessoa na situação, e pela percepção, sob o aspecto de sua motivação (objetivos, necessidades, defesas), da importância daquele momento (CHIAVENATO, 1987 p. 103). Assim, para este autor, toda idéia comunicada está diretamente relacionada com as percepções e motivações, tanto por parte do emissor quanto do receptor, dentro de determinado contexto situacional (CHIAVENATO, 1987). 2.6.2. Habilidades relacionais 2.6.2.1 Habilidade de comunicação Segundo Robbins (2000) uma comunicação eficaz envolve outras duas habilidades: a de ser um ouvinte ativo e a de saber dar feedback; os quais se associam a um conjunto de comportamentos específicos. Para esse autor, o feedback representa o elo final do processo de comunicação. “É a verificação do sucesso obtido na transferência das mensagens tais como originalmente pretendidas. Ele procura determinar se o entendimento aconteceu” (ROBBINS 2000, p. 425). Assim, o objetivo principal do feedback é devolver a mensagem para sistema como forma de prevenir mal-entendidos e distorções na mensagem original. Quando orientado com clareza de objetivos, assegura compreensão e dirige o feedback negativo para comportamentos que sejam controláveis pelo receptor (ROBBINS 2000). Boudon et al (1995), afirma que foi Norbert Wiener quem primeiro elaborou essa noção de feedback, fenômeno de retroação que representa tudo que segue em sentido contrário, do receptor para o emissor, a qual considera a possibilidade de resposta do destinatário de uma mensagem. “Num sistema cibernético, o feedback permite a regulação cíclica: a modificação de uma das grandezas de saída reage 54 sobre as grandezas de entrada a fim de manter o equilíbrio do sistema. É a reação do efeito sobre a causa” (BOUNDON, 1995, p.568). Moscovici (1985), também reforça a importância do feedback: No processo de desenvolvimento da competência interpessoal, feedback é um processo de ajuda para mudança de comportamento; é comunicação a uma pessoa, ou grupo, no sentido de fornecer-lhe informações sobre como sua atuação está afetando outras pessoas. Feedback eficaz ajuda o indivíduo (ou grupo) a melhorar seu desempenho e assim alcançar seus objetivos (MOSCOVICI, 1985, p. 41). O termo Feedback, segundo Moscovici (1985, p.40), é oriundo da eletrônica e significa retro-alimentação: “Qualquer procedimento em que parte do sinal de saída de um circuito é injetado no sinal de entrada para ampliá-lo, diminuí-lo, modificá-lo ou controlá-lo”. Para a engenharia eletrônica a expressão feedback é empregada com dois sentidos diferentes. Um primeiro, mais amplo, representa que uma parte da energia de saída de um aparelho ou máquina retorna como entrada, como por exemplo, no caso de um amplificador elétrico com feedback. Neste caso, um feedback positivo, pois aumenta os sinais de entrada e não os corrige, uma vez que a fração de saída que reentra no objeto tem o mesmo sinal, ou seja, é igual ao sinal de entrada original (MOSCOVICI, 1985). Num outro sentido mais restrito, o termo feedback é empregado para significar “que o comportamento de um objeto é controlado pela margem de erro à qual o objeto está sujeito, em um dado momento, com referência a um objeto específico”. Assim o feedback é negativo, pois “os sinais do objetivo são usados para restringir saídas que, sem correção, ultrapassariam o objetivo”. (MOSCOVICI 1985, p.40). Segundo Moscovisci (1985), este último significado tem grande importância para o comportamento humano e para as relações interpessoais, uma vez que todo o comportamento dirigido para um fim requer feedback negativo. Sinais do objetivo são necessários, em determinados momentos, para orientar o comportamento a ser seguido. 55 Para Watzlawick et al (1993), o feedback negativo desempenha um papel importante na realização e manutenção da estabilidade uma vez que caracteriza a homeostase, ou seja, um estado de constância. Já o feedback positivo, ao contrário, promove instabilidade e desequilíbrio, pois conduz a mudanças. Porém, nos dois casos, parte do produto de um sistema retorna a este como informação sobre o produto resultante. No feedback negativo, a informação é usada para diminuir o desvio do produto de um conjunto de normas ou tendências – daí o chamar-se negativo. Quando a mesma informação atua de forma a ampliar o desvio do produto, significa que é positivo em relação à tendência já existente para um ponto morto ou dirupção, tratando-se de um feedback positivo. A questão não é dizer simplesmente que o feedback negativo é desejável e que o feedback positivo é desintegrador, mas destacar que... [...] o ponto principal é que os sistemas interpessoais, podem ser encarados como circuitos de retroalimentação, dado que o comportamento de cada pessoa afeta e é afetado pelo comportamento de cada uma das outras pessoas. A admissão (input) num tal sistema pode ser ampliada e redundar em mudança ou pode ser neutralizada para manter a estabilidade, segundo os mecanismos realimentadores sejam positivos ou negativos (WATZLAWICK et al 1993, p.38). Moscovisci (1985), salienta que o feedback para ser um processo verdadeiramente útil, deve obedecer determinadas regras, tais como: 1. Ser descritivo ao invés de avaliativo – evitar-se os julgamentos de forma a privilegiar apenas o relato do evento, trás inúmeras vantagens para as partes, principalmente no sentido de se reduzir os níveis resistências, a necessidade de defesa, e desta forma permitir que o indivíduo ouvir e sentir-se à vontade para utilizar as informações repassadas como julgar conveniente; 2. Ser específico ao invés de geral – os adjetivos tem menor significado do que a indicação direta de um comportamento numa determinada ocasião. Exemplificando: Ao invés de chamar alguém de “dominador” ou “autoritário” é melhor aproveitar um momento para chamar à atenção para o seu comportamento: mais uma vez você repetiu na reunião sua postura 56 autoritária e desprezou a opinião dos seus colegas, que se calaram para não criar controvérsias. 3. Ser compatível com as necessidades (motivações) de ambos – comunicador e receptor, não pode levar em conta apenas a necessidade de uma das partes. A tendência em satisfazer somente a necessidade do comunicador, pode revelar-se altamente destrutiva. 4. Ser dirigido para comportamentos que o receptor possa modificar – caso contrário, a frustração estará apenas sendo incrementada, principalmente se o receptor reconhecer falhas no que não está sob o seu controle mudar, em outras palavras, o feedback não pode ser dirigido a aspectos que o receptor ao tenha condições ou poder para mudar. 5. Ser solicitado ao invés de imposto – o feedback é mais eficaz quando for produto de um questionamento, isto é, quando advir de uma pergunta formulada pelo receptor. 6. Ser oportuno – de um modo geral, o feedback se mostra mais eficaz quanto mais próximo estiver do comportamento em questão, ou seja, quanto menor for o prazo no pós-evento. Isto é claro, levando-se sempre em conta fatores como: prontidão da pessoa para ouvi-lo, apoio dos outros, clima emocional etc. 7. Ser esclarecido para assegurar comunicação precisa – uma das formas mais eficazes é fazer com que o receptor repita o feedback recebido para que se possa avaliar se corresponde ao que o comunicador quis dizer (MOSCOVISKCI, 1985). Porém, Moscovisci (1985) afirma que na prática, estes preceitos, embora compreendidos e aceitos intelectualmente, são difíceis de serem seguidos, tanto no que se refere ao processo de “dar” quanto de “receber” feedback, o que pode ser comprovado pelos freqüentes insucessos na comunicação interpessoal. Receber feedback, segundo Moscovisci (1985), é tão difícil quanto dar, sendo que no primeiro caso, as questões de imagem e de status, são os principais obstáculos, assim como, o medo de se estar perdendo a independência e ou ter de mudar. No segundo, existe a necessidade de demonstrar inteligência e habilidade, ao invés da preocupação com a utilidade do feedback para o receptor e seus 57 objetivos; o medo das possíveis reações do outro ou o temor de ser mal interpretado, constituem as maiores dificuldades na transmissão de feedback. Outro aspecto importante é fato da pessoa a qual se destina o feedback não estar preparada psicologicamente para recebê-lo, ou não deseje nem sinta a sua necessidade. Para ela, “é preciso atentar para estes aspectos de nula ou fraca prontidão perceptiva, que constituem verdadeiros bloqueios à comunicação interpessoal” (MOSCOVISCI, 1985, p.42). Para superar essas dificuldades, Moscovisci (1985) sugere: 1. Estabelecer uma relação de confiança recíproca que diminua as barreiras entre comunicador e receptor. 2. Reconhecer que o feedback é um processo de exame conjunto. 3. Aprender a ouvir e receber feedback sem reações emocionais intensas. 4. Aprender a dar feedback de forma habilidosa, sem conotações emocionais intensas. Entretanto, é importante frisar que, para essa autora, “os dados referentes a sentimentos e emoções também são importantes no processo de feedback”, pois estes podem justificar comportamentos, tanto de comunicadores quanto de receptores (MOSCOVISCI, 1985, p.43). Porém, Quando recebemos feedback de uma pessoa, precisamos confrontá-lo com reações de outras pessoas para verificar se devemos mudar nosso comportamento de maneira geral ou somente em relação àquela pessoa (MOSCOVISCI, 1985, p.43). A autora salienta ainda que, Todos nós precisamos de feedback, tanto do positivo quanto positivo. Necessitamos saber o que estamos fazendo inadequadamente, como também o que conseguimos fazer com adequação, de modo a podermos corrigir as ineficiências e mantermos os acertos (MOSCOVISCI, 1985, p.43). 58 Na visão sistêmica de Peter Senge (2002), o conceito de feedback é extremamente simples e demonstra como as ações podem se reforçar ou neutralizar (equilibrar) umas às outras. A compreensão deste conceito permite o aprendizado e o reconhecimento dos tipos de estruturas recorrentes ou predominantes em determinados comportamentos. Porém, para isso é necessário ir além da concepção de feedback, como a busca das opiniões dos outros sobre uma atitude tomada, no qual feedback positivo significa respostas encorajadoras e feedback negativo más notícias. É preciso vê-lo como um conceito mais amplo em que feedback “significa qualquer fluxo recíproco de influência”, constituinte fundamental de todo sistema (SENGE, 2002, p.106). Senge (2002, p.106), afirma que “a realidade é constituída por círculos”, de forma que todas as variáveis de um sistema “estão organizadas em um círculo ou loop de relacionamentos de causa e efeito, chamado de processo de feedback”. Ao ler um diagrama circular de feedback, o importante é ver a “história”, que o diagrama conta: como a estrutura cria um padrão específico de comportamento (ou, em uma estrutura complexa, vários padrões de comportamento) e como esse padrão pode ser influenciado (SENGE, 2002, p.107). Para Senge (2002), a concepção de feedback como processo envolve três aspectos importantes, que o diferem da visão de feedback como uma simples questão de dar e receber opiniões: 1. Toda influência é, ao mesmo tempo, causa e efeito. Senge (2002), considera este como um dos axiomas do pensamento sistêmico. 2. O ser humano como parte do processo de feedback e não como o seu centro. Ao contrário da visão antropocêntrica, a visão do homem como centro do processo de feedback não explica a complexidade e o envolvimento das pessoas em processos em que estas não podem controlar, mesmo que tenham consciência das variáveis intervenientes, responsáveis pelos comportamentos. 3. A descrição das experiências não se esgota na linguagem linear, principalmente quando se lida com problemas de complexidade dinâmica. 59 Em outras palavras, as questões relativas às emoções, por exemplo, são mais facilmente compreendidas quando os interlocutores fazem uso do diálogo, uma vez que este permite a interpretação de outros aspectos – tais como: movimentos, gestos, mudanças epidérmicas (mudanças de coloração), olhares, entonações de voz etc – que permitem uma melhor compreensão e leitura do que está acontecendo, uma vez que a linguagem linear: sujeito, verbo e objeto, pois esta carece de elementos suficientes para a transmissão de informações mais complexas como a identificação de sentimentos subliminares (inconscientes), prestando-se mais para a transmissão de informações técnicas e numéricas. Neste contexto, Senge (2002, p.110) afirma que “existem dois tipos distintos de processo de feedback: de reforço e de equilíbrio”. • Processos de feedback de reforço – também chamado de feedback de ampliação são aqueles considerados como propulsores do crescimento, presente em todas as situações que envolvem um estado de crescimento, embora este crescimento possa ter uma direção contrária ao que se possa considerar como sendo “bem sucedido”. Senge (2002) firma que este tipo de feedback pode produzir, também, declino acelerado, pois se trata de um feedback que reforça tendências, no qual a energia de retorno (de saída) é igual, em intensidade e qualidade, a que entra (de origem), o que acaba por potencializar cada vez mais a tendência original e aumentando o desvio em relação ao objetivo. Daí este feedback ser considerado um feedback positivo que leva à mudança, pois o sistema se sobrecarrega a tal ponto que algo transformador necessariamente acaba por acontecer. Em outras palavras, “qualquer movimento que ocorra é amplificado, produzindo mais movimento na mesma direção”; pequenas ações que podem evoluir até se transformarem em grandes conseqüências querem para melhor ou para pior (SENGE, 2002, p. 111). • Processos de feedback de equilíbrio – também chamados de feedback de estabilização são aqueles que entram em ação sempre que existe um comportamento orientado para uma meta. Isto representa que, conforme seja a meta, assim será o esforço despendido para se atingir esse resultado. Em outras palavras, significa que a energia reinvestida no 60 sistema não é igual à gerada na origem, na entrada do sistema, sendo sempre proporcional ao objetivo a ser alcançado. Assim, se a força de saída for demasiada em relação ao objetivo o feedback de equilíbrio tenderá a diminuir a energia despendida. Ao contrário, se a energia for insuficiente para se alcançar o objetivo, a tendência será de aumentá-la. Este tipo de feedback, portanto, tem como função principal corrigir os desvios que possam eventualmente ocorrer em relação ao objetivo, buscando a estabilização. Por ter a tendência a manter o status quo, este tipo de feedback sempre está presente quando houver um quadro de ‘resistência à mudança’ – mecanismo que surge quando da ameaças às normas e formas tradicionais de fazer as coisas; normas que estão associadas principalmente aos relacionamentos de poder estabelecidas (SENGE, 2002). Por fim, Senge (2002), destaca que os círculos de feedback de equilíbrio são muito mais difíceis de ser detectado do que os círculos de feedback de reforço, pois a impressão que se tem nesses casos é que nada está acontecendo. No entanto, o autor alerta para fato de que, “embora conceitualmente simples, os processos de feedback de equilíbrio podem gerar um comportamento surpreendente e problemático, caso não sejam detectados” (SENGE, 2002, p.118). Um outro ponto importante na concepção de Senge (2002, p. 110), é que “muitos processos de feedback contêm ‘defasagens’, interrupções no fluxo de influência que tornam graduais as conseqüências das ações”. Em função do foi que exposto até o momento, não se pode deixar de relacionar a capacidade de receber feedback, destacada por Moscovici (1985) com as habilidades de audição (audição ativa), a qual Robbins (2000) faz menção como sendo uma das duas principais habilidades que compõem uma comunicação eficaz. Nem tão pouco se deve confundir o ouvinte ativo com a idéia antropocêntrica tão condenada por Senge (2002), que muito pelo contrário, requer um indivíduo integrado e participativo. Consciente que faz parte de um todo, o qual influencia e, ao mesmo tempo, é por ele influenciado. A audição ativa ou habilidades de audição não podem ser confundidas com o simples ato de escutar, pois escutar significa apenas captar vibrações sonoras, enquanto que ouvir vai mais além, significando a capacidade de se compreender 61 aquilo que se escuta. “Ouvir requer prestar atenção, interpretar e lembrar-se de estímulos sonoros” (ROBBINS 2000, p. 428). Robbins (2000), vai além ao afirmar que um indivíduo normal fala num ritmo entre 125 e 200 palavras por minuto e que, no mesmo minuto, um ouvinte comum consegue compreender até 400 palavras, sendo esta uma das causas para a divagação de quem escuta, em outras palavras, a ociosidade da mente, gerada por esta diferença, leva à divagação do ouvinte. Assim, o ouvinte ativo, deve trabalhar ao máximo para preencher este tempo ocioso, concentrando-se apenas naquilo que o orador está dizendo, ignorando pensamentos dispersivos que lhe ocorrem às vezes aos milhares e completamente misturados, que nada tendo a haver com o assunto tratado, acabam por criar distrações (ROBBINS 2000). O ouvinte ativo deve tentar compreender mais aquilo que o orador deseja comunicar que aquilo que o ouvinte deseja entender. Deve também, demonstrar aceitação do que está sendo dito de forma objetiva, sem julgar o conteúdo e assumir a responsabilidade pela integridade da informação, fazendo tudo “que for necessário para captar o significado pleno pretendido pela comunicação do orador” (ROBBINS 2000, p.428). 2.6.2.2 Habilidade de administração de conflitos Robbins (2000, p.430), define conflito como “a percepção de diferenças incompatíveis que resultam em interferência ou oposição”. Porém, segundo o autor, estes conflitos podem ser tanto positivo quanto negativo. Por este motivo, não se pode considerá-lo, necessariamente, como algo pernicioso ao grupo. Pelo contrário, Robbins (2000, p.430), afirma que um grupo que não apresente conflitos “tende a se tornar estático, apático e indiferente às necessidades de mudança e inovação”. Os conflitos mantêm, portanto, “os grupos de trabalho viáveis, autocríticos e criativos” (ROBBINS, 2000, p.430). Neste sentido, para Robbins (2000), torna-se necessário distinguir que administração é diferente de resolução de conflitos. Para o autor, a administração de conflitos exige a conservação de um nível ideal de conflitos, no qual se evite tanto o excesso, que cria rupturas e brigas internas, quanto uma condição de pouco conflito que cria estagnação. Em ambos os casos há prejuízo para o desempenho do grupo. 62 Assim, a habilidade para administrar conflitos se torna uma importante ferramenta relacional, como Robbins (2000, p.430) demonstra ao relatar em sua obra que “um estudo revelou que um gerente de nível médio gasta aproximadamente 20% de seu tempo lidando com conflitos”. O autor relata ainda que: A importância do conflito é reforçada por um levantamento sobre os tópicos que os gerentes consideram mais importante em programas de desenvolvimento gerencial. A administração de conflitos foi considerada mais importante que do que a tomada de decisões, liderança ou habilidades de comunicação. Para confirmação adicional de nossa afirmação, outro estudo considerou 25 fatores de habilidade e personalidade, para determinar quais deles estaria relacionado ao sucesso (definido como avaliações do chefe, aumentos de salário e promoções), dentre um grupo de gerentes. Dos 25 parâmetros, apenas um – a habilidade para controlar conflitos – estava relacionado positivamente ao sucesso gerencial. (ROBBINS, 2000, p.430; 431). No entanto, as questões relacionais não se prendem tão somente aos níveis intermediários, mas a uma condição ligada ao sucesso profissional de todos, pois todos estes almejam o sucesso. Assim, a capacidade em lidar com conflitos pode representar um importante referencial no que concerne às habilidades relacionais, como comprovam as citações desses estudos encontradas em Robbins (2000). Robbins (2000), afirma ser essencial que cada profissional conheça, não somente o seu estilo básico em lidar com conflitos, mas também o estilo das partes conflitantes, para que este possa compreender melhor a situação geradora do conflito e estar consciente das suas opções. O estilo básico, segundo Robbins (2000), é àquele que irá determinar um modo preferencial de resposta, o mais provável com o qual o sujeito tenderá a se comportar e ao qual recorrerá com mais freqüência. Isso não significa, entretanto que as pessoas não possam mudar seus comportamentos, seus estilos preferidos de lidar com os conflitos, para adaptar-se ao contexto no qual existe o conflito. A maioria dos indivíduos possui a capacidade para variar suas respostas de acordo com cada situação, mas mantém um estilo próprio com qual está mais familiarizado e do qual lança mão com mais facilidade. O conhecimento deste estilo permite ao profissional ter um maior controle sobre a forma de como melhor tratar com os conflitos. 63 Outra qualidade importante para um bom administrador de conflitos é a sua capacidade de ponderação na escolha dos conflitos que deseja controlar. Para Robbins (2000), não são todos os conflitos que merecem atenção, existindo desde conflitos que são incontroláveis, até conflitos que não valem o esforço despendido para a sua solução. As pessoas podem melhorar suas habilidades para a administração de conflitos, simplesmente evitando conflitos triviais. Em outras palavras, o autor afirma que, os esforços devem ser guardados para os conflitos que são realmente importantes. Noutro extremo estão os conflitos que são incontroláveis, conflitos que na realidade não apresentam solução viável, quer porque os antagonismos estão profundamente arraigados, quer porque as partes ou uma das partes desejem prolongar o conflito, ou porque as emoções chegam a tal ponto de exaltação que se torna impossível uma interação que seja construtiva. Em qualquer um destes casos é improvável que se segue a um resultado positivo em sua administração. O autor destaca ainda que alguns conflitos estão fora de nossa esfera de influência, enquanto outros são de ordem funcional. Em ambos os casos, devem também ser deixado de lado (ROBBINS, 2000). Na administração de conflitos se dá particular importância à necessidade de se conhecer a contento, tanto as particularidades de todos os envolvidos no conflito, quanto a sua fonte. É preciso que se avalie, no caso dos participantes, quem realmente são os envolvidos, determinando que interesses representam, seus valores, personalidades, sentimentos e recursos que dispõem (ROBBINS, 2000). Já em relação à fonte, Robbins (2000), afirma que os conflitos não começam do nada, ao contrário, possuem causas – declaradas ou não-declaradas – que precisam ser determinadas e clarificadas, para que se possa chegar a um bom termo. Para o autor, existem três categorias de fonte de conflito: diferenças de comunicação, diferenças estruturais e diferenças pessoais. • Diferenças de comunicação – são os desacordos oriundos das dificuldades de semântica, mal entendidos e ruídos nos canais de comunicação. Segundo este autor, Robbins (2000), ao contrário do que se imagina, a maioria dos conflitos não se dá por falta de comunicação, normalmente existe abundância de comunicação na grande maioria dos 64 conflitos. Para ele, muitas pessoas cometem o erro de equiparar boa comunicação com aceitação de suas opiniões pelos outros. Uma análise mais atenta em determinados conflitos interpessoais, que em princípio possam parecer provocados por uma comunicação deficiente, em uma análise mais atenta, pode se revelar como oriunda de uma discordância provocada por diferenças como: sistemas de valor, exigências de papel, metas de unidade, personalidades ou outros fatores2. Este autor vê como exagero a atenção dada à comunicação deficiente como fonte de conflito. • Diferenças estruturais – o fato das organizações serem horizontalmente diferenciadas pela especialização e departamentalização, e verticalmente diferenciadas pela criação de níveis hierárquicos, gera problemas de interação, que podem terminar em conflitos. Há discordância quanto a metas, responsabilidades, alternativas de decisão, critérios de desempenho e distribuição de recursos. Estes conflitos estão arraigados, portanto, na estrutura da própria organização e não na comunicação deficiente ou nas hostilidades. • Diferenças pessoais – o conflito pode evoluir a partir de idiossincrasias e sistemas de valores pessoais. Os sentimentos presentes nas relações entre pessoas que juntas trabalhem, interferem nos resultados deste, podendo até chegar a ponto de inviabilizá-lo. Fatores como origem, educação, experiência e treinamento, determinam para cada indivíduo uma personalidade única e com um conjunto próprio de valores, podendo levar estas pessoas a serem estigmatizadas pelos outros como: pessoas ríspitas, indignas de confiança, estranhas, excêntricas e difíceis de lidar. Sendo estas diferenças pessoais fontes importantes na geração de conflitos (ROBBINS, 2000). Robbins (2000), sugere uma série de cinco ferramentas ou técnicas de resolução que podem ser utilizadas no sentido de se reduzir conflitos quando estes extrapolam um nível ideal. Estas opções, segundo o autor, possui tanto vantagens como desvantagens particulares e não devem ser consideradas como universais, isto é, não podem ser usadas em todas as situações. O estilo preferido do 2 Aspectos que Berlo (1999) não exclui do processo de comunicação. Ver páginas 34 e 35. 65 profissional, por exemplo, pode determinar uma preferência por certas ferramentas com as quais o sujeito em questão se torna mais hábil no seu manejo. Porém um bom administrador de conflitos deve saber o que cada ferramenta pode fazer, quando e em que situações estas são mais eficazes. As cinco opções destacadas por Robbins (2000) são: 1. Abstenção – destina-se àqueles conflitos que não exigem uma ação decisiva, cuja melhor a resposta é simplesmente afastar-se do conflito ou ocultá-lo. Conflitos triviais, que normalmente originam-se de ânimos exaltados que necessitam de tempo para esfriá-los, por exemplo. Ou ainda, quando existir uma possibilidade real na qual uma ação mais enérgica possa produzir uma perturbação ainda maior que o próprio conflito, no qual o custo poderá ser maior que o benefício da resolução. 2. Acomodação – tem como principal objetivo manter as relações harmoniosas, colocando as necessidades e as preocupações dos outros acima de questões próprias. Por exemplo, quando uma questão em disputa não tiver tanta importância para uma das partes que sede, quer em função de uma menor importância face às complicações e desgastes que o conflito possa acarretar, quer em função de se desejar obter créditos para questões futuras. 3. Imposição ou coerção – quando se tenta satisfazer suas próprias necessidades às custas da outra parte. Questão essa que é melhor ilustrada quando se examina as organizações. Nelas, é facilmente constatada que os conflitos são mais comumente tratados pela autoridade formal, que soluciona a disputa pela imposição de seu cargo. Porém, esta opção é relevante quando se precisa de uma solução rápida sobre questões importantes, ou quando se precisa tomar medidas impopulares, ou ainda, quando o comprometimento dos demais com a sua proposta de solução não é crucial. 4. Acordo ou conciliação – é uma opção que exige que todas as partes abram mão de algo de valor. As negociações trabalhistas nas reformulações dos novos contratos são um bom exemplo deste tipo de resolução de conflitos. É uma importante estratégia a ser usada quando as 66 partes conflitantes envolvidas possuem o quase o mesmo poder, quando é desejável alcançar uma solução temporária para alguma questão complexa. Ou ainda, quando houver pressões de tempo que exijam uma solução ágil. 5. Colaboração – é uma solução em que todos saem ganhando, na qual todas as partes envolvidas no conflito buscam satisfazer seus interesses. Sua característica mais importante é a discussão franca e honesta entre as partes, a audição ativa para melhor entender as diferenças e a cuidadosa deliberação sobre uma completa gama de alternativas que possam levar a uma solução vantajosa que atenda os anseios de todos. Está mais indicada quando as pressões do tempo são reduzidas e de pouca influência, quando todas as partes desejam procurar realmente uma solução que traga vantagens a todos. Destina-se também, a questões de importância relevante para que se possa adotar uma solução de compromisso (ROBBINS, 2000). Noutro extremo, afirma Robbins (2000, p.433), estão os conflitos que devem ser estimulados, embora esta noção de estimulação de conflitos seja geralmente difícil de ser aceita, pelo simples fato do termo conflito ter “uma conotação negativa e a idéia de gerar conflitos propositalmente ser uma espécie de antítese da boa administração” – dados relatados pelo autor demonstram que existem situações nas quais um aumento de conflito é construtivo. Ver, por exemplo, Van de Vlier e de Dreu (1994, p.211-222). Para Robbins (2000, p.433), “a carência de idéias sobre técnicas de estimulação de conflitos reflete o interesse relativamente recente sobre o assunto”, pois durante anos nas organizações, e na própria sociedade, sempre se preocupou apenas com a resolução dos seus conflitos, mas estes podem ser de relevância para o desenvolvimento de novas condições de trabalho, desafios de status quo, novas idéias, novos procedimentos, produtos etc. Um dos exemplos mencionados por Robbins (2000), com maior possibilidade de êxito e de coerência na estimulação de conflitos é o uso da comunicação como forma de chamar a atenção para as diferenças de opinião que os indivíduos por si mesmos ainda não reconheceram. Para manter a paz, a maioria das pessoas geralmente mascara ou sublimam potenciais diferenças. A comunicação pode 67 estimular o surgimento dessas diferenças, permitindo que estas possam ser tratadas abertamente, obrigando as partes a encarar os conflitos. 2.6.2.3 Habilidades de negociação Quando se pensa em negociação, não se pode deixar de levar em conta que estas só existem em função dos conflitos. Está nos conflitos a origem das negociações, os quais foram classificados por Hodgson (1996, p. 206) como: “conflitos de interesses, conflitos de necessidades, conflitos de opinião”. Mas, os conflitos também podem ter uma natureza totalmente amigável, a ponto que nem serem percebidos como conflito pelos seus protagonistas, que percebem apenas a questão da negociação. Entretanto, se não existisse nenhum tipo de conflito, não haveria necessidade de negociação, o que a torna um dos melhores meios para solucionar conflitos (MARTINELLI; ALMEIDA 1998). Autores como, Pollan e Levine (1994) afirmam que, depois de ler e escrever, a negociação é a mais importante das habilidades necessária para que um indivíduo possa se considerar bem-sucedido quer no âmbito pessoal quer no profissional. Para eles, os negociadores são pró-ativos que tendem a não aceitar as coisas como elas são, sem antes procurarem por novas formas que possam de algum modo melhorar os resultados. Porém, ao contrário do que muitos pensam, estes autores afirmam que na realidade existem poucos negociadores e que isto se deve principalmente ao fato que uma negociação eficiente requerer a observação e o domínio de alguns pontos básicos – uma vez que todos negociam, a todo o momento, a vida toda, mesmo inconscientemente. Assim, aos olhos dos autores, saber negociar efetivamente exige outras condições que nem sempre são preenchidas por aqueles habituados a negociar informalmente, apontando três razões para escassez de negociadores efetivos: 1. Um grande número de pessoas não sabe como negociar, uma vez que não foram capacitados para isso, se quer pela família, ou pela escola. Em outras palavras, não há no dia-a-dia pessoas que se proponham a ensinar a arte da negociação. 2. A grande maioria da população não acredita que seja possível se aprender a negociar de forma efetiva, principalmente pelo fato de pensarem que tal 68 habilidade não possa ser ensinada, uma vez que não existe quem os ensine. É mais fácil considerá-la como uma capacidade inata, com a qual se nasce ou jamais se adquire. 3. Por fim, a razão mais forte é o medo natural que as pessoas apresentam do negociar. Pollan e Levine (1994), com isso procuram demonstrar não só a importância de se estudar o processo de negociação e assim compreender melhor seus conceitos e transmiti-los de forma mais eficaz, mas principalmente, demonstrar a possibilidade de se aprender e desenvolver as habilidades de negociação por meio da prática, bem como quebrar as resistências, vencendo o medo de se tornar um negociador. Para Martinelli e Almeida (1998) outra condição que compromete o processo de negociação é a visão antiquada, e ainda usadas por muitos, de que se deva pensar em atender primeiro às próprias necessidades, sem se preocupar com as outras partes envolvidas na negociação, de modo que o importante é levar vantagem, sem se preocupar com o atendimento. Este tipo de negociação ficou conhecido como ganha-perde, na qual sempre um dos lados tem de perder para que o outro venha a ganhar, o que com certeza desestimula a parte lesada a participar de novos negócios, comprometendo a manutenção de relacionamentos futuros entre as partes. Não sendo, portanto, a melhor maneira de se fazer negócios. Ao contrário, garantir que todos os lados envolvidos saiam satisfeitos e com todas as suas necessidades básicas supridas é fundamental para o sucesso de uma negociação. Numa negociação, deve-se buscar um relacionamento que possa ser duradouro, que leve a novas negociações no futuro e que mantenha, ou melhore, o contato entre as partes envolvidas. Além disso, buscando-se atender às partes envolvidas, tende-se para uma negociação classificada pelos autores como ganha-ganha. Quando se pensa em ambos ganharem, tende-se a pensar em dividir os ganhos entre as partes e que se possa atendê-las, pois nem sempre essas necessidades são conflitantes, podendo inclusive ser complementares (MARTINELLI; ALMEIDA 1998, p.17). Para estes autores: 69 Os estilos de negociação são fundamentais para a solução de conflitos. Assim, conhecer as diversas classificações existentes, bem como as diferenças entre os estilos torna-se fundamental para lidar com os conflitos da melhor maneira possível. A importância de conhecer os estilos é muito grande, tanto no que se refere a nosso próprio estilo pessoal, quanto ao estilo das outras pessoas envolvidas no processo. Além disso, torna-se essencial saber que as pessoas envolvidas mudam seu estilo ao longo das negociações, bem como podem ter componentes de diversos estilos simultaneamente (MARTINELLI; ALMEIDA 1998, p.11). Com estes comentários, Martinelli e Almeida (1998) procuram demonstrar a importância do processo de negociação para manutenção e preservação das relações, no qual a comunicação desempenha um papel essencial no contexto das negociações. Fato este que se pode constatar, principalmente, quando se analisa a questão dos feedbacks. Outros autores também compartilham deste parecer como pode ser comprovado na formulação de seus conceitos. A primeira definição que aponta neste sentido aparece com Cohen (1980, p.13), na qual “negociação é o uso da informação e do poder, com o fim de influenciar o comportamento dentro de uma rede de tensão”. Nela podem-se notar dois grandes fatores que formam a base deste conceito: o uso da informação e do poder. Neste caso fica patente que o uso da informação pode assumir também um aspecto de poder, na medida que possa ser retida e barganhada. O uso da informação como fator diferencial demonstra a importância da comunicação no processo de negociação, pois ela está presente em todas as etapas do processo e de maneira intensa e decisiva (MARTINELLI; ALMEIDA, 1998). Outro conceito que reforça esta posição é o de Fisher e Brown (1989, p.30) que afirma que a “negociação é um processo de comunicação bilateral, com o objetivo de se chegar a uma decisão conjunta”. Neste caso especifico fica evidenciado a importância da “bilateridade” como fator fundamental no processo de comunicação, em especial, dentro da negociação, além de destacar a questão do feedback e da troca de papéis entre os interlocutores, que passam de emissor para receptor – e vice-versa – durante todo o processo. A troca de papéis permite que as partes tenham uma melhor compreensão das necessidades e interesses envolvidos e demonstra uma tendência maior de se encaminhar para uma negociação do tipo ganha-ganha (MARTINELLI; ALMEIDA, 1998). 70 E finalmente, Acuff (1993, p.21), reforça essa posição ao afirmar que a “negociação é um processo de comunicação com propósito de atingir um acordo agradável sobre diferentes idéias e necessidades”. Embora nesta definição o autor também enfatize uma grande preocupação com a comunicação no processo de comunicação, sua concepção apresenta uma tendência mais para o campo da persuasão, que ao contrário daqueles acreditam na utilização pura e simples dos vários tipos de poder, apresenta uma negociação muito mais preocupada com o outro lado, pois esta ao atender de forma mais adequada às suas necessidades e interesses, permite que estes se sintam realizados com os resultados e motivados a novas negociações. Outra definição interessante e que reforça a tendência até aqui defendida, é a de Matos (1989, p. 240) que afirma que a “negociação importa em acordo e, assim, pressupõem a existência de afinidades, numa base comum de interesses que aproxime e leve as pessoas a conversarem”. Nela o autor destaca a importância do diálogo, do relacionamento e da existência de interesses comuns que possam conduzir a um acordo. Para Matos (1989) não pode haver negociação que se resulte eficaz que não nasça do hábito. Assim, quem nunca conversou, nem se disponha a fazê-lo, nem tão pouco a ouvir, ou ainda trocar opiniões e experiências, não reúne as condições necessárias para negociar, pois lhe faltam tradição e credibilidade, fazendo com que as outras partes não lhe depositem confiança. Uma das mais importantes e antigas definições de negociação é encontrada em Nierenberg (1981, p.3), “negociação é um negócio que pode afetar profundamente qualquer tipo de relacionamento e produzir benefícios duradouros para todos os participantes”, a qual serve como verdadeiro divisor de águas no momento que redefine negociação não mais como sinônimo de relações adversas, mas ao contrário, como algo dependente da comunicação, uma vez que ocorre entre indivíduos que agem tanto para si quanto como representantes de grupos organizados, o que a caracteriza como um elemento do comportamento humano. Todos estes conceitos apontam para a importância da comunicação no processo de negociação. Conclusão esta também compartilhada por Robbins (2000), que a coloca num patamar de tal abrangência que acaba por envolver os mais diversos níveis da administração moderna, tais como, negociar salários para recém-contratados, firmar acordos com superiores, dirimir diferenças com sócios e 71 solucionar conflitos com subordinados. Embora Robbins (2000, p.435) prefira definir “negociação como processo no qual duas ou mais partes trocam bens ou serviços e tentam encontrar um acordo quanto ao denominador comum para ambos” – “um acordo quanto aos termos dessa troca”. Na concepção deste autor “os termos negociação e barganhas são empregados de modo intercambiável” (ROBBINS, 2000, p.435). Moore (1998, p.73) é outro autor que afirma que, apesar da existência de muitas formas de se realizar negociações, estas podem ser relacionadas em dois grandes grupos, o primeiro é a negociação ou barganha posicional, também conhecida como modelo competitivo, adversarial ou distributivo (quanto mais um lado ganha, mais o outro perde). A barganha baseada nas posições deriva seu nome da prática da escolha de uma série de posições — opções particulares de acordo que possam satisfazer os interesses da parte que a propõe — e da apresentação desta a um oponente como sendo a chave para a conclusão da questão em pauta. Porém, torna-se necessário salientar que a posição de uma parte pode ou não corresponder às necessidades ou aos interesses dos outros negociadores envolvidos no processo. Por outro lado, as posições tendem a ser ordenada seqüencialmente, de forma que a primeira posição corresponda a uma grande demanda e represente a expectativa máxima de ganho que um negociador espera ter com a concordância do seu oponente. Cada posição subseqüente exige cada vez menos do oponente e resulta na diminuição dos benefícios às partes que iniciaram o processo. Como característica principal, a barganha baseada nas posições compromete, desde o inicio das negociações, as partes com soluções muito especificas para as questões em disputa e, na maioria das vezes, reduz a flexibilidade para gerar outras opções igualmente aceitáveis. Para Serpa (1999, p.110) a negociação posicional pode ser dividida em dois tipos: a distributiva, assim chamada porque nela os participantes realmente dividem entre si os bens disponíveis para distribuição e a competitiva na qual os negociadores diligentemente procuram maximizar seus interesses preferindo obter tanto quanto possível do negócio. Ela pode se dar de duas maneiras, a primeira forma é amena (soft), as partes mantêm posturas e condutas amistosas, fazem concessões, mudam de posições, tentam evitar o impasse, mas nem por isso deixam de falar grosso para pressionar. Na segunda, mais dura (hard), os 72 participantes são adversários, lutam pela vitória, fazem ameaças, procuram uma única resposta: sim ou não. Os acordos resultantes desta forma de negociar são desprovidos de qualquer senso, ineficiente e geralmente colocam em risco o futuro relacionamento das partes, o que vem demonstrar, para a autora, que esse processo é de ganho unilateral: A teoria competitiva se baseia no conceito de que negociação é a forma de disputa na qual existirão, sempre, um ganhador e um perdedor. Para que uma parte seja ganhadora terá de ser dura, poderosa e competente, de forma a maximizar os resultados referentes aos interesses principais que objetiva. Ela é distributiva na medida em que partilha e vêm a limitar os recursos considerados disponíveis para distribuição. O objetivo de ganho é sempre unilateral e dirigido para melhorar resultado de uma das partes negociadoras, independentemente do efeito desse ganho sobre a outra parte ou sobre terceiros (SERPA, 1999, p.116). O termo negociação adversarial é também muito empregado para denominar esse tipo de negociação, uma vez que se trata de um processo de dar e tomar, de propostas e contrapropostas. O impasse não tem relevância o importante é sair ganhando. As manifestações de boa vontade para com a outra parte são descartadas porque não se pode esperar qualquer retribuição e, além disso, este gesto pode ser considerado como sinal de fraqueza e provocar uma reação ainda mais dura da outra parte. Moore (1998) descreve o processo do acordo na negociação posicional da seguinte forma: Os negociadores que se baseiam nas posições, via de regra; conseguem acordo porque identificaram uma solução que satisfaz bastante os interesses de um oponente para induzir o acordo. Entretanto, os negociadores que se baseiam nas posições muitas vezes fracassam no excesso da satisfação dos interesses de cada parte porque os acordos são compromissos ou adoções da proposta de uma parte, e não o produto de um esforço conjunto para encontrar soluções mutuamente benéficas (MOORE, 1998, p.71). Para Moore (1998) neste tipo de negociação ocorrem circunstâncias muitas bem definidas, tais como: 73 • As chances de vencer são altas. • Os recursos (tempo, dinheiro, benefícios psicológicos, etc.) são percebidos como limitados. • Uma vitória para um lado parece requerer uma perda para o outro. • Os interesses das partes não são, ou não parecem ser, interdependentes e sim contraditórios. • Os relacionamentos futuros têm uma prioridade menor que os ganhos essenciais imediatos. • As partes assumem que a barganha baseada nas posições é a maneira de resolver os problemas, não estão familiarizadas com outras abordagens para a negociação ou outras abordagens são julgadas como inadequadas ou inaceitáveis. As principais estratégias da negociação competitiva são descritas por Haydock citado por Serpa (1999): 1. Estabelecimento de posições radicais – uma parte estabelece uma demanda alta ou uma oferta baixa em resposta à outra parte com uma contrária baixa oferta e uma alta demanda. 2. Debate – um competidor contesta os pontos fortes da outra parte e os fracos de sua parte. 3. Venda – uma parte tenta negociar determinadas condições ou obter reparações da outra parte sempre tentando aumentar os custos e desvalorizar os “bens”. 4. Pressão – cada parte tenta pressionar a outra explicando o que tem a oferecer e o que pode fazer em relação às necessidades da outra, ou ainda, como pode impor sua força de forma a conseguir o que quer. 5. Concessões – embora sejam limitadas ocorrem para conseguir uma solução considerada equilibrada. Modelos de concessões efetivas envolvem estratégias específicas de troca: a) Troca de concessões de igual valor – uma parte corresponderá, igualmente, à concessão feita pela outra. 74 b) Troca de concessões alternativas – uma parte fará uma concessão em resposta a um ajuste oferecido pela outra. Ambas as partes correspondem às concessões contrárias em freqüência e valor. 6. Posições radicais – um competidor tenta estabelecer uma posição firme e convencer o oponente de que nenhuma promessa futura estará disponível, ou seja, que aquela é uma oportunidade única. 7. Benefícios da negociação – cada parte tenta convencer a outra de que esta só terá benefícios caso a negociação seja selada nos termos daquela, em outras palavras, que a sua é a melhor proposta de negocio para ambas (SERPA, 1999). Como alternativa ao modelo posicional temos o modelo de negociação colaborativa ou baseada em interesses. Este tipo de barganha possui uma visão oposta á posicional conforme descreve Moore (1998): Na barganha baseada no interesse, os negociadores necessariamente não supõem que o recurso essencial em questão — dinheiro, outros recursos, tempo, comportamento, etc. — seja limitado. Eles não supõem que o recurso deva ser dividido em partes em que um negociador é um vencedor e o outro um perdedor. A atitude do negociador baseado no interesse é o de um solucionador de problemas. O objetivo da negociação é encontrar uma situação que seja mutuamente satisfatória e termine em um resultado de vencedor-vencedor (MOORE, 1998, p.72). A barganha baseada nos interesses, um procedimento que promove a negociação integrativa em que os interesses de todas as partes são combinados e tratados através de soluções conjuntamente desenvolvidas, é com freqüência superior à barganha posicional na geração de opções de acordo (MOORE, 1998, p.220). Com base nestes conceitos Moore (1998) sugere que algumas condições específicas estejam presentes para o funcionamento efetivo de uma negociação baseada em interesses: • Os recursos ou interesses sobre os quais as partes estão negociando devem ser divisíveis ou negociáveis de tal maneira que um ganho para uma parte não signifique, necessariamente, uma perda para outra; 75 • Deve haver suficiente confiança e espírito de cooperação para permitir que as partes desenvolvam uma solução conjunta; • Nenhuma parte deve ter, mostrar ou estar disposta a exercer um poder ou uma influência opressora para impor uma decisão a seu favor; • As partes devem estar conscientes de um procedimento para desenvolver opções que todos percebam como eqüitativas e justas (MOORE, 1998, p.221). Neste ponto torna-se necessário afirmar que para Moore (1998, p.70), a negociação é uma forma de resolução conjunta de problemas tópicos, freqüentemente chamados de questões, em que os negociadores se concentram. De modo que, “uma questão existe porque as partes não concordam sobre um determinado tópico e porque têm necessidades ou interesses exclusivos, percebidos ou reais”. Assim, o negociador baseado no interesse tende a assumir uma atitude de solucionador de problemas, visto que o objetivo dessa forma de negociação é encontrar uma solução que seja mutuamente satisfatória e venha a terminar em um resultado de vencedor-vencedor. Portanto a negociação por interesses necessita de uma percepção complexa dos interesses dos negociantes, pois: Muitos negociadores, quando entram em uma disputa, assumem que as partes têm interesses inteiramente conflitantes e que o resultado trará mais benefícios para uma parte do que para outra. Estão preparadas para jogar um jogo de ganha-perdedor (MOORE 1998, p.221). O que Moore (1998) chama de conflitos absolutos, ou seja, o relacionamento entre as partes é puramente conflitante e todos os interesses são mutuamente excludentes. Serpa (1999) exemplifica bem este tipo de problema: Considerado como grande desvantagem do “problem solving” o fato de não poder ser usado em um ajuste onde as partes estejam discutindo sobre um item simples e fungível como dinheiro, por exemplo. A simples divisão de uma soma de dinheiro de negociadores que não mais interagirão em futuros negócios não oferece questões subsidiárias e não favorece a criação de opções para mútuos ganhos. É impossível criar múltiplas soluções nesse caso. As partes são obrigadas a se moverem ao longo do sistema adversarial até que cheguem ao acordo ou ao impasse (SERPA, 1999, p. 121). 76 Todavia, segundo esta autora, este tipo de situação é rara no mundo dos negócios. Moore (1998) confirma esta opinião e demonstra como perceber a questão do dinheiro como múltiplos interesses. Para o autor a grande maioria dos conflitos não tende a ser absolutos e o relacionamento entre as partes não é puramente conflitante, nem todos os interesses são mutuamente excludentes. Aparentemente, esta é uma característica mista que se aplica mais a artigos limitados, como no caso do dinheiro. Alguns negociadores assumem que o dinheiro é finito e que um aumento para um lado significa, inevitavelmente, uma perda para outro. O que leva a formulação da hipótese de que, necessariamente, num compromisso desta configuração, cada parte recebe um pouco, mas não tudo o que deseja e que esta é a única opção possível. Em outras palavras, as partes em disputa assumem que é melhor conseguir menos do que nada. Porém, as pessoas podem ter múltiplos interesses em disputas financeiras que vão além dos valores estipulados. Assim, as demandas monetárias podem ser subdivididas em questões outras como: o tempo, índice e forma de pagamento, de modo a possibilitar um resultado vencedorvencedor que satisfaça muitos interesses. Desta forma, perceber-se que a negociação cooperativa pode se dar virtualmente em todas as situações, desde que possamos identificar os diversos interesses dos negociadores. Sendo, portanto, os interesses a chave para a realização de um processo cooperativo de negociação. Por esse motivo, Moore (1998, p.72) destaca uma certa hierarquia ao descrever os três tipos de interesses, que para ele, “são condições (ou ganhos) específicas que uma parte precisa obter para que ocorra um acordo aceitável”: 1. Interesses essenciais – são aqueles que se referem às necessidades que um indivíduo tem de determinados bens, como dinheiro e tempo. São interesses substantivos que geralmente correspondem às necessidades centrais em que se concentram e se apóiam as negociações. 2. Interesses processuais – referem-se às preferências de um negociador sobre a maneira como as partes devem discutir suas diferenças e a maneira em que o resultado da negociação é implementado. Os possíveis interesses processuais devem garantir que cada pessoa tenha a 77 oportunidade de expressar sua opinião, que as negociações ocorram de uma maneira ordeira e adequada, na qual as partes evitem participações verbais ofensivas, que o processo se concentre em satisfazer os interesses mútuos, ao invés de obrigar uma das partes a concordar com uma posição predeterminada defendida por outra, que o plano para implementação do acordo seja elaborado em detalhes antes do acordo final ou que um documento ou contrato escrito deva resultar da negociação. 3. Interesses psicológicos – são os que se referem às necessidades emocionais e de relacionamento do negociador, tanto no que se refere ao durante quanto ao resultado das negociações. Os negociadores querem ser reconhecidos e ter uma auto-estima elevada, ser tratados com respeito por seus oponentes, e não querem ser humilhados nas negociações. Para preservar o relacionamento no futuro, os negociadores podem preferir trabalhar uma imagem positiva da outra parte com o propósito de manter sua abertura quanto à comunicação futura (MOORE, 1998). A importância destes conhecimentos é fundamental, não só para identificação da forma de negociação com a qual estamos lidando ou dos interesses envolvidos, mas principalmente qual é realmente o problema a ser resolvido, em outras palavras, identificar o objetivo da negociação. Este é na visão de Martinelli e Almeida (1998), ponto básico a ser definido e o mesmo só se dará a partir de bom planejamento da negociação que deve conter os seguintes passos: 1. Separar as pessoas do problema – esta separação permite ao negociador concentrar-se de forma mais efetiva no objetivo da negociação. Para o autor, quando se misturam as pessoas com o problema, comprometem-se os juízos e as emoções tomam conta dificultando a avaliação dos reais méritos da questão. 2. Concentrar-se nos interesses – o segundo ponto fundamental no planejamento da negociação é o de concentrar-se nos interesses básicos, de modo que se possa examinar os interesses das partes envolvidas, distinguindo-se aqueles são comuns e os que são conflitantes. Evitando concentrar-se nas posições de cada um dos envolvidos. 78 3. Buscar alternativas de ganhos mútuos – as pessoas tendem a pensar que há apenas uma única alternativa para a solução de um problema e seguem sempre nesse sentido, embora conscientes de que esta solução não os agrada plenamente. Fatores como, uma certa acomodação, ausência de criatividade para buscar alternativas, falta de hábito de se trabalhar sempre buscando diferentes soluções, entre outras, contribuem para este tipo de pensamento. A busca de um melhor acordo para ambas as partes deve passar pela mais ampla gama de soluções possíveis, em outras palavras, na solução de um problema, torna-se fundamental encontrar o maior número possível de alternativa para a questão. 4. Encontrar critérios objetivos – os negociadores devem encontrar critérios objetivos e claramente definidos para solução do problema, que atenda as necessidades e os interesses comuns de maneira criativa e assim possibilitar a conciliação dos interesses divergentes. Estes critérios devem permitir que o acordo possa refletir algum tipo de padrão que seja reconhecido como justos pelas partes. É importante que este seja de consenso entre todos os lados envolvidos. Com os critérios previamente discutidos e aceitos, nenhum dos lados precisa ceder ao outro e sim acatar o que for a solução mais justa (MARTINELLI; ALMEIDA 1998). O quadro 1 abaixo demonstra as principais diferenças entre estes dois grandes grupos de negociação: Quadro 1 – Negociação posicional vs cooperativa ELEMENTOS Visão do conflito Conhecimento do conflito Percepção dos Recursos Atitude Posições Clima Concessões Técnica Foco POSICIONAL (COMPETITIVA) Restrita Superficial Limitados COOPERATIVA (INTERESSES) Ampla Profundo Ilimitados Hard (dura) Soft (suave) Radicais Opressão, competição. Poucas Mesmo Valor Alternadas Venda Barganha Ponderadas Colaboração Muitas Satisfaçam os interesses de ambas as partes Mediação Identificação e satisfação 79 dos interesses Grande Fácil Pequena Tempo de preparação Implementação Possibilidade de impasse Pequeno Difícil Elevada Vitória 1 lado vence 1 lado perde Pequena ou localizada Baixa Todos saem ganhando Divisão dos bens Pensão Relação entre as partes Impacto nos filhos Amizade Integridade do patrimônio Duração, etc. Satisfação Duração e qualidade dos relacionamentos Exemplo: fatores levados em conta na negociação em um divórcio Elevada e generalizada Alta Fonte: (SHIOTA, 2000). As negociações, adversariais (posicional) ou colaborativas (cooperativas), dependem de um continuo processo de analises, trocas e concessões para que não terminem em um impasse. Esse processo de troca pode ser estudado a partir da analise das transações envolvidas. Pode-se assim direcionar a comunicação de maneira a beneficiar a negociação. Assim, por exemplo, para o processo da negociação, particularmente da colaborativa, é importante que os canais de comunicação permaneçam abertos evitando um impasse. Neste caso a forma mais favorável é a transação complementar, a qual permite que o processo de comunicação continue indefinidamente e a probabilidade de que as expectativas dos interlocutores sejam atendidas são altas (KRAUSZ, 1999). Já nos casos em que os negociadores tenham adotado o modelo competitivo (posicional), as transações cruzadas são as mais utilizadas em função das posições radicais dos negociadores. Krausz (1999) afirma que quando uma transação é cruzada há interrupção do processo de comunicação, mesmo que seja por uma fração de segundo, o que altera o seu curso – da comunicação. 2.6.2.4 Habilidades de aconselhamento Segundo Robbins (2000, p.440), aconselhamento “é a discussão de um problema (normalmente com conteúdo emocional) com um funcionário visando sua 80 solução ou, no mínimo, ajudá-lo a lidar melhor com o problema”. Normalmente este papel é desempenhado pelas gerências e coordenações, mas pode ser desenvolvido por qualquer um dentro de um grupo que possa de alguma forma ser visto como capaz de responder a uma solicitação deste gênero (MOSCOVICI, 1985). Para Robbins (2000), aconselhar não é o mesmo que treinar, pois como treinador se fornecem instrução, orientação, conselho e encorajamento para ajudar os colaboradores a melhorarem seu desempenho no trabalho. Já aconselhar diz respeito a problemas pessoais, quando a personalidade ou atitudes do colaborador constitui um problema, é preciso proporcionar aconselhamento (ROOBINS, 2000). Robbins (2000) afirma existir três tipos de aconselhamento: aconselhamento diretivo, onde se ouve os problemas de um colaborador solicitante, decide-se o que deve ser feito, para depois informá-lo do que fazer. Neste tipo, quem aconselha está no controle. O aconselhamento não-diretivo baseia-se na crença que as pessoas conseguem resolver seus próprios problemas com a ajuda de um ouvinte solidário. Ouvem-se os problemas do colaborador, fazem-se perguntas e o auxiliam a encontrar suas próprias alternativas e assim tomar uma decisão. Já no aconselhamento participativo, tende a ser o mais amplamente utilizado nas empresas, o conselheiro é o ouvinte ativo, faz as perguntas, oferece observações pessoais e conselhos, e participa com o colaborador na busca de uma solução. O aconselhamento diretivo implica que os conselheiros entendam completamente os problemas do colaborador solicitante, as opções e o que é melhor para este. Condição esta de certa forma utópica, ou no mínimo pouco realista. É impossível ao outro a compreensão do que está realmente acontecendo, principalmente pela falta das informações necessárias, geralmente não comunicadas na sua totalidade pelo colaborador. Quando um solicitante se vê diante de um conselheiro desse tipo, tende a não aceitar seu conselho com muito entusiasmo ou convicção, mesmo que este esteja imbuído de uma autoridade reconhecida para tal. Este tipo de aconselhamento tem-se tornado cada vez mais incompatível com as necessidades dos colaboradores e valores das organizações atuais (ROBBINS, 2000). No aconselhamento não-diretivo o controle está nas mãos do colaborador. O agente aconselhador ouve, sintetiza, compreende e dá feedback; contudo, o colaborador é quem determina as alternativas e toma a decisão. Este tipo de 81 aconselhamento pode ajudar o funcionário de duas formas: em primeiro lugar o colaborador tem a oportunidade de desabafar, e segundo ele pode tentar melhorar sua habilidade para se ajustar ao problema. Este tipo de aconselhamento é conhecido também como aconselhamento centrado no cliente, porém ignora as observações perspicazes que um orientador experiente pode fornecer devido, por exemplo, ao seu conhecimento da organização (ROBBINS, 2000). O aconselhamento participativo representa o meio termo entre os dois extremos anteriormente mencionados. Nessa abordagem, o agente aconselhador é um ouvinte ativo que desempenha um papel mais afirmativo que no aconselhamento não-diretivo, oferecendo observações e conselho, tirando proveito do seu conhecimento e da experiência que adquiriu a fim de propiciar ao colaborador uma visão diferente do seu problema (ROBBINS, 2000). 2.6.2.5 Habilidades políticas Um dos pontos destacados por Menezes (2001) como falha de organização na administração de projetos é a política excessiva, causada por uma fraca organização formal. O que é determinado, não pela tentativa das pessoas disfarçarem a própria incompetência, mas por serem deixadas por sua própria conta, para façam o que quiserem. Porém, o simples uso de uma estrutura matricial, com os todos seus componentes lineares e pessoais, como sugere Menezes (2001) como forma ideal para uma organização eficiente que queira trabalhar com gerenciamento de projetos, não é suficiente para que se resolvam todas as questões ligadas aos excessos políticos e a outros ligados com delegação e responsabilidades que este tipo de administração acarreta. Para tanto, é necessário perceber a necessidade de habilidades específicas para se lidar com estas questões. Segundo Robbins (2000, p.442) a “política se refere a quem consegue o quê, quando e como; está estreitamente ligada a conceito de poder”. Visto que todas as organizações são constituídas por indivíduos e grupos de valores, metas e interesses diferentes, as pessoas numa organização utilizam toda influência em obter apoio para atingir suas metas e interesses. Isto cria as chamadas atividades políticas. 82 A limitação de recursos nas organizações transforma o conflito potencial em conflito real, pois nem todos os interesses dos funcionários podem ser garantidos. Fatores como o ganho de um indivíduo, ou do grupo são freqüentemente percebidos como decorrentes das custas de outros no interior da organização, e geram competição entre os membros em torno dos recursos limitados da organização (ROBBINS, 2000). Para Robbins (2000, p.443), um fator que pode ser considerado o mais importante, que conduza à política no interior das organizações, “seja a percepção de que a maioria dos ‘fatos’ utilizados para alocar os recursos limitados está aberta a discussão”. Na organização, por exemplo, os fatos não falam por si mesmos e levam as pessoas a tomar decisões em clima de ambigüidade, “onde é raro que os fatos sejam inteiramente objetivos e por isso estão abertos a interpretação”. O desenvolvimento de habilidades políticas eficazes, segundo Robbins, (2000, p.443), pode ser atingido seguindo-se alguns passos: 1. Estruturar os argumentos em metas organizacionais: para que a política seja realizada de uma forma eficaz, deve encobrir os interesses pessoais e reunir argumentos estruturados nos benefícios que resultarão para a organização. 2. Desenvolver a imagem certa: antes de tudo se deve ter conhecimento da cultura organizacional, e então administrar a imagem, ou seja, tentar modelar a imagem ou impressão que os indivíduos projetam durante uma interação. Moldando-se a favor de si próprio em função daquilo que é considerado aceitável no grupo e na organização, de forma a adequar a sua imagem a forma com que os outros o vêem e avaliam as coisas. 3. Obter controle sobre os recursos da organização: este tipo de controle é importante fonte de poder. Como o conhecimento e a experiência são recursos onde o controle é eficaz, tornando o indivíduo mais valioso para a organização, tendo uma propensão à audiência receptiva para suas idéias. 4. Tornar-se indispensável: o indivíduo deve se fazer indispensável, mesmo que de fato isto não ocorra. Isto pode ser feito através de experiência, contato, de atributos percebidos como cruciais para operações da 83 organização e que a administração acredita que ninguém mais possui a mesma medida. 5. Seja visível: os gerentes da administração devem ter conhecimento da sua contribuição na organização. Mesmo se o indivíduo não ocupar um cargo que chame a atenção, é preciso chamar a atenção sobre a sua pessoa, como entregando relatórios de andamento a seu chefe e a outros, ser visto nas ocasiões especiais. Deve-se dedicar ativamente para conseguir aprovar os projetos que aumentarão sua visibilidade. 6. Conseguir um orientador: o orientador de uma perspectiva política representa dois grandes benefícios. Uma valiosa fonte de comunicação, o qual pode transmitir informações internas às quais o colaborador pode não ter acesso, e também transmitem uma mensagem a outras pessoas da organização, pois o fato de se possuir um orientador fornece um sinal para os outros de que se dispões do respaldo dos recursos de uma figura poderosa. Um orientador pode ser obtido informalmente, ele é quem faz a escolha e destacam alguém de posição inferior da organização com quem se identifiquem. 7. Desenvolver aliados poderosos: aliar-se a pessoas úteis na área, pois além do orientador devem-se cultivar contatos com pessoas potencialmente influentes que possam fornecer importantes informações que pelo meio formal não seriam normalmente conhecidas. 8. Evitar elementos “marcados”: deve-se evitar a companhia de indivíduos “marcados”, cujo status é questionável. 9. Apoiar a chefia: deve-se apoiar o superior ajudando-o a ser bem-sucedido. Ao ser visto como apoiador o funcionário aumenta as chances de ser alçado junto com ele (ROBBINS, 2000). Entretanto, a habilidade política só se torna verdadeira a partir do respeito a uma ética imprescindível a qualquer profissional que se preze como tal, sob pena de comprometer sua imagem com o passar do tempo. Para isso a ação política não pode ser motivada por interesses oportunistas à exclusão das metas da organização, deve respeitar os direitos de outros indivíduos envolvidos e sobre tudo ser razoável e justa (ROBBINS, 2000). 84 2.6.2.6 Habilidades de delegação O tempo e o conhecimento são duas variáveis importantes para a realização das tarefas humanas na medida que estas funcionam como limites às aspirações de muitos. Na organização não é diferente gerentes, líderes de equipes e colaboradores constantemente se deparam com a triste realidade de não ser capaz de responder a tudo que se faça necessário, pois cada pessoa tem as suas atribuições e responsabilidades. O que torna a delegação uma ferramenta de peso na administração moderna, especialmente na gestão de projetos pesquisa e desenvolvimento, onde as habilidades técnicas e os conhecimentos assumem um papel ainda mais intenso. A delegação, segundo Robbins (2000, p.438), “é a atribuição de autoridade para que outra pessoa realize atividades específicas”. É através dela que subordinados podem tomar próprias decisões. Segundo Robbins (2000, p.438), muitos profissionais sentem dificuldades para delegar atividades e responsabilidades, assumindo para si tarefas que não consegue realizar sozinho, para depois reclamar como estão sobrecarregados. Para isso o autor aponta cinco razões: os profissionais pensam estar abrindo mão do poder e controle enquanto delegam; acham que delegar é abdicar; não tem confiança em seus subordinados ou temem ser criticados por seus erros; muitos tendem as fazer as coisas que são interessantes, rápidas e fáceis; e por fim a insegurança e temor de que a delegação possa corroer seu próprio cargo. Em resumo, para delegar é preciso esclarecer a tarefa, especificar margens que permitam uma participação mais adequada daqueles a quem se destinam a responsabilidade do cumprimento das tarefas, insistir que este faça recomendações quando do surgimento de problemas, estabelecer controles de feedback e principalmente, informar a todos que a delegação ocorreu (ROBBINS, 2000). O quadro 2 demonstra como desenvolver habilidades para uma delegação eficaz: 85 Quadro 2 – Desenvolvendo habilidades para uma delegação eficaz O QUE FAZER? COMO FAZER? Esclarecer a tarefa Determinar o que será delegado e para quem. Identificar a pessoa mais capaz de realizar a tarefa e determinar se ela dispõe de tempo e da motivação para fazer o trabalho. Os gerentes nunca devem delegar o feedback ou qualquer ação disciplinar. Especifique a margem de liberdade Todo ato de delegação é acompanhado por restrições, de subordinado portanto devem-se especificar os parâmetros de forma de o subordinado conheça sua margem de liberdade. Ou seja, até que ponto o subordinado pode ir sem precisar de autorização adicional. Permita que o subordinado participe Permitir que os funcionários participassem na definição daquilo que é delegado, da quantidade de autoridade necessária para realizar o trabalho, e dos padrões pelos quais eles serão julgados, aumentando a motivação, a satisfação e a responsabilidades deles por seu desempenho. Informe os outros que a delegação É necessário transmitir o que foi delegado (a tarefa e ocorreu margem de autoridade) e para quem, para as pessoas envolvidas, dentro ou fora da organização. Quando surgirem problemas, insista Insistir desde o começo que quando os subordinados para que o subordinado faça quiserem discutir algum problema que venham munidos de recomendações. recomendações, evitando assim a reversão da delegação. Estabeleça controles de Feedback Devem-se instituir controles para monitorar o progresso do subordinado, aumentando a probabilidade de que problemas importantes ou erros onerosos sejam logo identificados e que a tarefa será concluída no prazo certo e no nível de desempenho desejado. Fonte: (ROBBINS, 2000). 86 3. METODOLOGIA Considerando a natureza do fenômeno estudado, bem como os objetivos propostos, a utilização de procedimentos qualitativos de análise se mostrou mais adequada. Esta escolha, além de consistente com os objetivos de pesquisa, demonstrou coerência com a base teórico-empírica desenvolvida, uma vez que as categorias analíticas selecionadas para responder ao problema de pesquisa dificilmente podem ser quantificadas. 3.1. ESPECIFICAÇÃO DO PROBLEMA O problema de pesquisa pode ser explicitado com a pergunta: • De que forma a comunicação interpessoal interfere nas habilidades relacionais de profissionais que atuam em projetos de Pesquisa e Desenvolvimento? 3.1.1. Perguntas de pesquisa Assumindo que esta pesquisa é de natureza descritivo-qualitativa, formularam-se as seguintes perguntas de pesquisa: • Como os profissionais envolvidos em projetos de P&D percebem as questões de comunicação? O modo como estes percebem as questões de comunicação pode determinar o grau de percepção interpessoal e os fatores predominantes de suas relações. Como por exemplo, se predominam no grupo comunicações baseadas no relato ou nas relações, comunicações de linguagem linear, tais como, sujeito, verbo e objeto ou dialógicas. • Quais os principais meios usados por estes profissionais para se comunicarem nas suas relações diárias? 87 Os meios mais usados pelos profissionais do grupo de amostra indicam suas preferências tipológicas de comunicação, bem como a prevalência de seus conhecimentos sobre os seus hábitos e comportamentos, demonstrando uma maior ou menor proximidade em suas relações. • Quais os principais tipos de conflitos encontrados no grupo de amostra? A identificação dos principais tipos de conflitos permite se constatar o nível destes e, por extensão, qual a forma predominante de administração de conflito e a capacidade de negociação destes profissionais. • Como os profissionais envolvidos com o gerenciamento da informação lidam com as questões de comunicação interpessoal e habilidades relacionais? A forma e a intensidade com que estes profissionais lidam com tais questões permite identificar a qualidade das relações, suas carências e necessidades de capacitação. • Que habilidades interpessoais são reconhecidas no grupo pesquisado e como estas são identificadas por estes? A identificação e o reconhecimento de habilidades específicas demonstram a percepção que estes possuem e, portanto, representam habilidades dominantes. • Quais as principais causas reconhecidas por estes que podem estar comprometendo ou favorecendo o processo de comunicação? O reconhecimento dos pontos fortes e fracos pelo grupo de amostra no processo de comunicação permite que se observe que pontos devem ser trabalhados ou desenvolvidos. Além de possibilitar a identificação do tipo de comunicação predominante e o reconhecimento do nível de percepção interpessoal, ou seja, pela constatação do domínio das categorias conceituais que compõem o processo de comunicação interpessoal do grupo de amostra. 88 3.1.2. Definições constitutivas e operacionais Comunicação: Interpessoal, Organizacional e Processo de Comunicação: DC: Neste projeto adota-se a afirmação de RECTOR e TRINTA (1986, p. 26), na qual “a comunicação é, ao mesmo tempo, fenômeno e função social”, podendo ocorrer entre homem/homem, homem/máquina e máquina/máquina, onde o comunicar tem o significado de compartilhar os modos de vida e os comportamentos globais, que se manifestam por meio de um conjunto de normas previamente estabelecidas pelo homem e para homem. O homem, ao se comunicar, transmite uma série de informações, simples e complexas, em nível de relações humanas ou sociais, e/ou em nível biológico. Comunicar é manifestação da essência humana, é um “estar-no-mundo-junto-de-outros”. Como comunicação interpessoal, entende-se a posição de Robbins (2000), que afirma que esta é a comunicação que ocorre entre duas pessoas, seja em situações face a face ou em grupo, ou ainda, através de meios como telefone, emails e de outros desde que tratem as partes como indivíduos e não como objetos, ou seja, de modo mais proximal e pessoal se constituindo como uma das principais habilidades relacionais; e a de Berlo (1999), que afirma que seu principal objetivo é a interação. Já como comunicação organizacional ou empresarial, usa-se a definição de Pimenta (2002), que afirma que esta se caracteriza pela somatória de todas as atividades de comunicação da organização, que por ser multidisciplinar envolve métodos e técnicas de relações públicas, jornalismo, assessoria de imprensa, lobby, propaganda, promoções, pesquisa, endomarketing e marketing. Destina-se ao público em geral que pode ser divido em: • Interno – formado pelos colaboradores da organização como funcionários, fornecedores e parceiros; e • Externo – formado pela sociedade de maneira geral como: o governo, os políticos, os formadores de opinião e os consumidores. Por processo de comunicação, usa-se a definição de Robbins (2000), que o entende como a classificação das etapas – fonte e/ou emissor (origem da comunicação), codificação (conversão de uma mensagem em forma simbólica), 89 mensagem (aquilo que é comunicado), canal (meio pelo qual a mensagem é transmitida), decodificação (retradução da mensagem enviada por um emissor), receptor (destinatário a quem a mensagem é dirigida), e feedback (é a verificação do sucesso obtido com a transferência da mensagem, procura confirmar se o entendimento aconteceu) – entre um emissor e um receptor que resultam na transmissão e compreensão de um significado. Para este autor, vários fatores podem interferir neste processo, em qualquer uma destas sete etapas apresentadas, podem aparecer desvios ou bloqueios no fluxo do processo de comunicação. Para se evitar estes problemas a comunicação deve ser vista como um todo, que pode afetar sistemas nos seus mais diversos níveis (individual, grupal e/ou organizacional) e o ambiente em que está inserido. DO: A observação e a análise dos recursos comunicacionais empregados pelos membros colaboradores, tanto os naturais quanto os tecnológicos, no decorrer de suas atividades, permitiu a identificação da predominância do tipo de comunicação e de sua ênfase, auxiliando na compreensão dos processos envolvidos e de suas interações. A relação direta entre estes recursos, sua intensidade e freqüência, também serviu de fator referencial na análise. Por recursos comunicacionais tecnológicos, entende-se todo o aparato de comunicação como: telefone, rádio, telégrafos, televisão, computadores, e-mail, intra e internet, teleconferência, etc. Interações mais ou menos indiretas – reação perceptível ao longo do tempo. Enquanto que os recursos naturais são todos aqueles que não dependem de tecnologia e tão somente do homem, como por exemplo: sons, ritmos, música, letras, palavras, gestos, posturas, mímicas, movimentos, olhares, vestimenta, espaço e tempo. Interações diretas – reação imediata perceptível ou não pelo emissor. Habilidades Interpessoais ou Relacionais DC: Neste projeto adota-se como definição de habilidades interpessoais a afirmação de Robbins (2000), que as entende como capacidade: de comunicação, de administração de conflitos, de negociação, de aconselhamento, atividade política e de delegação. As competências nestas habilidades e em outras pode garantir o 90 sucesso de executivos e profissionais das mais diversas áreas. Dependendo das atividades a exigência de habilidades interpessoais é maior ou menor. Para o autor, há pouca probabilidade de sucesso onde não habilidade comunicativa e esta dependem diretamente de dois elementos fundamentais: habilidade para ser um ouvinte ativo e habilidade para dar feedback. Robbins (2000) inclui ainda, como habilidades interpessoais, a capacidade de trabalhar em equipe, entender e motivar as outras pessoas, de se relacionar tanto individualmente como em grupo. DO: A observação e análise dos tipos de relacionamentos encontrados no grupo de pesquisa, assim como de sua intensidade e freqüência, permitiu o reconhecimento da diversidade de comportamentos que, por sua vez, identificaram às habilidades interpessoais predominantes, classificadas aqui como: comunicação, administração de conflito, negociação, aconselhamento atividade política e delegação. Assim, por exemplo, a análise das técnicas de controle empregadas pelos membros colaboradores da população pesquisada, tanto no que concerne à busca do controle das desigualdades sociais, como na manutenção de suas individualidades, ajudou a compreender a capacidade comunicativa do grupo e, por conseqüência, as habilidades relacionais inerentes à atividade política e ao aconselhamento. Por outro lado, a identificação dos aspectos que contribuíram para o aumento ou diminuição das diferenças, refletidos no nível e volume dos conflitos percebidos, assim como, nos índices de sucesso na conciliação de interesses, indicaram a capacidade dos membros na administração conflitos e negociação. A delegação pôde ser observada pela capacidade de distribuição de responsabilidades e atividades entre os membros colaboradores. Gestão de Competências DC: Adota-se neste projeto o conceito de Santos et al (2001), no qual gestão de competências é o processo de diagnóstico, mapeamento e avaliação dos talentos da organização, definição de diretrizes e o desenvolvimento das competências da empresa. A gestão de competências estabelece diretrizes que permitem a organização mapear as competências institucionais e individuais para o atendimento das necessidades de conhecimentos técnicos, habilidades e atitudes, atuais e 91 futuras, para obtenção de efetividade na execução dos processos organizacionais, na construção dos produtos, na prestação dos serviços e no relacionamento com os clientes. (SANTOS et al. 2001) DO: A observação e análise dos procedimentos formais e informais adotados pela instituição pesquisada, na determinação dos processos de: diagnóstico; mapeamento e avaliação dos talentos (organizacionais); definição de diretrizes; e desenvolvimento das competências, permitiu a identificação de como estas se ligam às estratégias da organização e de como são tratadas as competências institucionais e individuais para o atendimento das necessidades de conhecimentos técnicos, habilidades e atitudes, atuais e futuras, para obtenção de efetividade na execução dos processos organizacionais e, mais especificamente, na execução dos projetos – na construção e desenvolvimento de produtos, na prestação de serviços e no relacionamento com os clientes (internos e externos). Administração de Projetos DC: A Administração de Projetos, conhecida também como Gerenciamento de Projetos ou Gerência de Programas, é definida como: “a aplicação de conhecimentos, habilidades, e técnicas para projetar atividades que visem atingir ou exceder as necessidades e expectativas das partes envolvidas, invariavelmente envolve o equilíbrio entre demandas concorrentes: escopo, prazo, custo, qualidade, diferentes necessidades e expectativas das partes envolvidas, necessidades concretas e expectativas” (PMBOK, 2002, p.06). DO: A observação e análise de como ocorram na prática à aplicação de conhecimentos, habilidades e técnicas para projetar atividades que visem atingir ou exceder as necessidades e expectativas das partes envolvidas, permitiram determinar como estas são conciliadas às demandas concorrentes no grupo de projeto estudado. 92 3.1.3. Definição de outros termos relevantes Gestão do Conhecimento Gestão do Conhecimento (GC) é um processo sistemático de identificação, criação, renovação e aplicação dos conhecimentos que são estratégicos na vida de uma organização. É a administração dos ativos de conhecimento das organizações. Permite à organização saber o que ela sabe (SANTOS et al 2001). Capital Intelectual É a soma do conhecimento de todos os conhecimentos em uma organização, o que proporciona vantagens competitivas; a capacidade mental coletiva, a capacidade de criar continuamente e proporcionar valor de qualidade superior. Criado a partir do intercâmbio entre: capital humano; capital estrutural e capital de clientes (SANTOS et al, 2001). Capital do Cliente É nos relacionamentos com os clientes, que o capital intelectual se transforma em dinheiro e/ou valor, como no caso das marcas. Quanto melhor são os relacionamentos, maior a probabilidade da organização aprender com seus clientes e fornecedores. O conhecimento compartilhado e o valor dos relacionamentos se dão em todas as esferas da organização; e o capital do cliente que permite a empresa ganhar dinheiro e agregar valor, desenvolver-se em seu mercado – e quem sabe, conquistar outros (STEWART, 1988). Capital Humano Para Stewart (1988, p.68), o capital humano “é a capacidade necessária para que os indivíduos ofereçam soluções aos clientes” e que este “é importante porque é a fonte de inovação e renovação”. O autor destaca ainda, que é fundamental para a gestão do conhecimento se distinguir capital humano do capital estrutural. É o 93 capital estrutural que “embala o capital humano e permite o seu uso repetido para a criação do valor” (STEWART 1988, p.69). Capital Estrutural O CE – Capital Estrutural está diretamente relacionado à forma com que as informações geradas pelo capital humano e pelo capital do cliente são gerenciadas. Segundo Santos et al (2000, p, 36), representam a “soma das patentes, processos, manuais, marcas, conceitos, sistemas administrativos, banco de dados disponibilizados, tecnologia, estruturas organizacionais”. Cultura Organizacional Chiavenato, (1999), diz que a cultura organizacional é um padrão de assuntos compartilhados que um grupo aprendeu como maneira de resolver seus problemas de adaptação externa e integração interna e que funciona bem a ponto de ser considerado válido e desejável para ser transmitido a novos membros como maneira correta de perceber, pensar e sentir em relação àqueles problemas. Tecnologia da Informação Rezende (2002), define tecnologia da informação como o conjunto de hardware, software; sistemas de telecomunicação; gestão de dados e informação, que devem estar adequados e planejados na organização, exigindo para isso, capacitação profissional por parte dos usuários. Inovação Robbins (2001) afirma que inovação é uma idéia nova aplicada na criação ou aprimoramento de um produto, processo ou serviço, que estimula as oportunidades e o crescimento e que sem elas as organizações certamente definharão e morrerão, sendo, portanto, um tipo especial de mudança de tornar as coisas diferentes. 94 Pesquisa e Desenvolvimento – P&D Segundo Fonseca (2001, p. 07), “o processo de inovação tecnológica está intimamente ligado à geração de idéias, ainda que a inovação seja mais do que criar uma idéia, mas colocar uma idéia em uso. Idéia é um bem com características singulares. Diferentemente dos demais bens produzidos na economia, a idéia é nãorival3 e, de uma maneira geral, de difícil exclusividade de seu uso”. Em suma, P&D é o processo de desenvolvimento e pesquisa de novas tecnologias, produtos, ou serviços. 3.2. CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO 3.2.1. A Companhia de Informática do Paraná – CELEPAR A Companhia de Informática do Paraná – CELEPAR é uma sociedade de economia mista criada em 30 de outubro de 1964 pela Lei Estadual 4945, constituída por Escritura Pública, lavrada em 05 de novembro de 1964, tem por objetivo a prestação de serviços nas áreas de: • Consultoria em Tecnologia da Informação e de Gestão; • Serviços de Rede de Comunicação de Dados; • Administração de Ambientes Informatizados; • Operação de Sistemas; • Desenvolvimento e Manutenção de Sistemas; • Recursos Computacionais; • Central de Atendimento a Clientes. Trata-se de uma empresa pública de capital fechado, cujo acionista majoritário é o próprio Estado do Paraná. No organograma geral do Estado, a 3 Bem não–rival: é aquele cujo uso por um indivíduo não impede o uso, mesmo que, simultaneamente, por outros. 95 CELEPAR aparece vinculada à Secretaria Especial para Assuntos Estratégicos, sendo sua estrutura organizacional composta por um Conselho de Administração, um Conselho Fiscal e uma Diretoria Executiva. O Conselho de Administração da CELEPAR é composto por sete membros, sendo que um destes membros é empregado da Companhia, escolhido por escrutínio secreto. Conforme determina a Lei 8485, de 03.06.87, o Presidente do Conselho de Administração é o titular da Secretaria vinculante da entidade, e o Secretário Executivo é o Diretor Presidente da Sociedade. Já o Conselho Fiscal é composto por três membros efetivos e três membros suplentes. Tanto o Conselho de Administração como o Conselho Fiscal, reúnem-se, ordinariamente, uma vez por trimestre e, extraordinariamente, quando for necessário. A Diretoria Executiva, por sua vez, é composta pelo Diretor Presidente, Diretor Técnico, com as gerências de: Atendimento aos Clientes, Projetos de Sistemas, Serviços de Rede, Serviços Operacionais e Prospecção Tecnológica e Diretor Administrativo/Financeiro, com as gerências de: Recursos Humanos, Finanças e Administração. A CELEPAR é, portanto, uma Empresa do Governo do Estado do Paraná, criada com o fim específico de prestar serviços de informática a todos os órgãos e entidades que integram a Administração Pública Estadual. Em relação aos serviços prestados pela CELEPAR a esses órgãos, salienta-se que os mesmos não possuem características de similaridade com aqueles prestados pelo mercado, face aos fatores de diferenciação, tais como: • Garantia de continuidade na prestação desses serviços; • Integração de sistemas e informações de interesse do Governo e de cada órgão individualmente; • Segurança na manutenção e operação das bases de dados; • Integridade das informações do Governo do Estado; • Ser a organização que integra as diferentes tecnologias de diferentes fornecedores, provendo a melhor solução para o Governo do Estado; 96 • Atuar, por princípio, em conjunto com os órgãos públicos na melhoria dos serviços oferecidos ao cidadão. Para que possa cumprir com seu papel, a CELEPAR presta ainda outros serviços junto aos órgãos da Administração Pública como: • Planejamento de soluções de tecnologia de informação; • Apoio nos processos de compra de produtos e serviços de informática; • Suporte técnico a projetos estratégicos de Governo De acordo com a Lei 8.666/93, a CELEPAR se enquadra no critério de inexigibilidade de licitação, conforme exposto no inciso XVI do artigo 24 dessa lei, que tem a seguinte redação: "Art. 24 - É dispensável de licitação: (...) XVI - Para impressão dos diários oficiais, de formulários padronizados de uso da Administração e de edições técnicas oficiais, bem como para prestação de serviços de informática à pessoa jurídica de direito público interno, por órgãos ou entidades que integram a Administração Pública, criados para esse fim específico". De modo que, a forma de prestação de serviços de informática se dá mediante contratos firmados com os órgãos da administração pública direta e indireta do Estado. A CELEPAR contribui para que o Governo do Paraná possa maximizar os resultados da administração pública e dos serviços que presta ao cidadão, pelo uso da tecnologia da informação. Com a crescente importância que a informática adquire na vida de pessoas, empresas e governos, faz dela um fator determinante do sucesso de ações organizacionais e governamentais. Por esse motivo, cada vez mais se faz necessária uma gestão inteligente desses recursos, papel desempenhado pela CELEPAR no contexto do Governo do Paraná. O uso da tecnologia da informação pela CELEPAR tem agilizado e aperfeiçoado o relacionamento governo-cidadão. O e-Paraná, governo eletrônico, implantado oficialmente pela empresa no ano 2001, é um portal eletrônico disponível na Internet, através do qual a sociedade tem acesso a mais de 1650 serviços e 97 informações, disponibilizados de forma acessível e prática. A partir destes itens, além da transparência para obter as informações, o cidadão pode otimizar o seu tempo pessoal ao fazer consultas ao e-Paraná e não precisar ir, por exemplo, a um determinado local. Na comunidade, a CELEPAR desempenha também o papel de disseminador de treinamento de informática para população, através do programa CELEPAR na Comunidade que nasceu em 1999 por ocasião das comemorações dos 35 anos de fundação da empresa. Outro programa importante ocorreu durante o período compreendido entre 18 de outubro a 12 de novembro desse mesmo ano, através da participação voluntária de seus empregados, a CELEPAR transmitiu, em seu laboratório, conhecimentos básicos de informática e Internet para mais de 2.200 alunos de quatro escolas da rede estadual de ensino de Curitiba e Região Metropolitana. Esta primeira experiência de voluntariado realizada pelos empregados da CELEPAR trouxe um resultado tão significativo que a Empresa quis dar continuidade a este projeto de familiarização com a informática não mais de forma isolada, mas agregando um maior número de parceiros e voluntários, passando então a oferecer treinamento também para a população do interior do Estado do Paraná, tendo já participado de treinamentos em mais de 45 municípios. Desde a sua criação em 1999, o Programa CELEPAR na Comunidade propiciou treinamento para mais de 23.500 pessoas dos mais diversos segmentos da sociedade como crianças, adultos, pessoas da terceira idade, índios, cortadores de cana e alunos da APAE, entre outros. A CELEPAR, visando o aperfeiçoamento pessoal dos funcionários da administração pública do Estado do Paraná e de seus familiares, leva a Internet à residência dos interessados através do programa Internet em Casa. Este serviço destina-se aos funcionários do Governo do Estado que já são usuários de Internet e que podem ter em casa as mesmas facilidades que a Internet oferece no respectivo local de trabalho. Relação de alguns Decretos referentes à legislação de informática no Estado do Paraná: 98 Decreto Estadual 1604 de 13.02.1976 Dispõe sobre o funcionamento do Sistema Estadual de Processamento de Dados, vinculado à Secretaria de Estado do Planejamento, sob a presidência de seu titular, composto através de regulamento, por um Conselho Superior de Informática e Processamento de Dados do Paraná - CSIPD - PR, pela Companhia de Processamento de Dados do Paraná - CELEPAR e Unidades Setoriais de Execução. Decreto Estadual 1594 de 12.02.1995 Institui os Núcleos de Informática e Informações no nível de gerência da estrutura organizacional de cada órgão público, como Unidade Setorial do Sistema Estadual de Informações – SEI, com o objetivo de promover a informatização do respectivo órgão, observando os aspectos de integração técnica e metodológica definidos no SEI e orientado por normas, padrões e métodos propostos pelo Conselho Estadual de Informática e Informações – CEI. A CELEPAR, como membro inserido na comunidade de informática, se relaciona com diversas instituições, contribuindo, desta forma, para que seu uso melhore e aprimore a cultura no Estado e no País: • ABEP - Associação Brasileira de Empresas Estaduais de Processamento de Dados; • CEI - Conselho Estadual de Informática e Informações; • BIT - Instituto Brasileiro de Tecnologia de Informação e Automação; • BRISA - Sociedade Brasileira para Interconexão de Sistemas Abertos; • SC-21:10 – Sub-Comitê de Software. O planejamento de soluções de tecnologia da informação, por outro lado, é necessário para alinhar os investimentos de informática com os objetivos do Governo. Os órgãos públicos gozam de autonomia para adquirir soluções de informática, mas na visão do Governo como uma única organização, deve-se garantir: • Plataforma tecnológica que permita a interligação de computadores; 99 • Disponibilidade de informações de interesse do Governo, através de um conjunto de dados únicos, evitando a duplicação; • Compartilhamento de recursos, para evitar o desperdício; • Utilizar o poder de compra do Governo. Dentre as atividades de planejamento de soluções de tecnologia da informação, destacam-se: • Elaborar planos de informatização dos órgãos do estado, contemplando aspectos de necessidades de hardware, software, treinamento e infraestrutura bem como os respectivos investimentos. • Estabelecer padrões a serem adotados no estado para questões como características técnicas de equipamentos e software, procedimentos de segurança e controle, métodos de trabalhos, representação de processos e dados, etc. • Definir ações integradas de informatização nos órgãos, levando em conta aspectos de infra-estrutura necessária para a implantação de soluções comuns a todo o governo do estado, tais como na área de automação de escritório, sistemas corporativos, etc. • Propor a racionalização dos esforços de informatizar o governo do estado através do ganho de escala na internalização de tecnologias e soluções que possam ser aplicadas em múltiplos órgãos do estado. • Viabilizar o compartilhamento de soluções e dados entre os órgãos do estado a partir da visão geral dos processos de informatização do governo do estado. • Definir a arquitetura tecnológica a ser adotada no estado, contemplando os ambientes de tecnologia de informação centralizados e distribuídos. • Planejar e coordenar o processo de atualização da infra-estrutura de tecnologia da informação disponível para o governo estado. 100 3.2.2. Unidade estudada: Divisão Técnica “E” – DITEC-E O quadro da DITEC-E, Divisão Técnica “E”, é composto trinta e nove funcionários, divididos em vinte e quatro analistas e treze técnicos, mais três desenvolvedores terceirizados e treze estagiários, organizados em grupos de desenvolvimento Notes, desenvolvimento Internet, documentação, web design e outras atividades de apoio ao desenvolvimento. A equipe desenvolve aplicações nas tecnologias Notes, Access, ASP com SQL Server e acesso ao ADABAS, e Delphi. Tem em andamento cerca de dezessete projetos sob a gerência da equipe e trinta e uma contratações para participação em projetos. A equipe também desenvolve serviços de web design e conteúdo, design gráfico e multimídia, representando cerca de cem solicitações/mês. Além destas, a equipe também desenvolve atividades de suporte, documentação e treinamento. A metodologia de desenvolvimento utilizada pela equipe está em transformação, com a utilização de RUP/UML, nos projetos novos e a manutenção dos processos metodológicos anteriores para projetos em andamento. Quanto à contratação dos serviços de desenvolvimento a serem executados pela equipe estes são feitos, em sua grande maioria, através da Base de Projetos. A DITEC-E pertence à Gerência de Projetos e Sistemas – GPS, que possui em sua estrutura sete equipes de desenvolvimento de sistemas, sendo cinco destas dedicadas a clientes específicos e duas para atendimento a clientes variados, conforme descrito a seguir: • DITEC-A: atendimento aos clientes relacionados à área da educação, ou seja, Secretaria de Estado da Educação, Fundepar, Universidade do Professor, CETEPAR, etc. • DITEC-B: atendimento ao DETRAN e BPTRAN. • DITEC-C: atendimento à Secretaria de Estado da Fazenda, área de arrecadação, SEFA-CRE. • DITEC-D: atendimento à Secretaria da Administração e Previdência e órgãos subordinados como o Departamento de Arquivo Público, Departamento Estadual de Transporte Oficial, etc. 101 • DITEC-G: atendimento à Secretaria de Estado da Fazenda, área financeira, SEFA-CAFE. • DITEC-E; DITEC-F: atendimento aos clientes. Desde 2001 a DITEC-E vem se transformando em uma unidade de produção de sotfware, de forma a ampliar a capacidade de prover soluções de desenvolvimento de sistemas, propiciando ganhos significativos na produtividade e qualidade dos processos e produtos de software, através da melhor dos recursos disponíveis. Em de janeiro de 2003 foi oficialmente apresentado um projeto de transformação da DITEC-E em fábrica de software. As demandas que determinaram a necessidade da formação de uma unidade de produção de software foram: • A capacidade de prover soluções de desenvolvimento de sistemas a ser ampliada devido à importância estratégica dos sistemas de informações. • A demanda por sistemas que se apresenta em contínuo crescimento, levando a necessidade de uma ampliação da capacidade de produção. • E por fim, não basta apenas aumentar a capacidade, é preciso buscar uma posição de liderança na produção de software, o qual tem demonstrado ser um setor altamente competitivo que tem apresentado significativa evolução. Estão envolvidos no projeto da fabrica de software os seguintes componentes: • Processos: para implementação da fabrica de software estão sendo feitas à revisão, evolução, adequação de processos metodológicos do ciclo de vida de desenvolvimento de software. • Pessoas: definição de papéis e habilidades necessárias, revisão e adequação dos recursos humanos disponíveis e organização da equipe dentro de uma estrutura para execução dos processos definitivos no item anterior. • Arquitetura / Plataforma Tecnológica: definição de tecnologia(s) na(s) qual (is) os produtos de software serão produzidos, visando o melhor 102 aproveitamento de cada tecnologia, com conseqüentes ganhos de produtividade e qualidade nos produtos. Também faz parte da demanda a capacitação dos técnicos na nova estrutura de trabalho, abrangendo metodologia, ferramentas e tecnologia. A atuação da DITEC-E como uma fábrica de software altera também a forma de trabalho das demais equipes da GPS, já que estas passaram a contratar os serviços de desenvolvimento com a DITEC-E. Dentro desta concepção, um dos fatores críticos de sucesso para o projeto é a adoção de um processo formal de contratação dos serviços da fábrica. 3.3. DELINEAMENTO DA PESQUISA Para a classificação da pesquisa, toma-se como a taxinomia apresentada por Vergara (1990), que a qualifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins a pesquisa realizada foi do tipo exploratória e quanto aos meios, utilizou-se a pesquisa de campo, incluindo-se entrevistas e observação não participante. O método empregado foi o de estudo de caso, que se caracteriza por uma abordagem qualitativa, devido à sua imersão e objetivos de levantamento dos múltiplos aspectos do fenômeno estudado. Assim, este trabalho teve o objetivo de analisar como os profissionais de projetos de pesquisa e desenvolvimento utilizamse da comunicação interpessoal, identificando possíveis deficiências que possam comprometer as habilidades relacionais. Adotaram-se então procedimentos qualitativos de investigação, sendo o mesmo desenvolvido em três fases distintas (VIEIRA 2002, p.10): • Fase exploratória: visou desenvolver, esclarecer e modificar os conceitos e idéias com a finalidade de formular problemas mais precisos e hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores, envolvendo para isso levantamento bibliográfico e documental, entrevistas livre e estudos de caso “piloto”. (1) Iniciou-se com um plano incipiente que foi se delineando aos poucos; (2) Questões e pontos críticos iniciais foram sendo explicitados, reformulados 103 e, outros, abandonados à medida que foram considerados relevantes ou não, a partir de exame de literatura pertinente, observações, depoimentos de pessoas ligadas aos fatos; (3) Feedback aos informantes através de rascunhos de relatório das análises feitas até então. • Fase descritiva: procurou-se descrever o estabelecimento de relações entre indicadores / fenômenos. (a) Identificação dos elementos-chave; (b) coleta sistemática de informações (com instrumentos mais ou menos estruturados e técnicas que foram determinadas pelas características do objeto deste estudo). • Fase Explicativa: buscou-se a identificação de fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos, explicando a razão e o porquê destes fenômenos. Posteriormente repassados através de feedbacks aos informantes. Para a efetivação da pesquisa realizaram-se as seguintes atividades: • Levantaram-se informações sobre a instituição em estudo, através de pesquisa documental e entrevistas; • Analisou-se o processo de comunicação e as habilidades relacionais empregadas na realização das atividades de projetos de pesquisa e desenvolvimento no grupo que compunha a amostra em estudo; • Verificou-se a interação entre os profissionais envolvidos em projetos de pesquisa e desenvolvimento os quais compunham o grupo de amostra; 3.3.1. Delimitação do estudo Dentre as inúmeras variáveis que podem revelar o grau de eficácia da gestão de projetos, o estudo ficou circunscrito, fundamentalmente, àquelas que dizem respeito à comunicação interpessoal em projetos e gestão de competências. Desse modo, pretendeu-se enfatizar as variáveis concernentes ao processo de comunicação. Este trabalho foi desenvolvido no período de Junho/2003 a Outubro/2003, nas dependências da Companhia de Informática do Paraná – CELEPAR uma empresa de sociedade mista que visa desenvolver soluções informatizadas para os diversos órgãos que compõem a máquina estatal, tendo 104 como atividade principal à criação e difusão de tecnologia de software, especificamente na Divisão Técnica “E” – DITEC-E, responsável pela elaboração e desenvolvimento de sistemas de software. 3.3.2. População e amostra A população do estudo foi constituída por aproximadamente 41 colaboradores envolvidos diretamente em atividades de projetos da CELEPAR, que se localiza à rua Mateus Leme, no centro da cidade de Curitiba. Para amostragem foram selecionados os 37 membros que pertencem à área de Tecnologia do CELEPAR, que estão diretamente envolvidos com projetos de pesquisa e desenvolvimento da Gerência de Projetos e Sistemas (GPS), Divisão Técnica “E” (DITEC E) que se estrutura como uma Fábrica de Software. 3.3.3. Tipos, coleta e tratamento de dados. Foram realizadas visitas sistematizadas à organização como fator de ambientação às características organizacionais e seus contextos, propiciando as primeiras informações sobre a organização. Estes primeiros contatos serviram para obter informações importantes quanto às características gerais da organização. Após os primeiros contatos, foi realizada a coleta dos dados secundários que se constituiriam em publicações internas, manuais, história da organização. Estes dados foram obtidos na consulta de documentos organizacionais e analisados por meio da técnica de análise documental. Após análise dos dados secundários, foi realizada a coleta dos dados primários, que consistiram de entrevistas semi-estruturadas com os profissionais da organização. A observação livre foi utilizada com o objetivo de verificar a dinâmica da organização, de maneira não formalizada. Foram também elaborados questionários, segundo as informações obtidas nas entrevistas e reuniões, composto de perguntas abertas. Os dados recolhidos foram analisados de forma qualitativa em cada categoria utilizando-se a técnica de análise de conteúdo. 105 A utilização de entrevistas semi-estruturadas baseou-se na premissa de que tal instrumento de análise pode revelar os valores e interesses sustentados pelos membros, como ressalta Meyrson (1991, p.262): “A formalidade dos métodos que evocam dados apresentáveis, tais como entrevistas, podem levantar a consciência, desejos sociais e valores e normas dominantes”. As entrevistas foram tratadas por meio de técnicas de análises descritivas e de conteúdo (RICHARDSON, 1989; BARDIN, 1977). A análise de conteúdo é um método de tratamento e análise de informações, colhidas por meio de técnicas de coleta de dados, consubstanciadas em um documento. A técnica se aplica à análise de qualquer comunicação (oral, visual, gestual ou virtual) reduzida a um texto ou documento. Seu objetivo, segundo este mesmo autor, é compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas (CHIZZOTTI, 1991). Esses procedimentos podem privilegiar um aspecto da análise, seja decompondo um texto em unidades léxicas (análise lexicológica) ou classificando-o segundo categorias (análise categorial), seja desvelando o sentido de uma comunicação no momento do discurso (análise de enunciação) ou revelando os significados dos conceitos em meios sociais diferenciados (análise de conotações), ou seja, utilizando-se de qualquer outra forma inovadora de decodificação de comunicações impressas, visuais, gestuais, etc., apreendendo o conteúdo explícito ou implícito. Desta forma, esta pesquisa teve suas interpretações feitas com base na técnica de análise de conteúdo. Utilizou predominantemente procedimentos descritivo-qualitativos para o tratamento dos dados pela característica da abordagem, que se baseia no paradigma interpretativo, utilizando-se a descrição dos fatos como forma de entendimento deles. O Capítulo 4 apresenta o modelo conceitual que demonstra a estrutura das relações propostas, de forma a nortear o desenvolvimento desta pesquisa como de outras que possam surgir. Serve também como modelo para implementação um sistema organizacional que privilegie os aspectos discutidos neste trabalho. O 106 método de trabalho mostra como foi construído o modelo, passo a passo, correspondendo a cada etapa da pesquisa. 107 4. MODELO PROPOSTO E MÉTODO DE TRABALHO 4.1. MODELO CONCEITUAL O modelo conceitual da Figura 2 tem como pressuposto básico a existência de uma relação direta entre a comunicação interpessoal e as habilidades relacionais, constituídas por: administração de conflitos, negociação, aconselhamento, atividades políticas, e delegação (ROBBINS, 2000). Por sua vez, estas formam um dos pilares da gestão de competências, fundamental para a gestão do conhecimento (SVEIBY, 1998; FLEURY, 2001; SANTOS et al, 2001), na qual a comunicação organizacional assume um papel integrador na medida que se liga também à comunicação interpessoal (BERLO, 1999; KUNSCH, 1985; CURVELLO, 2002), sendo esta, portanto, a base tanto das habilidades relacionais quanto da comunicação organizacional (ROBBINS, 2000). Estes conceitos citados são integrados no modelo proposto, estando diretamente relacionados à gestão estratégica e ao sistema de inteligência da empresa (SVEIBY, 1998; ROBBINS, 2000; SANTOS et al, 2001; BUENO, 2003). Para tanto o modelo parte da gestão do conhecimento e da comunicação organizacional para demonstrar essa relação e ao mesmo tempo orientar, não somente este trabalho, mas também a necessidade de outros estudos que possam demonstrar que a gestão do conhecimento se fundamenta na comunicação, tanto de forma sistêmica, a qual se relaciona diretamente com a comunicação organizacional, como na relação entre pessoas, comunicação interpessoal (ROBBINS, 2000). Para demonstrar estas questões, o modelo conceitual está dividido em dois grandes circuitos. No primeiro encontramos todos os elementos discutidos no referencial teórico que estabelecem, por um lado, a relação entre gestão do conhecimento, gestão de competências, habilidades e, por fim, habilidades relacionais. Em paralelo, pode-se ver a relação entre a comunicação organizacional e a comunicação interpessoal. A ligação entre gestão do conhecimento e a comunicação organizacional, assim como a ligação entre as habilidades relacionais e a comunicação interpessoal fecham o circuito. 108 Figura 2 – Modelo Conceitual da Pesquisa (Autor). 109 Neste circuito destaca-se a gestão do conhecimento por ser um processo corporativo, focado na estratégia organizacional que envolve outros modelos de gestão e que representa a capacidade das empresas em utilizar e combinar as várias fontes e tipos de conhecimento organizacionais e assim poder desenvolver competências e capacidades específicas que se traduzem ao longo do tempo em seus produtos, processos, sistemas gerenciais e liderança de mercado, como atesta Fleury e Oliveira (2001). Principalmente porque a riqueza de uma organização é determinada pela qualidade com que esta utiliza as informações que dispõe, pelo conhecimento de seus colaboradores e pela competência de suas ações, e não mais pelos recursos materiais que esta possua e controle. O conhecimento agregado a um produto ou serviço e a eficiência com que ele é gerado formam o seu componente principal, como afirma Stewart (1988). Neste contexto a comunicação assume um papel fundamental na aquisição, transmissão e compartilhamento de informações e conhecimentos, tanto em nível sistêmico quanto pessoal. O que pode ser confirmado pela concepção de Robbins (2000), na qual a comunicação precisa ser vista como um todo, que afeta o sistema em seus diversos níveis e o ambiente em que está inserido, que deve estar diretamente relacionada com a estratégia e com os objetivos da organização, integrando e divulgando as competências essenciais, ou seja, aquelas que estão relacionadas àquilo que a empresa faz de melhor e a sua identidade no mercado. A comunicação organizacional, segundo Pimenta (2002), se caracteriza pela somatória de todas as atividades de comunicação da organização, tanto no que se refere ao público externo como interno. Estas duas concepções demonstram como a comunicação organizacional contribui para o aspecto estratégico conferido a gestão do conhecimento. A gestão de competências é outro ponto relevante para esta pesquisa, como pode ser comprovado pelo referencial teórico no qual Santos et al (2001) a descreve como um processo de diagnóstico, mapeamento e avaliação dos talentos da organização, definição de diretrizes e o desenvolvimento das competências da empresa, tanto no que concerne às competências essenciais, quanto às competências profissionais. Portanto, o processo de gestão de competências estabelece diretrizes que permitem a organização mapear as competências institucionais e, principalmente, as individuais para o atendimento das necessidades de conhecimentos técnicos, habilidades e atitudes, atuais e futuras. 110 As competências individuais sempre estiveram ligadas ao conhecimento, as habilidades e as atitudes, de modo que as habilidades representam um elemento central destas, como afirma Sveiby (1998). Assim, as habilidades assumem um papel fundamental para este trabalho de pesquisa na medida que representam a arte de “saber fazer” e por envolvem a proficiência prática (físico/mental) necessária para o desenvolvimento das atividades profissionais uma vez que é adquirida principalmente pelo treinamento prático. Destas, as habilidades relacionais se destacam por representarem uma importante forma de desenvolvimento organizacional na medida que possibilitam as empresas agregar valor através de uma melhora no atendimento das demandas de seus processos relacionais, ou seja, das suas relações com clientes, fornecedores e com os próprios funcionários, que se bem trabalhadas podem promover profundas modificações qualitativas. Estas habilidades relacionais por sua vez, como demonstrado por Robbins (2000) no referencial teórico, estão diretamente a comunicação interpessoal, pois como afirma o autor, há pouca probabilidade de sucesso onde não há habilidade comunicativa e esta depende diretamente de dois elementos fundamentais: habilidade para ser um ouvinte ativo e habilidade para dar feedback, as quais estão ligadas diretamente aos aspectos de relação citados por Nichols (1990) e Watzlawick, et al (1993). No segundo circuito encontramos de um lado todos os elementos que compõem as habilidades relacionais como a administração de conflitos, negociação, aconselhamento, atividades políticas e delegação, e de outro encontramos os aspectos de relação e de conteúdo, também chamada de relato, mencionados por Watzlawick, et al (1993), assim como de comunicação estratificada, os quais indicam o tipo de comunicação existente, fechando o circuito com a comunicação interpessoal. A linha pontilhada entre as habilidades relacionais e a comunicação interpessoal representa exatamente este segundo circuito, que por sua vez demonstra como foi tratada esta relação na pesquisa, ou seja, como se deu na prática à comprovação dessa relação, uma vez que estes aspectos formam os elementos de pesquisa que indicaram o tipo de comunicação existente no grupo de amostra e como estes influenciam as habilidades de seus integrantes. De forma que, um bom desempenho nas habilidades relacionais depende de uma comunicação 111 eficiente e esta necessariamente apresentaria uma predominância dos aspectos de relação em detrimento dos aspectos de relato, ou de conteúdo, que teriam uma identificação maior com uma comunicação estratificada, verticalizada, que privilegia dados e informações técnicas e numéricas. Outro fator de referência usado para se avaliar as habilidades relacionais do grupo de amostra foi à determinação do perfil básico de administração de conflitos, uma vez que a capacidade em lidar com conflitos é na visão de Robbins (2000) uma importante condição para os relacionamentos. Este perfil representa, o estilo predominante, aquele que irá determinar um modo preferencial de resposta, o mais provável com o qual o sujeito tenderá a se comportar e ao qual recorrerá com mais freqüência. O estilo básico preferencial tem influência direta, tanto na habilidade de administração de conflitos como nas outras habilidades, principalmente no tange a habilidade de negociação, sendo também um importante indicativo sobre o tipo de comunicação empregado (ROBBINS, 2000). Nesta pesquisa, portanto, procurou-se dar destaque nas habilidades relacionais as habilidades de administração de conflitos e de negociação por entender-se que estas duas estão ligadas diretamente às questões de conflito, que na opinião de diversos autores como, Moscovici (1985), Martinelli e Almeida (1998), Moore (1998), Valeriano, (1998), Robbins (2000) entre outros citados no referencial teórico, representam o cerne das relações humanas e, portanto, exigindo uma forte capacidade comunicativa focada em aspectos de ordem, ou de relação, como já mencionado em Nichols (1990) e Watzlawick, et al (1993). 4.2. MÉTODO DE TRABALHO Inicialmente foram realizadas reuniões com a gerência da área e com outras pessoas ligadas administração e coordenação para se determinar à forma ideal de trabalho, de modo a não interferir com as atividades cotidianas da empresa objeto deste estudo, bem como se discutir a metodologia da pesquisa a ser empregada e uma agenda prévia para a sua execução. Durante estas três reuniões iniciais, ficou acordado que se faria uma reunião para apresentação do consultor e do trabalho a 112 ser realizado com os integrantes do grupo de amostra. Assim, foram convidados para esse encontro coletivo, todos os membros que compunham o grupo de amostra, da qual só não compareceram aqueles que estavam ausentes por motivo de férias ou, em algum outro evento de importância fora da empresa, sendo a freqüência estimada em 90%. Este encontro de apresentação serviu como forma de aproximação entre o grupo de amostra e o pesquisador de forma a evitar possíveis resistências por partes do grupo estudado e, ao mesmo tempo, promover um envolvimento dos integrantes deste com o trabalho, o que se mostrou extremamente importante no decorrer das atividades. Nele foram explicados quais eram os objetivos da pesquisa e quais os eventuais proveitos que esta poderia acarretar para a melhoria das condições de trabalho futuras, principalmente no que concerne à compreensão de como se dão os relacionamentos no ambiente de trabalho e como estes podem afetar comportamentos. Nas reuniões preliminares com a gerência se procurou ainda outras informações que possibilitassem a compreensão dos fatores envolvidos no processo de administração da empresa em questão, assim como detalhes específicos de suas atividades e organização, tais como metas, objetivos, estratégias, tipos de projetos, clientes e outros aspectos relevantes para a pesquisa. Procurou-se levantar em especial, como se davam, na visão dessa gerência, as relações entre as equipes de projetos, tanto no âmbito interpessoal quanto da comunicação. Para tanto, estas reuniões foram conduzidas sob a forma de entrevistas abertas de modo a facilitar a obtenção dos dados necessários. Através destas reuniões iniciais, instalou-se a credibilidade e aceitabilidade necessária para a execução das futuras atividades, possibilitando ainda o conhecimento de detalhes importantes sobre o funcionamento da unidade estudada. Os trabalhos de observação e entrevistas com os elementos que compõem o grupo de amostra só iniciaram depois de concluídas esta primeira fase de contatos que incluíram também a coordenadora da DITEC-E (Divisão Técnica - E), da GPS – Gerência de Projetos e Sistemas, que constituiu o nosso grupo de amostra. As observações se deram em paralelo às entrevistas de modo a comprovar de imediato o que era levantado junto aos entrevistados. Consideradas como um poderoso instrumento de avaliação, as observações diretas não-sistemáticas empregadas nesta pesquisa, permitiram identificar diversos aspectos do 113 funcionamento do grupo de amostra (DITEC-E), principalmente comportamentos e habilidades relacionadas com as questões proposta. Foram observados também aspectos físicos como layout, dimensões espaciais, equipamentos etc., em todas as salas ocupadas pelo grupo de amostra. Procurou-se observar os profissionais que compunham o grupo durante suas atividades, sempre de forma a não interferir no andamento das mesmas. Posteriormente, os resultados foram cruzados com outros instrumentos de avaliação e diagnóstico, como forma de diminuir ao máximo as possíveis distorções resultantes de avaliação do uso da observação não-sistemática, uma vez que estas são as suas desvantagens, o que exige do observador uma afinada técnica. As entrevistas por sua vez, mostraram-se extremamente úteis e ricas em informações, indicando que este instrumento foi bem aceito pelos entrevistados. Foram realizadas vinte entrevistas abertas com elementos retirados da amostra, sendo todas elas realizadas em ambientes apropriados com salas individuais e isoladas de forma a preservar o sigilo das participações. As perguntas procuravam estimular os entrevistados a se posicionarem de forma que pudessem comentar sobre como viam as relações dentro de seus grupos de trabalho, com suas chefias e como se davam os processos de comunicação e integração no grupo de amostra e com outros grupos de trabalho com os quais se relacionavam. Foram também estimulados a falar sobre as questões de funcionamento dos projetos, de suas atividades, tempo de serviço, sobre conflitos, além de outras que pudessem ser pertinentes para o andamento das entrevistas e para o esclarecimento de eventuais dúvidas. Os resultados encontrados nas entrevistas orientaram observações e determinaram a necessidade da aplicação de outros instrumentos que pudessem corroborar as informações levantadas uma vez que estas, a principio, pareceram contrapor-se. A partir das entrevistas realizadas foram então elaborados e utilizados dois questionários que tiveram o propósito de comprovar os dados levantados nas entrevistas preliminares. Estes questionários tinham como objetivo principal determinar a relação entre a comunicação interpessoal e as habilidades relacionais, em especial duas habilidades, administração de conflitos e negociação, uma vez que estas estão diretamente ligadas a uma comunicação eficiente, principalmente porque 114 representam a capacidade das pessoas em lidar com conflitos, identificando problemas reais e negociando soluções definitivas (MARTINELLI e ALMEIDA, 1998; MOORE, 1998; VALERIANO, 1998). O primeiro questionário, chamado Questionário 1 e encontrado no Apêndice A, pesquisou o estilo básico de tratamento em conflitos. Baseado numa versão resumida de uma ferramenta de 35 itens descrita em Rahim, M. A., mencionada em Robbins (2000, p.432). Em nossa versão a escala das respostas foi modificada de um a cinco, onde um corresponde a “raramente” e cinco a “sempre”, para um a sete, na qual sete passou a ser “sempre”. Composto por quinze questões apontava os cinco estilos básicos destacados por Robbins (2000): abstenção, acomodação, imposição, colaboração e conciliação. Assim, as perguntas seis, dez e quinze indicavam o estilo de abstenção; as perguntas três, onze e quatorze o de acomodação; a pergunta número um, cinco e sete imposição; a dois, oito e treze correspondiam a colaboração e conciliação que eram indicadas pelas perguntas quatro, nove e doze. O segundo questionário, chamado de Questionário 2 encontrado no Apêndice C, pesquisou as dimensões interpessoais, ou seja, as habilidades relacionais e sua correspondência com a comunicação interpessoal. Foi desenvolvido a partir de um questionário apresentado por Moscovici (1985, p.148-152), o qual era composto inicialmente de vinte perguntas, que foram preservadas e que correspondem às primeiras questões do Questionário 2, as quais tinham, na versão de Moscovici (1985), o objetivo determinar aspectos de comunicação, liderança e participação. A estas vinte primeiras perguntas foram então acrescentadas outras vinte e cinco desenvolvidas especificamente para atender as necessidades desta pesquisa. Composto de quarenta e cinco perguntas, das quais dez destinam-se a determinar o tipo de comunicação empregada pelo grupo, onde as perguntas número um, três sete, onze, dezessete, trinta e quatro, quarenta e dois, e quarenta e três correspondem à comunicação do tipo relacional, enquanto que a pergunta quarenta e quatro destinava-se à comunicação estratificada e a quarenta e cinco a comunicação focada no conteúdo, segundo a conceituação Watzlawick, et al (1993). As habilidades de negociação se compõem de oito questões: a número quatro, seis, oito, dezenove, vinte e um, vinte e nove, trinta e um, e trinta e seis. Enquanto que as habilidades de administração de conflitos se compõem de nove questões, sendo 115 elas, a número cinco, dez, doze, vinte, vinte e dois, vinte e cinco, vinte e seis, trinta, e trinta e cinco. As demais habilidades são compostas por seis questões cada, sendo que as habilidades políticas correspondem às perguntas dois, treze, quatorze, dezoito, vinte e três, e vinte e sete; as de delegação: dezesseis, vinte e oito, trinta e dois, trinta e sete, quarenta, e quarenta e um; e por fim, as de aconselhamento: nove, quinze, vinte e quatro, trinta e três, trinta e oito, e trinta e nove como pode ser comprovado na tabulação em anexo ao Questionário 2. No Questionário 2, os resultados obtidos com as respostas relativas às habilidades relacionais foram posteriormente cruzadas e comparadas com as questões da comunicação. Estes resultados foram então comparados com os resultados apresentados no Questionário 1, o qual havia fornecido o estilo básico predominante no grupo de amostra. Deu-se preferência na elaboração deste Questionário 2 as questões que demonstravam habilidades em administração de conflitos e de negociação, as quais apresentaram maior números de questões, por se considerar estas duas habilidades as mais importantes e as que melhor se relacionavam com a comunicação interpessoal (ROBBINS, 2000), pois como já foi comentado o seu ponto central é o conflito (MARTINELLI e ALMEIDA, 1998; MOORE, 1998). Assim, se na análise dos resultados se apresentar valores representativos em comunicação, necessariamente o mesmo deve ocorrer pelo menos com estes dois referenciais (MOSCOVICI, 1985; MARTINELLI e ALMEIDA, 1998; MOORE, 1998; VALERIANO, 1998; ROBBINS, 2000). Os elementos do grupo de amostra eram orientados, quando da entrega dos questionários, a informarem também sobre outros dados pertinentes, tais como: o sexo, se trabalhava no salão ou não, cargo e função que desempenhava, idade, tempo de empresa e na DITEC-E, e escolaridade. Sendo estas respostas codificadas juntamente com as respostas dos questionários. O material foi distribuído em forma de conjuntos codificados e, na medida que retornavam, relacionados, de modo que somente os conjuntos respondidos fossem considerados para tabulação. 116 5. ANÁLISE DOS RESULTADOS Este capítulo analisa os diversos resultados obtidos na aplicação dos instrumentos propostos na metodologia deste trabalho de pesquisa de forma a retratar condições encontradas. Análise que permitiu compreender os elementos constitutivos do agir comunicacional que determinam o processo de comunicação interpessoal na situação em que ocorrem, ou seja, nas relações interacionais (BOTOMÉ, 2001). 5.1. OBSERVAÇÕES Através das observações realizadas foi possível a constatação dos recursos comunicacionais empregados pelos membros colaboradores, tanto os naturais quanto os tecnológicos, o que permitiu a identificação da predominância do tipo de comunicação e de sua ênfase (MIELNIK, 1987). Com respeito aos recursos naturais, no decorrer das observações das atividades do grupo de amostra, constatou-se haver uma predominância de comunicação do tipo de relato com membros do grupo pouco conversando e, quando o faziam, falavam sem sair de seus lugares ou chegavam bem perto como se quisessem que apenas aquela pessoa escutasse o que falavam. O que se mostrou, a principio, uma incongruência. Porém, com desenrolar da pesquisa, podese entender que aquela atitude era bastante congruente, pois indicava um direcionamento específico do que era falado, principalmente no que se referia à transmissão de informações, predominando a transmissão de dados técnicos e numéricos, inerentes aos aspectos de conteúdo, sobre os aspectos de relação, conforme afirmam Nichols (1990) e Watzlawick, et al (1993). Com isso, pôde-se constatar o pouco uso da linguagem não-verbal como gestos, mímicas, movimentos, olhares, e outros que pudessem melhorar a transmissão e a compreensão do que era dito. Raras foram às oportunidades em que se pôde observar uma conversa direta e aberta, sob forma de diálogo no grupo, 117 com as conversas quase sempre parecendo reservadas e restritas, comprometendo, segundo Senge (2002), o processo de feedback. Outro ponto importante observado com relação a este tipo de recurso, diz respeito aos olhares, que na maior parte das vezes se mostraram tímidos e indiretos, o mesmo acontecendo como o tom de voz, o qual, com também raras exceções, se mostraram tímidos e de baixo tom. Com relação a estas exceções, quando elas se davam era de forma extremamente opostas, isto é, exacerbadas. Esta situação parece mais grave no que se refere ao pessoal que trabalha nos salões em bancadas, isto é, salas grandes ocupadas por uma única mesa com cinco baias de cada lado, onde as pessoas trabalham numa condição de extrema proximidade. Pelo que se pôde observar, o layout é outro ponto importante de influência para o comportamento dos elementos da amostra, como pode ser comprovada nas entrevistas, uma vez que este apresenta uma característica de extrema proximidade, a ponto de não haver nenhum tipo de privacidade, com as pessoas tendo de sair de seus lugares para atender os celulares, além de não haver espaço suficiente para os materiais de trabalho, muito menos para seus pertences, que necessariamente têm de ficar em armários. Nestes ambientes as conversas são ainda mais curtas e objetivas, onde na maioria das vezes se prefere enviar uma comunicação via e-mail, mesmo estando ao lado da pessoa destinatária da mensagem, o que dificulta a interação segundo Berlo (1999). O layout do prédio contribui ainda para a formação de pequenas ilhas, que são salas menores em que trabalham de duas a três pessoas, quais favorecem o isolamento do grupo, além de comprometer a ergometria. Ergometria que também esta prejudicada pelo uso inadequado de cadeiras e mesas. Para Mielnik (1987) e Hall (1977), as questões de espaço e ambiente tem grande influência sobre os determinantes do processo de comunicação, sejam estes orgânicos, sociais ou psicológicos. Hall (1977), vai mais além ao afirmar que espaços reduzidos aumentam o nível de estresse e de hostilidade. Quanto aos recursos tecnológicos os mais usados foram pela ordem: e-mails, telefone e Lotus Notes, uma ferramenta da IBM. Sendo os e-mails e telefone mais empregados nas questões do dia-a-dia, enquanto que o Lotus Notes era usado preferencialmente nas questões relativas ao andamento dos projetos, o que aponta também para uma preferência para os aspectos de conteúdo, conforme afirma Nichols (1990) e Watzlawick, et al (1993). 118 A análise dos recursos tecnológicos corrobora e reafirma a análise dos recursos naturais, demonstrando que os indícios apresentados nestes recursos são típicos de uma comunicação técnica focada nos conteúdos e na transmissão de informação, privilegiando aquilo que Chanlat (1994) qualifica como função do dizer, o que ficou comprovado após a aplicação de outros instrumentos. 5.2. ENTREVISTAS Conforme descrito no item 4.2 – método de trabalho, foram entrevistados dez homens e dez mulheres, sendo que destes, dez desempenhavam funções de analistas, sete de programação e três com outras funções. As entrevistas demonstraram importantes diferenças nas percepções dos indivíduos entrevistados. Foram encontradas categorias que expressam essas diferenças nas diversas condições apresentadas pelos entrevistados, durante o tempo em que estes relatavam suas percepções quanto à maneira com que viam as questões relacionais e comunicacionais nos outros e em si mesmos (BARROS, 1997; e FCT/UNL, 2003). Esclarecimentos que possibilitaram a identificação de categorias essenciais para a compreensão dos fenômenos manifestados, uma vez que estes fundamentam conhecimentos e ações (MEHL, 1979; BALLONE, 2003; e FCT/UNL, 2003), posteriormente comprovados nas observações e que mais tarde serviram para determinar os pontos de referência para a elaboração e análise dos questionários, segundo critérios estabelecidos por Botomé (2001) para análise dos elementos constitutivos do agir comunicacional. As principais categorias levantadas foram: 1. Os que desempenham as funções de analistas parecem ter maior facilidade com as questões relacionais, de modo a registrar em suas respostas aspectos que referenciam suas habilidades em lidar com pessoas. Porém, uma análise mais minuciosa das respostas aponta para uma tendência, quando em atividades de delegação, de fazer uso de uma comunicação baseada mais numa linguagem linear de pouca expressividade analógica, menos rica em aspectos não-verbais como gestos, mímicas, movimentos (SENGE, 2002), embora pareça, em 119 contrapartida, mais vocalizada do que as apresentadas pelos programadores. De modo geral, os analistas parecem ser mais falantes e propensos ao uso do diálogo do que os programadores, que parecem apresentar uma comunicação mais focada nos conteúdos, ou seja, em aspectos técnicos e numéricos (NICHOLS, 1990; WATZLAWICK et al, 1993), em alguns casos, quase que binariamente, sim, não, talvez. 2. Outra categoria apresentada foi em relação aos profissionais que trabalham nos salões, salas grandes com uma mesa central com baias de ambos os lados, onde os que nele trabalham enfrentam sérios problemas de espaço e privacidade, como defende Hall (1977) quando trata das questões de distância e de território na comunicação e no comportamento humano. Segundo aqueles que não trabalham nestes locais, estes problemas estariam comprometendo as relações e a comunicação. Dizem ser muito difícil tratar com estes elementos, em sua grande maioria programadores. Embora estas questões não tenham sido confirmadas por estes quando foram entrevistados, os quais alegaram não existir nenhum problema de relação ou de comunicação. Porém, o tempo médio das entrevistas realizadas com estes profissionais foi de 25 minutos, enquanto que o tempo médio daqueles entrevistados que não trabalhavam nos salões, mas em outros locais, ficou entorno de 83 minutos, o que parece realmente confirmar a dificuldade de comunicação, destes, principalmente no que se refere à exposição (ROBBINS, 2000). 3. As entrevistas também parecem indicar uma certa resistência quanto a profissionais mais jovens, tanto de faixa etária quanto de tempo de casa, que são vistos como pouco participativos ou muito afoitos. Outros criticaram diferentemente os profissionais mais velhos que parecem mais resistentes a novas idéias. Segundo Kandel et al (1997), estas diferenças ocorrem devido à influência de fatores ambientais sobre o comportamento das pessoas em função de suas faixas etárias. Para este autor, os mais jovens são mais influenciáveis que os mais velhos. Já Hall (1977), afirma que a resistência aos mais jovens, seja de serviço ou de idade, envolvem questões de território. Ou ainda, pode ser uma combinação de todos estes fatores. 120 4. Questões relacionais apontadas entre colaboradores e coordenação parecem indicar problemas de comunicação, envolvendo a necessidade de um diálogo mais aberto (ROBBINS, 2000). Embora, essa questão aparece mais em determinadas entrevistas. Em outras, como no caso dos programadores, não aparece com a mesma expressividade. 5. Outro ponto importante destacado nas entrevistas aponta para problemas relacionais ligados ao excesso de atividades políticas a que este grupo parece exposto, principalmente pelas características da empresa que é de capital misto, em que tendem a prevalecer às questões políticas (ROBBINS, 2000). De um modo geral as entrevistas e as observações demonstraram haver uma incongruência entre aquilo que se faz discurso e o que realmente acontece na prática do cotidiano. Fato que aponta para um domínio conceitual que ainda não se configurou efetivamente como habilidades relacionais (FCT/UNL, 2003), apesar dos vários encontros promovidos pela empresa e dos diversos trabalhos de capacitação realizados nesta área. 5.3. QUESTIONÁRIOS A análise dos questionários se deu a partir do cruzamento dos resultados obtidos, tanto no que se refere às respostas do Questionário 1 com as do Questionário 2, quanto ao cruzamento das respostas dos blocos de perguntas que compõem o Questionário 2, de modo a formar um quadro mais realista das condições relacionais e comunicacionais encontradas (MOSCOVICI, 1985; MIELNIK, 1987; VALERIANO, 1998; ROBBINS, 2000). Foram distribuídos trinta e sete kits contendo os dois questionários, dos quais vinte e dois retornaram respondidos em sua íntegra. Portanto, existiram quinze pessoas do grupo de amostra que, por motivos não declarados, deixaram de responder aos questionários. A diferença resultante passou a ser também objeto de análise desta pesquisa, pois representa igualmente uma demonstração de comportamento e de conduta relacional, sendo interpretada segundo o objetivo dos questionamentos. 121 Na Tabela 1, pode-se perceber melhor esta questão: dos trinta e sete entrevistados que receberam os questionários, vinte e um eram mulheres e dezesseis homens. Os que responderam foram: dez mulheres, sendo sete que desempenhavam funções de analistas e três de programação, e doze homens, dois analistas e dez programadores. Onze mulheres e quatro homens se abstiveram por motivos não declarados de responder, o que parece indicar por parte das mulheres uma maior abstenção neste grupo de amostra. Entretanto, por motivos éticos, não foi possível determinar as funções daqueles que deixaram de responder, uma vez que para isso seria necessário identificá-los, já que esta informação fazia parte de outras que compunham o perfil dos que respondiam aos questionários. Dados que estão atrelados a um código que preserva a identidade daqueles que responderam aos questionários e que aparecem, por exemplo, como na Tabela 2, sob a sigla “COD”. Tabela 1 – Incidência de respostas por sexo e função básica desempenhada Questionários Respondidos Não Respondidos Enviados FUNÇÃO BÁSICA DESEMPENHADA Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Analistas - - 07 02 - - Programadores - - 03 10 - - Total 21 16 10 12 11 04 Existem dois grandes grupos de atividades básicas desempenhadas pelos profissionais que compõem o grupo de amostra e estas se dividem em funções ligadas a análise de sistemas e outra a programação. 5.3.1. Perfil preferencial básico de administração de conflitos Este Questionário 1, conforme descrito no item 4.2 – Método de trabalho, teve como objetivo principal determinar o perfil básico de administração de conflitos predominante no grupo de amostra, já que o conflito é parte integrante do contexto 122 das relações humanas (MOSCOVICI, 1985; VALERIANO, 1998; ROBBINS, 2000) e por conseqüência, do comportamento organizacional (CHIAVENATO, 1987). O levantamento desse perfil permitiu se conhecer as preferências no controle das desigualdades e na manutenção das individualidades no grupo, o que segundo Mielnik (1987), possibilita a compreensão da conduta comunicativa e, por conseqüência, as habilidades comunicacionais. Tabela 2 - Estilos de administração de conflitos por participante. COD ABSTENÇÃO ACOMODAÇÃO IMPOSIÇÃO CONCILIAÇÃO COLABORAÇÃO ESTILO_PREDOMINA 31 13 12 12 15 13 CONCILIAÇÃO 3 13 16 13 18 21 COLABORAÇÃO 20 16 15 13 19 19 CONCILIAÇÃO 28 18 15 17 20 21 COLABORAÇÃO 12 19 16 14 19 17 ABSTENÇÃO 2 3 11 15 10 17 COLABORAÇÃO 29 6 10 17 13 17 IMPOSIÇÃO 1 21 14 16 19 17 ABSTENÇÃO 5 13 10 19 18 14 IMPOSIÇÃO 6 16 15 15 21 20 CONCILIAÇÃO 34 19 13 10 16 12 ABSTENÇÃO 17 18 16 15 17 17 ABSTENÇÃO 4 13 15 12 19 20 COLABORAÇÃO 9 14 18 20 20 20 IMPOSIÇÃO 32 8 11 15 16 14 CONCILIAÇÃO 10 17 17 18 16 18 IMPOSIÇÃO 24 16 15 7 7 7 ABSTENÇÃO 7 6 17 18 12 15 IMPOSIÇÃO 11 11 13 8 15 19 COLABORAÇÃO 22 7 11 16 11 12 IMPOSIÇÃO 14 15 10 15 12 13 ABSTENÇÃO 26 15 16 13 18 19 COLABORAÇÃO Os resultados apresentados na Tabela nº 2 representam o total de pontos atingidos em cada um dos estilos descritos por Robbins (2000) como sendo 123 preferenciais na administração de conflitos, onde a última coluna representa o estilo básico predominante para aquele indivíduo. Na primeira coluna encontram-se os códigos identificação correspondente ao kit dos questionários distribuídos e nas demais as pontuações atingidas, sendo que a maior pontuação determina o estilo predominante de cada sujeito. Pode-se perceber um fato interessante quando se analisa a coluna do estilo predominante, a inexistência de casos onde predominem o estilo correspondente acomodação. Em outras palavras, nenhum dos entrevistados apresentou a acomodação como estilo preferencial de administração de conflitos. A acomodação não se mostrou como um estilo preferencialmente usado neste grupo de amostra, o qual apresentou uma equiparação entre os estilos de abstenção, colaboração e a imposição, como pode ser comprovado na Tabela 3. A conciliação, porém, destoa dos demais ao apresentar um percentual de 18%, contra os 27% dos outros estilos. Essa diferença demonstra ser este o estilo menos empregado preferencialmente neste grupo. Por outro lado, a abstenção embora tendo o mesmo percentual dos estilos de colaboração e de imposição, pode ser considerada como o estilo básico preferencial de administração de conflitos desta amostra, uma vez se podem considerar os que deixaram de responder aos questionários também como uma forma de abstenção. O Gráfico 1 permite uma melhor visualização destas questões. Tabela 3 – Distribuição dos estilos predominantes. Estilo Predominante ABSTENÇÃO COLABORAÇÃO CONCILIAÇÃO IMPOSIÇÃO Total Global Qtde de Funcionários % 6 6 4 6 22 27,3% 27,3% 18,2% 27,3% 100,0% 124 Gráfico 1 – Distribuição de estilos predominantes. Na Tabela 4, vê-se a distribuição dos estilos preferenciais em função do sexo, nela percebe-se que novamente a conciliação aparece como o estilo menos empregado tanto por homens quanto por mulheres. Porém, notou-se que nos homens as respostas indicaram uma predominância do estilo de imposição com 23%, enquanto que nas mulheres predominou o estilo de colaboração com 18%. Robbins (2000), enfatiza a existência de diferenças entre a comunicação interpessoal masculina e a feminina. O Gráfico 4 evidencia a diferença entre os estilos predominantes entre homens e mulheres. Tabela 4 – Estilo predominante por sexo. Estilo Predominante SEXO ABSTENÇÃO COLABORAÇÃO CONCILIAÇÃO IMPOSIÇÃO Total Feminino Masculino Total 3 3 6 4 2 6 2 2 4 1 5 6 10 12 22 Feminino Masculino Total 13,6% 13,6% 27,3% 9,1% 9,1% 18,2% 4,5% 22,7% 27,3% 45,4% 54,5% 100,0% Em Percentual 18,2% 9,1% 27,3% 125 Gráfico 2 – Estilo predominante por sexo. Quanto ao estilo de abstenção e de conciliação, estes se mostraram rigorosamente iguais tanto para os homens como para as mulheres, ou seja, 13,6% e 9,1% respectivamente. Na análise das respostas por função básica desempenhada em relação aos estilos predominantes, pode-se constatar que os programadores apresentaram maior preferência pela imposição com 27%, como pode ser observado na Tabela 5. Já com relação aos analistas, percebe-se uma equivalência entre os resultados encontrados na abstenção e na colaboração, porém, o que mais chama a atenção é a ausência da imposição nestes profissionais, o que indica ser esta, portanto, uma possível característica dos programadores desta amostra. Tabela 5 – Função básica vs estilos predominantes. Estilos Predominantes FUNÇÃO BÁSICA ANALISTA ABSTENÇÃO 4 COLABORAÇÃO 4 CONCILIAÇÃO 1 IMPOSIÇÃO - Total Global 9 PROGRAMADOR 2 2 3 6 13 Total Global 6 6 4 6 22 4,55% 13,64% 0,00% 27,27% 40,91% 59,09% 18,18% 27,27% 100,00% ANALISTA PROGRAMADOR 18,18% 9,09% Total Global 27,27% Em Percentual 18,18% 9,09% 27,27% 126 Tabela 6 – Local de trabalho o vs estilos predominantes. TRABALHA NOS SALÕES ABSTENÇÃO COLABORAÇÃO CONCILIAÇÃO IMPOSIÇÃO Total Global SIM NÃO Total Global 4 2 6 1 5 6 3 1 4 5 1 6 13 9 22 SIM NÃO Total Global 18,18% 9,09% 27,27% ESTILOS PREDOMINANTES Em percentagem 4,55% 22,73% 27,27% 13,64% 4,55% 18,18% 22,73% 4,55% 27,27% 59,09% 40,91% 100,00% A Tabela 6 aborda outra importante questão levantada nas entrevista, na qual os maiores problemas de relacionamento estariam com os profissionais que trabalhavam nos salões. Assim, foram cruzadas as informações sobre os estilos de administração de conflitos predominantes em relação ao local de trabalho. Constatou-se desta forma que, o estilo predominante naqueles que trabalhavam nos salões era o da imposição, enquanto que aqueles que ocupavam nas atividades outros ambientes, tinham como preferência a colaboração, ambos com o mesmo percentual, aproximadamente 23%, como melhor pode ser percebido no Gráfico 3. Gráfico 3 – Local de trabalho versus estilo predominante. 127 Tabela 7 – Trabalha nos salões vs função básica vs estilos predominantes. TRABALHA NOS SALÕES SIM FUNÇÃO BÁSICA ESTILOS PREDOMINANTES ABSTENÇÃO COLABORAÇÃO CONCILIAÇÃO IMPOSIÇÃO Total Global Analista 2 - - - 2 Programador 2 1 3 5 11 4 1 3 5 13 Total Em percentagem SIM Analista Programador Total 15,38% 15,38% 0,00% 7,69% 0,00% 23,08% 0,00% 38,46% 15,38% 84,62% 30,77% 7,69% 23,08% 38,46% 100,00% Cruzando estas duas categorias, trabalho nos salões e função básica, com os estilos predominantes, como se observa na Tabela 7, constata-se novamente a predominância da imposição nos programadores com 38%, porém o que chama a atenção é o fato dos analistas que trabalham nestes ambientes apresentarem como estilo predominante tão somente à abstenção, o que parece se confirmar justamente na ausência de escolha de outros estilos, indicando uma possível posição de não enfrentamento por parte destes. O gráfico 4 evidencia melhor as características encontradas. Gráfico 4 - Trabalha nos salões versus estilos predominantes versus função básica. Posição esta que pode ser confirmada ao se observar os resultados apresentados na Tabela 8, onde a colaboração aparece como estilo predominante e os analistas se mostram mais atuantes, apresentando outras escolhas. Porém, notase que a imposição não um estilo de preferência para os analistas que estão em 128 outros ambientes que não os salões, pois nenhum deles a escolheu. Por outro lado, apesar de existirem apenas dois programadores, um parece manter a tendência destes pela imposição, enquanto o outro acompanha a maioria que optou pela colaboração, indicando ser este um estilo predominantemente encontrado nos programadores, principalmente naqueles que trabalham nos salões. Tabela 8 – Não trabalha nos salões vs função básica vs estilos predominantes. TRABALHA NOS SALÕES NÃO FUNÇÃO BÁSICA ESTILOS PREDOMINANTES ABSTENÇÃO COLABORAÇÃO CONCILIAÇÃO IMPOSIÇÃO Total Global Analista Programador 2 2 4 1 5 1 1 1 1 7 2 9 Analista Programador 22% 0% 22% 45% 11% 56% 11% 0% 11% 0% 11% 11% 78% 22% 100% NÃO Total Em percentual NÃO NÃO Total Já na Tabela 9, encontra-se a distribuição dos elementos do grupo de amostra por faixa etária, uma vez que esta foi outra categoria levantada nas entrevistas como sendo um diferencial de comportamentos, na qual os mais novos apresentavam comportamentos diferentes daqueles mais velhos (KANTEL et al, 1997). Para tanto, estes profissionais foram divididos em três grupos, conforme disposto na tabela. Nela percebe-se que a maior concentração (59%) encontra-se nos funcionários que estão entre vinte e um e trinta anos. Tabela 9 – Distribuição por faixa etária. Faixa Etária 1. Entre 21 e 30 2. Entre 30 e 40 3. Maior que 40 Total Qtde de Funcionários % 13 4 5 22 59% 18% 23% 100% 129 Tabela 10 – Local de trabalho vs faixa etária vs estilos predominantes. TRABALHA NOS SALÕES SIM Estilos Predominantes FAIXA ETÁRIA ABSTENÇÃO COLABORAÇÃO CONCILIAÇÃO IMPOSIÇÃO Total Global 01. Entre 21 e 30 3 1 2 1 2 1 8 2 4 1 3 1 1 3 1 02. Entre 31 e 40 03. Maior que 40 SIM Total NÃO 01. Entre 21 e 30 02. Entre 31 e 40 1 2 3 5 13 1 5 2 2 2 03. Maior que 40 NÃO Total 2 5 1 1 9 Total Global 6 6 4 6 22 4,55% 0,00% 0,00% 9,09% 4,55% 0,00% 9,09% 4,55% 9,09% 36,36% 9,09% 13,64% 18,18% 4,55% 13,64% 22,73% 59,09% 02. Entre 31 e 40 4,55% 4,55% 13,64% 0,00% 4,55% 0,00% 0,00% 4,55% 22,73% 9,09% 03. Maior que 40 0,00% 9,09% 0,00% 0,00% 9,09% NÃO Total 9,09% 22,73% 4,55% 4,55% 40,91% Total Global 27,27% 27,28% 18,19% 27,28% 100,% Em Percentual SIM 01. Entre 21 e 30 02. Entre 31 e 40 03. Maior que 40 SIM Total NÃO 01. Entre 21 e 30 13,64% 0,00% 4,55% A Tabela 10 apresenta um cruzamento entre essa categoria, faixa etária, com o local de trabalho e os estilos predominantes. Nesta percebe-se que o estilo predominante nos profissionais que trabalham nos salões e que estão entre os vinte e um e trinta anos, é a abstenção com aproximadamente 14%. O mesmo valor é encontrado nesta faixa etária para o estilo de colaboração nos profissionais que não trabalham nos salões. Porém, quando se observa o conjunto das três faixas etárias, percebe-se que o estilo predominante nos elementos da amostra que trabalham nos salões é a imposição com 23%, enquanto que o estilo daqueles que estão em outros ambientes é o da colaboração, também com 23%, o que corrobora outros dados já analisados e que demonstram a mesma tendência, como pode ser melhor visualizado no gráficos 5 e 6. 130 Gráfico 5 – Trabalha nos salões versus faixa etária versus estilo predominante. Não Trabalha nos salões vs. Faixa Etária vs. Estilo Predominante Imposição 5% Conciliação 5% 14% Colaboração Abstenção 0% 5% 01 - Entre 21 e 30 02 - Entre 31 e 40 03 - Maior que 40 9% 5% 5% 10% 15% 20% 25% Gráfico 6 – Não trabalha nos salões versus faixa etária versus estilo predominante. A abstenção parece ser realmente uma característica encontrada nos mais jovens que não se repete em outras faixas etárias, nem tão pouco nos profissionais que não trabalham nos salões, que ao contrário, preferem a colaboração como estilo predominante. Nos salões a abstenção pode ser o resultado da oposição entre a preferência pela conciliação e a imposição encontrada especificamente nesta faixa etária. Talvez por um não saber o que fazer, ou por estes não ainda saberem como se posicionar. Se somados os valores das três faixas etárias e que determinam uma predominância do estilo de imposição, pode levar a uma condição de abstenção. A análise pela faixa etária permitiu compreender melhor a influência do meio sobre o comportamento dos membros do grupo de amostra. De modo que aqueles 131 de maior idade sofrem menos influências que os mais jovens (KANDEL et al, 1997), principalmente quando se fala de territoriedade (HALL, 1977). Outra categoria importante destacada nas entrevistas e analisadas nos dados apresentados por este Questionário 1, que também está ligada a questões ambientais (KANDEL et al, 1997; HALL, 1977), é o tempo de trabalho na CELEPAR e sua relação com o estilo predominante, como pode ser visto na Tabela 11. Tabela 11 – Estilo predominante por tempo de trabalho na celepar. Tempo de Trabalho Na CELEPAR Estilo Predominante ABSTENÇÃO COLABORAÇÃO CONCILIAÇÃO IMPOSIÇÃO Total 01 - Até 1 ano 02 - Entre 1 e 2 03 - Entre 2 e 10 04 - Entre 10 e 20 05 - Maior que 20 Total 3 2 1 6 1 4 1 6 2 2 4 2 3 1 6 5 6 3 6 2 22 01 - Até 1 ano 02 - Entre 1 e 2 03 - Entre 2 e 10 04 - Entre 10 e 20 05 - Maior que 20 Total 13,64% 0,00% 0,00% 9,09% 4,55% 27,27% 0,00% 9,09% 9,09% 0,00% 0,00% 18,18% 9,09% 13,64% 4,55% 0,00% 0,00% 27,27% 22,73% 27,27% 13,64% 27,27% 9,09% 100,00% Em Percentual 0,00% 4,55% 0,00% 18,18% 4,55% 27,27% O Gráfico 7 demonstra mais claramente a abstenção aparecendo como uma preferência dos mais novos, neste caso, mais novos na empresa, uma vez que os elementos que têm até um ano de CELEPAR apresentam 14% de preferência neste estilo. Fato que parece indicar que esta é uma condição daqueles que ainda não sabem como se posicionar, que preferem que os outros não conheçam os seus sentimentos e opiniões. Os que têm entre um e dois anos apresentam como estilo predominante à imposição com também 14%, embora haja uma maior destruirão nesta faixa de tempo de serviço. A faixa de serviço de profissionais que se encontram entre dez e vinte anos apresentou uma maior preferência pela colaboração com aproximadamente 18%, o que demonstra que estes profissionais tenham uma maior experiência relacional, principalmente no que diz respeito à administração de conflitos, o que parece confirmar os conceitos de Kandel et al, 1997 e Hall, 1977. 132 Gráfico 7 – Tempo de trabalho em anos versus estilo predominante. Em resumo podemos deduzir pela análise dos resultados que os estilos básicos de administração de conflitos predominantes no grupo de amostra são assim distribuídos: 1. A acomodação foi um estilo que não apareceu em nenhum dos questionários respondidos como sendo um estilo predominante. 2. Dos estilos relacionados à conciliação foi o estilo predominante de menor preferência no grupo de amostra com apenas 18%, contra os 27% de cada um dos outros estilos. 3. As mulheres têm como estilo predominante à colaboração com 18% e os homens apresentam como estilo predominante à imposição com 23%. 4. Dos que trabalham nos salões, 23% têm como estilo predominante à imposição, enquanto os que trabalham em outros locais apresentam como estilo a colaboração com também 23%. 133 5. Nos salões os programadores apresentam maior preferência pelo estilo de imposição com 38%, enquanto que os analistas apresentam como estilo a abstenção com 15%. 6. Fora dos salões predomina o estilo de colaboração com 56%, sendo que os analistas participam com 45% e os programadores com 11%. 7. Do total de funcionários, 59% estão com idade entre vinte e um e trinta anos. Destes 14% dos que trabalham nos salões têm como preferência o estilo de abstenção, enquanto que aqueles que não trabalham nos salões têm como estilo predominante à colaboração, também com 14%. 8. Levando-se em conta todas as faixas etárias encontradas, identifica-se uma predominância do estilo de imposição com 23% nos elementos que trabalham nos salões. Em outros ambientes o estilo predominante foi à colaboração com também 23%. 9. Os profissionais com menos de um ano de CELEPAR apresentaram uma preferência pelo estilo da abstenção com 14%. Os que têm entre um e dois anos apresentaram o estilo de imposição como preferencial com também 14% e o estilo de colaboração representou 18% dos profissionais que estavam entre dez e vinte anos. 5.3.2. Dimensões interpessoais O objetivo deste Questionário 2 era o de reconhecer os aspectos ligados ao tipo de comunicação encontrado no grupo de amostra e compará-lo com as habilidades relacionais igualmente identificadas por este questionário (MOSCOVICI, 1985; ROBBINS, 2000). Na Tabela 12 encontramos os resultados correspondentes ao tipo de comunicação cujo foco está nas relações, principal característica da comunicação interpessoal (NICHOLS, 1990; WATZLAWICK et al, 1993; ROBBINS, 2000). 134 Tabela 12 – Comunicação com foco na relação. Análise de Dimensões Interpessoais - Amostra de 22 casos Comunicação / Relação Comunicação efetiva Saber ouvir Reação a feedback Expressão de feedback Persuasão Compartilhamento Comunicação focada no diálogo Comunicação direta Média de Comunicação / Relação Mínimo Máximo Média Aritmética Amplitude Desvio Padrão Coeficiente de Variação 3,0 4,0 1,0 3,0 2,0 5,0 2,0 3,0 - 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 - 5,1 5,9 5,4 5,5 4,7 6,3 5,7 6,1 5,6 4,0 3,0 6,0 4,0 5,0 2,0 5,0 4,0 - 1,2 1,0 1,3 1,2 1,3 0,7 1,3 1,1 - 24,2% 17,7% 23,4% 21,4% 27,8% 11,3% 23,3% 17,5% - Perceber-se nesta tabela que a maior média encontrada foi de 6,3 pontos que correspondem ao compartilhamento, o qual apresentou também maior concentração de respostas, como pode ser comprovado pela amplitude de 2,0 pontos, demonstrando ser esta uma percepção geral. Este fato é bastante relevante uma vez que aponta para uma condição que favorece o compartilhamento de informações e de conhecimento, tanto no que se refere aos membros do próprio grupo quanto a outros que se encontram fora deste, sendo esta bastante significativa por se tratar de um aspecto importante para a comunicação em um grupo de desenvolvimento de projetos, onde troca de informações e de conhecimento representa uma capacidade fundamental (VALERIANO, 1998). Por outro lado, a reação a feedback apresenta a maior amplitude de respostas (6,0), o que indica sensibilidades diferentes a feedbacks, em outras palavras, nem todos reagem muito bem aos feedbacks recebidos (MOSCOVICI, 1985), porém sua média foi boa (5,4). A comunicação direta foi a segunda maior média encontrada com 6,1 pontos, o que reforça a tendência para as relações (PINCHOT; PINCHOT, 1994). O que pode ser também observado em outras médias como aquelas encontradas nas respostas de feedback e na comunicação focada no diálogo (BOTOMÉ, 2001). A média mais baixa encontrada foi 4,7 e que corresponde à persuasão, o que de certa forma pode-se considerar como normal para este tipo de comunicação (MIELNIK, 1987), principalmente quando se compara esta média com o percentual de 27% do estilo de imposição de administração de conflitos (ROBBINS, 2000) levantado no Questionário 1. O ideal é que esta média se mantivesse em torno dos 3,5 pontos, uma vez que a persuasão é uma técnica de indução e que pouco se preocupa com 135 os outros. No geral, a média deste grupo de repostas foi 5,6 pontos, em uma escala de um a sete, o que indica uma forte tendência para uma comunicação focada nas relações (NICHOLS, 1990; WATZLAWICK et al, 1993; MOSCOVICI, 1985). A Tabela 13 demonstra como se dá no grupo de amostra a comunicação focada no conteúdo (NICHOLS, 1990; WATZLAWICK et al, 1993). Este tipo de comunicação privilegia a transmissão de dados e informações técnicas e numéricas, também conhecido como aspectos de relato, sendo tipicamente digital, não se prestando para transmissão de informações mais complexas como impressões pessoais e opiniões cuja complexidade é determinada pela análise dos fatores emocionais envolvidos, como afirma Mielnik, 1987, Watzlawick, et al (1993) e Chanlat (1994). A média encontrada nesta tabela de 3,0 pontos reforça as análises anteriores, encontrada na tabela 11, que aponta para a predominância de uma comunicação focada nas relações (5,6). A diferença entre as duas é de 2,6 pontos, o que representa o dobro da média encontrada na tabela 12. Estas pessoas tendem a ter preferência por comunicações formais, que possam ficar registradas do que conversas informais (PINCHOT; PINCHOT, 1994; CHANLAT, 1994). São delas comentários do tipo: “fale apenas o necessário”, de autoria desconhecida, mas ainda presente em muitas empresas. Tabela 13 – Comunicação focada no conteúdo. Análise de Dimensões Interpessoais - Amostra de 22 casos Comunicação / Conteúdo Comunicação focada em conteúdo Média Mínimo Máximo Média Aritmética Amplitude Desvio Padrão Coeficiente de Variação 1,0 - 5,0 - 3,0 3,0 4,0 - 1,4 - 47,0% - Já a Tabela 14, fala de uma comunicação estratificada, verticalizada, focada na hierarquia, que não se espera ser encontrada em grupos que trabalham com projetos de desenvolvimento, onde a tendência é uma comunicação horizontalizada (PINCHOT; PINCHOT, 1994). O que parece se confirmar pela baixa média encontrada, 2,0 pontos. As pessoas que preferem este tipo de comunicação evitam 136 o contato pessoal, principalmente com níveis hierárquicos diferentes dos que estes ocupam (PINCHOT; PINCHOT, 1994). A comunicação estratificada normalmente é acompanhada pela comunicação focada no conteúdo, em função da natural diminuição do contato direto entre os comunicantes. As comunicações ocorram então por meios indiretos, aumentando os níveis de ruído e as distorções (PINCHOT; PINCHOT, 1994; BOTOMÉ, 2001; ROBBINS, 2000). Neste caso específico, nota-se que as duas possuem baixa incidência, como pode ser comprovado pelas suas médias. Tabela 14 – Comunicação estratificada Análise de Dimensões Interpessoais - Amostra de 22 casos Comunicação / Estratificada Comunicação estratificada Média Mínimo Máximo Média Aritmética Amplitude Desvio Padrão Coeficiente de Variação 1,0 - 5,0 - 2,1 2,1 4,0 - 1,4 - 63,5% - Na Tabela 15, habilidades políticas, a média encontrada de 5,4 pontos condiz com a média encontrada na tabela 11 referente a comunicação relacional que foi de 5,6 pontos, demonstrando a relação entre estas. Os resultados encontrados apontam a adaptação como a habilidade política predominante no grupo, apesar de não ser a maior média encontra nesta tabela que é 5,7 pontos da aceitação, em função de seus resultados gerais (ROBBINS, 2000). A adaptação representa a capacidade das pessoas em se adaptar às condições adversas, quer seja no grupo ou na empresa. Já a aceitação corresponde à habilidade dos elementos da amostra em aceitar a orientação e os procedimentos vindos de outros níveis hierárquicos (MOSCOVICI, 1985; ROBBINS, 2000). Condição que se contrapõem a menor média encontra que é de 4,9 pontos, resistência ao estresse, que representa a capacidade de trabalhar em situações não rotineiras mantendo padrões de desempenho eficaz, mesmo enfrentando falta de apoio e cooperação, resistência, oposição, hostilidade. Em outras palavras, parece ser esta uma habilidade menos desenvolvida neste grupo de amostra, o que corrobora com os dados levantados nas entrevistas. Fato este pode estar relacionado ao tipo de empresa, mista de controle governamental, cuja cultura tende, não só a aspectos técnicos, mas também para questões políticas (BATES et al., 1995; CHIAVENATO, 1999; CASTELLS, 2001; TERRA, 2001). 137 Tabela 15 – Habilidades políticas. Análise de Dimensões Interpessoais - Amostra de 22 casos Habilidades Políticas Imagem/impacto Resistência ao estresse Experimentação Abertura Aceitação Adaptação Média de Habilidades Políticas Mínimo Máximo Média Amplitude Desvio Padrão Coeficiente de Variação 3,0 3,0 3,0 2,0 2,0 3,0 - 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 - 5,2 4,9 5,4 5,5 5,7 5,6 5,4 4,0 4,0 4,0 5,0 5,0 4,0 - 1,1 1,2 1,4 1,3 1,4 1,0 - 21,2% 23,4% 25,4% 23,6% 23,9% 18,0% - A Tabela 16 refere-se às habilidades de negociação (ROBBINS, 2000), cuja maior média foi de 5,8 pontos, tanto para a autoconfiança (MOSCOVISCI, 1985, 1996), que representa a capacidade de enfrentamento e superação de dificuldades em situações de desafio, aceitando riscos com relativo conhecimento das conseqüências, quanto para a inteiração, que corresponde na capacidade tomar conhecimento de todos os aspectos que envolvam uma determinada questão a ser tratada, a qual apresentou os melhores resultados, demonstrando que esta é a principal habilidade de negociação deste grupo de amostra (MARTINELLI; ALMEIDA, 1998; POLLAN; LEVINE, 1994). A média mais baixa encontrada foi de 4,9 pontos, alcançada pela habilidade de investigação, que corresponde à capacidade de investigar todos os fatos antes de se manifestar sobre algo, juntamente com outros resultados, como por exemplo, a da competição que representa o desejo de vencer e ter o melhor desempenho, superando obstáculos e assim conseguir o reconhecimento dos outros, indicam que tipo de negociação preferencial deste grupo é a barganha baseada nos interesses, ideal na identificação da problemática e na resolução dos conflitos (MARTINELLI; ALMEIDA, 1998). Por outro lado, esta análise demonstra um certo receio dos participantes em demonstrarem seus sentimentos, o que corrobora os dados levantados nas entrevistas (MIELNIK, 1987). A média geral foi de 5,3 pontos, mantendo-se próxima das médias anteriores e mantendo a relação entre elas. 138 Tabela 16 – Habilidades de negociação. Análise de Dimensões Interpessoais - Amostra de 22 casos Negociação Liderança efetiva Autoconfiança Iniciativa Competição Inteiração Reconhecimento de variantes Barganha Investigação Média de Negociação Mínimo Máximo Média Amplitude Desvio Padrão Coeficiente de Variação 2,0 3,0 2,0 1,0 4,0 4,0 3,0 3,0 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 5,0 5,8 5,0 5,5 5,8 5,3 5,1 4,9 5,3 5,0 4,0 5,0 6,0 3,0 3,0 4,0 4,0 1,4 0,9 1,5 1,5 0,8 0,9 1,0 1,2 28,2% 16,0% 30,2% 27,7% 13,7% 17,8% 20,2% 23,4% - - - - - Na Tabela 18 encontram-se os dados relativos às habilidades de aconselhamento. Nela pode-se perceber que o melhor resultado apresentado são os que compõem a disponibilidade, ou seja, a capacidade de desenvolver condições que permitam abertura para que outros o procurem com suas dificuldades, o que de certa forma corrobora com as demais habilidades até aqui constatadas, indicam uma pré-disposição à identificação de conflitos a partir de uma abertura que permita as pessoas falarem sobre o que os incomoda, exigindo de quem aconselha uma grande habilidade em saber ouvir (MATOS, 1989; ROBBINS, 2000). A solidariedade é outra habilidade expressiva nesta tabela e representa a capacidade de mostrar-se amistoso e solidário aos problemas de outros membros do grupo. O mesmo não se dá no item conselheiro, onde os elementos da amostra parece ficarem pouco à vontade quando o assunto está ligado a consultas sobre comportamentos e condutas pessoais ou profissionais (MIELNIK, 1987; ROBBINS, 2000). Na média geral a média de 5,4 pontos se manteve com as demais. Tabela 17 –Hablidades de administração de conflitos. Análise de Dimensões Interpessoais - Amostra de 22 casos Administração de Conflitos Espontaneidade Independência Lidar com conflitos Flexibilidade Clarificação de condições adversas Discrição Orientar reposicionamentos Conciliação Esclarecimento Média de Administração de Conflitos Mínimo Máximo Média Amplitude Desvio Padrão Coeficiente de Variação 2,0 3,0 3,0 2,0 4,0 3,0 3,0 3,0 3,0 - 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 7.0 - 5,1 5,5 5,0 5,3 5,5 5,0 5,4 5,2 5,5 5,3 5,0 4,0 4,0 5,0 3,0 4,0 4,0 4,0 4,0 - 1,4 1,1 1,0 1,2 0,9 1,1 1,0 0,9 1,1 - 28,4% 20,2% 20,5% 23,5% 16,4% 21,6% 17,7% 17,5% 20,6% - 139 Tabela 18 – Habilidades de aconselhamento. Análise de Dimensões Interpessoais - Amostra de 22 casos Aconselhamento Sensibilidade Relacionamento próximo Disponibilidade Solidariedade Compreensividade Conselheiro Mínimo Máximo Média Amplitude Desvio Padrão Coeficiente de Variação 2,0 3,0 3,0 2,0 3,0 2,0 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 7,0 5,3 5,5 5,9 6,0 5,3 4,7 5,0 4,0 4,0 5,0 4,0 5,0 1,5 1,4 1,1 1,4 1,0 1,9 28,1% 25,8% 19,2% 24,0% 19,6% 40,3% - - 5,4 - - Média de Delegação - A Tabela 19 cruza os dados levantados na comunicação focada nas relações com as funções básicas desempenhadas pelos profissionais do grupo de amostra. De um modo geral os analistas apresentam uma comunicação mais focada nas relações, como pode ser percebido pelo fato dos programadores usarem mais a persuasão do que os analistas, respectivamente 5,2 e 4,0 pontos, e por outras pequenas diferenças nas médias. Tabela 19 – Função básica vs habilidades de comunicação / relação. Função Básica Comunicação/relação Analistas Comunicação efetiva Saber ouvir Reação a feedback Expressão de feedback Persuasão Compartilhamento Comunicação focada na relação Comunicação direta Programador Comunicação efetiva Saber ouvir Reação a feedback Expressão de feedback Persuasão Compartilhamento Comunicação focada na relação Comunicação direta Média Média Média Total Média Aritmética 5,2 5,8 5,4 5,6 4,0 6,3 5,3 6,2 5,5 5,0 5,9 5,3 5,5 5,2 6,3 5,9 6,0 5,7 5,6 140 Já na Tabela 20 a comunicação estratificada aparece mais acentuada nos programadores, o que confirma os outros resultados. Segundo observações e informações colhidas nas entrevistas às atividades desempenhadas por estes normalmente se dão sob a orientação de analistas, o que parece indicar ser esta a causa dessa preferência. Tabela 20 – Comunicação estratificada vs função básica. Comunicação / Estratificada Comunicação estratificada Função Básica Analistas Programador Média Total Média Aritmética 1,4 2,6 2,0 Na Tabela 21, por outro lado, refere-se ao cruzamento dos dados da comunicação focada nos conteúdos com as funções básicas desempenhadas. Nela percebe-se que esta é mais acentuada nos analistas em função deste terem como principal atividade à distribuição de atividades de desenvolvimentos e de programação, normalmente dados técnicos e numéricos. Tabela 21 – Comunicação / conteúdo vs função básica. Comunicação / Conteúdo Comunicação focada em conteúdo Função Básica Analistas Programador Média Total Média Aritmética 3,3 2,8 3,1 Em resumo, a análise do Questionário 2 demonstra que as médias encontradas em cada bloco de respostas se apresentam variando entre 5,3 e 5,6 pontos, o que indica uma relação direta entre as habilidades relacionais e a comunicação interpessoal, aquela focada nas relações. 141 Gráfico 8 – Dimensões Interpessoais. No Gráfico 8, pode-se perceber melhor a proximidades dos resultados encontrados nas habilidades relacionais, de 5,3 e 5,4% as quais se aproximam consideravelmente dos 5,6% alcançados na comunicação focada na relação. Os resultados 3,0% na comunicação focada no conteúdo e de 2,1% na comunicação estratificada confirmam os resultados anteriores uma vez que estes não condizem com uma boa capacidade relacional conforme afirmam Watzlawici et al (1993), Pinchot e Pinchot (1994), Moscocovi (1996) e Robbins (2000). Formas de comunicação interpessoais encontradas no Gráfico 9, portanto, demonstram que o grupo de amostra tem seu foco de comunicação nas relações conforme classifica Watzlawick et al (1993). 142 Gráfico 9 – Tipos de Comunicação. As médias também comprovam que os elementos da amostra que responderam aos questionários apresentam bom índice para as habilidades relacionais e comunicativas, estando de acordo com os resultados encontrados no Questionário 1 e com as observações de Robbins (2000) e Moscovici (1985; 1996). Assim como se enquadram nos fatores determinantes da comunicação, no controle das desigualdades sociais, da falta destas e na análise dos recursos descritos por Mielnik (1987), possibilitando a confirmação do tipo predominante de comunicação e de sua ênfase. Outro ponto importante a ser considerado diz respeito ao alto índice de pessoas que deixaram de responder aos questionários. Como já comentamos no anteriormente, 15 pessoas se abstiveram de responder, um número bem expressivo já que representa 41% do total da amostra. O Gráfico 10 demonstra que dos 37 conjuntos distribuídos para serem respondidos, apenas 22 retornaram. 143 Funcionários vs. Questionários Responderam os questionários 41% 59% Não responderam os questionários Gráfico 10 – Funcionários versus questionários. Este fato é bastante significativo, principalmente por ser a abstenção uma atitude usada por aqueles que procuram esconder seus sentimentos e opiniões, comportamento que está ligado a dificuldades relacionais, particularmente as questões de feedbacks (MOSCOVISCI, 1985) e que passa a ser representativo na medida que, como um dos estilos básico de administração de conflitos, possa representar uma característica deste grupo, principalmente se somado aos 27% de abstenção dos que responderam, conforme ficou demonstrado na Tabela 3 (ROBBINS, 2000). Ocorre, porém, que pela metodologia empregada na distribuição dos questionários, fica impossível determinar se estas pessoas que não responderam faziam parte daquelas que foram observadas em posturas que denunciavam comportamentos fechados e de pouca comunicabilidade, ou que apresentaram nas entrevistas condições semelhantes. Se considerados os resultados das observações e entrevistas separadamente dos encontrados nos questionários, pode-se ter um quadro mais amplo e realista das condições encontradas. As entrevistas e observações apontam para um ambiente austero e fechado, com uma comunicação objetiva e técnica, a exceção daquelas que se encontravam em certos grupos menores. Já nas entrevistas apareceram uma série de questões que apontaram para uma certa insegurança e uma insatisfação velada, com algumas 144 pessoas muito falantes e outras que pouco ou quase nada falavam, tendo que ser estimuladas o tempo todo a falar. De outro lado temos os resultados dos questionários que indicam no geral uma boa média no que tange tanto à comunicação interpessoal quanto as habilidades relacionais, com pequenas diferenças de comportamento entre analistas e programadores. Considerando-se estes três elementos de análise: os resultados das observações e entrevistas, dos questionários e as abstenções, pode-se deduzir que 59% do grupo de amostra apresentaram bons resultados no que tange as habilidades relacionais, principalmente no que diz respeito à administração de conflitos, onde predomina uma comunicação focada nas relações. Enquanto que 41% da amostra apresentaram uma forte tendência à abstenção e dificuldades de exposição, o que certamente compromete a qualidade de suas relações. Uma vez que as pessoas não as conhecem, não sabem como devem se posicionar com relação a elas, sem falar que estas ao se omitirem tendem naturalmente a serem excluídas (ROBBINS, 2000). Se somadas as abstenções subentendidas na não resposta dos questionários com as abstenções declaradas pelos que responderam, tornariam a abstenção o principal estilo de administração de conflitos com 67%. Outro fator importante a ser considerado foram os trabalhos de capacitação na área relacional desenvolvidos recentemente pela CELEPAR, os quais podem ainda não ter sido incorporado às atitudes dos elementos da amostra, mas estarem em seus referenciais apenas como um ideal a ser atingido, o que poderia gerar uma distorção nas respostas dos questionários, com os participantes respondendo aquilo que se espera que respondam e não ao que realmente sentem. Entretanto, não se pode negar o peso de nenhum destes instrumentos, principalmente das observações e das entrevistas por estes não se limitarem a uma descrição baseada somente em uma linguagem linear, mas num contexto que envolve também a análise dos gestos, atitudes, posturas, tom de voz e outros aspectos relevantes para uma boa compreensão e apreensão dos aspectos fenomenológicos envolvidos. Levando-se em conta tais considerações, principalmente as abstenções dos que deixaram de responder aos questionários, pode-se afirmar que os resultados de 145 um modo geral apontam para a existência de deficiências nas habilidades comunicacionais e relacionais no grupo de amostra. 146 6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A comunicação é como a organização se configura perante os seus stakeholders, é um processo amplo que envolve desde a visão e percepção do mundo até a construção da própria organização, a qual espelha uma série de situações do ambiente organizacional, refletindo o clima vigente e o contexto/tempo pelo qual passa a empresa ou determinado grupo. Indefinições quanto ao futuro ou objetivos, levam a comportamentos comunicacionais e relacionais diferenciados que podem se mostrar inadequados para determinada situação. Como exemplo, pode-se citar o excesso de comunicações informais do tipo boatos que, se não identificados a tempo, é capaz comprometer a motivação de algumas pessoas ou de grupos inteiros, levando a um aprofundamento do nível de conflitos e de stress. No caso de profissionais que trabalham com pesquisa e desenvolvimento essa questão parece ainda mais importante se levadas em conta a complexidade de suas relações. A identificação de problemas ligados: (1) a informação e a comunicação por excesso ou falta, (2) as diferentes percepções, (3) a falta de conhecimento apropriado sobre estas questões, ou seja, de uma base conceitual e, (4) as dificuldades no controle das diferenças e na manutenção das individualidades, formam os principais tipos de conflitos encontrados neste tipo de atividade. O nível dos conflitos por sua vez, determina qual a forma predominante de administração de conflito e a capacidade de negociação destes profissionais. A produtividade e o nível stress parece servir como parâmetros para determinar se o conflito é prejudicial à organização ou não. A questão dos conflitos aparece como ponto comum e convergente no estudo da ligação entre a comunicação interpessoal e as habilidades relacionais, cuja existência se demonstra naturalmente atrelada às relações humanas, constituindo um importante elemento no desenvolvimento destas. Os conflitos se fazem presente a todo o momento da relação, mesmo que não se saiba que eles estão acontecendo. A negociação é a principal ferramenta para a administração de conflitos, a qual não pode existir sem a comunicação. É esta que permite o levantamento e a compreensão de necessidades e interesses, identificando 147 problemáticas que atravancam as relações. Igualmente quando se fala de aconselhamento e atividade política se fala também de conflitos. A delegação, por sua vez, tem influência principalmente na determinação e prevenção dos conflitos, pois quando esta habilidade é bem empregada pode evitar uma série de conseqüências que, em sua origem, podem ter uma grande variedade de causas, tais como, a sobre carga motivada pelo excesso de atividades, a inabilidade em lidar com as atividades delegadas, a falta de capacitação para a atividade que desempenha... No caso específico do grupo estudado se observaram influências maiores de conflitos originários de dificuldades ligadas às habilidades políticas, as quais exigiam mais por parte dos profissionais estudados. Este fenômeno pode estar ligado ao fato de se tratar de uma empresa mista de controle governamental, cujos relacionamentos e atividades são determinadas em grande parte por ações políticas. Pode-se então concluir que a questão das habilidades está diretamente relacionada com as tarefas e que estas acarretam conflitos que precisam ser administrados, de preferência pela via de negociação focada nos interesses que preserve os relacionamentos e contextos como um todo, onde a comunicação interpessoal torna-se uma condição essencial para o bom andamento das atividades e das relações. Porém, este é um fato muito mais presente no discurso do que nos atos. O que se pode notar nesta pesquisa foi exatamente à predominância de estilos preferenciais de administração de conflitos que não favorecem uma negociação focada nos interesses, tais como, imposição e a abstenção, cuja soma se sobrepõe a da colaboração e conciliação, principalmente quando se levam em conta àqueles que não responderam aos questionários também como uma forma de abstenção. Deve-se, no entanto, ressaltar a importância do papel da percepção nesse processo, já que é produto de referências que se baseiam em categorias conceituais, fazendo com que cada um tenha uma maneira própria de ver e lidar com uma realidade que lhe é peculiar. Desta forma, cada pessoa pode estruturar, organizar e significar o mundo a sua volta. No caso específico de profissionais que trabalham em projetos de P&D, percebe-se que suas categorias conceituais são mais técnicas, principalmente 148 quando se trata de programadores, onde a percepção das coisas se dá de forma lógica e em alguns casos quase que binariamente, demonstrando a influência de sua formação. A predominância encontrada do uso de recursos tecnológicos sobre os recursos naturais, favorece uma linguagem linear a qual privilegia aspectos técnicos e numéricos, típicos de uma comunicação baseada nos conteúdos. Fato que parece apontar para uma maior tendência e preparo desses profissionais em categorias conceituais técnicas em detrimento de recursos naturais como o diálogo e a comunicação direta, os quais facilitam os aspectos de negociação e de administração de conflitos por serem mais abrangentes e ricos em aspectos subliminares e emocionais, favorecendo a compreensão das questões tratadas. Mas como explicar tais condições levando-se em conta os investimentos já realizados pela empresa no sentido de se tentar valorizar e capacitar estes profissionais por meio de programas de desenvolvimento que pudessem melhorar as relações, a motivação, de modo a estimular novas atitudes e comportamentos. Para haja uma real mudança de comportamento é necessário fornecer aos profissionais mais que informações. Somente a introdução novos conceitos e conhecimentos possibilitam ao profissional o desenvolvimento de novas percepções, que transformem sua conduta e atitudes. As limitações oriundas de uma formação que não privilegie as questões relacionais, além de comprometer as atividades dos profissionais, comprometem também suas vidas pessoais, que por sua vez reflete-se de volta no trabalho, num ciclo vicioso que tende a se agravar de acordo com o desenvolvimento do processo. O principal sintoma de tal situação se manifesta de forma mais intensa nas relações pessoais e familiares, que de uma forma geral apresentam algum grau de comprometimento. Sendo o seu maior obstáculo a própria falta de percepção, de consciência do sujeito em questão. Outro fator percebido nesta pesquisa é a influência que o ambiente acarreta para as habilidades relacionais dos elementos que dele fazem parte. Influência que não se restringe apenas àquela que se dá entre pessoas, mas àquela oriunda do espaço físico e ergométrico em que se encontram quando trabalham. Ambientes de espaços reduzidos normalmente mal planejados ou adaptados, com pessoas 149 trabalhando muito próximas e pouca privacidade, no qual a invasão de território passa a ser uma constante, tende a se tornar hostil, elevando a tensão e os níveis de conflito. Ou, por outro lado, levar as pessoas a comportamentos autistas, onde o outro é tratado como se lá não estivesse. Já os ambientes cujo distanciamento físico é uma constante, os espaços amplos com poucas pessoas e muito afastadas umas das outras, pode levar as pessoas a se sentirem isoladas e gerar, por exemplo, uma sensação de não reconhecimento. Em ambos os casos a conseqüência é uma comunicação deficitária e as relações são como na realidade física, distantes e sem contato, onde não predomina o diálogo, pois este exige proximidade, abertura e sinceridade, o que permite um crescimento que vai além do simples aprendizado ou da mera transmissão de informações, atingindo um estado de desenvolvimento pessoal e organizacional, que transforma conhecimento em competência e esta em perícia. Desenvolver as habilidades relacionais e a comunicação interpessoal, principalmente o diálogo, permite o aprimoramento das competências individuais e essenciais da organização, agregando maior valor ao capital intelectual. A importância destes fatores é de tal amplitude que transforma este trabalho de pesquisa em uma gota no oceano que se representa a condição humana no campo da administração organizacional, principalmente quando se estudam as relações e com ela a comunicação interpessoal. Já para as organizações não basta apenas a simples preocupação com programas de capacitação, é preciso que elas pensem mais em seus profissionais tanto no que se refere a sua qualificação quanto à qualidade de suas vidas, dentro e fora da empresa. Qualificação que passa necessariamente pelo domínio das habilidades relacionais e de comunicação interpessoal, de forma a promover uma melhora na qualidade de suas relações. Para isso é preciso ver os programas de capacitação como programas de desenvolvimento que visem mais que a simples transmissão de informações, mas a transformação destas em conhecimento, permitindo que conceitos sejam incorporados e modifiquem percepções, atitudes e comportamentos, de modo a assegurar o pleno domínio da comunicação interpessoal e das habilidades relacionais. 150 No entanto é necessário novas pesquisas para que se atribuam outras possíveis causas para este fenômeno, assim como determinar com exatidão sua incidência e prevalência, estudando-se novos grupos semelhantes a este e outros de pesquisa e desenvolvimento em outras áreas, comparando-as com grupos que trabalhem com administração de projetos não envolvidos com pesquisa e desenvolvimento. O desenvolvimento de novas pesquisas se justifica principalmente por se saber que o processo de comunicação por sua complexidade pode ser considerado como uma área do equívoco por excelência, uma vez que em qualquer um de seus pontos ou etapas pode ocorrer falhas que comprometem a compreensão e, por conseqüência, os resultados. Por esse motivo também se pode afirmar que o desenvolvimento da comunicação se dá na razão direta do desenvolvimento de seu conhecimento e da complexidade de suas tarefas e relações. O recente desenvolvimento da tecnologia da informação promoveu um grande aprimoramento na transmissão e gerenciamento das informações, porém parece ter promovido, ao mesmo tempo, um afastamento dos interlocutores, comprometendo a compreensão de outros fatores comunicacionais que não podem ser percebidos a não ser pela comunicação presencial, onde aspectos verbais e não verbais possam ser percebidos e avaliados. É neste contexto que a comunicação precisa ser estudada, como um processo mais amplo e integrado a todos sistemas, partindo do sistema pessoal ao organizacional, diretamente relacionado ao conceito de gestão estratégica e de organizações que aprendem. Neste ponto torna-se fundamental destacar a importância do modelo de pesquisa proposto para este trabalho, o qual demonstrou-se viável não só para desenvolvimento desta pesquisa como também para aplicação em futuros trabalhos, assim como na orientação e implementação de programas de desenvolvimento organizacional na área de gestão estratégica do conhecimento. Nele é possível perceber-se a importância estratégica da comunicação, tanto sistêmica quanto interpessoal, para a integração das competências e das habilidades relacionais, possibilitando o desenvolvimento de um capital que se pode chamar de capital relacional, uma vez que possibilita a efetivação e a integração do capital humano e do capital do cliente. Mas esta é uma questão para ser melhor estudada a posterior, uma vez que não é a proposta deste trabalho. 151 REFERÊNCIAS ACUFF, F. L. How to negotiate anything with anyone anywhere around the world. New York: American Management Association, 1993. ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. Psicologia – Introdução aos Princípios Básicos do Comportamento. Petrópolis: Vozes, 1976. BATES, Kimberly; AMUNDSON, Susan; SCHOREDER, Roger; MORRIS, Willian. The crucial interrelationship between manufacturing strateghy and organizacional culture. Management Science, v. 41, n.10, p 1565-1580, 1995. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BARROS, Célia S. Guimarães. Pontos de Psicologia Geral. São Paulo: Ed. Ática, 1997. BALLONE, G. J. Percepção – in. PsiqWeb. Internet, http://www.psiqweb.med.br/cursos/percep.html - revisto em 2003. disponível em BERLO, D. K. O Processo da Comunicação: Introdução á Teoria e á Prática. São Paulo: Martins Fontes, 1999. BOITEUX, Colbert demaria. 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Os valores são crescente, indo de (1) para raramente até (7) para sempre, sendo estes apresentados aleatoriamente, de forma a exigir a máxima atenção do pesquisado. 1 Eu discuto a minha opinião com meus colegas de 1 2 3 4 5 6 7 3 4 2 1 5 7 6 7 5 4 6 3 2 1 4 7 5 3 6 1 2 2 5 7 1 4 3 6 1 6 2 4 3 5 7 trabalho para demonstrar os méritos de minha posição. 2 Eu negocio com meus colegas de trabalho, de forma que se possa chegar a um acordo. 3 Eu tento satisfazer as expectativas de meus colegas de trabalho. 4 Eu tento investigar uma questão com meus colegas de trabalho para encontrar uma solução aceitável para nós. 5 Eu sou firme na defesa de minha posição na questão. 6 Eu tento evitar ser “colocado em má situação” e tento guardar comigo o meu conflito com meus colegas de trabalho. 7 Eu me apego à minha solução para um problema. 7 1 6 5 2 4 3 8 Eu adoto o sistema de trocas, de forma que se 6 4 3 2 1 7 5 5 2 1 3 7 6 4 7 6 5 1 4 2 3 4 3 7 5 6 2 1 possa chegar a um acordo. 9 Eu troco informações precisas com meus colegas de trabalho para resolvermos um problema em conjunto. 10 Eu evito a discussão aberta de minhas diferenças com os colegas de trabalho. 11 Eu me conformo com os desejos de meus colegas de trabalho. 159 12 Eu tento colocar todas as nossas preocupações na 2 4 3 7 5 1 6 4 5 6 1 2 7 3 3 7 5 2 6 4 1 1 5 6 7 2 3 4 mesa, de forma que as questões possam ser solucionadas da melhor forma possível. 13 Eu proponho um meio termo para solucionar os impasses. 14 Eu concordo com as questões de meus colegas de trabalho. 15 Eu tento guardar para mim minhas divergências com os meus colegas de trabalho para evitar ressentimento. Fonte: Adaptado da versão resumida de uma ferramenta de 35 itens descritas em Rahim, M. A. “A Measure Of Styles Of Handling Imtrepessoal Conflict”, Academy of Management Journal, junho de 1983, pp. 368-0376. (ROBBINS, 2000, p.432) 160 APÊNDICE B - Pontuação para das respostas do Questionário 1 Some os números marcados nas seguintes categorias: A pontuação nas perguntas: • 6; 10; 15 – indica ABSTENÇÃO. • 3; 11; 14 – indica ACOMODAÇÃO. • 1; 5; 7 – indica IMPOSIÇÃO. • 2; 8; 13 – indica CONCILIAÇÃO. • 4; 9; 12 – indica COLABORAÇÃO. Quanto mais alta for a pontuação em determinado estilo de administração de conflitos, mais o sujeito tenderá a recorrer a essa abordagem quando estiver diante de um conflito. Embora a maioria dos indivíduos ajuste seu estilo de modo a refletir fatores situacionais, esse questionário capta o seu estilo subjacente ou preferido de administração de conflitos. (ROBBINS, 2000, p.509) 161 APÊNDICE C – Questionário 2: Dimensões Interpessoais INSTRUÇÕES: Leia atentamente cada item e marque um (X) abaixo de um número na escala de 1 a 7, na posição que melhor descreva a sua atuação real mais freqüente. Nesta escala, 1 representa o mínimo e 7 representa o máximo. 1 Habilidade de comunicar idéias de forma 1 2 3 4 5 6 7 4 3 2 7 1 5 6 5 2 4 6 3 7 1 3 5 1 4 2 6 7 7 1 5 3 6 4 2 6 4 7 5 2 1 3 2 7 6 1 4 3 5 7 6 5 4 3 2 1 4 1 3 2 5 6 7 clara e precisa em situações individuais e de grupo. 2 Capacidade de criar uma boa impressão e obter atenção, reconhecimento pessoal e respeito. 3 Habilidade de ouvir e compreender o que os outros dizem. 4 Capacidade de influenciar os outros, fazer com que aceitem suas idéias e sigam sua orientação. 5 Dizer e fazer coisas de modo natural, expressar livremente idéias, opiniões e sentimentos na ocasião em que ocorrem. 6 Enfrentar e superar dificuldades em situações de desafio, aceitando riscos com relativo conhecimento das conseqüências. 7 Habilidade de aceitar críticas sem fortes reações emocionais defensivas (tornando-se hostil ou “fechando-se”) 8 Capacidade de propor idéias inovativas, de iniciar projetos e influenciar o rumo dos acontecimentos. 9 Habilidades de percepção e consciência de necessidades, sentimentos e reações. 162 10 Assumir responsabilidade, agir de acordo 2 5 3 1 7 6 4 5 2 4 6 3 7 1 6 4 1 3 5 2 7 3 5 7 2 1 4 6 1 7 2 6 3 5 4 5 7 3 1 4 6 2 4 5 6 7 1 2 3 2 6 4 3 1 5 7 7 5 6 4 2 1 3 1 4 7 3 2 6 5 3 2 5 6 7 4 1 com suas habilidades e convicções sem dependência demasiada dos outros. 11 Habilidade de dar feedback aos outros de modo útil e construtivo. 12 Habilidade de reconhecer, diagnosticar e lidar com conflitos e hostilidades dos outros. 13 Capacidade de trabalhar em situações não rotineiras mantendo padrões de desempenho eficaz, mesmo enfrentando falta de apoio e cooperação, resistência, oposição, hostilidade. 14 Experimentar fazer coisas diferentes, conhecer novas pessoas, testar novas idéias e atividades com outras pessoas. 15 Tendência a procurar relacionamentos mais próximos com pessoas, dar e receber afeto no grupo. 16 Estimular e encorajar os outros a desenvolverem seus próprios recursos para resolverem problemas 17 Capacidade de organizar e de apresentar suas idéias de forma efetiva induzindo os outros a aceitá-las. 18 Procurar conhecer as idéias dos outros, disposição para receber sugestões e influências dos outros. 19 Desejar vencer e ser o melhor no desempenho, superar obstáculos e conseguir reconhecimento dos outros. 20 Habilidade de modificar seu ponto de vista e comportamento no grupo em função de feedback dos outros e dos objetivos a alcançar. 163 21 Tomar conhecimento de todos os aspectos 6 3 1 5 4 7 2 5 1 4 2 6 3 7 2 4 6 1 7 5 3 4 3 2 7 5 6 1 7 1 3 5 4 2 6 6 5 4 3 1 7 2 5 6 7 4 3 2 1 4 5 6 7 1 3 2 3 2 1 4 5 6 7 2 1 7 3 4 5 6 1 4 5 6 2 7 3 que envolvam uma determinada questão a ser tratada. 22 Capacidade para clarificar pontos que possam parecer obscuros, principalmente em condições adversas. 23 Habilidade em aceitar orientação e procedimentos vindos de outros níveis hierárquicos. 24 Capacidade de desenvolver condições que permitam abertura para que outros o procurem com suas dificuldades. 25 Habilidade em tratar das disputas de forma abrangente mas discreta. 26 Capacidade para compreender posições e dificuldades e de orientar reposicionamentos. 27 Capacidade de se adaptar às condições adversas no grupo, ou na empresa. 28 Confiar atribuições de responsabilidade a outros mesmo que estes não tenham ainda o seu nível de conhecimento. 29 Investigar todos os fatos antes de se manifestar sobre algo. 30 Capacidade para resolução de problemas a partir da sua experiência conhecimento em detrimento dos referenciais de outros envolvidos. 31 Procurar determinar todas as variantes que possam comprometer os resultados almejados. 164 32 Assumir a responsabilidade por todas as 6 7 2 5 1 3 4 4 2 1 6 7 3 5 7 3 4 2 6 5 1 5 2 6 4 3 1 7 4 5 7 3 2 6 1 3 2 1 4 5 7 6 6 7 4 2 3 5 1 5 4 3 7 6 1 2 4 1 7 5 2 6 3 2 3 1 5 7 4 6 7 6 2 4 1 5 3 3 5 4 1 6 2 7 ações de seu grupo. 33 Capacidade para mostrar-se amistoso e solidário aos problemas de outros membros do grupo. 34 Capacidade de compartilhamento e troca de informações e de conhecimento com outros membros do grupo, mesmo aqueles fora de sua equipe de projeto. 35 Habilidade em ajudar a esclarecer e tornar mais compreensível aos outros os eventos e processos no grupo. 36 Capacidade de barganhar condições e posições favoráveis a todas as partes. 37 Habilidade em distribuir atribuições a outras pessoas do grupo. 38 Habilidade em compreender e orientar questões particulares de membros do grupo. 39 Ser procurado para consultas sobre comportamentos e condutas pessoais e profissionais. 40 Capacidade em dividir responsabilidades e resultados com seu pares. 41 Reconhecer habilidades, especialidades e capacitações de outros membros do grupo. 42 Preferência para o diálogo com pessoas próximas. 43 Prefere tratar diretamente com as pessoas indicadas, evitando intermediários. 165 44 Evita o contato pessoal, principalmente com 1 7 3 2 5 6 4 6 4 5 7 3 1 2 níveis hierárquicos superiores. 45 Preferência por comunicações formais, que possam ficar registradas, do que conversas informais. 166 APÊNDICE D – Tabulação para as respostas do Questionário 2 COMUNICAÇÃO 1. Comunicação efetiva 1 2 3 4 5 6 7 3. Saber ouvir 1 2 3 4 5 6 7 7. Reação a feedback 1 2 3 4 5 6 7 11. Expressão de feedback 1 2 3 4 5 6 7 17. Persuasão 1 2 3 4 5 6 7 34. Compartilhamento 1 2 3 4 5 6 7 42. Comunicação focada no diálogo 1 2 3 4 5 6 7 43. Comunicação direta 1 2 3 4 5 6 7 44. Comunicação estratificada 1 2 3 4 5 6 7 45. Comunicação focada em conteúdo 1 2 3 4 5 6 7 167 HABILIDADES POLITICAS 2. Imagem/impacto 1 2 3 4 5 6 7 13. Resistência ao estresse 1 2 3 4 5 6 7 14. Experimentação 1 2 3 4 5 6 7 18. Abertura 1 2 3 4 5 6 7 23. Aceitação 1 2 3 4 5 6 7 27. Adaptação 1 2 3 4 5 6 7 4. Liderança efetiva 1 2 3 4 5 6 7 6. Autoconfiança 1 2 3 4 5 6 7 8. Iniciativa 1 2 3 4 5 6 7 19. Competição 1 2 3 4 5 6 7 21. Inteiração 1 2 3 4 5 6 7 29. Investigação 1 2 3 4 5 6 7 31. Reconhecimento de variantes 1 2 3 4 5 6 7 36. Barganha 1 2 3 4 5 6 7 NEGOCIAÇÃO 168 ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS 5. Espontaneidade 1 2 3 4 5 6 7 10. Independência 1 2 3 4 5 6 7 12. Lidar com conflitos 1 2 3 4 5 6 7 20. Flexibilidade 1 2 3 4 5 6 7 22. Clarificação de condições adversas 1 2 3 4 5 6 7 25. Discrição 1 2 3 4 5 6 7 26. Orientar reposicionamentos 1 2 3 4 5 6 7 30. Conciliação 1 2 3 4 5 6 7 35. Esclarecimento 1 2 3 4 5 6 7 169 DELEGAÇÃO 16. Apoio catalisador 1 2 3 4 5 6 7 28. Atribuição de responsabilidades 1 2 3 4 5 6 7 32. Assumir responsabilidades 1 2 3 4 5 6 7 37. Distribuir atribuições 1 2 3 4 5 6 7 40. Dividir responsabilidades 1 2 3 4 5 6 7 41. Reconhecimento de habilidades 1 2 3 4 5 6 7 9. Sensibilidade 1 2 3 4 5 6 7 15. Relacionamento próximo 1 2 3 4 5 6 7 24. Disponibilidade 1 2 3 4 5 6 7 33. Solidariedade 1 2 3 4 5 6 7 38. Compreensividade 1 2 3 4 5 6 7 39. Conselheiro 1 2 3 4 5 6 7 ACONSELHAMENTO